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Educação e Renascimento

Flavia Miguel de Souza

Descrição Explicação das importantes mudanças ocorridas em âmbito mundial, pois o que foi vivido no
passado ainda está presente na contemporaneidade. Esclarecimento de como a aliança entre
Educação e Renascimento inaugurou a ideia de modernidade e construiu a cultura ocidental
diante do embate: tradição versus pensamento moderno.
Propósito Entender o mundo contemporâneo a partir do reconhecimento da modernidade, do pensamento
renascentista e dos embates com a religião. Buscar o passado que nos identifica a fim de apontar
a origem de nossa língua, de nossa história e os caminhos que marcam nossa maneira de pensar
a Educação.

Objetivos

Módulo 1 Módulo 2

Modernidade Educação no Renascimento


Conceituar modernidade para a História. Reconhecer a Educação no Renascimento.

Módulo 3 Módulo 4

Reforma e Contrarreforma na Pensamento pedagógico na


educação jesuítica no Brasil modernidade
Identificar o movimento da Reforma, da Contrarreforma e o Distinguir as linhas do pensamento pedagógico na
modelo de educação jesuítica implantado no Brasil. modernidade.

meeting_room Introdução
Quantas vezes escutamos, em nosso dia a dia, o uso da expressão “moderno” se
referindo a algo novo ou diferente? Mas de onde vem exatamente essa ideia sobre
o que é moderno?

É importante analisarmos mais detalhadamente o conceito de moderno para


compreendermos como ele interfere na Educação que conhecemos. Moderno e
seu derivado, modernidade, não são apenas palavras; são conceitos e, por isso,
podem ter múltiplos significados.
1 - Modernidade
Ao final deste módulo, você será capaz de conceituar modernidade para a História.

Origens
video_library Invenção da sociedade ocidental
Neste vídeo, os professores Flávia Miguel e Rodrigo Rainha debatem conceitos
importantes para a construção do entendimento sobre o Ocidente e a modernidade.
Vamos assistir!

A origem da ideia de moderno como novo surge de uma construção histórica.


Tradicionalmente, os historiadores convencionaram dividir a História em eras para
melhor compreendê-la e ensiná-la. Essa proposta, que chamamos de linha do tempo,
foi muito utilizada como método de estudo, sobretudo no século XIX, pelos
positivistas.

Saiba mais
Conforme Abbagnano (2012), o positivismo foi adotado por Augusto Comte para a sua filosofia e, graças a
ele, passou a designar uma grande corrente filosófica que, na segunda metade do séc. XIX, teve
numerosíssimas e variadas manifestações em todos os países do mundo ocidental.
A característica do positivismo é a romantização da Ciência, sua devoção como único guia da vida individual
e social do ser humano, único conhecimento, única moral, única religião possível. O positivismo acompanha
e estimula o nascimento e a afirmação da organização técnico-industrial da sociedade moderna e expressa a
exaltação otimista que acompanhou a origem do industrialismo.

Nesse recurso, vemos que a História começa na Idade Antiga com o aparecimento da
escrita. Isso se fundamenta na premissa da tradição europeia de que povos sem
escrita não teriam história, por isso, Pré-História.

Tradicionalmente, a organização cronológica no Ocidente pode ser dividida assim:

Essa concepção justifica, por exemplo, o estudo dos povos indígenas e africanos ter
sido relegado durante tanto tempo.

Após a Idade Antiga, surgiu a Idade Média, considerada a Idade das Trevas. Esse
termo surge no período renascentista, já na Idade Moderna. Os historiadores desse
período não viam um valor na Idade Média, entendendo-a simplesmente como uma
fase entre a cultura clássica e a moderna. Daí a visão, equivocada, de que a Idade
Média havia sido um período de estagnação e obscurantismo.
O Moderno surge em oposição ao Medieval. O novo e o velho. Essa ideia se
populariza, e temos ainda dificuldade em compreender que o moderno é algo
concebido em seu próprio tempo. Nesse caso, seguindo a convenção, entre os
séculos XV e XVIII.

close

Moderno novo Medieval velho

Embora ainda utilizemos o recurso da linha do tempo - que atualmente possui


diversos usos, desde histórico até biográfico –, é sempre importante fazê-lo de forma
crítica, entendendo que representa apenas convenções.

Um período histórico não começa e termina com um único evento, por mais
importante e significativo que ele seja. O conhecimento e a cultura são frutos de um
acúmulo, que ocorre ao longo dos séculos. Temos, portanto, em nosso modo de viver,
contemporâneo, diversos legados de períodos anteriores, dos quais alguns são
notórios enquanto outros são menos evidentes.

Como exemplo, podemos citar a nossa percepção estética, que é claramente derivada
da cultura clássica, greco-romana. Com certeza gostos, culturas e ideais de beleza se
alteram, porém de modo lento e sempre deixando resquícios.

Qual delas chama sua atenção de forma mais imediata?

A Pietá, esculpida por A urna marajoara feita pelos


Michelangelo no século XV, é
close povos indígenas brasileiros é
influenciada pela estética do período pré-cabralino. As
greco-romana. técnicas de pintura e escultura
fariam da arte marajoara uma
das mais importantes da
América.

Seu olhar provavelmente foi direcionado para a primeira imagem, enquanto na


segunda é possível que tenha havido um certo estranhamento. Isso acontece porque
parte significativa de nossa “educação estética” esteve voltada para os padrões
europeus e não para o continente americano.
Essa construção estética que observamos foi articulada durante a Idade Moderna,
período em que parte da sociedade ocidental como conhecemos se estruturou.

Veja como Deus pode ser retratado de formas diversas.

Idade Antiga

Os fenômenos do mundo e da vida humana eram explicados pela mitologia. Havia deuses que se
encarregavam de manter a ordem da Terra e seu funcionamento.

Idade Média
Os deuses deram lugar a um único Deus cristão, em torno do qual o mundo medieval se organizava
culturalmente.

Idade Moderna

O saber científico começa a ganhar espaço.

Iluminura do racionalismo medieval, considerado o movimento pai da modernidade.


Idade Contemporânea

Saber científico modificando as sociedades. A locomotiva a vapor é um grande símbolo das


transformações econômicas e sociais que são a marca do mundo contemporâneo.
Período Moderno
A Idade Moderna foi um período de intensos questionamentos e rupturas. Não que,
subitamente, tudo se fez novo e tudo que era ultrapassado tenha desaparecido. Mas,
aos poucos, surgem novas formas de ver o mundo, novas maneiras de explicar aquilo
que se vive.

O ser humano é questionador por natureza; e esse desejo de aprender sobre si e sobre
o ambiente em que vive fortalece e consolida a criação de instituições escolar. Em
cada tempo histórico, esse aprendizado teve um fundamento, uma forma de
organização.
Atenção!
Perceba que o fato da Ciência começar a se estruturar como fonte de conhecimento na modernidade não
faz, de forma alguma, com que a questão religiosa seja deixada de lado ou esquecida. A religião, em geral, e
o cristianismo, em particular, assumem novos papéis na ordem social que se altera progressivamente.

Consolidação do moderno
Dois elementos foram fundamentais para que a Idade Moderna se consolidasse:

Família expand_more

A família passa a ser fundamental para a inserção e o desenvolvimento do


indivíduo na sociedade. Com a decadência do feudalismo, um processo que
levou séculos, as cidades passaram a recuperar sua importância comercial,
com o estabelecimento de feiras e a intensificação do comércio, e aquele que
nelas vivia – o burguês – passou a ser sinônimo de comerciante. À medida que
alcançava prosperidade financeira, o burguês criava para si um novo tipo de
família. Seus filhos deveriam ser instruídos e educados para continuarem seu
ofício e assumirem seus negócios.
Escola expand_more

A construção de um ambiente governamental que tinha função de dar


formação de maneira estruturada aos alunos é um fenômeno moderno. Ainda
que existissem escolas – ou espaços que tendemos a atribuir o nome de
escolas – no mundo grego, romano e na Idade Média, a ideia de um prédio
fundamental, com funções públicas para formação dos sujeitos em níveis
diversos é nova. Mais ainda, se antes dependia-se de professores particulares
ou iniciativas da Igreja, passamos a falar de modelos previstos em lei,
mantidos pelo Estado e com funções de preparar o sujeito para o Estado.
Veremos mais sobre a escola – por seus aspectos práticos – no próximo
módulo.

