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ELOGIOS À COLECTÂNEA —
AFRICANO QUEER
que pode ser o início para várias discussões sobre africanx queer em todo o
mundo. Esperamos que este livro inspire mais pessoas de outras esferas da vida
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partilham corajosamente o significado do que é habitar o espaço precário, entre
anunciadas por tantas lutas políticas e pessoais pela liberdade sexual. Este livro
África por pessoas que não se calarão mais. Leitura essencial para o século XXI
Califórnia, Davis
africanx não é uma leitura rápida ou fácil. A Colectânea – África Queer demonstra
que a urgência nunca foi desculpa para deixar alguém para trás: ao contrário dos
movimentos progressivamente simplificados do Norte global(isador), cria um
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emergentes, artistas e académicos do continente e suas diásporas assumem a
antídoto este livro proporciona a essa narrativa, com a sua diversidade de estilos,
e petições tão ricas quanto a diversidade dos próprios africanos! Ouça a poesia,
sinta a paixão - amor, raiva, tristeza, orgulho - admire a beleza, crescer a partir
dos pontos de vista de africanx que falam directamente connosco sobre as suas
lutas para serem fiéis a si mesmos, as suas famílias, os seus amantes, as suas
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nações. Este corajoso volume deve ser uma leitura essencial para todxs activistas
Justice in Africa
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LEITOR AFRICANO QUEER
Sokari Ekine e Hakima Abbas
Agosto de 2020
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ÍNDICE
ELOGIOS À COLECTÂNEA — AFRICANO QUEER .............................................................................................................................. 2
LEITOR AFRICANO QUEER .............................................................................................................................................................. 6
SOBRE @S COLABORADORX .......................................................................................................................................................... 9
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................................. 20
1 - UM ENSAIO - David Kato Kisule................................................................................................................................................ 28
2 – EM IRMANDADE E SOLIDARIEDADE: TORNANDO QUEERS OS ESPAÇOS FEMINISTAS AFRICANOS - Awino Oketch ..... 34
3 – DISCURSOS PÓS-COLONIAIS SOBRE CLASSE E ACTIVISMO QUEER EM ÁFRICA - Lyn Ossome ........................................ 69
4 – DEFICIÊNCIA E DESEJO: A JORNADA DE UMA CINEASTA – HISTÓRIA DE VIDA – Shelley Barry....................................... 93
5 – MANIFESTO – DECLARAÇÃO LGBTI AFRICANA - .............................................................................................................. 100
6 – ORGULHOSAMENTE AFRICANX E TRANSGÉNEROS – RETRATOS COLABORATIVOS E HISTÓRIAS COM ACTIVISTAS
TRANS E INTERSEXO – Gabrielle Le Roux .................................................................................................................................... 104
7 – A MORDIDA DE VAMPIRO QUE ME TROUXE À VIDA – FICÇÃO – Nancy Lylac Warinda ................................................... 127
8 – CONTESTANDO NARRATIVAS DA ÁFRICA QUEER – Sokari Ekine....................................................................................... 142
9 – DECLARAÇÃO AFRICANA AO GOVERNO BRITÂNICO SOBRE CONDICIONALIDADE DA AJUDA - ..................................... 165
10 – DIRECTO AO ASSUNTO – FICÇÃO – Olamine Popoola ....................................................................................................... 170
11 – A FACE QUE EU AMO: FACES E FASES DE ZANELE MUHOLI – Raél Jero Salley................................................................ 189
12 – CASTER CORRE POR MIM – Ola Osaze ............................................................................................................................. 208
13 – PESADELO TRANSEXUAL: ACTIVISMO OU SUBJUGAÇÃO – Audrey Mbugua ................................................................. 215
14 – OS MEDIA, O TABLOIDE E O ESPECTÁCULO DA HOMOFOBIA DE UGANDA – Kenne Mwikya ...................................... 244
15 – A HISTÓRIA ÚNICA DA “HOMOFOBIA AFRICANA” É PERIGOSA PARA O ACTIVISMO LGBTI – Sibongile Ndashe ........ 264
16 – CONTANDO HISTÓRIAS – FICÇÃO – Happy Mwende Kinyili ............................................................................................... 280
17 – FACES E FASES – Zanele Muholi .......................................................................................................................................... 288
18 – REMOVIDX DUAS VEZES: INVISIBILIDADE AFRICANA NA TEORIA QUEER OCIDENTAL – Douglas Clarke ...................... 295
19 – ONGS E ACTIVISMO DE MULHERES QUEER EM NAIROBI – Kaitlin Dearham ................................................................. 314
20 – A LUTA PELOS DIREITOS INTERSEXO EM ÁFRICA – Julius Kaggwa ................................................................................... 341
21 – DECLARAÇÃO AFRICANA SOBRE ORIENTAÇÃO SEXUAL E IDENTIDADE DE GÉNERO .................................................. 351
22 – FRONTEIRAS QUEERYING: UMA PERSPECTIVA ACTIVISTA AFRICANA – Bernedette Muthein ...................................... 355
23 – A LUTA LGBTIQ – QUEER COMO OUTRAS LUTAS EM ÁFRICA - Gathoni Blessol ........................................................... 371
24 – PEQUENO EIXO NA ENCRUZILHADA: UMA REFLEXÃO SOBRE SEXUALIDADES AFRICANAS E DIREITOS HUMANOS –
história de vida – Kagendo Murungi ............................................................................................................................................... 385
25 – A NATUREZA NÃO É RÍGIDA – POEMA – Kagendo Murungi ............................................................................................ 408
