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Húdson K. P.

Canuto

Latim na formação da Língua Portuguesa:


Apontamentos de Filologia românica, História da Língua Portuguesa;
e Gramática Latina para iniciantes.

Maceió, 2017
1
2
Sumário
Introdução ......................................................................................................... 7
I Parte – Latim: uma história .......................................................................... 10
I. A língua e os romanos ................................................................................. 11
I.1- Panorama.............................................................................................. 11
I.2- Difusão da língua latina ....................................................................... 12
I.3- Período áureo e decadência .................................................................. 13
II. O latim clássico e o latim vulgar ................................................................ 15
II.1- O latim clássico................................................................................... 15
II.2- Que é latim vulgar? ............................................................................. 16
III. As línguas novilatinas ............................................................................... 18
III.1- Filiação das línguas ........................................................................... 18
III.2- As línguas novilatinas ....................................................................... 19
a) Francês ................................................................................................ 21
b) Italiano ................................................................................................ 23
c) Espanhol ............................................................................................. 23
d) Português ............................................................................................ 25
II Parte – Latim: uma língua: introdução ........................................................ 28
IV. Alfabeto .................................................................................................... 29
IV.1- História do alfabeto latino ................................................................. 29
IV.2- Origem do alfabeto latino.................................................................. 31
V. Pronúncias.................................................................................................. 33
V.1- A pronúncia clássica ........................................................................... 33
V.2- A pronúncia tradicional (brasileira) .................................................... 38
V.3- A pronúncia romana (ou eclesiástica) ................................................ 38
VI. Prosódia .................................................................................................... 40
VI.1- Quantidade ........................................................................................ 40
VI.2- Acentuação ........................................................................................ 42
VII. Noções fundamentais de análise sintática ............................................... 44
VII.1- Sujeito .............................................................................................. 44
VII.2- Predicado ......................................................................................... 44
VIII. Generalidades......................................................................................... 47
VIII.1- Gêneros ........................................................................................... 47
VIII.2- Artigos ............................................................................................ 48
VIII.3 Casos ................................................................................................ 48
VIII.3.a - Nominativo ............................................................................. 48
VIII.3.b - Vocativo ................................................................................. 48
VIII.3.c - Acusativo ................................................................................ 48
VIII.3.d - Genitivo .................................................................................. 49
VIII.3.e - Dativo ..................................................................................... 49
3
VIII.3. f - Ablativo .................................................................................. 49
III Parte – Latim: Uma língua: estrutura......................................................... 51
IX. Schola ....................................................................................................... 54
Nominativo ................................................................................................. 54
VERBO ESSE (ser, estar) - Presente do indicativo .................................... 55
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS......................................................... 55
X. Tullia et Cēlia............................................................................................. 58
Genitivo ...................................................................................................... 58
VERBO ESSE - Imperfeito do indicativo ................................................... 59
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS......................................................... 59
XI. Cēlia sē parat ............................................................................................ 61
Acusativo .................................................................................................... 61
VERBO ESSE – Futuro do indicativo ........................................................ 62
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS......................................................... 62
XII. Discipula et magistra ............................................................................... 64
Dativo ......................................................................................................... 64
VERBOS .................................................................................................... 65
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS......................................................... 66
XIII. Puellae lūdunt ........................................................................................ 68
Vocativo...................................................................................................... 68
VERBOS .................................................................................................... 69
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS......................................................... 70
XIV. Arānea et musca..................................................................................... 71
Ablativo ...................................................................................................... 71
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS......................................................... 72
XV. Tullia S. D. Lesbiae ................................................................................ 75
REVISÃO ................................................................................................... 75
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS......................................................... 77
XVI. Marcus, Titus et puellae......................................................................... 80
SEGUNDA DECLINAÇÃO – SINGULAR .............................................. 80
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS......................................................... 82
XVII. Fābula simiōrum................................................................................... 84
SEGUNDA DECLINAÇÃO – PLURAL ................................................... 84
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS......................................................... 86
XVIII. In pomariō ........................................................................................... 88
NOMES NEUTROS DA SEGUNDA DECLINAÇÃO ............................. 88
VERBO ESSE – Mais que perfeito e Futuro imperfeito ............................. 89
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS......................................................... 90
XIX. In scholam imus ..................................................................................... 91
TERCEIRA DECLINAÇÃO ...................................................................... 91
4
ADJETIVOS ............................................................................................... 93
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS......................................................... 93
XX. Dēambulātiō ............................................................................................ 95
TERCEIRA DECLINAÇÃO NEUTRA..................................................... 95
VERBO – Presente do Subjuntivo .............................................................. 96
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS......................................................... 97
XXI. Iūlia et Mārcus ....................................................................................... 98
ADJETIVOS: 1.ª Classe e Possessivos....................................................... 98
VERBO – Imperfeito do Subjuntivo ........................................................ 100
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS....................................................... 100
XXII. Schola Orbiliī ..................................................................................... 104
ADJETIVOS: 2.ª Classe ........................................................................... 104
VERBO – Imperativo ............................................................................... 106
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS....................................................... 106
XXIII. Patruus Mārcī .................................................................................... 108
QUARTA DECLINAÇÃO ....................................................................... 108
VERBO ESSE - Subjuntivo ...................................................................... 110
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS....................................................... 110
XXIV. In scholā Orbiliī ................................................................................ 111
QUINTA DECLINAÇÃO ........................................................................ 111
VERBO ESSE - Imperativo ...................................................................... 112
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS....................................................... 114
XXV. Cervus ad fontem ............................................................................... 115
VERBOS – Tempos primitivos ................................................................ 115
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS....................................................... 117
XXVI. Sententiae Publiliī Syrī ..................................................................... 119
VERBOS – Tempos derivados ................................................................. 120
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS....................................................... 127
XXVII. Īrātī hominēs .................................................................................... 129
A ORDEM DAS PALAVRAS NA FRASE ............................................. 129
XXVIII. Parvula Latinōrum casōrum grammatica ....................................... 131
XXVIII.1- Casos ....................................................................................... 131
a) Nominativo ....................................................................................... 131
b) Vocativo ........................................................................................... 132
c) Acusativo .......................................................................................... 132
d) Genitivo ............................................................................................ 134
e) Dativo ............................................................................................... 136
f) Ablativo............................................................................................. 137
LEXICON LATINO-LVSITANVM ............................................................ 143
PEQUENO GLOSSÁRIO DE FILOLOGIA ................................................ 154
5
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 161
1- BIBLIOGRAFIA BÁSICA .................................................................. 161
2- BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ................................................ 161

6
Introdução
‫ב״ה‬
Este livro é fruto dos anos ministrando a disciplina Latim na formação
da Língua Portuguesa, na Universidade Aberta do Brasil e na UFAL, embora
aqui a disciplina não tivesse o mesmo nome, gozava, contudo, de idêntico
fulcro. Ante a dificuldade de encontrar um material específico sobre essa te-
mática, era preciso fazer muitas pesquisas e consultar bibliografia muito vari-
ada, desde gramáticas de latim, a gramáticas históricas e manuais de Filologia
Românica, decidimos por facilidade escrever nosso próprio material, que será
a base para os estudos, obviamente introdutórios, aos que se queiram aventu-
rar nos meandros da Língua Portuguesa e de sua evolução, passando pela
língua que seria a origem de tudo isso: o Latim.
Dividiremos o livro em cinco partes. A primeira é uma parte histórica,
propondo uma muito breve história da língua de Roma, como se difundiu pelo
mundo, além de um pouco da divisão das épocas do latim, tentando responder
à questão sobre o que é o latim vulgar e o latim clássico e como do latim sur-
giram as línguas chamadas novilatinas.
A segunda parte pretende ser uma introdução à língua latina, apresen-
tando noções do alfabeto e sua origem, da pronúncia e da prosódia. Ainda se
pretende dar aspectos fundamentais de análise sintática do português, essenci-
ais ao estudo do latim, visto que a língua de Camões é herdeira do latim não
só no vocabulário, senão também na estrutura e na sintaxe. Além de dar gene-
ralidades sobre os casos, os gêneros e sobre os artigos, se existiram ou não no
Latim.
Na terceira parte, pretende-se dar uma gramática latina introdutória.
Nela, serão tratados todos os aspectos fundamentais da língua de Cícero, vi-
sando a ser um material apenas incoativo e não querendo ser um livro que

7
esgote os aspectos gramaticas, aqui não trataremos das exceções. Cuidaremos
tão somente de introduzir a noção dos casos, iniciando pela primeira declina-
ção (do capítulo IX até ao XV), cuidando de fazer o percurso de maneira len-
ta, mas progressiva (festīnā lentē). Depois, começa a apresentação das demais
declinações, já um pouco mais velozmente. Nunca perdendo o foco de ser este
uma espécie de curso introdutório. A seguir, os substantivos, os adjetivos, os
verbos, os advérbios, as conjunções serão tratados nos diversos capítulos que
compõem esta terceira parte. Serão dezenove textos curtos escritos em latim
que pretendem tratar cada um dos temas latinos considerados essenciais para
que alguém possa ter uma noção básica da língua e de seu funcionamento. Ao
final de cada capítulo desta parte, será apresentada uma secção denominada
Apontamentos filológicos, cujo objetivo premente será o de apresentar as no-
ções filológicas que tenham a que ver com o conteúdo tratado na lição latina
apresentada. Essa pareceu-nos ser uma forma de tornar o estudo da filologia
menos grave, tornando o estudo dessa ciência algo vivo, vivaz e vivificante.
A quarta parte é um pequeno glossário de termos essenciais da filolo-
gia, que servirá para esclarecer questões, que a brevidade desse livro não per-
mite tratar com profundidade – além do fato de já haver material nacional que
trata delas com muita eficiência e eficácia. A consulta a esse material será
viva e expressamente indicada no correr desse livro.
A quinta parte é um léxico latino-português para seguir os textinhos la-
tinos que serão apresentados a cada capítulo da terceira parte.
Destarte, benévolo leitor, esperamos que o livro que ora toma em suas
mãos sirva-lhe de adjutório para compreender a língua mãe do português e,
compreendendo-a, passe a compreender melhor a mesma língua portuguesa.
Pedimos antecipadamente desculpas pelas imperfeições que certamente nele
haverá, afinal homō sum et nīhil humānī ā mē aliēnum putō – sou um ser hu-
8
mano e nada do que é humano me é alheio –, pois errāre humānī est – errar é
próprio do ser humano.
Nosso esforço para a composição deste livro foi hercúleo, Fēcī quod
potuī, faciant meliora potentēs – fiz o que pude, quem puder que faça melhor.

9
I Parte – Latim: uma história

Nesta primeira parte, nosso objetivo é dar um brevíssimo histórico da


língua latina. Considerando, no primeiro capítulo, o panorama histórico de seu
surgimento e desenvolvimento. Depois se dará uma visão da difusão que teve
a língua, mercê da expansão do Império Romano no Mundo antigo. Sendo o
latim uma língua de camponeses, não se podiam esperar grandes arroubos
espirituais ou intelectuais, visto que essa língua antiga era marcada por um
concretismo absoluto.
No capítulo segundo, serão consideradas as duas maiores divisões do
latim: o latim vulgar e o latim clássico. Para isso, tentaremos definir o que
seja o latim vulgar e qual a característica do latim clássico. O latim vulgar não
se submete a uma conceituação uniforme, visto a abrangência territorial que
foi visitada pelos militares, profissionais liberais e mercadores. Não se pode,
no entanto, pensar que o latim clássico ou literário tivesse ficado restrito so-
mente a Roma. Como escolas de latim foram constituídas em todo o Império,
o latim literário também chegou às regiões mais longínquas do vasto poderio
romano.
O terceiro capítulo trata da evolução natural da língua latina, depois da
grande expansão e difusão dessa língua. Assentada num território, a língua
invariavelmente haverá de influenciar (superstrato) e ser influenciada (subs-
trato) ou tão somente importar termos inexistentes na língua do Lácio (adstra-
to). Aqui a tentativa é mostrar a filiação das línguas novilatinas e como essas
línguas surgem cronologicamente.

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I. A língua e os romanos

I.1- Panorama

Numa pequena região situada às margens do rio Tibre, em Roma, habi-


tava um povo cuja língua era o latim. Metódicos, disciplinados e ambiciosos,
os romanos, em pouco tempo, libertaram-se do jugo etrusco e num constante
progresso tornaram-se fortes e temidos.
No decurso dos séculos dominaram primeiro a Itália e depois quase to-
do o mundo então conhecido. Em consequência desse vasto domínio, o latim
passou a ser o meio de expressão dos mais diversos povos.
A par do latim falado pelos soldados, pelos comerciantes, pelo povo em
geral, chamado latim popular ou vulgar (de que trataremos no capítulo seguin-
te), os romanos levavam também o seu latim literário, que se ensinava nas
escolas de todo o império, sujeito às regras da gramática, e que evitava a
completa separação entre a língua falada e a língua escrita.
Quando, no entanto, já decadente o império, os bárbaros, com as gran-
des invasões, completaram a sua ruína, o latim, afastado do centro revitaliza-
dor, acelerou a sua evolução, recebendo as influências mais diversas, nas dife-
rentes regiões em que era falado, dando origem a novas línguas, que se cha-
mam neolatinas ou novilatinas, ou talvez, melhor línguas românicas (tratare-
mos delas no capítulo III), como o português, por exemplo, e outras. Há, des-
tarte, um estreito parentesco dessas línguas românicas entre si e delas com o
próprio latim.
O português, como não poderia deixar de ser, conserva muitas palavras
iguais às latinas, outras apenas semelhantes, o mesmo alfabeto, formas verbais
aproximadas, enfim, a mesma estrutura da língua latina.

11
I.2- Difusão da língua latina

A língua latina seguiu a fortuna guerreira do povo romano e como este


se impôs antes em toda a Itália e, em seguida, em grande parte do mundo an-
tigo, pois nela se fundiram os idiomas dos povos limítrofes (o osco, o volsco,
o samnita, o umbro etc.), deixando, após si quase nenhum vestígio. Mas aque-
la língua primitiva (prīsca latīnitās) que se estendia, acompanhando as con-
quistas territoriais e o contacto com os demais povos, era rude, e mais do que
língua, representava uma mistura de dialetos que se limitava a uns poucos
conhecimentos práticos da família, agricultura pastorícia e a algumas máxi-
mas e preceitos religiosos e morais.
Quando, porém, os romanos apreciaram na própria Roma a civilização
dos etruscos e, em seguida, conquistada a Magna Grécia já bastante culta, e
mais tarde a cultíssima Grécia, mãe e mestra de todas as belas artes, acharam-
-se em contacto com a civilização dos gregos e conheceram uma língua mais
harmoniosa e fluente do que a língua que usavam, começaram imediatamente
a admirá-la e a preferi-la pelas suas perfeições. Sentiram quase desgosto da
sua antiga e rude simplicidade e desejaram o estudo e a perfeição artística e
literária do povo vencido. Homens de estudo, vindos ou chamados diretamen-
te da Grécia, foram os mestres dos romanos. Abriram-se escolas de latim e de
grego não só frequentadas pela mocidade, senão também pelas personagens
da melhor sociedade romana. Tal foi o favor que encontraram essas escolas,
que, por volta de 200 a.e.c., já eram vinte na própria Roma.
Isso levou o poeta Horácio a declarar (Epístolas I, 1, 156-7):
Graecia capta ferum uictōrem cēpit et artēs / intulit agrestī Latiō…1

1
A Grécia conquistada conquistou o fero vencedor e artes / introduziu no rústico
Lácio… [Tradução do autor deste livro]
12
Essa difusão da língua latina se deveu, mormente, à distribuição de ter-
ras em várias partes do Império a soldados e patrícios romanos, conforme
podemos ver na Breve notícia que Odorico Mendes antepõe a sua magistral
tradução (VIRGILIO, 1858, p. 8-9), onde afirma que se distribuíram «os cam-
pos de Cremona e de Mântua»; da explicação que o Pe. Arlindo Ribeiro da
Cunha (VIRGÍLIO, 1945, p. xxii) dá à primeira Écloga, quando diz poder ser
interpretada «como alusão à partilha das terras de Vergílio e outros pelos vete-
ranos de Augusto». A esse confisco ainda se refere Paulo Rónai (VIRGÍLIO,
s/d, p. 14) dizendo: «O confisco de propriedades rurais praticado para premiar
os veteranos de César […] não poupou o sitiozinho de Virgílio».

I.3- Período áureo e decadência

Já não se julgavam suficientes as escolas pátrias para completar a ins-


trução da mocidade e começaram as viagens para o Oriente, e muitos iam
aperfeiçoar-se nas escolas de Atenas, Mitilene, Rodes, focos da cultura grega,
donde tornavam ao solo pátrio já agora eles mesmos mestres de nobre cultura.
Destarte, desbastava-se a índole e a inteligência do povo romano e faziam-se
grandes progressos nas letras e na civilização. Aquela língua antes inculta e
quase bárbara, pelos estudos e esforços de tantos homens de talento, progredia
extraordinária e rapidamente e, em breve, elevava-se à dignidade de língua
literária e, ao findar do século I a.e.c., alcançara tão alto grau de excelência e
de perfeição, que quase nada se lhe podia acrescentar. Esse período passou
para a história como sendo o século de ouro da língua de Roma.
O período áureo não teve, contudo, uma duração muito longa. Abrange
tão somente o primeiro século antes de nossa era e parte do primeiro de nossa
era. Depois da morte de Augusto (14 e.c.), começaram a manifestar-se os
sinais precursores da decadência que se acelerou de tal modo que, poucos
13
séculos depois da queda do Império Romano do Ocidente (476 e.c.), a língua
latina, que civilizara o mundo, ditando leis e costumes, aos poucos, vencida
pelas línguas vulgares, cessava de ser língua falada para ser considerada, por
muitos, língua morta.

14
II. O latim clássico e o latim vulgar

II.1- O latim clássico

Aquele que é conhecido como latim clássico nos dias de hoje era, na
realidade, uma língua literária escrita de maneira altamente estilizada e polida,
construída de maneira seletiva e intencional a partir do latim antigo do qual
restaram algumas poucas obras escritas (Cf. HORNBLOWER & SPAW-
FORTH, 1996). O latim clássico seria o produto desta reconstrução do latim
antigo, e a influência dos modelos do grego ático. Segundo nos apresenta
Serafim da Silva Neto (1977, p. 23) o latim clássico que seria a língua dos
adultos das classes cultas da aristrocracia romana, citando Groot, era uma
língua que não tendo ao que imitar, porquanto estava no topo da pirâmide
linguística, comprazia-se «em reproduzir arcaísmos e criar novas formas». O
latim clássico é diferente da primeira literatura latina, como a de Catão, o
Velho, Plauto e, até certo ponto, Lucrécio, de diversas maneiras. Ele começou
a divergir do latim antigo quando as antigas terminações da segunda declina-
ção do acusativo singular em -om e do nominativo singular em -os, passaram
para as formas -um e -us, e algumas mudanças semânticas também ocorreram
no léxico (por exemplo, fortē não significava mais apenas “surpreendente-
mente”, mas também “duro”).
O uso desse Latim clássico perdurou por toda a chamada Era de Ouro
da literatura latina (aproximadamente entre o século I a.e.c. e o século I e.c.,
de que brevemente tratamos no I.3), e possivelmente chegou até a Era de
Prata (séculos I e II). Nesse período, coexistiam duas modalidades do latim: o
sermo cultus (ou “língua culta”) e o sermo vulgaris (“língua vulgar”); sendo o
primeiro a modalidade utilizada na urbe e geralmente por pessoas escolariza-
das, e o segundo utilizado por camponeses, soldados e até por camadas supe-

15
riores, mas no seio familiar. Ao latim clássico, também chamado de “latim
literário”, seguiu outra etapa chamada de “baixo latim” e o seu posterior de-
clínio como língua imperial.

II.2- Que é latim vulgar?

Estabelecer, rigorosamente, o conceito de latim vulgar não foi algo fá-


cil. Durante muito tempo houve muita confusão sobre o que seria ou o que
poderia ser considerado latim vulgar.
Foi Charles H. Grandgent (1862-1939), filólogo romanista estaduniden-
se, especialista em italianística, que definiu que o latim vulgar deveria ser
compreendido como sendo o substrato2 das línguas românicas e definir-se
como a língua das classes médias da população (cf. GRANDGENT, 1907, p.
3).
Este latim vulgar difere do emprego conscientemente polido da socie-
dade culta, do falar rural e do linguajar dos mais baixos quarteirões da cidade,
mesmo sofrendo influências de todos os lados.
Para bem caracterizar o latim vulgar é prático e concludente compará-lo
com o literário, muito bem descrito pelos gramáticos e escritores. Desse cote-
jo conclui-se que o latim vulgar, em relação ao literário é: a) mais simples em
todos os níveis (sem muito cuidado com a quantidade vocálica nem com as
flexões das declinações; só usa os cardinais; perde o neutro; simplificação dos
demonstrativos; uso de preposições); b) mais analítico (preposições substitu-
em os casos, perífrases verbais); c) mais concreto; d) mais expressivo (mais
espontâneo e afetivo); e) mais permeável de elementos estrangeiros (emprés-
timos estrangeiros mesmo havendo palavras latinas para determinar o que se

2
Substrato: veja Glossário.
16
queria nomear)3. Cícero no Dē Offīcīs, 21 declara: Ut enim sermōne eō de-
bēmus ūtī quī nōtus est nōbīs nē, ut quīdam, Graeca verba inculcantēs, iūre
optimō irrideāmur – Assim, pois, devemos usar uma linguagem que nos seja
conhecida, para que, como alguns que introduzem palavras gregas, não seja-
mos com toda razão, ridicularizados (tradução nossa).
No entanto, Paolo Savi-Lopez (1939, p. 105) considera que «seria, pois,
um erro contrapor o latim vulgar ao literário no sentido que [aquele] fosse
inferior; não, o latim vulgar é o latim vivo; o latim literário é o latim morto, é
aquele dos livros, das escolas, da cultura4» (tradução nossa). Mas o que se
propôs acima foi o de fazer a comparação com o fito não de mostrar inferiori-
dade de uma variante sobre a outra, senão a de colher desde o latim literário
espectos daquele vulgar ou coloquial.
É interessante a observação que faz Serafim da Silva Neto (1977, p.
16): «A única língua que realmente existe é a falada». Segue ainda esse autor:
«A língua culta, literária é artistificação dessa matéria prima». E isso Ilari
(1992, p. 58) corrobora quando diz que o latim clássico é uma «criação de
uma literatura aristocrática e artificial». Segue ainda, «as línguas românicas
não derivam do latim clássico, mas das variações populares».

3
Para maiores detalhes consulte-se BASSETTO, 2005, pp. 92-9.
4
Sarebbe dunque un errore contrapporre il latino volgare al letterario nel senso che
fosse inferiore: no, il latino volgare è il latino vivo; il latino letterario è il latino morto,
è quello dei libri, delle scuole, della cultura.
17
III. As línguas novilatinas

III.1- Filiação das línguas

A origem e o desenvolvimento de línguas tão diversas quanto numero-


sas no mundo constituem um problema tão complexo e discutido quanto a
origem e o desenvolvimento dos seres humanos. Pode ser que a língua se te-
nha desenvolvido independentemente a partir de vários centros (poligenismo
linguístico) ou que sendo única se tenha ramificado em evoluções divergentes,
consoante a história dos povos (monogenismo linguístico) (cf. HAUY, 1994,
p. 8).
São chamadas línguas novilatinas aquelas que conservam vestígios in-
deléveis de sua filiação ao latim no vocabulário, na morfologia e na sintaxe.
Não bastará só o vocabulário ou a sintaxe para caracterizar a filiação de uma
língua. De outro modo, o romeno não seria idioma latino, porque seu vocabu-
lário é predominantemente composto de palavras não latinas.
A mesma coisa pode ser dita de outras línguas românicas. A sintaxe de-
las apresenta mais pontos de semelhança com o alto-alemão ou com o grego
que propriamente com o latim, conforme pensa Coutinho (1974, p. 41).
Hoje se sabe, com certeza, que a língua portuguesa e os demais idiomas
românicos são o resultado de uma lenta e difícil transformação, no correr dos
séculos, do latim, que já era, por sua vez, transformação de outra língua, o
indo-europeu, falado por um povo quase sem história, convencionalmente
chamado de ariano ou ária. Até ao século XIX, julgava-se que a língua latina
proviesse do grego, e esta, do sânscrito. Foi graças aos estudos do filólogo
alemão Franz Bopp (1791-1867) que se determinou a origem indo-europeia de
todos estes idiomas: sânscrito, grego, latim, lituânio, gótico, velho eslavônico
e alemão. As pesquisas de Franz Bopp demonstraram, pelo método da gramá-
18
tica comparada, o parentesco linguístico das línguas indo-europeias e prova-
ram, assim, pelo estudo comparativo de diversos fatos fonéticos, morfológicos
e sintáticos das várias línguas indo-europeias, a existência do indo-europeu
(cf. HAUY, 1988, pp. 8-9).

III.2- As línguas novilatinas

Bassetto (2005, p. 91) considera que há onze línguas originadas do


sermo plebeius: português, galego, castelhano, catalão, provençal, francês,
rético, sardo, italiano, dalmático e romeno. Esse pareceu-nos o melhor elenco
das línguas novilatinas. No entanto, num estudo mais acurado se poderá ver
que há muito mais que somente onze. Abaixo, pode-se ter uma ideia do que
queremos dizer:
Línguas ibero-românicas (galego-português, asturiano-leonês, castelhano
ou espanhol, aragonês, catalão - considerada também como occitano-
-romances- e moçárabes)
Línguas galo-românicas (francês e franco-provençal)
Línguas reto-românicas (romanche, friulano e ladino)
Línguas occitano-romances (catalão - considerada também como ibero-
-românica- e occitano-gascão-aranês, no Vale de Arã, no Pireneu espa-
nhol)
Línguas galo-italianas (ligur, piemontês, lombardo, emiliano-romanholo e
vêneto).
Línguas ítalo-romances (italiano padrão, romanesco, napolitano, siciliano,
corso-galurês)
Línguas balco-romenas (romeno padrão, megleno-romeno, istro-romeno)
Línguas romances insulares (sardo, antigo corso)

19
Outras línguas romances extintas (dálmata, moçárabes)
Línguas crioulas (crioulo francês, crioulo português, Papiamento)
Línguas judaico-romances. Refere-se àqueles dialetos de línguas romances
falados por comunidades judaicas instaladas nalguns países, e alteradas
a tal ponto que obtiveram reconhecimento como línguas próprias, aglu-
tinando-se no numeroso grupo de línguas judaicas. Podem contar-se,
entre outros, o judeu-espanhol ou ladino, o judeu-português, o judeu-
-francês ou zarfático, o judeu-italiano, o chuadite ou judeu-provençal
etc.
Durante o processo de evolução, a língua latina vulgar e as línguas in-
dígenas locais, por diversos processos (adstrato, substrato e superstrato, por
exemplo) se foram misturando, modificando e definindo.
Houve a chamada fase romance, que abrange o período em que «o la-
tim vulgar começa a se modificar até se transformar nas línguas românicas
modernas» (BASSETTO, 2005, p. 185). Coutinho (1974, p. 43) pontifica que
«as línguas neolatinas não se derivaram diretamente do latim, mas entre aque-
las e este houve os vários romances5, – assim chamavam as modificações
regionais do latim –, dos quais saíram então as línguas românicas».
A fase romance varia de língua para língua, de sorte que as línguas lite-
rárias surgem em épocas diferentes, sendo praticamente impossível precisar
com exatidão quando surgiram os vários romances, nem quando desapareceu
por completo o latim vulgar.
Um dos fatores preponderantes que fizeram o latim ser substrato para
os vários romances foi, sem dúvida, o confisco de terras no tempo de César

5
Para romance veja Glossário.
20
para premiar os veteranos do exército6. Fato que firmava em solo estrangeiro
e conquistado uma presença romana estável, consolidando a indelével marca
da língua latina, usada pelos romanos premiados ante seus vizinhos nativos
dos vários lugares onde aqueles se assentaram por disposição imperial, além
de isso, de certa forma, obrigar a estabelecerem-se escolas de latim por toda a
vasta extensão do Império, conforme aduzimos anteriormente (vide I.1).

a) Francês

Os Juramentos de Estrasburgo (Sacramenta Argentāriae) marcam o


nascimento da língua francesa. É nestes juramentos de ajuda mútua pronunci-
ados em 14 de fevereiro de 842 entre dois netos de Carlos Magno, a saber
Carlos, o Calvo (823-877), e Luís, o Germânico (804-876), contra o irmão
deles, Lotário I, que se encontra a primeira atestação da existência de uma
língua falada na França que era claramente separada do latim, a rōmāna lin-
gua antepassada do francês (protofrancês).
Os Juramentos de Estrasburgo foram pronunciados e escritos neste pro-
tofrancês e em teudisca lingua (frâncico: língua dos Francos) pelos dois mo-
narcas na língua do irmão, e em seguida pelas tropas deles, a fim de que todos
se compreendessem. Foram transcritos por Nithard, outro neto de Carlos
Magno.

6
Vide I.2; VIRGILIO, 1858, pp. 8-9; VIRGILIO, 1945, p. xxii e VIRGILIO, s/d, p.
14.
21
A língua é germânica ou alto alemão antigo; é uma forma de frâncico
falada na região renana:
Carlo, o Calvo
Texto em rōmāna lingua Tradução
«Pro deo amur et pro christian poblo Pelo amor de Deus e pelo bem do
et nostro commun salvament, d'ist di povo cristão e nosso bem a todos os
in avant, in quant deus savir et podir dois, a partir deste dia, enquanto Deus
me dunat, si salvarai eo cist meon me dará sabedoria e poder, eu darei
fradre Karlo et in aiudha et in cadhu- socorro a este meu irmão, como se
na cosa, si cum om per dreit son fra- deve acudir seu irmão por igualdade,
dra salvar dist, in o quid il mi altresi à condição que ele faça o mesmo por
fazet, et ab Ludher nul plaid nunquam mim, e não passarei nenhum acordo
prindrai, qui meon vol cist meon fra- com Lotário que, de minha vontade,
dre Karle in damno sit» possa ser prejudicial a este meu ir-
mão.

Para as tropas de Luís, o Germânico


Texto em rōmāna lingua Tradução
«Si Lodhuvigs sagrament, que son Se Carlos respeitar o juramento que
fradre Karlo iurat, conservat, et Kar- fez a seu irmão Luís e se Carlos, meu
lus meos sendra de suo part non lo senhor, não cumprir o que jurou, se
tanit, si io returnar non l'int pois : ne eu não puder dissuadi-lo, nem eu,
io ne neuls, cui eo returnar int pois, nem nenhum daqueles que eu poderei
in nulla aiudha contra Lodhuvig nun impedir, não lhe daremos nenhuma
li iu er» ajuda contra Luís.
A língua, usada na coluna da esquerda, é proto-francês, recém-separado
do latim. É uma das primeiras línguas românicas a ser atestada.
Esses Juramentos de Estrasburgo, primeiro documento em língua ro-
mânica (romance), traz latinismos léxicos, compreensíveis num período em
que a rōmāna lingua, ágrafa, estava ainda se formando. Atente-se à conclusão
do juramento in damno sit, que está em rōmāna lingua.