Se antes apenas as crianças de origem nobre eram alvo de alguma educação


estrutural, agora também se começa a educar fora da nobreza. Um dos principais
estudiosos da questão familiar, Philippe Ariès (1914-1984), afirma que:
Os pais não se contentavam mais em pôr
filhos no mundo, em estabelecer apenas
alguns deles, desinteressando-se dos
outros. A moral da época lhes impunha
proporcionar a todos os filhos (no fim do
século XVII, até mesmo às meninas), e não
apenas ao mais velho, uma preparação
para a vida.
(ARIÈS,1986, p.277)

Essa estrutura familiar, que se tornou uma das características da modernidade, fez
com que surgisse outro conceito que modificaria definitivamente as relações sociais:
a infância. Retomando Ariès (1986), no medievo não havia uma grande separação
entre as idades, e as crianças eram tratadas como pequenos adultos.

Até então, não houvera grande preocupação com as crianças, seu desenvolvimento,
aprendizado ou bem-estar. A mortalidade infantil no medievo era acentuada, a
mobilidade social, improvável. Se o destino de uma criança era repetir – se tivesse
sorte – o ofício de seu pai, a educação formal, letrada, não fazia sentido.
Foram a modernidade e a retomada do letramento como algo a
ser apreciado que modificaram, pouco a pouco, esse cenário. A
criança deixou de ser um “adulto em miniatura” e tornou-se um
indivíduo com necessidades próprias e sobre o qual ampliam-se
as expectativas familiares.

A modificação da forma como a infância era entendida reflete


Virgem e o menino
uma alteração no comportamento social, e a escola, elaborada
a partir de então, traduz essa mudança. O sentido de
aprendizado passa a se estruturar em torno de uma proposta
didática que, por sua vez, constitui o cerne de diversas
disciplinas e saberes organizados.

headset Podcast
Agora vamos conhecer um pouco mais sobre Educação e Modernidade com o
professor Rodrigo Rainha:
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1

Alguns autores justificam a definição de Pré-História para o período anterior ao da


escrita (como se apresenta na linha do tempo), afirmando que, como o termo
“História”, orginalmente grego, significa “pesquisa, investigação”, a forma mais
segura para tal seria a documentação escrita. Daí, somente após o desenvolvimento
dessa técnica teríamos verdadeiramente a História. Por outro lado, sabemos que
essa concepção de Pré-História:

A relegou o estudo de povos indígenas e africanos.

determinou que a linha do tempo não tivesse mais qualquer sentido


B
no estudo de História.

contribuiu para que os positivistas negassem a utilização da linha do


C
tempo.
continua presente e é reconhecida como a melhor forma de
D
compreensão do tema.

definiu como histórico apenas os fatos ocorridos após a fundação de


E
Roma.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Vivemos em uma sociedade fruto da expansão do domínio europeu, iniciado no


século XVI e consolidado no século XIX. Esse domínio inaugura a era da
modernidade, período em que o mundo passa a reconhecer a Europa – por conta do
domínio político e econômico – como a referência inclusive histórica de que a
verdade do mundo era europeia. Isso leva a partes da história do mundo serem
completamente relegadas.

Questão 2

Sabemos que a Modernidade foi um período de intensos questionamentos e


rupturas. Porém, sabemos que tais questionamentos não surgiram de uma hora para
outra, mas foram consolidando-se ao longo da evolução da sociedade humana; e
que continua em desenvolvimento. Assim, se observarmos cada tempo histórico,
perceberemos que o aprendizado teve um fundamento, um modo de se organizar.
Sobre isso podemos afirmar, exceto:

Na Idade Antiga, era a mitologia que dava sustento aos fenômenos


A
do mundo; nela buscavam-se justificativas para a realidade.

Na Idade Média, um único Deus cristão deu lugar a divindades


B míticas, e em torno dessa fé o mundo medieval organizou-se
culturalmente.

Na Idade Moderna, o saber científico assumiu o papel de


C
fundamentar e organizar o conhecimento do mundo.

Na Idade Contemporânea, a tecnologia digital substitui


D definitivamente o saber científico, apresentando explicações
inovadoras para a realidade que nos cerca.

Embora o modelo de estrutura familiar da modernidade não altere o


E
modelo medieval, o conceito de infância é substituído.
Parabéns! A alternativa D está correta.

A Idade Contemporânea não é marcada apenas pelas tecnologias digitais;


lembremos que sua primeira grande tecnologia foi a utilização do vapor, na
Revolução Industrial (fins do séc. XVIII). Além disso, todas as tecnologias, inclusive
as digitais, continuam baseadas, em grande parte, nos pressupostos científicos
modernos.
2 - Educação no Renascimento
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer a Educação no Renascimento..

Renascimento
O Renascimento, movimento intelectual ocorrido no final da Idade Média e durante a
Idade Moderna, é um tema que tem sido exaustivamente estudado. Não só pela sua
importância na concepção da história intelectual do Ocidente, mas também pelas
rupturas que provocou na organização do conhecimento até então estabelecido.

Quando falamos em Renascimento, imaginamos a arte do período e seus


representantes, como Michelangelo e Leonardo da Vinci.
A Inspiração de São Mateus

Essa é a face mais popular do movimento e tem sido constantemente recuperada em


filmes e obras literárias de ficção. Não que esse aspecto seja irrelevante; longe disso,
a questão estética e cultural é um dos fundamentos da ideologia renascentista.
Segundo Abbagnano (2012), pode-se denominar ideologia toda crença usada para o
controle dos comportamentos coletivos, entendendo-se o termo crença, em seu
significado mais amplo, como noção de compromisso da conduta, que pode ter ou
não validade objetiva.

Contudo, é preciso desfazer o equívoco de que esse seja o principal aspecto de toda a
movimentação intelectual gerada pelos cientistas, artistas e filósofos do período.
Dica
Assista ao filme O Mercador de Veneza, baseado na obra de William Shakespeare, que apresenta uma
narrativa envolvente, instigante e ainda nos ambienta na Veneza renascentista.

O Mercador de Veneza
Na Veneza do século XVI, quando um comerciante pega um grande empréstimo com
um agiota judeu para ajudar um amigo com ambições românticas, o credor
amargamente vingativo exige um pagamento horrível.

video_library Renascimento e arte


Neste vídeo, os professores Rodrigo Rainha e Flávia Miguel debatem conceitos
importantes para a construção do entendimento sobre a Arte no Renascimento.
Vamos assistir!
O Renascimento não é apenas um. Por ser multifacetado, ele pode ser pensado em
aspectos distintos (comercial, urbano, científico e cultural), os quais estão interligados
e juntos compõem um quadro de mudanças extraordinárias e de grande
movimentação intelectual que marcaria definitivamente o campo da Educação.

A dinâmica do Renascimento é expressa em um movimento de rupturas e


continuidades. Por um lado, há a retomada de valores clássicos que passaram a ser
discutidos e aperfeiçoados, não só do ponto de vista estético – a arte renascentista
recupera em grande medida a arte clássica –, mas também do ponto de vista político
e filosófico.

É necessário atentar para a ideia de retomada que tão frequentemente se utiliza ao


discutir esse momento. Essa “retomada de valores” não é, sob nenhuma circunstância,
uma mera transposição. Historicamente, não é possível fazer uma transposição sem
alteração de um período histórico para outro.

Um bom exemplo é a transformação das tecnologias e como elas impactam o mundo.


Se antes os livros eram belos e coloridos feitos nos scriptoria, com a prensa de
Gutenberg sua produção foi acelerada e houve o aumento de leitores.

