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UNIVERSIDADE ANHANGUERA

SISTEMA DE ENSINO A DISTÂNCIA


PEDAGOGIA

GIOVANNA LUCHESI DO BOMFIM

A LITERATURA INFANTIL COMO INSTRUMENTO PARA O


DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL NA EDUCAÇÃO
INFANTIL

Cidade
2020
Cidade
2020
Cidade

Sorocaba
2023
GIOVANNA LUCHESI DO BOMFIM

A LITERATURA INFANTIL COMO INSTRUMENTO PARA O


DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL NA EDUCAÇÃO
INFANTIL

Projeto de Ensino apresentado à Universidade


Anhanguera, como requisito parcial à conclusão
do Curso de Pedagogia.

Docente supervisor: Giane Sirlene Ferreira

Sorocaba
2023
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
1 TEMA ................................................................................................................... 4
2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 5
3 PARTICIPANTES ................................................................................................. 7
4 OBJETIVOS ......................................................................................................... 8
5 PROBLEMATIZAÇÃO .......................................................................................... 9
6 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 10
7 METODOLOGIA................................................................................................. 16
8 CRONOGRAMA ................................................................................................. 18
9 RECURSOS ....................................................................................................... 19
10 AVALIAÇÃO ....................................................................................................... 20
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 21
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 22
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INTRODUÇÃO

O presente material traz como objetivo apresentar o tema “A literatura infantil


como instrumento para o desenvolvimento socioemocional na Educação Infantil”,
visando organizar as informações que englobam tal assunto com sua justificativa de
pesquisa, os indivíduos participantes do processo, e esclarecendo a problematização,
os referenciais teóricos utilizados na elaboração da tese, a metodologia, cronograma,
recursos e avaliação que envolvem o projeto de ensino. Cada um destes aspectos é
essencial dentro de qualquer eficiente trabalho no âmbito educacional, uma vez que
cada processo de ensino e aprendizagem envolve seres únicos que vivem em distintos
contextos e carregam culturas diferentes, impactando e sendo impactados no e pelo
meio em que se situam. Contudo, cada ambiente de aprendizagem exige um olhar
atento para que se monte sobre ele um plano de ensino produtivo e, acima de tudo,
incentivador no desenvolvimento de todas as áreas.
Deste modo, o tema será abordado com base em um contexto atual de sala de
aula na etapa da Educação Infantil, voltado para a discussão da relevância da
literatura infantil durante o curso deste período inicial em que os indivíduos frequentam
a escola. Vale ressaltar que o foco do material não está sobre o estudo da contribuição
da literatura no processo de alfabetização, mas em estender os conhecimentos sobre
o que tal arte é capaz de agregar sobre o desenvolvimento socioemocional de
crianças. Ademais, a literatura infantil será abordada como arte sob a afirmação de
que ela é “antes de tudo, literatura, ou seja, é arte: fenômeno de criatividade que
representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra” (Coelho, 2000).
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1 TEMA

