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HISTÓRIA ANTIGA ORIENTAL

O REINO EGÍPCIO – UM POUCO DE HISTÓRIA


POLÍTICA

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Identificar de maneira clara as funções sociais e políticas do espaço egípcio, partindo do gancho em especial do

chamado novo Reino;

2. reconhecer as dificuldades em estudar este período;

3. identificar as transformações sofridas pelo faraó ao longo da história egípcia antiga, como forma de continuar

aprendendo e revisar questões que já foram apresentadas;

4. reconhecer as disputas do Novo Império, as histórias de Tutmés, Akenaton e Ramsés;

5. reconhecer o Egito Tardio, e sua relação com o mundo ocidental, leia-se gregos e romanos.

Bons estudos!

1. Panorama geral
O diálogo entre magia, os mitos e a organização política não é um caminho fácil, mas é algo absolutamente

necessário.

Neste sentido, antes de mergulharmos nas relações políticas, buscamos as explicações de Christian Jacq sobre a

magia e sua relação com os faraós no mundo antigo. Abaixo, colocamos parte do texto: "O mundo mágico do

Antigo Egito, Bertrand Brasil”, 2001, escrito por Christin Jacq:

Figura 1 - O mundo mágico do Antigo Egito, escrito por Christin Jacq

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O mundo mágico do Antigo Egito, Bertrand Brasil

Christin Jacq.

Os textos mágicos, que formam uma parte considerável da ”literatura” egípcia, estão inscritos em

suportes materiais variados: papiros (desde o Império Médio), ostras (placas de calcário), esteias,

estátuas, múltiplos pequenos objetos. Os eruditos contemporâneos, habituados a fazer dissecações

racionalistas, ganharam o hábito de classificar os textos egípcios em ”literários”, ”históricos”, ”

religiosos”, ”mágicos”, etc. Essas distinções formais não correspondem à realidade. O Conto do

Náufrago, reconhecido como ”literário”, é uma história de magia admirável. Os ”Textos dos

Sarcófagos”,

Ditos ”funerários”, apelam constantemente para a magia. Na medida em que um texto está escrito em

hieróglifos, é por inerência eficaz; poder-se-ia até dizer que

Todo o escrito egípcio é por essência mágico, ainda que se tenha de reconhecer diversos graus na

aplicação desse princípio. No entanto, alguns textos destacam-se do conjunto pela sua importância

ou pela sua originalidade. Entre eles, o Livro dos Dois Caminhos, inscrito em sarcófagos do Império

Médio. Confere ao morto o conhecimento dos caminhos do Além. Dois caminhos, um de terra, outro

de água, são separados por um rio de fogo. Outras tantas vias de acesso simbólico a um país povoado

de gênios temíveis. É lá que se encontra uma espécie de Graal que o justo descobre depois de ter

vencido.

Numerosas provas cujas chaves só um conhecimento “mágico” poderá fornecer-lhe.

Os Livros de Horas são conjuntos de fórmulas que o mágico recita durante as horas do dia e da noite

para obter os favores das divindades. O Papiro Bremner-Rhind, onde se conta a luta das potências

solares contra a monstruosa serpente Apopi, gênio das trevas, registra também m um tratado

esotérico sobre a natureza divina. É-nos revelado que o Mestre do Universo criou o conjunto dos

seres quando o céu e a terra ainda não existiam. O plano da criação foi concebido no próprio coração

dele. De Um, o arquiteto dos mundos tornou-se Três. Provocou mutação e transmutações, instalou-se

no cabeço primordial, primeira terra emergida. Quanto aos homens (remetj), esses nasceram das

lágrimas (remetj) do deus, quando chorou sobre o mundo.

A Esteia de Metternich é a mais célebre das esteias mágicas. É uma verdadeira ”banda desenhada”

mágica a que se narra na Esteia de Metternich, documento importante que só por si mereceria um

extenso estudo. No cimo do monumento veem-se oito babuínos a adorar o Sol nascente, enquanto

Totó dirige o ritual. Trata-se da criação mágica da Luz e da luta contra as forças das trevas, expressa

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simbolicamente nos registros inferiores da esteia. A figura central é a de Hórus, representado como

uma criança nua, com os pés pousados em cima de crocodilos, e tendo nas mãos animais venenosos

ou perigosos. Se o jovem deus, portador da cintura da infância, não teme qualquer perigo e domina

as forças do mal, é porque é protegido por numerosas divindades, nomeadamente por Bés, cuja

enorme cabeça sorridente é garantia de segurança. (Esteia de Metternich, rosto). Data do século IV a.

C. e registra um texto notável que trata da cura mágica de Hórus criança, picado por um animal

venenoso nos pântanos do Delta onde vivia escondido em companhia de Ísis, a mãe. Na parte

superior do rosto da esteia vê-se Hórus de pé em cima de crocodilos a agarrar criaturas maléficas.

O jovem deus é protegido por Tot, o Mágico, e por Hathor, deusa da Harmonia. Por baixo, uma ”

banda desenhada” simbólica inclui sete registros onde figuram deuses e gênios, desenvolvendo a sua

atividade em múltiplas cenas de conjura. No cimo da esteia, oito babuínos celebram com os seus

gritos o nascimento da Luz. A Esteia de Metternich evoca igualmente o papel da grande mágica, Ísis.