22
b) Italiano

A língua literária italiana fundamenta-se nas obras de Dante Alighieri


(1265-1321), Francesco Petrarca (1304-1374) e Giovanni Boccaccio (1313-
1375), escritas, em parte, no dialeto toscano ou, mais precisamente, florentino.
O primeiro documento de uso de um vulgar italiano é uma sentença no-
tarial, conservada na Abadia de Monte Cassino, proveniente do principado
longobardo de Cápua de 960: é a Sentença cassinense (Placito cassinese), que
substancialmente é um testemunho jurado de um habitante a respeito de um
litígio sobre os limites de uma propriedade entre o mosteiro beneditino de
Cápua e um pequeno feudo vizinho, que tinha injustamente ocupado uma
parte do território da abadia:
Vulgar italiano Tradução
«Sao ko kelle terre per kelle fini que Sei [declaro] que aquelas terras nos
ki contene trenta anni le possette par- confins aqui contidos (aqui reporta-
te Sancti Benedicti.» dos) por trinta anos foram possuídas
pela ordem beneditina.

É só uma frase, que, todavia, por variados motivos, pode ser considera-
da já vulgar e não mais latina: os casos desapareceram (salvo o genitivo Sanc-
ti Benedicti, por força do latim eclesiástico), estão presentes a conjunção ko
(“que”) e o demonstrativo kelle (“aquelas”), morfologicamente o verbo sao
(do latino sapio) é próximo da forma italiana etc.

c) Espanhol

No século VIII, a invasão muçulmana da península ibérica faz que se


formem duas zonas bem diferenciadas. Em al-Ándalus, falavam-se os dialetos
romances englobados pelo termo moçárabe; ademais, das línguas da minoria

23
invasora (árabe e bérber). Ao passo que na zona em que se formam os reinos
cristãos desde poucos anos depois do início da dominação muçulmana, conti-
nua uma evolução divergente, em que surgem várias modalidades romances: a
catalã, a navarro-aragonesa, a castelhana, a astur-leonesa e a galego-por-
tuguesa.

A partir de final do século XI é quando começa um processo de assimi-


lação ou nivelamento linguístico, principalmente, entre os dialetos românicos
centrais da península ibérica: astur-leonês, castelhano e navarro-aragonês, mas
também do resto. Este processo é que dará como resultado a formação de uma
língua comum espanhola, o espanhol.

O dialeto românico castelhano, um dos precursores da língua espanho-


la, considera-se tradicionalmente originado no condado medieval de Castela
(sul de Cantábria e norte de Burgos), com possível influência vasca e visigóti-
ca. Os textos mais antigos que contêm traços e palavras similares ao castelha-
no são os documentos escritos em latim e conhecidos como Cartulários de
Valpuesta, conservados na igreja de Santa Maria de Valpuesta (Burgos).

Os Cartulários de Valpuesta são uma série de documentos do século


XII que, por sua vez, são cópias de outros documentos, alguns dos quais re-
montam ao século IX, conquanto a autenticidade de alguns deles seja discuti-
da. Estão escritos num latim muito tardio que transluz alguns elementos pró-
prios de um dialeto romance hispânico que já corresponde a características
próprias do castelhano.

24
Dos Cartulários de Valapuesta Tradução ao português
«...in loco que uocitant Elzeto cum «...no lugar que chamam Elicedo com
fueros de totas nostras absque aliquis foros de todas as nossas exceto algu-
uis causa, id est, de illa costegera de ma causa de força, isto é, da costa de
Valle Conposita usque ad illa uinea Valposta até a vinha de
de Ual Sorazanes et deinde ad illo Val Sorazanes e dali à chã de Elicedo
plano de Elzeto et ad Sancta Maria de e à Santa Maria de Vallejo até a serra
Uallelio usque ad illa senra de Poba- de Pobalias,
lias, absque mea portione, ubi potue- exceto a minha parte, onde teríamos
rimus inuenire, et de illas custodias, podido encontrar, e das atalaias, das
de illas uineas de alios omnes que vinhas de outros homens que são de
sunt de alios locos, et omnes que sunt outros lugares e homens que se dizem
nominatos de Elzeto, senites et iubi- de Elicedo, velhos e jovens, varões e
nes, uiriis atque feminis, posuimus fêmeas, pusemos entre nós foro que
inter nos fuero que nos fratres ponia- nossos irmãos ponhamos guardião de
mus custodiero de Sancta Maria de Santa Maria de Valpuesta...»
Valle Conpossita...»

As palavras sublinhadas no texto do Cartulário não são latinas ou estão


corrompidas, como omnes significando homens, sendo seu sentido original
todos. Atribuir a origem do espanhol a esse documento é muito problemática,
visto que o texto está majoritariamente em latim com algumas palavras em
espanhol.

d) Português

O português teve origem no que é hoje a Galiza e o norte de Portugal,


derivada do latim vulgar que foi introduzido no oeste da península Ibérica há
cerca de dois mil anos. Tem um substrato céltico-lusitano, resultante da língua
nativa dos povos ibéricos pré-romanos que habitavam a parte ocidental da
península (Galaicos, Lusitanos, Célticos e Cônios). Surgiu no noroeste da
25
península Ibérica e desenvolveu-se na sua faixa ocidental, incluindo parte da
antiga Lusitânia e da Bética romana. O romance galaico-português nasce do
latim falado, trazido pelos soldados romanos, colonos e magistrados. O con-
tacto com o latim vulgar fez com que, após um período de bilinguismo, as
línguas locais desaparecessem, levando ao aparecimento de novos dialetos.
Assume-se que a língua iniciou o seu processo de diferenciação das outras
línguas ibéricas através do contacto das diferentes línguas nativas locais com
o latim vulgar, o que levou ao possível desenvolvimento de diversos traços
individuais ainda no período romano. A língua iniciou a segunda fase do seu
processo de diferenciação das outras línguas românicas depois da queda do
Império Romano, durante a época das invasões bárbaras no século V quando
surgiram as primeiras alterações fonéticas documentadas que se refletiram no
léxico. Começou a ser usada em documentos escritos pelo século IX, e no
século XV tornara-se numa língua amadurecida, com uma literatura bastante
rica.
Os primeiros documentos começaram a surgir no século XII; a poesia
datável mais antiga é a cantiga de amor de Paay Soarez de Taveiroos – a Can-
tiga da Ribeirinha, escrita entre 1189 e 1206. Formando a base dos falares de
Lisboa e de Coimbra e maiores contribuições dos dialetos do sul do que do
norte, o português literário não sofreu concorrências dialetais, como o francês,
mas teve de firmar sua identidade frente o espanhol.
Texto em galego-português Paráfrase em português atual
No mundo non me sei parelha, No mundo ninguém se assemelha a mim
mentre me for' como me vai, Enquanto a vida continuar como vai,
ca ja moiro por vós - e ai! Porque já morro por vós e - ai! -
mia senhor branca e vermelha, Minha senhora alva e de pele rosada,
Queredes que vos retraia Quereis que vos retrate
quando vos eu vi em saia! Quando eu vos vi sem manto.
26
Mao dia me levantei, Maldito seja o dia em que me levantei
que vos enton non vi fea! que então não vos vi feia!

Não era nosso objetivo tratar pormenorizadamente sobre cada uma das
línguas novilatinas. Escolhemos essas quatro (francês, italiano, espanhol e
português) por serem a nosso ver as mais representativas do mundo latino.
O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, com cerca de 228.500
entradas, 376.500 acepções, 415.500 sinônimos, 26.400 antônimos e 57.000
arcaísmos, é um exemplo da riqueza léxica da língua portuguesa. Segundo um
estudo realizado pela Academia Brasileira de Letras, o português possui cerca
de 390.000 unidades lexicais, que aparecem no Vocabulário ortográfico da
língua portuguesa (VOLP).

27
II Parte – Latim: uma língua: introdução

Enquanto na primeira parte o objetivo era mormente o de dar breves


notas históricas sobre a língua latina e sua consequente evolução nas línguas
novilatinas, consideradas com algum vagar somente quatro delas – o francês,
o italiano, o espanhol e o português –, nesta terceira parte o foco mudará.
Queremos fazer uma introdução sobre a língua latina mesma.
Esta parte constará de cinco capítulos (do IV ao VIII) cuja finalidade
precípua é ostentar os aspectos mais materiais da língua romana, considerando
seu alfabeto no capítulo IV, inquirindo sua origem mais remota; depois segui-
rá o capítulo V discorrendo sobre as pronúncias vigentes do latim nas acade-
mias; no capítulo VI, daremos algo de prosódia, especialmente sobre a quan-
tidade e a acentuação; o capítulo VII será uma curta revisão sobre análise
sintática do português, cujo objetivo é que haja uma melhor relação posterior
quanto ao uso dos casos latinos; e, enfim, o derradeiro capítulo, o VIII, versa-
rá sobre generalidades da língua, como os casos, os gêneros e a existência ou
não de artigos no latim.

28
IV. Alfabeto

IV.1- História do alfabeto latino

O alfabeto latino7, no período clássico da língua, constava de vinte e


três letras, como se pode ver abaixo:
ABCDEFGHIKLMNOPQRSTVXYZ
O Y e o Z não eram propriamente letras latinas, tanto assim que não fi-
guravam no antigo alfabeto, razão por que Cícero, ao se referir ao alfabeto
latino, faz menção de vinte e uma letras: ūnīus et vigīntī formae litterārum
(Cíc. De Natūrā Deōrum II, 37,93). Pela influência, porém, sempre crescente
do helenismo em Roma, passaram essas duas letras estrangeiras a fazer parte
do abecedário latino, sendo, portanto, usadas unicamente em palavras oriun-
das da língua grega e transcritas em latim.
Ex.: Zopўrus physiognŏmon (Cíc. De Fātō 5,10) “o fisionomista Zófi-
ro”; Eurum ad se Zephўrumque vocat (Virg. Aeneis I,131) “chama para junto
de si o Euro e o Zéfiro”.
As letras I e V representam respectivamente o som o i vogal e do i con-
soante, do u vogal e do u consoante. Frequentemente, nas edições modernas
dos textos latinos, o i consoante vem representado por um j. quanto ao u vo-
gal, em caracteres maiúsculos é representado pela letra U, enquanto que o u
consoante, em caracteres minúsculos é representado pela letra v. Cumpre ob-
servar que os romanos jamais conheceram tal dualidade de escrita. O emprego
das letras j e v para representar os valores consonantais do I e do V latinos
origina-se na Renascença, tendo sido difundido por Pierre La Ramée (Petrus
Ramus), donde lhes vem a denominação de letras ramistas.

7
Salvo por algumas parcas alterações, observações e acréscimos, o texto dos capítu-
los IV, V e VI segue o que pontifica FARIA, 1958, pp. 15-25
29
Em latim, estes são os nomes das vinte e três letras que constituíram o
alfabeto do período clássico em voga para os romanos: a, bê, kê, dê, ê, êf, guê,
ha, i, ka, êl, êm, ên, ô, pê, qu, êr, ês, tê, u, ix, ypsilon (ou i graeca), zeta. Os
nomes das letras são todos neutros indeclináveis.
Havia em Roma dois sistemas principais de escrita. A escrita capital
era usada nos manuscritos de livros e documentos públicos, como geralmente
nas inscrições de carácter oficial. Essa escrita só usava letras maiúsculas,
normalmente iguais às nossas letras maiúsculas de imprensa. E a escrita cur-
siva, cujo nome provém de se escrever correndo, com menos cuidado, apare-
cia em documentos particulares, recibos, cartas, contratos etc., era uma escrita
usual, equivalendo às nossas letras manuscritas, sendo, no entanto, muito di-
versa.

Figura 1. Exemplo de cursiva romana.


Pedaço de papiro escrito com cursiva romana antiga
com extratos de discursos pronunciados
ao Senado sob o reinado de Cláudio:
uobis · ujdetur · p · c · décernám[us · ut · etiam]
prólátis · rebus ijs · júdicibus · n[ecessitas · judicandj]
imponátur quj · jntrá rerum [· agendárum · dies]
jncoháta · judicia · non · per[egerint · nec]
defuturas · ignoro · fraudes · m[onstrósa · agentibus]
multas · aduersus · quas · exc[ogitáuimus]...

30
IV.2- Origem do alfabeto latino

O alfabeto latino, pela sua origem, vai prender-se a um dos alfabetos


gregos de tipo ocidental, muito provavelmente o calcídico de Cumas, de onde
provêm os alfabetos das inscrições venéticas, das inscrições sabélicas, e o
antigo alfabeto etrusco de vinte e seis letras. Como os alfabetos usados no
osco e no umbro prendem-se a um alfabeto etrusco já evoluído, filólogos e
historiadores julgavam que o alfabeto latino se originava diretamente de Cu-
mas. É deste antigo alfabeto etrusco que provavelmente nasce aquele latino.
Tendo Roma passado para domínio etrusco desde o VIII ou VII século
a.e.c. até à expulsão dos Tarquínios, recebeu da Etrúria toda a civilização,
inclusive o sistema de numeração e de música, nada mais natural que tivessem
os romanos aprendido dos etruscos também a arte da escrita, que, segundo os
documentos epigráficos mais antigos, deve ter sido introduzida em Roma no
correr do século VII a.e.c., ou mais tardiamente no início do século VI a.e.c.
Este alfabeto etrusco arcaico de vinte e seis letras, quer se derive do al-
fabeto calcídico de Cumas ou não, foi o empregado nos mais antigos docu-
mentos escritos de que se têm conhecimento, pois dele provêm os alfabetos
usado no Latium e em Roma não só em etrusco, mas também em latim (ins-
crições do Forum e do vaso de Duenos e a fíbula prenestina, de carácter diale-
tal).
A fíbula prenes-
tina é um alfinete de
ouro da metade do VII
século a.e.c., encontra-
do em Palestrina (antiga Praeneste, Preneste), que traz uma inscrição em la-
tim arcaico considerada o mais antigo documento escrito em latim. A autenti-

31
cidade da inscrição foi por muito tempo objeto de controvérsias - particular-
mente, a partir da segunda metade do XX século – até 2011, quando foi fi-
nalmente aceite.
A inscrição, transcrita
em caracteres moder-
nos, lê-se come segue:
MANIOS MED FHE FHAKED NVMASIOI
Correspondente em latim clássico, a MANIVS ME FECIT
NVMERIO, isto é, «Mânio me fez para Numério».
Os argumentos linguísticos a favor da antiguidade da inscrição
são os seguintes:
• redação da direita para a esquerda;
• escrita arcaica da consoante latina f por meio de ϜH;
• morfologia arcaica, com um nominativo em -os, um dativo em -oi, o
pronome pessoal de primeira pessoa no acusativo med, o perfeito do
verbo formado com redobramento;
• forma arcaica das letras, comparáveis àquelas das inscrições gregas de
Cuma;
• texto anterior ao rotacismo, isto é, à transformação do -s- intervocáli-
co em -r- (numaSioi), veja mais adiante V, § 8.
• texto anterior também aos enfraquecimentos, que atingirão as vogais
das sílabas sucessivas à primeira (pelo que A passará a E em sílaba
fechada).

32
V. Pronúncias

V.1- A pronúncia clássica

Como vimos no capítulo precedente, o alfabeto usado pelos romanos é


o mesmo de que nos servimos em português, que foi apenas aumentado das
letras j e v. É natural, pois, que a maior parte das letras do alfabeto latino seja
pronunciada igualmente no latim e no português.
As vogais latinas propriamente ditas são cinco: a, e, i, o, u, às quais se
acrescentou o y, que só vai aparecer no período clássico em palavras gregas
introduzidas no latim (cf. Cap. IV.1).
Quanto à quantidade das vogais trataremos no capítulo seguinte (veja-
se VI.1).
No latim clássico, eram frequentes unicamente dois ditongos: ae e au.
O ditongo oe era relativamente raro, eu e ui absolutamente excepcionais. Os
ditongos latinos eram pronunciados como verdadeiros ditongos, isto é, pro-
nunciando-se ambas as vogais de que se constituíam, como observam os gra-
máticos latinos: Diphthōngi autem dicūntur, quod binōs phthōngōs, hoc est,
uocēs, comprehēndunt. Nam singŭlae uocāles suās uocēs habent (Prisc. Keil,
2,5,50) “chamam-se ditongos porque compreendem dois phthongos, isto é,
vozes. Com efeito, cada uma das vogais tem a sua voz”.
§ 1. As consoantes b, d, f, k, p, q, t pronunciam-se exatamente como em
português.
§ 2. O c em latim tinha sempre o som de k, quer viesse antes de a, o, u,
quer antes de e ou de i, ou dos ditongos ae, oe. Da pronúncia do c sempre
como oclusiva velar surda há um testemunho de carácter negativo ou tácito e
que consiste em jamais os gramáticos latinos se referirem a qualquer alteração
de pronúncia do c antes desta ou daquela vogal. Além disso, nas inscrições
33
latinas é frequente a confusão do c, antes de e e de i, com o k e com o q, mas
nunca com o s como deveria acontecer se nestes casos ele tivesse o valor de
sibilante: PAKE (C.I.L. X, 7173); QUIESQUET (C.I.L. VIII, 1091). Enfim,
em numerosas palavras latinas transcritas para o grego, o c antes das vogais
mencionadas e dos ditongos ae, oe é sempre representado pela letra grega
capa (k), e nunca pelo sigma, como deveria ser se fosse uma sibilante em
latim : lat. Cicĕro, gr. Kikéron; lat Caesar, gr. Kaísar, etc.
§ 3. O g mantinha igualmente o mesmo som de oclusiva velar tanto an-
tes de a, o, u, como de e e de i. Comprova-o, além de outros fatos, o mesmo
silêncio dos gramáticos latinos a respeito de qualquer alteração de pronúncia
do g antes desta ou daquela vogal, como se deu com o c.
§ 4. O h inicial deve ser ligeiramente aspirado. Prisciano, gramático dos
fins do Império, ainda se refere ao h como simples sinal de aspiração: H
littĕram nōn esse ostendĭmus, sed notam aspirātiōnis (Keil, 2,1,47) “demons-
tramos que o h não é uma letra, mas sinal da aspiração”.
§ 5. Os gramáticos latinos apontam para o l três valores, segundo a sua
posição no vocábulo: L triplĭcem, ut Plinĭo uidētur, sonum habet: exīlem,
quandō geminātur secūndō locō posĭta, ut “ille”, “Metellus”; plēnum,
quandō fīnit nōmĭna uel syllăbas et quandō alĭquam habet ante sē in eādem
syllăbā cōnsonāntem, ut “sōl”, “silua”, “flauus”, “clarus”; medĭum in alĭīs,
ut “lectum”, “lectus” (Prisc. Keil, 2,1,38) “o l, como parece a Plínio, tem um
tríplice som: tênue quando geminado, como ille, Metellus; cheio quando em
final de palavra ou de sílaba, ou quando na mesma sílaba venha precedido de
uma consoante, como em sol, silua, flauus, clarus; médio nas outras posições,
como em lectum, lectus”. Para a sua boa articulação em português bastará que
se preste atenção em pronunciá-lo em final de sílaba ou de palavra com seu
verdadeiro valor de vibrante.
34
§ 6. O m só apresenta dificuldade quando em final de palavra, onde de-
ve ser debilmente pronunciado, como atestam os gramáticos latinos e a métri-
ca. Nesta, um -m final não impede a elisão com a palavra seguinte que comece
por vogal ou h. Prisciano distingue a pronúncia do -m final de palavra nos
seguintes termos : M obscūrum in extremitāte dictiōnum sonat, ut TEM-
PLUM; apērtum in principĭō, ut MAGNUS; mediŏcre in medĭis, ut UMBRA
(Prisc. Keil, 2,29,15) “o m soa obscuro (quase imperceptível) no fim das pala-
vras, como em templum; claramente no princípio, como em magnus; com um
som médio no meio, como em umbra”.
§ 7. Igualmente o -n final deve ser proferido e não apenas nasalizar a
vogal que o proceda. Além do n linguodental, havia também um n gutural ou
velar, quando precedia o c e o g. Prisciano refere-se a essas duas modalidades
de n: N quoque plenĭor in primīs sonat et in ultĭmīs partĭbus syllabārum, ut
NŌMEN; STAMEN; exilĭor in medĭīs, ut AMNIS, DAMNUM... sequēnte G uel
C, prō eā G scrībunt Graecī, et quīdem tamen uetustissĭmī auctōrēs
rōmānōrum euphonĭae causā bene hoc facientēs, ut AGCHISES, AGCEPS,
AGGOLUS, AGGENS (Prisc. Keil, 2,1,39) “o n também soa mais forte no
princípio e no fim das sílabas, como em nomen, stamen; mais débil no meio,
como em amnis, damnum; quando se segue um g ou c em lugar dela (isto é,
do n) os gregos e os mais antigos escritores romanos escreviam g, bem o fa-
zendo por causa da eufonia, como nos vocábulos Agchises, agceps, aggulus,
aggens”, por Anchises, anceps, angulus, angens.
§ 8. O r latino era produzido pelas vibrações da ponta da língua, asse-
melhando-se ao rosnar de um cão, razão pela qual os romanos o chamaram de
littera canina (Pérs. l, 109-110) “letra canina”.
Pelo rotacismo, todo s sonoro tendo passado a r, segue-se que em latim
o s é sempre surdo, mesmo quando intervocálico.
35
§ 9. O x em latim tem sempre o som de cs, razão por que é denominado
letra dúplice: X littĕra composĭta, quam idĕo duplĭcem dicĭmus quoniam cons-
tat ex C et S littĕrīs (Diom. Keil, 1,425-34) “a letra x é complexa, e por isso a
denominamos dúplice, pois consta das letras c e s”.
§ 10. As informações dadas pelos gramáticos latinos a respeito da pro-
núncia do z reproduzem as discussões dos gregos, pelo que duas pronúncias
são indicadas: z (pronunciando-se como o nosso z); ou como uma letra dúpli-
ce, dz, ou zd. Vélio Longo nega ser o z uma letra dúplice : duplicem nōn esse
(Keil, 7,50,9), devendo valer como um simples z.
§ 11. O ch, o ph, o rh, o th são transcrições das letras gregas (qui, fi, rô,
teta), indicando o h em latim a aspiração com que eram pronunciadas em gre-
go e, consequentemente, também em latim.
Sendo pronunciadas em latim todas as letras, por não haver consoantes
nem vogais mudas, segue-se que nos grupos consonânticos soam todas as
consoantes componentes do grupo. Isto, porém, não quer dizer que, quando
houver consoantes geminadas, se pronunciem ambas da mesma maneira, isto
é, repetindo-se na segunda os mesmos movimentos articulatórios realizados
para a produção da primeira. Na pronúncia das geminadas, a primeira conso-
ante soa essencialmente como uma implosiva, enquanto que a última soa co-
mo explosiva, o que resulta que elas tenham o valor de uma verdadeira conso-
ante longa.
Resumindo
A PRONÚNCIA RESTAURADA difere da pronúncia do português
nestes casos:
a) Os ditongos æ (ou ae) e œ (ou oe) soam ae e oe respectivamente: As
rosas rosæ, pronuncia-se rósae; castigo pœna, pr. Póena.

36
Quando os grupos ae e oe não formarem ditongo, pode-se colocar o
trema sobre o e: Poeta poëta, pr. po-éta.
b) O c diante de e e i, tem o som de k: Cícero Cicerō, pr. Kítkerô; César
Cæsar, pr. Káessar.
O grupo ch soa sempre como uma apiração forte (o ch do alemão) h:
Braço brachium, pr. bráhium.
c) O g, diante de e e i, tem quase o som de gu: Joelho genū, pr. guénu;
age āgit, pr. águit.
d) O j soa como i: Jurar jūrāre, pr. iuráre.
e) O grupo ph soa p com aspiração: Filósofo philosophus, pr. p-hilósop-
hus.
f) O s soa como ss: Nós nōs, pr. nôss; Misericórdia misericordia, pr.
missericórdia.
O grupo sc, diante de e e i, soa como o squ português: Desce descendit,
pr. desquéndit.
g) O grupo th soa t com aspiração (ou como o th do inglês): Tesouro
thēsaurus, pr. t-hessáurus.
h) A vogal u soa sempre: Cobra anguis, pr. ángüis; quinto quīntus, pr.
qüíntus.
i) O x soa ks: Exame exāmen, pr. eksámen; esposa uxor, pr. úksor.
j) O y soa como o u do francês (boca com formato de u e produz-se o
som do i) e o z soa dz: Lira lyra, pr. lüra; zelo zelus, pr. dzélus.
k) O h soa levemente aspirado, como no inglês.
l) A vogal ē soa como o ê português, e a vogal e soa como é português.
m) A vogal ō soa como ô português, e a vogal o soa como ó português.
n) O v soa como u (como na palavra inglesa window): Vinho vinum, pr.
uinum.
37
V.2- A pronúncia tradicional (brasileira)

Segundo a pronúncia tradicional portuguesa do latim, as letras do alfa-


beto latino têm o mesmo valor que as alfabeto português, exceto:
a) ch, que soa sempre k: chorda.
b) ti, que antes de vogal tem o som de ci: orātio. Conserva, porém, o
som ti, quando for precedido de s, t ou x: ōstium, quaestiō, Attius,
mixtiō.
c) x, que soa sempre cs: Xerxes.
d) Os ditongos ae, oe, que se pronunciam é: caelum [pron. Célum],
poena [pron.: pena].
e) O c dobrado, seguido de e ou de i, pronuncia-se ks: accedo [pron.:
aksédo], accipiō [pron.: aksípio]

V.3- A pronúncia romana (ou eclesiástica)

Essa é a pronúncia tradicional da Itália e recomendada pela Igreja cató-


lica nos ofícios litúrgicos em latim.
Além das diferenças da pronúncia tradicional indicadas acima, a pro-
núncia romana possui mais as seguintes:
a) O c antes de ae, oe, e e i pronuncia-se tch: caelum [pr.: tchélum].
b) O c dobrado antes de ae, oe, e e i pronuncia-se t-tch: ecce [pr.: et-
tche] (dá-se uma pausa entre um c e outro.
c) O g antes de e e i pronuncia-se dj: agimus [pr.: ádjimus]
d) O grupo gn tem o som de nh: agnus [pr.: ánhus].
e) O h, nas palavras nihil e mihi, pronuncia-se facultativamente k; mi-
hi [pr.: míki], nihil [pr.: níkil].
f) O j, quando usado, tem som de i: ejus [pr.: éius].
38
g) O m e o n articulam-se sempre, mesmo depois de uma vogal, quase
acrescentando-se mais uma vogal à pronúncia: Deum [pr.: Déume].
h) O s conserva sempre o som sibilante, e nunca se pronuncia z: nos
[pr. noss], vicesimus [pr.: vitchéssimus].
i) O sc antes de ae, oe, e e i pronuncia-se ch da palavra portuguesa
chá: descendit [pr.: dechéndit];
j) O ti antes de vogal e quando não é precedido de s, t, x, pronuncia-se
tsi: patientia [pr.: patsiéntsia].
k) O x nos grupos xc e xs equivale a um simples c: excelsus [pr.:
eksélsus], exsilium [pr.: eksílium].
l) Finalmente, o z tem valor de dz: zelus [pr.: dzéluss].

39
VI. Prosódia

VI.1- Quantidade
Quanto à quantidade, as vogais latinas podem ser longas ou breves,
sendo estas pronunciadas em uma unidade de tempo e aquelas em duas. Quin-
tiliano informa-nos que até as crianças, em seu tempo, tinham conhecimento
disto: Longa esse duōrum tempŏrum, breuem ūnīus etiam puĕrī sciunt (Inst.
9,4,47) “ser a vogal longa de duas unidades de tempo e a breve de uma só, até
as crianças o sabem”.
Nota: Embora quantidade e timbre sejam fatos inteiramente distintos,
observa-se certo paralelismo em se pronunciarem as vogais longas sempre
como vogais fechadas, e as breves sempre como abertas.
No que diz respeito ao timbre, as vogais que apresentam maior diferen-
ça na pronúncia são o e e o o, fato esse observado pelo gramático latino Sér-
vio : Vocāles sunt quinque, a, e, i, o, u. Ex hīs duae, e et o, alĭter sonant pro-
dūctae, alĭter corrēptae. (Sérvio in Donātum 4,421) “as vogais são cinco: a, e,
i, o, u. Duas destas, o e e o o, soam diferentemente quando longas ou quando
breves”. Assim, quando breves o e e o o são sempre abertos, e quando longos
sempre se mantêm fechados.
Observações:
1) Além de Sérvio, outros gramáticos latinos fazem menção da diferen-
ça entre o e breve e longo, e o o breve e longo, deixando nas suas explicações
bem claro que as vogais breves são abertas e as longas fechadas. As línguas
românicas também justificam esta diferença de pronúncia, sendo as vogais
breves latinas continuadas por vogais abertas e as longas por vogais fechadas.
2) Pela descrição dos próprios gramáticos latinos, como pelo testemu-
nho das línguas românicas, também o i e o u, quando breves, deveriam ser

40
pronunciados mais abertos, com um som que os aproximava respectivamente
do e fechado e do o fechado.
3) Mas o a, fosse longo ou breve, tinha sempre o mesmo valor, devendo
ser pronunciado como o nosso a oral aberto. O poeta Lucílio chama a atenção
para a identidade de grafia e de pronúncia do a longo ou breve no seguinte
passo:... ūnō eōdemque ut dicimus pactō / scribēmus “pācem”, “placide”,
“Iānum”, “aridum”, “acetum” (Lucíl. Marx, 9,353-4) “e, do mesmo modo
como pronunciamos, escrevemos: pacem, placide, Ianum, aridum, acetum”.
O y, sendo uma letra grega, era pronunciado com o mesmo valor que ti-
nha em sua língua original, isto é, com o mesmo som do u francês atual: cum
quaedam in nostrum sermōnem Graeca nōmĭna admissa sint, in quibus eui-
dēnter sonus hūius littĕrae exprimitur, ut HYPERBĂTON et HYMNUS et
HYACĪNTHUS et similĭa, in eīsdem hāc littĕrā necessarĭō utĭmur (Ter .Scaur.
Keil, 7,25) “como algumas palavras gregas tenham sido admitidas em nossa
língua, nas quais evidentemente se exprime o som desta letra, como em
hyperbaton, em hymnus e em hyacinthus e em outras semelhantes, nelas ne-
cessariamente empregamos esta letra”.
Muitos escritores confundem sílaba longa com vogal longa e sílaba
breve com vogal breve. É preciso atentar que são coisas completamente dis-
tintas. Por isso em suas gramáticas falavam de a vogal ser longa por natureza
ou por posição. Uma vogal longa por posição seria aquela que ficasse em
sílaba fechada ou travada, por exemplo: ambō, o primeiro a é breve, mas a
sílaba am é longa porque está fechada, isto é, termina em consoante. Isso só
não é suficiente para mudar a natureza da vogal. Mais detalhes sobre isso
veremos no item seguinte.

41
Existem várias regras para conhecerem-se a quantidade das vogais. Pa-
ra um estudo mais aprofundado sobre isso, ver Llobera, 1918, pp. 493-528, na
parte dedicada à prosódia e à métrica.