A apresentação do Projeto de Ensino será feita sob o tema “A literatura infantil


como instrumento para o desenvolvimento socioemocional na Educação Infantil”, que
resume o estudo da relevância da literatura para crianças no processo de formação
delas em lidar com suas emoções, sentimentos, impulsos e desejos ao mesmo tempo
em que convivem com outros indivíduos – colegas, professores, gestores, familiares
– durante sua rotina dentro e fora da escola. Como afirma a estudiosa Sonia
Scantamburlo (2012), a literatura surgiu com fins moralizadores por causa da
preocupação com as capacidades e anseios próprios da infância. De mesmo modo, o
objetivo de tal literatura não é apenas levar ao conhecimento, mas encantar, incentivar
e motivar a criança a interagir no mundo de forma ativa a partir da imaginação, ligando-
a com a realidade.
O tema escolhido está relacionado intrinsecamente com vivências reais em sala
de aula, onde foi observado que o contato diário com livros e as narrativas, ilustrações,
rimas e lugares que eles trazem para as crianças impactam diretamente o modo com
que elas se relacionam entre elas, com os adultos e com a natureza. A literatura não
as torna crianças geniais, portadoras de um conhecimento além do que as cabe ter,
mas carrega-as da preciosidade do pensamento crítico, contribuindo para o objetivo
da educação como um todo – a formação de cidadãos participantes da sociedade,
conscientes, que prezam pelo meio e pelos indivíduos.
Segundo Zilda Nascimento (2006), “a literatura é uma das produções humanas
mais importantes para a formação do indivíduo, pois sua matéria é a palavra, o
pensamento e as ideias, exatamente aquilo que define a especificidade do ser
humano”. De tal forma, o interesse na literatura infantil não deve estar apenas no
ambiente escolar, mas no familiar, enriquecendo o vocabulário, a autoestima e o
conhecimento do mundo para que, assim, a criança descubra ao se desenvolver
maneiras efetivas de se comunicar diante de cada emoção ou sentimento que a abater
ao longo da infância.
Portanto, o presente material visa cumprir o desafio de encontrar caminhos
para que a criança não apenas explore o prazer da leitura, mas para que cresça em
todas as esferas de si ao longo de seu desenvolvimento na etapa da Educação Infantil.
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2 JUSTIFICATIVA

Entende-se que a inteligência emocional faz parte do desenvolvimento humano


e afeta diretamente a relação do indivíduo consigo mesmo e com os outros seres que
o rodeiam, ou seja, a área social. Deste modo, fica evidente a relevância do estudo a
respeito do desenvolvimento socioemocional da criança, uma vez que ela deve ser
apta a lidar com as relações e os conflitos, sentimentos e emoções no geral que elas
podem gerar.
A literatura infantil entra como uma estratégia para se alcançar tal
desenvolvimento socioemocional nas crianças, estimulando a imaginação,
inteligência e o esclarecimento afetivo e emocional. Apesar do conceito de emoção
não ser algo estático e seus estudos estarem em constante evolução, Hothershall
(citado com Branco, 2004), destaca algo interessante para o presente projeto quando
diz que a emoção é a “experiência subjetiva ou sentimento, constituída por três tipos
de comportamentos: o direcionado ao objetivo (atacar, fugir), o expressivo (sorriso,
enfado) e o arousal fisiológico (taquicardia, saudação, defecação)”. É compreensível
que as emoções não se resumem aos sorrisos ou lágrimas que um indivíduo pode
expressar em sua face; são mais profundas e complexas, gerando impacto não
apenas psicológicos como físicos em quem as sente. Durante a infância, a criança
passa por tantas emoções quanto um adulto, porém sem a maturidade e o
discernimento que um indivíduo mais velho possui, e cabe ressaltar que uma criança
que não foi acolhida ou ensinada a lidar com seus pensamentos e sentimentos no
decorrer de sua infância se tornará, geralmente, um adulto com questões emocionais
mais profundas e dificuldade para enfrenta-las.
Assim, como o desenvolvimento emocional da criança começa no momento do
nascer (Gomes, 1989), as aprendizagens dessa área também irão depender das
interações entre a criança e o meio em que ela vive. Para tal, ela precisa que os
mediadores, os adultos que a cercam, como familiares e professores, a incentivem a
desvendar os muros de sua mente toda vez que acessa uma nova emoção e,
consequentemente, a ação que é causada por ela. Entendendo que a infância
demanda uma linguagem lúdica e adequada para a faixa etária, a literatura releva-se
um instrumento apto para ser utilizado no ensino para a temática socioemocional, uma
vez que gera identificação com os personagens e envolvimento das crianças para com
o enredo. Uma boa história onde existam conflitos e resoluções dos mesmos pode
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trazer para esses indivíduos em formação repertório para que lidem com as próprias
situações em seu cotidiano e, consequentemente, evitem comportamentos reativos
em seus círculos de convivência. A literatura infantil, neste cenário, seria eficiente a
longo prazo durante o crescer da criança como um instrumento para seu
desenvolvimento socioemocional.
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3 PARTICIPANTES

