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São Paulo - SP
2020
TUTELA DE ANIMAIS DOMÉSTICOS EM CASOS DE
DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL OU DIVÓRCIO
Um novo olhar jurídico para uma realidade contemporânea
BANCA EXAMINADORA
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Prof. Monica Cavalieri Fitzner Areal
Orientadora
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Prof.
Avaliador
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Prof.
Avaliador
RESUMO
1 TOLEDO - Maria Izabel Vasco de Toledo - A tutela jurídica dos animais no brasil e no direito
comparado – 2012 -
https://portalseer.ufba.br/index.php/RBDA/article/viewFile/8426/6187%3E%5B58%5D%3C/a%3
E%20BALLONE. Acesso em: 02 de março de 2020 às 23h
Ao seu modo o Brasil detém uma quantidade significativa de animais
domésticos nos lares, convivendo com os humanos de forma pacífica e, muitas
vezes, como se filhos fossem.
Desta forma pode-se afirmar que o Brasil é um país que replica muito bem
o costume de possuir animais domésticos dentro de casa.
2 BRASIL. LEI N° 9.605 de 1998 – Lei de Crimes Ambientais, artigo 29, §3°, 1998 -
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9605.htm. Acesso em 02 de março de 2020 às 20h
Neste artigo houve a conceituação de espécies de fauna silvestre
subentendendo-se, por interpretação extensiva, que o oposto do conceito se
trataria das espécies domésticas.
Portanto, é possível compreender que para o direito brasileiro animais
domésticos são aqueles que participam da convivência humana e precisam,
assim como os silvestres, serem respeitados em seu bem-estar, cuidados com
a saúde e garantir que os mesmos não perturbem outras pessoas.
Também é possível perceber que os animais pertencem a uma parte do
direito ambiental, protegidos pela lei de crimes ambientais e não são sujeitos
passíveis de direitos propriamente ditos.
Conclui-se que para o direito brasileiro os animais, mesmo que
domésticos, não são considerados sujeitos de direitos, mas também não são
coisas pois se assim fosse o MP não teria capacidade de postular em juízo,
conforme bem afirma Danielle Tetü Rodrigues, trazendo assim uma definição
híbrida e ao mesmo tempo insegura para o direito positivo.
(Figura 1) 4
3 FERREIRA, Ana Conceição Barbuda Sanches Guimarães. A Proteção aos Animais e o Direito
– 01 de janeiro de 2014. – São Paulo: Juruá, 2014.
4 Figura1 – IBGE- Gráfico da População Pet no Brasil – Abinpet – Dados de 2013. Acesso em
02 de março de 2020 às 21h.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder
público:
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas
que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção
de espécies ou submetam os animais a crueldade.
5 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 4ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2003,
p.19.
3. DEFINIÇÃO DE FAMÍLIA BRASILEIRA NO SÉCULO XX E
ATUALMENTE
Este modelo patriarcal não é recente, ele perpetuou por séculos, muito
forte na Idade Média e perdura até hoje em alguns países. Não é o caso do Brasil
que acompanhando a contemporaneidade definiu a família como um núcleo de
pessoas unidas por afetividade e não somente consanguinidade. Igualou as
mulheres em direitos e atribuiu maior proteção aos filhos, sejam eles afetivos ou
biológicos, conforme mencionados anteriormente.
E como nenhuma família é igual em sua concepção por diversos fatores
e, acatados pela proteção do Estado, não seria diferente com a inclusão de
6 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito Civil: Família. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
alguém que não é consanguíneo daquele grupo de pessoas. O que o direito
brasileiro não esperava era que surgissem famílias constituídas apenas de
pessoas vivendo sós, ou, como tenta mostrar este referido trabalho, de pessoas
incluindo animais domésticos na base familiar. Ora se no modelo patriarcal os
filhos pertenciam a base do desenvolvimento desta instituição poderiam os
animais também serem considerados como tais.
Contudo, por ser muito recente família nestes moldes, ou melhor: pessoas
da entidade familiar considerando relação interespécie como se de sua própria
família pertencesse, as relações jurídicas envolvendo estes seres são muito
escassas e a doutrina e jurisprudência tal e qual muito pobre.
É uma tarde de sexta chuvosa, dia de R.N., 34, garçom, dirigir alguns
quilômetros até a casa do ex-companheiro buscar seu filho para ficar com ele no
final de semana, todavia R.N. avisa por mensagens eletrônicas seu ex-parceiro
que não conseguirá chegar até sua casa tão cedo e que prefere esperar para
buscar seu pequeno no outro dia. O pequeno tem medo de chuva.
Já T.P. divorciou-se há um ano e, apesar de inúmeras ligações para seu
ex vir passar um tempo com sua menina, o mesmo se recusa a realizar tal fato
e a pequena o espera todos os dias em frente a porta exatamente às dezessete
horas. Segundo T.P. “ela tem saudades do pai”.
Por outro lado, o caso do casal A.B. e C.D. foi parar na justiça. Não houve
acordo entre eles sobre a guarda e visita, muito menos sobre a pensão
alimentícia e eles preferem um parecer jurídico sobre o caso uma vez que são
três pequenos.
O que os três casos tem em comum? Se assemelham aos diversos que o
Direito de Família está acostumado a receber, contudo os pequenos e filhos
referidos nos fatos não são crianças e sim animais domésticos, considerados por
aqueles que os adquiriram como se filhos fossem.