VI.2- Acentuação
A acentuação das palavras latinas em prosa ajusta-se à chamada lei das
três sílabas, isto é, toda palavra polissílaba acentuada tem o acento principal
sobre a penúltima sílaba se for longa; sobre a antepenúltima, se a penúltima
sílaba for breve, considerando o que se disse no final do item VI.1 sobre o que
seria uma sílaba longa ou breve. As palavras dissilábicas acentuam-se sempre
na penúltima sílaba, porquanto não haja palavras oxítonas, salvo raríssimas
exceções.
Como se pode notar, em latim a quantidade longa ou breve da penúlti-
ma sílaba é que decide sobre o acento da palavra. Mesmo considerando a
quantidade a penúltima sílaba, não se desprezou em período clássico a quanti-
dade das demais vogais da palavra (note que aqui distinguimos entre sílaba e
vogal).
Uma sílaba conta-se como longa se tiver uma vogal breve, mas a esta
vogal segue-se imediatamente mais de uma consoante (note-se que o x é uma
consoante dupla e o z recebe um tratamento similar, embora não seja duplo,
como já se disse acima, vide V.1 § 10). Por isso, fala-se de sílabas longas por
posição (syllabae positiōne longae). Nessas é indiferente se as consoantes que
a alongam pertencem à mesma sílaba ou se a segunda delas está no início de
uma sílaba ou, às vezes, até no começo da palavra seguinte. Por exemplo, a
palavra mors é longa, apesar de a vogal o ser breve, pois que na mesma pala-
vra seguem-se-lhe duas consoantes; igualmente é longa a primeira sílaba do
genitivo (veremos detalhes sobre este caso no Capítulo X) mor-tis, porque na
42
mesma palavra à vogal o lhe seguem duas consoantes; finalmente, é igual-
mente longa a segunda sílaba da série de palavras dīvum pater, porque nela
segue ao u breve uma consoante que fecha a primeira palavra e uma segunda
consoante que começa a palavra seguinte.
Os métricos latinos faziam distinção entre sílabas breves = syllabae na-
tūrā brevēs (com vogal breve e no máximo uma consoante), sílabas longas
por natureza = syllabae natūrā longae (com vogal longa) e sílabas que se
fazem longas pela posição da vogal de uma sílaba ante várias consoantes =
syllabae positiōne longae. Quanto a isso considere-se atentamente o que já se
disse no final do item VI.1 acima.
Pronuncia-se como breve a vogal de uma sílaba longa por posição se a
vogal não for longa por natureza. Diferenciem-se, pois, a forma est = ele é de
ēst = ele come, mesmo na pronúncia. Como ficou dito no item anterior, as
vogais e e o breves soam abertas [ɛ, ɔ], ao passo que as longas soam fechadas
[e, o].

43
VII. Noções fundamentais de análise sintática

Para exprimirmos os nossos pensamentos usamos palavras. Quando


uma ou mais palavras expressarem um pensamento completo, teremos uma
oração. Oração é a expressão do pensamento por meio de palavras.
Ex.: Roma é a capital da Itália. Rômulo fundou Roma. Estudo. Vivo.
Partes da oração – A oração compõe-se de três partes ou termos:
1- Termos essenciais; 2- Termos integrantes e 3- Termos acessórios.
São termos essenciais: sujeito e predicado.

VII.1- Sujeito
Sujeito é a parte da oração da qual se diz alguma coisa. Na oração Cíce-
ro foi um grande orador – diz-se algo a respeito de Cícero (que foi um grande
orador). Cícero é, pois, o sujeito.
Como se acha o sujeito? – Para saber quem é o sujeito, pergunta-se an-
tes do verbo: Quem? Quê? Que é quê?
Cícero foi um grande orador.
- Quem foi um grande orador? – Cícero, sujeito.
Estas pedras caíram.
- Que é que caiu? Estas pedras, sujeito.
Ouvimos a explicação.
- Quem ouviu? Nós, sujeito [oculto].

VII.2- Predicado
Predicado é aquilo que se declara do sujeito. Ex.: A abelha produz mel.
Sujeito, a abelha. O que se declara do sujeito é produz mel.

44
Essencialmente o predicado é o verbo, mas nem sempre ele tem sentido
completo – se disséssemos somente a abelha produz, teríamos de perguntar o
quê? Isso porque o verbo produzir exige uma palavra para completar-lhe o
sentido. Tal palavra é o termo integrante.

a) Complemento direto (ou objeto direto)


O complemento direto é aquele que completa o sentido do verbo transi-
tivo, ligando-se-lhe diretamente, isto é, sem preposição:
A abelha produz mel.
A terra tem dois movimentos.

b) Complemento indireto (ou objeto indireto)


É complemento indireto aquele que completa o sentido do verbo transi-
tivo (antigamente chamava-se relativo), ligando-se-lhe indiretamente, isto é,
com preposição.
Obedeço ao regulamento.
Gosto de frutas.

c) Macete
Há uma maneira muito simples, que pode servir como macete para sa-
ber as funções sintáticas no período. A primeira coisa é identificar o verbo.
Feito isso, devemos perguntar-lhe QUE ou QUEM (sempre antes do verbo),
essa perguntinha nos dará o sujeito! Para reconhecer o complemento, preci-
samos considerar duas coisas: 1.ª se o complemento é direito (objeto direto);
2.ª se o complemento é indireto (objeto indireto). O ponto de referência será
sempre o verbo! Devemos, pois, perguntar a ele QUE ou QUEM (isso após o

45
verbo), essa pergunta dar-nos-á o objeto direto! O objeto indireto encontra-se
fazendo quase a mesma pergunta, mas com uma preposição.
Para o sujeito e o objeto direto
Antes Depois
O QUÊ? O QUÊ?
QUEM? VERBO QUEM?
Sujeito Objeto direto

Para o sujeito e o objeto indireto:


Antes Depois
O QUÊ? QUÊ?
QUEM? VERBO PREP.
QUEM?
Sujeito Objeto indireto

46
VIII. Generalidades

A declinação, ou sistema de flexões nominais, indica três categorias:


gênero, número e caso. Mas cumpre desde logo observar que estas três cate-
gorias são indicadas simultaneamente por uma única e mesma forma nominal.
Assim, por exemplo, uma forma como iustus – justo – indica que o adjetivo
está no gênero masculino, no número singular e no caso nominativo.

VIII.1- Gêneros
Em latim, além dos gêneros masculino e feminino, há ainda o gênero
neutro, para as palavras que não são masculinas nem femininas. Aliás, a pró-
pria denominação neutro provém de uma forma pronominal latina, neuter, que
significa “nem um nem outro”. Assim de um modo geral, os nomes que de-
signam o homem, ou os animais de sexo masculino, são masculinos, como vir
“homem”, puer “menino”, taurus “touro”, lupus “lobo”; os que designam a
mulher, ou os animais de sexo feminino, são femininos, como mulier “mu-
lher”, puella “menina”, vacca “vaca”, lupa “loba”; e os que se aplicam a seres
inanimados podem ser neutros, como templum “templo”, bellum “guerra”,
calcar “espora”.
Nem sempre, contudo, o gênero natural, que se baseia nas diferenças de
sexo, corresponde exatamente ao gênero gramatical. Muitos substantivos que
designam objetos e seres inanimados pertencem ao gênero masculino ou fe-
minino, por exemplo, mensa “mesa”, fenestra “janela” são femininos; liber
“livro”, calamus “caneta” são masculinos. A forma da palavra também não é
o bastante para determinar o gênero gramatical de um vocábulo. Lupus, pirus
“pereira” e virus “veneno” têm todos a mesma forma e pertencem à mesma
declinação (a segunda como veremos adiante a partir do Capítulo IX, mais

47
especificamente no Capítulo XVI, que tratará da 2.ª declinação), mas são de
gêneros diferentes: lupus (masculino), pirus (feminino), virus (neutro).

VIII.2- Artigos
Oxalá tudo fosse assim tão simples! O latim não possui artigos. Na ver-
são para qualquer língua moderna, a presença dos artigos será inferida a partir
do contexto. Assim, dependerá muito da sensibilidade do tradutor ou mesmo
de seus hábitos para que uma sentença latina seja vertida com mais ou menos
artigos.

VIII.3 Casos
VIII.3.a - Nominativo
É o caso que designa a pessoa ou coisa de que trata a frase, vulgarmente
chamado o caso do sujeito. Desse emprego, o mais comum no período clássi-
co, decorrem, por uma questão de concordância, os empregos de predicativo
do sujeito, aposto do sujeito e aposto do predicativo do sujeito. Entretanto,
seu valor primitivo era mais vasto e mais vago: era o caso do nome considera-
do em si mesmo, fora do contexto da frase, como por exemplo nos títulos e
enumerações, donde, por vezes, ser usado pelo vocativo e nas exclamações.

VIII.3.b - Vocativo
É o caso da interpelação, sendo por isto independente de todo o con-
texto da frase, um caso à parte dos demais.

VIII.3.c - Acusativo
É um caso difícil de enfeixar numa única fórmula, sendo o seu emprego
mais geral o de indicar o objeto (complemento) direto verbal. É mister aten-
tar que este não era seu valor primitivo, tendo sido empregado, primevamente,
48
independente do verbo, o que explica as construções com verbos intransitivos,
ou como duplo acusativo. Outro emprego muito comum é o de indicar a ex-
tensão no tempo ou no espaço, assim como caracterizar o termo de um mo-
vimento, empregos esses em que se generalizou o uso das preposições, embo-
ra se conserve uma ou outra construção que as dispense.

VIII.3.d - Genitivo
É, principalmente, o caso do adjunto restritivo, genitivo adnominal,
servindo também para indicar o todo de que se toma uma parte, genitivo parti-
tivo. Como genitivo adnominal apresenta grande variedade de empregos: ge-
nitivo possessivo (ao qual se prendem o genitivo patronímico, o genitivo de
qualidade, o de preço e o de matéria). O genitivo partitivo pode ser emprega-
do junto de comparativos e superlativos, de alguns pronomes ou advérbios.

VIII.3.e - Dativo
É o caso da atribuição, indicando a pessoa ou coisa a quem um objeto
é destinado e, daí, no interesse de que se faz alguma coisa. É propriamente um
complemento de termo (isto é, de fim da ação). Seu emprego mais comum e
generalizado é indicar a função do objeto (complemento) indireto da oração.

VIII.3. f - Ablativo
É o caso que indica o adjunto circunstancial ou adverbial. Primiti-
vamente indicava o ponto de partida, a origem. Mas, desaparecendo em latim
dois outros casos: o instrumental e o locativo (este último presente só em
algumas palavras), passou também o ablativo a desempenhar cumulativamen-
te as funções destes dois casos. O instrumental servia prevalentemente para
indicar o instrumento, pessoa ou coisa com que ou com o auxílio de quem se
fazia a ação indicada pelo verbo. O locativo indicava o lugar, e também o
49
tempo em que se realizava a ação expressa pelo verbo. Dessa forma, o ablati-
vo latino representa a síntese destes três casos.
Note-se que a redução dos casos é uma verdadeira tendência da língua,
que já se fazia sentir desde os primitivos documentos em latim, com o desapa-
recimento do instrumental e do locativo, e até durante o período clássico,
onde, por exemplo, o vocativo já se identificava em todas as declinações (ex-
ceto os nomes em -us da segunda declinação, como veremos no Cap. XVI)
com o nominativo, bem como o dativo com o ablativo no plural de todas as
declinações. Tal redução inda mais se acentuou no latim vulgar, pelo maior
emprego dado às preposições, o que explica o desaparecimento quase comple-
to dos casos nas línguas românicas, de que deixaram muito poucos vestígios.

50
III Parte – Latim: Uma língua: estrutura
Já nos debruçamos sobre a história do latim ainda que deveras breve-
mente. Já vimos os aspectos materiais da língua latina, isto é, as unidades que
a compõem: letras, sons, duração etc. Agora esta terceira parte tem por fito
estudar a língua do Lácio mesma. Óbvio que o que pode pretender de um
curso que se pensou primariamente introdutório é que dê as noções basilares
da língua e que ajude aqueles que nela adentrarão a saber onde pisar com o
intuito de que não se lhe machuquem os pés.
O latim tem cinco declinações, que são como que cinco grupos, as pa-
lavras (substantivos e adjetivos) deverão pertencer a um desses grupos. As-
sim, sabendo a que grupo uma palavra pertença, facilmente se saberá toda a
sua flexão.
Os seis primeiros capítulos desta parte terão a missão de paulatinamen-
te mostrar ao estudante o que de fato são os casos de que já se tem tanto fala-
do anteriormente. No capítulo IX, estudaremos o nominativo; no X, o geniti-
vo; no XI, o acusativo; no XII, o dativo; no XIII, o vocativo e no XIV, o abla-
tivo. Todos esses casos referentes à primeira declinação, isto é, ao primeiro
grupo de palavras latinas. Depois, no capítulo XV, faremos uma revisão do
que já foi visto para que melhor se nos fixem os conceitos na mente. Sobre os
casos convém dizer que independem da declinação. Eles indicam a flexão
morfossintática da palavra, de sorte que sintaticamente apresentam a função
que uma palavra desempenha na frase; só morfologicamente distribruem-se
pelas declinações.
A seguir, veremos a segunda declinação. No capítulo XVI, veremos a
forma singular dos casos – todos já foram estudados na primeira declinação –
para, depois, vermos a forma plural deles (capítulo XVII). Ainda na segunda

51
declinação, veremos, no capítulo XVIII, as palavras neutras; encerrando neste
capítulo o estudo da segunda declinação.
A terceira declinação começará no capítulo XIX e irá até ao XX, estu-
dando a declinação dos nomes masculinos, femininos e neutros. Visto que o
objetivo deste curso é tão somente introdutório, não nos delongaremos muito
nessa declinação. Conquanto seja a mais frequente na língua latina, é, outros-
sim, segundo dizem, a mais difícil. Nada, porém, a temer!
O adjetivos começarão a ser tratados formalmente no capítulo XXI. São
aqueles chamados de primeira classe e sua característica é seguirem a primei-
ra e segunda declinações. Passa-se, enfim, para os adjetivos de segunda clas-
se, no capítulo XXII, cuja caraterística é seguirem a terceira declinação. Os
nomes primeira e segunda classes não se referem à qualidade do adjetivo,
mas sim ao momento em que deveriam ser estudados; isto é, na primeira clas-
se (em latim classis também significava aula), deve-se estudar os de primeira
e segunda declinações e na classe seguinte, os de terceira.
O capítulo XXIII está dedicado ao estudo da quarta declinação e o
XXIV, ao estudo da quinta declinação.
Nos capítulos XXV e XXVI, estudar-se-ão os verbos, mas eles vêm
sendo estudado desde o capítulo IX! Aqui só veremos as partes estruturais e
organizacionais dele. O capítulo XXVII tratará da ordem das palavras na fra-
se. E, finalmente, o capítulo XXVIII trará um pequena gramática dos casos
latinos (tradução do título que demos a este capítulo em latim).
Esperamos que esse livro seja proveitoso e que o latim se desmistifique.
O mais importante é que se pode aprendê-lo de uma maneira mais lúdica,
visando a uma real e firme aquisição de conhecimento. Se você chegou até
aqui, espero que não desista e que estude sem ideias pré-concebidas essa lín-
gua tão maravilhosa e ao mesmo tempo tão atual. Com ela as portas da cultura
52
ocidental se nos escancaram, provando nós mesmos o sabor que têm os textos
formadores de nossa cultura, sem experimentar a comida já provada por ou-
tros.
P.S.: Para assinalar as vogais longas uns textos usam o mácron,- , ex.,
ā; e para as breves, a bráquia ᴗ, ex., ă. Para não sobrecarregar o texto com
diacríticos, decidimos não assinalar as vogais breves (salvo em raríssimos
casos, consoante se poderá constatar mais adiante, no cap. XV, por exemplo).
Marcaremos somente as vogais longas. Sendo, por conseguinte, breves todas
as vogais não assinaladas.
É mister levar muito em consideração a distinção que já fizemos no ca-
pítulo VI sobre a confusão reinante entre sílaba longa ou breve e vogal longa
ou breve. Se isso lhe pareceu novidade, recomenda-se vivazmente que se re-
torne ao sobredito capítulo e leia-se toda a explicação que ali ficou patente.

53
IX. Schola
Martia est magistra. Magistra est laeta. Cur magistra est laeta? Quia
discipulae studiōsae sunt. Schola māgna est. Mensa nova est. Sellae et tabulae
quoque novae sunt. Porta et fenestrae lātae sunt. Sum studiōsa. Es puella mo-
desta. Discipulae sēdulae sumus.

VOCABVLARIVM
cur? por quê? porta a porta
discipula a aluna puella a menina
est é quia porque
fenestra a janela quoque também
laeta alegre schola a escola
lāta larga sēdula aplicada
magistra a professora sella a cadeira
māgna grande studiōsa estudiosa
Martia Márcia sum sou
mensa a mesa sumus somos
modesta modesta tabula o mapa
nova nova

GRAMMATICA
Nominativo
A menina é estudiosa. Pelo que aprendemos nos capítulos anteriores,
sabemos que a menina é o sujeito da oração e estudiosa é o predicativo do
sujeito.
Tanto o sujeito como o predicativo do sujeito, em latim, são expressos
no nominativo.
Facilmente encontramos o sujeito de uma oração fazendo as perguntas
quem?, quê? antes do verbo (sobre isso reveja-se o Capítulo VII).

54
O predicativo é igualmente fácil de reconhecer, pois é a palavra que dá
uma característica ou qualidade ao sujeito, mediante o verbo ser (ou outros
verbos de ligação).
A oração – a menina é estudiosa – será em latim: Puella est studiōsa; e
no plural: Puellae sunt studiōsae.
As palavras puella e studiōsa tomaram no plural as formas puellae e
studiōsae. Mudaram a desinência -a para -ae, porque as desinências do nomi-
nativo são:
-a – para o singular
-ae – para o plural.
Lembre-se: O nominativo é o caso do sujeito e do predicativo do su-
jeito.
Facilmente se poderá notar a filiação latina do português já nessa lição
introdutória à gramática latina. Pode-se ver como algumas palavras são, senão
iguais, muito semelhantes às nossas lusitanas.

VERBO ESSE (ser, estar) - Presente do indicativo


Sum – eu sou Sumus – nós somos
Es – tu és Estis – vós sois
Est – ele é Sunt – eles são

APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
No processo de transformação interna do latim, isto é, do latim das
classes cultas para aquele das classes menos cultas já algumas mudanças con-
sideráveis estavam em curso. Uma delas atingiu o verbo ser. No latim vulgar,
o verbo ser já estava se misturando com outros verbos, talvez com o fito de
tornar mais simples sua conjugação.

55
Lemos com Coutinho (1974, pp. 312-3) que «o verbo esse perdeu, no
território galego-português8, algumas formas, que foram substituídas pelas do
verbo sedēre (sentar), que veio a ter sentido aproximado ou semelhante ao
daquele». O verbo sedēre, com efeito, já aparece valendo ou substituindo esse
(ser) no texto da Peregrinātiō ad loca sancta da monja Egéria9 também cha-
mado de Itinerārium peregrinātiō. Naquele texto, podemos tomar alguns
exemplos desse uso de sedēre por esse. Neste exemplo: ubi sedĕrant fīliī Is-
rahēl, dum Moysēs ascenderet in montem Deī et descenderet - onde tinham
estado os filhos de Israel, quando Moisés subira para o monte de Deus e [de
lá] descera (I,V,1); Quī sanctus monachus vir ascītis necesse habuit post tot
annōs, quibus sedēbat in erēmum – Aquele santo monge, homem asceta, teve
necessidade, depois de tantos anos, em que estava no deserto… (I,XVI,5);
mīles ibī sedet cum tribūnō suō – o soldado está ali com seu tribuno

8
Como se pode claramente notar, algumas mudanças aconteciam no Latim vulgar e
não no galego-português, como o afirma Coutinho. Silveira Bueno (1967, pp. 67-8)
afirma que «muitos dos característicos fonéticos do período arcaico já eram correntes
no latim vulgar…».
9
Egeria, conhecida também como Echeria, Eteria, Aetheria e Etheria, foi a autora
dum livro de viagens no século IV. Tudo parece indicar que nasceu na Galécia, se-
gundo documentos do século VII, embora (ao se perder a primeira parte da sua obra)
haja autores que situem o seu nascimento na Aquitânia.
A obra, conhecida como Itinerarium Egeriae, chegou até nós incompleta — falta a
primeira parte, com o título, e a última — e foi escrita em Constantinopla. Considera-
da uma obra chave para conhecer o latim vulgar que se falava na época e que, aliás,
oferece uma valiosíssima informação sobre a sociedade e a liturgia do momento, o
Itinerarium ou Peregrinatio ad loca sancta contém a viagem a Constantinopla e Jeru-
salém, à Capadócia e à Tebaida no Alto Egito, ao mar Vermelho e ao Sinai. Os mon-
ges dos lugares que visitou receberam-na como uma celebridade da época e as autori-
dades expediam salvo-condutos para salvaguardar a sua segurança.
O Itinerarium foi publicado em 1887 por Gian Francesco Gamurrini, que descobriu
na Biblioteca da Confraria de Santa Maria dos Leigoos (Biblioteca Della Confrater-
nità dei Laici), em Arezzo, na Toscana, em 1884. Os relatos foram escritos, possivel-
mente, entre 393 e 396, do qual se deduz a importância documental do testemunho
naqueles anos do primeiro cristianismo, já que a obra é muito prolífica na explicação
de pormenores relacionados com a liturgia.
56
(I,XIX,1); quī in sōlitūdine sedēbant, quōs ascītēs vocant – que estão em soli-
dão e são chamados ascetas (I,XX,5); sī aliud animō sederit – se outra coisa
estiver na mente (I,XXII,10).

EXERCITIA
1.º VERSIO: A menina está alegre. Ela está alegre, porque é aplicada. Você é
estudiosa. Vocês são aplicadas. A porta é larga.
2.º Sublinhar, na leitura, com um traço, os sujeitos e com dois, os predicati-
vos.

57
X. Tullia et Cēlia
Tullia est discipula Martiae.
Cēlia amīca Tulliae est.
Martia interrogat: – Ubi est alūta Tulliae?
Respondet Cēlia: – Alūta et umbrella meae amīcae hīc erant.
Alūta puellae nova erat. Umbrellae discipulārum pulchrae erant. Gem-
mae Tulliae prētiōsae sunt.
Soleae discipulārum rubrae erant, sed soleae magistrae nigrae sunt.

VOCABVLARIVM
alūta a bolsa pulchra bonita
amīca a amiga respondet responde
Cēlia Célia rubra vermelha
gemma a joia sed mas
hīc (adv.) aqui solea a sandália
interrogat pergunta Tullia Túlia
mea minha ubi onde
nigra preta, negra umbrella a sombrinha
prētiōsa preciosa

GRAMMATICA
Genitivo
Analisemos a oração: a mesa da escola é nova.
Sujeito: a mesa (nominativo)
Predicativo do sujeito: nova (nominativo)
Falta-nos conhecer a função lógica de da escola.
Percebemos que a expressão da escola está servindo para diminuir, res-
tringir a ideia da palavra mesa – não se trata de qualquer mesa, mas, somente
da mesa da escola. Visto que serve para restringir a ideia, chamamo-lo de
adjunto restritivo.
58
Para conhecê-lo, fazem-se as perguntas: de quem? de quê? ao substan-
tivo. A mesa da escola – mesa de quê? – da escola.
A expressão da escola tomará o caso genitivo porque: O genitivo é o
caso do adjunto restritivo.
A oração: A mesa da escola é nova, em latim será: Mensa scholae est
nova; e no plural: Mensae scholārum sunt novae.
O adjunto restritivo scholae mudou a sua desinência -ae, do singular,
para -ārum, no plural. Isto porque as desinências do genitivo são:
-ae – para o singular
-ārum – para o plural.

VERBO ESSE - Imperfeito do indicativo


Eram – eu era Erāmus – nós éramos
Erās – tu eras Erātis – vós éreis
Erat – ele era Erant – eles eram

APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
Neste capítulo, topa-se com a palavra latina amīca, origem da lusa ami-
ga. No processo de passagem das palavras latinas para o português algumas
acomodações e transformações houve. Dessas há um sistema de modificações
fonéticas por que as palavras passam no processo de evolução chamado me-
taplasmo. Os metaplasmos dividem-se em quatro espécies: a) metaplasmos
por permuta; b) metaplasmos por aumento; c) metaplasmos por subtração; d)
metaplasmos por transposição (cf. COUTINHO, 1974, pp. 142-9).
Na palavra amīca evoluída para amiga, pode-se notar que o c da latina
transmutou-se em g na palavra portuguesa. Esse fenômeno constitui um tipo
de metaplasmo por permuta. Coutinho (1974, p. 143) apresenta nove tipos de
permuta nessa classe de metaplasmo, aqui interessa-nos só aquele que se

59
chama sonorização, que «é a permuta de um fonema surdo [c] por um sonoro
homorgânico [g]» (id. ibid.). Os fonemas latinos p, t, c, f quando intervocáli-
cos e medias, tendem a sonorizar-se na passagem para o português, em b, d, g,
v; ex.: lupu > lobo; cito > cedo; acutu > agudo; profecto > proveito.

EXERCITIA
1.º VERSIO: A bolsa da menina era nova. Vocês eram amigas das meninas.
As portas das escolas eram largas. A sombrinha da minha amiga é verme-
lha.
2.º Sublinhar, na leitura, o sujeito com um traço e o adjunto restritivo, com
dois.
3.º As palavras seguintes são muito parecidas com as portuguesas; que signi-
ficam? fābula, aqua, pirāta, poēta, stella, scientia, prudentia, nigra, silva,
discipula.
4.º Dizer em latim: vós éreis, nós somos, tu eras, eles são, vós sois, eu era, nós
éramos, ele é, ela era.

60
XI. Cēlia sē parat

Cēlia amītam suam vīsītābit [1]. Ideō tunicam et stolam quaerit.


– Ubi est tunica?
– Tunica est hīc.
Puella tunicam et stolam induit. Stola Cēliae amplās fimbriās habet. Fi-
bulam auream et aciculās argenteās ponit.
Deīnde pallam induit et clāmat:
– Avia, nunc parāta sum.
Nota [1] – O verbo, em latim, comumente vem no fim da oração. O aluno procura o
verbo, depois o sujeito, e, em seguida, os complementos.

VOCABVLARIVM
acicula o alfinete ideō por isso
amīta tia (paterna) induit veste
ampla ampla, larga nunc agora
argentea de prata parat prepara
aurea de ouro parāta preparada
clāmat chama ponit põe
deīnde depois quaerit procura
et e sē se (pron.)
etiam também stola o manto
fibula a fivela sua sua
fimbria a franja tunica a túnica
habet tem vīsitābit visitará

GRAMMATICA
Acusativo
Analisemos a oração: A professora chama as alunas.
Sujeito: a professora
Predicado: chama
O verbo chama exige uma palavra que lhe complete a significação –
pede um complemento. Esse complemento é a aluna – e está ligado ao verbo
61
sem auxílio de preposição, isto é, liga-se diretamente ao verbo – é um objeto
direto.
Para conhecer o objeto direto fazem-se, depois do verbo, as perguntas:
quem?, quê?, o quê? (vide Cap. VII): Ex.: A professora chama quem? – a
aluna – objeto direto.
Em latim, o complemento a aluna irá para o caso acusativo, porque o
acusativo é o caso do objeto direto.
A oração: A mestra chama a aluna, em latim, será: Magistra discipu-
lam vocat e no plural: Magistra discipulās vocat.
Discipulam tomou no plural a forma discipulās. Portanto, as desinên-
cias do acusativo são:
-am – no singular
-ās – no plural.

VERBO ESSE – Futuro do indicativo


Erō eu serei Erimus nós seremos
Eris tu serás Eritis vós sereis
Erit ele será Erunt eles serão

APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
O latim lusitano era de cunho menos inovador do que aquele que preva-
lecia na Itália. Entanto, é possível observar a inovação do latim luso em subs-
tituir a forma habēre pela posterior tenēre, motivo por que a língua arcaica faz
largo uso de aver, que só depois cedeu lugar à inovação ter, conforme se de-
preende das lições de Silveira Bueno (cf. 1967, pp. 16-7) e se percebe em D.
Duarte: «Primeyra e mais principal, que conheçamos avernos por sua especial
graça todo nosso ben» (Leal Conselheiro).
É, entrementes, oportuno notar que a forma ponho (pôr) é resultante da
hipotética *poneo, advinda da «presença do yod na primeira pessoa do presen-
62
te do indicativo dos verbos da segunda conjugação (debeō, videō), levou o
povo a confundir muitos destes verbos com os da quarta que também apresen-
tavam o mesmo som (dormiō, audiō)» (SILVEIRA BUENO, 1967, p. 133). A
forma ponho < *poneo influiu em toda a conjugação, dando em galego po-
nher e em português dialetal, muito vivo em muitas partes do Brasil, ponhar.
Ainda se acha quem diga ponho, ponhei, ponhava como se fora da primeira
conjugação.
A evolução da forma *poneo para ponho obedece a um metaplasmo por
transformação chamado palatalização, a consoante n que é dental passa por
influência do i a ser pronunciada mais próxima ao palato.

EXERCITIA
1.º VERSIO: Célia tem uma túnica. A menina vestiu a túnica e o manto. A
professora tem uma fivela de ouro. Eu serei e você também será aplicada.
2.º Escrever o nominativo, o genitivo e o acusativo singular e plural das pala-
vras: rosa, solea, stola.
3.º Traduzir para o latim: a rosa, da rosa, a menina, as meninas (nom.), as
meninas (acus.), das meninas, do manto, os mantos (nom.), dos mantos, os
mantos (acus.). Eu sou, eu era, eu serei, nós somos, nós éramos, nós sere-
mos, vocês serão, você será, vocês eram, vocês são, eles são, eles eram,
elas serão, você é.

63
XII. Discipula et magistra

Rosae sunt grātae magistrīs. Ideō, discipulae rosās pulchrās magistrīs


dant. Martia puellīs grātiās agit.
Magistra Cēliam vocat:
– Ubinam est alūta tua? Commodā pennam tuam Iūliae.
Puella magistrae obtemperat:
– Festīve amīcae meae pennam commodābō.
Magistra historiam rōmānam puellīs nārrat et exclāmat:
– Historiam magistra vitae est.

VOCABVLARIVM
commodā empreste nārrat narra
commodābō emprestarei obtemperat obedece
dant dão penna caneta
exclāmat exclama Rōmāna romana
festīve alegremente rosa a rosa
grāta agradável vita a vida
grātiās agit agradece vocat chama
ideō por isso

GRAMMATICA
Dativo
A aluna dá rosas à professora.
O verbo dá, que encontramos nessa oração, não tem sentido completo,
exige dois complementos: rosas e à professora. Mas, enquanto rosas se liga
ao verbo diretamente e, como vimos, no capítulo anterior, é o objeto direto, o
complemento à mestra está ligado por meio de uma preposição (à = a [prep.]
+ a [artigo]), isto é, indiretamente – é o objeto indireto.

64
Para se encontrar o objeto indireto fazem-se, depois do verbo, as per-
guntas: a [para] quem?, a [para] quê?
A aluna dá a quem? – à professora – objeto indireto.
Este complemento irá, em latim, para o caso dativo porque o dativo é o
caso do objeto indireto.
A oração A aluna dá rosas à professora, em latim será: Discipula rosās
magistrae dat e no plural discipulae rosās magistrīs dant.
No singular, encontra-se o objeto indireto magistrae e no plural magis-
trīs.
São, pois, desinência do dativo:
-ae no singular
-īs no plural.