O projeto de ensino em questão direciona-se para crianças que frequentam a


escola durante a etapa da Educação Infantil, entre um e seis anos de idade. De
mesmo modo, conta com a participação de profissionais da educação como
mediadores e contribuintes no processo de ensino e aprendizagem.
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4 OBJETIVOS

Para Oatley e Jenkins (2002), a existência de um bom desenvolvimento


emocional depende da regulação das emoções. Assim, o presente projeto busca
como objetivo geral alcançar um ambiente escolar em que as crianças são
incentivadas e levadas a um lugar de autoconhecimento e esclarecimento de suas
próprias emoções, onde poderão entender o que sentem, as razões e que ações
podem ser tomadas. A literatura infantil será utilizada visando uma identificação por
parte dos estudantes para com os enredos que cada obra apresenta, de modo que as
crianças possam, à medida que se veem no outro, enxergarem-se como seres
emocionais validados e que podem agir melhor ao aprenderem a lidar com seus
conflitos, regulando a forma com que seus corpos reagem às vivências.
Especificamente, seus objetivos são incentivar o envolvimento e afeição pelo
ato da leitura; abranger a discussão a respeito do âmbito socioemocional nas relações
entre alunos e professores, reforçando sua importância na existência humana e, por
fim, encorajar o imaginar, criar e expressar das crianças ao intensificarem seu contato
com as narrativas presentes nas histórias infantis.
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5 PROBLEMATIZAÇÃO

Sabe-se que as competências socioemocionais, segundo McCoy, são divididas


em três áreas: social, emocional e cognitivo. Também, de acordo com a Conferência
Nacional de Legisladores Estaduais (NCSL), o desenvolvimento socioemocional é
influenciado por três fatores principais: biologia, relacionamentos e meio ambiente.
Unindo as duas informações, pode-se chegar à conclusão de que o ser humano é
caracterizado como um ser plural, formado e impactado por várias esferas na mesma
medida em que exerce impacto sobre elas. A educação de modo geral, como já citado
no presente projeto, deve visar a formação de cidadãos completos e bem
desenvolvidos em todas as competências socioemocionais para que,
consequentemente, eles sejam ativos na sociedade, capazes de encontrar solução
para as problemáticas do ambiente em que vive.
Ademais, conforme foi apresentado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
em 2017, 74% das crianças de até quatro anos que vivem no Brasil estão em famílias
com renda inferior à um salário mínimo, e os dados mostram que a maior parte dessas
crianças estão em situação de vulnerabilidade – o que põe em risco o bom
desenvolvimento intelectual e emocional. A violência também está presente, não
apenas nessa realidade como nas de maior renda, de modo a afetar os lares e escolas
frequentados pelas crianças. É fundamental que o educador saiba não apenas mediar
os conflitos que surgem dentro do contexto escolar, mas orientar todos os estudantes
para que eles mesmos entendam e sejam capazes de resolver tais situações, sem
depender de adultos o tempo todo ao redor e adquirindo sua autonomia,
autoconhecimento e, consequentemente, sua autorregulação.
Contudo, muitas vezes durante a rotina agitada da instituição de ensino, o
desenvolvimento socioemocional das crianças deixa de ser considerado um tópico
importante, e a abordagem tecnicista muito presente ainda na educação brasileira,
onde o foco principal das escolas é a alfabetização e o letramento para o mercado de
trabalho, volta a se sobressair. Momentos de leitura coletiva, de debate e do
levantamento de questões a respeito do mundo, do outro e de si mesmo são
essenciais para que a criança sinta-se vista, valorizada, incentivada a compreender
suas emoções e capaz de lidar com elas.
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6 REFERENCIAL TEÓRICO

O presente projeto de ensino considerou a relevância do estudo de uma


estratégia para a aprendizagem socioemocional das crianças com base na estrutura
apresentada por Casel (The Collaborative for Academic, Social and Emotional
Learning):

