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IDADE MODERNA

EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES


ÉTNICO-RACIAIS

EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


IDADE MODERNA

Você deve estar se perguntando o porquê de estarmos


retomando a história da Idade Média e qual a relação existente entre
essa história da sociedade e as relações étnico-raciais. Conhecer essas
mudanças históricas é fundamental para entendermos os seguintes
fatores:
• Com a passagem da Idade Média para Idade Moderna, mudamos
toda a concepção do homem e, consequentemente, o
entendimento da diversidade entre as pessoas;
• Toda a estrutura social e econômica modifica-se com a chegada
da Idade Moderna e, consequentemente, modificam-se as
relações que se estabelecem a partir das relações de trabalho da
sociedade moderna;
• Os conceitos, muitas vezes entendidos como naturais e
intrínsecos, são, na verdade, construídos no decorrer da história
de acordo com quem detém o poder. Na Idade Média, o poder
estava nas mãos da Igreja. A partir da Idade Moderna, esse poder
muda de mãos. Quais serão as consequências dessas mudanças?
fig. 01: Família nuclear burguesa.

Família nuclear burguesa: a burguesia modifica toda a estrutura social,


inclusive a da família. Com ela, surge a família nuclear como maneira de
manutenção das terras e bens da família. Uma nova moral se instala e algo que
é socialmente e historicamente definido - a família - passa a ser defendida
como algo da natureza humana e de parâmetro de normalidade.

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Os burgueses, antigos camponeses, serviçais e artesãos que
trabalhavam nos feudos, começam a se organizar para questionar a
divisão das castas da sociedade medieval. Eram essas pessoas que
trabalhavam e, portanto, produziam os bens necessários para o
sustento das castas mais altas: nobreza e clero.
Diversos fatores contribuíram para as mudanças nas estruturas
sociais. Como nosso objetivo aqui não é fazer um estudo aprofundado
da época, vamos nos ater aos aspectos que nos interessam.
Querendo os burgueses defender seu direito à propriedade e ao
acúmulo de bens, buscaram, na filosofia da antiguidade, o discurso e as
ideias necessárias. Por meio dessa busca, o que foi possibilitado pela
dependência da nobreza e da Igreja do dinheiro que essa nova classe
começava a acumular, a burguesia levanta o princípio da igaldade. Esse
valor contraria a ideia de que cada pessoa, homem e mulher nascem
determinados à condição previamente definida. Juntamente ao ideal
de igualdade, adotam os burgueses os ideais da Reforma Protestante,
que questiona e desestrutura a Igreja Católica Romana.

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No lugar do conhecimento produzido
pela Igreja, a burguesia constrói todo um
discurso ideológico para a mobilidade social.
Quem nasce pobre poderá, pelo meio de seu
próprio esforço, ascender socialmente, pois as
oportunidades serão dadas a todos e todos
nascem iguais. Guarde esse discurso, ele será
importante para entendermos, mais à frente, o
discurso ainda atual que associa a desigualdade
social a uma condição intrínseca a determinados
homens. L__----==-----"-'----'----'-.J

A burguesia, cada vez mais poderosa, estabelece as bases do


capitalismo moderno. Paralelamente a esse enriquecimento e
querendo, de uma vez por todas, ascender ao poder, começa a financiar
e a investir em uma nova forma de conhecimento: a ciência!
A burguesia toma o poder. A nobreza perde seu direito divino, a
Igreja é relegada somente aos aspectos espirituais e a ciência passa a
ser o novo critério de verdade a ser utilizado. Reis foram decapitados, a
república passa a ser instalada e a democracia é resgatada dos ideais da
antiguidade como novo modo de estruturação da sociedade, do poder
político e da economia.
Com o conhecimento produzido pelas ciências modernas, temos
o desenvolvimento de diversas áreas: medicina, tecnologias de
produção de bens, agricultura, cidades e demais áreas que atingem
direta e indiretamente o homem e sua vida.
Com a ciência, o homem passa a ter um novo lugar. Antes era
divinamente determinado e possuía um lugar privilegiado no mundo.
Agora, o homem passa a ser um animal entre outros, mas dotado de
razão. A Terra passa a ser não mais um
lugar escolhido por Deus para
viver aqueles criados à sua
imagem e semelhança,
mas um entre tantos
planetas em um sistema
astronômico desconhecido e indefinido.
O homem passa a ser entendido e estudado sob seus aspectos
da natureza e dos instintos que nele prevalecem na evolução da

