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Filosofia – Profa.

Cláudia – Aula 2
AS ORIGENS DA FILOSOFIA

Para os povos antigos, o mito era um componente importante da cultura, permeando os segmentos
sociais e suas instituições. Para os gregos da Antiguidade, as divindades eram personificações de elementos
da natureza, das virtudes e dos defeitos da humanidade. Os deuses gregos, habitantes do monte Olimpo,
eram imortais, embora tivessem comportamento semelhantes aos dos homens: às vezes benevolentes, mas
também agiam por inveja e vingança.

A CONSCIÊNCIA MÍTICA

O mito é a forma mais remota de crença, por meio da qual os povos se relacionam com o sobrenatural. De
modo geral, o mito está impregnado do desejo humano de afugentar a insegurança, os temores e a angústia
diante do desconhecido, do perigo e da morte. Examinando racionalmente os mitos, tendemos a concluir
que não passam de lendas, historias fantasiosas, portanto inverossímeis. No entanto, para os gregos
antigos, os povos indígenas e outras comunidades tradicionais, trata-se da maneira como se responde às
perguntas sobre a origem dos deuses e do mundo.

A MITOLOGIA GREGA

A passagem da consciência mítica para a filosofia deveu-se a um longo processo de transformações


políticas, sociais e econômicas que culminaram no aparecimento dos primeiros sábios gregos no século VI
a.C.. A civilização grega teve início por volta do século XX a.C. (invasores de origem indo-europeia ocuparam
a Península Balcânica, entre o Mar Tirreno e a Ásia Menor)
• Religião dos gregos: politeísta e os deuses eram imortais, embora apresentassem características humanas.
• Na Grécia antiga, os mitos eram recitados de memória em praça pública pelos aedos e rapsodos, cantores
ambulantes e poetas, como Homero e Hesíodo.

• HOMERO - Poemas épicos Ilíada (narra a trajetória de Aquiles na guerra de Troia) e Odisseia (narra o
retorno de Ulisses ou Odisseu à sua terra natal, Ítaca)

• HESÍODO - Na obra Teogonia, relatou as origens do mundo e dos deuses, em que as forças emergentes
da natureza transformam-se nas próprias divindades; em Trabalhos e Dias narra a origem do homem.

• Na vida dos gregos, as epopeias desempenhavam um papel pedagógico significativo. Narravam episódios
da história grega – o período da civilização micênica – e transmitiam os valores culturais mediante relato
das realizações dos deuses e dos antepassados.
• As ações heroicas relatadas nas epopeias mostravam a constante intervenção dos deuses, ora para
auxiliar o protegido, ora para perseguir o inimigo.

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• O herói vivia, desse modo, na dependência dos deuses e do destino, faltando a ele a noção de vontade
pessoal, de liberdade.
• A partir da conquista romana, no século II a.C., os deuses gregos foram apropriados e reelaborados pelos
romanos.

DEUS GREGO DEUS ROMANO FUNÇÃO OU CARACTERÍSTICA


Zeus Júpiter Pai dos deuses e dos homens, principal deus do Olimpo.
Cronos Saturno Pai de Zeus. Pertencia à raça dos titãs.
Hera Juno Rainha dos deuses, esposa de Zeus
Hefesto Vulcano Artesão do Olimpo, fazia as armas e armaduras dos
deuses. Filho de Zeus e Hera.
Poseidon Netuno Senhor dos mares, irmão de Zeus.
Ares Marte Deus da guerra, filho de Zeus e Hera.
Apolo Febo Deus do sol, da arte de atirar com o arco, da música e da
profecia. profecia. Filho de Zeus e Latona.
Ártemis Diana Deusa da caça e da lua, irmã de Apolo.
Afrodite Vênus Deusa da beleza e do amor, segundo Hesíodo, nasceu das
espumas do mar.
Eros Cupido Deus do amor, filho de Afrodite e Ares.
Atena Minerva Deusa da sabedora, nasceu da cabeça de Zeus.
Hermes Mercúrio Deus da destreza e da habilidade, filho e mensageiro de
Zeus. Cultuado pelos comerciantes.
Deméter Ceres Deusa da agricultura, filha de Cronos e Ops.
Dionísio Baco Deus do vinho, possuía os conhecimentos e segredos do
plantio e da colheita da uva.

Mito e Filosofia

O que é um Mito? Narrativa sobre a origem de alguma coisa.


Origem da palavra MITO: do grego MYTHOS = mytheyo (narrar) + mytheo (designar)
VERDADE= - poeta - enviado dos deuses - revelação divina
Como o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe?
1º) decorrência de relações sexuais entre forças divinas pessoais;
2º) por rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo;
3º) por recompensas ou castigos que os deuses dão a quem os desobedece ou a quem os obedece.

GENEALOGIAS:

Cosmogonias: Gonia (nascimento)+Cosmos (mundo organizado) e teogonias: Gonia+ Theos (seres divinos)
A Filosofia, ao perceber as contradições e limitações dos mitos, reformulou e racionalizou as narrativas
míticas, transformando-as numa outra coisa, numa explicação nova e diferente.

DIFERENÇAS ENTRE FILOSOFIA E MITO

1º) MITO:- fixa a narrativa no passado.


FILOSOFIA: preocupa-se em explicar como e porque, no passado, no presente e no futuro.

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2º) MITO:- narra a origem por meio de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais
e personalizadas (Urano, Ponto e Gaia).
FILOSOFIA:- explica a produção natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais (céu, mar
e terra).
3º) MITO: - não se importa com contradições, com o fabuloso e o incompreensível. Autoridade: confiança
religiosa no narrador.
FILOSOFIA: não admite contradições, fabulação e coisas incompreensíveis. Exige explicação coerente, lógica
e racional. Autoridade: vem da razão, que é a mesma em todos os seres humanos, e não da pessoa do
filósofo.