VERBOS
Em latim, há quatro conjugações que se distinguem pela terminação do
infinito. A 1.ª conjugação termina em -āre; a 2.ª, em -ēre; a 3.ª, em -ere; e a
4.ª, em -īre.
Exemplos:
1.ª amāre 3.ª legere
2.ª dēlēre 4.ª audīre

Retirando-se -re dessas terminações ficaremos com um dos radicais


que formam os tempos verbais latinos.
Assim, para formarmos o presente do indicativo de qualquer verbo, ti-
ramos a terminação -re (-ere na 3.ª) e juntaremos as desinências pessoais:
-ō, -s, -t, -mus, -tis, -nt

65
Exemplo: verbos amā(re), delē(re), leg(ere), audī(re):
Presente do indicativo
-āre -ēre -ere -īre
am-ō dēl-eō leg-ō aud-iō
am-ās dēl-ēs leg-is aud-īs
am-at dēl-et leg-it aud-it
am-āmus dēl-ēmus leg-imus aud-īmus
am-ātis dēl-ētis leg-itis aud-ītis
am-ant dēl-ent leg-unt aud-iunt

APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
Havia no latim literário quatro conjugações, que se caracterizavam pela
vogal temática, que era respectivamente: -ā (na primeira conjugação), -ē (na
segunda), -ĭ, -ĭ ou consoante (na terceira) e -ī (na quarta). No latim vulgar,
como atesta Coutinho (1974, p. 272) «reinou certa confusão nessas conjuga-
ções. As que menos se modificações sofreram foram a primeira e a quarta».
Desde cedo, manifesta o latim ibérico, exceto na Catalunha, preferência
pelo emprego da segunda conjugação em lugar da terceira, chegando até a
eliminá-la do quadro das conjugações (cf. COUTINHO, 1974, p. 272).
Segundo Serafim da Silva Neto (1952, p. 240), «As quatro conjugações
[do latim] reduziram-se a três, porque, em geral, os verbos da terceira incor-
poraram-se à segunda». Segue ainda considerando com exemplos: «Assim, há
que levar em conta *sapēre, cadēre, *facēre, *dicēre, capēre e muitos outros.
Alguns tipos novos se adaptaram à segunda, por exemplo, *potēre, que substi-
tuiu o infinitivo posse».
Sobre a incorporação de alguns verbos da terceira conjugação naqueles
da quarta, tratar-se-á melhormente no capítulo XXV, quando se verão os ver-
bos da terceira conjugação que segue muito de perto a forma de conjugar da
quarta.

66
EXERCITIA
1.º VERSIO: Os poetas alegremente obedecem às musas (mūsa). Emprestarei
minha sombrinha à amiga. A professora agradece as rosas às meninas.
2.º Sublinhar com um traço os objetos diretos da leitura e com dois os objetos
indiretos.
3.º Traduzir: puellās, puellīs, puellae (gen.), puellae (dat.), puellam, puellas
(nom.); poētīs, poēta, poētās, poētārum, poētae (gen.); alūtārum, alūta,
alūtae (gen.), alūtās, alūtae (dat.), alūtam, alūtae (nom.), alūtīs.
4.º Traduzir para o latim: A mesa, as mesas, a mesa da escola, às mesas das
escolas, o poeta, ao poeta, a musa do poeta, aos poetas da história, a his-
tória, das histórias.

67
XIII. Puellae lūdunt

Tullia – Cēlia, vis lūdere?


Cēlia – Volō, Tullia. Pūpa mea est hīc. Pūpa tua ubi est, amīca?
Tullia – Est hīc et etiam cunulae pūpae.
Cēlia – Cur tuniculam pūpae nōn facis?
Tullia – Nunc faciam, Cēlia, avia lānam iam dedit.
Cēlia – Estne lāna caerulea?
Tullia – Cyanea, Cēlia. Audī, amīca, avia vocat.
Avia – Puellae, ubi estis?
Puellae – Hīc, avia, salvē.

VOCABVLARIVM
audī ouça faciam farei
avia a avô lāna a lã
caerulae azul lūdere brincar
cunulae o bercinho nunc agora
cyanea azulada pūpa a boneca
dedit deu salvē bom dia!
estis vocês estão vis queres
estne? é? vocat chama
etiam também volō quero

GRAMMATICA
Vocativo
Menina, você comprou a caneta?
Nesta oração, a palavra menina está indicando um chamamento ou in-
terpelação. A interpelação é posta em vocativo. O vocativo é o caso das ex-
clamações ou chamamentos.
Desinências do vocativo:
-a – para o singular
-ae – para o plural
Exemplo:
Puella, emisti pennam?
Menina, você comprou a caneta?
Puella, emistis pennam?
Meninas, vocês compraram a caneta?

68
VERBOS
Tomemos os infinitos verbais estudados no capítulo anterior: amāre,
delēre, legere, audīre.
Tiremos a terminação -re. Ficamos com amā-, delē-, leg-, audī. A estas
formas chamamos radicais.
Com estes radicais formamos os tempos presentes e imperfeitos, como
o presente do indicativo (veja-se capítulo XII – verbo), o imperfeito do indica-
tivo etc. Para formar-se o imperfeito do indicativo juntam-se aos radicais as
desinências seguintes conforme as conjugações:
1.ª, 2.ª e 3.ª 4.ª
-bam -ēbam
-bās -ēbās
-bat -ēbat
-bāmus -ēbāmus
-bātis -ēbātis
-bant -ēbant
EXEMPLA
1.ª 2.ª
amābam eu amava dēlēbam eu apagava
amābās você amava dēlēbās você apagava
amābat ele amava dēlēbat ele apagava
amābāmus nós amávamos dēlēbāmus nós apagávamos
amābātis vocês amavam dēlēbātis vocês apagavam
amābant eles amavam dēlēbant eles apagavam
3.ª 4.ª
legēbam eu amava audĭēbam eu apagava
legēbās você amava audĭēbās você apagava
legēbat ele amava audĭēbat ele apagava
legēbāmus nós amávamos audĭēbāmus nós apagávamos
legēbātis vocês amavam audĭēbātis vocês apagavam
legēbant eles amavam audĭēbant eles apagavam

69
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
As terminações latinas -ābam, -ēbam, -ĭēbam, -ībam jás estavam redu-
zidas a -aba, -eba, -iba, no latim vulgar, dando-se depois a redução final a
-aba, -ea, -ia a que corresponde muito bem, segundo Silveira Bueno (cf. 1967,
pp. 139-40), às de nosso idioma: amava, devia, lia, partia, observadas as re-
gulares alterações fonéticas10 como aba = ava.
Segundo Said Ali (1964, p. 184), o moderno aí adquiriu a inicial a por
influência de aqui e ali. Em escritores quinhentistas ainda se encontra o ad-
vérbio sem a vogal protética. Por essa época vogava o emprego do dito advér-
bio na expressão hi aver com significado idêntico ao francês y avoir, não sen-
do, contudo, obrigatório em português emprego da partícula. Essa forma hi
advém da latina hīc, conforme se pode depreender da lição de Coutinho
(1974, p. 265).

EXERCITIA
1.º VERSIO: Bom dia, meninas. Amiga, onde está o bercinho da boneca?
Túlia, a lã da túnica é azul, mas da estola é azulada.
2.º Sublinhar, na leitura, com um traço os vocativos e com dois os sujeitos.
3.º Declinar as palavras puella, anima e terra, no nom., gen., dat., acu., e voc.,
no singular e no plural.
4.º Conjugar o presente e o imperfeito do indicativo dos verbos laudāre,
habēre, scribere, partīre.

10
Aqui trata-se do metaplasmo por alteração, chamado sonorização, que consiste na
«permuta de um fonema surdo por um sonoro homorgânico» (COUTINHO, 1974, p.
143).
70
XIV. Arānea et musca
Herī, Cēlia et Tullia in scholā erant.
Sed iam ē scholā rediērunt.
Hodiē in villā aviae sunt. Puellae ē scholā cum ancillā redeunt.
Nunc ancilla in culīnā est.
Puellae in exĕdrā sunt
Cēlia – Vidēs arāneam, Tullia?
Tullia –Videō, Cēlia, arānea tēlam texit.
Cēlia – Arānea muscās astūtiā captat.
Tullia – Textūra arāneae tenua sed perfidiōsa est.
Cēlia – Muscae noxiae, sed arāneae nauseōsae sunt.

VOCABVLARIVM
ancilla a empregada musca a mosca
arānea a aranha nauseōsa repugnante
astūtia a astúcia noxia nociva
captāre apanhar, agarrar perfidiōsa pérfida
culīna a cozinha redeunt voltam
cum com sed mas
ē desde (de, do, da) tēla a teia
exedra a sala tenua tênue, fina
herī ontem texit tece
hodiē hoje textūra o tecido
iam já, agora vidēre ver
in em villa o sítio

GRAMMATICA
Ablativo
A menina estava na sala. A expressão na sala indica uma circunstân-
cia de lugar, é um adjunto adverbial ou complemento circunstancial.

71
Os adjuntos adverbiais têm o mesmo valor do advérbio e, como este,
exprimem diversas circunstâncias: de lugar, de tempo, de modo, de compa-
nhia, de causa etc.
Para conhecermos os adjuntos adverbiais faremos diversas perguntas:
como?, quando?, onde?, com quê?, por quê? etc. Esses adjuntos adverbiais
são expressos em ablativo, pois: o ablativo é o caso dos adjuntos adverbiais.
São desinências do ablativo:
-ā – para o singular
-īs – para o plural
O ablativo vem frequentemente regido de preposição: in, dē, cum etc.
Abaixo damos alguns adjuntos adverbiais, as perguntas com que os co-
nhecemos e o seu modo de emprego em latim:
Adj. Adverbial Pergunta Emprego
de lugar onde onde? Abl. com prep. in
Abl. com prep. ē, ex, ā,
de lugar de onde donde?
ab
de companhia com quem? Abl. com prep. cum
de tempo quando quando? Abl. sem prep.
de causa por quê? Abl. sem prep.
de instrumento com quê? Abl. sem prep.

EXEMPLOS
Nós voltamos do sítio da professora. – Redīmus ē villā magistrae.
Elas voltaram da escola. – Rediērunt ē scholā.
Passeamos com nossa amiga. – Cum amīca deambulāvimus.
A aranha pega as moscas com astúcia. – Arānea muscās astūtiā captat.

APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
Não passam os advérbios de nomes, substantivos e adjetivos, imobili-
zados, portanto, sem flexão. Esse processo herdou o português do latim, sain-
do os advérbios do acusativo em -im: partim, minūtim, raptim de pars, partis
(subst.); de raptus, minūtus (adj.); ou do ablativo em -ē, -ō: noctē, mentē,
72
sēdulō, amīcē, demō, hūmānē etc. Não se encontram, no português arcaico,
advérbios em -im ou -e segundo o modelo latino. Alguns, terminados em -e ou
-i, procedem de outras fontes como adrede, amiúde, quase, toste, eire, onde.
Destes adrede, amiúde, toste e eire recebeu a língua do provençal; somente
onde conserva uma lembrança latina unde assim como quase, lat. quasī. De
acordo com o exemplo do latim, muitos advérbios são composições de um ou
mais elementos: hōdiē (hōc diē), numquam (nōn ou nē+umquam), praesertim
(prae+sertim), tantōperē (tantō+operē), obviam (ob+viam), tivemos hoje,
ontem (hāc noctē), amanhã (ad+maniānam), assi (ad+sic), desy (des+ibi),
aposto (ad+positum), embora (em boa hora), bofé (boa fé).
O latim mentē, ablativo de mēns, mentis, continuou, em português, a
sua função de formar advérbios de modo. Seguindo ainda o latim, em que o
substantivo mente vinha separado do adjetivo: Obstinātā mentē perfer (Catul.
II,8), mentē ferant placidā (Ovid. Metam. 13-214), Bonā mentē factum (Quin-
til. Institutiōnēs Ōrāt. 5-10), encontramos nos Cancioneiros: «… par Deos
muy coitada mente vivo!» (Canc. Vat. v. 2395); «… sen contenda / da que me
faz tan longada / mente viver» (ibid., v. 7762). No final do período arcaico, p.
ex., em D. Duarte, aparecem os dois elementos fundidos num só vocábulo:
«Segundo a pratica que per mym passey, este acho boo regimento brevemente
scripto» (379); «E aquestas hom muyto sobejo em cada hũa, mas tanto de que
razoadamente avoonta de se contente ou deva contentar» (Id. ibid.).

EXERCITIA
1.º VERSIO: A menina estava na sala e a empregada na cozinha. Nós volta-
mos do sítio da professora com a professora.
2.º Sublinhar, na leitura, com um traço os adjuntos adverbiais e com dois os
objetos diretos.

73
3.º Traduzir para o latim: da avó, à avó, com a avó, a empregada, da emprega-
da, a empregada da avó, ó empregadas, no sítio, dos sítios, aos sítios, as
empregadas das avós, pela sala, nas salas, ó meninas, com a menina, da
menina, a boneca das meninas.

74
XV. Tullia S. D. Lesbiae
S. v. b. e. v.11 Iam trēs septimānās in scholā sum. Collēgās amīcās ha-
beō et magistrās sevērās sed bonās.
Magistra latīnae linguae12 mē laudat, quia valde studeō.
Bene māne, alūtam prehendō et in scholam eō13. Proximā septimānā14
tē vīsitābō.
Tum garrulābimus dē amīcīs, dē scholā, dē collēgīs nostrīs.
Valē.
VOCABVLARIVM
bene māne de manhãzinha lingua língua
collēga a colega mē me
eō (v. īre) vou prehendere pegar
garrulabimus falaremos proxima próxima
habēre ter septimāna semana
iam trēs septimānās há três semanas sevēra severa
in (+acu) para (com entrada) studēre estudar
latīna latina tum então
laudāre louvar, elogiar valde muito
valē adeus

GRAMÁTICA
REVISÃO
1. Funções dos casos:

O nominativo é o caso do sujeito e do predicativo do sujeito.


Retos

O acusativo é o caso do objeto direto e do predicativo do objeto.


O vocativo é o caso das exclamações ou chamamentos.

11
S. v. b. e. v. é a abreviatura de: sī valēs, bene est. Valeō – Se você está com saúde,
alegro-me com isso. Eu passo bem.
12
O adjetivo latino em geral precede o substantivo.
13
A circunstância de lugar para onde se expressa com in + acusativo.
14
Adjunto adverbial de tempo, expresso pelo ablativo.
75
Oblíquos
O genitivo é o caso do adjunto adnominal de posse.
O dativo é o caso do objeto indireto.
O ablativo é o caso dos adjuntos adverbiais.

2. Como se traduzem as palavras:


No nominativo – com os artigos o(s), a(s), um, uns, uma(s).
No acusativo – com os artigos o(s), a(s), um, uns, uma(s).
No vocativo – com ou sem a interjeição Ó!
No genitivo – com a preposição de e suas contrações.
No dativo – com a preposição a e suas contrações ou também para.
No ablativo – com as preposições com, por, em, sobre, de etc.

1.ª DECLINAÇÃO
Casos Singular Plural

Nom. rosa a rosa rosae as rosas


Retos

Acu. rosam a rosa rosās as rosas


Voc. rosa ó rosa! rosae ó rosas!
Oblíquos

Gen. rosae da rosa rosārum das rosas


Dat. rosae à rosa rosīs às rosas
Abl. rosā na rosa rosīs nas rosas

TEMA – Nas palavras variáveis, encontramos, comumente, dois elementos,


um invariável, chamado tema (radical + vogal temática), e um variável, cha-
mado desinência.
É pelo tema das palavras que conhecemos a que declinação elas perten-
cem. O tema da 1.ª declinação termina em -a.
Achamos o tema separando a terminação -rum do genitivo plural.
rosārum - rum = rosā
puellārum - rum - puellā
ADJETIVOS – Como o substantivo rosa, declinam-se muitos adjetivos do
gênero feminino: bona, acūta etc.
76
VERBOS
Futuro imperfeito do indicativo
Com os radicais que já sabemos encontrar (tiramos -re da terminação
do infinito), podemos formar o futuro imperfeito do indicativo. Basta acres-
centar aos radicais:
CONJUGAÇÕES
1.ª e 2.ª 3.ª e 4.ª
-bō -bĭmus -am -ēmus
-bis -bĭtis -ēs -ētis
-bit -bunt -et -ent

Exemplos
1.ª conjugação 2.ª conjugação
amābō eu amarei dēlēbō eu apagarei
amābis tu amarás dēlēbis tu apagarás
amābit ele amará dēlēbit ele apagará
amābĭmus nós amaremos dēlēbĭmus nós apagaremos
amābĭtis vós amareis dēlēbĭtis vós apagareis
amābunt eles amarão dēlēbunt eles apagarão
3.ª conjugação 4.ª conjugação
legam eu lerei audĭam eu ouvirei
legēs tu lerás audĭēs tu ouvirás
leget ele lerá audĭet ele ouvirá
legēmus nós leremos audĭēmus nós ouviremos
legētis vós lereis audĭētis vós ouvireis
legent eles lerão audĭent eles ouvirão

APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
Uma observação peculiar que se pode fazer referente à filologia neste
capítulo refere-se ao analitismo, traço característico e acentuadíssimo do latim
vulgar da Lusitânia. Por causa dessa característica as formas sintéticas foram
substituídas pelas analíticas, sobretudo, na formação da voz passiva, nas for-
mações adverbiais. Os tempos do infectum, que se mantinham sintéticos no
latim literário, passaram a analíticos como já o eram os do perfectum: amātus
77
sum não faz parte do perfectum e sim do infectum, em substituição ao sintético
amor (sou amado). Amātus sum, no latim literário, significava fui amado, mas
no latim vulgar passou a significar sou amado. Para que se mantivesse a dis-
tinção temporal foi necessário criar-se a forma amātus fuī (fui amado).
O futuro do indicativo terminado em -bō (p. ex.: amābō), «que já em
Cícero revela a tendência de desaparecer»15, suplantado por uma perífrase
como amāre habeō, não fez parte do latim lusitânico. Se por algum tempo os
dois elementos da perífrase ainda se mantinham separados, terminaram por
fundir-se no futuro românico amarei (amar+hei), servindo ainda de modelo ao
antigo condicional, hoje futuro do pretério (denominação hediondamente
oxímora!) que será criado: amaria (amar+ia)16.
Desaparecidas, como já se disse no parágrafo anterior, as formas do fu-
turo em -bō (amābō, debēbō), a língua vulgar latina substituiu-as pela perífra-
se amāre habeō, debēre habeō, fazendo de ambos os elementos um único
sintagma verbal em que amāre perdera sua acentuação própria, mercê das
alterações fonéticas do conjunto. O segundo elemento ficou reduzido a ei, ás,
á,emos, eis, an. O resultado foi amar-ei, amar-ás, amar-á, amar-emos, amar-
eis, amar-an. Nem sempre foi esta a disposição dos elementos, existindo até
ei amar, ás amar, á amar etc. bem como a intercalação da preposição de: ei
de amar, ás de amar etc. Essa composição se atesta ainda atualmente por
causa da mesóclise do pronome átono, em casos como amar-te-ei, amar-me-
ás etc. O mesmo processo empregado com os futuros em -bō estendeu-se
também aos futuros em -am (legam, dormiam): ler-ei,ler-ás, ler-á etc.17

15
SILVEIRA BUENO, 1967, p. 20.
16
Cf. SILVEIRA BUENO, 1967, p. 19-20.
17
Cf. SILVEIRA BUENO, 1967, p. 142-3.
78
EXERCITIA
1.º VERSIO: A menina vai para o sítio da avó. Na próxima semana visitarei
minhas amigas no sítio de minha avó. A mestra foi com as alunas para a
igreja.
2.º Traduzir para o latim: nós amávamos, eles liam, tu apagas, tu apagavas,
nós lemos, eles leem, nós líamos, eu li, ele ouve, tu ouves, ele ouvia, tu
ouvirás, nós leremos, ele apagará, nós amaremos, eles amarão.
3.º Conjugar no presente, imperfeito e futuro imperfeito do indicativo os ver-
bos venīre e habēre.
4.º Procurar no vocābulārium os advérbios que significam: não, agora, hoje,
ontem, amanhã, sempre, nunca, aqui, ali, onde, então, depois.

79
XVI. Mārcus, Titus et puellae
Herī Mārcus, cum Titō, puellās vīsitāvit. Puellae in hortō erant.
- Salvē Mārce, salvē Tite. Intrāte.
Mārcus et Titus intrant et consīdunt. Mārcus consobrīnus puellārum est.
Nigram comam, sed oculōs caeruleōs habet.
- Herī, Mārce, ubī fuistī? Interrogat Cēlia.
- In villā magistrī fuī. Scīsne,Cēlia, illīc sunt amarantī, hyacintī, tulīpae
et violae?

VOCABVLARIVM
herī ontem intrāre entrar
Mārcus, -ī Marco illīc aí
cum com nigra, -ae negra
Titus, -ī Tito habēre ter
vīsitāvit visitou fuistī estiveste
consobrīnus, -ī primo magister, -trī o professor
hortus,-ī horto, jardim amarantus, -ī o amaranto (flor)
salvē olá, bom dia etc. hyacinthus, -ī o jacinto (flor)
intrāte entrem tulīpa, -ae a tulipa (flor)
puer, -ī menino viŏla, -ae a violeta (flor)
GRAMÁTICA
SEGUNDA DECLINAÇÃO – SINGULAR
Liber puerī māgnus est. – O livro do menino é grande.
As palvras liber, puerī, māgnus, possuem desinências que ainda não conhe-
cemos. Elas pertencem à segunda declinação.
A segunda declinação é constituída de nomes que têm no genitivo singular a
desinência -ī.
Exemplos:
Trad. Nominativo Genitivo
o lobo lupus lupī
o menino puer puerī
o homem vir virī
a casa domum domī

80
O nominativo, conforme podemos observar, apresenta q u a t r o d e s i n ê n -
c i a s : -us, -er, -ir e -um.
As três primeiras pertencem a nomes masculinos e alguns femininos, e a últi-
ma pertence exclusivamente a nomes neutros.

NOMES EM -US, -ER, -IR


Os nomes em -us, -er e -ir possuem desinências diferentes apenas no nomi-
nativo e no vocativo:
sendo o Nom. -us -e para o Voc.
sendo o Nom. -er -er para o Voc.
sendo o Nom. -ir -ir para o Voc.

DESINÊNCIAS DO SINGULAR
Tipo Caso Desinência
Nominativo -us, -er, -ir
Casos
Vocativo -e, -er, -ir
retos
Acusativo -um
Genitivo -ī
Casos
Dativo -ō
oblíquos
Ablativo -ō

Exemplos:
Nom. lupus puer vir
Casos
Voc. lupe puer vir
retos
Acu. lupum puĕrum virum
Gen. lupī puĕrī virī
Casos
Dat. lupō puĕrō virō
oblíquos
Abl. lupō puĕrō virō

GÊNERO – Os nomes em -us, são masculinos ou femininos18; os nomes em


-er e -ir são todos masculinos; os nomes em -um são neutros.

18
Dos nomes em -us são femininos os nomes de árvores, países, cidades e ilhas.
81
VERBO ESSE (Recapitulação)
Indicativo
Presente Imperfeito Fut. Imperfeito Perfeito
sum eram erō fuī
es erās eris fuistī
est erat erit fuit
sumus erāmus erĭmus fuĭums
estis erātis erĭtis fuistis
sunt erant erunt fuērunt

APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
Herança do latim, cujos verbos de movimento exigiam acusativo com a
preposição in: eō in urbem (vou para a cidade), a língua arcaica assim também
construía os mesmos verbos, sintaxe proibida no português moderno, apesar
de várias reminissências ainda vivas em expressões e modismos literários.
Como sempre, tal sintaxe arcaica está viva na língua do Brasil. Todos nós, só
quando escrevemos ou quando policiamos a nós mesmos, é que evitamos tal
construção. Na fala diária da casa, da rua, do colégio, é sempre mais fácil
encontrar a construção com a preposição em com os verbos de movimento:
vou na cidade; vai no cinema?; veio em casa; foi na roça etc. Assim, encon-
tram-se, na língua arcaica, muitos exemplos dos quais damos só alguns: «En a
primeyra rua que cheguemos…» (Canc. Vat. 1154); «… lemos que desta ci-
dade foy Santo Agostinho natural e d’aquy se passou em Italia, honde apren-
deu as latinas létaras» (Duarte Pacheco, Esmeraldō dē sitū Orbis, 59); «Essas
novas levarei / a Alcmena, que torne em si» (Camões, Anfitrião).

EXERCITIA
1.º VERSIO – Ontem visitei meu amigo Marcos. Havia (erant) lá amarantos,
jacintos e violetas. O professor deu (dedit) um bom livro ao menino. O
primo de Marcos é amigo de Tito.

82
2.º Quais as palavras portuguesas que se originam de: avus, amīcus, animus,
campus, captīvus, discipulus hortus, servus, imperium, templum.
3.º Traduzir para o latim: o amigo (acu.), do amigo, com o amigo, no amigo,
ao amigo, do lobo, ao lobo, no lobo, ó lobo, o lobo (nom.)
4.º Traduzir: amābāmus, erātis dēlent, amat, amant, sunt, legēs, legis,
audĭunt, audĭet, audiēbat, erat, vidētis, vidēbis, vident, fuistī, audit, au-
diēbam, audĭō.

83
XVII. Fābula simiōrum
Simiī in palmīs altīs dormiunt. Dum pluit simiōrum filiī lacrĭmant et
clāmant. Tum simiī:
- Culpa nostra est. casam filiīs nōn fecĭmus. Sed crās faciēmus.
Cum autem illūcēscit, simiī casae19 oblīviscuntur.
Sed iterum pluit et simiī repĕtunt:
- Culpa nostra est, crās faciēmus.

VOCABVLARIVM
alta, -ae alta filĭus, -ĭī o filho
autem porém illūcescit amanhece
casa, -ae a cabana iterum de novo
clāmāre gritar lacrimāre chorar
crās amanhã nōn não
culpa, -ae a culpa nostra, -ae nossa
cum quando oblīviscuntur esquecem-se
dormīre dormir pluit chove
dum enquanto repetere repetir
fābula, -ae a história simius, -ĭī o macaco
facere fazer tum então
fecĭmus fizemos
GRAMMATICA
SEGUNDA DECLINAÇÃO – PLURAL
São desinências da segunda declinação plural:
Nom. -ī
Acu. -ōs
Voc. -ī
Gen. -ōrum
Dat. -īs
Abl. -īs

19
Casae está no genitivo regido pelo verbo oblīviscuntur: oblīviscuntur casae - es-
quecem-se da cabana.
84
Exemplos:
Casos Plural
Nom. lupī puĕrī virī

Retos
Acu. lupōs puĕrōs virōs
Voc. lupī puĕrī virī
Oblíq. Gen. lupōrum puĕrōrum virōrum
Dat. lupīs puĕrīs virīs
Abl. lupīs puĕrīs virīs
É possível agora declinar uma palavra da segunda declinação nos dois núme-
ros:
Casos Singular Plural
Nom. avus o avô avī os avós
Retos

Acu. avum o avô avōs os avós


Voc. avĕ ó avô avī ó avós
Gen. avī do avô avōrum dos avós
Oblíq.

Dat. avō para o avô avīs para os avós


Abl. avō pelo avô avīs pelos avós

TEMA: São da segunda declinação os nomes de tema em -o-. encontra-se o


tema separando -rum do genitivo plural: lupōrum – rum = lupō.
ADJETIVOS: No masculino, os adjetivos se declinam como lupus ou puĕr:
bonus, -ī (bom); pulcher, -chrī (bonito).
Recapitulação de vocabulário
Já estudamos nas lições anteriores os seguintes verbos (é bom memorizá-los):
ambulāre passear invītāre convidar
audīre ouvir laudāre louvar
commodāre emprestar legĕre ler
curāre cuidar, procurar lūdĕre brincar
dāre dar narrāre narrar
esse ser / estar obtempĕrāre obedecer
exclāmāre exclamar ponĕre pôr
facĕre fazer respondĕre responder
habēre ter studēre estudar
indŭĕre vestir vidēre ver
interrogāre perguntar vocāre chamar

85
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
O latim vulgar conservou muito da forma como o latim literário distri-
buía os adjetivos. «Os da primeira e segunda declinações tinham mais vitali-
dade, certamente por apresentarem com mais clareza a oposição de gênero,
atraindo alguns da terceira [de que falaremos a seguir], conforme tendência
antiga» (BASSETTO, 2010, p. 215). Serafim da Silva Neto (1977, pp. 59-98)
fará ver como os latins diferiam e eram, às vezes, antagônicos. O ilustre autor
da História do Latim Vulgar afirma sobre o latim provincial que «por ser lín-
gua aprendida por gente que originariamente falava outra, é que o latim se foi
simplificando cada vez mais» (id., p. 62). Essa tendência antiga ou simplifi-
cação a que se referiram os autores aduzidos acima não pode ser outra senão a
tendência de tornar o latim mais ágil e fácil, isto é, dentre as tantas simplifica-
ções temos a redução das declinações e do número de casos (vidē VIII.3.f).
sobre a redução da quantidade das declinações transcrevemos o que nos
transmitira Coutinho (1974, p. 32-3) quando trata das características do latim
vulgar; diz ele: «Caracteriza-se este latim: […] c) na MORFOLOGIA: 1) pela
redução das cinco declinações do latim clássico a três, proveniente da confu-
são da quinta com a primeira e da quarta com a segunda: *dia, -ae (diēs, -ēī),
glacia, ae (glaciēs, -ēī); fructus, -ī (fructus, -ūs), gemĭtus, -ī (gemĭtus, -ūs)».
Além disso, considera como uma característica desse latim vulgar a «redução
dos casos, tendo-se conformado, em todas as declinações, o vocativo com o
nominativo; o genitivo, dativo e ablativo, já desnecessários pelo emprego
mais frequente das preposições, com o acusativo: cum filiōs (cum filiīs), ex
litterās (ex litterīs), Saturnīnus cum discentēs (cum discentibus).» (Id., ibid.)

86
EXERCITIA
1.º VERSÃO: Os filhos dos macacos choram. Os macacos estavam na alta
palmeira. Os filhos do professor estavam no jardim.
2.º Agrupar os verbos acima de acordo com a conjugação a que pertencem.
3.º Dar a primeira pessoa do singular do presente, do imperfeito e do futuro
imperfeito do indicativo dos dez últimos verbos da lista acima.

87
XVIII. In pōmāriō

Sērō, Tullia, Cēlia et puĕrī, in pōmāriō dēambulant.


- Hīc, matūra pōma inveniēmus.
- Optime, Tullia, pirum, cerasumque20 valde gustō.
- Vidē, Mārce, māla et fīca optima sunt.
- Vērissime, Cēlia. Habētisne māla aurea?
- Habēmus, et etiam mōra, frāga21, prūnăque. Hīc dēcerpsimus pōma
quae in trīclīnio comedimus.
VOCABVLARIVM

cerasum, -ī a cereja optime muito bem


comedimus comemos optimum, -ī ótimo, o melhor
dēcerpsimus colhemos (perf. ind.) pirum, -ī a pera
fīcum, -ī o figo pōmārium, -ī o pomar
frāga, -ōrum o(s) morango(s) pōmum, -ī a fruta
gustāre gostar prūnum, -ī a ameixa
habētisne vocês têm? quae que (pl. neut.)
inveniēmus encontraremos sērō à tarde
mālum aureum laranja trīclīnium, -ĭī o triclínio
mālum, -ī a maçã vērissime realmente
matūrum, -ī maduro vidē veja
mōrum, -ī a amora

GRAMMATICA
NOMES NEUTROS DA SEGUNDA DECLINAÇÃO
Os nomes que têm o nominativo em -um e o genitivo em -ī são neutros
da segunda declinação.
Todos os nomes neutros têm os casos retos iguais (sendo, contudo, uma
forma para o singular e outra para o plural), isto é, o nominativo, o acusativo e

20
Cerasumque é a junção da palavra cerasum com a conjunção -que, equivalente a et,
e sempre colocada no fim da palavra: prūnăque = et prūna (e as ameixas).
21
Frāga, -ōrum (n.pl.) é uma pluralício, isto é, só existe sob a forma de plural.
88
o vocativo. Para os casos oblíquos, a saber, genitivo, dativo e ablativo, as de-
sinências são iguais às do masculino.