Quando encontra Hórus, o filho agonizante, apela aos habitantes dos pântanos, mas nenhum deles

conhecia remédio apropriado. Ninguém podia pronunciar palavras de cura eficazes. Iria o Criador,

Atum, permitir que a vida se esfumasse? Ísis retira Hórus do ataúde onde repousava e lança um

longo lamento que atinge o céu. A sua ameaça é aterradora: enquanto o seu filho não for curado, a

Luz não brilhará. As potências celestes, assim forçadas, intervêm a favor do jovem deus: ”Desperta,

Hórus!” - é dito. O veneno perde a sua capacidade nociva, depois torna-se ineficaz. Hórus cura-se. A

ordem do mundo é restabelecida. A barca divina percorre novamente os espaços celestes. Outro

documento surpreendente: ”a estátua curadora” de alguém chamado Djedher, guardião das portas

do templo de Athribis. Descoberta em 1918 e conservada no Museu do Cairo, oferece informações

acerca das práticas religiosas do século IV d.C. Assente num pedestal e medindo 65 centímetros de

altura, esse monumento de granito negro representa uma personagem acocorada, braços cruzados,

as costas contra um pilar. O corpo está coberto de inscrições, com a exceção do rosto, dos pés e das

mãos. A superfície do pedestal está cavada de modo que duas bacias ligadas por um rego recolham a

água que se impregnou de magia depois de ter sido derramada sobre a estátua. Bebendo essa água, o

doente curar-se-á. Sobre qualquer estátua curadora, a menção do nome próprio do defunto é

importante. Àqueles que queriam utilizar magicamente a sua estátua, o morto pedia que lessem em

seu favor os textos rituais. Aparecia assim como um salvador produzindo milagres. ”Oh, qualquer

sacerdote”, diz um texto da estátua, ”qualquer escriba, qualquer sábio, que veja este Salvador! Recitai

os seus escritos, aprendei as suas fórmulas mágicas! Conservai os seus escritos, protegei as suas

fórmulas mágicas! Dizei a oferenda funerária que o rei dá em mil coisas boas e puras para o ka (a

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potência vital) deste Salvador que fez o seu nome em Hórus-o-Salvador”. Na mesma categoria de

documentos se classifica uma base de estátua de granito negro (32,2 centímetros de comprimento,

12 centímetros de altura) adquirida em 1950 pelo Museu de Leiden. Coberta de textos mágicos é

aproximadamente da época ptolomaica. Os textos revelam que Ísis, vinda de uma moradia secreta

onde tinha colocado Set, utilizou todas as capacidades da magia para curar uma criança picada por

desgraça por um dos sete escorpiões que a precediam nas suas deslocações.

Entre as estátuas ”mágicas”, deve ser dado um lugar à parte à do faraó Ramsés III encontrada no

deserto oriental. A sua função era a de proteger os viajantes contra os animais malfazejos,

nomeadamente as serpentes. Os que se aventuravam nas paragens do istmo do Suez beneficiavam

assim dos favores de Ramsés III divinizado, cuja efígie, colocada num pequeno oratório, emitia uma

influência benéfica. Na estátua (ou, mais exatamente, no grupo esculpido, porque o rei era

acompanhado por uma deusa) estavam gravadas fórmulas mágicas que, assegurando a salvaguarda

de Hórus criança, garantiam também a do viajante.

Uma corporação de magos, os sau, quer dizer, ”os protetores”, estava encarregada de velar pela

segurança daqueles que percorriam as pistas do deserto. Ramsés III teve relações especialmente

estreitas com o universo da magia. Quando do sombrio processo criminal batizado ”conspiração do

harém”, conspiração fomentada por dignatários, estes utilizaram a magia mais negativa para tentar

suprimir o chefe do Estado. Um dos conjurados tinha conseguido retirar dos arquivos reais um texto

mágico ultra-secreto.

Fez uso dele contra o seu soberano. Os membros da maquinação fabricaram figuras de cera que

representavam os guardas do faraó e conseguiram assim paralisá-los. Esperavam, sem dúvida, poder

ir mais longe e atingir a própria pessoa do faraó, mas foram identificados e capturados. A utilização

da magia como arma criminosa foi considerada delito muito grave, castigado com a condenação à

morte, sendo a sentença executada sob a forma de suicídio.

Vários museus guardam papiros mágicos, de interesse desigual. Citamos acima o Papiro Bremner-

Rhind e poderíamos estabelecer uma longa lista de documentos (entre os quais alguns inéditos ou

não traduzidos, ou ainda inacessíveis por razões obscuras). Um deles, o Papiro demótico de Londres

e de Leiden, goza de um renome algo injustificado. Esse documento de época tardia mistura práticas

divinatórias, receitas de baixa feitiçaria e antigos elementos mitológicos. É o reflexo de uma

mentalidade mágica, dando um lugar não negligenciável a sortilégios dos quais um bom número visa

conquistar a mulher amada. Esse papiro não foi, de resto, redigido para uso apenas dos Egípcios, mas

também dos Gregos e dos Cristãos.

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Arquivos sagrados e bibliotecas mágicas Em egípcio, os arquivos sagrados são chamados baú Ré, ”

potências do deus do Sol”. ”Os livros”, explica um papiro 13, ”são a potência do rei da Luz no meio do

qual vive Osíris”. É, pois por intermédio desses arquivos sagrados que comunicam as duas grandes

potências divinas, Ré, deus da Luz, e Osíris, senhor das regiões tenebrosas.

Os autores dos livros mágicos não são homens, mas sim Tot, o mestre das palavras sagradas, Sia, o

deus da Sabedoria, Geb, o senhor da Terra. Escrevendo esses livros, legaram à humanidade

mensagens que ela pode utilizar com conhecimento de causa. O mágico deve, portanto possuir um

conhecimento perfeito do mundo divino. No cume da sua arte, é mesmo considerado como o Mestre

da Enéade, corporação de nove deuses que tem um papel principal na origem de toda a Criação.

Portador da grande coroa, o mágico torna-se redator de textos sagrados.

O egípcio gosta da escrita. É o escrito que registra o conhecimento. ”Ama os livros como amas a tua

mãe”, é recomendado àquele que procura a sabedoria. O mágico não se contenta em ler: engole os

textos, coloca pedaços de papiro numa tigela, bebe o Verbo mág ico, ingere as palavras portadoras de

significado. Esse rito extraordinário foi transmitido aos construtores de catedrais. Perto da múmia

era depositado um papiro encarregado de repelir as forças hostis e de permitir ao morto entrar em

completa segurança nas regiões desconhecidas do Além. Esses escritos mágicos eram colocados ora

perto da cabeça, ora perto dos pés, ora entre as pernas do corpo mumificado. O morto dispunha

assim de fórmulas eficazes, de itinerários, de indicações que deviam ser seguidas para que a sua

viagem póstuma fosse bem sucedida.

