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HISTÓRIA ANTIGA ORIENTAL

CULTURA E RELIGIOSIDADE NO EGITO


ANTIGO

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Identificar relacionar a arte egípcia à sua conotação inegavelmente religiosa; conhecer a caracterização da arte

egípcia por elementos, como falta de perspectiva nas pinturas e rigidez nas linhas em suas esculturas;

2. relacionar o politeísmo egípcio à variedade de divindades adoradas nos nomos que, unidos, deram origem ao

Egito;

3. compreender as motivações que levaram os egípcios a desenvolver uma técnica de preservação para os

mortos;

4. perceber que a diferenciação social existia no Egito, inclusive na morte, pois nem todos tinham acesso à

mumificação;

5. compreender e discutir os momentos sociais do Médio e do Novo Império.

Bons estudos!

1. Panorama geral
Começaremos finalizando a linha política que havíamos proposto, uma vez que paramos em um momento

político de crise com Primeiro Período Intermediário. Pela cronologia, podemos notar que este lapso é bastante

curto, porém profundo, uma vez que transforma completamente o poder da própria figura faraônica.

Quando falamos na figura do faraó, temos que pensar na figura da sagração que marca esse traço. O nome

sagração nos remete à ideia de sagrado, aquele movimento que tem a chancela do sagrado. Quando se observa

essa questão da sagração, entende-se que por mais que as cerimônias sejam consideradas simples, elas tem um

efeito simbólico dentro da estrutura local.

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Figura 1 - Sagração

Assim, entendemos a figura do faraó do Médio Império. Ele perde completamente sua força e sua ação política,

no entanto em nenhum outro momento ele foi tão sagrado. O faraó deixa de poder ser tocado, visto de maneira

direta, é um deus, mas fica distante das questões humanas.

No momento em que se tem toda aquela disputa e a elite sacerdotal está assistindo a figura do faraó, ela ganha

uma função especial, os poderes locais e a aristocracia passam a ter uma força singular na estrutura social.

A escolha do faraó é uma questão política. Existe um traço, o faraó é escolhido pelos sacerdotes, não

necessariamente a morte de um faraó gera a busca de um novo ou o trono é garantido a seu filho no reino Médio.

Em vários momentos, os conflitos e a própria elevação à corregência cria a ideia de dois ou três faraós.

Tal modelo político geral uma lenta e constante deterioração das estruturas centrais. Grupos estrangeiros foram

ocupando áreas do Egito e, em cerca de cem anos o poder do Faraó era apenas uma sombra poderosa. É o

segundo período intermediário, espaço de dominação do Hicsos. Somente após quase cerca de 150 anos

observamos a ideia de um retorno faraônico. Mas, sobre essa transição veremos mais na próxima aula. Hoje

discutiremos a questão da religião e do poder dos mitos no mundo egípcio.

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Saiba mais
A questão do mito é importante para conhecer um pouco da história e da organização egípcia.
Alguns dos próprios faraós têm na sua construção se são homens ou deuses. O que se sabe é
que o próprio faraó é fruto de uma representação mítica de uma batalha divina. São aqueles
que representam a unificação da coroa. O que seria um faraó? A questão do mito é importante
para conhecer um pouco da história e da organização egípcia. Alguns dos próprios faraós têm
na sua construção se são homens ou deuses. O que se sabe é que o próprio faraó é fruto de uma
representação mítica de uma batalha divina. São aqueles que representam a unificação da
coroa. O que seria um faraó? Seria a reprodução do Maat, a reprodução da terra perante os
deuses, a própria casa da coroa de Horus personificada entre os homens ou aqueles que
representam Amon e a liderança do sol nesse mundo.

A organização do Egito terá um fundamento que será explicado. Esse próprio fundamento varia de momento

para momento e sempre com explicações religiosas. E essas explicações religiosas estarão representando, o

momento de auge do templo de Amon ou pode representar muito mais, buscando origens para sua legitimidade,

como no Novo Império e no período ptolomaico; é a coroa de Hórus que é buscada é a união de Isis e Osíris, do

homem e da mulher, do bem e do mal, como a representação do faraó como aquele que media essas forças. Por

isso ele é a coroa de Horus entre os homens.

Fique ligado
Quer conhecer um pouco sobre o panteão egípcio?
Então acesse o link <http://www.fascinioegito.sh06.com/panteao.htm>.