Saiba mais
Vamos utilizar o pensamento do filósofo Heráclito de Éfeso, que viveu no século V a.C., para
compreendermos melhor essa impossibilidade. Ele afirmava que uma pessoa jamais se banharia duas vezes
no mesmo rio, pois suas águas nunca são as mesmas; estão sempre fluindo. Da mesma forma, a
humanidade muda todos os dias: suas ideias, concepções, gostos e opiniões são impermanentes. Em
essência, o pensamento de Heráclito traduz a ideia de mutação constante.
Quando se recuperam valores ou modos de pensar que existiram no mundo clássico greco-romano, eles são
adaptados ao pensamento moderno, ou seja, a um tempo diferente daquele em que foram originalmente
concebidos. Portanto, por mais que o pensamento renascentista traga para a modernidade conceitos
clássicos, como a ideia de cidadão, ele o faz de acordo com seu próprio tempo e não apenas reproduzindo o
que se entendia como cidadão na Antiguidade.

Heráclito de Éfeso
Conhecido como “o obscuro”, foi um pensador e filósofo pré-socrático considerado o
pai da Dialética.

O Renascimento foi um terreno fértil para que se discutisse a condição humana. As


mudanças no modo de vida da população, a substituição progressiva do sistema
feudal pela centralização política, a recuperação e dinamização do comércio
trouxeram novos questionamentos ao indivíduo moderno e, dentre eles, qual era a
natureza humana de fato e, sendo ela estabelecida, qual o papel do Estado no seu
controle.

À medida que o Feudalismo, fundamentado na fragmentação de poder, era substituído


pela centralização política, tornava-se importante compreender o Estado que derivaria
dessa centralização.

Feudalismo
No sentido mais geral, o termo refere-se ao sistema de organização
da sociedade medieval (Idade Média), compreendendo elementos
sociais, políticos, econômicos e ideológicos daquele período.

Pensadores
O pensamento educacional no Renascimento e no movimento intelectual que o segue,
o Iluminismo, estrutura-se apoiado em diversos autores. Analisaremos dois diferentes
pensadores para compreendermos suas ideias e como eles influenciaram o campo da
educação.

Comecemos pelo italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527), autor de uma das principais
obras de política já produzidas, O Príncipe; um manual de política escrito no século
XVI, que expunha suas principais ideias acerca da arte de governar.

Nicolau Maquiavel
Foi um filósofo, historiador, poeta, diplomata e músico renascentista.
É reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política
moderna, pelo fato de ter escrito sobre o Estado e o governo como
realmente são, e não como deveriam ser.

Atenção!
De sua obra-prima, nasceu o termo maquiavélico, que adquiriu o sentido de luta e manutenção do poder a
qualquer custo.

Os estudiosos da obra de Maquiavel contestam amplamente esse sentido porque - apesar de ter afirmado
que os fins justificam os meios - há ressalvas e condicionantes, como a ideia de justiça e bem comum,
também trabalhadas pelo filósofo.
Quais as funções de um rei e suas obrigações com o povo?

Quais os limites impostos ao soberano, se é que deve haver limites?

Esses questionamentos estão no cerne da obra de Maquiavel e, em busca dessas


respostas, o filósofo discorre extensamente sobre a natureza humana, o Estado e o
papel da Educação.Note que não é ainda a ideia de educação formal como mais tarde
seria estruturada, mas uma educação prática, para a vida em sociedade.

Maquiavel e outros pensadores que o


sucederam entendiam que o ser humano
em estado natural tende a ser selvagem.
Sem um Estado e leis que o regulem, ele
é dominado por suas paixões e seus
desejos, tomando para si aquilo que
cobiça sem que haja consequências ou
La Divina Commedia di Dante, de Domenico di
Francesco. punições. Essa natureza torna impossível
a vida em sociedade, pois - sem
disciplina e regulamentos, além de uma
figura de autoridade para impor, mesmo
que com o uso da força - não haveria a
ordem social.

A educação dá-se pelo exemplo. Cabe ao governante educar pelo exemplo para que se
construa o sentido da cidadania e formem-se bons cidadãos.
Depreende-se das reflexões de Maquiavel
que ele concebe o ser humano como
agente de seus atos, portanto capaz de
escolher seu caminho, pelo fato de possuir
livre arbítrio, mas precisa de um
direcionamento que o ajude a fazer as
escolhas corretas. Esse direcionamento
pode ser realizado por meio do exemplo
do governante, pela educação e com boas
leis.
(OLIVEIRA e RUBIM, 2012)

É importante percebermos que esse sentido de educação pelo exemplo é uma das
primeiras concepções de educação da modernidade. Na ausência de um formalismo,
o mestre torna-se exemplo daquilo que deve ser aprendido. Essa ideia de mestre e
discípulo, de aprendizado pelo exemplo, já existia na Antiguidade entre as primeiras
escolas filosóficas, onde também se debatia a natureza humana e seu
comportamento social. Esse é um exemplo de retomada de valores clássicos,
adaptados por Maquiavel ao mundo moderno.

A Educação para Maquiavel estava, inegavelmente, vinculada à virtude. Mas ele não é
o único pensador moderno que entendia a educação dessa maneira.

O sentido de virtude aparecia em outras propostas pedagógicas, como a do filósofo


inglês John Locke (1632-1704).

Autores contratualistas
O pensador John Locke faz parte do que chamamos de autores contratualistas.

John Locke
John Locke viveu em uma Inglaterra dividida entre um parlamento e a
monarquia. Sua origem burguesa fez com que tendesse para a
defesa do parlamento e o desenvolvimento de teorias, que
constituiriam o sistema liberal, basilares para a história política e
econômica da Inglaterra.
Esses pensadores acreditavam na
existência de um contrato social que
seria, de forma bastante resumida, um
contrato tácito entre Estado e indivíduo.
Para ter direito à vida em sociedade, à
manutenção da propriedade e à garantia
da vida e da segurança, o indivíduo
Locke
abriria mão de seu direito fundamental, a
liberdade, legando ao Estado o direito de
prender, julgar e punir com a privação da
liberdade e, em casos extremos, da vida
para garantir o bem comum.

A despeito de considerar Deus como fundamental para o desenvolvimento das


sociedades, Locke condena a participação da Igreja em assuntos de Estado. Durante a
Idade Média e boa parte da Idade Moderna, Igreja e Estado funcionavam como um e,
não raro, a Igreja Católica possuía prerrogativas de Estado, como julgar e punir.

Exemplo
O processo da Inquisição teve início na Europa do século XII. A despeito de seu caráter religioso, os
inquisidores eram dotados de amplos poderes políticos, podendo prender, conduzir julgamentos, proceder
investigações, punir e até condenar à morte.

Apesar de os renascentistas questionarem e criticarem a Igreja como instituição,


entendiam-na separada da fé em Deus. Os movimentos do Renascimento não eram
ateus, mas colocavam em xeque as instituições e a forma como elas se relacionavam.

O racionalismo renascentista permitiu que essas discussões ocorressem. Esse


princípio buscava compreender o mundo por meio da observação dos fenômenos,
recusando explicações simplistas ou de caráter religioso. Mesmo os questionamentos
simples possuíam anteriormente respostas teológicas.

A partir do momento em que o ser humano se dedica a estudar o mundo que o cerca a
partir de outro olhar que não seja o religioso, diferentes explicações tornam-se
possíveis, e a Ciência começa a se estruturar como fonte legítima de conhecimento.

A Física, a Química, a Medicina e a Botânica


passam a oferecer novas formas de
compreender o mundo. Essas ciências se
baseiam no empirismo, na observação dos
fenômenos.

O empirismo foi um dos pilares da modernidade


e, como pensamento, está presente até nossos

O sistema solar segundo Nicolau Copérnico


dias.
na Harmonia Macrocosmica de Andreas
Cellarius (1660). Locke pode ser considerado um dos primeiros
racionalistas. Podemos afirmar que sua lógica é
o conhecimento que surge a partir da razão e da
empiria. Fora desse campo, é apenas matéria de
opinião ou, como diríamos, “achismo”.
Considerando a razão e a empiria, o
conhecimento seria a construção de um
processo observatório – interpretativo. Apesar
disso, suas dinâmicas são diferentes entre os
autores.