Cada templo possuía uma biblioteca mágica onde se conservavam as obras necessárias às práticas

rituais e ao ensino esotérico dos praticantes. Em Edfu, por exemplo, dispunham de obras para

combater os gênios malignos, repelir o crocodilo, apaziguar Sekhemet, caçador de leões, proteger o

faraó no seu palácio. O mágico rege a sua vida quotidiana pelas leis cósmicas; por exemplo, ”o dia

vinte do primeiro mês da inundação é o dia de receber e de enviar cartas”. A vida e a morte saem

nesse dia. Faz-se nesse dia o livro fim da obra. É um livro secreto, que faz malograr os

encantamentos, que detém e trava as conjuras e intimida todo o universo. Contém a vida, contém a

morte”.

O escrito mágico goza de uma vida autônoma dado se encontrar escrito em hieróglifos, signos

portadores de potência. Os ”Textos das Pirâmides”, que incluem numerosas fórmulas mágicas,

oferecem a este respeito um exemplo muito significativo. Esses textos, inscritos nas paredes internas

das pirâmides do Império Antigo (V e VI dinastias), apresentam-se sob a forma de colunas de

hieróglifos.

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Cada um destes é considerado como um ser vivo, a tal ponto que os animais perigosos ou impuros

(por exemplo, os leões, as serpentes) são cortados em dois ou mutilados para não fazerem mal ao

faraó morto e ressuscitado. Na própria composição dos textos mágicos, notam-se usos

característicos, como o processo enumerativo que consiste em dar longas listas de inimigos vencidos

ou partes do corpo do homem identificadas às dos deuses. Também se empregam palavras

incompreensíveis, formadas de conjuntos de sons julgados eficazes: há uma mistura de egípcio, de

babilônio, e de cretense. Nota:

Papiro Salt 139.

Exemplo de texto mágico: uma página do Papiro Salt 825 onde se revela o ritual da Casa de Vida. À

esquerda, escrito dito ”hierático”, forma cursiva do precedente outras línguas estrangeiras,

desembocando em fórmulas do estilo ”abracadabra”. Esses desvios bizarros da magia sacra não

devem fazer com que se esqueça o valor da palavra. Ler em voz alta as fórmulas mágicas é conferir-

lhes eficácia e realidade. A língua hieroglífica é baseada, em grande parte, num ”alfabeto” sagrado

que inclui letrasmãe (consoantes e semiconsoantes).

As vogais não são notadas, são elementos perecíveis, passageiros, dependendo de uma época e um

lugar. Em troca, ”o esqueleto de consoantes” é o elemento imortal da língua. Esta idéia de um valor

mágico da linguagem foi conservada durante muito tempo. Na época copta, um amuleto preservava

vinte e quatro nomes mágicos, cada um deles iniciado por uma das letras do alfabeto grego.

”Eu sou a Grande Palavra”, declara o faraó, indicando desse modo que é capaz de dar vida a todas as

coisas. Há uma palavra secreta nas trevas. Qualquer espírito que a conheça, escapar á à destruição e

viverá entre os vivos. O viajante do Além descobre-a e reveste a magia que irá permitir-lhe manejar a

varinha de um deus verdadeiro. Quem possuir a fórmula será capaz de fazer a sua própria magia.

Quando os deuses falaram, rasgaram o nada e abriram a via às forças da vida. Eis a razão por que o

mágico repete as palavras dos deuses, como as de Hórus que afastam a morte, extinguem o fogo dos

venenos, reentregam o sopro da vida e arrancam o homem a um destino maléfico. Palavras e

fórmulas pronunciadas não são ditas por acaso; inspiram-se em lendas sagradas, em ações

acontecidas nos tempos divinos e que se repetem no mundo dos homens. Uma fórmula mágica só é

eficaz na medida em que remonta a uma alta antiguidade ou, mais exatamente, à origem da vida. A

fórmula de oferenda, por exemplo - peret-kheru -, significa: ”o que aparece na voz”, sendo apenas o

Verbo capaz de animar a matéria.

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1.1 Escolha do espaço social

A escolha do faraó é uma questão política e que envolve uma série de poderes egípcios, tanto os nomarcas, mas

principalmente os sacerdotes.

Devemos sinalizar que a morte de um faraó não é necessariamente a busca imediata de um sucessor, existem

disputas recorrentes que são delineadas nos textos dos sarcófagos e nas sucessões dinásticas.

Esta prática apresenta dois fatores importantes de serem observados, uma vez que pode significar a sucessão

familiar garantida, mas também de maneira constante encontramos a divisão do trono do faraó como um acordo,

uma aliança entre diferentes casas evitando disputas internas.

Esta prática era bem vista, porque a função do faraó, em especial no antigo e no médio Império, era o equilíbrio

da sociedade. Aquele que conseguisse passar uma sociedade de forma pacífica é considerado um sucessor

legítimo de hórus e teria seu nome marcado para a posteridade.

Figura 2 - Regiões ao longo do Nilo

Os nomos, as regiões de domínio ao longo do Nilo, não desaparecem em momento nenhum, nem tampouco

estabelecem um exército em que deixe suas fronteiras claramente definidas, tanto que o Egito fica suscetível a

constantes invasões.

As disputas pela sucessão, muitas vezes, revelam a disputa constante destas forças.

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Quando falamos em burocracia no Egito antigo, fala-se no faraó, mas para além da liderança algumas figuras são

fundamentais:

Vizir

O termo quer dizer arquiteto. Ele é aquele que toma as decisões administrativas. É ele que cuida do comércio,

que controla os escravos, que garante a corveia e estrutura as grandes construções.

Sacerdotes

Não há só um templo ou um deus no Egito, como já vimos na última aula, a representação dos sacerdotes de

Amon tendem a ter a hegemonia na escolha do faraó, no entanto, todos os demais templos são figuras

importantes.