Casos Singular Plural


Nom donum o presente dona os presentes
Retos

Acu donum o presente dona os presentes


Voc donum ó presente! dona ó presentes!
Oblíquos

Gen donī do presente donōrum dos presentes


Dat donō ao presente donīs aos presentes
Abl donō pelo presente donīs pelos presentes

Poderíamos resumir assim:


Casos Singular Plural
Nom., Acu., Voc. donum dona
Gen. donī donōrum
Dat., Abl. donō donīs
ADJETIVOS – Os adjetivos concordam com o substantivo em gênero, nú-
mero e caso. Quando modificam um substantivo neutro declinam-se como
donum.

VERBO ESSE – Mais que perfeito e Futuro imperfeito

VERBO ESSE
Indicativo
Pret. Mais que perfeito Futuro perfeito
fuĕram eu fora fuĕrō eu terei sido
fuĕrās tu foras fuĕris tu terás sido
fuĕrat ele fora fuĕrit ele terá sido
fuĕrāmus nós fôramos fuĕrĭmus nós teremos sido
fuĕrātis vós fôreis fuĕrĭtis vós tereis sido
fuĕrant eles foram fuĕrint eles terão sido

89
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS

Já no latim vulgar desconheceu-se o gênero neutro que estava incorpo-


rado nos masculinos e nos femininos: templu = templo; folia = folha. Em
regra geral mantém as palavras do português antigo a mesma classificação de
gênero dos tempos clássicos e modernos. Todos os terminados em a são femi-
ninos: lua, água, folha, fama, fera, deusa, malca, águia, aveia, espada, baía,
erva etc. Somente aqueles cuja significação é masculina fazem exceção: pro-
feta, poeta, Papa etc. Outros mudaram de gênero: a fim, a praneta, a cometa,
a mar, a clima foram depois masculinos: o fim, o praneta (planeta), o cometa,
o mar, o clima.

Aprendemos de Coutinho (1974, pp. 32-3) que o latim vulgar caracteri-


za-se na morfologia «pela tendência a tornar masculinos os nomes neutros
quando no singular: vinus (vinum), fātus (fātum), templus (templum); e femi-
ninos, quando no plural: *folia (gen. foliae22), ligna (gen. lignae), fata (gen.
fatae)».

EXERCITIA
1.º VERSIO: Existem (sunt) muitas frutas no pomar. Colhemos (perf.) peras e
maçãs para nossos amigos. Os meninos sentam-se no jardim.
2.º Declinar juntamente: bonus puĕr, ara et templum, flābellum et annulus (o
leque e o anel).

22
Aqui deveria o autor ter dado a forma neutra equivalente, isto é, folium, cujo plural
folia fora confundido com a forma da primeira declinação. Apresenta ele a forma do
genitivo da primeira declinação, acreditando dar por justificada sua apresentação. O
mesmo faz para a palavra seguinte: ligna, cuja forma portuguesa lenha já denota uma
ideia pluralícia num verbete no singular.
90
XIX. In scholam imus
Māne, pistōrēs panem faciunt. Mittunt ad nostrās aedēs.
Ē lectō dēsilĭmus. Ōs et dentēs ēluĭmus. Vestem induĭmus. Calcĕōs ni-
grōs calceāmus.
Sartor vestem novam iam nōbīs portāvit. Parātī sumus.
Vocāmus aurīgam et in scholam imus. In vīcō, vidēmus, longē, pictōrēs
et structōrēs. Pastōrēs ovēs pascunt et agricolae agrōs suōs colunt. Mercātōrēs,
servī, venditōrēs, omnēs labōrant.
VOCABVLARIVM
aedēs, -ĭum a residência mittō, -ĕre enviar
ager, agrī o campo omnis, -e todo, tudo
calceō, -ĕāre calçar ovis, -is a ovelha
calceus, -ī o sapato panis, -is o pão
colō, ĕre cultivar pascō, -āre apascentar
dēns, dentis o dente pastor, -ōris o pastor
dēsil-ĭō, -ĕre saltar, sair pictor, -ōris o pintor
ēlŭō, -ĕre lavar pistor, -ōris o padeiro
faciō, -ĕre fazer portō, āre levar
imus (v. īre) vamos sartor, -ōris o alfaiate
labōrō, -āre trabalhar structor, -ōris o pedreiro
lectus, -ī a cama venditor, -ōris o vendedor
mercātor, -ōris o negociante vīcus, -ī a rua
GRAMMATICA
TERCEIRA DECLINAÇÃO
A terceira declinação compreende nomes masculinos, femininos e neu-
tros, que fazem o genitivo singular em -is.
Dividem-se os nomes dessa terceira declinação em dois grupos:
a) Parissílabos. São os nomes que têm o mesmo número de sílabas
no nominativo e no genitivo singular.
a ave a frota
Nom. avis (2 sílabas) classis
Gen. avis (2 sílabas) classis

91
b) Imparissílabos. São os nomes que têm menos sílabas no nomina-
tivo do que no genitivo singular.
dor soldado caminho, viagem
Nom. dolor (2 sílab.) mīlĕs (2 síl.) iter (2 síl.)
Gen. dolōris (3 síl.) mīlĭtis (3 síl.) itĭnĕris (4 síl.)

DECLINAÇÃO
Os nomes parissílabos e imparissílabos declinam-se com as mesmas de-
sinências. Excetua-se apenas o genitivo plural, caso em que os parissílabos
tomam a desinência -ĭum e os imparissílabos a desinência -um.
DESINÊNCIAS
Nom. várias -ēs
Acu. -em -ēs
Voc. igual ao Nom. -ēs
Gen. -is -(ĭ)um
Dat. -ī -ĭbus
Abl. -ē (-ī *) -ĭbus
* usada só quando um adjetivo verbal tem valor de verbo.

DECLINAÇÃO DE UM NOME PARISSÍLABO


Nom. avis avēs
Acu. avem avēs
Voc. avis avēs
Gen. avis avĭum
Dat. avī avĭbus
Abl. avē avĭbus

DECLINAÇÃO DE UM NOME IMPARISSÍLABO


Nom. mīles mīlĭtēs
Acu. mīlĭtem mīlĭtēs
Voc. mīles mīlĭtēs
Gen. mīlĭtis mīlĭtum
Dat. mīlĭtī mīlĭtĭbus
Abl. mīlĭtē mīlĭtĭbus

92
N.B.: Para efetuar a declinação, suprime-se a desinência do genitivo
singular (que dá o radical) e, à parte restante, ajuntam-se as desinências dos
outros casos.
Apesar de imparissílabos, têm o genitivo plural em -ĭum os nomes cujo
radical termine em duas consoantes. Lembre-se de que o radical se descobre
retirando a desinência ao genitivo singular, como já se afirmou acima.

Nom. Gen. sing. Gen. pl.


cor (coração) cordis cordĭum
urbs (cidade) urbis urbĭum

Tema – São da terceira declinação os nomes que têm o tema em conso-


ante ou -i.
Para encontrar-se o tema, suprime-se a terminação do genitivo plural
(-um na 1.ª, 2.ª e 5.ª declinações; -um na 3.ª e 4.ª).
regum - um = reg
mīlĭtum - um =mīlĭt
avĭum - um = avĭ
mensĭum - um = mensĭ

ADJETIVOS
Muitos adjetivos possuem as mesmas desinências dos nomes parissílabos da
terceira declinação:
fēlix, fēlīcis = feliz
prūdēns, prūdentis = prudente
sapiēns, sapientis = sábio

APONTAMENTOS FILOLÓGICOS

Considera-se adjetivo a palavra que atribui qualidade, determinação e


especificação ao substantivo. Na perspectiva da nomenclatura grega usada, o
substantivo indica algo que tenha substância, o ser de qualquer espécie que
seja, ao passo que o adjetivo designa as qualidades, determinações ou especi-

93
ficações, isto é, os acidentes, semanticamente atribuíveis ao ser. Noções em-
prestadas da filosofia aristotélica. É sobremaneira interessante a observação
que faz Bassetto (2010, pp. 214-5) a respeito dos determinates, considerando-
-se alguns dos pronomes com os adjetivos ipsō factō, in litterīs:

Uma qualidade pode ser mais ou menos intensa, decorrendo daí a pro-
priedade exclusiva dos adjetivos de permitirem graus, caraterística
não encontrada em outros determinantes, como os demonstrativos,
possessivos, indefinidos etc., que, por isso, não devem ser considerados
adjetivos. Esses característicos têm em comum com o adjetivo apen-
sa a característica de serem geralmente “acrescidos” a um substan-
tivo, mas são semântica e funcionalmente diferentes; também os artigos
“acompanham” os substantivos, mas em parte alguma são considerados
adjetivos. (Grifos nossos.)
Como mais adiante se verá (cap. XXI-XXII), no latim literário os adje-
tivos seguem só as três primeiras declinações.

EXERCITIA
1.º VERSIO: O padeiro vende pão aos pastores. Os pastores aprascentam suas
ovelhas. O alfaiate fez uma roupa nova para meu pai (pater, -tris)
2.º Declinar: hom-ō, -ĭnis; pāstor, -ōris; pāstor et agricola.
3.º Traduzir: pistōribus, pistōrē, pistōrem, pistōr, pāx (a paz), pācēs; pācem,
pācī, rex (o rei), regum regibus regēs, regī, regē, regēs (acu.), regēs (voc.).
4.º Traduzir para o latim: eu amo, tu amavas, ele amará, nós amamos, vós
amáveis, eles amarão; tu lês, vós líeis, eu lerei, nós líamos, ele lê, nós le-
remos; nós ouvimos, tu ouvirás, eles ouvem, ele ouve.

94
XX. Dēambulātiō

Nōnnumquam praeceptor et discipulī in campō dēambulant. In ripā


fluminis sunt. Alta cacūmĭna montĭum vident. Apud flumen nemus est. In
nemŏre varia animālĭum genera venāmur. Praeceptor necāvit multa animālĭa.
Sagittā animālium crura, capĭta, et corda vulnerāvit.

VOCABVLARIVM
animāl, -ālis s.n. o animal multus, -a,-um adj. muito
apud prep. junto de nemus, -ŏris s.n. o bosque
cacūmen, -mĭnis s.n. o cume nōnnumquam adv. às vezes
campus, -ī s.m. o campo praeceptor, -ōris s.m. o mestre
caput, -pĭtis s.n. a cabeça ripa, -ae s.f. a margem
cor, cordis s.n. o coração sagitta, -ae s.f. a flecha
crūs, -ris s.n. a perna varius, -a, -um adj. vário
dēabulātiō, -ōnis s.f. o passeio venāmur verbo caçamos
flumen, -mĭnis s.n. o rio videō, -ēs, vidī, vīsum, -ēre ver
genus, -ĕris s.n. a espécie vulnerāvī verbo feri
mōns, -ntis s.m o monte
GRAMMATICA
TERCEIRA DECLINAÇÃO NEUTRA

Os nomes neutros possuem três casos iguais, o nominativo, o acusativo


e o vocativo. Nos demais casos declinam-se como os nomes masculinos.
Singular Plural
Nom., Acu., Voc. várias -a
Gen. -is -um
Dat. -ī -ĭbus
Abl. -ē -ĭbus
Exemplo:
Singular Plural
Nom., Acu., Voc. crūs crura
Gen. cruris crurum
Dat. crurī crurĭbus
Abl. crurē crurĭbus
95
Há certos neutros da terceira declinação que não se declinam exatamen-
te como crūs. São os que têm o nominativo em -e, -al, -ar.
Diferem nos seguintes casos:
Singular Plural
Nom., Acu., Voc. -e, -al, -ar -ĭa
Gen. -is -ĭum
Dat. -ī -ĭbus
Abl. -ī -ĭbus
Exemplo:
mar Singular Plural
Nom., Acu., Voc. mare marĭa
Gen. maris marĭum
Dat., Abl.. marī marĭbus

animal Singular Plural


Nom., Acu., Voc. anĭmal animālĭa
Gen. animālis animālĭum
Dat., Abl.. animālī animālĭbus

espora Singular Plural


Nom., Acu., Voc. calcar calcārĭa
Gen. calcāris calcārĭum
Dat., Abl.. calcārī calcārĭbus
VERBO – Presente do Subjuntivo
Para se formar o presente do subjuntivo acrescentam-se ao radical, que
se tira do infinitivo (como se viu no capítulo XII):
1.ª conj. 2.ª, 3.ª e 4.ª conj.
-em -ēmus -am -āmus
-ēs -ētis -ās -ātis
-et -ent -at ant
amem (que eu ame) dēlĕam (que eu apague)
amēs (que tu ames) dēlĕās (que tu apagues)
amet (que ele ame) dēlĕat (que ele apague)
amēmus (que nós amemos) dēlĕāmus (que nós apaguemos)
amētis (que vós ameis) dēlĕātis (que vós apagueis)
ament (que eles amem) dēlĕant (que eles apaguem)

96
legam (que eu leia) audĭam (que eu ouça)
legās (que tu leias) audĭās (que tu ouças)
legat (que ele leia) audĭat (que ele ouça)
legāmus (que nós leiamos) audĭāmus (que nós ouçamos)
legātis (que vós leiais) audĭātis (que vós ouçais)
legant (que eles leiam) audĭant (que eles ouçam)

APONTAMENTOS FILOLÓGICOS

O presente do subjuntivo deriva-se da primeira pessoa do presente do


indicativo latino: cantō > cantem; delĕō > delĕam; legō > legam; dormĭō >
dormĭam. A língua falada manteve essas formas com poucas alterações:
*cante, cantes, cante(t), *cantemos, *cantetes, canten(t); *delya, *delyas,
*delya(t), *delyamos, *delyates, delyan(t); *lega, *legas, *lega(t), *legamos,
*legates, legan(t); *dorma(m), *dormas, dorma(t), *dormamos, *dormates,
*dorman(t), conforme aprendemos de BASSETTO (2010, p. 291).

Segundo Coutinho (1974, p. 275), o presente do subjuntivo teve um


novo emprego, pois que «além do emprego próprio, forneceu ao imperativo
positivo as 3.as pessoas, e todas as pessoas ao negativo».

EXERCITIA
1.ª VERSIO: Os animais corriam (currēbant) no bosque. O caçador (venātor,
-ōris) feriu a cabeça e as pernas do leão. A margem do rio é alta.
2.ª Declinar: homō et animal, silva et nemor.
3.ª Traduzir para o latim: o animal, dos animais, os animais (acu.), as pernas
dos animais, na cabeça do animal, ó animal, o homem (acu.), ó homem, do
homem, pelos homens, com o homem, dos homens, ao homem.
4.ª Traduza: crūs, crure, cruribus, crura animālĭum, cruribus (dat.), crūs
(acu.), avēs (voc.), avēs (nom.), avī, avĭbus, caput, avĭum, crura avĭum.

97
XXI. Iūlia et Mārcus

Iūlia et Mārcus frātrēs sunt. Puella comam habet flāvam, caeruleōs


oculōs. Frōns dēlicāta, nāsusque parvus est.
Labia Iūliae purpurea sunt et genae roseae.
Mārcus, puer strenuus et labōriōsus, Iūliae frāter est. Rōbustus, caput,
truncus et crura bene figūrāta sunt. Ōs habet parvum, frontem amplam,
brāchĭa et crura musculōsa, lātās scapulās.

VOCABVLARIVM

brāchĭum, -ĭī s.n. o braço labōriōsus, -a, -um adj. trabalhador


caeruleus, -a, -um adj. azul musculōsus, -a, -um adj. musculoso
coma, -ae s.f. a cabeleira nāsus, -ī s.m. o nariz
crūs, cruris s.n. a perna oculus, -ī s.m. o olho
dēlicātus, -a, -um adj. delicado parvus, -a, -um adj. pequeno
figūrātus, -a, -um adj. proporcionado purpureus, -a, -um adj. vermelho
flāvus, -a, -um adj. louro rōbustus, -a, -um adj. robusto
frāter, -tris s.m. irmão roseus, -a, -um adj. rosado
frōns, -ntis s.f. a fronte scapulae, -ārum s.f.p. as espáduas
gena, ae s.f. a face strenuus, -a, -um adj. forte, ativo
labĭum, -ĭī s.n. o lábio truncus, -ī s.m. o tronco

GRAMMATICA
ADJETIVOS: 1.ª Classe e Possessivos
Nas três declinações que já foram estudadas, foi dito que havia adjeti-
vos que tinham as mesmas desinências dos substantivos:
bona, -ae (boa) – declina-se como rosa, -ae (cap. XV)
bonus, -ī (bom) – declina-se como lupus, -ī (cap. XVI-XVII)
bonum, -ī (bom) – declina-se como donum (cap. XVIII)
pulcher, -rī (bonito) – declina-se como puer, -rī (cap. XVI-XVII)
fēlix, -ĭcis (feliz) – declina-se como avis, -is (cap. XIX)
Ao tratarmos, pois, dos adjetivos, iremos apenas recapitular as desinên-
cias aprendidas até agora.
98
Dividem-se os adjetivos em duas classes:
1.ª classe – compreende os adjetivos que tomam as desinências da pri-
meira e segunda declinações.
2.ª classe – compreende os adjetivos que tomam as desinências da ter-
ceira declinação.
ADJETIVOS DE 1.ª CLASSE
Os adjetivos de 1.ª classe possuem três gêneros: masculino, feminino e
neutro.
Declinam-se:
a) Se masculinos, seguem os masculinos da s e g u n d a d e c l i n a -
ç ã o em -us ou -er: bonus, -ī; pulcher, -chrī.
b) Se femininos, seguem a p r i m e i r a d e c l i n a ç ã o : bona, -ae;
pulchra, -ae.
c) Se neutros, seguem os neutros da s e g u n d a d e c l i n a ç ã o : bo-
num, -ī; pulchrum, -chrī.
DECLINAÇÃO DE Bonus, -a, -um
Singular
Masculino Feminino Neutro
Nom. bonus bona bonum
Acu. bonum bonam bonum
Voc. bone bona bonum
Gen. bonī bonae bonī
Dat. bonō bonae bonō
Abl. bonō bonā bonō

Plural
Masculino Feminino Neutro
Nom. bonī bonae bona
Acu. bonōs bonās bona
Voc. bonī bonae bona
Gen. bonōrum bonārum bonōrum
Dat. bonīs bonīs bonīs
Abl. bonīs bonīs bonīs
N.B.: Os dicionários apresentam os adjetivos, indicando-lhes as desinências dos três
gêneros: māgnus, -a, -um; pulcher, -chra, -chrum.
Os adjetivos com nominativo em -er fazem o vocativo masculino também em -er.

99
ADJETIVOS POSSESSIVOS
Os adjetivos possessivos são:
meus, -a, -um noster, -tra, -trum
tuus, -a, -um vester, -tra, -trum
suus, -a, -um
Declinam-se como os adjetivos de primeira classe, notando-se, apenas,
que o vocativo de meus é mī, em lugar de *mee.

VERBO – Imperfeito do Subjuntivo


Tomem-se os verbos amāre, dēlēre, legĕre, audīre. Seus radicais ou
temas são: amā, dēlē, leg, audī.
São chamados de t e m a s d o p r e s e n t e , pois que se formam os
tempos presentes e imperfeitos.
Para formar-se o i m p e r f e i t o d o s u b j u n t i v o , toma-se o tema
do presente e acrescentam-se:
-rem -rēmus
-rēs -rētis
-ret -rent

amārem (se eu amasse) dēlērem (se eu apagasse)


amārēs (se tu amasses) dēlērēs (se tu apagasses)
amāret (se ele amasse) dēlēret (se ele apagasse)
amārēmus (se nós amássemos) dēlērēmus (se nós apagássemos)
amārētis (se vós amásseis) dēlērētis (se vós apagásseis)
amārent (se eles amassem) dēlērent (se eles apagassem)
legĕrem (se eu lesse) audīrem (se eu ouvisse)
legĕrēs (se tu lesses) audīrēs (se tu ouvisses)
legĕret (se ele lesse) audīret (se ele ouvisse)
legĕrēmus (se nós lêssemos) audīrēmus (se nós ouvíssemos)
legĕrētis (se vós lêsseis) audīrētis (se vós ouvísseis)
legĕrent (se eles lessem) audīrent (se eles ouvissem)

APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
O latim literário dispunha dos possessivos meus, tuus, noster e suus, es-
te último usado só como reflexivo e sem indicar o número do possuidor, por-
100
quanto fizesse referência a um sujeito que já fora antes expresso; quando não
fosse empregado como reflexivo, usava-se ēius ou eōrum, eārum (dele, deles,
delas), «embora esse uso nem sempre tenha sido observado» (BASSETTO,
2010, p. 247). Entanto, nas línguas românicas, suus perdeu seu carácter refle-
xivo, tornando-se o possessivo da terceira pessoa, fosse singular ou plural. «O
latim vulgar distinguia formas tônicas e formas átonas, principalmente as com
hiato (meus, tuus, suus).» (BASSETTO, 2010, p. 247) Tal distinção, contudo,
permaneceu somente no castelhano, no provençal e no francês, tendo sido
completamente extinta nas demais línguas românicas. As formas átonas são
sempre antepostas ao nome, sem denotar qualquer ênfase. As formas tônicas,
pelo contrário, empregam-se substituindo o substantivo, em função predicati-
va (cast. Esta casa es la mía), nos casos de ênfase (¡No es culpa mía!), nos
casos em que o substantivo é precedido de um determinante, artigo definido
ou numeral (este hermano mío; un libro mío) e nos vocativos (¡Madre mía!).
O português arcaico conheceu para os possessivos duas séries, uma
mais completa que outra, que tiram sua origem da posição proclítica relativa
aos substantivos. As primeiras, sem acentuação própria, átonas, portanto, fo-
ram reduzidas a monossílabos: ma, ta, sa; as segundas, conservando sua acen-
tuação, se mantiveram completas: minha, tua, sua. Tais diferenciações saem
do latim vulgar como pontifica Grandgent (§ 387).
A origem de meu é normal; a de teu, seu é analógica ao primeiro; há
muita probabilidade de que já no latim vulgar se empregassem tais formas
analógicas teum, seum, de maneira que a formação analógica não se passou
em português, mas no latim vulgar. O latim mea, tua, sua em próclise, per-
dendo sua acentuação própria, determinou a absorção de e, a, donde as formas
portuguesas, ou melhor, românicas também proclíticas ma, ta, sa. A língua
arcaica conheceu e foi de largo emprego nos Cancioneiros mha com o h re-
101
presentando i. As formas minha, tua, sua, originárias de meam, tuam, suam
em ênclise, por causa da acentuação conservada, foram as únicas a passar para
a língua moderna. Assim, deve-se distinguir entre mea māter (mha madre, ma
madre) e māter mea (madre mia, madre minha). A suposição de que o latim
vulgar conhecesse as formas teum, seum está baseada na epigrafia onde se
encontra o exemplo cum marito seo (NUNES, 1945, p. 241 - nota). Ao lado
de meu, teu existiu também mou, tou, sou; nas Gálias já existia sous por sus e
tous por tuus (Cf. Grandgent §387). Nos documentos medievais sou é a mais
corrente:
«Que forçad’og(e) e sen sabor
eno mundo vivendo vou,
ca nunca pudi aver sabor
de min nem d’al, des que foi sou… (Cand. d’Ajuda – Cantiga 320)23
Nos tempos dos trovadores só se usava sou e não muito raramente, co-
mo nos afirma Michaëlis em seu Glossário do Cancioneiro da Ajuda (1922, p.
89). Nas Cantigas também é sou a única forma que aparece, o que leva a su-
por que as demais estavam já mortas na língua. O latino noster deu origem a
voster (Cf. Grandgent, §199 e §387) que suplantou a vester e daí:
nostro / nostrum nostra / nostram
vostro / vostrum vostra / vostram

Essas formas são mais teóricas, pois somente nostro ocorre na expres-
são nostro Senhor, nostro Deos, de uso eclesiástico. Os empregos cotidianos
eram nosso, nossa, vosso, vossa. Mas como se originaram? Supõe-se que já
existissem no latim vulgar24. Mas há quem prefira explicar nosso, vosso como
tendo sido resultados fonéticos do próprio português, dando-se por assimila-
ção do t ao s.

23
MICHAËLIS DE VASCONCELOS, 1904-I, p. 645.
24
«Comme possessif de la puralité, des formes vulgaires contractes *nossum,
*vossum ont du circuler de bonne heure en Ibérie…» (BOURCIEZ, 1946, § 372c)
102
EXERCITIA
1.ª VERSIO: Os cabelos negros de Júlia são bonitos. Os agricultores robustos
têm braços e pernas musculosos. Tens lábios e faces rosadas.
2.ª Delcinar: bonus vir; alta pĭrus; pulchrum templum; miser homō.
3.ª Traduzir: habērem, habĕō, habēbam, habĕās, habēbĭmus, habent,
habēmus, habĕāmus, habēbās, habĕātis, habet, hebēbunt.

103
XXII. Schola Orbiliī
Mārcus discipulus obēdĭēns est. Attentē ēloquentĭa verba magistrī Or-
bĭlĭī audit. Orbilius puĕrōs dīlĭgentēs laudat.
Discipulōs, autem, indīligentēs, pigrōs et negligentēs castīgat. Et etĭam
puerōs insolentēs. Multōs cōndiscipulōs Mārcus habet. Quīntus est sagāx,
habĭlis et ingeniōsus. Lūcius, puer dīves sed līberālis est. Cāiō, fidēlī amīcō et
affābĭlī, donum prētiōsum Mārcus dedit.
VOCABVLARIVM
affābĭlis, -e adj. afável habĭlis, -e adj. hábil
attentē adv. atentamente indīligēns, -entis adj. descuidado
audĭō, -īre v. ouvir ingeniōsus, -a, -um adj. espirituoso
Cāius, -ĭī s.m. Caio insolēns, -entis adj. atrevido
castīgō, -āre v. castigar laudō, -āre v. louvar, elogiar
cōndiscipulus, -ī s.m. o colega līberālis, -e adj. benévolo
dīligēns, -entis adj. diligente negligēns, -entis adj. negligente
dīves, -vĭtis adj. generoso obēdĭēns, -entis adj. obediente
donum,-ī s.n. presente Orbilius, -ĭī s.m Orbílio
ēloquēns, -entis adj. eloquente piger, -gra, -grum adj. preguiçoso
etĭam conj. também prētiōsus, -a, -um adj. valioso
fidēlis, -e adj. fiel sagāx, -ācis adj. sagaz
verbum, -ī s.n. a palavra

GRAMMATICA
ADJETIVOS: 2.ª Classe
Os adjetivos de 2.ª classe são os que seguem a 3.ª declinação. Possuem
os três gêneros: masculino, feminino e neutro, nem sempre, entanto, com for-
mas próprias para cada gênero. Por conta disso, são assim divididos:
a) Adjetivos triformes, isto é, adjetivos que têm três formas, uma pa-
ra cada gênero: acer (m.), acris (f.) acre (n.) – agudo.
b) Adjetivos biformes, a saber, aqueles que têm somente duas formas,
uma para masculino e feminino e outra para o neutro: omnis (m. f.),
omne (n.) – todo, tudo; dulcis (m. f.), dulce (n.) – doce.
c) Adjetivos uniformes são aqueles adjetivos que possuem somente
uma forma para os três gêneros: fēlix (m. f. n.) – feliz; atrōx (m. f.
104
n.) – atroz. Que, no entanto, tomará as formas para o masculino e
feminino e outra para o neutro.

DECLINAÇÃO DE UM ADJETIVO TRIFORME


Signular Plural
Masc. Fem. Neut. Masc. Fem. Neut.
Nom. acer acris acre acrēs acrēs acrĭa
Acu. acrem acrem acre acrēs acrēs acrĭa
Voc. acer acris acre acrēs acrēs acrĭa
Gen. acris acris acris acrĭum acrĭum acrĭum
Dat. acrī acrī acrī acrĭbus acrĭbus acrĭbus
Abl. acrī acrī acrī acrĭbus acrĭbus acrĭbus
DECLINAÇÃO DE UM ADJETIVO BIFORME
Singular Plural
masc./ fem. neutro masc./ fem. neutro
Nom. omnis omne omnēs omnĭa
Acu. omnem omne omnēs omnĭa
Voc. omnis omne omnēs omnĭa
Gen. omnis omnis omnĭum omnĭum
Dat. omnī omnī omnĭbus omnĭbus
Abl. omnī omnī omnĭbus omnĭbus
DECLINAÇÃO DE UM ADJETIVO UNIFORME
Singular Plural
masc./ fem. neutro masc./ fem. neutro
Nom. fēlīx fēlīx fēlīcēs fēlīcĭa
Acu. fēlīcem fēlīx fēlīcēs fēlīcĭa
Voc. fēlīx fēlīx fēlīcēs fēlīcĭa
Gen. fēlīcis fēlīcis fēlīcĭum fēlīcĭum
Dat. fēlīcī fēlīcī fēlīcĭbus fēlīcĭbus
Abl. fēlīcī fēlīcī fēlīcĭbus fēlīcĭbus
N.B. Nos adjetivos deve-se notar as seguintes desinências:
-ī no ablativo singular
-ĭum no genitivo plural
-ĭa nos casos retos (Nom., Acu. e Voc.) plural dos neutros.

105
VERBO – Imperativo
amā ama dēlē apaga
amāte amai dēlēte apagai
amātō ama (futuro) dēlētō apaga (futuro)
amātōte amai (futuro) dēlētōte apagai (futuro)
amantō amem dēlentō apaguem
lege lê audī ouve
legĭte lede audīte ouvi
legĭtō lê (futuro) audītō ouve (futuro)
legĭtōte lede (futuro) audītōte ouvi (futuro)
leguntō leiam audiunto ouçam
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
«Na terceira declinação, havia treze adjetivos triformes (acer, acris,
acre); a maioria, porém, era biforme (viridis, masc. e fem., e viride, neut.) e os
terminados em consoante eram uniformes (anceps, audax, ferox, locuples,
prūdēns, sapiēns, simplex).» (BASSETTO, 2010, p. 215, grifos nossos.) O
latim vulgar conservou muito da forma como o latim literário distribuía os
adjetivos. O latim vulgar soía usar adjetivos da terceira classe como se fossem
adjetivos de segunda, fazendo imbēcillus em vez de imbēcillis, prōclīvus por
prōclīvis. Nas línguas românicas, as flexões dos adjetivos têm desinências
semelhantes às do substantivo, isto é, os que provieram das primeira duas
declinações, conservam -o para o masculino e -a para o feminino; aqueles
cuja origem reside na terceira declinação terminarão em -e ou consoante tendo
sofrido apócope25 do -e.
O imperativo é modo verbal mais literário que usual. O latim vulgar re-
duziu todas as pessoas do clássico a duas: a segunda do singular e a segunda
do plural: amā, amāte; debē, debēte; venī, venīte etc. as demais pessoas são
supletivas, tiradas do presente do subjuntivo. A correspondência é esta:

25
Apócope é, segundo Coutinho (1974, p. 148), um metaplasmo por subtração; diz
ele: «Apócope é a queda de fonema no fim do vocábulo». Isso foi muito comum es-
pecialmente no fim dos verbos das terceiras pessoas.
106
Latim Português
amā ama
amāte amade (amai)
debē deve
debēte devede (devei)
venī vem
venīte vinde

O latim clássico fazia o imperativo de facere, dicere, ducere = fac, dic,


duc sem o e final. Essas formas apocopadas passaram para o português arcai-
co di, fa, adu de adducere já que o simples ducere não se transmitiu. Ex.: «…
diss’a pastor, di verdade, papagay, por caridade» (Canc. Vaticana 137). As
formas plenas face, dice, duce que aparecem no latim clássico, pari passū
com as apocopadas acima aduzidas, deram em português faz, diz, aduz que
vivem ainda hoje na língua familiar. Assim: Queira assentar-se, faz favor!
Diz-me a verdade, não me enganes! Embora na língua escrita, nas gramáticas
se encontrem as formas: faze, dize, aduze.