26 – SOBRE A LÓGICA PARADOXAL DAS INTERSECÇÕES: UMA LEITURA MATEMÁTICA DA REALIDADE DA
HOMOSSEXUALIDADE EM ÁFRICA – Charles Gueboguo............................................................................................................. 412
27 – OS FUNDAMENTOS DA VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA DO SENEGAL – Mouhamadou Tidiane Kassé .................................. 433
28 – QUÉNIA QUEER EM DIREITO E POLÍTICA – Keguro Macharia.......................................................................................... 451
29 – NHORONDO – MAWAZO YETU: RASTREANDO A VIDA DE VOLTA: NOSSAS REFLEXÕES – HISTÓRIA DE VIDA – Zandile
Makahamadze e Kagendo Murungi ................................................................................................................................................ 476
30 – DIGA AO SOL PARA NÃO BRILHAR – FICÇÃO – Diriye Osman........................................................................................... 500
31 – O QUE HÁ NUMA LETRA? – Valerie Mason-John ................................................................................................................ 507
32 – A ETIQUETA SE ENCAIXA? – Liesl Theron ........................................................................................................................... 519
33 – DIREITOS HUMANOS E IMPLICAÇÕES LEGAIS DO PROJECTO DE LEI DE PROIBIÇÃO DE CASAMENTO ENTRE PESSOAS
DO MESMO SEXO PARA TODOS OS CIDADÃOS NIGERIANOS, 2011 ....................................................................................... 538
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34 – DIREITOS HUMANOS E DESCONSTRUÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA LÉSBICAS NEGRAS NA ÁFRICA DO SUL – Zethu
Matebeni ...................................................................................................................................................................................... 563
35 – ARQUIVO ÍNTIMO DE ZANELE MUHOLI: FOTOGRAFIA E VIDAS LÉSBICAS PÓS-APARTHEID – Kylie Thomas................ 581
36 – O RETRATO – FICÇÃO – Pamella Dlungwana ...................................................................................................................... 609
37 – VER ALÉM DOS BINÁRIOS COLONIAIS: DESFAZENDO O DISCURSO DA HOMOSSEXUALIDADE DO MALAWI – Jessie
Kabwila ......................................................................................................................................................................................... 617
38 – O CAMPO DE TREINO DE CONSTRUÇÃO DE MOVIMENTO PARA ACTIVISTAS QUEER DA ÁFRICA ORIENTAL: UM
EXPERIMENTO EM AMOR REVOLUCIONÁRIO – Jessica Horn .................................................................................................... 645
39 – O LUGAR MAIS FABULOSO DA TERRA – Um poema em muitas vozes ............................................................................... 671
40 – ONDAS CARMESINS – FICÇÃO - Hakima Abbas ............................................................................................................... 683
41 – CONVERSAS AFRICANAS SOBRE IDENTIDADE E CLASSIFICAÇÕES DO CID .................................................................. 705
42 – LEMBRA-TE DE MIM QUANDO EU ME FOR – Busisiwe Sigasa .......................................................................................... 720
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SOBRE @S COLABORADORX
Hakima Abbas tem sido activa em lutas pela justiça social em torno de questões
todas no Quénia.
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Douglas Clarke é estudante de graduação no programa de justiça social e
Queer Africa.
Colaborou com artistas visuais usando os media para educar, libertar e incitar.
principal de Black Looks. Tem estado activa nas lutas pela justiça social há mais
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Charles Gueboguo é autor de dois livros que abordam a questão das prácticas do
Jessica Horn é uma escritora feminista, poeta e activista dos direitos das
11
objectivas sobre questões atípicas do desenvolvimento sexual (também
sexual.
Happy Mwende Kinyili luta para identificar, nomear e enfrentar o mal que
emancipatória.
depois de vencer a acção contra uma revista que publicou o seu nome e
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Gabrielle Le Roux é uma artista sul-africana e activista pela justiça social. Seu
as nossas vidas e de outras pessoas com nossas histórias e que as pessoas que
falam em primeira mão sobre um problema o fazem com autoridade, e são as que
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vida de lésbicas africanas e asiáticas na Grã-Bretanha. Publicou uma colecção de
poesia, peças de teatro, poemas, Brown Girl in the Ring. Seu primeiro romance,
Borrowed Body, ganhou o prémio MIND do livro do ano. Suas peças Sin Dykes e
Brown Girl in the Ring receberam elogios da crítica. Foi nomeada um dos ícones
Gras Arts Festival por cinco anos. Budista ordenada, trabalha como professora
Sul.
transexuais no Quénia.
14
Zanele Muholi tem-se empenhado em criar uma história visual da identidade e
publicados sobre o trabalho de Muholi: Only Half the Picture (2006), Faces and
15
Kenne Mwikya é um bloguer e escritor queer que actualmente estuda direito no
Quénia.
Sibongile Ndashe é uma feminista que trabalha com a lei, mas acredita na justiça.
Awino Okech é uma pesquisadora que nos últimos 12 anos, tem estado envolvida
com o Projecto Audre Lorde, Queers pela Justiça Económica, Sylvia Rivera Law
Project e com Uhuru-Wazobia e Liberation for All Africans. Seus artigos foram
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publicados em blogs como o Black Public Media, o Trans Atlantic Times e
e pensamento.
Diriye Osman é escritor, artista visual e editor britânico nascido na Somália. Sua
Sua novela, this is not about sadness, foi publicada em 2010 (Unrast Verlag).