Um momento emblemático da força desta figura ocorre durante o Novo Império, para ser mais específico, no

momento em que o faraó abandona o templo de Amón e busca apoio em Aton como deus principal, alguns

defendem que único, dos egípcios.

Devemos sublinhar que a escolha de Amon como o principal Deus egípcio é um indicativo político importante,

uma vez que o culto a Amon e seus principais templos estão localizados na parte norte do Egito, e é esta

estrutura aristocrática a principal base de apoio da unificação das duas coroas, da existência de um Egito

faraônico.

Ciro Flamarion Cardoso em um artigo sobre os núbios no livro Impérios na História sublinha que a dominação

destes grupos em muitas posições do sul do Egito é um indicativo importante de uma resistência da região ao

domínio faraônico.

Neste prisma, devemos ter em conta que as sucessões dinásticas que observamos nas cronologias egípcias são

mais do que a organização política, mas sim o entendimento que grupos entram em disputas em que estarão em

jogo forças políticas e militares e o novo grupo que assume o poder muda os elementos, transforma a

aristocracia local.

Os poderes subsequentes, chamados de tardios, na prática são de um novo Egito. De um Egito que estará cada

vez mais ligado ao Mediterrâneo, as dominações gregas e em especial romanas, uma vez que este será uma das

áreas de celeiro de Roma, pelo potencial da agricultura já implementada anteriormente.

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Figura 3 - Mapa

Entre o fim do Novo Império e o século XX, o Egito jamais conseguiu se constituir novamente como um governo

autônomo, foi dominado por Romanos, Bizantinos, Muçulmanos, Turcos, Ingleses, sendo autônomo somente no

último século.

Culpa do passado, não mesmo, pois cada momento histórico é singular, tem continuidades e rupturas, relações

que datam de períodos muito longos, mas também elementos presentes no cotidiano destas sociedades. O

desafio de estudar o Egito é fazê-lo sem se apaixonar.

Pensando no Antigo Império, notamos que a constante mudança de cidades como cede do poder central,

demonstram o fenômeno que tratamos a pouco, com a figura do Faraó sendo fruto das disputas dos poderes

locais, e ao mesmo tempo símbolo de uma união que garantia a existência do Egito como um reino.

I Império Intermediário

Período em que as disputas políticas se sobrepõem a uma centralização e os nomos marcam o domínio da região.

Médio Império

O Médio Império é considerado frágil politicamente, tão frágil que ele sobre uma série de invasão no território

egípcio, a mais crítica foi a dos hicsos, que assumiram a posição de faraós. A História contada pelos registros

egípcios não reconhecem nenhum faraó sobre esse período.

II Império Intermediário

É considerado obscuro pela história, uma vez que muitos dos seus registros foram destruídos pelos egípcios do

Novo Império. Os relatos do Novo Império, sucessor deste momento, constroem a ideia de um momento de

barbárie.

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Novo Império

É um período em que de certa forma o Faraó é reinventado. Frentes locais obtém uma vitória político-militar que

estabelece a figura de um faraó guerreiro. Vamos falar mais disso.

Enfim, os hicsos entram no Egito, justamente, pela dificuldade de associação militar egípcio tomam o poder e, ao

se nomearem, governadores do Egito, mais que isso os egípcios adotam a leitura do faraó.

O novo Império é o momento que grupos egípcios conseguem por uma série de revoltas reorganizar a ideia de

um governo egípcio, em especial através da liderança militar de Amhoses. Esta formação transforma

definitivamente a figura do faraó, que passa a ser um comandante militar, sem perder seus aspectos de equilíbrio

e de divindade.

Figura 4 - Faraó

Muitos defendem a ideia de que a presença hebraica no Egito se deu durante a ocupação dos hicsos.

Sobre os hicsos, o Teresa Bedman constrói uma visão bastante interessante.

LOS HICSOS: UNA NUEVA VISIÓN

Ponencia presentada durante el VII Congreso Internacional de Egiptólogos, Cambridge,1995

LA CUESTIÓN ÉTNICA:

Siempre que se habla de los Hicsos, surgen las preguntas ¿quiénes fueron?, ¿de donde venían? Hacia

el 2000 a.C. se produce un cambio climático en Europa. A lo largo de toda la historia de la humanidad

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los pueblos se han movilizado siempre por condicionantes económicos o bien obligados a moverse

por otros pueblos más fuertes. Tenemos también constancia que, un pueblo de origen indoeuropeo

llamado Hurrita, procedente posiblemente de la región del lago Van, presiona la zona septentrional

de Mesopotamia. Militarmente son superiores y conocedores del caballo y del carro como elemento

de guerra. De estos Hurritas se sabe que invaden Asiria, Mesopotamia Central, Siria y Palestina y se

han localizado restos arqueológicos identificados como Hurritas en Tell Billa (cerca de Nínive),

Karkemish, Alepo, Qatna y Kadesh. Creemos que no sería muy desacertado pensar que estos bien

pudieran haber sido el agente movilizador que puso en marcha el mecanismo de la emigración de

otros pueblos hacia el Delta de Egipto. Además, hay que pensar que Egipto, fue desde siempre el

sueño verde de multitud de pueblos sedientos y que si no había sido invadido hasta ese momento,

fue porque sus soberanos habían sido fuertes. La escasez de alimentos en los mercados tradicionales,

también es

otro factor que hace que todos los ojos se vuelvan hacia Egipto. Si analizamos el vocablo “Hicso” =

“príncipes de países extranjeros”, nos está ya indicando la propia pluralidad de quienes formaban

este grupo. Consideramos errónea pues la postura de aquellos que intentan encontrar un solo pueblo

al que podamos identificar como Hicso. Del texto de Maneton, a pesar de que hay que tomarlo con

mucha precaución, podemos sacar varias conclusiones. En primer lugar él hace referencia a “gentes

de oscura raza venida del Oriente”. El término

“oscura raza”, se puede interpretar de dos modos:

a) Que no se sabía la procedencia étnica.

b) Que el color de su piel era oscuro (el color de la piel de los habitantes del Delta es la más clara de

todo Egipto, es de tipo caucasiano).

