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Antropologia

O que é Antropologia?
O que lhe vem à mente?
O que é um/a
antropólogo/a?
DEFINIÇÕES

• Etimologicamente

Anthropos: homem no sentido genérico


(ser humano, gente).

Logos: a razão primeira, verbum(lat.),a


palavra, estudo
Estudo do homem [humano] em sua
totalidade.
Dicionário Aurélio
1.O estudo ou reflexão acerca do ser
humano, do que lhe é específico.

2.Designação comum a diferentes ciências


ou disciplinas cujas finalidades são
descrever o ser humano e analisá-lo com
base nas características biológicas (v.
antropologia biológica) e socioculturais (v.
antropologia cultural) dos diversos grupos
em
que se distribui, dando ênfase às
diferenças e variações entre esses
grupos.
Antropologia
• Tríplice aspecto

a) Ciência Social – propõe conhecer o


humano enquanto elemento integrante de
grupos organizados.

b) Ciência Humana – volta-se para o humano


como um todo: sua história, suas crenças,
usos e costumes, filosofia, linguagem, etc.

c) Ciência Natural – interessa-se pelo


conhecimento psicossomático do humano
e sua evolução.
Etnologia ou
Antropologia?

• Etnologia: tradição terminológica dos


franceses; pluralidade irredutível das
etnias, isto é, das culturas.

• Antropologia: é mais usado nos


países anglo-saxônicos, trata da
unidade do gênero humano.
Optando-se por antropologia,
deve-se falar:

• Antropologia social (Britânicos) -


estudo das instituições.

• Antropologia cultural (Americanos) -


estudo dos comportamentos.
Outra caracterização
Estudo da humanidade divido em duas grandes áreas
de interesse:

• Antropologia Biológica: estuda o humano


enquanto ser vivo, sua estrutura física e a evolução
da espécie humana. Divide-se em:

Paleontologia (paleo=antigo, logia=estudo): é o estudo


dos fósseis. A paleontologia humana estuda a origem
e a evolução da espécie humana.

Somatologia (soma=corpo, logia=estudo):


estudo comparativo dos primatas atuais.
• Antropologia cultural: estuda o humano
enquanto ser produtor de cultura, as organizações
sociais e os sistemas culturais dos diversos grupos
humanos.

Divide-se em

Antropologia social ou etnologia: pesquisa a vida do


humano em sociedade descrevendo e estudando a
cultura de um povo e também fazendo estudos
comparativos de diferentes culturas. Tem como um
dos principais objetivos estudar a diversidade cultural
da espécie humana.
Arqueologia: estuda a cultura de sociedades
extintas (que não existem mais como, por
exemplo, os antigos egípcios, os maias, fenícios,
os wikings).
Arqueologia lítica: estuda a cultura das sociedades
produtoras de ferramentas de pedra (lascada,
polida).
Arqueologia clássica: estuda as grandes
civilizações do passado (grega, romana,
cretense...).

Etnolinguística: estuda a relação língua e cultura,


desenvolvendo, também, o estudo da língua de
sociedades ágrafas (sociedades sem escrita,
como as dos índios brasileiros).
Pré-história da Antropologia
Gênese da reflexão antropológica: descoberta do
novo mundo - séculos XIV a XVII – Renascimento.

As primeiras observações e os primeiros


discursos sobre os povos “distantes” de que
dispomos provêm de duas fontes:
• as reações dos primeiros viajantes – “literatura
de viagem”;

• os relatórios dos missionários e as “revelações”


dos jesuítas.
1556, Andre Thevet
1558 Jean de Lery,
Aqueles que acabaram de
ser descobertos
pertencem à humanidade?
Figura do mau selvagem e
bom civilizado

Critérios:
• religioso;
• aparência física (nus ou vestidos com
peles de animais)
• comportamentos alimentares (carne
crua - imaginário do canibalismo);
• inteligência a partir da linguagem
(falam língua ininteligível);
“É a grande lógica e a honra de nossos reis e
dos espanhóis ter feito aceitar aos índios um
único Deus, uma única fé e um único batismo e
ter tirado deles a idolatria, os sacrifícios humanos,
o canibalismo, a sodomia e ainda outros grandes
pecados, que nosso bom Deus detesta e que pune.
Da mesma forma, tiramos deles a poligamia, velho
costume e prazer de todos esses homens sensuais;
mostramo-lhes o alfabeto sem o qual os homens são
como animais e o uso do ferro que é tão necessário
ao homem. Também lhes mostramos vários bons
hábitos, artes, costumes policiados para poder melhor
viver. Tudo isso – e até cada uma dessas coisas – vale
mais que as penas, as pérolas, o ouro que tomamos
deles, ainda mais porque não utilizavam esses metais
como moeda.”