2. Para reflexão
Bem, agora, vamos fazer uma leitura da descrição elaborada pela professora Eunice Simões Lins Gomes, em seu

artigo sobre Ísis:

“Para descrever o mito de Isis, resolvemos começar detalhando sua origem. Tentamos reconstituir a

história cósmica a partir de Moustafa Gadalla (2003), Christiane Noblecourt (1994) e Christian Jacq

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(2000), todos baseados nos registros de Plutarco, colhidos entre os egípcios. Tudo inicia com Atum, o

Princípio Criador, Senhor do Universo, autocriado, que cuspiu, gerando um casal, irmãos gêmeos Shu

e Tefnut. Estes, deram origem a Nut (o céu) e a Geb (a terra), que eram estreitamente ligados. Sendo

assim, Atum ordenou que fossem separados, proibindo-lhes qualquer união sexual, mas sua ligação

era tamanha, que desobedeceram a ordenança e Nut ficou grávida de quatro gêmeos: Ausar (Osíris),

Auset (Isis), Set (Seth) e Neb-Het (Néftis). Ausar (lua minguante e lua crescente, representa a

natureza cíclica do universo) casou-se com Auset e tornou-se rei da terra, primeiro faraó do Egito,

visto ser Auset (assento, trono, autoridade) a herdeira legitima, o trono físico real.”

Vamos começar a partir da descrição da história

“Set casou-se com Néftis, mas como era estéril não teve filho. Tendo inveja de seu irmão Ausar o

odiou por sua popularidade, então resolveu matá-lo, arranjou uma briga e assassinou-o

traiçoeiramente. Depois de mata-lo cortou o corpo de Ausar em quatorzepedaços, um para cada

noite de lua minguante, e espalhou-o por todo Egito. Morto Ausar, Set tornou-se rei do Egito e

governou como um tirano. Auset, a viúva fiel, recusou a morte do seu amado e elaborou um projeto

insano, encontrar todos os pedaços do cadáver e reconstituí-lo. Ela queria reconstituir lhe a vida. Ela

encontrou todas as partes, menos o falo, que fora engolido por um peixe. Então, convocou sua irmã

Nebt-Het (senhora do templo, do culto) e organizou uma vigília fúnebre. Isis e Néftis, de corpo

purificado (inteiramente depilados e boca purificada), pronunciaram encantamentos numa câmara

funerária, obscura e perfumada com incenso. Isis invocou todos os templos e todas as cidades do

país para que se juntassem as suas dores e fizessem a alma de Osíris regressar do além. Também

tomou o cadáver nos braços e seu coração bateu de amor por ele, e murmurou-lhe palavras de amor

ao ouvido. Mas nada deu resultado, então, transformou-se num falcão fêmea, bateu asas para

restituir o sopro da vida ao defunto. E pousou no lugar do falo desaparecido de Osíris, que ela fez

reaparecer por magia.”

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Figura 2 - Lenda de Osíris

“Pode-se dizer então que as portas da morte abriram-se diante de Isis, que conheceu o segredo

fundamental, a ressurreição, conseguiu fazer regressar aquele que parecia ter partido para sempre e

ser fecundada por ele. Assim, foi concebido seu filho Hórus (Heru), nascido da união da vida e da

morte. Quando Set descobriu o nascimento da criança, tentou matar o recém-nascido. Mas Auset o

escondeu e assim Hórus foi criado em secreto às margens do Delta do Nilo. Quando cresceu, Hórus

desafiou Set pelo direito ao trono, e assim travaram muitas batalhas, numa das quais Set chegou a

arrancar o olho de seu sobrinho e lançá-lo no oceano celestial. “Contudo, nenhuma batalha foi

suficiente para derrotar um dos guerreiros. Sendo assim, ambos se apresentaram ao conselho de

neteru (poderes/atributos/ações do Único Deus), que determinou que Hórus deveria ser o

governante sobre o Egito e Set deveria reinar sobre os desertos.”

3. História Oriental
Enfim, Hórus representa a união das duas coroas e é o símbolo de um novo Egito. Um Egito que vai se afirmar na

sua imagética, como vemos ainda no Antigo Império com Djoser. Nas palavras de Christian Jacq (O Egito dos

Grandes Faraós):

“graças a uma inscrição encontrada em Uadi Hammamat, vale por onde passa a estrada que vai da

cidade de Coptos ao mar Vermelho, sabemos que o faraó envio expedições ao Sinai.

Nos rochedos do Uadi Maghara, na península do Sinai, estão representados vários soberanos, entre

os quais Djoser, que bate com sua maça piriforme num chefe beduíno prostrado em sinal de

submissão.