Si recordamos la tumba nº 3 de Jnoumhotep, en Beni Asan, los registros de su pared norte, nos está

describiendo la entrada de “asiáticos” en Egipto. A estos asiáticos, por su indumentaria podríamos

clasificarlos como de tipo cananita. Como se puede apreciar en estas pinturas, se tratan de clanes

completos, esposas, hijos y enseres. El color de su piel es muy similar a la egipcia. Los rasgos de su

cara son semitas: nariz típicamente aguileña, el mentón alargado, utilizan barba...... En el yacimiento

de Tell el Daba, se han localizado algunas estatuas de este período. Los rasgos distan mucho de ser

similares: no utilizan barba, la nariz es achatada, el rostro redondeado, los ojos almendrados, labios

gruesos, el color de su piel no nos es posible clarificarlo pues las estatuas están realizadas en granito,

aunque este es de

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color negro. El estado actual de la cuestión enfoca hacia los sirio-cananeos, como los candidatos más

idóneos[3]. La estratigrafía y una gran variedad de hallazgos arqueológicos sustentan esta teoría. Los

restos Hicsos

encontrados en Tell el Daba, corresponden a los estratos del Bronce Medio II BC. Bietak, también ha

localizado abundantes restos de cerámica, este mismo tipo de cerámica ha sido localizado en el

yacimiento de Tell-el Yahudijeh, correspondiendo también a la misma cronología del estrato del

Bronce Medio II BC. Pero esta “claridad” arqueológica, choca con la propia oposición egipcia: en la

llamada “Estela de Amada”, del tiempo de Amenhotep II (1431-1405), se hace referencia a los

“Hicsos” de una parte y a los “Príncipes de Retenu” (Palestina)*4+, de otra. Es decir que los egipcios

los diferencia ban,

eran etnias diferentes.

A pesar de que hay unas claras aportaciones Hurritas, no se han encontrado restos de esta

civilización en yacimientos egipcios. Los restos Hurritas más próximos se han localizado den Kadehs.

Recientemente Bietak ha localizado los cimientos de una gran fortificación que puede corresponder

a una ciudadela. Más al sur de ésta, ha localizado otra más pequeña y otras dos más en las

inmediaciones de la primera. También parece ser que entre las fortificaciones existió una zona que

bien era de cultivo o se trataban de zonas ajardinadas. Esto estaría relacionado con la secuencia

cultural del mundo Palestino, que estaba constituido por pequeñas confederaciones de pequeños

estados bajo el liderazgo de una ciudad principal y su rey. Éste gobernaba bajo un sistema de

vasallaje. Este sistema explicaría la lista real de la XVI dinastía.

Otro dato curioso es la forma de enterramiento. Las necrópolis localizadas en el yacimiento de Tell el

Daba, nos habla de una población con costumbres urbanas. En 1966 la misión austríaca localizó un

pequeño cementerio familiar, de tipo claramente no egipcio, que correspondía a rituales y

costumbres Sirias del Bronce Medio II. Junto a las sepulturas de niños, con restos quemados y

custodiados en “Pithoi”, se encontraron otras tumbas en fosa, con revestimiento de ladrillo crudo y

cubierta arqueada.

El ajuar funerario estaba compuesto por puñales de hoja triangular y hachas de guerra de tipo sirio.

Este tipo de enterramiento con técnica de bóveda era muy común en la zona de Mesopotamia.

Influidos por los textos de Manetón y de Flavio Josefo, tenemos la tendencia de ver a los Hicsos como

unos feroces destructores, viendo guerreros, posiblemente donde no hubieran tantos. Si volvemos de

nuevo al texto de Flavio Josefo, él mismo nos indica: “Sin dificultad, ni combate...”. La arqueología

parece corroborar estas palabras, pues los niveles de incendio localizados, estarían en estratos

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correspondientes a la XIII dinastía. No se han localizado restos que nos indique que hubo resistencia

y asedio a ciudades. Para hablar de luchas entre Hicsos y egipcios tenemos que esperar hasta

Seqenenre

Taa II, que será quien comience las hostilidades. El propio nombre de Avaris “Hwt w’rt” “Cuartel

general del departamento”, nos está indicando que los Hicsos heredaron unas estructuras

comerciales preexistentes en la zona. Avaris pasaría a ser un gran complejo comercial como lo había

sido hasta ese

momento la zona de Biblos. Se ha especulado mucho sobre un Imperio Hicso”. Creemos que

deberíamos pensar más en una expansión comercial aprovechando los cauces egipcios que en la

fuerza de las armas.

Como ya hemos visto anteriormente tan solo podemos dar una duración aproximada para el período

Hicso de 108 años. Un tiempo demasiado corto para pensar en el levantamiento de un gran Imperio

militar. La hipótesis en la que estamos trabajando propone que el mundo Hicso creó bajo estructuras

egipcias y experiencia propias, un gran Imperio comercial. Concordando esto con los grandes

almacenes localizados en Avaris con restos de ánforas de aceite, vino.... También se sabe que a la

zona se trasladaron grandes artesanos en la fabricación de barcos y que los Hicsos controlaban el

comercio

fluvial. Los últimos hallazgos de la misión austriaca, son miles de fragmen tos arquitectónicos,

procedentes de suelos y paredes de lo que puede ser un palacio. La decoración es lo más

significativo, pues son restos de pintura minoíca. Como bien dice Bietak, “es difícil la explicación de

este tipo de

pintura en Tell el Daba”. Su hipótesis de trabajo se basa en nexos dinásticos entre ambas cortes. Sería

ésta una explicación lógica y nos aclararía en gran medida la tapa de alabastro localizada por Evans

en Cnosos con el nombre del rey Hicso y el Tebano, existieron acuerdos fronterizos, de pastos, así

como el

pago de impuestos. Estas alianzas se cimentaron con casamientos diplomáticos. En el yacimiento de

Tell el Daba, se ha localizado el fragmento de una inscripción con el nombre de una princesa llamada

Tany donde se la denomina “hermana del rey”. Su nombre está rodeado por un cartucho, lo que la

vincula a

la familia real hicsa. La partícula “Ta” de su nombre es muy característico de la XVII dinastía y nos

hace pensar en la procedencia tebana de la princesa[5]. También hay constancia de acuerdos

similares con el reino de Kush.