Segundo tal estrutura, ilustrada pelo gráfico acima, “o ensino das habilidades
socioemocionais é uma das estratégias mais significativas disponíveis hoje para
promover o sucesso estudantil e reformas escolares eficazes”. Casel ainda ressalta
que grandes pesquisas apontam que a aprendizagem socioemocional melhora
resultados acadêmicos, ajuda alunos a desenvolver autorregulação, melhora as
relações da escola com a comunidade, reduz os conflitos entre alunos, melhora a
disciplina da sala de aula e ajuda jovens a serem mais saudáveis e bem-sucedidos na
escola e na vida. São destacados nesta estrutura as habilidades socioemocionais que
precisam ser aprendidas, entre elas: o autoconhecimento; a autorregulação; o
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relacionamento pessoal/habilidades de relacionamento; a consciência social e a


tomada de decisões responsáveis.
Dana McCoy, em palestra no Rio de Janeiro durante o ano de 2017, trouxe
outra estrutura que acaba por complementar a anterior, destacando as competências
socioemocionais:

As competências socioemocionais incluem a capacidade das crianças de


entender suas próprias emoções, focar a atenção, relacionar-se bem e demonstrar
empatia para com os outros. Os programas de aprendizagem socioemocional
implementados em escolas podem apoiar o desenvolvimento nas crianças dessas
habilidades importantes, ao mesmo tempo que melhoram a performance dos
professores (Durlak, 2011).
Oatley & Jenkins (2002) referem seis emoções fundamentais – o espanto, o
desejo, a alegria, o amor, o ódio e a tristeza, afirmando que a forma como se
experienciam as emoções dependem do pensamento que se tem sobre as mesmas.
Segundo os autores, as emoções básicas são emoções que podem não ser
intencionais, ou seja, a pessoa experiencia a emoção, mas não sabe o que a causou.
Dessas emoções, são quatro: a felicidade, a tristeza, a ira e o medo.
Voltando-se para o contexto escolar, Nora et al. (2019), explana os desafios de
uma educação no século 21, trazendo para debate a necessidade de se garantir além
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do acesso da escola, porém também uma aprendizagem integral, ou seja,


desenvolvimento das competências cognitivas e socioemocionais. “A educação
escolar surge com um importante papel na estratégia de ajudar as crianças e jovens
a desenvolverem de forma estruturada e significativa suas competências”, afirma o
autor. Assim, é possível concluir que trabalhar o desenvolvimento socioemocional em
contexto escolar é fundamental para o processo de aquisição de aprendizagem, e o
professor deve mesclar os conteúdos com as competências anteriormente citadas.
Não é o suficiente a instituição de ensino investir na inteligência cognitiva do
sujeito, mas também
Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e
apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe
possibilitem entender as relações próprias do mundo do
trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania
e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia,
consciência crítica e responsabilidade. (BRASIL, 2018 p. 9).

A Base Nacional Comum Curricular apresenta a escola como mediadora no


processo de aprendizagem socioemocional, enfatizando que é direito do estudante
ser levado a um lugar onde pode ser guiado a um melhor e pleno desenvolvimento de
suas competências integralmente, para que possa crescer lidando de forma
satisfatória com o ambiente e os indivíduos que fazem parte de seu contexto. Tal como
afirma Moura (2021), “cabe então ao professor desencadear no presente as ações
mobilizadoras necessárias para dar à Educação e à Sociedade o de que elas tanto
necessitam: amor, equilíbrio, respeito ao próximo, valorização do ser humano e
harmonia nas relações”.
Ana Fonseca, em sua tese, defende que a Educação Infantil, por ser a primeira
etapa da educação básica, deve ser recheada de estratégias dos educadores para
que a criança desenvolva as suas competências, imaginação e sensibilidade estética.
A autora destaca o livro como uma dessas estratégias que, segundo ela, é uma ótima
ferramenta a ser utilizada em sala. Porém,