Mais do que um acontecimento particular, devemos ver nisso o símbolo do poder exercido por

Djoser sobre as tribos nômades que já não ousam transpor as fronteiras do "Duplo país" e perturbar

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a serenidade dos egípcios. E talvez devamos igualmente compreender que Djoser já mandava

explorar as minas de cobre do Sinai. Seja como for, a cena clássica do faraó derrubando o inimigo

assume aqui um valor especial: trata-se da vitória da ordem sobre o caos, de Djoser, o Magnífico,

sobre as forças obscuras do mal. Outro fato parece pertencer mais à lenda do que à História, mas a

sua importância merece que o assinalemos com alguns pormenores. No reino de Djoser teria havido

uma grande fome. Infelizmente, não o sabemos por meio de um documento contemporâneo, mas sim

por uma estela da época ptolomaica separada da terceira dinastia por um bem considerável número

de anos. A estela intitulada "da fome" está gravada num rochedo descoberto ao sul da ilha de Sehel,

na região de Elefantina, na extremidade meridional do Egito. “Fato extraordinário: os sacerdotes que

gravam esse texto dataram-no da época de Djoser! É evidente que não tencionavam enganar quem

quer que fosse com um documento falso. Podemos portanto, considerar que um dos ptolomeus se

identificou com o seu remoto e glorioso antepassado, Djoser, a fim de dar um caráter sagrado à sua

própria luta contra a fome. Também é possível supor que tenha sido transmitido um documento

histórico que evocava acontecimentos antigos.”

4. O que conta a estela da fome?


Ela nos diz que Djoser está profundamente triste. Sentado em seu trono, na solidão do seu palácio, sente um

verdadeiro desespero. A seca já dura sete anos. O Nilo não voltou a transbordar e a depositar na terra do Egito o

lodo fértil, é a miséria e a fome para todos. Os corpos mais vigorosos perdem a força; em breve sequer terão

força para andar.

As crianças choram; os velhos fatalistas estão sentados no chão à espera da morte. Mesmo os cortesãos passam

privações. Os templos vão sendo fechados um a um. O serviço dos deuses não é mais seguro.

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5. Qual a razão desta desgraça? Pergunta Djoser

“Volta-se para os sacerdotes do culto de Imhotep, o filho do deus Ptah, sábio entre os sábios. Que se

passa? porque motivo o Nilo, o sinuoso, a que que serpenteia, já não cumpre a sua missão? Os

sacerdotes procuram nas salas dos arquivos do templo de Thot, na cidade santa de Hermópolis.

Desenrolando os livros sagrados, recolhem preciosas informações, que transmitem a Djoser.

No meio das águas existe uma cidade: Elefantina. É uma cidade notável, sede de Rá, o deus sol,

quando este decide conceder a vida. Ora, existem lá duas tetas que dispensa todas as coisas. "O Nilo",

diz a estela, "acasala saltando como um rapaz que fecunda uma mulher e recomeça a ser um jovem

cujo o coração está vivo" Mas este renascimento anual depende de um deus: Khnum, homem com

cabeça de carneiro, cujas duas sandálias são colocadas sobre as ondas. Se Khnum não as levantar,

não será libertado. O Nilo não rejuvenescerá, e o vale estará condenado à seca."

Para começar...

“Djoser compreende que o deus Khnum está irado. Manda, pois realizar purificações e procissões em

honra do deus, faz-lhe oferendas de pão, cerveja, aves e vacas. Khum aparece-lhe num sonho: se o rei

continuar a honrá-lo como merece, levantará as sandálias, libertará o Nilo e fará voltar as

inundações. Ao despertar, Djoser emite um decreto a favor de Khnum. O milagre realiza-se: graças à

sabedoria do rei e à intervenção de Imhotep, as flores voltam a florir, a abundância regressa, a fome

desaparece, a terra resplandece e a alegria volta a habitar o coração dos homens.”

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6. Mas terá a narrativa anterior um conteúdo histórico
preciso?

“De fato, não é impossível que conserve a memória da soberania exercida por Djoser sobre toda a

região da primeira catarata, e mais particularmente sobre a Núbia. Para apaziguar Khnum e obter

favores, Djoser oferece-lhe a região compreendida entre Assuã e Tkompso, o Dodcsceno, segundo o

nome grego. Esse território gozou de um estatuto especial durante toda a história do Egito, estatuto

esse que lhe deve er sido concedido durante o reinado de Djoser.”

Tal reprodução demonstra o quanto é tenso a compreensão dos períodos históricos com poucos

documentos, muitos de caráter mítico.

“Djoser inaugura um segundo elemento muito presente no imaginário egípcio com a construção do

centro funerário de Saqqara. As pirâmides não eram necessariamente, o local onde se enterravam os

faraós. Só foram construídas pirâmides no Antigo Império, não há pirâmides reproduzidas nos

períodos posteriores, o que não quer dizer que a agricultura deixou de ser grandiosa com a

construção de grandes templos.”