EXERCITIA
1.ª VERSIO: Os meninos obedientes e aplicados são felizes. Orbílio castigava
os alunos negligentes. Sois generosos e afáveis.
2.ª Declinar: puella intelligēns, puer nōbilis, anĭmal acre.

107
XXIII. Patruus Mārcī
Hodiē, patrŭus Mārcī, dux exercĭtus nostrī, advēnit.
Semper laetus, dūxit puerōs in Campum Mārtĭum. Puerī ab ortū usque
ad occāsum sōlis dēambulāvērunt.
Multa dē exercĭtū narrāvit: Duō sunt conŭa exercitūs, dextrum cornū et
sinistrum. Cum bellum gerēmus et cornŭum sōnus dat signum, peditātus cur-
sum accelĕrat, passū celĕrī, et impĕtum facit. Equitātus ā lātĕre hostēs incūr-
ret.
VOCABVLARIVM
ab, ā prep. + abl. de, desde hostis, is s.m. o inimigo
accelerō, -āre v. apressar impetus, -ūs s.m. o ataque
advenĭō, -īre v. chegar incurrō, -ĕre v. correr para, atirrar-se
bellum gerēmus combatemos laetus, -a, -um adj. alegre
bellum, -ī s.n. a guerra lātus, -ĕris s.n. o lado
cornū, -ūs s.n. a ala; a trombeta occāsus, -ūs ocaso, pôr do sol
cursus, -ūs s.m. a corrida ortus, -ūs s.m. o nascimento
dexter, -tra, -trum direito passus, -ūs s.m. o passo
dūcō, -ĕre v. conduzir patruus, -ī s.m tio (paterno)
duō adj. dois peditātus, -ūs s.m. a infantaria
dux, ducis s.m. o general sinister, -tra, -trum esquerdo
equitātus, -ūs s.m. a cavalaria sōl, sōlis s.m. o sol
exercitus, -ūs s.m. o exército sōnus, -ī s.m. o som
facĭō, -ĕre v. fazer

GRAMMATICA
QUARTA DECLINAÇÃO
Pertencem à quarta declinação nomes masculinos, femininos e neutros
que fazem o genitivo singular em -ūs:
fructus, -ūs (m.) o fruto
manus, -ūs (f.) a mão
genū, -ūs (n.) o joelho

108
DESINÊNCIAS
Singular Plural
Nom. -us -ūs
Acu. -um -ūs
Voc. -us -ūs
Gen. -ūs -ŭum
Dat. -ŭī -ĭbus
Abl. -ū -ĭbus
Exemplo:
Singular Plural
Nom. manus manūs
Acu. manum manūs
Voc. manus manūs
Gen. manūs manŭum
Dat. manŭī manĭbus
Abl. manū manĭbus

NOMES NEUTROS
Na quarta declinação, são neutras apenas as palavras: cornū (chifre,
ala), verū (espeto), pecū (gado) e genū (joelho), que se declinam da seguinte
forma.
Singular Plural
Nom., Acu., Voc. genū genŭa
Gen. genūs genŭum
Dat. genŭī genĭbus
Abl. genū genĭbus
GÊNERO: Os nomes da quarta declinação em -us, em geral, são mas-
culinos. São femininos, contudo: acus (agulha), anus (velha), colus (roca),
domus (casa), manus (mão), nurus (nora), porticus (pórtico), socrus (sogra),
tribus (tribo) e idus (idos: 15.º dias dos meses de março, maio, julho e outubro
e o 13.º dos demais meses).
São neutros os que têm o nominativo em -ū, como já se viu mais acima
neste capítulo.

109
VERBO ESSE - Subjuntivo
sim que eu seja essem se eu fosse
sis que tu sejas essēs se tu fosses
sit que ele seja esset se ele fosse
sīmus que nós sejamos essēmus se nós fôssemos
sītis que vós sejais essētis se vós fôsseis
sint que eles sejam essent se eles fossem

APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
Segundo se pode apreender da doutrina de Bassetto (2010, p. 291), o
presente do subjuntino deriva-se da primeira pessoa do presente do indicativo
latino: amō > amem; dēleō > dēleam; legō > legam; dormiō > dormiam. A
língua falada manteve essas formas com pouquíssimas alterações: ame, ames,
ame(t), amemos, ametes, canten(t); *delya, *delyas, *delya(t), *delyamos,
*delyates, delyan(t); *lega, legas, lega(t), *legamos, *legates, legan(t);
*dorma(m), *dormas, dorma(t), *dormamos, *dormates, *dorman(t).
A partir do sufixo modo-temporal comum /-e-/ para a primeira conju-
gação e /-a-/ para as demais, «as modificações explicam-se pelas caracterísit-
cas evolutivas de cada língua» (id. ibid.)

EXERCITIA
1.ª VERSIO: O general do exército era romano. O som da corneta dava o sinal
do ataque. A infantaria e a cavalaria guerreavam o inimigo.
2.ª Declinar: dulcis fructus; alta porticus; māgnus portus, macrum genū (ma-
cer, -cra, -crum = magro).
3.ª Conjugar o presente, o imperfeito e o futudo do indicativo, presente e
imperfeito do subjuntivo dos verbos: venīre, facĕre e incurrĕre.

110
XXIV. In scholā Orbiliī
Dicit Magister: Herī dē aetāte aureā lēgĭmus. Nunc rem novam docēbō.
Quotidiē discĭtis aliquid; ut ille Apellēs dīcēbat: «Nulla diēs sine lineā». Dēs-
cribĭte ergō sententiam poētae Publilĭī Syrī: «Magister ūsus omnium est rērum
optĭmus».
VOCABVLARIVM
aliquid (pron.) algo novus, -a, -um (adj.) novo
Apellēs, -is (s.m.) Apeles nullus, -a, -um (adj.) nenhum
diēs, -ēī (s.f.) o dia omnis, -e (adj.) todo, tudo
ergō (conj.) portanto optĭmus, -a, -um (adj.) o melhor
herī (adv.) ontem quotidiē (adv.) diariamente
ille (pron.) aquele famoso rēs, reī (s.f.) a coisa
lēgĭmus (legĕre) lemos ūsus, -ūs (s.m.) a experiência
līnea, -ae (s.f.) a linha ut (conj) como

GRAMMATICA
QUINTA DECLINAÇÃO
São nomes pertencentes à quinta declinação aqueles que têm o genitivo
singular em -eī ou -ēī (essa forma longa só existirá quando a vogal -e- esteja
entre vogais).
DESINÊNCIAS
Casos Singular Plural
Nom. -ēs -ēs
Retos Acu. -em -ēs
Voc. -ēs -ēs
Gen. -eī / -ēī -ērum
Oblíquos Dat. -ēī -ēbus
Abl. -ē -ēbus

111
Exemplo:
Casos Singular Plural
Nom. diēs diēs
Retos Acu. diem diēs
Voc. diēs diēs
Gen. diēī diērum
Oblíquos Dat. diēī diēbus
Abl. diē diēbus
GÊNERO: Os nomes da quinta declinação são femininos. Excetuam-se
diēs e meridiēs, que são masculinos. No singular pode ser usado como femi-
nino:26
• quando indica um dia estabelecido, nas expressões:
diēs dīcta
diēs cōnstitūta dia estabelecido
diēs certa
Diē cōnstitūtā causae dictiōnis No dia estabelecido do julga-
Orgetorix ad iudicium omnem mento, Orgetorige reuniu todos
suam familiam… coēgit (César, os familiares.
1944, IV, p. 6)
• quando significa genericamente tempo:
Diem inquirendī perexiguam Pedi muito pouco tempo para a
postulāvī. (Cícero) investigação
• quando significa data:
Eārum epistulārum in alterā diēs Numa das duas cartas estava
erat adscripta Nōnārum escrita a data de cinco de abril.
Aprīlium. (Cícero)
VERBO ESSE - Imperativo
Presente Futuro Infinito
estō sê tu esse
es sê tu estō seja ele
este sede vós estōte sede vós
suntō sejam eles

26
Seguindo quase literalmente o que encontramos em TERRACINA, 1999-b, p. 40.
112
VERBO ESSE – sum, es, fuī, esse
INDICATIVO IMPERATIVO
Presente Perfeito Presente
sum (sou, estou) fu-ī (fui, estive) es (tū) (sê / está)
es fu-istī este (vōs) (sede / estai)
est fu-it Futuro
sumus fu-ĭmus estō (tū, is) (sê, seja)
estis fu-istis estōte (sede)
sunt fu-ērunt suntō (sejam)
INFINITIVO
Imperfeito Mais-que-perfeito
Presente
eram (era, estava) fu-ĕram (fora, estivera)
esse
erās fu-ĕrās
Passado
erat fu-ĕrat
fu-isse
erāmus fu-ĕrāmus
Futuro
erātis fu-ĕrātis
futūrum (-am, -um) esse
erant fu-ĕrant
futūrōs (-ās, -a) esse
Futuro simples Futuro anterior PARTICÍPIO
erō (serei, estarei) fu-ĕrō (terei sido/estado) Presente
eris fu-ĕris -*
erit fu-ĕrit Passado
erĭmus fu-ĕrĭmus -
erĭtis fu-ĕrĭtis Futuro
erunt fu-ĕrint fut-ūrus (-a, -um)
SUBJUNTIVO
Presente Perfeito GERÚNDIO
sim (seja, esteja) fu-ĕrim (tenha sido/estado) -
sīs fu-ĕrīs
sit fu-ĕrit
sīmus fu-ĕrĭums GERUNDIVO
sītis fu-ĕrĭtis -
sint fu-ĕrint
Imperfeito Mais-que-perfeito SUPINO
essem (fosse) fu-issem (tivesse sido/estado) -
essēs fu-issēs
esset fu-isset
essēmus fu-issēmus
essētis fu-issētis
essent fu-issent
* Na Idade Média, os filósofos criaram a forma ēns, entis para o particípio
presente do verbo esse.

113
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
No latim clássico, dividiam-se as palavras, segundo a terminação, em
cinco grandes classes, chamadas declinações: I. hōra, -ae; II. lupus,-ī; III.
ovis, -is; IV. cantus, -ūs e V. diēs, -ēī.
Essas cinco declinações até aqui finalmente estudadas, «reduziram a
três no latim vulgar» (COUTINHO, 1974, p. 224). Conforme já aduzimos
acima27, os nomes da quinta e da quarta declinações, que são pouco numero-
sos, passaram respectivamente aqueles à primeira declinação, em sua maioria,
ou à terceira declinação; estes, a segunda pela semelhança que havia entre as
suas desinências causais.
Contribuiu para isso a confusão que reinava no próprio latim clássico,
em que alguns substantivos da quinta podiam também ser declinados pela
primeira: avāritiēs, -ēī ou avāritia, -ae (avareza); luxuriēs, -ēī ou luxuria, -ae
(luxúria); māteriēs, -ēī ou māteria, -ae (matéria). Com os nomes da quarta e
da segunda, o mesmo se verifica, como é fácil ver dos exemplos domus, -ūs
ou domus, -ī (casa); colus, -ūs ou colus, -ī (roca de fiar); fructus, -ūs ou fruc-
tus, -ī (o primeiro: fruto; o segundo: fruído).

EXERCITIA
1.ª VERSIO: Os dias da idade áurea eram bonitos. Explicarei diariamente uma
coisa nova.
2.ª Declinar: bona diēs; ūsus magister optimus; rēs crudēlis et māgna.
3.ª Analisar por escrito a sentença: Magister ūsus omnium rērum est optĭmus.

27
Vide Apontamentos filológicos do capítulo XVII.
114
XXV. Cervus ad fontem
Cervus quīdam aquam bibēbat. In liquōre vidit effigiem suam. Tunc
rāmōsa cornua mīrat, sed crurum tenuitātem vituperat.
Subitō vēnātōr cum canibus surgit. Cervus fugit. Cursū lēvī, ob te-
nuitātem crurum, ēlūdit canēs. Sed in silvā intrat et cornibus retinētur. Canēs
lacerāre corpus coepērunt.
VOCABVLARIVM
aqua, -ae (s.f.) a água lacerō, -āre (v.tr.) despedaçar
bibō, -ĕre (v.tr.) beber lēvis, -e (adj.) rápido, ligeiro
canis, -is (s.m.) o cão liquor, -ōris (s.m.) o líquido
cervus, -ī (s.m.) o cervo, o veado mīrō, -āre (v.tr.) admirar
coepērunt começaram ob prep.. por causa
corpus. -ŏris (s.n.) o corpo quīdam (adj.) certo
cursus, -ūs (s.m) a carreira retinētur é retido
effigiēs, -ēī (s.f.) a imagem silva, -ae (s.f.) a selva, a floresta
ēlūdit evita subitō (adv.) subitamente
fōns, -ntis (s.f.) a fonte surgit surge
fugit foge tunc (conj.) então
intrat entra videō, -ēre (v.tr.) ver

GRAMMATICA
VERBOS – Tempos primitivos
O verbo em latim é enunciado pelos seus tempos primitivos. Estes são:
a) primeira pessoa do singular do presente do indicativo; b) a segunda pessoa
do singular do presente do indicativo; c) a primeira pessoa do singular do
pretérito perfeito do indicativo; d) o supino; e) o infinito presente.
Exemplos:
amō, -ās, -āvī, -ātum, -āre
dēleō, -ēs, -ēvī, -ētum, -ēre
legō, -ĭs, lēgī, lectum, -ĕre
audĭō, -īs, -īvī, -ītum, -īre

115
TEMAS
Destes tempos primitivos tiram-se três temas ou radicais:
a) O tema do presente é encontrado retirando-se a desinência do infinito
-re: amāre = amā; dēlēre = dēlē; legĕre = leg*; audīre = audī.
* NOTA: Na terceira conjugação, certos verbos fazem a primeira pes-
soa do presente em -ĭō, outros em -ō.
Para encontrar-se o tema do presente tira-se, preferivelmente, o -ō da
primeira pessoa do presente: legō = leg; scribō = scrib;capĭō = capĭ; facĭō =
facĭ.
Segue uma lista dos verbos que, na terceira conjugação têm a primeira
pessoa do presente em -ĭō.
Aspĭcĭō, -ĭs, aspēxī, aspectum, aspicĕre olhar
Conspĭcĭō, -ĭs, conspēxī, conspectum, conspĭcĕre lobrigar, divisar
Despĭcĭō, -ĭs, despēxī, despectum, despĭcĕre desprezar
Perspĭcĭō, -ĭs, perspēxī, perspectum, perspĭcĕre examinar
Prospĭcĭō, -ĭs, prospēxī, prospectum, prospĭcĕre olhar ante si, prover
Capĭō, -ĭs, cēpī, captum, capĕre pegar
Accĭpĭō, accĭpĭs, accēpī, acceptum, accĭpĕre receber
Decĭpĭō, decĭpĭs, decēpī, deceptum, decĭpĕre enganar
Excĭpĭō, excĭpĭs, excēpī, exceptum, excĭpĕre acolher, tomar, excetuar
Praecĭpĭō, -cĭpĭs, -cēpī, -ceptum, praecĭpĕre mandar
Recĭpĭō, recĭpĭs, recēpī, receptum, recĭpĕre retomar, retirar-se
Suscĭpĭō, suscĭpĭs, suspēxī, suspectum, suscĭpĕre empreender
Incĭpĭō, incĭpĭs, incēpī, inceptum, incĭpĕre começar
Cupĭō, -ĭs, cupīvī, cupĭtum, cupĕre desejar
Făcĭō, -ĭs, fēcī, factum, facĕre fazer
Affĭcĭō, affĭcĭs, affēcī, affectum, affĭcĕre causar, influir
Cōnfĭcĭō, cōnfĭcĭs, cōnfēcī, cōnfectum, cōnfĭcĕre fazer, cumprir
Defĭcĭō, defĭcĭs, defēcī, defectum, defĭcĕre faltar, falhar, desfalecer
Effĭcĭō, effĭcĭs, effēcī, effectum, effĭcĕre fazer, formar
Interfĭcĭō, -fĭcĭs, -fēcī, -fectum, -fĭcĕre matar
offĭcĭō, -fĭcĭs, -fēcī, -fectum, -fĭcĕre opor-se, prejudicar
Perfĭcĭō, -fĭcĭs, -fēcī, -fectum, -fĭcĕre cumprir, acabar
Praefĭcĭō, -fĭcĭs, -fēcī, -fectum, -fĭcĕre prepor
Refĭcĭō, -fĭcĭs, -fēcī, -factum, -fĭcĕre refazer, restaurar
Assuefăcĭō, -cĭs, -fēcī, -factum, -făcĕre habituar, acostumar
Calefăcĭō, -cĭs, -fēcī, -factum, -făcĕre aquecer
Patefăcĭō, -cĭs, -fēcī, -factum, -făcĕre manifestar
Fŏdĭō, -ĭs, fōdī, fossum, fodĕre cavar, escavar
Perfŏdĭō, perfŏdĭs, perfōdī, perfossum, perfŏdĕre varar, furar
Fŭgĭō, -ĭs, fūgī, fugĭtum, fugĕre fugir
116
Aufŭgĭō, aufŭgĭs, aufūgī, aufŭgĕre fugir, escapar
Effŭgĭō, effŭgĭs, effūgī, effŭgĕre escapar, fugir, subtrair-se
Iacĭō, -ĭs, iēcī, iactum, iacĕre jogar, arremessar
Abĭcĭō, abĭcĭs, abiēcī, abiectum, abicĕre atirar (para longe de si), lançar,
Cōnĭcĭō, cōnĭcĭs, cōniēcī, cōniectum, cōnicĕre atirar, conjecturar
Inĭcĭō, inĭcĭs, iniēcī, iniectum, inĭcĕre lançar sobre, a, em ou para
Subĭcĭō, subĭcĭs, subiēcī, subiectum, subĭcĕre pôr debaixo, submeter, subjugar
Illicĭō, -ĭs, illēxī, illectum, illicĕre acariciar, captar, seduzir
Pellĭcĭō, -ĭs, pellēxī, pellectum, pellĭcĕre afagar, seduzir
Allĭcĭō, -ĭs, allēxī, allectum, allĭcĕre atrair
Elĭcĭō, -ĭs, elicŭī, elĭcĭtum, elĭcĕre tirar de, extrair, atrair
Parĭō, -ĭs, pĕpĕrī, partum, parĕre parir, dar à luz, produzir
Quatĭō, -ĭs, quassī, quassum, quatĕre sacudir
Cōncŭtĭō, -cŭtĭs, -cussī, -cussum, -cŭtĕre sacudir
Percŭtĭō, -cŭtĭs, -cussī, -cussum, -cŭtĕre bater
Rāpĭō, -ĭs, rāpŭī, rāptum, rāpĕre arrebatar, pilhar, roubar
Dirĭpĭō, dirĭpĭs, dirĭpŭī, direptum, dirĭpĕre saquear
Erĭpĭō, erĭpĭs, erĭpŭī, ereptum, erĭpĕre arrancar
Sapĭō, -ĭs, sapīvī (sapĭī), sapĕre saber a, ter sabor

b) O tema do perfeito será encontrado retirando-se a terminação -ī da


primeira pessoa do pretérito perfeito do indicativo (terceiro tempo primitivo):
amāvī = amāv; dēlēvī = dēlēv lēgī = lēg; audīvī = audīv.
c) O tema do supino figura no supino e se encontra retirando a termina-
ção -um desse mesmo tempo: amātum = amāt; dēlētum = dēlēt; lectum =
lect; audītum = audīt.
Esses radicais latinos dão origem a todos os tempos verbais latinos.

APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
Os verbos latinos são geralmente apresentados nos chamados tempos
primitivos, a saber, presente do indicativo (amō, dēleō, legō, dormiō), preté-
rito perfeito do indicativo (amāvī, dēlēvī, lēgī, dormīvī), particípio passado
ou supino (amātum, dēlētum, lectum, dormītum) e infinitivo presente ativo
(amāre, dēlēre, legere, dormīre); essas formas são consideradas primitivas e
as demais derivadas. As primitivas caracterizam-se apenas pelo próprio tema
117
(radical + vogal temática), não dispondo de sufixo modo-temporal, ao passo
que as derivadas distinguem-se justamente pela presença de tal sufixo, que
fora herança do correspondente indo-europeu indicativo do modo e do aspecto
(infectum e perfectum) com nuanças de tempo, cuja ideia acabou por sobre-
por-se àquela de aspecto. No latim, os sufixos modo-temporais são sempre os
mesmo nas quatro conjugações (cf. BASSETTO, 2010, pp. 286-308).
De acordo com o modelo audĭō-audīre, «os verbos em -ĭō (original ou
resultante da evolução na língua falada) firmaram-se com o infinitivo em -īre:
é o caso de fugire, *lucire (lucio < luceo), petire (petio, desenvolvimento
analógico de peto), *sequire (*sequio, por sequor), *conspuire (*cospio por
conspuo)» (SILVA NETO, 1952, p. 240).

EXERCITIA
1.ª Procurar no léxico ao final do livro, os tempos primitivos dos verbos vo-
cāre, dare, facĕre,vidēre, studēre, habēre, fīnīre, cōncitāre, lūdĕre.
2.ª Dar o tema do presente, do pretérito e do supino dos verbos acima.

118
XXVI. Sententiae Publiliī Syrī
Puerī, Publilius Syrus, scriptor latīnus, sententiās ac proverbia scripsit.
Māgnam sapientiam habent. Quōcircā audīte atque ēdiscite:
1. Ignis probat aurum, miseriae fortem probant.
2. Imperium habēre vis māgnum? Imperā tibī.
3. Malum aliēnem nē fecĕris tuum gaudium.
4. Omnēs aequō animō parent, dignī ubī imperant.
5. Pūrās Deus, nōn plēnās aspicit manūs.
6. Sēcrētē amīcōs admŏnē, lauda palam.
VOCABVLARIVM
admoneō, -ēs, -uī, -ĭtum, -ēre (v.tr.) admoestar
aequō animō de bom grado
aequus, -a, -um (adj.) benévolo
aliēnus, -a, -um (adj.) alheio
animus, -ī (s.m.) o espírito
aspiciō, -ĭs, -ēxī, -ctum, -ĕre (v.tr.) ver, olhar
aurum, -ī (s.n.) o ouro
dignus, -a, -um (adj.) digno
ēdiscō, -is, ēdidicī, -, -ĕre decorar, memorizar
fortis, -e (adj.) forte
guadium, -ĭī (s.n.) a alegria, o gozo
ignis, -is (s.m.) o fogo
imperium, -ĭī (s.n.) o império
imperō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) governar
manus, -ūs (s.f.) a mão
miseria, -ae (s.f.) a miséria, apuros
nē fecĕris não faças
palam (adv.) às claras, publicamente
pārĕō, -ēs, -ui, pārĭtum, -ēre (v.intr. + dat.) obedecer
probō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) provar
proverbium, -ĭī (s.n.) o provérbio
quōcircā (conj.) portanto, por isso
sapientia, -ae (s.f.) a sabedoria
scribō, -is, -psī, -ptum, -ĕre (v.tr.) escrever
scriptor, -ōris (s.m.) o escritor

119
sēcrētē (adv.) secretamente
sententia, -ae (s.f.) a sentença
tibī (pron.) a ti
volō,vis, voluī, velle (v.tr.) querer

GRAMMATICA
VERBOS – Tempos derivados
Já se disse no capítulo anterior que os verbos possuem três temas, o o
presente, o do pretérito e o do supino. Desses três temas formam-se todos os
tempos e modos verbais latinos.
O tema do presente forma os tempos presentes e imperfeitos.
O tema do pretérito forma os tempos prefeitos e mais que perfeitos.
O tema do supino forma certos infinitivos.
Temas Tempos
presente do indicativo
imperfeito do indicativo
futuro imperfeito do indicativo
presente do subjuntivo
imperfeito do subjuntivo
Presente
imperativo presente e futuro
infinito presente
particípio presente
gerúndio
gerundivo
pretérito perfeito do indicativo
pretérito mais-que-perfeito do indicativo
futuro perfeito do indicativo
Perfeito
pretérito perfeito do subjuntivo
pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo
infinito perfeito
supino ativo
supino passivo
Supino partícipio futuro ativo
particípio passado passivo
infinito futuro ativo

120
FORMAÇÃO DOS TEMPOS DERIVADOS DO PRESENTE
Formam-se os tempos presentes e imperfeitos juntando-se ao tema do
presente diversas terminações, cuja primeira pessoa está indicada no quadro
abaixo. Se se mudar o -ō ou -m da primeira pessoa, pelas desinências pessoais
(-s, -t, -mus, -tis, -nt), obter-se-ão as demais pessoas.
CONJUGAÇÕES
TEMPOS
1.ª 2.ª 3.ª 4.ª
Presente do Ind. -ō -ĕō -ō (-ĭō) -ĭō
Imperfeito do Ind. -ābam -ēbam -ēbam -ĭēbam
-ābō (-ābis) -ēbō (-ēbis) -am (-ēs) -ĭam (-ĭēs)
DESINÊNCIAS

Futuro imper. Ind.


Presente do Subj. -em -am -am -ĭam
Imperfeito do Subj. -ārem -ērem -ĕrem -īrem
Imperativo ā, -āte ē, -ēte ĕ, -ĭte ī, -īte
Infinito presente -āre -ēre -ĕre -īre
Particípio presente -āns -ēns -ēns -ĭēns
Gerúndio -andī -endī -endī -ĭendī
Gerundivo -andus -endus -endus -ĭendus

TEMPOS DERIVADOS DO TEMA DO PEFEITO


Formam-se os tempos derivados do tema do perfeito, juntando-se a esse
tema as seguintes desinências:
TEMPOS Para as quatro conjugações
Perfeito do Ind. -ī, -istī, -it, -ĭmus, -istis, -ērunt
Mais-q.-perf. Ind. -ĕram, -ĕrās, -ĕrat, -ĕrāmus, -ĕrātis, -ĕrant
Futuro perf. Ind. -ĕrō, -ĕris, -ĕrit, -ĕrĭmus, -ĕrĭtis, -ĕrunt
Perfeito do Subj. -ĕrim, -ĕris, -ĕrit, -ĕrĭmus, -ĕrĭtis, -ĕrint
Mais-q.-perf. Subj. -issem, issēs, -isset, -issēmus, -issētis, -issent
Infinito perfeito -isse

TEMPOS DERIVADOS DO SUPINO


Primeiramente importa saber o que seja o supino latino. É, pois, o supi-
no um substantivo verbal, que apresenta somente dois casos, o acusativo
para a forma ativa e o ablativo para a forma passiva. O ativo usa-se depois de
verbos que indicam deslocamento para apresentar o escopo da ação: Haeduī
121
lēgātōs ad Caesarem mittunt rōgātum auxilium – Os héduos enviam embai-
xadores a César para pedir ajuda. O passivo é característico dos verbos transi-
tivos e é usado depois de alguns adjetivos: dulcis, -e (doce), difficilis, -e (difí-
cil), facilis, -e (fácil), incrēdibilis, -e (inacreditável), iucundus, -a, -um (agra-
dável), mīrābilis, -e (admirável), pulcher, -chra, -chrum (belo) e utilis, -e
(útil): facile dictū, difficile factū – é fácil de dizer, mas difícil de fazer.
Do tema do supino, com as terminações abaixo indicadas, formam-se:
TEMPOS Para as quatro conjugações
Supino (ativo e passivo) -um; -ū
Infinito futuro -ūrum (-ūram, -ūrum) esse
Particípio futuro -ūrus, -ūra, -ūrum
Particípio passado -us, -a, -um

EXERCITIA
1.ª Formar a primeira pessoa de todos os tempos dos verbos: parāre, studēre,
facĕre, partīre (vide tempos primitivos na secção Léxico latino-português).
2.ª Dizer em que tempo estão as formas verbais a seguir: amābō, legam,
audĭēbam, amāvī, legō, amāvissem, habērem, habĕam, audĭō, legissem,
amāns, audī, dēlēvĕrō, dēlēvĕrim, dēlēte, audĭēs.