17
Actualmente, é candidata a doutorado em escrita criativa na Universidade de East
www.olumidepopoola.com.
Raél Jero Salley PhD é artista, teórico cultural e historiador. Professor sénior de
Busisiwe Sigasa (23 de Dezembro de 1981 a 12 de Março de 2007) era uma jovem
publicou seu primeiro livro, TRANS: Transgender Life Stories from South África,
18
Kylie Thomas é bolsista do Programa de Humanidades Africanas da ACLS no
África do Sul. Seu livro sobre visualidade e luto pós-apartheid será publicado pela
Egerton, Quénia. Mesmo com uma formação em ciências nerds e uma carreira
promissora, ainda tem tempo para dar asas à sua criatividade. Tem escrito e
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INTRODUÇÃO
Sokari Ekine e Hakima Abbas
20
nos seus países, e exigiram a libertação dos dois 'homens', ameaçando a retirada
usada para silenciar a dissidência em toda uma nação, não apenas por uma elite
dominante formada pela nobreza política e económica, mas também situada no
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e embaixadas ocidentais, que exercitaram seus músculos para resgatar a minoria
retirada da ajuda como uma alavanca para salvar LGBTI africanx, estes "parceiros
desta ameaça, apesar do amplo reconhecimento de que a ajuda nunca serviu aos
interesses dos povos africanos. Havia a África do Sul, a quem recorremos com
valores de libertação, esperando que o partido falasse com ousadia, mas cujo
suas casas ou em frente aos media nacional para denunciar a opressão exercida
mensagem era muito complexa, mas que tentaram alertar a nação sobre o
22
comunidades foram soterradas pelo medo. Havia os africanos em todo o mundo
teatro do absurdo encenado em volta das vidas africanas. Mas, tal como o
Querendo dar voz a essa resistência e levar a história das múltiplas identidades
que incorporamos, nós duas editoras, Sokari Ekine, uma africana da Nigéria, e
Hakima Abbas, uma africana do Egipto, unimos forças com uma comunidade de
comunidades queer em toda a África e em sua diáspora. Este livro reúne textos
académicos, análises políticas, testemunhos de vida, conversas e trabalhos
sabíamos que não poderíamos tentar fazer isso sozinhas. Assim, adoptamos os
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cotidiana e nas lutas das comunidades queer da África, mas para valorizar a
ele abrangia, em vez de ser uma visão voyeurista para os 'outros' olhos. O que
o colectivo.
Usamos o termo "queer" aqui e no título para denotar um quadro político em vez
de uma identidade de género ou comportamento sexual. Usamos queer para
que essa diversidade fornece a essencia que nesta obra é revelada. É essa
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variedade de africanos identificados em diferentes esferas sexuais e de género,
na tapeçaria que esta colectânea procura documentar. Por tal, assumimos total
obra uma realidade, ficamos gratos por ter sido um financiador feminista
Alguns meses depois de termos iniciado o processo que culminou, três anos
25
vítimas de múltiplas opressões e os resistentes que lutam todos os dias com
corpo, espírito e mente para libertar todos nós. Nós saudamos você.
Nota
1 O obscurecimento deliberado nas contínuas injustiças, geralmente entre o norte global e o sul global, por trás de uma imagem
do liberalismo identificada através de uma forma específica de 'tolerância' à homossexualidade e, em menor grau, a outras
26
27
1 - UM ENSAIO - David Kato Kisule
David Kato submeteu este pequeno ensaio aos editores do Queer African Reader um
mês antes de ser assassinado em 26 de Janeiro de 2011. David Kato era professor e
Minorias Sexuais de Uganda (SMUG). Apenas algumas semanas antes de sua morte,
David ganhou um caso histórico contra um jornal popular do Uganda que publicou
fotos de 100 pessoas, incluindo David, num artigo pedindo o enforcamento de lésbicas
e gays de Uganda. Este ensaio é publicado aqui, com pouca revisão, em memória de
David Kato e de todos aqueles que caíram na luta pela igualdade LGBTI.
Neste país, é absurdo que, à medida que a comunidade LGBTI se esforça para
libertar sua comunidade para alcançar não direitos especiais, mas direitos iguais
aos de outros, deparam-se com um dilema. Tendo leis de sodomia e leis
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e a reprodução global da homofobia institucionalmente pelos evangélicos
países.
como um projecto parlamentar que afecta não apenas a comunidade LGBTI, mas,
É por isso que é necessário abordar e enfrentar esta lei como um problema global
com repercussões globais. Também é necessário usar formas vibrantes e francas
de falar sobre ela, não apenas como "expressar homofobia", mas como promover
Em Uganda, à medida que a comunidade LGBTI se tornou mais visível no que diz
Isso fez com que muitos voltassem ao armário e ficassem mais vulneráveis ao
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(vergastados em público, estuprados) como se houvesse homofobia
autores continuam impunes! Lésbicas que sofrem estupro correctivo por parte
Tais alegações foram feitas uma vez no tribunal de Mbale, onde o falecido Brian
Diagnosticou um deles sem DST, mas no segundo teste, diagnosticou ambos com
DST.
Então, com isso concluiu que os dois sujeitos fizeram sexo juntos.
proeminente advogado pediu que o magistrado que não lhes desse fiança, já que
portanto, os dois deveriam morrer. Prisão! Não é à toa que Pande morreu
semanas depois de sair da prisão de Maluku, onde nos foi recusado vê-lo.