Empirismo
Segundo Abbagnano (2012), foi uma
corrente filosófica para a qual a
experiência era critério ou norma da
verdade; o empirismo não se opõe à
razão nem a nega, a não ser quando a
razão pretende estabelecer verdades
necessárias, que valham em absoluto,
de tal forma que seria inútil ou
contraditório submetê-las a controle.

Ele também fundamentou dinâmicas pautadas na liberdade e na condição social de


formação do sujeito. A partir desses fundamentos, formulou uma série de propostas
pedagógicas que acreditou serem importantes para estabelecer princípios
educacionais sólidos e bem-sucedidos. Essas propostas foram reunidas em sua obra
Alguns pensamentos sobre a Educação, produzida em 1693.

Saiba mais
Para John Locke, a educação possuía um caráter eminentemente moral. De nada adianta a um indivíduo
dominar os princípios da Ciência se isso não o torna uma pessoa e um cidadão melhor. Vemos aí uma
sofisticação da premissa maquiavélica de educação virtuosa posto que, também segundo Locke, a
Educação deve servir a um propósito maior.

A preocupação com o mestre, que Locke chama de tutor, é constante:

O preceptor não deve ser somente um


indivíduo bem educado; é preciso que
conheça o mundo, os costumes, os gostos,
as loucuras, as mentiras, as faltas do
século em que o destino tem lançado,
sobretudo, o país em que vive. É preciso
que saiba fazer conhecer e descobrir tudo
isso a seus discípulos, à medida que estes
se capacitam para compreender; que os
ensine a conhecer os homens e seus
caracteres; que descubra a careta com que
disfarçam com frequência seus títulos e
suas pretensões; que faça distinguir o que
está oculto no fundo dessas aparências.
(LOCKE apud BALABAN, 2012)

Educar pelo exemplo, educação para cidadania. Esses princípios são fundamentais
para compreender a Educação no Renascimento. A eles, Locke acrescenta outro viés,
herdado das concepções greco-romanas: a saúde e o desenvolvimento físico. Locke
demonstra cuidado no aperfeiçoamento moral e físico do ser humano.

Renascimento ou Iluminismo?
Você já deve ter notado que é muito comum confundir o pensamento Renascentista
com o Iluminista. Embora o primeiro tenha acontecido nos séculos XV e XVI e o
segundo no século XVIII, parece que são a mesma coisa. Não são! Contudo, são
inegáveis as influências e continuidades na ruptura desses pensamentos.
A razão e a empiria renascentista eram alguns dos pilares do movimento iluminista,
que ocorreu no século XVIII. Esse período ficou conhecido como Século das Luzes, em
oposição às trevas que obscureciam a razão. Cada vez mais razão e ciência passaram
a ser vistas como fontes de conhecimento, e aumentava a necessidade de se educar
com base nos princípios da empiria e da razão.

Um experimento em um pássaro em uma bomba de ar

Um de seus principais representantes, no que toca o debate acerca do conhecimento e


do aprendizado, foi Immanuel Kant (1724-1804). Filósofo prussiano amplamente
considerado como o principal filósofo da era moderna, Kant operou, na epistemologia,
uma síntese entre o racionalismo continental e a tradição empírica inglesa.

Sua proposta fundamentava-se na seguinte ideia:


Todo conhecimento deve ser questionado, afastando,
cada vez mais, o conhecimento científico do teológico.

Partindo desse princípio, Kant foi além: defendia que devemos criticar a própria razão
e que nem mesmo ela é imune a erros.

A pedagogia expressa na filosofia


kantiana, embora fiel aos ideais
iluministas, é, ao mesmo tempo, uma
crítica a esses mesmos ideais. Para Kant, a
razão jamais deve prescindir de uma
crítica de sua própria capacidade. A
preocupação essencial do filósofo com a
educação insere-se no campo da moral,
posto que o ser humano não nasce moral,
mas torna-se por meio da educação, cuja
função primordial consiste em fazer
despertar a reflexão crítica no aluno. A
formação do caráter na pedagogia
kantiana assenta-se no cultivo da boa
vontade, cujo fundamento é o imperativo
categórico que, por meio do exercício
crítico da razão, une o subjetivo e o
objetivo, o individual e o coletivo numa
mesma ordem.
(SILVA, 2007)

headset Podcast
Vamos conhecer um pouco mais sobre Educação e Renascimento com o professor
Rodrigo Rainha.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

Se falarmos em Leonardo da Vinci (1452-1519), Michelangelo Buonarroti (1475-


1564), Donatello (1386-1466) e Rafael Sanzio (1483-1520), estaremos falando de
alguns dos artistas que representaram o movimento histórico chamado
Renascimento, o qual:

era multifacetado, devendo ser pensado em diversos aspectos


A
distintos: renascimento comercial, urbano, científico e cultural.

foi marcado por uma única dinâmica: continuidade; pois retomou


B
valores clássicos que passaram a definir o valor estético do período.
possuía, somente, dois aspectos os seus aspectos interligados entre
C si: cultural e científico, possibilitando mudanças extraordinárias e
grande movimentação intelectual.

não provocou amplas mudanças também no campo da Educação,


D
somente articulando o aspecto cultural e científico.

Foi essencialmente marcado pela arte e não resultou em uma ampla


E
mudança.

Parabéns! A alternativa A está correta.

O que chamamos de “dinâmica do Renascimento” é exatamente o movimento que


ruptura e continuidade com os elementos sociais anteriores da sociedade europeia.
Ocorreu uma tentativa de resgate dos valores clássicos e afastamento dos
medievais, mas também ocorreu o advento de produções específicas. Sendo assim
impactou diversos âmbitos da sociedade produzindo múltiplos “renascimentos".

Questão 2
A centralização política nas mãos de um monarca também caracterizou a Idade
Moderna. Essa centralização, porém, confrontada com a fragmentação que marcou
o período anterior, gerou uma série de questionamentos que tentaram ser
respondidos pelos filósofos do período. Sobre isso, podemos afirmar:

I. Entre esses questionamentos estavam aqueles acerca do limite do poder do rei e


de suas obrigações com seus súditos.

II. Alguns filósofos, como Kant, incluíam nesses questionamentos o papel da


Educação frente àquela nova realidade.

III. Maquiavel foi importante representante desse período e buscou responder a


essas inquietações.

Das afirmações acima:

A Somente I é verdadeira.

B Somente II é verdadeira.

C Somente II é falsa.
D Somente III é falsa.

E I e II são verdadeiras.

Parabéns! A alternativa B está correta.

Os questionamentos sobre Educação também estão presentes no período da Idade


Moderna; porém são apresentados inicialmente por Maquiavel (ainda que não
somente por ele). Kant, que com sua filosofia questionou o modelo moderno, foi um
grande representante do Iluminismo, período posterior ao do Renascimento.
3 - Reforma e Contrarreforma na educação jesuítica
no Brasil
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar o movimento da Reforma, da
Contrarreforma e o modelo de educação jesuítica implantado no Brasil.
Religião no Renascimento
Apesar de a Idade Moderna ter sido marcada pelo enaltecimento da razão, o quesito
religioso não deixou de ser importante. Seria um equívoco enorme imaginar que suas
manifestações não estavam em meio à religião.

Pietà, 1499. Basílica de São Pedro, Vaticano

Se na Idade Média a religião era o centro do conhecimento e da vida em sociedade, na


Idade Moderna ela se modificou e adquiriu novo sentido.
Isso ocorre, em parte, devido às transformações, como os movimentos
renascentistas, e pelo movimento de Reforma Religiosa. As obras de Michelangelo
são encontradas no Vaticano e não chegaram lá por acidente!