“importa reter que o livro não pode ser instrumentalizado em


contexto educativo, isto é, não deve ser pretexto para abordar
única e exclusivamente determinado conteúdo, porque ele é,
acima de tudo, um objeto artístico e, nesse sentido, é
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importante que o educador selecione livros de qualidade


estético-literária, tendo sempre em conta os interesses de
cada criança e do grupo”. (FONSECA, 2023)

Sobre os livros na infância, Barros, Santos & Silva (2009) afirmam que é uma
forma de fazer com que a criança viaje a outros mundos e conheça pelos olhos de
outra pessoa. A literatura permite não apenas que os indivíduos em formação
observem os padrões da língua escrita, mas também as imagens e seus significados,
que revelam comportamentos e atitudes, e mostram modos distintos de se representar
a realidade. Ademais, é importante o estabelecimento do educador como a voz que
conta a história pois, de acordo com Souza e Motoyama (2016), ao estabelecer essa
interação entre o adulto e a criança, “através da observação, do toque, do olhar, a
criança conseguirá, dialeticamente, desenvolver cada vez mais sua humanidade para
além daquela biologicamente conquistada”.
Em concordância com os estudiosos citados, Mendes (2016) diz:

“(…) quanto mais frequentes forem as interações com a


leitura e a escrita em contextos educativos promotores de
uma literacia emergente, quanto mais a leitura e a escrita
fizerem parte do quotidiano da criança, mais facilmente as
crianças desenvolverão os seus projetos pessoais de leitores
e escritores envolvidos e comprometidos com a linguagem
(p.117). (…) Esses livros, com os quais a criança deve ter
contacto o mais precocemente possível, permitirão ir
desenvolvendo a sensibilidade estética, o espírito crítico, o
pensamento divergente e a educação emocional dos mais
novos”. (p.118)

Com base nos estudos e artigos apresentados, é possível concluir a relevância


do desenvolvimento socioemocional para uma formação integral do indivíduo e, ainda,
a contribuição que a literatura pode trazer de modo geral para este processo. Contudo,
vale ressaltar ainda que a literatura infantil conta com diversos aspectos, e não apenas
palavras impressas em papéis. As ilustrações, por exemplo, são um exemplo a ser
destacado pois, segundo Marques (1994),

“(…) a imagem fala, significa, e é ponto de partida para o


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imaginário. Na verdade, a criança (e o adulto também) capta


a ilustração num ápice mas a sua capacidade de retenção é
de longe superior. (….) a carga afectiva da imagem é, por
vezes, mais forte do que a do texto. Ela toca o universo
inconsciente da criança: afectividade, violência, valores
morais e sociais. Ela constitui uma linguagem, uma
aprendizagem, uma emoção vital.” (p.242-243)

A história contada com palavras e unicamente palavras também apresenta sua


relevância, uma vez que leva a criança a concentrar-se no que lhe é dito e a ilustrar
mentalmente as situações e personagens descritos pelo mediador. O objetivo deste
recurso deve ser fazer com que ela se envolva com os personagens e a narrativa,
identificando-se com as emoções apresentadas ao longo do enredo. Mota (2015)
declara que ao perceber que os personagens também sentem medo, tristeza, alegria,
raiva, ciúme, entre tantas outras emoções, a criança sente que seu emocional é
natural e permite-se exteriorizar o que sente de forma mais espontânea.
A empatia, de acordo com o glossário do site Educação para o Século 21
(Instituto Ayrton Senna, 2013), “ é reciprocidade afetiva ou intelectual, compreensão
mútua fundamental para a criação de laços de amizade ou de amor. Envolve ações
tais como elogiar, perceber os sentimentos dos outros, negociar soluções, oferecer
ajuda”. Todas as ações citadas pela definição podem ser potencializadas no cotidiano
das crianças quando elas, coletivamente e através da mediação dos educadores – na
escola e família, são incentivadas a enfrentar suas emoções e encará-las como
comuns não apenas em si mesmas como no outro que com elas convive. Entender-
se como ser emocional e, ainda, perceber que seus colegas podem se sentir de
formas semelhantes, é um fator essencial no desenvolvimento socioemocional, e a
literatura infantil tem o poder de facilitar, como instrumento, este processo.
Por fim, o pensamento de Bettelheim (1980), agrega imensamente no
referencial teórico do presente projeto de ensino:

“Para que uma estória realmente prenda a atenção da


criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas
para enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a imaginação:
ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas
emoções; estar harmonizada com suas ansiedades e
aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao
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mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a


perturbam. Resumindo, deve de uma só vez relacionar-se
com todos os aspectos de sua personalidade e isso sem
nunca menosprezar a criança, buscando dar inteiro crédito a
seus predicamentos e, simultaneamente, promovendo a
confiança nela mesma e no seu futuro”. (pg. 13)
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7 METODOLOGIA

Durante a etapa da Educação Infantil, o profissional da educação deve buscar


encorajar e incentivar as crianças para que elas alcancem um desenvolvimento
integral. Segundo Pianta (2003), o elemento-chave para se alcançar uma leitura de
qualidade é a intencionalidade do leitor adulto, que cautelosamente conduz para que
as crianças desafiem e ampliem suas habilidades, impulsionando-as no caminho da
aprendizagem. Assim, a metodologia adotada pelo presente projeto de ensino visa,
especificamente, o estímulo às competências e habilidades socioemocionais através
da literatura infantil.
Os momentos de leitura devem ser feitos em roda, de preferência acomodados
em um ambiente sem cadeiras, no chão. Este formato traz mais intimidade e
aconchego – elementos essenciais para que as crianças se sintam valorizadas e
abraçadas pelo adulto. Ademais, a escolha do livro, como já abordado, é
imprescindivelmente responsável por parte considerável do projeto, uma vez que para
despertar as questões socioemocionais na sala de aula, uma obra que aborde essa
temática ou, ainda, abra a porta para que ela seja debatida, é necessária. Portanto,
deve-se destacar cabe ao profissional da educação debruçar-se no estudo da obra
selecionada, buscando ganchos e possíveis pontos a serem destacados com as
crianças, além do que pode ou não ser relacionado com o conteúdo programático da
Base Nacional Comum Curricular – o que apenas enriquece o processo de ensino e
aprendizagem.
Após a acomodação das crianças, a leitura deve ser realidade de modo a
despertar o interesse e curiosidade delas, sempre com ênfases, mudanças de vozes
e, principalmente, levantamento de questionamentos que tragam identificação para
com os personagens e enredo. Zucker (2017) afirma que a formulação de perguntas
pelo adulto leitor tem sido considerada parte de um grupo de comportamentos-chave
indicados para auxiliar no desenvolvimento das habilidades. Essa formulação de
perguntas é o elemento crucial para o projeto de ensino que se apresenta, pois ela
será a responsável por fazer nascer a reflexão do âmbito socioemocional dentro da
sala de aula e, principalmente, dentro das crianças.
Durante a leitura, perguntas como “E como será que ele se sentiu?”, “Essa
atitude foi gentil?”, “O rosto dele está aparentando qual emoção?”, “Vocês já se
sentiram assim?”, dentre infinitas outras possibilidades devem ser feitas ao passar das
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páginas, gerando um envolvimento dos pequenos para com a história e, ainda, uma
relação de suas experiências pessoais para com as dos personagens.
Encerrando a ocasião da leitura, o professor deve retomar os questionamentos
de forma breve, destacando os momentos da história que considerar relevantes e
permitir que as crianças expressem suas ideias, pensamentos e, especialmente,
sentimentos que foram aguçados pela obra. Todas devem ser ouvir; todas devem ser
ouvidas; todas devem reconhecer o valor de suas emoções dentro daquele ambiente
e do mundo. Elas devem ser encorajadas a pensar a respeito da história e as emoções
abordadas.
Na mesma semana, dois dias após a leitura, as crianças deverão ser
encaminhadas para um momento de recapitulação da história lida – o que trabalhará
a memória e a assimilação a maior prazo, permitindo que o professor avalie qual foi o
envolvimento delas com o enredo, se algum vínculo foi estabelecido. Após, em
conjunto, se lembrarem da leitura realizada, cabe ao educador retomar o diálogo
anterior, questionando os pensamentos que os educandos tiveram após a história, se
recordaram de alguma situação do enredo durante algum ocorrido do período, em
casa ou na escola, e como reagiram diante daquilo. Então, eles farão um registro por
meio de desenho ou escrita a respeito do livro, e o professor discorrerá um texto de
relato sobre as discussões realizadas e os objetivos pretendidos com aquela leitura
específica. Esses registros devem ser armazenados em uma pasta individual e
entregues com o material ao fim do ano letivo, contendo memórias da proposta
realizada durante o ano.
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8 CRONOGRAMA