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APORTACIONES HICSAS:

Los estudios de Hayes nos han permitido precisar que es en este período cuando se introducen en

Egipto instrumentos musicales de cuerda. También es en este período cuando los egipcios con ocen

el arco compuesto, la armadura de malla, las dagas y espadas curvas de bronce[6]. Las empuñaduras

de estas dagas correspondientes a los yacimientos Hicsos tienen formas de creciente lunar. El mismo

tipo de iconografía aparece también en las cabezas de hacha. Este tipo de armas con similar

iconografía fueron conocidos en Sumer y Anatolia hacia la primera mitad del tercer milenio[7].

También podemos

afirmar que es en este momento cuando se adoptan ciertas joyas que son de origen totalmente

asiático como son los pendientes, alfileres.... A este momento corresponde la utilización del telar

vertical.

Pero la más discutida de todas las novedades se mueve en torno a la introducción en el mundo

egipcio del caballo y del carro de guerra. Para algunos el elemento Hurrita de los Hicsos sería el

responsable de esta introducción, aunque no está comprobado que los Hicsos utilizasen el caballo y

el carro de guerra para conquistar el Delta, parece que su utilización nos llevaría al final de su

reinado. La primera mención del caballo, la encontramos en la segunda estela de Kamose.

C O N C L U S I O N E S:

1) Que tras un período de incertidumbre y caos que se produjo a partir de la XIII dinastía que llevó a

Egipto a una división del poder real creándose dos reino, uno en el Alto Egipto con capital en Tebas y

otro en el Delta con capital en Xois, llega de nuevo la calma y la prosperidad con la llegada de una

serie de pueblos que se confederan y forman una nueva dinastía en el delta (la XV y XVI dinastías

Hicsas), pero que al mismo tiempo sigue existiendo en el Alto Egipto un reino independiente egipcio

con cap ital en Tebas (XVIII dinastía egipcia)

2) Que estos nuevos soberanos para nada interrumpieron las costumbres egipcias, sino que en

muchos casos las tomaron como propias. Durante este período se copian papiros que recogían

tradiciones anteriores. Esto sólo se puede llevar a cabo en momentos de paz y de florecimiento

económico.

3) Que no hay un mismo origen étnico para los Hicsos. Este pueblo se nutrió de Hurritas (al menos

de tradiciones) pero sobre todo de Sirios, Cananeos y Palestinos.

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4) Que no debemos seguir viendo a los Hicsos como un pueblo guerrero y destructor, aunque

hubiera una casta militar dentro de ellos. Que se trató en su mayoría de comerciantes emigrados por

una caída en los mercados tradicionales de Biblos y Meggido. Que su gran expansión, no se debió a

una expansión

territorial de conquista por las armas sino a razones de índole comercial. Y que su presencia en

puntos tan distantes como son Cnosos, Bogazkoi, Bagad, Palestina, Gebelen y Khus, se debe a razones

económicas y comerciales y no a un gran Imperio Hicso.

O Novo Império vem com toda uma necessidade de afirmar, de forma forte, o poder. A figura do faraó é mítica e

equivale ao poder, mas não vale se não for consolidada.

Tutmés III foi um consolidador, mas para garantir o apoio dos nomos, utiliza o prestígio da "rainha" Hatshepsut.

Ela é um traço da aliança entre dos nomos, em torno do casamento e, uma vez morto o marido, ela permanece

"colada" ao poder.

Desta forma, Tutmés continua à frente do poder e faz com que a rainha morra. O túmulo dela que, no início,

garantia aquela aliança, foi raspado, apagando-se todas as inscrições sobre ela. Isso ocorre quando Tutmés tem

uma vitória militar e não precisa mais daquela aliança.

Saiba mais
Para saber mais sobre a história de Hatshepsut e Tutmés III, clique sobre os links abaixo:
Sobre Hatshepsut: (http://www.discoverybrasil.com/egito/faraos_rainhas/hatshepsut/index.
shtml)
Sobre Tutmés III: (http://antigoegipto.wordpress.com/2008/09/22/escavacoes-no-templo-
do-farao-tutmes-iii/)

O faraó, apesar do poder consolidando, não se torna o elemento único no poder, é um líder militar e representa

uma união recente. Uma das grandes marcas dessa dificuldade está no governo de Amenhotep IV.

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Figura 5 - Amenhotep IV

Amenhotep IV, ao assumir o poder, inicia uma reforma religiosa. O panteão egípcio é um conjunto de vários

deuses representantes dos nomos. É uma associação entre muitos elementos religiosos em que não se quer,

necessariamente, criar uma unidade. A ideia é fazer com que o faraó conviva, de maneira constante, com esses

diversos grupos. Pode-se ter um deus com várias representações ou um símbolo com várias leituras.

Esse envolvimento nos faz entender porque no Novo Reino ou Novo Império, quando se precisa de uma

consolidação, precisa-se afirmar o poder, tem-se um faraó que vai negar a necessidade do conflito que

representava o Panteão, expulsando todos os deuses, por decreto, honrando apenas um deus Athon.

Ele se denomina o sacerdote de Athon, ele junta assim dois poderes, o do sacerdote e o do faraó.

No primeiro momento, Amenhotep IV assume o nome de Akhenaton. Seu movimento, ao que os documentos

indicam, é vitorioso, tanto que seu filho será seu sucessor. Tutankaton torna-se faraó ainda jovem, após a morte

do pai, mesmo com a contestação torno do faraó.

Este sistema, no entanto, é complexo para ser mantido, e após uma série de disputas, uma nova aliança é

firmada: Tuatankaton torna-se Tutancamon, e retoma a valorização de Amon.

A volta de Amon e, ele associa a figura do Rá a Amon, Amon-rá. Essa representação está buscando uma

ampliação da base política, além do aspecto religioso.