Atenção!
Se as ideias mudaram, a vida social mudou, tornando-se mais individualista, e o próprio conceito de Ciência
se alterou; certamente a religião, parte tão importante da cultura ocidental, também sofreu mudanças.

No caso da Igreja Católica, as propostas de mudança remontam ainda à Idade Média.


Ao longo do tempo, a Igreja se tornara uma grande proprietária de terras, acumulando
imensa riqueza e poder. Sua soberania e influência política na maior parte dos reinos
europeus entrava em contradição com aquilo que era pregado pela Bíblia, sobretudo
no que diz respeito ao Novo Testamento.

O papel primeiro da Igreja, salvar almas, foi, na visão de seus críticos, sendo deixado
de lado.

A Arte é um bom relevo do poderio da Igreja e da


contradição de sua força social. Essa
representação foi feita de muitas formas,
contudo uma das melhores é absorver toda a dor
e a contradição nos detalhes das obras de

A Incredulidade de São Tomé (Caravaggio)


Caravaggio. A perspectiva, a Arte, a serviço da
crença. À medida que a instituição enriquecia,
afastava-se das questões espirituais e se
aproximava do campo da política.
Reforma Religiosa
Não havia uma separação entre Igreja e Estado. Isso significa que a Igreja podia
prender e julgar aqueles que, segundo seu entendimento, cometessem crimes de fé,
como renegar princípios católicos. A despeito do temor que as punições provocavam,
diversos pensadores, chamados de reformistas, questionavam a conduta da Igreja
Católica, o que desencadeou, na Idade Moderna, na chamada Reforma Religiosa.

Um dos primeiros pensadores a questionar a


doutrina e a conduta da Igreja Católica foi Jan
Hus (1369-1415), ainda no século XIV. Para Hus,
a Igreja devia se aproximar de seus fiéis e, por
essa razão, defendia que as missas deviam ser
celebradas na língua de cada povo.

A modificação do idioma para facilitar a


compreensão da missa (naquela época, as
missas eram rezadas somente em latim, idioma
Jan Hus
que a população não compreendia) tornou-se um
tema constante para os reformistas, os quais
acreditavam que dessa maneira poderiam
aproximar os fiéis da prática religiosa.
Jan Hus nasceu na Região da Boêmia, atual República Tcheca, e defendia os ideais de
pobreza e caridade bíblicos, além de condenar o acúmulo de riquezas da Igreja
Católica. Por defender o que a Igreja considerava como heresia, Jan Hus foi
condenado à morte na fogueira, em 1415.

Queima de Jan Hus na fogueira no Concílio de Constança

Embora houvesse punições severas, elas não impediram o movimento reformista.


Diversas contradições eram apontadas pelos críticos da Igreja:

Comércio de relíquias
Enriquecimento ao invés da caridade
Venda de indulgências
Adoração de santos
Celibato
Atenção!
A condenação da usura, do enriquecimento pelo lucro, incomodava particularmente a burguesia, que tinha aí
sua fonte de riqueza. Além disso, era visto como contraditório a Igreja ser uma instituição rica, mas não
permitir que a população também o fosse. À medida que essas contradições se tornavam mais evidentes, os
reformistas foram ganhando apoio não só das classes burguesas, mas também de alguns governantes, reis
e príncipes, cujo poder era cerceado pela interferência eclesiástica.

Atuação de lutero
É nesse contexto que as reformas de Martinho Lutero (1483-1546), considerado o pai
da Reforma Protestante, ganham força. Daquilo que via como contradição, era a venda
de indulgências um dos principais alvos de suas críticas.

Lutero nasceu em 1483, na atual Alemanha. Jovem, entrou para a ordem dos
agostinianos e, como monge, estudou com afinco a Bíblia. Seus estudos o levaram a
questionar a prática católica.

Sua recusa em retroceder em suas críticas o fez ser excomungado em 1521. Sua
defesa da salvação somente pela fé, no entanto, o fez ser acolhido em principados dos
quais se tornou protegido.
As propostas teológicas de Lutero logo se
espalharam, em parte devido a uma invenção
que modificou o mundo intelectual: a imprensa.
A impressão de livros permitiu que a Educação
ganhasse corpo e que a leitura, antes restrita,
começasse a ser popularizada. O reformista
Martinho Lutero
traduziu a Bíblia para o alemão, aumentando
assim o número de pessoas com acesso à sua
doutrina.

Martinho Lutero e a Reforma Protestante provocaram uma enorme mudança na


Educação, posto que na Idade Média cabia apenas à Igreja Católica o papel de ensinar,
além de ela monopolizar a produção de livros.

Dica
Assista ao filme O Nome da Rosa, de 1986, baseado no romance homônimo do crítico literário italiano
Umberto Eco; No filme, é possível ver o scriptorium de um mosteiro medieval, onde os monges se dedicavam
à cópia dos livros permitidos pela Igreja.

O Nome da Rosa
Um monge franciscano investiga uma série de assassinatos em um remoto mosteiro
italiano. Isso provoca uma guerra ideológica entre os franciscanos e os dominicanos,
enquanto o monge lentamente soluciona os misteriosos assassinatos.
Lutero estimulava o desenvolvimento da Educação a fim de que não fosse restrita à
elite e à nobreza, mas alcançasse a população para que esta pudesse ler a Bíblia
livremente, permitindo-lhe se aproximar de Deus e de sua própria salvação.

Contrarreforma
A Reforma Protestante provocou a resposta da Igreja Católica, conhecida como
Contrarreforma Católica. Foi realizado então o Concílio de Trento, que começou em
1545, cujas competências eram:

Reforçar a autoridade do Tribunal da Inquisição (que existia desde o século XIII)


Estabelecer o Index Librorum Prohibitorum (uma lista de livros que deveriam ser
abolidos e cuja leitura era proibida)
Enfatizar a autoridade papal (segundo a doutrina, o papa era infalível, o que era
criticado pelos reformistas)
Constituir os seminários para promover e controlar a formação do corpo
eclesiástico

infalível
É importante destacar que leitura de infalibilidade papal é posterior.
A infalibilidade papal, no que concerne à doutrina, foi estabelecida no
Concílio Vaticano I (primeiro): 1869 -1870.

No entanto, desde Gregório VII, em um documento chamado Dictatus


Papae, é afirmada continuamente a ideia de que a Igreja é uma
herança direta de Jesus e o papa é sua escolha, junto com os seus
sucessores Pedro e Paulo, criando o discurso que se aproxima da
lógica de infalibilidade.

Saiba mais
Não podemos esquecer que o século XVI foi o século da expansão marítima. Os reinos europeus se
lançaram ao mar a fim de conquistar novas terras e chegaram ao continente americano, habitado por povos
que desconheciam o cristianismo. Para a Igreja, a conversão dos povos nativos da América era fundamental
para manter seu corpo de fiéis e consolidar sua influência no novo continente.

É importante explicar que uma historiografia vista mais de perto observa que não
podemos considerar a Contrarreforma como uma resposta pura e simples, mas sim
como a consolidação de um processo que a Igreja já experimentava: retomar seus
preceitos conservadores, rompendo ciclos de “devassidão” muito atribuídos a papas
como Rodrigo Borgia, recuperando os mandamentos que marcam a Igreja.
A fundamentação teológica da Igreja é que, se houve perda de fiéis, foi porque alguns
fundamentos, caminhos, precisavam ser recuperados, os desvios combativos.

A fé precisava ser quente, pregada; ainda que o ideal das missões militares do período
das cruzadas não devesse mais existir, seu sentido missionário – cumprir e atender
uma missão – deveria ser alcançado.

video_library Reforma e Contrarrefoma


Neste vídeo, Rodrigo Rainha e Flavia Miguel debatem a Reforma e a Contrarreforma.
Vamos assistir!