(Gomara, História Geral dos Índios)


Ideias retomadas por Hegel (1830) – Introdução
à Filosofia da História. A África representa para
ele a mais inferior entre todas as sociedades.

“Vivendo em uma ferocidade bestial


inconsciente de si mesma, em uma
selvageria em estado bruto, eles não têm
moral, nem instituições sociais, religiões ou
Estado. Petrificados em uma desordem
inexorável, nada, nem mesmo as forças da
colonização, poderá nunca preencher o
fosso que os separa da História Universal
da Humanidade”.
Figura do bom selvagem e
mau civilizado
Américo Vespúcio:
“As pessoas estão nuas, são bonitas, de pele
escura, de corpo elegante... Nenhum possui
qualquer coisa que seja, pois tudo é colocado
em comum. E os homens tomam por mulheres
aquelas que lhes agradam, sejam elas sua
mãe, sua irmã, ou sua amiga, entre as quais
eles não fazem diferença... eles vivem
cinqüenta anos. E não têm governo.”
Cristóvão Colombo (Caribe)

“Eles são muito mansos e ignorantes do


que é o mal, eles não sabem matar uns
aos outros (...). Eu não penso que
haja no mundo homens melhores,
como também não há terra melhor.”
• Léry e Montaigne (século XVI)
instauram a crítica da civilização e um
elogio da “ingenuidade original” do
estado de natureza. (“índios
americanos”)

“Podemos portanto de fato chamá-los de


bárbaros quanto às regras da razão, mas
não quanto a nós mesmos que os
superamos em toda sorte de barbárie.”
(Montaigne)
Imagem que o ocidental fez da
alteridade oscilou entre pólos

Pensou-se sobre o selvagem:


• Era um monstro, um “animal com figura humana”
(Léry), a meio caminho entre a animalidade e a
humanidade mas também que os monstros éramos
nós, sendo que ele tinha lições de humanidade a nos
dar;

• Levava uma existência infeliz e miserável, ou, pelo


contrário, vivia num estado de beatitude, adquirindo
sem esforços os produtos maravilhosos da natureza,
enquanto que o Ocidente era, por sua vez,
obrigado a assumir as duras
tarefas da indústria;
• Era trabalhador e corajoso, ou
essencialmente preguiçoso;
• Não tinha alma e não acreditava em
nenhum deus, ou era profundamente
religioso;
• Vivia num eterno pavor do sobrenatural,
ou, ao inverso, na paz e na harmonia;
• Era um anarquista sempre pronto a
massacrar seus semelhantes, ou um
comunista decidido a tudo
compartilhar, até inclusive
suas próprias mulheres;
• Era movido por uma impulsividade
criminalmente congênita quando era
legítimo temer, ou devia ser considerado
como uma criança precisando de proteção;

• Era um embrutecido sexual levando uma


vida de orgia e devassidão permanente, ou,
pelo contrário, um ser preso, obedecendo
estritamente aos tabus e às proibições de
seu grupo;
• Era admiravelmente bonito, ou feio;

• Era atrasado, estúpido e de uma


simplicidade brutal, ou profundamente
virtuoso e eminentemente complexo;

• Era um animal, um “vegetal” (de Pauw),


uma “coisa”, um “objeto sem valor”
(Hegel), ou participava, pelo contrário, de
uma humanidade da qual tinha tudo como
aprender.
Século XVIII
• Final do século XVIII (Iluminismo):
começa a se constituir um saber científico
(ou pretensamente científico)

Homem objeto de conhecimento;