122
PRIMEIRA CONJUGAÇÃO ATIVA
INDICATIVO IMPERATIVO
Presente Perfeito Presente
amō (amo) amāvī (amei) amā (tū) ama
amās amāvistī amāte (vōs) amai
amat amāvit Futuro
amāmus amāvĭmus amātō (tū, is) (ama / ame)
amātis amāvistis amātōte (amai)
amant amāvērunt amantō (amem)
INFINITIVO
Imperfeito Mais-que-perfeito
Presente
amābam (amava) amāvĕram (amara)
amāre (amar)
amābās amāvĕrās
Passado
amābat amāvĕrat
amāvisse (ter amado)
amābāmus amāvĕrāmus
amābātis amāvĕrātis Futuro
amātūrum (-am, -um) esse
amābant amāvĕrant
amātūrōs (-ās, -a) esse
Futuro simples Futuro anterior PARTICÍPIO
amābō (amarei) amāvĕrō (terei amado) Presente
amābis amāvĕris amāns, -ntis
amābit amāvĕrit Passado
amābĭmus amāvĕrĭmus amātus, -a, -um
amābĭtis amāvĕrĭtis Futuro
amābunt amāvĕrint amātūrus (-a, -um)
SUBJUNTIVO
Presente Perfeito
GERÚNDIO
amem (ame) amāvĕrim (tenha amado)
Acu. amandum (amar)
amēs amāvĕrīs
Gen. amandī (de amar)
amet amāvĕrit
Dat. amandō (para amar)
amēmus amāvĕrĭums
Abl amandō (amando)
amētis amāvĕrĭtis
ament amāvĕrint
Imperfeito Mais-que-perfeito SUPINO
amārem (amasse) amāvissem (tivesse amado) amātum (para amar)
amārēs amāvissēs amātū (de amar, por amar)
amāret amāvisset
amārēmus amāvissēmus
amārētis amāvissētis
amārent amāvissent

123
SEGUNDA CONJUGAÇÃO ATIVA
INDICATIVO IMPERATIVO
Presente Perfeito Presente
dēlĕō (apago) dēlēvī (apaguei) dēlē (tū) apaga
dēlēs dēlēvistī dēlēte (vōs) apagai
dēlet dēlēvit Futuro
dēlēmus dēlēvĭmus dēlētō (apaga / apague)
dēlētis dēlēvistis dēlētōte (apagai)
dēlent dēlēvērunt dēlentō (apaguem)
INFINITIVO
Imperfeito Mais-que-perfeito
Presente
dēlēbam (apagava) dēlēvĕram (apagara)
dēlēre (apagar)
dēlēbās dēlēvĕrās
Passado
dēlēbat dēlēvĕrat
dēlēvisse (ter apagado)
dēlēbāmus dēlēvĕrāmus
dēlēbātis dēlēvĕrātis Futuro
dēlētūrum (-am, -um) esse
dēlēbant dēlēvĕrant
dēlētūrōs (-ās, -a) esse
Futuro simples Futuro anterior PARTICÍPIO
dēlēbō (apagarei) dēlēvĕrō (terei apagado) Presente
dēlēbis dēlēvĕris dēlēns, -ntis (que apaga)
dēlēbit dēlēvĕrit Passado
dēlēbĭmus dēlēvĕrĭmus dēlētus, -a, -um (apagado)
dēlēbĭtis dēlēvĕrĭtis Futuro
dēlēbunt dēlēvĕrint dēlētūrus (-a, -um)
SUBJUNTIVO
Presente Perfeito
GERÚNDIO
dēlĕam (apague) dēlēvĕrim (tenha apaado)
Acu. dēlendum (apagar)
dēlĕās dēlēvĕrīs
Gen. dēlendī (de apagar)
dēlĕat dēlēvĕrit
Dat. dēlendō (para apagar)
dēlĕāmus dēlēvĕrĭums
Abl dēlendō (apagando)
dēlĕātis dēlēvĕrĭtis
dēlĕant dēlēvĕrint
Imperfeito Mais-que-perfeito SUPINO
dēlērem (apagasse) dēlēvissem (tivesse apagado) dēlētum (para apagar)
dēlērēs dēlēvissēs dēlētū (de apagar)
dēlēret dēlēvisset
dēlērēmus dēlēvissēmus
dēlērētis dēlēvissētis
dēlērent dēlēvissent

124
TERCEIRA CONJUGAÇÃO ATIVA
INDICATIVO IMPERATIVO
Presente Perfeito Presente
legō (leio) lēgī (li) lēge (tū) lê
legēs lēgistī lēgĭte (vōs) lede
legit lēgit Futuro
legĭmus lēgĭmus lēgĭtō (lê / leia)
legĭtis lēgistis lēgĭtōte (lede)
legunt lēgērunt lēguntō (leiam)
INFINITIVO
Imperfeito Mais-que-perfeito
Presente
legēbam (lia) lēgĕram (lera)
lēgĕre (ler)
legēbās lēgĕrās
Passado
legēbat lēgĕrat
lēgisse (ter lido)
legēbāmus lēgĕrāmus
legēbātis lēgĕrātis Futuro
lectūrum (-am, -um) esse
legēbant lēgĕrant
lectūrōs (-ās, -a) esse
Futuro simples Futuro anterior PARTICÍPIO
legam (lerei) lēgĕrō (terei lido) Presente
legēs lēgĕris lēgēns, -ntis (que lê)
leget lēgĕrit Passado
legēmus lēgĕrĭmus lectus, -a, -um (lido)
legētis lēgĕrĭtis Futuro
legent lēgĕrint lectūrus (-a, -um)
SUBJUNTIVO
Presente Perfeito
GERÚNDIO
legam (leia) lēgĕrim (tenha lido)
Acu. lēgendum (ler)
legās lēgĕrīs
Gen. lēgendī (de ler)
legat lēgĕrit
Dat. lēgendō (para ler)
legāmus lēgĕrĭums
Abl lēgendō (lendo)
legātis lēgĕrĭtis
legant lēgĕrint
Imperfeito Mais-que-perfeito SUPINO
legĕrem (lesse) lēgissem (tivesse lido) lectum (para ler)
legĕrēs lēgissēs lectū (de ler)
legĕret lēgisset
legĕrēmus lēgissēmus
legĕrētis lēgissētis
legĕrent lēgissent

125
QUARTA CONJUGAÇÃO ATIVA
INDICATIVO IMPERATIVO
Presente Perfeito Presente
audĭō (ouço) audīvī (ouvi) audī (tū) ouve
audīs audīvistī audīte (vōs) lede
audit audīvit Futuro
audīmus audīvĭmus audītō (ouve / ouça)
audītis audīvistis audītōte (ouvi)
audĭunt audīvērunt audĭuntō (ouçam)
INFINITIVO
Imperfeito Mais-que-perfeito
Presente
audĭēbam (ouvia) audīvĕram (ouvira)
lēgĕre (ler)
audĭēbās audīvĕrās
Passado
audĭēbat audīvĕrat
audīvisse (ter ouvido)
audĭēbāmus audīvĕrāmus
audĭēbātis audīvĕrātis Futuro
audītūrum (-am, -um) esse
audĭēbant audīvĕrant
audītūrōs (-ās, -a) esse
Futuro simples Futuro anterior PARTICÍPIO
audĭam (ouvirei) audīvĕrō (terei ouvido) Presente
audĭēs audīvĕris audĭēns, -ntis (que ouve)
audĭet audīvĕrit Passado
audĭēmus audīvĕrĭmus audītus, -a, -um (ouvido)
audĭētis audīvĕrĭtis Futuro
audĭent audīvĕrint audītūrus (-a, -um)
SUBJUNTIVO
Presente Perfeito
GERÚNDIO
audĭam (ouça) audīvĕrim (tenha ouvido)
Acu. audĭendum (ouvir)
audĭās audīvĕrīs
Gen. audĭendī (de ouvir)
audĭat audīvĕrit
Dat. audĭendō (para ouvir)
audĭāmus audīvĕrĭums
Abl audĭendō (ouvindo)
audĭātis audīvĕrĭtis
audĭant audīvĕrint
Imperfeito Mais-que-perfeito SUPINO
audīrem (ouvisse) audīvissem (tivesse ouvido) audītum (para ouvir)
audīrēs audīvissēs audītū (de ouvir)
audīret audīvisset
audīrēmus audīvissēmus
audīrētis audīvissētis
audīrent audīvissent

126
APONTAMENTOS FILOLÓGICOS
Segundo Said Ali (1966-a, pp. 70-1) para um estudo dos verbos irregu-
lares importa conhecer as regras seguintes:
I – Do radical da 1.ª pessoa do presente do indicativo deriva-se todo
o presente do subjuntivo; por exemplo: caibo > caiba, caibas, caiba etc.;
durmo > durma, durmas, durma etc. Excetuam-se os verbos haver, ser, estar,
saber, querer, que fazem no subjuntivo: haja, seja, esteja, saiba, queira. A
vou (verbo ir) corresponde: vá, vás, vá etc., e a dou (verbo dar), dê, dês, dê
etc.
II – Da 2.ª pessoa do singular e do plural do presente do indicativo
forma-se o imperativo suprimindo a consoante -s: chamas > chama tu, cha-
mais > chamai vós; fazes > faze, fazeis > fazei. Excetua-se verbo ser que faz
sê, sede.
III – Do radical do pretérito perfeito do indicativo (que se descobre
a partir da 3.ª pessoa do plural, retirando-se o -ram) formam-se:
1.º o mais-que-perfeito do indicativo, acrescentando-se -ra;
2.º o imperfeito do subjuntivo, ajuntando -sse;
3.º o futuro do subjuntivo, acrescentando -r;
Exemplos:
estiveram - ram > estivera; estivesse; estiver;
trouxeram - ram > trouxera; trouxesse; trouxer;
quiseram - ram > quisera; quisesse; quiser.

IV – Do infinitivo forma-se o futuro do presente, ajuntando -ei, -ás,


-á, -emos, -eis, -ão e o futuro do pretérito, acrescentando -ia, -ias, -ia,
-íamos, -íeis, -iam. (Exceto: dizer, fazer, trazer, que fazem: direi, diria; farei,
faria; trarei, traria.)
saber > saberei, saberia;
dar > darei, daria;
ver > verei, veria.

127
Para maiores detalhes sobre a formação do futuro em português e de
como se distanciou pelo analitismo da forma sintética latina, vejan-se os
Apontamentos filológicos ao capítulo XV neste livro; e para detalhes mais
aprofundados sobre esse tema da formação do futuro veja-se SILVEIRA BU-
ENO, 1967, pp. 19-0; 142-3.

128
XXVII. Īrātī hominēs
Hominēs quōs īra possīdit, sānī nōn sunt: «flagrant oculī; multus ōre
tōtō rubor; dentēs comprimuntur; horrent ac subriguntur capillī; tumescunt
vēnae; concutĭtur crēbrō spīritus pectū; parum explanātae vōcēs sunt» (Sêne-
ca).
VOCABVLARIVM
ac (conj.) e
capillus, -ī (s.m.) cabelo
comprimuntur (v.) são contraídos
cōncutitur (verbo) é agitado
crēbrō (adv.) repetidamente
explanātus, -a, -um (adj.) explicado
flagrō, -āre (v.tr.) arder
horrĕō, -ēre (v.tr.) arrepiar-se
īra, -ae (s.f.) a ira
īrārus, -a, -um (adj.) irado
parum (adv.) pouco
possīdō, -ĕre (v.tr.) invadir
quōs (pron.) que
rubor, -ōris (s.m.) o rubor, a vermelhidão
sānus, -a,-um (adj.) são
spīritus, -ūs (s.m.) a respiração
subriguntur (v.) eriçam-se
tōtus, -a, -um (adj.) todo, inteiro
tumescō, -ĕre (v.intr.) entumecer-se
vēna, -ae (s.f.) a veia

GRAMMATICA
A ORDEM DAS PALAVRAS NA FRASE
Em latim a ordem das palavras na frase é mais livre do que no portu-
guês, graças aos casos. Entretanto, a construção mais comum obedece às se-
guintes regras:
1. o sujeito com seus adjuntos vem no início da frase: puella patrēs
amat (a menina ama os pais);

129
2. a seguir vêm o objeto direto e seus modificadores: aqua picem re-
sipit (a água sabe a peixe);
3. o objeto indireto e os adjuntos adverbiais costumam preceder o ob-
jeto direto; servus dominīs rēs nuntiāvit (o servo anunciou os fatos
aos patrões);
4. o verbo é posto no fima da oração;
5. os adjetivos e pronomes;
a) os adjetivos qualificadores comumente precedem os substanti-
vos modificados;
b) os possessivos seguem os substantivos;
c) os demonstrativos precedem: hic et iste liber (este e esse livro);
6. o genitivo precede o substantivo que completa: cervus crurum te-
nuitātem vitupĕrat (o cervo despreza a finura das pernas);
7. os escritores latinos, contudo,sempre que a eufonia aconselhava ou-
tra ordem, empregavam-na.
Quando queriam fazer sobressair um termo, punham-no no começo ou
no fim da frase.

130
XXVIII. Parvula Latinōrum casōrum grammatica

XXVIII.1- Casos
Os exemplos foram tirados do livro Lingua latina per se illustrata de
Hans H. Ørberg. O algarismo romano indica o capítulo e o arábico, a linha.
Este item foi pensado para servir como uma espécie de gramática de
consulta e guia célere de esclarecimento de dúvidas.

a) Nominativo
O nominativo é, fundamentalmente, o caso do sujeito do verbo na for-
ma pessoal.
a.1. Sujeito
O sujeito designa um elemento da realidade (pessoa, coisa, ideia) do
qual se diz algo. Frequentemente, o sujeito designa o agente: Rōma in Italiā
est (I.1); Iūlia cantat (III.3)
Nas construções passivas, o sujeito designa o paciente, não o agente: Iūlius
lectīcā vehitur (VI.a.2. Atributo
O atributo, ou predicado nominal, é um adjetivo ou substantivo que
identifica ou qualifica o sujeito mediante o verbo esse:
Substantivo: Nīlus fluvius est (I.18)
Adjetivo: Numerus servōrum est magnus (II.45)
a.3. Predicativo
O complemento predicativo refere-se ao sujeito com verbos como ap-
pellārī, nōminārī, dicī, vocārī; putārī; fīerī:
Aemilia autem ‘mamma’ appellābitur, non ‘māter’ (XX.29)
(Ego) Tlēpolemus nōminor (XXII.43)
Nāvis paulō levior fit, simul vērō... flūctūs multō altiōrēs fiunt (XVI.123)

131
b) Vocativo
O vocativo serve unicamente para invocar, chamar ou nomear, com
mais ou menos ênfase, a uma pessoa ou coisa personificada:
Mēdus Dāvum vocat: “Dāve!” (IV.25)
* O caso vocativo costuma aparecer em orações exortativas. A forma verbal
empregada para dar ordens é o imperativo:
“Tacē, serve!” (IV.37)

c) Acusativo
O acusativo indica, fundamentalmente, a direção ou o fim de uma ação
verbal. Seus usos principais são complemento direto dos verbos transitivos e
complemento de direção com verbos de movimento.
c.1. O complemento direto de um verbo transitivo indica a pessoa ou coisa a
quem se dirige a ação verbal:
Quīntus Marcum videt (III.11); Iūlius pecūniam numerat (IV.9)
c.2. Acusativo com verbos impessoais de sentimento, pudet, paenitet, taedet,
piget e miseret, o acusativo expressa a pessoa afetada (ver d.7):
Puerum pudet factī suī (XXIII.82)

c.3. Acusativo de direção ad + acus. indica o movimento até aos arredores de


um lugar:
Quō it Iūlius? ad vīllam it (VI.35)
in + acus. emprega-se quando há movimento até ao interior de um lugar:
Sȳra ōstium aperit et in cubiculum intrat (VII.14)

132
Com determinados nomes geográficos (cidades e ilhas pequenas) e com
domus -ūs e rūs rūris, o lugar “para onde” expressa-se no acusativo sem pre-
posição:
Quō it Mēdus? Rōmam it (VI.49)
Omnes discipulī vestīmentīs ūmidīs domum revertuntur (XXI.8)
c.4. Acusativo de extensão
[c.4.1] No espaço: utiliza-se para indicar um espaço percorrido ou distância
desde um lugar: Aemilius in castrīs habitat mīlle passūs ā fīne imperiī
(XII.93) Também serve para expressar as medidas de um objeto (longitude,
altitude etc.) e costuma ir acompanhado dos adjetivos longus, lātus, altus:
Pīlum Aemiliī sex pedēs longum est (XII.47)
[c.4.2] No tempo: expressa a duração duma ação ou estado:
Homō sānus nōnāgintā... annōs vivere potest (XIII.10)
e emprega-se também para expressar a idade de um indivíduo:
puer septem annōs nātus (XXXIII.24)
c.5. O acusativo exclamativo utiliza-se, em lugar do vocativo, em exclama-
ções dirigidas a pessoas que não estão presentes. Pode vir precedido de ō! e de
heu! Ō, discipulōs improbōs! (XV.23)
c.6. Duplo acusativo de pessoa e de coisa, com verbos como docēre, posce-
re, ōrāre, rogāre, celāre, em que coisa equivale ao compl. direto e a pessoa
ao compl. indireto em português: Magister puerōs numerōs et litterās docet
(XVII.1)
c.7. Complemento direto mais predicativo, com os verbos indicados em 1.3
na voz ativa: Aemilia Iūlium ‘virum optimum’ appellat (XIX.28)

133
d) Genitivo
O genitivo é o caso próprio do complemento do substantivo, todavia
também pode completar alguns verbos e adjetivos.
d.1. Genitivo possessivo expressa a pessoa que possui ou à que pertence algo,
como, por exemplo, os vínculos de parentesco: Iūlia est fīlia Iūlii et Aemiliae
(II.14)
d.2. Genitivo partitivo indica o conjunto do que se toma una parte:
Exercitus est magnus numerus mīlitum (XII.80)
Costuma aparecer com termos que expressam quantidade, como multum e
paulum: Paulum cibī nec multum pecūniae (XVI.61)
É frequente com o superlativo, expressando o segundo termo
Venus, pulcherrima omnium deārum, dea amōris est (XIX.21)
* O gen. partitivo pode ser substituído por ex (ē), dē + abl. No segundo termo
do superlativo também podemos encontrar inter + ac.
Iam neuter ē duōbus puerīs dormit (XIV.39)
Inter omnēs deōs Iuppiter pessimus marītus est (XIX.15)
d.3. Genitivo subjetivo e objetivo. Os substantivos derivados de verbos ou
cujo sentido é afim a uma ideia verbal, p. ex. timor e amor, podem reger um
genitivo para indicar o que é sujeito ou objeto (complemento) da dita ideia:
[d.3.1] Subjetivo: Neque amor coniugum hodiē minor est quam tunc (XIX.87)
[d.3.2] Objetivo: Sine timōre mortis contrā hostem eō (XXV.77)
Thēseus ob amōrem patriae cīvēs suōs a mōnstrō servāvit (XXV.86)
d.4. Genitivo de qualidade descreve a qualidade característica ou permanen-
te de um substantivo. Costuma usar-se também para expressar a idade duma
pessoa: Quīntus est puer septem annōrum (XIX.33)

134
d.5. Complemento de adjetivos. O gen. serve de complemento para diversos
adjetivos, geralmente de significado afim a uma ideia verbal (cupidus, peritus,
memor, plēnus, etc).
Hic saccus plēnus mālōrum est (VII.43)
Mīnōs, cupidus aurī atque sanguinis, nōn modo magnam pecūniam, sed etiam
hominēs vīvōs ab Athēniēnsibus postulāverat (XXV.46)
Normalmente trata-se de um gen. objetivo e pode acompanhar também um
particípio presente: Eō tempore Thēseus, vir patriae amans… Athenīs vīvēbat
(XXV, 51)
d.6. Com esse. O genitivo pode aparecer como complemento do verbo esse,
indicando na maioria das ocasiões una posse ou una qualidade da pessoa ou
coisa de que falamos
(gen. possessivo e gen. de qualidade):
Cūius est haec taberna? Albinī est (VIII, 2)
d.7. Com verbos de lembrança e sentimento. Os verbos impessoais de “sen-
timento” (pudet, paenitet, taedet, piget e miseret) expressam no gen. a causa
do sentimento e no ac. a pessoa afetada (ver 3.2 ): Puerum pudet factī suī
(XXIII.82)
O objeto dos verbos de “memória” (obliviscī, reminīscī, meminisse) pode
expressar-se no ac. ou no gen. (genitivo de objeto): Oblīvīscere illīus virī
improbī! (XXV.126)
d.8. Com verbos de preço e estima. Para indicar em quanto se estima algo,
se utiliza o verbo aestimāre (ou facere com o mesmo sentido) mais um geniti-
vo como magnī, parvī, plūris, ou minōris (genitivo de preço e estima):
Mercātōrēs mercēs suās magnī aestimant, vītam nautārum parvī aestimant
(XXIX.6)

135
d.9. Com verbos de juízo. Com os verbos accūsāre, damnāre e absolvere a
culpa, a condenação ou o delito se expressa no gen. (genitivo de referência):
Lȳdia pergit eum fūrtī accūsāre (XXIX.137)

e) Dativo
O dativo expressa fundamentalmente uma ideia de atribuição, partici-
pação ou interesse, indicando, portanto, a pessoa (ou coisa) interessada.
e.1. O complemento ou objeto indireto completa o significado de um verbo
transitivo ou intransitivo, expressando o destinatário ou beneficiário da ação:
Pater fīliō suō magnum mālum dat (VII.47)
Albīnus Lȳdiae margarītās ostendit (VIII.46)
Os verbos impessoais, ou expressões impessoais, costumam usar-se
com um dativo como único complemento: Lacrimāre puerō Rōmānō nōn
convenit (XV.63)
e.2. Dativo de prejuízo ou proveito designa a pessoa a quem concerne, a
quem se faz bem ou a quem se causa prejuízo: Dāvus: “Tibi nec caput nec pēs
dolet!” (XIV.66)
Costuma empregar-se também com a expressão impessoal necesse est:
Spīrāre necesse est hominī (X.58)
e.3. Dativo possessivo. Com o verbo esse e um nom., o dativo expressa a
quem pertence algo: Mārcō ūna soror est (XII.6)
Utiliza-se também habitualmente para indicar o nome de alguém:
Mātrī ‘Aemilia’ nōmen est. Quod nōmen est patrī? (XII.9)
e.4. Dativo simpatético acrescenta um matiz muito mais afetivo que o dativo
possessivo. É mais apropriado traduzi-lo como um pronome possessivo (meu,
teu, seu etc.) que como um dativo:
Venter mihi (= venter meus) contrahitur propter famem (XXX.41)
136
e.5. Dativo de relação (ou dativo de ponto de vista) indica a pessoa com
respeito à qual é certo o afirmado na oração:
Iīs, quī ad septentriōnēs nāvigant, oriēns ā dextrā est (XVI.50)
e.6. Dativo agente. Com o gerundivo (voz perifrástica passiva), o agente, a
pessoa pela que a ação há de ser realizada, se expressa no dativo (não com ab
+ abl.). Quidquid dominus imperāvit, servō faciendum est (XXXI.159)
e.7. Dativo de finalidade pode expressar uma ideia de finalidade complemen-
tando verbos como esse, venīre e dāre, que devem traduzir-se por uma ex-
pressão do tipo “ser motivo (causa) de”, “vir como (em qualidade de)”, “dar
como” etc.:
Deinde, cum iam... vulnera quoque et sanguis spectaculo essent, duo Roma-
ni... expirantes conciderunt (XLIII.89-93)
e.8. Têm um complemento no dativo muitos adjetivos latinos, como amīcus,
inimīcus, pār, impār, necessārius, cārus etc.:
Magister amīcus est patribus vestrīs, patrī meō inimīcus (XVII.79)
Longus somnus īnfantī tam necessārius est quam cibus (XX.4)
Profectō lībertās mihi vītā cārior est (XXXII.85)

f) Ablativo
O ablativo emprega-se, essencialmente, para expressar os complemen-
tos circunstanciais da oração. Tem três valores fundamentais: separativo (in-
dicando separação, origem e ponto de partida), instrumental (instrumento,
meio e modo) e locativo (lugar no espaço e momento no tempo).
f.1. O abl. separativo (lugar de onde) indica o lugar de que parte ou de que
se afasta um determinado movimento, responde à pergunta “de onde?”. Cos-
tuma ser precedido das prep. ā/ab, ē/ex, dē:
ab (ā) + abl. indica o movimento procedente dos arredores de um lugar:
137
Unde venit Iūlius? ab oppidō venit (VI.34)
ex (ē) + abl. indica que se sai de dentro de um lugar:
Iūlia rosās carpit et cum quīnque rosīs ex hortō venit (V.57)
dē + abl. costuma indicar movimento de cima para baixo:
Imber est aqua quae dē nūbibus cadit (XIII.90)
Com os nomes de cidade não se usa preposição:
Unde venit Mēdus? Tūsculō venit (VI.48)
Também se constroem sem preposição domus -ūs e rūs rūris:
Sī necesse erit domō abire... cotīdiē ad nōs revertī dēbēs (XX.136)
Em uma segunda acepção, este ablativo indica separação de algo, que pode
ser real ou figurado. Usa-se, pois, com verbos que expressam ideias de
“afastar-se, distanciar-se” (abesse, discēdere), “rechaçar” (prohibēre), “mo-
ver-se” (movēre) etc. Emprega-se, ademais, com verbos como “liberar”
(līberāre), “abster-se” (abstinēre), “carecer” (carēre), “diferenciar-se” (differ-
re) etc. Pode vir com ou sem preposição. Quando o abl. separativo é uma
pessoa, usa--se necessariamente com ā/ab:
Puerī Iūliam audiunt, neque iī ab Aemiliā discēdunt (V.56)
Mēdus surgere cōnātur, nec vērō sē locō movēre potest (XVI.140)
Īnfāns neque somnō neque cibō carēre potest (XX.5)
Iī sōlī quī magnam pecūniam solvere potuerant servitūte līberābantur
(XXXII.5)
f.2. Ablativo de origem é empregado para expressar a origem duma pessoa
com verbos como nāscī, ou particípios como ortus, nātus, genitus (“nascido,
descendente de” + abl): Trōiānī sine cūrā dormiēbant, in iīs Aenēās, Anchīsā
et Venere deā nātus
(XXXVII.91)

138
f.3. Ablativo comparativo. O segundo termo duma comparação pode expres-
sar-se com o mesmo caso que o primeiro termo precedido de quam, ou melhor
mediante ablativo sem preposição: Nunc pēs dexter māior est pedaevo
(XXIV.30)
f.4. Ablativo de matéria. A matéria com a que está feito um determinado
objeto se pode expressar com ablativo precedido de ē/ex:
Catēna quā canis vincītur ex ferrō facta est (XXII.13)
f.5. Ablativo de meio ou instrumento emprega-se normalmente o ablativo
sem preposição para expressar o instrumento ou o meio com o que se faz algo:
Dominus servōs malōs baculō pulsat (VI.40)
Fēminae gemmīs et margarītīs ānulīsque ōrnantur (VIII.23)
Lȳdia tabernam Albīnī digitō mōnstrat (VIII.42)
Regem abl. instrumental os verbos ūtī, fruī, fungī, vescī, potīrī e a expressão
opus est:
Quī arat arātrō ūtitur... quī serit manū suā ūtitur (XXVII.21)
Post tanta negōtia magis quam umquam ōtiō fruor (XXX.23)
Quid opus est armīs? (XXXII.78)
* Os nomes de pessoa se constroem com per + ac.:
Facile aliquid novī per nūntiōs cognōscere potes (XXXI.10)
f.6. Ablativo de preço. Com os verbos que expressam a ideia de comprar e
vender (emere, vēndere, cōnstāre etc.), o preço se expressa no ablativo sem
preposição: Hic ānulus centum nummīs cōnstat (VIII.59)
Ōrnāmenta... parvō pretiō emuntur (VIII.104)
f.7. Ablativo de limitação também chamado ablativo de relação, indica em
que sentido é certo o que se afirma na oração. Costuma determinar adjetivos
relacionados com estados físicos o anímicos (aeger) os verbos que significam
“avantajar” (praestāre) “superar” (superāre) etc.:
139
Nec modo pede, sed etiam capite aeger est (XI.55)
Contrā hostēs numerō superiōrēs fortissimē pugnāvissēmus (XXXIII.144)
In īnsula Crētā ōlim vīvēbat mōnstrum terribile, nōmine Mīnōtaurus
(XXV.25)
f.8. Ablativo de medida indica o grau, a medida, a quantidade em que una
coisa difere de outra. Pode empregar-se para reforçar ou atenuar um compara-
tivo: Nāvis paulō levior fit... et flūctūs multō altiōrēs fiunt (XVI.123)
Também se encontra diante de post e ante para indicar a diferença de tempo:
Decem annīs ante apud parentēs nostrōs habitābāmus (XIX.123)
Paulō post nihil ā nāve cernitur (XVI.91)
f.9. Ablativo de lugar por onde expressa o lugar “por onde”. Utiliza-se com
substantivos que indicam um lugar feito a propósito para passar por ele (via,
iter, porta, pōns, vadum e, inclusive, terra e mare):
Mēdus viā Latīnā Rōmam ambulat (VI.51)
* Com o resto dos substantivos, o lugar “por onde” se expressa mediante per
+ ac.: Lupus, quī cibum nōn habet, per silvam errat (IX.59)
f.10. Ablativo agente, nas orações na voz passiva, a pessoa graças à que se
realiza a ação, o agente, se expressa no ablativo precedido de ā/ab:
Dominus ā servō malō timētur (VI.73)
* Quando o agente não é una pessoa, emprega-se o abl. sem preposição. O
ablativo indica aqui o meio ou a causa e é frequente tanto em frases passivas
como ativas (ver 6.5): Lȳdia verbīs Medī dēlectātur (VI.91)
Cornēlius nōn est fessus, nam is equō vehitur. Iūlius lectīcā vehitur (VI.68)
f.11. Ablativo de companhia serve para expressar a companhia de pessoas ou
coisas com as que conta alguém na realização duma ação. Normalmente vem
precedido da prep. cum: Pater et māter habitant cum Mārcō et Quīntō et Iūliā
(V.9)
140
f.12. Ablativo de modo indica o modo ou a maneira como se realiza a ação
verbal. Costuma vir sem preposição, todavia às vezes pode vir precedido de
cum: Mārcus perterritus... magnā vōce clāmat (X.111)
f.13. Ablativo de qualidade descreve a qualidade de um substantivo. Costu-
ma usar-se o abl. em lugar do gen. quando a qualidade é acidental, passageira
ou externa: Aliquot praedōnes maritimī... tantā audaciā sunt ut nē armīs qui-
dem Rōmānōrum dēterreantur (XXXII.48)
f.14. Ablativo absoluto constitui uma construção gramaticalmente indepen-
dente do resto da frase. Costuma constar de um substantivo com um particí-
pio, presente ou passado. Na maioria das ocasiões se pode traduzir por una
proposição temporal: Nāvis ē portū ēgreditur multīs hominibus spectantibus
(XVI.64)
Cane vīnctō, tabellārius tandem intrat (XXII.119)
Frequentemente podemos encontrar dois substantivos em aposição ou um
substantivo e um adjetivo de acordo entre si:
Sōle duce nāvem gubernō (XVI.94)
Nautae nec marī turbidō nec marī tranquillō nāvigāre volunt (XVI.36)
Às vezes, deve subentender-se na tradução o verbo esse. Este ablativo absolu-
to sem particípio é habitual para expressar o ano de mandato dos cônsules
romanos:
L. Genūciō et Q. Servīliō cōnsulibus mortuus est Camillus (XLVI.145)
f.15. Ablativo locativo expressa o “lugar onde” alguém ou algo se encontra
ou onde se realiza una ação. Normalmente, o abl. vem precedido da prep. in:
Iūlius in magnā vīllā habitat (V.1)
* Com os nomes de cidade da 1ª e 2ª decl. sing., el lugar “onde” se expressa
no caso locativo, cuja desinência é -ae (f. sg.), -ī (m. sg.):
Mēdus Tūsculī nōn est; neque Rōmae est Mēdus (VI.47)
141
* Também têm locativo os substantivos domus -ūs, rūs rūris e humus -ī:
Pater meus nauta nōn est et domī apud nōs manēre potest (XX.126)
Iūlius... rūrī in ōtiō cōgitat dē negōtiīs urbānīs (XXVII.66)
Et Mārcus et Sextus humī iacuērunt (XXI.21)
Os nomes de cidade da 3ª decl. e os da 1ª e 2ª decl. pl. expressam o lugar “on-
de” no abl. sem preposição: Eō tempore Thēseus... Athēnis vīvēbat (XXV.51)
Ademais destes casos, determinados nomes comuns que já têm uma certa
significação de lugar podem aparecer no caso ablativo sem prep. para indicar
dita circunstancia (locus, terra, mare etc.):
Ōstia sita est eō locō quō flūmen in mare influit (XVI.15)
f.16. Ablativo de tempo não se usa com preposição, e indica o momento ou a
época em que ocorre algo. Costuma expressar-se com palavras de significado
temporal (dies, annus, hōra, mēnsis etc):
Aestāte diēs longī sunt... Autumnō folia dē arborius cadunt (XIII.87, 94)
Quando sōl altissimus est? Hōrā sextā vel merīdiē (XIII.107)
Um uso muito frequente se encontra na forma de expressar as datas fixas do
mês: Scrībēbam Tūsculī Kalendīs Iūniīs (XXIII, 30)
f.17. O ablativo adnominal é um tipo de complemento que acompanha subs-
tantivos e adjetivos. Trata-se sempre de nomes que se relacionam com verbos
que expressam ideia separativa ou instrumental, como plēnus, gravidus,
perītus, dignus etc.: Tū sōlus amōre meō dīgnus erās (XIX.111)