Os jesuítas
Santo Inácio de Loyola (1491-1556) deixou a Autobiografia com a qual podemos
conhecer um pouco mais de suas inspirações. Na obra, sobre a Educação, ele afirma:

Santo Inácio de Loyola


Fundador da Companhia de Jesus, uma das mais importantes
ordens eclesiásticas, encarregada da conversão e catequese de fiéis.
Seus membros, denominados jesuítas, desenvolveram práticas
pedagógicas que, na América, foram aplicadas aos indígenas para
obter sua conversão ao catolicismo. Os jesuítas foram, então, os
pioneiros na Educação no Brasil.
De fato, a presença jesuítica foi tão marcante e está tão arraigada em
nossa cultura que julgamos que eles estiveram presentes desde o
início da colonização. Quando vemos obras como o quadro A
Primeira Missa no Brasil, de Vitor Meirelles, nosso imaginário de
imediato nos faz acreditar que o padre que rezou essa missa era um
jesuíta, o que não é correto. Frei Henrique Soares de Coimbra, quem
oficia o primeiro culto, era franciscano. Em 1500, a ordem jesuíta
ainda não existia, foi criada por Inácio de Loyola em 1534.

Exercitava-se em dar exercícios espirituais


e a declarar a doutrina cristã, e com isso
fazia-se fruto para a glória de Deus. E
houve muitas pessoas que chegaram a
grande conhecimento e gosto de coisas
espirituais.
(AUTOBIOGRAFIA, Santo Inácio de Loyola)
O exercício do ensinar e do aprender não podia ser para si, mas para conduzir, para
levar os outros à divindade, à salvação. O princípio máximo jesuítico era ensinar o
caminho da salvação e, para isso, era necessário ser educado, direcionado.

Os jesuítas eram considerados uma ordem militar. Sua


missão era converter os povos não cristãos e desde sua
origem aproximaram-se da Educação, seguindo o que
ficou conhecido como metodologia inaciana, em
referência ao fundador da ordem, Inácio de Loyola. Sua
pedagogia estava fundamentada no Ratio Studiorum,
publicado em 1599.

Saiba mais
Os jesuítas chegaram ao Brasil com o Governo Geral, em 1549, portanto, antes da publicação do Ratio
Studiorum. Nos primeiros anos da presença jesuíta, destaca-se a atuação do padre Manoel da Nóbrega
(1517-1570), que criou os aldeamentos, locais onde os índios de diferentes etnias eram agrupados a fim de
serem catequizados.

Não podemos esquecer que a prática pedagógica jesuíta possuía um objetivo:


converter os não cristãos. Além disso, a visão do europeu sobre o indígena era
extremamente etnocêntrica, desconsiderando que esses povos tinham sua própria
cultura e formas diversas de organização.

Os primeiros ensinamentos jesuítas focavam o domínio da língua portuguesa pelos


indígenas, o estudo da doutrina católica e, posteriormente, o aprendizado de um ofício.
Os jesuítas viviam junto aos índios, nos aldeamentos, para coordenar e manter o
processo de catequese. Surgem então os chamados colégios jesuítas, aos quais se
deve a fundação de cidades como São Paulo, cujo núcleo de povoamento inicial se
deu através do colégio fundado por Manoel da Nóbrega e José de Anchieta,
denominado Colégio de São Paulo de Piratininga.

Com o estabelecimento do Ratio Studiorum, os jesuítas ganharam uma importante


ferramenta pedagógica. Esse manual determinava não só os conteúdos e as
disciplinas que deveriam ser ministrados, mas se detinha de forma detalhada na
própria prática docente que seria aplicada pelos membros da ordem.

José de Anchieta e a Educação no


Brasil
Anchieta foi um dos precursores do processo de educação no Brasil, estando no
entorno da fundação de algumas das principais cidades, como Rio de Janeiro, e ativo
em Salvador e São Vicente. Organizou missões entre os Tapuias e coordenava as
terras e ações jesuíticas no Brasil.
O modelo de constituir missões e colégios nos quais os membros do corpo jesuítico
se organizavam e estruturavam a sua presença foi outra marca importante, sendo
Anchieta figura vital para entender a fundação da cidade de São Paulo (ainda chamada
de marco zero), com o estabelecimento do colégio jesuíta na cidade.

No Rio de Janeiro, os jesuítas ocupavam o Morro do Castelo e possuíam algumas


grandes propriedades de terra, nas quais mantinham um sistema econômico e sua
busca de troca e catequização dos indígenas. Chama a atenção a variedade dessas
atuações ao longo de todo o litoral, sendo considerados salvadores e inimigos, aliados
do governo e grupos perigosos ao longo de nosso período colonial. Por quê? Onde
existia interesse na escravização de indígenas, como nas fronteiras do Norte e de São
Paulo, sua atuação era vista como um problema, um empecilho econômico. Em áreas
de conflito, o seu uso como interlocutores era visto como uma possibilidade de
ocupação e dinamização com o território.
Anchieta é notório pelas práticas empreendidas. O volume de cartas trocadas entre ele
e a sede da ordem na França permite-nos perceber o cotidiano. Anchieta é precursor
também do estudo do vocabulário Tupi, criando um dicionário, o que demonstra a
tentativa que somente muitos anos depois veríamos ser defendida em nossa
República. A catequese e a tentativa de levar o texto de forma didática é outro
elemento importante, com a adoção do teatro e das dinâmicas do lúdico para
entendimento.

Atenção!
É importante frisar que o Ratio Studiorum foi um dos primeiros planejamentos pedagógicos e escolares da
educação ocidental, tendo influenciado a Pedagogia séculos depois de sua elaboração. Constitui-se de uma
sistematização inédita de métodos, teorias, procedimentos curriculares que se tornaram um dos pilares da
pedagogia moderna. A despeito do objetivo catequético, o Ratio Studiorum teve como fundamento a
formação do indivíduo, considerando aspectos como virtude e caráter, aliando as Artes Liberais e as Letras,
unindo campos como Retórica e Gramática, além da Teologia. Coube, portanto, aos jesuítas, o primeiro
modelo educacional brasileiro, que influenciou, de uma forma ou de outra, todos os demais que o seguiram.

headset Podcast
Vamos conhecer um pouco mais sobre os jesuítas com o professor Antônio Giácomo:
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

A Reforma foi um movimento que marcou profundamente o período da Idade


Moderna. Dentre os chamados reformadores, destaca-se o alemão Martin Luther (ou
Martinho Lutero). Suas ideias influenciaram não somente a religiosidade da época,
como também aspectos culturais de outros âmbitos. Sobre tais ideias, podemos
afirmar, exceto:

Lutero era um monge da ordem de Santo Agostinho e com seu


A estudo aprofundado da Bíblia começou a questionar a prática da
Igreja Católica, à qual ele pertencia.
B A invenção da imprensa auxiliou o projeto reformista de Lutero, que,
ao traduzir a Bíblia para o alemão, conseguiu meios para popularizá-
la.

A Educação foi um ponto no qual Lutero teve dificuldade de atuar,


C pois acreditava que ela não seria capaz de formar plenamente o ser
humano do mesmo modo que a fé o faria.

O rompimento de Lutero com a Igreja Católica, e desta com ele, fez


D com que Lutero fosse acolhido em principados alemães, onde se
tornou protegido e pôde divulgar suas ideias.

Lutero não foi o único reformador, mas seu discurso e propostas


E foram bem acolhidos naquele contexto – realidade e momentos
históricos – e por isso tiveram tamanho impacto.

Parabéns! A alternativa C está correta.

A Educação tornou-se um instrumento fundamental para Lutero divulgar suas ideias.


Como era centrada nas mãos da Igreja Católica, quanto mais escolas estivessem
sob controle dos principados e quanto mais cedo as crianças fossem para a escola,
mais fácil seria substituir a mentalidade cristã (católica) pela reformada.
Questão 2

A chamada Contrarreforma foi uma resposta da Igreja Católica ao Movimento


Reformista. O marco principal dessa ação foi o Concílio de Trento, que definiu alguns
dos pontos de reação, entre eles a necessidade de não apenas manter, mas ampliar
o número de fiéis. Nesse contexto, surgiu a Companhia de Jesus, os jesuítas,
fundada em 1534 por Inácio de Loyola. Sobre os jesuítas e sua atuação no Brasil
colonial, podemos afirmar, exceto:

Os jesuítas desenvolveram práticas pedagógicas que, na América,


A foram aplicadas aos indígenas com o objetivo de convertê-los ao
catolicismo.