30
É estranho que, enquanto acompanhávamos o caso Mbale e não sabíamos quem
era Fred, enquanto perguntávamos por Fred como tínhamos visto nos media,
fomos informados que a pessoa que queríamos era um homem, mas que sempre
comunidade por mais de 30 anos, que mal ele tinha feito! Somente o fomento do
de lutar para dissuadir a lei, o que é complicado, uma vez que qualquer sociedade
civil a pôr a mão nesta luta é levada a promover a homossexualidade que deve ser
Estrangeiros!
31
em Uganda, na África e no mundo, a lei anti-homossexualidade em Uganda não
ainda paira à medida que cada vez mais países em todo o continente continuam
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2 – EM IRMANDADE E SOLIDARIEDADE: TORNANDO QUEERS OS
ESPAÇOS FEMINISTAS AFRICANOS - Awino Oketch
dos 'principais espaços feministas africanos'. Esta é uma tarefa ambiciosa, dada
locais que operam na periferia do principal. Esta é uma posição em si mesma que
merece ser questionada, mas que não se enquadra no âmbito deste capítulo. Meu
mas sim oferecer uma linha teórica, traçar disjunções e reflectir sobre as
possibilidades. Este capítulo inicia uma conversa teórica que não está de modo
Para minha análise neste capítulo, baseio-me na experiência pessoal - lida aqui
Transgéneros, Intersexo (LGBTI). Uso essas conversas como pontos nos quais
34
dentro de locais activistas para dar sentido à luta¹ de viver e ocupar uma das
muitas identidades que lhes torna vulneráveis não apenas a ataques específicos
Center for Reproductive Rights 2010). Além disso, o ataque de violência contra
quando são feitas escolhas sobre quais questões devem ser divulgadas
35
publicamente como políticas e, acrescento, ideológicas nos lobbies dos direitos
das mulheres⁵.
36
Como resultado, foram feitas escolhas⁶ por indivíduos e organizações em
torno das quais a identidade política deve ser colocada em primeiro plano, com
alguns argumentando que, embora mantenham uma forte conexão com a teoria,
activista, sua identidade política lésbica está centrada por causa do 'silêncio', falta
de 'solidariedade' e às vezes 'homofobia' aberta nos espaços onde não deveria ser
2002).
do feminismo, por um lado, e na causa das mulheres, por outro. Onde feministas
Adeleye-Fayemi:
37
selvagens nuas a queimarem seus sutiãs, imperialismo, dominação,
evolui organicamente.9
38
Realidades vividas pelas mulheres. Essa é uma tensão que, embora
espaços autónomos onde essa reflexão pode ocorrer é um factor desse amplo
contexto político. Como, portanto, essas recuperações dos últimos dias levam a
Pensando em movimentos
39
precisamos revisitar nossa definição de movimentos e ter clareza sobre
críticos para seus objectivos de justiça social e para o local de ideologia nessas
agendas.¹²
40
foi intensificada pela diminuição do espaço para a participação dos cidadãos por
distinto ou semiautónomo.
41
democrática que levaram a uma mudança de lógica, dinâmica e ênfase. Segundo
Alvarez (1998), uma das mudanças significativas tem sido a modificação de uma
políticas (Hassim 2004, Salo 2005). Os termos dessa incorporação geralmente não
técnico dos desafios de formulação de políticas" (Hassim 2004: 18). Isso levantou
42
simplesmente porque são mulheres"; em outras palavras, a mulher não é um
43
ou como novas áreas de políticas ou legislações devem ser colocadas na
(Hassim 2005).
44
particulares. É a tensão entre mobilização e o valor atribuído à maneira como os
2000: 6).
45
colectivo, e um trampolim para a acção. As pessoas participam do fórum
fazem isso de uma base conceitual / teórica, pensando nos contextos e gatilhos
que levaram a decisões particulares em torno de como os espaços feministas
46
seriam construídos. Adeleye-Fayemi (2000) discute o significado da construção
Horn, oito anos depois na sua peça, reflecte sobre a criação e deliberações no
princípios orientadores da inclusão neste espaço. Ela também destaca, ainda que
47
deliberado de organizações (mesmo que indivíduos possam ter liderado o
enquanto cria espaço para trabalhar com aliadas - mantendo clareza no lugar da
Selecionei estes três trechos não porque são representativos de uma tendência,
mas porque oferecem, para os propósitos deste capítulo, uma narrativa que
fazem alusão aos imperativos teóricos que moldaram a evolução de cada espaço
ou onde foram desenvolvidas as ideias que moldaram espaços como o AFF. ¹⁶
48
na organização dos espaços feministas e / ou na mobilização de diversos actores.
restante deste capítulo por duas razões principais. A primeira é informada pela
políticas que este capítulo aborda, além de serem relevantes para o momento
actual de África.
49
heteronormativas patriarcais, foi enfatizada por Adrienne Rich (1980) e Mary Daly
(Roseneil 2006: 323) . ¹⁶ Sugeria uma visão de mundo teórica diferente daquela
323).
50
Os estudiosos da análise da importância das amizades para o movimento
2002, Roseneil 2006 : 327). Os atributos positivos das amizades das mulheres
entre mulheres do mesmo sexo e se elas poderiam ser lidas como eróticas.