142
LEXICON LATINO-LVSITANVM
-A-
a – (prep. rege Abl.) de (origem); por (agent. pass.)
ac – (conj.) e
acĭcŭla, -ae - (s.f.) alfinete
ad (prep. rege Acu.) para, a, até
adĕō (adv.) por isso
admŏn-ĕō, -ēs, -nŭī, -ĭtum, -ĕre (v.tr.) advertir, exortar
aedēs, -ĭum (s.f.pl.) habitação, morada; apartamento; capela
aedĭfĭc-ō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) edificar
aequŏr, -ōris (s.n.) o mar
aequus, -ă, -um (adj.) justo, favorável
affābĭlis, -ĕ (adj.) bondoso, afável
ăgĕr, -grī (s.m.) campo; planície; território
ag-ō, -ĭs, egī, actum, agĕre (v.tr.) fazer, agir
alĭēnŭs, -ă, -um (adj.) alheio
altŭs, -ă, -um (adj.) alto
alūta, -ae (s.f.) bolsa de couro
amīca, -ae (s.f.) amiga
amīcus, -ī (s.m.) amigo
am-ō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) gostar; amar
āmŏv-ĕō, -ēs, āmōv-ī, āmōtum, āmŏvĕre (v.tr.) afastar, tirar
amplus, -ă, -um (adj.) amplo
ancilla, -ae (s.f.) criada, serva, empregada
animal, -ālis (s.n.) animal
animus, -ī (s.m.) ânimo, espírito
apud (prep. rege Acu.) perto de, junto de
aqua, -ae (s.f.) água
aquila, -ae (s.f.) águia
arānĕa, -ae (s.f.) aranha
arbor, -ŏris (s.f.) árvore
argentĕus, -a, um (adj.) de prata, prateado
ars, artis (s.f.) arte
aspĭc-ĭō, -ĭs, -pēxī, -pectum, -ĕre (v.tr.) olhar, ver
astūtĭa, -ae (s.f.) astúcia
atque (conj.) e
aud-ĭō, -īs, -īvī, -ītum, -īre (v.tr.) ouvir
aurĕus, -a, -um (adj.) de ouro, dourado
aurus, -ī (s.m.) ouro

143
aurīga, ae (s.m.) cocheiro
autem (conj.) porém
avĭa, -ae (s.f.) avó
avis, -is (s.f.) ave
avŭs, -ī (s.m.) avô

-B-
bellum, -ī (s.n.) guerra
bĭb-ō, -ĭs, -ī, -ĭtum, -ĕre (v.tr.) beber
bonus, -a, -um (adj.) bom
bene (adv.) bem
bracchĭum, -ĭī (s.n.) braço

-C-
cacūmen, -ĭnis (s.f.) pico, cume
caeruleus, -a, -um (adj.) azul
Cāius, -ĭī (s.m.) Caio
calcĕ-ō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) calçar
calceus, -ī (s.m.) sapato, calçado
campus, -ī (s.m.) campo
canis, -is (s.m. e f.) cachoro(a)
cānities, -ei (s.f.) cãs, cabelos brancos
capillus, -ī (s.m.) cabelo
capt-ō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) capturar, apanhar, pegar
casa, -ae (s.f.) choupana, cabana
castīg-ō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) castigar
Cēlia,-ae (s.f.) Célia
cervus, -ī (s.m.) cervo, veado
cicāda, -ae (s.f.) cigarra
clām-ō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) chamar, gritar
cap-ĭō, -ĭs, cep-ī, capt-um, -ĕre (v.tr.) começar
cohor-s, -tis (s.f.) coorte
collēga, -ae (s.m.) colega, companheiro
coma, -ae (s.f.) mecha, madeixa
com-ĕdō, -ĕdĭs, -ēdī, -ēsum, -ĕdĕre (v.tr.) comer
commŏd-ō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (t.vr) emprestar
com-prĭmō, -prēssī, -prēssum, -prĭmĕre comprimir, contrair
consobrīnus, -ī (s.m.) sobrinho
concŭt-ĭō, -ĭs, -ussī, -ussum, -ĕre (v.tr.) estremecer, sacudir
condiscipulus, -ī (s.m.) condiscípulo, colega
144
cor, cordis (s.n.) coração
cornū, -ūs (s.m.) chifre; ala (do exército)
corp-us, -ŏris (s.n.) corpo
crās (adv.) amanhã
creātor, -ōris (s.m.) criador
crēbrō (adv.) frequentemente; densamente
crūs, crūris (s.n.) perna
culīna, -ae (s.f.) cozinha
culpa, -ae (s.f.) culpa, remorso
cum (prep. rege Abl.) com (companhia)
cum (conj.) quando
cūnulae, -ārum (s.f.pl.) bercinho
cūr (adv.) por quê?
cur-ō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) cuidar
cursus, -ūs (s.m.) curso, andamento, carreira

-D-
dē (prep. rege Abl.) de (origem); a respeito, sobre
deambŭl-ō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.intr.) passear
decem (adj. num. indecl.) dez
dēcerp-ō, -ĭs, -psī, -ptum, -pĕre (v.tr.) colher, apanhar
deinde (adv.) depois, além
dēlicātus, -a, -um (adj.) delicado, faceto
dens, dentis (s.m.) dente
dēsil-ĭō, -īs, -ŭī (ou -ĭī), dēsultum, -īre (v.intr.) saltar, jogar-se, descer
deus, -ī (s.m.) deus
dic-ō, -ĭs, dīx-ī, dictum, -ĕre (v.tr.) dizer
dignus, -a, -um (adj.) digno
dīligēns, -gentis (adj.) diligente, aplicado
discipula, -ae (s.f.) discípula, aluna
discipulus, -ī (s.m.) discípulo, aluno
dīvĕs, -vĭtis (adj.) rico
dīvĭd-ō, -ĭs, dīvīs-ī, -sum, -ĕre (v.tr.) dividir
dō, dās, dĕdī, dātum, dāre (v.tr.) dar
domus, -ūs (s.f.) casa
dōnum, -ī (s.n.) presente
dorm-ĭō, -īs, -īvī, -ītum, -īre (v.tr.) dormir
dum (conj.) enquanto
dux, ducis (s.m.) chefe, general

145
-E-
ē (prep. rege Abl.) de, a, fora de
ēdisc-ō, -ĭs, ēdidicī, -, -ĕre (v.tr.) memorizar, decorar
effigi-ēs, -ĕī (s.f.) figura, imagem, efígie
ēloqu-ēns, -entis (adj) eloquente, falante
ēlūd-ō, -ĭs, ēlūsī, ēlūsum, -ĕre (v.tr. e intr.) escapar, fugir; vencer no jogo
ēluō, -is, ēluī, ēlūtum, -ĕre (v.tr.) lavar
equitātus, -ūs (s.m.) cavalaria
et (conj.) e, também
etĭam (conj.) também, mesmo
ēventus, -ūs (s.m.) acontecimento, evento
exclāmō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) exclamar
exĕdra, -ae (s.f.) sala de estar
exercĭtus, -ūs (s.m.) exército
excŏlō, -is, -ui, -cultum, -ĕre (v.tr.) cultivar com cuidado

-F-
fābula, -ae (s.f.) fábula, estória
faciēs, -eī (s.f.) face, rosto
facĭō, -is, fecī, factum, -ĕre (v.tr.) fazer
fenestra, -ae (s.f.) janela
festīvē (adv.) de bom grado
fīcus, -ī (s.f.) figueira
fībula, -ae (s.f.) fivela
fidēlis, -e (adj.) confiável, fiel
fidēs, -eī (s.f.) confiança, fé
figūrātus, -a, -um (adj.) fictício, simulado, fingido
fīlia, -ae (s.f.) filha
fīlius, -ĭī (s.m.) filho
fimbrĭa, -ae (s.f.) franja, orla
fīnĭō, -īs, -īvī, ītum, -īre (v.tr.) acabar, findar; limitar(-se)
flagrō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) arder, queimar
flāvus, -a, -um (adj.) louro, amarelo
flūmen, -ĭnis (s.n.) rio
formīca, -ae (s.f.) formiga
fortis, -e (adj.) forte
frāga, -ōrum (s.n.pl.) morango(s)
frāter, -tris (s.m.) irmão
frons, -ndis (s.f.) folhadem
frons, ntis (s.f.) fronte, testa
146
fugĭō, -is, fugī, -gĭtum, -ĕre (v.tr.) fugir

-G-
garrŭlō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) conversar, palrar
gemma, -ae (s.f.) joia, pedra preciosa
genae, -ārum (s.f.pl.) faces
genus, -ĕris (s.n.) raça, família, gênero
gerō, -is, gessī, gestum, -ĕre (v.tr.) fazer, agir
grātia, -ae (s.f.) agradecimento
grātus, -a, -um (adj.) grato, agradável
gustō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) gostar, saborear

-H-
habĕō, -ēs, -buī, -ĭtum, -ēre (v.tr.) ter
habilis, -e (adj.) hábil
herba, -ae (s.f.) relva
herī (adv.) ontem
hīc (adv.) aqui
historĭa, -ae (s.f.) história
hodiē (adv.) hoje
homō, -ĭnis (s.m.) homem, ser humano
horreō, -ēs, -ŭī, -ēre (v.tr.) eriçar-se, tremer
hortus, -ī (s.m.) jardim, horto
hostis, -is (s.m. e f.) inimigo, hoste
hyacinthus, -ī (s.m.) jacinto

-I-
iam (adv.) já
ideō (adv.) por isso
ignis, -is (s.m.) fogo
illīc (adv.) ali
illūcescō, -is, -ūxī, -ĕre (v.tr.) amanhecer
imperātor, -ōris (s.m.) imperador, comandante
imperium, -ĭī (s.n.) império, domínio
impĕrō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) ordenar, governar
impĕtus, -ūs (s.m.) ataque, choque
in (prep. + acu.) para (entrando no lugar)
in (prep. + abl.) em (estada no lugar)
incurrō, -is, -ī, -cursum, -ĕre (v.tr.) correr para, atirar-se
indīligēns, -entis (adj.) descuidado, negligente
147
indŭō, -is, -ī, -ūtum, -ĕre (v.tr.) vestir(-se)
infēlīx, -īcis (adj.) infeliz
ingeniōsus, -a, -um (adj.) hábil, espirituoso, engenhoso
insŏlēns, -entis (adj.) insolente
insŭla,-ae (s.f.) ilha
instabilis, -e (adj.) instável
interrŏgō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) perguntar, interrogar
intrō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) entrar
inveniō, -is, -vēnī, -ventum, -īre (v.tr.) encontrar
invītō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) convidar
īra, -ae (s.f.) ira
īrātus, -a, -um (adj.) irado
iterum (adv.) outra vez

-L-
labōriōsus, -a, -um (adj.) trabalhador
labium, -ĭī (s.n.) lábio
lacerō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) dilacerar
laetus, -a, -um (adj.) alegre
lāna, -ae (s.f.) lã
lātus, -a, -um (adj.) largo
laudō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) louvar, elogiar
lectiō, -ōnis (s.f.) lição
lectus, -ī (s.m.) leito, cama
legiō, -ōnis (s.f.) legião
lēō, -ōnis (s.m.) leão
levis, -e (adj.) leve, ligeiro
lēx, lēgis (s.f.) lei
līberālis, -e (adj.) nobre, distinto, formoso
lingua, -ae (s.f.) língua, idioma
liquor, -ŏris (s.f.) líquido
longus, -a, -um (adj.) longo
lūdō, -is, lūsī, lūsum. -ĕre (v.tr.) jogar, brincar
lūdus, -ī (s.m.) jogo

-M-
macer, -cra, -crum (adj.) magro
māgnus, -a, -um (adj.) grande
mālum, -ī (s.n.) maçã
māne (adv.) de manhã
148
manus, -ūs (s.f.) mão
matūrus, -a, -um (adj.) maduro
mēns, -ntis (s.f.) mente
mensa, -ae (s.f.) mesa
meus, -a, -um (poss.) meu
mīrō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) admirar
miseria, -ae (s.f.) miséria
mittō, -is, mīsī, missum, -ĕre (v.tr.) enviar
modestus, -a, -um (adj.) modesto
mōns, -ntis (s.m.) monte
mōrum, -ī (s.n.) amora
mortālis, -e (adj.) mortal
musca, -ae (s.f.) mosca
musculōsus, -a, -um (adj.) musculoso

-N-
narrō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) narrar, contar
nāsus, -ī (s.m.) nariz
nauseōsus, -a, -um (adj.) nauseabundo
nē (adv.) não
nē (conj.) para que não
necō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) matar
neglĭgēns, -ntis (adj.) negligente
nemus, -ŏris (s.n.) bosque
nīdus, -ī (s.m.) ninho
niger, -gra, -grum (adj.) negro, preto
nōn (adv.) não
nōnumquam (adv.) às vezes, algumas vezes
noster, -tra, -trum (poss.) nosso
noxius, -ĭa, -ium (adj.) nocivo, prejudicial
nunc (adv.) agora

-O-
obēdiēns, -ntis (adj.) obediente
obtempĕrō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) obedecer
oculus, -ī (s.m.) olho
omnis, -e (adj.) todo, tudo
optĭme (adv.) otimamente, muito bom
optĭmus, -a, -um (adj.) ótimo, o melhor
ōrātiō, -ōnis (s.f.) discurso, oração
149
ōs, ōris (s.n.) boca
ovis, -is (s.f.) ovelha

-P-
palla, -ae (s.f.) capa, manto
palam (adv.) claramente
palma, -ae (s.f.) palmeira
panis, -is (s.m.) pão
parātus, -a, -um (adj.) preparado
pāreō, -ēs, -ŭī, -ĭtum, -ēre (v.tr.) aparecer, obedecer
parum (adv.) pouco
parvus, -a, -um (adj.) pequeno
pāscō, -is, pāvī, pāstum, -ĕre (v.tr.) apascentar
pāstor, -ōris (s.m.) pastor
patruus, -ŭī (s.m.) tio paterno
peditātus, -ūs (s.m.) infantaria
penna, -ae (s.f.) pena
perfidiōsus, -a, -um (adj.) pérfido
per (prep.) por
pernitĭēs, -ēī (s.f.) desgraça, destruição
perniciēs, -ēī (s.f.) desgraça, destruição
pēs, pedis (s.m.) pé
piger, -gra, -grum (adj.) preguiçoso
pirum, -ī (s.n.) pera
pirus, -ī (s.f.) pereira
pistor, -ōris (s.m.) padeiro
plēnus, -a, -um (adj.) cheio, pleno
pōmārium, -ĭī (s.n.) pomar
pōmum, -ī (s.n.) pomo, fruto
ponō, -is, posŭī, posĭtum, -ĕre (v.tr.) pôr
porta, -ae (s.f.) porta
portō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) levar, trazer
possīdō, -is, possēdī, possessum, -ĕre (v.tr.) apossar-se, ocupar; possuir
possĭdeō, -ēs, possēdī, possēssum, -ēre (v.tr.) possuir
praeceptor, -ōris (s.m.) mestre, preceptor
praesum, praeĕs, praefŭī, praeesse (v.itr.) estar à frente, presidir
prehendō, -is, -dī, -hensum, -ĕre (v.tr.) apanhar, pegar
prētiōsus, -a, -um (adj.) precioso, valioso
probō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) provar, julgar
prōverbium, -ĭī (s.n.) provérbio, dito
150
proxĭmus, -a, -um (adj.) próximo
puella, -ae (s.f.) menina
puer, -rī (s.m.) menino
pulcher, -chra, -chrum (adj.) bonito
pūpa, -ae (s.f.) boneca
purpureus, -ea, -eum (adj.) vermelho
pūrus, -a, -um (adj.) puro

-Q-
quam (adv.) quão
quī, quae, quod (pron.) que
quia (conj.) porque
quoque (adv.) também
quōcircā (adv.) por isso

-R-
rāmōsus, -a, -um (adj.) ramoso, ramificado
redeō, -is, -īvī (-ĭī), -ĭtum, -īre (v.intr.) voltar
repetō, -is, -īvī (-ĭī), -ĭtum, -ĕre (v.tr.) repetir
rēs, reī (s.f.) coisa
respondeō, -ēs, -dī, -sum, -ēre (v.tr.) responder
rīpa, -ae (s.f.) margem
rōbustus, -a, -um (adj.) robusto
rōmānus, -a, -um (adj.) romano
rosa, -ae (s.f.) a rosa
rosĕus, -ĕa, -ĕum (adj.) rosado, rosáceo, róseo
ruber, -bra, -brum (adj.) vermelho
rubor, -ōris (s.m.) rubor, vermelhidão

-S-
saepe (adv.) muitas vezes
sagāx, -ācis (adj.) sagaz
sagitta, -ae (s.f.) seta, flecha
salvē(te) (interj.) oi, salve, bom dia, boa noite, olá
sanguis, -is (s.f.) sangue
sānus, -a, -um (adj.) são
sapientia, -ae (s.f.) sabedoria
sartor, -ōris (s.m.) alfaiate
scapŭlae, -ārum (s.f.pl.) ombros
schola, -ae (s.f.) escola
151
sciō, -īs, -īvī (-ĭī), scītum, -īre (v.tr.) saber
scrībō, -ĭs, scrīpsī, scrīptum, -ĕre (v.tr.) escrever
scriptor, -ōris (s.m.) o escritor
sēcrētē (adv.) particularmente, em segredo
sed (conj.) mas
sēdŭlus, -a, -um (adj.) aplicado
sella, -ae (s.f.) cadeira
semper (adv.) sempre
sententia, -ae (s.f.) sentença
senex, -is (s.m.) ancião, velho
septimāna, -ae (s.f.) semana
sērō (adv.) tarde
sevērus, -a, -um (adj.) severo
signum, -ī (s.n.) sinal
silva, -ae (s.f.) selva, floresta
simius, -ĭī (s.m.) macaco
sine (prep. + abl.) sem
sōl, sōlis (s.m.) sol
solĕa, -ae (s.f.) sandália
solĕō, -ēs, solĭtus sum, solĭtum, -ēre (v.intr. semidep.) soer, costumar
sōlum (adv.) só, somente
sonus, -ī (s.m.) som
spēs, -ĕī (s.f.) esperança
spīrĭtus, -ūs (s.m.) respiração, espírito
statŭa, -ae (s.f.) estátua
stola, -ae (s.f.) estola, vestido; túnica
strenŭus, -ŭa, -ŭum (adj.) diligente, cuidadoso
studĕō, -ēs, -ŭī, -ēre (v.intr. com Abl.) estudar
studiōsus, -a, -um (adj.) estudioso
subĭtō (adv.) subitamente, de chofre
supercilium, -ĭī (s.n.) sobrancelha
surgō, -ĭs, -rrēxī, -rrectum, -ĕre (v.intr.) surgir, erguer-se
suus, sua, suum (adj.) seu

-T-
tabŭla, -ae (s.f.) lousa, quadro negro
tegō, -ĭs, tēxī, tectum, -ĕre (v.tr.) tecer, cobrir
tēla, -ae (s.f.) teia
tenuĭtās, -tātis (s.f.) finura
tenŭus, -ŭa, -ŭum (adj.) fino, delgado, tênue
152
terra, -ae (s.f.) terra
tōtus, -a, -um (adj.) todo, inteiro
trēs, trĭa (num.) três
tribūnus, -ī (s.m.) tribuno
trīclīnĭum, -ĭī (s.n.) triclínio (leito de comer e sala de jantar)
truncus, -ī (s.m.) tronco
tunc (adv.) então
tumescō, -ĭs, tumŭī, -, -ĕre (v.intr.) entumecer-se, encapelar-se
tunĭca, -ae (s.f.) túnica, vestido interior

-U-
ubi (adv.) onde
ubĭnam (adv.) onde?
umbrella, -ae (s.f.) sombrinha, guarda-chuva

-V-
vacō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.intr.) estar vazio, esvaziar
valdē (adv.) muito
valē(te) (interj.) adeus
vanus, -a, -um (adj.) vão, vazio, inútil
vēna, -ae (s.f.) veia
venātor, -ōris (s.m.) caçador
venerābilis, -e (adj.) venerável, venerando
venĭō, -īs, vēnī, ventum, -īre (v.intr.) vir
venor, -āris, -ātum sum, -ārī (v.tr. dep.) caçar
verbum, -ī (s.n.) palavra, verbo
vērissimē (adv.) realmente
vester, -tra, -trum (adj.) vosso
vestis, -is (s.f.) vestimenta
via, -ae (s.f.) caminho, rua
victoria, -ĭae (s.f.) vitória
vidĕō, -ēs, vīdī, vīsum, -ēre (v.tr.) ver
villa, -ae (s.f.) quinta, fazenda, sítio
viŏla, -ae (s.f.) violenta (a flor)
virtus, -ūtis (s.f.) virtude, força
visītō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) visitar
vitŭpĕrō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) desprezar, censurar, criticar
vocō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) chamar
vōx, vŏcis (s.f.) voz
vulnĕrō, -ās, -āvī, -ātum, -āre (v.tr.) ferir
153
PEQUENO GLOSSÁRIO DE FILOLOGIA

Adstrato. Toda língua que vigora ao lado de outra, num território determina-
do, e que nela interfere como manancial permanente de empréstimos. Isto é,
dois povos de idiomas diferentes, que mantenham relacionamento de qualquer
tipo para a caracterização da situação de adstrato (cf. BASSETTO, 2005, pp.
163-71).

Aparato crítico. Lugar ou secção da página impressa onde se lançam as vari-


antes textuais. É obrigatório nas edições críticas. Vem no fundo da página,
abaixo do texto. Nas edições de textos clássicos, é redigido em latim. Há dois
tipos de aparatos críticos: o positivo, que compreende o registo da variante
escolhida e dos testemunhos que a fornecem ou, se se trata de uma conjectura,
do seu autor, mais o das variantes preteridas; e o negativo, que compreende o
registo unicamente das variantes preteridas e respectivos testemunhos. Um
segmento textual a que se reportam variantes registadas no aparato crítico
designa-se por “unidade crítica” (DUARTE, 2001, p. 30).

Aparato de fontes. Aparato onde se dá informação sobre as fontes literárias


do texto editado. Havendo um aparato de fontes, este vem na página logo
abaixo do texto e precedendo o aparato crítico (DUARTE, 2001, p. 30).

Arquétipo. Modelo por oposição a apógrafo, testemunho mais antigo conhe-


cido (ou perdido, mas suposto indutivamente pela colação dos testemunhos
existentes) de um texto e a partir do qual deriva a tradição do mesmo. Quando
se trata de um ms. perdido, reconstituem-se as lições respectivas indutivamen-
te, com base no acordo das lições dos seus descendentes. É o caso do nosso
texto (DUARTE, 2001, p. 29).

154
Codex (pl. códices) designa o formato de livro do qual deriva o atual, compos-
to inicialmente de tábuas de madeira (donde o nome codex, de caudex “tron-
co, caule de árvore”) unidas de um lado mediante um fio, ou de folhas de
papiro cosidas e de vários cadernos agrupados e cosidos em um único livro
(DUARTE, 2001, p. 27)

Codices descripti (apógrafos): são os mss. considerados copiados de um ou-


tro. Para a determinação de tais relações de dependência, toma-se por base a
colação das variantes e a inventariação das significativas. Outro fator a ter em
conta é a idade do ms.: um ms. mais antigo não pode, obviamente, ser apógra-
fo de outro mais recente; se apresentam erros conjuntivos, porém, é provável a
relação inversa (DUARTE, 2001, p. 29).

Collatio (colação). Consiste na comparação sistemática das variantes dos di-


versos testemunhos (DUARTE, 2001, p. 28).

Constitutio textus (constituição do texto). Designa a fase do trabalho de edi-


ção em que se procede à escolha das melhores lições, com a finalidade de
fixar o texto que se considere mais próximo possível do original (DUARTE,
2001, p. 30).

Contaminatio (contaminação). Assim se designam as situações em que uma


cópia depende de mais do que um modelo (DUARTE, 2001, p. 30).

Correctio/emendatio/coniectura. Os primeiros dois termos são sinônimos e


designam a operação de correção dos erros inventariados no texto. Quando,
porém, o editor não tem ao dispor nenhum testemunho donde possa escolher a
lição do texto que se considere a mais próxima da original, propõe uma corre-
ção, que se não encontra documentada em nenhum testemunho, mas se baseia
155
na aplicação do iudicium crítico. A esta chama-se “conjectura” (DUARTE,
2001, p. 30). Emendatio. É o nome dado ao conjunto de operações que visam
à correção do texto, cuja parte mais importante é, certamente, a reconstituição
do texto (cf. BASSETTO, 2005, p. 48).

Ecdótica. Vai mais além da crítica e envolve um conjunto de problemas rela-


cionados com a produção de textos editados e engloba operações secundárias
relativamente às críticas propriamente ditas, que, partindo destas, se refletem
no texto editado. Refiram-se, entre outros, problemas como a ortografia, a
apresentação da página, convenções tipográficas ou a correção de provas
(DUARTE, 2001, pp. 30-1).

Edição. É a conclusão do trabalho filológico (v.). Compõe-se de


Edição crítica deverá apresentar uma introdução, em que se indiquem
os problemas encontrados e as soluções dadas na critica textual, os
critérios adotados em suas diversas etapas; os conspectus siglorum,
isto é, o conjunto das siglas indicativas dos diversos códices, edi-
ções, editores e das abreviaturas mais usadas; e o texto reconstituído
com aparato crítico (variantes encontradas), a depender do assunto,
também um glossário.
Edição diplomática será uma apresentação fiel de todas as característi-
cas gráficas de um manuscrito, substituindo o texto desenhado por
um texto tipografado, renunciando a qualquer esforço interpretativo
ou reconstrutivo.
Edição paleográfica apresentará as mesmas características do texto
original. Neste edição o paleógrafo deverá determinar uma data e lo-
cal de edição ou produção. O editor paleográfico deve conhecer os

156
diferentes estilos dos copistas e ser capaz de identificar os períodos
em que os textos foram escritos (cf. BASSETTO, 2005, pp. 60-2).

Emendatio. v. Correctio.

Error. Alteração de um texto produzida no processo de cópia (DUARTE,


2001, p. 29).

Errores significatiui. Designam-se por significativos, na estemática maasia-


na28, aqueles que permitem funcionalmente estabelecer relações entre os ma-
nuscritos. Dividem-se em: (i) coniunctiui (conjuntivos): aqueles que demons-
tram que dois ou mais mss. estão relacionados entre si; (ii) separatiui (separa-
tivos): aqueles que, pelo contrário, por divergirem de ms. para ms., demons-
tram que um é independente do outro; (iii) salto do mesmo ao mesmo: tipo de
erro mecânico que consiste em saltar de um elemento da frase para outro se-
melhante, com omissão do primeiro dos dois elementos e a passagem imediata
à cópia do seguinte. Tais omissões devem-se a homeoteleuto, situação em que
duas palavras muito próximas têm a mesma terminação. Esta é uma tipologia
corrente de omissões na transmissão de textos (DUARTE, 2001, pp. 29-30).

Escólio. Comentário a um texto (DUARTE, 2001, p. 31).

Estemática. Este termo provém de stemma e designa genericamente, para


Paul Maas, o método mediante o qual se procura determinar as relações entre
os mss., com base nos erros significativos, com o objetivo de estabelecer o
stemma dos mesmos. Stemma codicum: feita a colação de todos os testemu-
nhos disponíveis de um texto, elaborar-se-á um stemma dos códices, isto é,

28
Paul Maas, Textkritik (Leipzig 1927). É o tratado clássico e formulador da estemá-
tica e um dos ensaios teóricos de charneira da disciplina da crítica textual.
157
uma figura esquemática da genealogia dos mesmos, que permite visualizar as
respectivas relações de dependência, e quais mss. São apógrafos de tais outros
(DUARTE, 2001, pp. 28-9).

Fase de Bilinguismo. Depois de subjugado um povo de língua diferente e


ocupado seu território, surge um período em que dominados e dominadores
continuam a usar seu próprio idioma por um tempo variado. Para uma leitura
mais aprofundada do tema veja-se BASSETO, 2005, pp. 152-3.

Iudicium (juízo). O trabalho de colação de variantes e fixação do texto não é


meramente mecânico, antes não exclui certa subjetividade. Com efeito, existe
a necessidade da intervenção do juízo crítico pessoal do editor. Este deverá
basear-se em critérios claros e que, tanto quanto possível, expurguem a subje-
tividade do iudicium. Tal intervenção é imprescindível, sempre que a tradição
de determinado texto se encontra corrupta. É o juízo crítico que determina a
escolha de uma variante em detrimento de outra e é com base nele que o edi-
tor pode proceder a emendationes (v. emendatio) e formular conjecturas
(DUARTE, 2001, p. 28).

Lema. Palavra ou grupo de palavras do texto objeto de comentário por um


escólio (DUARTE, 2001, p. 31).

Recensio (recensão). Reunião e avaliação dos materiais (testemunhos) neces-


sários para a elaboração da edição; engloba um leque de várias operações: a
colação e a estemática (DUARTE, 2001, p. 28; cf. BASSETTO, 2005, pp. 44-
5).

158
Romance. Língua surgida a partir das misturas das línguas indígenas no latim
vulgar, a esse linguajar deu-se o nome de romance. Para maiores detalhes
sobre o romance veja-se BASSETTO, 2005, pp. 185-6.

România. Uma série de pequenas áreas justapostas, cada qual corresponden-


do a um dialeto específico e distinto dos vizinhos. Para maiores detalhes ve-
jam-se BASSETTO, 2005, pp. 177-83, ILARI, 1992, pp. 157-67 e ELIA,
1974, pp. 67-85.

Substrato. A língua do vencido deixa de ser usada, mas deixa marcas na lín-
gua do vencedor. As marcas do substrato estão no léxico e na fonética; são
mais raras na morfologia e muito mais raras ainda na sintaxe. Sua ação cos-
tuma ser lenta. A ação do substrato depende de causas sociais, políticas, histó-
ricas e até estilísticas (cf. BASSETTO, 2005, pp. 153-7).

Superstrato. A língua do vencedor deixa de ser falada, mas deixa vestígios e


influências na língua do vencido, que passa a ser usada por vencidos e vence-
dores (cf. BASSETO, 2005, pp. 157-63).

Testes (testemunhos). São cada um dos exemplares manuscritos do texto uti-


lizados para a collatio de variantes. Referir-se-ão ora como manuscritos ora
como códices (singular latino codex) (DUARTE, 2001, p. 27).

Trabalho filológico. O trabalho filológico tem por objetivo a reconstituição


de um texto, total ou parcial, ou a determinação e o esclarecimento de algum
aspecto relevante a ele relacionado. Estende-se desde a crítica textual (recen-
sio, collatio codicum, estemática, emendatio) até às questões histórico-
literárias (autoria, autenticidade, datação, fontes, circunstâncias, sorte, unida-

159
de e integridade, linguagem do texto e avaliação crítica) (cf. BASSETTO,
2005, pp. 43-62).

Variante/lição (lectio). É cada uma das lições (ou leituras) divergentes dos
testemunhos de um texto (DUARTE, 2001, p. 29).

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