Baseado na ideia de Vygotsky (1978), onde as crianças aprendem mais e


melhor quando vivenciam atividades colaborativas que envolvem um adulto que possa
guia-las e apoiá-las na compreensão de determinados tópicos ou ideias, o grande
forte do projeto de ensino consiste na intencionalidade e no envolvimento do professor
como mediador e leitor. O cronograma será realizado no decorrer de um ano, com um
livro por semana, que deve ser planejado e estudado pelo professor na segunda-feira,
lido e discutido na terça-feira e retomado na sexta-feira para registro e avaliação. Vale
ressaltar que durante a quarta-feira e a quinta-feira os tópicos do livro e as discussões
feitas não só podem como devem ser pinceladas no decorrer de situações pertinentes
da rotina escolar.
Deste modo, o cronograma semanal para o presente projeto apresenta-se da
seguinte forma:

Etapas do projeto Período


1. Planejamento Segunda-feira
2. Execução Terça-feira, quarta-feira, quinta-feira
3. Avaliação Sexta-feira

Como descrito em Metodologia, os registros realizados a cada sexta-feira


devem ser armazenados em pastas individuais, junto do texto elaborado pelo
professor e, ao fim do ano, junto com as demais atividades pedagógicas, as famílias
receberão os registros de suas crianças acerca das obras que foram contempladas,
debatidas e, principalmente, vividas em sala de aula.
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9 RECURSOS

Parkes (2000) explica que o ambiente e o contexto em que a leitura coletiva


será feita é um dos elementos essenciais para garantir a qualidade da interação. A
autora destaca que quando o grupo de alunos está confortavelmente sentado,
capazes de enxergar o livro e ouvir claramente a leitura, o professor pode envolvê-los
na atividade.
Assim, os recursos necessários para que a leitura seja feita de forma efetiva
são, essencialmente, obras pré-selecionadas pelo professor que tragam as emoções
e sentimentos como parte da narrativa – deve-se considerar que dificilmente um livro
infantil não trará a perspectiva das emoções, uma vez que elas fazem parte da
existência humana e não conseguem ser ignoradas ao escrever-se uma história. Além
das obras, um espaço precisa ser separado para que as crianças possam acomodar-
se juntas, em roda, com uma visibilidade satisfatória e sem apertar-se umas nas
outras. É interessante ser montada dentro da instituição um “canto de leitura” com,
talvez, um piso mais confortável (de tatame, por exemplo) e almofadas, mas estes
elementos não são, de modo algum, fundamentais para a implementação do projeto
de ensino.
Ainda, pastas individuais que podem ser solicitadas no início do ano nas listas
de materiais escolares ou providenciadas pela instituição, sulfite, gizes de cera e/ou
lápis de cor para os registros, além do texto impresso elaborado pelo professor que
deve estar antes de todo registro, que também será feito em sulfite. De mesmo modo,
o recurso humano essencial é o educador disposto a executar a proposta com
dedicação e entendimento do impacto que ela terá no futuro de cada um de seus
alunos.
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10 AVALIAÇÃO