Smith-Rosenberg (1975) sugere que alguns desses relacionamentos eram
51
feminino em um contexto histórico particular. Há indícios de que essas
Rich (1980) desenvolve essa análise através de seu trabalho sobre histórias
lésbicas através de sua proposta de um continuum lésbico. Rich defendeu uma
visão das amizades entre mulheres do mesmo sexo como parte desse continuum
52
rejuvenescimento como elementos críticos para a criação e promoção de espaços
por um lado, e a fusão das amizades das mulheres com as sexualidades lésbicas,
Construindo solidariedade
foi baseada numa crítica que veio à tona na ausência de raça e classe como
analítica através de linhas na construção de movimentos (hooks 1984, Mohanty
permitia uma maior diferenciação (por exemplo, no que diz respeito à classe e
53
relacionamentos são uma manifestação de algo autêntico; uma perspectiva
do vínculo interno entre as mulheres (hooks 1984: 59). Entendida como tal, a
solidariedade antes de poder agir com sucesso. Argumento que, embora útil, a
que lida com ela puramente com base num amplo espectro de direitos, que se
revogados por um estado desonesto, torna os requerentes impotentes. O
sempre 'se perderam', mas não ficam, onde o erótico actua como um mecanismo
54
As amizades de mulheres são reconhecidas por sua capacidade de desafiar a
hétero realidade - uma realidade não dependente dos homens. Isso se baseia no
primazia àqueles vínculos, eles não eram vistos como frívolos e isso por si só era
55
Essa abordagem, como o continuum lésbico de Adrienne Rich (1980),
estatais como tácticas diversionistas que são orientadas a nos afastar das
autocráticos, por um lado ou como assuntos privados que não devem ser
'regulados' por outro (Tamale 2010, Nakaweesi e Mugisha 2009). A eficácia de tal
argumento no silenciamento de detratores não pode ser subestimada, mas suas
privado e como um espaço que não deve ser 'regulado'. Isso contraria as teorias
abordagem "não pergunte, não conte". Por fim, essas análises sub problematizam
a heterossexualidade - seu papel na organização da família, do trabalho e da
56
que as sexualidades do mesmo sexo anunciam - num contexto em que o estado,
para os contractos sociais entre nações e estados - exige uma resposta contrária
actua como um meio de manter a ordem social patriarcal opressiva por meio da
aprender e sobre as quais há, em geral, esse silêncio abafador (Rich 1994
[1980]: 50).
57
Enqueerecendo¹⁸ espaços feministas
37) Segundo Harcourt (2009), lidar com a exclusão só pode ser possível mediante
73). Essa abordagem leva a sério a teoria da interseccionalidade, que analisa como
mulheres negras e, por sua vez, são moldadas pelas mulheres negras" (Collins
2000: 299).
58
política feminista essencialista: se "não há nada em ser" feminino "que
que a solidariedade não deve ser vista como um fenómeno pré-determinado, mas
(Mohanty 2003: 7). Haraway (1991), Hooks (1984) e Mohanty (2003) afastam-se de
operários da Espanha do final do século 19, que mais tarde lutaram contra
59
mulheres. Isso foi reconhecido como o tipo de práctica e organização
"elx" construídos significa traçar uma fronteira política entre "nós" e "os outros"
explicadas pela negação de certos "elx", por exemplo, como anti-racismo, anti-
sexismo, anti-capitalismo.
principalmente com base na identidade de género, foi visto como um beco sem
saída para o feminismo político como um movimento. O género é visto como uma
60
(Lloyd 2005: 55). No entanto, se os grupos de afinidade são um modelo que pode
O desafio continua a ser como criar um modelo de grupo de afinidade que seja
sustentável e capaz de lidar com a inevitável hierarquia de profissionalização
vista como a chave para a construção de pontes entre os movimentos, mas como
61
uma que desestabiliza a heteronormatividade ao desmantelar a forma como a
género dada (homem / mulher) como uma estrutura para entender, confrontar e
desmantelar o patriarcado.
Notas
1-A luta é usada para se referir às tensões manifestas na navegação de múltiplos identificadores, alguns políticos, alguns vistos
como pessoais, outros rotulados como arriscados e em conflito. Por exemplo, onde uma lésbica ocupa um cargo público, mas
sua homossexualidade não é uma questão política, o resultado é muitas vezes um silenciar sua identidade sexual ou torná-la
pública e transformá-la em uma questão política. Na maioria dos contextos africanos, os dois não coexistem ordenadamente.
2-Isso pode significar qualquer coisa, desde um 'silêncio' sobre orientação sexual e heteronormatividade no discurso activista
feminista a referências abertas a uma outra pessoa - ou elas - ou a reticência em identificar e se envolver abertamente com
as lutas políticas LGBTI, quando convocadas. No Quénia, por exemplo, os lobbies mais vocais a favor da escolha foram
ginecologistas, e não activistas de direitos das mulheres.
3-Não me aprofundo em uma discussão sobre a existência e a viabilidade do movimento de mulheres. Isso foi discutido mais
recentemente pela AWID por meio de seu projectos de pesquisa de construção de movimento (consulte www.awid.org). Faço
a distinção entre o movimento de uma mulher e os espaços feministas com base em análises adicionais neste capítulo, que
traçam a divisão entre o movimento de uma mulher que se baseia no feminismo como sua ideologia organizadora e aqueles
que se distanciam dele.
62
4-Os activistas dos direitos das mulheres foram retardatários em debates pró-escolha e, ao negociar com o estado e outros
locais de poder, como a igreja, a escolha foi efectivamente apagada.
5-Decerto aqui a partir de conversas com mulheres queer que tiveram que negociar pela menção de direitos e escolhas sexuais
de maneira significativa nas declarações e declarações da conferência. A franqueza sobre a distração que a orientação sexual
pressagia foi oferecida porque a identidade queer deles não estava em primeiro plano como sendo política.