Sobre a arte egípcia, é importante expressar que é um fator primordial para a compreensão do Egito. Aliás um

fato interessante: é um pouco difícil lembrar das imagens de templos e estátuas sem nenhum vestígio de cor e

acreditar que os estudos apontam o fato de que elas foram cheias de cores vivas, por vezes com combinações

berrantes.

Seguindo a linha de Sérgio Couto, em seu livro Desvendando o Egito, pensemos no trabalho desenvolvido nas

paredes dos túmulos. Muitas delas contam, como se fosse uma história em quadrinhos sem texto, cenas do

cotidiano do falecido.

A parede onde o desenho seria aplicado era primeiramente revestida de gesso branco para, em seguida, ser

aplicada tina sobre aquela camada.

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Figura 3 - Desenhos

A parede onde o desenho seria aplicado era primeiramente revestida de gesso branco para, em seguida, ser

aplicada tina sobre aquela camada.

O traçado do desenho era feito com um sistema composto por linhas mestras que dividiam a parede para efeito

de decoração, de maneira a obter superfícies delimitadas e reservar certos espaços para cenas diferentes.

Havia também uma outra rede linear que era apagada posteriormente. Era usada para obter as proporções. Essa

grande dividia o registro em quadrados de tamanhos iguais em figuras que se integravam e isso é um princípio

geométrico, bidimensional.

A ideia desse olhar foi trabalhar um pouco com o legado cultural egípcio. Demonstramos que, além das

pirâmides, esse povo foi responsável pelo desenvolvimento de outros tipos de arte, tão relevantes e suntuosas

quanto os monumentos fúnebres.

A revisão das obras tem o intuito de informá-lo sobre as cheias do Nilo, ou seja, diques, barragens, canais de

irrigação, mostrando como esse povo soube trabalhar com o que a natureza lhe ofereceu e também com a

adversidade: o deserto.

Ainda nesta vertente, serão apresentadas curiosidades sobre a edificação das pirâmides e a impossibilidade de

executá-las, sem a existência da mão de obra escrava e do modelo de servidão coletiva, anteriormente estudados.

Serão apresentados, ainda, o apurado senso estético e a riqueza de detalhes expressos nos ornamentos trazidos à

tona pelas descobertas arqueológicas e enfatizaremos que a preocupação em erigir monumentos de grande porte

estava associada à ostensiva demonstração de poder por parte dos faraós.

Outro importante foco a se conhecer é a íntima relação entre religiosidade e o poder do faraó.

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Técnica desenvolvida pelos egípcios para preservar os corpos após o óbito. Por se
Mumificação
um processo demorado e oneroso, não era acessível a toda a população egípcia.

Crença de que a alma, após a morte, transmigraria para o corpo do falecido. Por
Metempsicose
isso, os egípcios tinham a preocupação de preservá-los através da mumificação.

Antropomorfismo Representações divinas com aspecto humano.

Zoomorfismo Representações divinas com aspecto animal.

Representações divinas com parte do corpo sob a forma de animal e parte sob a
Antropozoomorfismo
forma humana.

Outro aspecto a ser fundamentado é o motivo para a adoção do politeísmo na prática da religiosidade egípcia.

Deve se remontar à sua origem, ou seja, a unificação dos nomos. Como cada um possuía suas próprias

divindades, elas foram conservadas dando origem a um vasto Panteão.

Um importante conceito é o de mentempsicose, ou seja, crença de que alma voltaria a habitar o corpo após a

morte. Sua relevância consiste no fato de justificar a preocupação desse povo com a conservação dos cadáveres.

Apenas os mais abastados dispunham de recursos para custear o processo de mumificação, o que significa que só

a esses era dado o direito de serem julgados no tribunal de Osiris.

Ainda nessa linha de raciocínio, podemos mostrar que o monumento funerário também era diferenciado de

acordo com suas posses, na medida em que apenas faraós eram enterrados em lugares suntuosos como as

pirâmides.

Os demais, se dispunham de bens, em monumentos mais simples, denominados hipogeus, mas ainda individuais

e, os pobres e escravos, em lugares coletivos denominados mastabas.

Podemos pontuar também o alto grau de desenvolvimento no que tange a conhecimentos anatômicos que esse

povo possuía, o que foi observado pelos estudiosos através das múmias nas quais foram constatadas cirurgias

complexas, inclusive no cérebro.

O que vamos aprender na próxima aula:


• A estruturas tardias do Egito, a dominação estrangeira e o fôlego da instituição faraônica;
• uma revisão para fixar as importantes sociedades discutidas até aqui.

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CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• compreender que o médio Império é um período em que o Faraó tem uma função simbólica;
• aprender que a Novo Império, mais do que um grande continuidade é o estabelecimento que busca a
legitimidade na organização faraônica;
• analisar como a arte e a religião ajudam a compreender de maneira mais ampla a organização egípcia.

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