Saiba mais
Amon: Rei dos deuses, ele é o senhor dos templos de Luxor e Carnac. Tem por esposa Mut e

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Amon: Rei dos deuses, ele é o senhor dos templos de Luxor e Carnac. Tem por esposa Mut e
por filho Khonsu. Sua personalidade formou-se por volta de 2000 a.C. e traz algumas funções
de Rá: sob o nome de Amon-Rá, ele é o sol que dá vida ao país.

À época de Ramsés III, Amon tornou-se um monárquico, mesmo título que Ptah e Rá. Frequentemente

representado como um homem vestido com a túnica real e usando na cabeça duas altas plumas do lado direito,

ele se manifesta, igualmente, sob a forma de um carneiro e, mais raramente, de um ganso.

1.2 A escolha do nome do faraó

O nome do faraó é uma escolha política, o faraó muda de nome ao assumir o poder. O nome mais famoso do Novo

Império é sem dúvida Ramses, os sucessores buscarão o seu prestígio e a recorrência será perceptível. Ramsés II

é aquele que vai disputar mais batalhas em torno do governo egípcio.

Figura 6 - Imagem de Faraó

Ramsés II é famoso por ter comandado os egípcios na batalha de Kadesh e ser provavelmente um dos

protagonistas do Êxodo.

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Sobre a batalha de Kadesh:

A expansão egípcia e o confronto com o Hatti

Paulo Carreira

Em c. 1314, o general Pa-Ramessu subiu ao trono como o nome de Ramsés I e morreu ao fim de dois

anos; dando início à XIX Dinastia. O novo faraó não era de sangue real; originário do Delta Ocidental,

terá talvez nascido em Qantir 11 e servira no exército de Horemheb. Seu filho, Seti I, de frontou-se,

pela primeira vez, perto de Kadesh, com os Hititas 12. A batalha foi inconclusiva e o faraó teve de

acorrer à fronteira ocidental do Delta onde os Líbios se tornavam ameaçadores. Ramsés II (1301

-1235), que sucedeu a Seti I, viu-se obrigado a instalar uma nova capital, Per-Ramsés 13, no Delta

Oriental, mais

perto da fronteira com a Ásia. Venceu um primeiro ataque dos «Povos do Mar», os Sherden, cujos

sobreviventes foram incorporados no exército real. Com eles invadiu a Líbia, onde foi construída

uma fortaleza perto de El Alamein. Entretanto, Mursili II, rei de Hatti (1321 -1295) prosseguia uma

política de

conquistas.

Possuindo já Carchemish e Alepo, incorporou o reino anatólico de Arzawa e submeteu o Mitanni.

Teve, no entanto, que fazer face às incursões dos nómadas Kaska, oriundos da zona montanhosa do

Ponto, que ameaçavam a própria capital, Hattusha.

Seu filho, Muwattali (1295-1271) herdou uma situação muito complexa. Investiu o irmão e futuro

rei, Hattusili, como soberano de Hapkis, confiando-lhe a fronteira norte do império. Hattusili

conseguiu conter a invasão dos Kaska.

Paralelamente, era preciso fazer face ao expansionismo de Ramsés II. Em 1290, o rei Benteshina de

Amurru abandonou a aliança hitita e passou para o campo egípcio. A reacção de Muwattali não foi

imediata. A pouco e pouco, elaborou uma teia de alianças de tal modo eficiente que, quando em 1286

o faraó alcançou as margens do Orontes, encontrou pela frente um poderoso exército.

De acordo com o Texto do Boletim, espiões shasu, ao serviço dos Hititas, conseguiram convencer

Ramsés de que o inimigo se reunira em Alepo. Na verdade estava escondido do outro lado de Kadesh

-aVelha, como tardiamente Ramsés veio a saber da boca de dois prisioneiros hititas capturados e

devidamente sujeitos a espancamento.

O vizir foi imediatamente despachado ao encontro das unidades militares que ainda estavam

distantes e o faraó avançou apoiado por um único regimento, o de Amon, acampando nos arredores

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da cidade, Inesperadamente, os carros hititas lançaram um ataque de surpresa, puseram em

debandada o regimento de Ré, que vinha a caminho, e atacaram o acampamento real. Numa situação

extremamente grave, Ramsés foi salvo pelo seu valor pessoal, pela ajuda de Amon ou, mais

realisticamente falando, pela chegada de um regimento de auxiliares ‘apiru, conhecido pelo nome de

«Os Jovens», o que lhe permitiu aguentar o combate, até ao aparecimento dos regimentos de Set e de

Ptah.

1.3 Ramsés II

Ainda sobre o Novo Império, devemos falar um pouco do terceiro faraó da Décima Nona dinastia, Ramsés II.

Figura 7 - Ramsés II

De 1153 a 1070 a.C., oito reis usarão o ilustre nome de Ramsés, mas nenhum deles

conseguirá devolver o poder dinástico do momento da formação do Novo Império.

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De 1070 a 715 a.C. decorre o Terceiro Período Intermediário. Em 715 a.C., tem início a

Baixa Época, que terminará em 332 a.C com a conquista de Alexandre.

Apesar de alguns sobressaltos, o Egito não voltará a conhecer seu antigo poder. O poder dos egípcios some

completamente? Não.

As disputas entre norte e sul, base do governo faraônico permanecerá existindo.

2. Cenário socioeconômico
Chama atenção que a economia passa por períodos difíceis.

A religião transforma-se, pois as linhas populares diferenciam-se cada vez mais dos círculos iniciáticos, e isto

gera uma dispersão de seus elementos, fora uma constante influência de práticas estrangeiras.

Estas invasões acabarão por fazer daquela região um espaço mítico importante, mas constantemente

conquistado. Até mesmo os soberanos estrangeiros que reinam nas Duas Terras terão de ser coroados faraós e

passar pelos rituais ancestrais.

O faraó é a alma do Egito.