Espírito científico pensa, pela primeira vez,


em aplicar ao próprio homem os métodos
até então utilizados na área da física ou
da biologia.
O projeto antropológico supõe:

• A construção de um certo número de conceitos,


começando pelo próprio conceito de homem
[humanidade];

• A constituição de um saber que não seja apenas


de reflexão, e sim de observação. Começa a
constituição da positividade de um saber empírico
sobre o homem enquanto ser vivo (biologia) que
trabalha (economia), pensa (psicologia) e fala
(lingüística);

• Uma problemática essencial: a da diferença

• Um método de indução e análise: o método


indutivo (programa traçado por Rousseau)
• É no século XVIII que se forma o par:
viajante e filósofo.

Os viajantes do século XVI e XVII


coletavam “curiosidades”.

No século XVIII a questão é: como


coletar? E como dominar em
seguida o que foi coletado?
Século XIX ao Século XX

2ª metade do século XIX:

Atribuição de objetos empíricos


autônomos: as sociedades então ditas
“primitivas”.
As sociedades estudadas pelos
primeiros antropólogos são sociedade
longínquas às quais são atribuídas as
seguintes características:

• sociedades de dimensões restritas;


• pouco contato com os grupos vizinhos;
• tecnologia pouco desenvolvida;
• menor especialização das atividades e
funções sociais.
• São também qualificadas de “simples”;
em consequência, elas irão permitir a
compreensão, como numa situação de
laboratório, da organização “complexa” de
nossas próprias sociedades.

• A antropologia acaba, portanto, de


atribuir-se um objeto que lhe é próprio: o
estudo das populações que não
pertencem à civilização ocidental.
A etnografia propriamente dita só
começa a existir a partir do
momento no qual se percebe que o
pesquisador deve ele mesmo efetuar
no campo sua própria pesquisa e
que esse trabalho de observação
direta é parte integrante da
Pesquisa.
“Pais da Antropologia”
• Franz Boas (1858-1942) – Alemanha/EUA:
convive por um ano com os esquimós no
Canadá. Pai da Antropologia Cultural.
• Bronislaw Malinowski (1884-
1942), polonês.Os Argonautas
do Pacífico Ocidental (1922) –
duas vezes nas Ilhas
Trobriand
Antropologia torna-se a ciência
da alteridade.

Logo após ter firmado seus próprios


métodos de pesquisa – no início do
século XX – a antropologia percebe
que o objeto empírico que tinha
escolhido (as sociedades primitivas)
está desaparecendo; pois o próprio
universo dos “selvagens” não é de
forma alguma poupado pela
“evolução” social.
Assim...
O objeto teórico da antropologia não está ligado a
um espaço geográfico, cultural ou histórico
particular. Pois a antropologia não é senão um
certo olhar, um certo enfoque que consiste
em:

• o estudo do humano por inteiro;

• o estudo do humano em todas as sociedades,


sob todas as latitudes em todos os seus
estados e em todas as épocas.
“A antropologia não é apenas o
estudo de tudo que compõe
uma sociedade. Ela é o
estudo de todas as
sociedades humanas (a
nossa inclusive), ou seja, das
culturas da humanidade como
um todo em suas
diversidades históricas e
geográficas”.
“Aquilo que, de fato, caracteriza
a unidade do humano, de que
a antropologia faz tanta
questão, é sua aptidão
praticamente infinita para
inventar modos de vida e
formas de organização social
extremamente diversos”.
“Aquilo que os seres humanos têm
em comum é sua capacidade para
se diferenciar uns dos outros, para
elaborar costumes, línguas, modos
de conhecimento, instituições, jogos
profundamente diversos: pois se há
algo natural nessa espécie
particular que é a espécie humana,
é sua aptidão à variação cultural”.
O projeto antropológico
consiste, portanto, no
reconhecimento,
conhecimento, juntamente
com a compreensão de uma
humanidade plural.
Principais referências

LAPLANTINE, François. Aprender


antropologia. São Paulo: Brasiliense,
2000.

MARCONI, Marina de Andrade.


PRESOTTO, Zelia Maria Neves.
Antropologia: uma introdução. 5. ed.
São Paulo: Atlas, 2001.

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