Aproximar-se da Educação era fundamental para os jesuítas. Por


B isso, desenvolveram a metodologia inaciana, fundamentando sua
pedagogia no documento chamado Ratio Studiorum.
No Brasil, os primeiros ensinamentos jesuítas focavam no domínio
C da língua portuguesa pelos indígenas, no estudo da doutrina católica
e, posteriormente, no aprendizado de um ofício.

Apesar de o objetivo primordial em relação aos índios ter sido o de


D catequese (instrução da fé), os jesuítas não permaneciam junto às
aldeias.

Embora se possa ter muitas vertentes de análise acerca da atuação


dos jesuítas, uma crítica a eles – que pertenciam a uma congregação
E
religiosa – que parece não ter muito sentido está na afirmação de
que queriam converter os nativos à fé cristã (católica).

Parabéns! A alternativa D está correta.

Os aldeamentos e missões eram locais incrustrados no interior do Brasil, junto às


aldeias dos índios. Muitos jesuítas destacaram-se exatamente por essa
aproximação com os indígenas, como o caso de José de Anchieta, que sistematizou
a língua tupi, registrando-a em uma gramática.
4 - Pensamento pedagógico na modernidade
Ao final deste módulo, você será capaz de distinguir as linhas do pensamento pedagógico
na modernidade.
A pedagogia na modernidade

video_library Pedagogos
Nesse vídeo, Rodrigo Rainha e Flávia Miguel mostram como as ideias nascidas no
Renascimento marcam toda a Modernidade.

A Idade Moderna trouxe uma preocupação com a natureza do conhecimento, o que


levantou alguns questionamentos:

Qual o método de aprendizagem mais eficiente?


Como acontece o aprendizado?
O aprendizado se dá somente por aquilo que aprendemos ao longo da vida?
Nascemos com algum conhecimento?
Nascemos como telas em branco?

Apesar de terem sido formulados há séculos, alguns desses questionamentos ainda


não possuem uma resposta consensual. É o caso do conhecimento inato. Nascemos
com algum tipo de conhecimento ou somos uma tabula rasa como dizia John Locke?

Saiba mais
A expressão em latim tabula rasa tem o sentido de “folha de papel em branco”. Busque saber mais sobre
esse conceito de Locke e aprofunde seus conhecimentos!

Você consegue reparar que nossa forma de ver, pensar e discutir a Educação tem
muita influência desse momento?

Essa época trouxe modelos que ainda nos guiam e ofertam possibilidades de
vivenciar a Educação.

Vamos conhecer essa herança!

Como educar
Se, na Idade Média, não houve uma grande preocupação em sistematizar a Educação
para todos, de modo geral, a partir de então, começa-se a pensar qual a melhor e mais
eficiente forma de educar.
O pensamento moderno foi muito importante para se debater a natureza do
conhecimento. A disciplina, tão importante na Idade Média e na educação religiosa,
seria rediscutida, sendo revista como o principal fator do aprendizado.

Não houve uma ruptura definitiva. Os projetos pelo racionalismo e pela empiria
influenciaram o processo iluminista, passaram a se digladiar e acabaram se unindo.

Autores
Para entender esse projeto, precisamos conhecer um autor muito importante: Johann
Heinrich Pestalozzi (1746-1827). Ele escreveu depois do início do movimento que
marcou a modernidade, porém tornou-se um ícone desse movimento por não estar
preso à dinâmica do pensamento iluminista francês, mas às demais correntes
filosóficas presentes na sociedade.

Pestalozzi nasceu na Suíça do século XVIII; tinha uma formação religiosa sólida e
durante sua vida buscou o que seria, em sua concepção, a melhor forma de servir e de
ajudar o próximo. Assim, dedicou-se à Educação e a encontrar maneiras eficientes e
completas de educar as crianças.

Saiba mais
No final do século XVIII, a Suíça foi invadida pela França durante as chamadas Guerras Napoleônicas. Essa
invasão provocou um aumento no número de crianças órfãs. Pestalozzi reuniu as crianças para que fossem
cuidadas e educadas, desenvolvendo algumas de suas ideias mais significativas a partir de então.
Para Pestalozzi, o afeto seria um dos principais
componentes do processo educacional. É o
amor que estimula a criança a aprender,
preenchendo-a de dentro para fora. Sua teoria
comparava a escola a uma casa. Uma casa bem
organizada funciona a partir do amor e da
disciplina.

A disciplina não seria o principal fator do aprendizado, mas sim o afeto. O que não
quer dizer que ela fosse deixada de lado, apenas não seria obtida a partir de castigos e
punições.

Antes de se dedicar à Educação, Pestalozzi tentou ser agricultor, tarefa na qual não
obteve sucesso. Essa curta experiência permitiu que ele comparasse a criança à
semente, referindo-se ao potencial que esta teria se bem cuidada.
Os valores e o desenvolvimento moral seriam,
em sua perspectiva, mais importantes do que
somente o conteúdo que pudesse ser aprendido.
O aprendizado se dá pela prática e pelo exemplo
dos mestres. Pestalozzi entendia que alunos e
mestres deveriam compartilhar todos os
aspectos da vida, frequentemente vivendo no
mesmo lugar e estimulando o pensamento
autônomo, o que faria da criança um indivíduo
racional e moral.

Suas ideias, extremamente avançadas,


encontraram eco e se tornaram o fundamento de
Johann Heinrich Pestalozzi
práticas educacionais que aboliram,
progressivamente, a disciplina de forma
repressora e violenta, buscando uma educação
mais autônoma e harmônica.

Se a afetividade de Pestalozzi se afastava do caráter científico proposto pela Idade


Moderna, não podemos dizer o mesmo das teorias de Johann Friedrich Herbart (1776-
1841). Ao compartilhar a ideia de Locke sobre a tabula rasa, entendendo que
nascemos desprovidos de conhecimento e o vamos adquirindo ao longo da vida,
Herbart via a Educação como uma ciência.

Coube a Herbart a tarefa de cientificizar a Pedagogia, dotando-a de métodos, formas


de medir e de avaliar o conhecimento obtido. Um aspecto fundamental e
revolucionário em sua obra foi a aproximação com a Psicologia, ciência que, no início
do século XIX, ainda engatinhava.

Essa aproximação mudou fundamentalmente o pensamento pedagógico,


influenciando alguns de seus mais importantes pensadores, como Jean Piaget (1896-
1980), e construindo a psicologia do desenvolvimento.

Assim como Pestalozzi, Herbart também defendia que o objetivo final do processo
educativo era a formação moral e não meramente conteudista, mas entendia que a
forma para chegar a esse objetivo era distinta da afetividade proposta por Pestalozzi.
Sua proposta se dividia em três procedimentos fundamentais:

Johann Friedrich Herbart


Johann Friedrich Herbart foi um filósofo, psicólogo e pedagogista
alemão, fundador da Pedagogia como disciplina acadêmica.

Governo Instrução Disciplina


Controle comportamental. A
criança deveria educar seu
comportamento. Os primeiros
educadores, neste caso, eram os
pais e depois os professores.
O processo de aprendizado era Fundamentada na autonomia.
baseado nos interesses e nas Cabia ao próprio aluno manter-se
aptidões do educando. Para fiel aos princípios aprendidos e
Herbart, a instrução moral e focar na aquisição do
intelectual eram parte de um conhecimento. A disciplina era
único processo, formando um vista como uma virtude a ser
indivíduo pleno. desenvolvida.

Dos três processos, a instrução – o processo de aprendizado propriamente dito –


seria o mais importante. Não podemos desvincular a pedagogia científica de Herbart
do seu contexto de produção.