Construir esta história deste período conturbado é difícil. Atualmente, inúmeros egiptólogos interessam-se por

ela e todos os anos há progressos no conhecimento das dinastias do final do Egito.

Quando Nectanebo II sobe ao trono em 360 a.C, ele tem de confrontar-se com uma situação difícil, quando o rei

anterior, Teos, fugira do Egito após uma pesada derrota infligida pelos persas, Nectanebo era soldado da Síria.

Regressou precipitadamente a seu país, onde a guerra civil ameaçava eclodir.

Jacq sublinha que Teos tornara-se muito impopular devido aos impostos suplementares lançados para equipar

as tropas. Nactaneo conteve a revolta, fez-se reconhecer como chefe pelos notáveis locais e tornou-se faraó.

Há anos que o Egito se apoiava na sua aliança com os gregos para salvaguardar um mínimo de independência, a

ocupação persa (525 - 404 a.C) deixou vestígios em todas as memórias.

A trigésima e última dinastia, iniciada em 380 AC, assistiu a mudança de faraós em relação aos gregos.

Conhece, porém, um clima de paz e possui uma economia relativamente estável, que lhe permite pôr em prática

um grande programa de construções.

A figura do Reino vivo vai ser recuperada, muitas vezes, mesmo após estar inteiramente perdida.

Os persas, no século VI, dominam o Egito, e o rei se autodenomina faraó. Quando Alexandre conquista o Egito,

Ptolomeu assume o comando político-militar.

Estabelece uma grandiosa cerimônia para ele Ptolomeu ser eleito faraó, com uma pequena alteração, une as três

coroas. Por fim, marca o casamento com a principal representante do mundo local.

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Como síntese sobre o Egito, podemos compreender que para muito além de um espaço especial, marcado pelo

ponto mais alto alcançado pelo homem, buscamos entender a sua organização.

Notamos que de conjuntos de "tribos" estabelecidas ao longo do curso do Nilo, vemos a constituição de uma

sofisticação política que permite, a cerca de 3.000a.C, a formação de um sistema político complexo, que

representava na prática uma associação sociopolítica de diversos grupos e a imposição de um grupo (baixo Nilo)

sobre o outro (alto Nilo), sem retirar a ideia de uma aceitação política, uma coroa que se unifica.

3. Cleópatra
Notamos que temos um longo período histórico e, apesar de Cleópatra se afirmar a portadora da coroa de Menés,

de Djoser do Escorpião rei, na prática é uma estrutura impensável.

Cleópatra é uma das personalidades mais célebres da Antiguidade. No século I a.C., as duas Terras subsistem

num mundo mediterrânico dominado por Roma.

Desde a vitória de Alexandre, o Delta do Nilo passa por um intenso processo de helenização, ao passo que o sul

mergulha de forma cada vez mais intensa nas relações de poder africanas.

O duplo país definitivamente deixa de existir.

Segundo Jacq no seu Egito dos Grandes Faraós, quando Cleópatra nasce, no ano de 69 a.C., o império dos

ptolomeus já pertence ao passado.

O governo de seu país é uma representação local do governo romano. Cleópatra divide o trono com seu irmão, de

nome Ptolomeu XIV, de treze anos de idade.

Seu nome estará envolvido nas maiores batalhas do principado romano, e por muitos ela é considerada o último

faraó do Egito.

Repensando esta figura, precisamos entender que o Faraó se tornou um símbolo de poder poderoso, tanto que

vai ser recuperado continuamente ao longo da história egípcia, mesmo por grupos que têm uma certa distância

cultural da região, vide os caos citados de Cambises entre os persas e Ptolomeu entre os Macedônios.

O Antigo Império é o nascedouro desta fusão, seus representantes buscaram marcar essa grandiosidade

estruturando em torno do panteão egípcio uma relação poderosa entre vida, morte, história e religião.

A perpetuação, a eternidade era o que marcava as grandes figuras.

Não temos dados arqueológicos claros sobre a vida cotidiana


egípcia, mas ninguém neste planeta que se pergunte sobre o Egito
deixará de reconhecer os monumentos para posteridade
construídos por seus faraós e vizires.

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O corpo passou a receber esta marca, não era uma questão somente
de alma, era uma questão viva, densa e intensa.
O faraó era tão especial que seu corpo viveria para sempre, essa era
a busca da mumificação.
Para além do símbolo, as disputas políticas não deixam de afetá-los.
Por mais que os calendários egípcios pulem o que a historiografia
chama de período intermediário, marcando a continuidade do
governo do último faraó, na prática, o que encontramos é uma
constante busca em indicar que o poderio mítico não era tão
poderoso quanto o político.
Os faraós eram assassinados, substituídos. Durante todo o médio
Império, perderam força, tornaram-se símbolos escondidos, longe
dos traços que conseguimos notar da organização política.
E aí vem uma questão interessante, depois de uma série de invasões
estrangeiras, os primeiros faraós são reabilitados pelos faraós do
Novo Império.
É de lá que são reescritas as listas de reis, são os faraós militares
que buscam marcar suas fronteiras, impor sua cultura, seu poderio
militar que de forma mais clara nos contam sobre o passado.
A criação do Vale dos Reis é uma prova desta questão, a busca era
de mostrar o quão grandiosos eram por descenderem, sem o
sentido moderno de descendência.
O que vamos prender na próxima aula:
• Iniciaremos o conhecimento da história dos hebreus;
• a historiografia em torno da construção dos textos bíblicos;
• o simbolismo em torno de Abraão e a organização dos reinos hebraicos a partir do êxodo no Egito.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• compreender a vulnerabilidade egípcia às invasões, aos problemas internos iniciados no final do Antigo
Império;
• aprender sobre a tentativa de substituição do politeísmo pelo monoteísmo como uma estratégia mal
sucedida de consolidação do poder;

• estudar a expansão macedônica com o início de uma dinastia helênica (branca) em solo egípcio;

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• estudar a expansão macedônica com o início de uma dinastia helênica (branca) em solo egípcio;
• ver em que medida a transformação do Egito em um protetorado romano influenciou em sua autonomia
política.

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