6-Trago aqui conversas com activistas na África Subsaariana que trabalham com organizações LGBTI ou são activistas LGBTI
auto-identificadas em vez de serem mulheres lésbicas.
7-A palavra queer aqui é semelhante à interpretação de Jolly de que ela constitui uma rejeição da distinção binária entre homo
e heterossexual e, portanto, uma conceituação de sexualidades como não essenciais e transitórias (Jolly 2000: 84).
8-'Heteronormativo' é usado aqui para se referir a instituições, estruturas de entendimento e orientações prácticas que fazem
a heterossexualidade parecer não apenas coerente, isto é, organizada como sexualidade, mas também privilegiada.
9-Trabalhos académicos mais recentes nessa área produziram análises mais diferenciadas (ver, entre outros, Bennett 2008,
Lewis 2003, Mekgwe 2008, Mupotsa 2008, Pereira 2009, Salo 2005).
10-Veja uma discussão mais completa sobre isso por Hassim (2004).
11-Uso a diversidade aqui para destacar os binários existentes que atribuem alteridade a desejos homoeróticos, por exemplo.
12-Para uma discussão mais completa sobre isso, consulte o projectos de pesquisa de construção de movimento de Batliwala
(2002) e AWID e amplos recursos sobre o assunto em www.awid.org.
14-Embora Horn, em sua peça, seja cuidadosa ao usar linguagem não específica de género por meio da palavra 'pessoas', o
espaço tem como alvo pessoas que se identificam como mulheres, tanto biologicamente quanto em desempenho, no sentido
de que, mesmo que eram lésbicas, elas identificariam como mulheres lésbicas, em vez de homens lésbicos.
15-Em 2005, o então vice-presidente sul-africano, Jacob Zuma, foi acusado pelo estupro de Kwezi. Mais tarde, ele foi absolvido
de todas as acusações. A formação da Campanha 1 em 9 foi estimulada por este caso.
16-A contribuição de Adeleye-Fayemi para uma série de iniciativas de construção de movimentos feministas africanos pode
ser obtida em sua peça.
17-Roseneil é privilegiada aqui pela extensa análise que ela oferece sobre as teorias da amizade baseadas em uma história da
análise feminista em torno do movimento sufrágio britânico, entre outras. Infelizmente, a literatura teórica sobre mulheres e
amizades permanece limitada ao contexto do norte (veja também Roseneil 1995, Roseneil 2000, Roseneil 2002).
63
18-Queer é usado aqui para significar impacto / efeito.
19-Ver o relato sincero de Honor Ford-Smith (1997) sobre o significado de construir um movimento através da práctica de
uma organização. Suas experiências como membro fundador do Sistren - um colectivo de teatro jamaicano para mulheres -
são úteis para reflectir sobre o significado do poder de negociação, classe e financiamento.
20-Solidariedade é usada aqui para se referir às possibilidades de uma fusão de interesses ideológicos e políticos na busca da
equidade e da não discriminação com base em sexo, género, orientação sexual, credo, raça ou etnia, conforme descrito em
uma infinidade de estruturas baseadas em direitos.
Referências
Adeleye-Fayemi, B. (2000) ‘Creating and sustaining feminist space in Africa: local global challenges in the 21st century’, paper
prepared for the 4th Annual Dame Nita Barrow Lecture, Toronto
Alvarez, S.E. (1998) ‘Advocating feminism: the Latin American NGO “boom”’, paper presented for the annual Schomburg-
Moreno lecture, begun by the Latin American Studies Program at Mount Holyoke College
Batliwala, S. (2002) ‘Grassroots movements as transnational actors: implications for global civil society’, Voluntas:
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67
68
3 – DISCURSOS PÓS-COLONIAIS SOBRE CLASSE E ACTIVISMO QUEER
EM ÁFRICA - Lyn Ossome
Introdução
e do racismo globalizado (Schuhmann 2007: 122), facto que mais do que nunca
1980, é historicamente importante por, entre outros fatores, o impacto que teve
69
Numa relação interessante com sua circulação transnacional, os direitos
Uma infeliz vítima dessa abertura de espaços políticos tem sido o envolvimento
religioso na África, fala sobre esse estado de coisas. Muitas relações sociais
70
opressivas, como as do racismo e da homofobia, envolvem um falso
luta pelos grupos LGBTI. Busco neste capítulo demonstrar a necessidade urgente
quais a política, embora importante, está a ser usada por activistas queer em
71
mais vulneráveis, como mulheres, imigrantes e outras minorias, tornam-se
classes perigosas) que é responsável por ameaçar a paz interior, em vez de, por
específica (Schuhmann 2010: 100). Embora exista uma tendência a culpar apenas
72
que obtiveram sucesso nominal com legislação que proíbe a discriminação, como
apagamento da memória
73
gays e lésbicas que têm uma 'perspectiva normativa' ou podem incluir outras
experiências que não são explicitamente sexuais (Jagose 1996: 98). É uma visão
grupos minoritários sexuais dentro dos estados. Evans observa que existem
da "comunidade moral" nacional, mas dentro da nação cívica. Para aqueles que
podem pagar, este não é um sistema completamente fechado (1993: 6). Grupos
uma proporção significativa de sua renda em, por exemplo, produtos gays e
estilos de vida distintos em territórios sociais e sexuais segregados ou
74
forma de brutalização sexual, física, emocional e psicológica. No centro desse
Desestabilizando mitos
75
alienante e controversa é, nessa medida, curiosa. O mito da homossexualidade
do Estado, buscam, através desse discurso divisivo, isolar uma classe de elite
que eles visam, apesar desse tipo de moralização, é vendida na crença de lutar,
junto com o Estado, por um inimigo comum - uma força global opressora. As
pessoas queer são alvo não tanto por causa de sua identidade, como para
76
realidade das lutas compartilhadas e sustentar a opressão de classe da maioria.