Durante a Educação Infantil, os resultados de abordagens e projetos


implantados pelos professores surgem a longo prazo. As crianças manifestam seus
avanços, evoluções e aprendizagens no cotidiano, em suas interações e atitudes para
com o outro e o mundo.
As conversas extratextuais, isto é, os questionamentos e diálogos que serão
levantados pelo profissional de educação em sala, terão como avaliação a
participação das crianças no decorrer das leituras, a exposição de seus pensamentos,
o foco na história, o envolvimento com o momento coletivo, a memória acerca da
narrativa – que será relembrada dias após a leitura, e a representação da vivência em
forma de escrita e/ou desenho. De mesmo modo, conforme os dias discorrem, cabe
ao professor analisar os comportamentos dos pequenos em seus períodos de
atividades, brincadeiras e socialização no geral – tanto com os colegas quanto com
os professores. Toda reação tida pela criança é importante de ser observada, em
especial os conflitos. É interessante que o professor avalie o comportamento dos
estudantes nestes momentos, mediando de modo a lembra-los das leituras e de como
podem lidar com suas emoções. A leitura realizada em conjunto será enriquecedora
para que as crianças adquiram repertório para enfrentar as situações em seu
cotidiano, e a avaliação do professor será totalmente fundamentada na observação
dessas situações.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo Van Kleeck (2003), crianças pequenas se beneficiam quando o adulto


investe no uso de questões individuais que requiram delas processos cognitivos mais
elevados, como previsão, raciocínio ou explicação. Deste modo, compreende-se que
o presente projeto de ensino, se aplicado com excelência, enriquecerá o
desenvolvimento linguístico-cognitivo e socioemocional das crianças participantes,
contribuindo para que elas passem a pertencer ao mundo de forma bem resolvida a
respeito de si mesmas e ao seu papel como ser humano.
Nascendo de uma paixão imensurável pelas palavras e o poder que habita em
cada uma delas, este projeto é apenas o início de uma imensidão de possibilidades
que podem acontecer dentro dos muros da escola através da literatura. A arte da
escrita e da ilustração, quando unidas ao professor que anseia por fazer parte do
processo de ensino e aprendizagem, formam um time capaz de mudar vidas. A
educação vai além da instituição, além das cadeiras e mesas, além da lousa, além
dos uniformes e, inclusive, do saber ler e escrever. A educação é significar e
ressignificar; é inovar e também voltar ao passado. A educação é história e,
principalmente, fazer história.
Em suma, conclui-se que a literatura infantil pode e deve ser utilizada como
instrumento no desenvolvimento socioemocional durante a etapa da Educação
Infantil. É imprescindível que professores mergulhem nas infinitas possibilidades que
os livros oferecem para a sala de aula, permitindo que seu sabor incomparável para
as vivências das crianças e incentivando-as a não apenas consumir arte, como
também fazê-la.
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REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC,


2018.

COSTA, C. L. DA S.; GOLDMEYER, M. C. Personagens da Literatura Infantil. Revista


Acadêmica Licencia&acturas, v. 4, n. 1, p. 46–51, 31 maio 2016.

DUARTE, M.; FERNANDES, C. A Importância da Literatura Infantil no


Desenvolvimento Socioemocional das Crianças. [s.l: s.n.]. Disponível em:
https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/23137/1/MARIANA_FERNANDES.pdf<

Educação Contemporânea – Volume 17 – Reflexões. [s.l: s.n.]. Disponível em:


https://poisson.com.br/livros/Educa_Contemporanea/volume17/Educacao_Contempo
ranea_vol17.pdf#page=50<

FONSECA, A.; LUÍS, D.; CARDOSO, M. O despertar das emoções: o


desenvolvimento socioemocional através da literatura infantil. [s.l: s.n.].
Disponível em:
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