Herdeira da tradição iniciada por Kant acerca da racionalidade e da razão, essa


pedagogia é fruto das transformações intelectuais ocorridas entre os séculos XVIII e
XIX. A Idade Moderna era baseada no individualismo enquanto a Pedagogia,
progressivamente, voltava-se para uma concepção mais coletiva, o aprender como
prática social.

Atenção!
Tanto Herbart quanto Pestalozzi trabalharam o aprendizado como algo individual, particular, o que a
Pedagogia contemporânea tende a rejeitar como objetivo final do processo educativo.

A criança saiu do adulto em miniatura, na Idade Média, para o sujeito do pensamento


pedagógico nos séculos XVIII e XIX. Essa premissa se torna mais evidente ao
estudarmos o pensamento de um dos mais notáveis discípulos de Pestalozzi, o
alemão Friedrich Wilhelm August Fröbel (1782-1852).

Nascido na Prússia, Friedrich Wilhelm August Fröbel foi aluno de Johann Heinrich
Pestalozzi. Suas teorias pedagógicas reconheciam que as crianças têm necessidades
e capacidades únicas, servindo de base para a educação moderna. Ele foi o
responsável por criar o conceito de "jardim de infância“ e também desenvolveu os
brinquedos educacionais conhecidos como presentes/dons de Froebel.

Assim como Pestalozzi, Fröebel foi criado na doutrina protestante, o que influenciou
sobremaneira seu pensamento. Desenvolveu várias ideias de Pestalozzi, criando o
primeiro segmento educacional voltado totalmente para a criança, o que chamamos
de jardim de infância.

A ideia de jardim vem do princípio de a prática do


educador ser semelhante à do jardineiro, que
cuida de suas plantas até que alcancem seu
total desenvolvimento. A expansão das
potencialidades da criança seria alcançada não
somente pelo aprendizado rígido, mas por uma
proposta lúdica.

Fröebel foi quem primeiro entendeu o brincar como uma forma de aprender e
desenvolveu a ludicidade como ferramenta pedagógica. Ainda preso ao individualismo
da modernidade, Fröebel propôs o desenvolvimento autônomo, não vinculado a uma
prática coletiva, embora focasse também na moralidade como objetivo do processo
de aprendizagem.

Ludicidade
Luckesi (apud ALBUQUERQUE, 2016, p. 128) afirma que o lúdico
situa-se na esfera do simbólico, caracterizando-se assim como uma
experiência do sujeito, o modo como a pessoa se comporta.

Segundo Luckesi, algumas atividades, como as brincadeiras e os


jogos, só serão verdadeiramente lúdicas se propiciarem uma
experiência de plenitude à pessoa que as vivencia.

Resumindo
É interessante notar que esses pensadores têm em comum a ideia de uma educação prática. Que o
aprendizado só ocorre por meio do fazer e que a teoria, sozinha, é algo vazio. Essa característica está muito
ligada à modernidade, em que a ideia do “saber fazer” se desenvolve dotando a Educação de seu caráter
prático.

Evolução não linear da educação


Os fatores culturais renascentistas contribuíram para a busca de uma melhor forma de
educar. Embora os desdobramentos históricos desse movimento não tenham seguido
uma linearidade, ora sendo influenciados pela Ciência, ora pela religião, também não
se pode dizer que sofreram um ruptura definitiva; ainda somos guiados por alguns
desses modelos quando vivenciamos a Educação.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

Pestalozzi é um representante da Idade Moderna, especialmente nas questões


referentes à Educação, embora sua produção se dê no período de transição da Idade
Moderna para a Contemporânea, portanto, período de grandes transformações.
Sobre suas ideias e o seu impacto na Educação, podemos afirmar:

Preocupado com o estímulo necessário ao aprendizado das


A crianças, apresentou o afeto como um dos principais componentes
do processo educacional.

Dedicou-se prioritariamente à Educação como uma forma de serviço


B abnegado às crianças e, embora tivesse sólida formação religiosa,
sua proposta educacional era laica.

A disciplina não foi abandonada de suas propostas educacionais,


C
mas não permitia que fosse obtida a partir de castigos e punições.

Suas ideias foram além de seu tempo, influenciando a busca por


D
uma educação cada vez mais autônoma e harmônica.

A proposta educacional de Pestalozzi era laica porque ele era um


E forte opositor às ideias religiosas, tendo se afastado delas ao longo
de toda sua vida.

Parabéns! A alternativa B está correta.

Pestalozzi teve sólida formação religiosa, como era comum em sua época, mas sua
proposta educacional era laica. Embora não se possa garantir, tal formação pôde ser
responsável, juntamente com outros fatores, pela sua plena preocupação com as
crianças, especialmente as órfãs, fruto das Guerras Napoleônicas.
Questão 2

Dois representantes do pensamento Moderno foram Herbart e Fröebel. Graças a


eles, como também ao pensamento de Pestalozzi, a criança não mais seria
considerada como adulto em miniatura, mas sujeito do pensamento pedagógico. E
sobre o pensamento pedagógico de Herbart e Fröebel, podemos afirmar:

I - Herbart muda fundamentalmente o pensamento pedagógico ao aproximar a


Psicologia da Educação. Essa aproximação somente será rompida com a Psicologia
do Desenvolvimento, de Jean Piaget.

II - Herbart, diferentemente de Pestalozzi, afirma que o objetivo do processo


educativo não é a formação moral, mas sim a aquisição de conteúdo pelas crianças.

III – Fröebel, desenvolvendo as ideias de Pestalozzi, cria o primeiro segmento


educacional voltado totalmente para a criança, o jardim de infância, valorizando a
ludicidade no processo educacional.

Sobre as afirmativas acima:

A I e II são falsas.

B Somente III é falsa.


C I e III são verdadeiras.

D Somente II é verdadeira.

E Somente I é falsa.

Parabéns! A alternativa A está correta.

As ideias de Herbart, em especial a aproximação que faz com a Psicologia, não será
rompida por Piaget; ao contrário, será desenvolvida por ele. E para Herbart, a
formação moral deve ser entendida como objetivo final da educação (assim como
Pestalozzi); porém não será o afeto o caminho para alcançá-la e sim a adoção de
métodos quantificáveis.
Considerações finais
Falamos sobre Renascimento ou modernidade? De ambos! Modernidade é um termo
genérico criado para definir o momento de ruptura e afirmação do poderio Europeu.

Apesar de sua construção, ele é cheio de contradições, que você acompanhou ao


longo deste conteúdo. Então, uma vez que, no século XV-XVI, a Europa inaugura uma
ruptura do pensamento, conhecida como Renascimento, descortina-se um conjunto
enorme de possibilidades. Ao mesmo tempo, o campo religioso se coloca em disputa
na Reforma × Contrarreforma, chegando até o Brasil e marcando a questão jesuítica.

A Educação é influenciada e passa a ser uma métrica ocidental valorizada que aponta
para o entendimento do nosso mundo. O Renascimento foi a pedra angular que
inaugurou uma profunda mudança de nosso mundo.

headset Podcast
Agora com a palavra os professores Rodrigo Rainha, Fernanda Matos, Alex Oliveira e
Wilna Melo.
Explore +
1. Acesse o site do museu do Vaticano e faça um tour virtual. Perceba como a
cultura renascentista – crítica ao pensamento religioso – manifesta-se
fortemente nos espaços da cultura religiosa.
2. Procure assistir ao vídeo Os Primeiros Tempos: A Educação pelos Jesuítas, da
UNIVESP.
3. Inspirado pelo contexto da época? Viva um pouco dessa experiência por meio da
obra O mercador de Veneza, de William Shakespeare.

Para aprofundar as temáticas aqui apresentadas, vale conferir as obras:

Maquiavel e a Educação: a formação do bom cidadão, de J. Ames.

Concepção de Educação no pensamento de John Locke, de J. Balaban.


Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2012.

ALBUQUERQUE, C. Preparados para atuação docente? Curitiba: APPRIS, 2016.

ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

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