Violência
base estrutural que perfila aquelas que visam ao longo de linhas de classe, género,
raça e etnia. A violência sexual direcionada a indivíduos queer pode ser entendida
num sentido como uma arma política nas mãos de grupos desprivilegiados que
são também vítimas da violência estrutural num sistema económico desigual que
induz a violência entre os excluídos ou marginalizados economicamente. No
e de classe coloca pessoas queer identificadas fora das matrizes nas quais a
77
reprodução da força de trabalho. Embora essa reprodução esteja
económica na sociedade.
visadas por ela, pois nesse caso como a lei calibra a reivindicação de direitos que
não sejam por meio de sua aplicação não discriminatória com base no género? A
78
definição precisa do termo "género" em si permanece não especificada nos livros
de estatutos da CADHP.
Apagamento
2010 na Assembleia Geral das Nações Unidas a favor de uma emenda que retira a
orientação sexual de uma resolução anti execução. Marrocos e Mali, dois países
das lutas de classes que ganham impulso no continente. Dentro dos contextos
violência andam de mãos dadas e que há uma forte relação negativa entre
79
crescimento económico e crime entre países. Os grupos minoritários sexuais
classe.
princípio da escolha, que por sua vez se baseia no princípio da liberdade. Como
80
tal, qualquer limitação na escolha é um ataque à ideia de liberdade. No nexo entre
Para os grupos LGBTI, esse silenciamento foi incluído na luta clássica entre
movimentos sociais progressistas e hegemonias nacionalistas, especialmente
os movimentos sociais respondem e articulam suas demandas por meios que são
81
Inevitavelmente também, as questões temáticas que definem as lutas
por estados apáticos, a reacção mais visível dos movimentos sociais tenha sido
82
ressurgente no continente: os debates de visibilidade no meio académico e, para
ser mais uma vez aproveitados para perseguir o objectivo da justiça social e
económica.
África e na diáspora é uma área que recebeu pouca atenção nos discursos pós-
ignorada no continente.
veio do activismo anti-racista e gay (Walcott 2007: 30). Desde o início dos anos
83
produzidas sob a rubrica da teoria queer. Notavelmente, essa contribuição
Navarro 1991) e, portanto, incluiu não apenas lésbicas e gays, mas também
pandemia da SIDA foi sentido de maneira mais profunda no ponto em que rompe
realidade dos homens que fazem sexo com homens (HSH) ganhou
exorta a considerar se, mesmo que a práctica homossexual não seja comum ou
84
de "invisibilização" podem ser influências culturais significativas na população
sociedade mais justa. Carregar a voz de grupos LGBTI de maneira eficaz nas lutas
de classes exige que seu activismo seja visto como enraizado em diferentes locais
de luta que não devem ser vistos como contraditórios entre si e, como argumenta
Judith Butler (1993), não precisa ser reconciliada uns com os outros. Isso, por
desenvolver a diversidade. Nira Yuval-Davis (1997: 131) nos exorta a uma "política
85
transversal", na qual a unidade e a homogeneidade percebidas são substituídas
pressupõe que o diálogo seja livre de fronteiras e que cada conflito de interesses
lutas de classes.
86
Conclusão
Amory (1997) observa que nossas análises precisam ser informadas pela
Precisamos trabalhar para formar alianças com outros estudiosos e grupos que
classe que se cruzam e, além disso, impediria activismo queer de ganhar voz
firme para desafiar discursos patriarcais, sexistas e heteronormativos na
87
profundamente inserida num discurso de classe e sexualidade: muitos aspectos
Notas
1-Os processos de democratização em diferentes países africanos forneceram o contexto no qual os direitos dos gays surgiram
formalmente. Por exemplo, a transição democrática da África do Sul forneceu uma oportunidade e estrutura políticas passíveis
de mobilização gay (Cock 2003; Croucher 2002). Essa emergência, no entanto, não foi marcada por processos puramente
positivos: o momento de 'Stonewall' do Zimbábue aconteceu após a proibição de Robert Mugabe de gays e lésbicas do
Zimbábue (GALZ) da Feira Internacional do Livro do Zimbábue, em Harare, em Julho de 1995; e no Segundo Congresso das
Mulheres da SWAPO, em 6 de Dezembro de 1996, o Presidente Sam Nujoma reafirmou essa posição quando prometeu
"arrancar" a homossexualidade da sociedade namibiana.
2-Como observa Mukhopadhyay, a promessa universalista do liberalismo, ao mesmo tempo em que alimenta lutas por direitos
iguais, também tem sido a razão para limitar os direitos a garantias formais, porque o liberalismo não reconhece diferenças e
desigualdades (em termos de recursos e poder) entre pessoas decorrentes de essas diferenças. Dentro da estrutura liberal,
um indivíduo é concebido como o sujeito humano que não possui status de género, classe, casta, raça, etnia ou comunidade
(2007: 270). Mesmo quando essa noção é estendida para incluir identidades, os discursos liberais são facilmente manipulados
pelos grupos hegemónicos da sociedade que têm acesso real a recursos e poder. Isso é visto em termos práticos nos países
africanos onde a identidade sexual é sacrificada no altar de identidades religiosas ou étnicas conservadoras que estão sendo
manipuladas positivamente para a milhagem política e económica.
