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RESUMO IV - História do Brasil II.

DISCENTE: Eduarda Gonçalves de A. Santos.


TEXTO: RODRIGUES, Jaime. A pressão inglesa: honra, interesses e dignidade. IN: O
infame comércio. Propostas e experiências no final do tráfico de africanos para o Brasil
(1800-1850). Campinas/São Paulo: Editora da Unicamp/CECULT/FAPESP, 2000, pp.
97-126.
Jaime Rodrigues1 é um historiador, licenciado em história pela USP, mestre e doutor
em história social pela Unicamp. Publicou O infame comércio: propostas e experiências no
final do tráfico de africanos para o Brasil (1800-1850). No capítulo três, intitulado: “A
pressão inglesa: honra, interesses e dignidade”, o autor faz um prisma dos diversos motivos
que somados levaram ao fim do tráfico de escravizados, não após 1831 mas que ocorreu
depois de 1850. Este capítulo é dividido em três partes: 1. Tratados internacionais; 2. Os
ingleses e a soberania nacional; 3. Da Regência à lei de 1850.
Em “Tratados internacionais”, demonstra como a pressão do governo inglês para que
terminasse o tráfico no Brasil remonta à vinda da família real portuguesa para o Rio de
Janeiro. Em carta para o Duque de Wellington, Canning afirmava que “nenhum estado do
Novo Mundo poderá ser reconhecido pela Grā-Bretanha se não tiver franca e completamente
abolido o comércio dos escravos”. Em 1810, um tratado de aliança foi firmado entre Portugal
e outros territórios, o Príncipe Regente se comprometeu a manter o tráfico apenas com
territórios que lhe pertencessem ou sobre os quais Portugal tivesse "legítimas pretensões". No
Congresso de Viena, em 1815, foi firmado um tratado que acordava a abolição do tráfico ao
norte do Equador, gerando atritos com os traficantes das capitais e com o governo inglês. A
convenção adicional de 1817 o funcionou foi um modo de resolver os conflitos entre os
governos, através da regulamentação dos pontos estabelecidos em 1815.
José Bonifácio argumentou que a abolição imediata do tráfico de escravos seria
precipitada e propôs uma suspensão gradual ao longo de dois ou três anos, tempo necessário
para que se encaminhasse a imigração branca para substituir a africana escravizada, para
evitar a suposta falta de mão-de-obra. Através de barganha, a independência foi reconhecida
em 1825 e o tratado anglo-brasileiro de 13 de novembro de 1826 foi assinado, prevendo o fim
do tráfico de escravos em três anos, mantendo os termos da Convenção Adicional de 1817. O
novo tratado foi ratificado pela Coroa inglesa em 13 de março de 1827 e permitiu a
continuidade legal do tráfico de escravos até 13 de março de 1830.

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Disponível em: Jaime Rodrigues - Grupo Companhia das Letras, acesso em: 10/02/2023.
Em “Os ingleses e a soberania nacional”, Rodrigues afirma que o tráfico de escravos
foi usado como argumento tanto para reforçar quanto para questionar o princípio da
soberania. Ele argumenta que, em uma sociedade cujos valores estavam profundamente
ligados à escravidão e aos interesses comerciais do tráfico, os defensores da manutenção do
status quo estavam dispostos a lutar pela sua continuidade.Em 1826, houve debates intensos
sobre a assinatura de um tratado que previa a proibição do tráfico e penalidades para os
súditos brasileiros que o descumprissem, pois os deputados consideravam que essa
prerrogativa cabia apenas ao poder legislativo. Havia grande divergência existente entre o
legislativo, em relação ao executivo e o moderador. Afinal, embora tenha sido assinado um
tratado, a Câmara propôs mais onze anos de atividade do comércio de escravos, o que
ultrapassava o prazo previsto no acordo. Apesar do encaminhamento de um projeto
conciliatório à Comissāo de Legislação, uma emenda que limitava a seis anos o prazo legal
do tráfico, nada ficou decidido naquele ano.
Honra, interesses, dignidade, independência e soberania eram, para ele, os elementos
em jogo naquele momento. A Câmara não via com bons olhos o tratado, em primeiro lugar,
porque este cerceou a atribuição legisladora que cabia à assembléia, quando impunha penas e
sujeitava súditos do Império a tribunais estrangeiros; Em segundo lugar, prejudicava o já
limitado comércio brasileiro, justamente numa área em que ele ainda podia competir com
outros países: a África. Assim, as ameaças externas contra o tráfico não eram consideradas
apenas em si, mas sim como diretamente ligadas ao contexto interno de organização nacional
expressadas nos projetos dos parlamentares.
Segundo Rodrigues, em “Da Regência à lei de 1850”, em 1831 no início da Regência
parecia haver um clima propício à proibição do tráfico. Após a abdicação de D. Pedro I, subiu
ao poder um gabinete liberal, que votou a primeira lei abolindo o tráfico. Porém a lei nunca
foi efetivamente cumprida e o tráfico reassumiu a constância anterior e até aumentou seu
volume. Para muitos parlamentares desse período tráfico e escravidão eram questões
distintas, alguns afirmavam desejar uma vaga melhoria nas condições de vida dos escravos,
desde que se mantivesse sua condição social. Mesmo os liberais não apresentaram qualquer
projeto que alterasse radicalmente a estrutura social e fundiária - que era dependente da
mão-de-obra escravizada. Quando a pressão inglesa se tornou mais intensa, formaram pelo
menos dois grupos distintos, o primeiro defendia que a entrada de mão-de-obra africana era
imprescindível a um país despovoado como o Brasil, já o segundo defendia a supressão do
tráfico porque ele não trazia rendimentos aos brasileiro, mas sim aos portugueses, pois eram
que tinham grande capital investido no tráfico.
Com a saída dos liberais do poder, após a Maioridade, a Câmara foi dissolvida e só se
tornaria a funcionar em 1843, após algumas turbulências nas províncias de São Paulo e Minas
Gerais. Os liberais retornaram ao Ministério em 1844, quando a Câmara voltou a se reunir, e
tinham como tarefa a elaboração de um novo tratado antitráfico, já que o anterior expiraria no
mesmo ano. Para isso, o novo gabinete exigia tratamento preferencial aos produtos brasileiros
no mercado britânico. O legislativo encontrava-se entre duas pressões poderosas: de um lado,
os britânicos pressionando pela manutenção dos termos do tratado de 1826 e da proibiçāo do
tráfico, exigências que não se limitavam às conversações diplomáticas, mas que assumiam
formas bélicas, como o apresamento de navios no próprio litoral brasileiro; de outro lado, a
pressão dos senhores brasileiros que, diretamente ou por meio das assembléias provinciais,
pediam modificações ou a revogação da lei de 7 de novembro de 1831.
O fim do tráfico de escravos no Brasil foi resultado de uma série de fatores políticos,
econômicos e sociais. A coesão crescente da elite política, o esgotamento do projeto de
construção do mercado de mão-de-obra baseado exclusivamente no escravo, a vinculação
entre "corrupção dos costumes" e escravidão, a manutenção do direito sobre a propriedade
existente e a pressão inglesa foram importantes motivações para o fim do tráfico. Além disso,
a identificação dos traficantes com os piratas e o crescente medo das ações coletivas dos
escravos contra o cativeiro também contribuíram para a proibição do tráfico. A pressão
enfática do governo inglês também reforçou o surgimento de um consenso entre os
parlamentares, que se encaminharam para uma solução adequada para a honra, os interesses
senhoriais e a dignidade nacional.

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