O MITO HOJE
As manifestações míticas hoje são formas de encarnações dos desejos inconscientes humanos. São criados
mitos para responder a esses desejos, os quais a razão não pode preencher adequadamente. Também, pode-
-se encontrar manifestações que são herança do passado mítico da humanidade. Exemplos de manifestações
míticas: aquelas que são inventadas pelos desejos inconscientes que existem em todos. Ex.: a vontade
inconsciente de que o bem vença o mal. Aquelas que são encarnações do nosso desejo de segurança. Ex.:
os heróis nas histórias em quadrinhos são gerados pela nossa vontade de proteção ideal e imaginária. Aquelas
personagens que são encarnações de tudo aquilo que gostaríamos de ser. Os meios de comunicação mexem
com esse imaginário das pessoas, e apresentam artistas e esportistas como sendo fortes, saudáveis, com
uma profissão de sucesso, ricos. Aquelas que foram herdadas por nós pelos primitivos, como é o caso dos
rituais de passagem: festas de formatura, de ano novo, os bailes de 15 anos (apresentam, em quase tudo,
semelhanças com os rituais primitivos de passagem).
Aspectos sombrios dos mitos são vislumbrados nos preconceitos – expressões negativas de convicções não
fundamentais. Por exemplo: a crença de Hitler na pureza da “raça” ariana desencadeou movimentos
apaixonados de perseguição que culminaram no genocídio de judeus, ciganos e homossexuais.

A FILOSOFIA NASCEU NO OCIDENTE


O pensamento filosófico surgiu na Grécia, no século VI a. C., mais propriamente nas colônias gregas, com os
primeiros pensadores: Tales de Mileto, Pitágoras de Samos e Heráclito de Éfeso. Embora reconheçamos a
importância de outros sábios que viveram no Oriente durante o mesmo período, suas doutrinas ainda eram
propriamente filosóficas. A diferença está no fato de que os sábios orientais não se aprofundaram em
questões abstratas. Elas se concentraram na formulação de doutrinas que estimulavam a boa conduta para
facilitar o convívio harmônico. Em outras palavras, tratava-se de uma sabedora vinculada a aspectos práticos
do comportamento humano, e não propriamente teóricos ou argumentativos.
• Primeiros filósofos gregos: mesmo quando sofriam influências religiosas, problematizavam a realidade,
buscavam explicitar o princípio constituinte das coisas.
• Questionavam qual é o ser de todas as coisas? O que é o movimento?
• As respostas dadas a essas questões sustentavam-se pela razão (logos: palavras, linguagem).
• A primazia concedida pelos gregos ao racional ocorreu igualmente com a geometria. UMA NOVA ORDEM
HUMANA. No período arcaico (do século VIII ao VI a.C.), a Grécia passou por transformações muito
específicas nas relações sociais e políticas, proporcionando a lenta passagem do mito para reflexão
filosófica. A nova visão do mundo e do indivíduo que então se esboçava resultou de inúmeros fatores,
segundo o estudioso francês Jean Pierre Vernant:

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• Já existia no período micênico (entre 1600 a.C. a 1200 a.C.).
• Desapareceu no século XII a.C..
• Ressurgiu entre os séculos IX e VIII a.C.; assumiu uma nova função.
1) Redescoberta da escrita • Enquanto os rituais eram cheios de fórmulas mágicas, os escritos
passaram a ser divulgados em praça pública, sujeitos à discussão e à
crítica.
• Não acessível a todos (população de analfabetos).
• Economia: pré-monetária (terras e rebanhos).
• Relações sociais: impregnadas de caráter sobrenatural (pessoas
consideradas superiores em razão da origem divina).
• Desenvolvimento do comércio marítimo (expansão do mundo grego).
• Moeda: surgiu por volta do século VII a.C. facilitou os negócios e
2) A moeda
enriqueceu os comerciantes.
• Substituição dos valores aristocráticos por valores da nova classe em
Ascensão.
• A justiça dependia da interpretação da vontade divina ou da
3) A lei escrita arbitrariedade dos reis, mas os legisladores Drácon, Sólon e Clistenes
sinalizaram uma nova era, porque, com a lei escrita, a norma tornou-se
comum a todos e sujeita à discussão e à modificação.
• Nascimento da pólis (passagem do século VIII para o século VII a.C.).
• Espaço para o debate político: ágora (praça pública).
• Noção de justiça assumia caráter político, e não apenas moral.
4) O cidadão da pólis • Princípio da isonomia: igualdade perante a lei.
• Isegoria: a igualdade do direito à palavra na assembleia.
• Expressar-se por meio do debate fez nascer a política, que permite ao
indivíduo tecer seu destino em praça pública.
• Os cidadãos livres, ricos ou pobres, tinham acesso à assembleia.
5) A consolidação da • Democracia direta: não eram escolhidos representantes, e cada cidadão
democracia participava diretamente das decisões de interesse comum.

PRIMEIROS FILÓSOFOS: OS PRÉ-SOCRÁTICOS

Os primeiros filósofos foram chamados de pré-socráticos devido a uma classificação posterior da filosofia
antiga que tinha como referência a figura de Sócrates. O centro de suas investigações era a natureza, por
isso são conhecidos como naturalistas, ou filósofos da physis (termo grego para “mundo físico”, “natureza”).
Geralmente escreviam em prosa abandonando a forma poética característica das epopeias dos relatos
míticos.
• Não explicavam a ordem cósmica pela interferência divina, buscavam respostas por si mesmos, por meio
da razão.
• Principal indagação: era o movimento.
• Buscavam a identidade, um princípio original e racional (ARKHÉ).
• Ruptura entre mito e filosofia.

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