R.N. divide a guarda e visita de um cachorrinho fruto da relação de oito
anos com seu ex-companheiro. Ele afirma que no começo brigaram sobre com
quem o pequeno animal ficaria pois este foi adquirido logo no começo da relação,
eles não se casaram, mas moraram juntos durante os anos em que tiveram sob
o mesmo teto o cachorrinho, criado e educado pelos dois. Ao término da relação
deles R.N. sofreu com a distância do seu “bebê” porque a guarda não ficou com
ele mas a saudade sim e por isso hoje, com conversa amigável e tranquila com
o ex, ele consegue pegar o pequeno a cada quinze dias para ficar com ele
durante um fim de semana e ser devolvido na segunda-feira. O cachorrinho
desse casal é mimado freneticamente e o casal de ex-companheiros dividem
tranquilamente as despesas de veterinário.
O que não ocorreu com o segundo caso. T.P., 37, contadora, tem uma
gata adquirida no começo do relacionamento com seu atual ex-marido a doze
anos atrás. Apesar de T.P. insistir para que o mesmo visitasse a pequena o
mesmo se recusou afirmando que é apenas um bicho e que ela - a gata - não
tinha sentimentos. Fato desmentido por T.P. que apesar de não querer ver seu
ex-marido após o rompimento do relacionamento, sentiu a necessidade de que
o mesmo visitasse a gatinha de onze anos porque ela sentia falta da presença
do “pai” e por isso esperava ansiosa na porta a vinda dele. Isso nunca aconteceu
e T.P. ficou preocupada quando a gata passou a recusar alimento e água e ficava
horas olhando para a porta. O caso dela não houve solução, nem acordo
amigável e, antes mesmo dela procurar a justiça para dividir as despesas com o
animal que tiveram no percurso do relacionamento, a gata morreu.
Caso semelhante é o da estudante C.D. de 25 anos; ela se separou após
um relacionamento de oito anos e seu ex-parceiro se nega a dividir as despesas
com os três animais adquiridos no percurso da relação. Um cachorrinho e dois
gatos muito apegados entre eles e entre o casal, contudo o rompimento do
relacionamento foi complicado a respeito da guarda dos mesmos e estes foram
separados entre o casal, não restando outra alternativa. Eles acreditam que os
“filhos” nunca mais se verão pois o casal morará em estados diferentes. Não
acordaram sobre a pensão alimentícia do cachorro, eram dois gatos e cada um
ficou com um, e por haver pouco amparo jurídico a respeito, tentam decidir entre
eles o melhor para todos os envolvidos enquanto a decisão jurídica não ocorre.
São casos como esses que ocorrem em muitos lares brasileiros e os frutos
destas relações nem sempre são filhos humanos. A legislação brasileira nada
diz a respeito, há uma lacuna, todavia, algumas decisões jurídicas já
aconteceram e a solução encontrada pelos magistrados foi se valer do direito
comparado entre o respeito a vida animal presente no Direito Ambiental e ao
Direito de Família no que se tratar de ente familiar.
Há um respeito maior à vida do animal, mas também as pessoas
envolvidas em situações como às já mencionadas não podem ficar à mercê
apenas da celeridade processual dos tribunais já abarrotados de causas. Os
animais de companhia desempenharam sentimentos únicos no seio familiar e
não pode a legislação brasileira estar cega aos conflitos ou acordos que possam
fazer parte os animais como sujeitos de direitos equiparados como filhos.
Muito embora não haja lei específica para os casos de tutela de animais
após divórcio ou dissolução de união estável, alguns juízes buscaram
alternativas muito congruentes para resolver conflitos, uma vez que não pode o
judiciário ficar inerte.
A decisão de um Recurso Especial7 do caso de uma cachorrinha
adquirida na constância da união estável de um casal trouxe alguns
questionamentos à sociedade jurídica, uma vez que considerou o referido animal
um ente pertencente ao seio da antiga família e, por conseguinte, dotado de
sentimentos. Segue decisão:
8 CONCEIÇÃO. Geovana - Justiça decide que guarda de gato deve ser compartilhada por ex-casal – 2018
- https://petepop.ig.com.br/justica-decide-que-guarda-de-gato-deve-ser-compartilhada-por-ex-casal/
Acesso em: 28 de fevereiro de 2020
Ela defende, ainda, a necessidade de se regulamentar o direito de
convivência em relação aos animais de estimação: “É cada vez mais recorrente
casais optarem por não terem filhos e adotarem um animal de estimação,
surgindo, daí, a necessidade de se estabelecer regras de convivência em uma
hipótese de dissolução da união”9 opina.
Concluindo desta forma que se faz urgente a regulamentação jurídica
deste modelo contemporâneo de família para que os conflitos ou decisões
judiciais fiquem melhores amparados, e para que haja um cumprimento maior de
um dever já constitucional, porém pouco respeitado – o da proteção da fauna
para um ambiente ecologicamente saudável.
Projeto de lei dispõe sobre a guarda dos animais de estimação nos casos
de dissolução litigiosa da sociedade e do vínculo conjugal entre seus
possuidores apresentado pelo então deputado Ricardo Tripoli ao Congresso
Nacional. Referido projeto aguarda julgamento.
Em seus dois primeiros artigos há uma solução melhor e mais efetiva para
os casos de tutela dos animais de estimação em caso de dissolução ou divórcio.
Segue: 10
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a guarda dos animais de estimação nos
casos de dissolução litigiosa da união estável hetero ou homoafetiva e
do vínculo conjugal entre seus possuidores, e dá outras providências.
9 CONCEIÇÃO. Geovana - Justiça decide que guarda de gato deve ser compartilhada por ex-casal – 2018
- https://petepop.ig.com.br/justica-decide-que-guarda-de-gato-deve-ser-compartilhada-por-ex-casal/
Acesso em: 28 de fevereiro de 2020
10 BRASIL. Projeto de Lei nº 1.365, de 2015. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/67157/guarda-
compartilhada-de-animais. Acesso em 02/03/2020 ás 23h.
atribuída a quem demonstrar maior vínculo afetivo com o animal e
maior capacidade para o exercício da posse responsável.