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espécie. Ele começa a ser visto como um ser natural, livre e individual.
Esses preceitos possuem seus aspectos positivos quando comparados
à condição anteriormente vivenciada. Mas, como toda estrutura social,
enseja no seu próprio processo contradições que levam ao
questionamento de sua veracidade e, pior, ao mascaramento dessas
contradições.
Vamos entender isso melhor. Liberdade. Você já deve ter ouvido
que todos nós nascemos livres. Consequentemente, por uma lógica
cartesiana, todos nós somos potencialmente iguais. O que causa,
então, as diferenças? Por que algumas pessoas conseguem alcançar um
determinado patamar socioeconômico e outras não? Será que somente
os esforços individuais determinam quem conseguirá e quem não?
Vamos pensar. Considerado o Brasil, sabemos que temos uma
sociedade desigual. Isso é fato. Temos poucos com muito e muitos com
pouco. Será que, de fato, concorremos todos em igualdade e as
oportunidades são iguais para todos? Reflita um pouco antes de
começarmos.
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(;' ~~ Vamos focar nossa análise na área da educação. Na
~ );:> sua cidade, qual a melhor escola particular? O aluno
dessa escola concorre igualmente com um aluno de
uma escola municipal dessa mesma cidade? Recebem as
mesmas informações e com a mesma qualidade? Possuem
acesso à internet, livros, teatro, viagens? Tem o mesmo tempo e as
mesmas condições para estudar em casa? Provavelmente, não.
Então, começamos a entender que, na verdade, não vivemos em
uma sociedade igualitária. Eque a desigualdade social é muito mais
complexa de se analisar do que simplesmente definirmos que são
as pessoas, individualmente, as únicas responsáveis pelo seu
sucesso ou seu fracasso.

Não é tão difícil de entender, mas o discurso moderno parte da


premissa de que, sim, são as pessoas as únicas responsáveis por seu
sucesso ou fracasso. Fatores como a desigualdade de condições, a
discriminação, o preconceito e a própria necessidade do sistema de que
haja pessoas não tão qualificadas para desempenhar os trabalhos que
os demais não querem, são desconsiderados quando pensamos na
construção de uma sociedade mais igualitária.

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A própria ciência, a princípio, respaldou esses ideais. O homem
seria determinado pela sua natureza e somente por ela. Inclusive,
muitos discursos científicos definiram que algumas raças humanas - a
própria ideia de raça vem de uma concepção naturalista do homem -
seriam superiores e, portanto, algumas - as inferiores - seriam mais
propensas a estarem sob os controles instintivos e não racionais,
justificando o direito de uma raça sob outra, como no caso da
escravização. Entretanto, a ciência se transforma e, a cada momento,
novas descobertas são feitas, novas visões são construídas.
Hoje, a ciência, por meio dos estudos da genética, demonstra
que não há essa ideia de raças humanas. Portanto, a ideia de raça é
definida por critérios culturais e sociais, não por critérios naturais. Essa
será a discussão de nosso próximo tópico.

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No filme "Tempos Modernos" (1936) o cineasta
Charles Chaplin mostra, magistralmente, as relações
- entre ciência, trabalho e adoecimento. O personagem
principal é um trabalhador fabril, que adoece e é
afastado do trabalho. Internado em um hospital
psiquiátrico, seu adoecimento é entendido somente como uma
condição deflagrada por algo individual. Não há um entendimento
de que seu adoecimento é consequência das relações de trabalho
estabelecidas. Se ele adoece é porque há algo
nele, na pessoa, que o leva a tal condição.
Esse filme é um bom exemplo de como
a modernidade passou a entender
os problemas, as dificuldades e
o sofrimento que acometem o
ser humano.

Outro exemplo são os anúncios sobre escravos da época


escravagista brasileira. Fica clara a ideia de que eles eram considerados
mais animais do que pessoas:
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Esc:ravo á venda
A.' JTua do Carmo rr. 57, ,·endn-sc um es-
cravo de cõr · prelt1, com 47 annos de
. edode, prçudado e sem dd~ilos\
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Pesquise sobre a descoberta da AIDS:
1. Quais eram os grupos de risco quando a AIDS foi descoberta?
Como a AIDS foi entendida quando foi descoberta? Quais eram
as explicações científicas e religiosas para a AIDS?
2. Essas explicações geraram preconceito e discriminação?
Contra quem?
3. Hoje, quais são os grupos de risco?
4. Compare essas mudanças e o quanto elas influenciaram as
vida das pessoas contaminadas com o vírus HIV.
Lista de imagens
fig.01: Família nuclear burguesa. http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Teresa_da_%C3%81 ustria
fig.02: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:William_Hogarth_054Jpg
fig.03 e 04: https://cinemahistoriaeducacao.wordpress.com/cinema-e-historia/idade-moderna/
fig.OS: http://revistaescola.abril.eom.br/img/arte/esp-012-cinema-02Jpg
fig.06: http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/ga1eria/up1oads/1/1376925267escravoavendaJpg

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