3-Na perspectiva da diversidade política e da democracia representativa, a invisibilidade dos grupos LGBTI em locais formais
de luta de classes deslegitima suas reivindicações por igualdade substantiva.
4-Conforme observado em Epprecht (2006: 188), Moodie (1994), Harries (1994), Gevisser e
Cameron (1994), Murray e Roscoe (1998), Kendall (1999), Lockhart (2002), Njinje e Alberton (2002). ), Epprecht (2004), GALZ
(2002) e Morgan e Wieringa (2005), por exemplo, documentam minuciosamente a presença de diversas expressões da
sexualidade entre pessoas do mesmo sexo na África - nas sociedades tradicionais, nas instituições coloniais e nos ambientes
actuais. Uma rede pan-africana crescente de associações LGBTI também atesta diversas culturas e prácticas indígenas, do
88
mesmo sexo e bissexuais na África. Uma série de imagens escritas ou produzidas por africanos em ficção, teatro e cinema
desestabiliza ainda mais o estereótipo do heterossexual africano "puro".
5-Esse retiro incluiu períodos prolongados de exílio de activistas de seus países de origem, residência em refúgios isolados e
a necessidade de garantir conjuntos residenciais. Muitos são roubados dos meios diários de sobrevivência económica e, como
resultado, dependem inteiramente de doações e boa vontade. Essa remoção forçada de uma força de trabalho activa do
trabalho assalariado pode distorcer os números do desemprego e enfraquecer as lutas de classe.
6-Aludindo a essa pergunta, Mark Gevisser (2011) afirma que 'como muitos africanos ficam cada vez mais desconfortáveis com
a dependência de seus países do Ocidente, eles procuram encontrar um lugar para se orgulhar: eles podem ser pobres, mas
pelo menos têm valores! Em todos os indicadores globais de bem-estar do mundo, eles podem pelo menos liderar um:
moralidade. Com estados ineficazes e economias moribundas, que melhor maneira de manter o apoio popular do que através
do bode expiatório de uma minoria impopular em nome de uma batalha contra a decadência ocidental?
7-A violência deve ser entendida aqui ao longo de um continuum que começa com o isolamento, estigmatização e
discriminação aberta contra homossexuais, geralmente no final manifestando brutalidade física e até assassinato.
8-Miguel (2005), em seu estudo sobre assassinatos de bruxas na Tanzânia, Oster (2004), analisando julgamentos de bruxaria
na Europa, e o estudo de Berman, de 2003, de milícias religiosas radicais, usam achados empíricos para demonstrar o poder
da economia em racionalizar fenómenos que foram previamente entendidos quase exclusivamente através de uma lente
sociocultural.
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4 – DEFICIÊNCIA E DESEJO: A JORNADA DE UMA CINEASTA –
HISTÓRIA DE VIDA – Shelley Barry
coluna foi lesionada por uma bala. Meu corpo me disse isso muito antes dos
impressionou na época foi a minha convicção de que nunca mais seria desejada
ou amada. Eu senti que meu corpo havia se tornado uma mercadoria danificada,
suas origens. Reconheci que minha imagem mental de uma pessoa com
pena, alguém que certamente não tinha nenhuma reivindicação real de amor ou
93
eram pessoas que eram invisíveis, a menos que fossem mendigas na rua ou
que vivem com deficiência. Comecei a reconhecer que era a sociedade que
colocara meu corpo em uma caixa com um rótulo e o colocava numa prateleira
completamente diferente. Percebi que a paixão é algo a que todos podem ter
acesso (não é reservada para jovens e pessoas saudáveis), e que pode inundar
Eu senti orgulho. Até me atrevi a sentir-me bonita. Eu andei sobre minhas rodas,
sentindo que tinha todo o direito de estar no mundo, tanto quanto qualquer outra
com mais força e poder. Eu sempre fiz uma distinção entre o corpo e o espírito,
e aquele período deu mais clareza a essa crença. Para mim, o corpo abriga o
espírito e é apenas um veículo. Isso não significa que não se honra o corpo - muito
pelo contrário!
94
Eu realmente acredito no poder de uma mente positiva - algo que todos podemos
Depois de anos no movimento dos direitos das pessoas com deficiência, voltei
aos meus sonhos de me tornar cineasta. Tive a sorte de receber uma bolsa de
algo porque você precisa escrever sobre. Escreva a partir da sua alma. 'Meu
revelações que me levaram além dessa perda: 'Escolhi não usar aquela peça de
que ela dá são a minha força vital. Decorei com joias, diferentes contas e
95
bugigangas artesanais, porque as cicatrizes também devem ser coroadas. Mesmo
abertamente, na tela, a ferida aberta na minha garganta. Sempre foi muito difícil
para mim olhar para aquilo. Ao fazer um filme sobre o assunto, esperava
as suas e as nossas histórias. Adorno minha cicatriz não para escondê-la, mas
para protegê-la e celebrá-la. Isso também contém lições vitais para as chamadas
mastectomia e outras lesões, mas são ensinadas a ter vergonha delas e a escondê-
las.
cadeira de rodas
sexualidade e desejo. Uma das cenas mais difíceis que fiz foi uma foto da minha
cadeira de rodas ao meu lado no banho, cortando uma foto das minhas mãos
viajando pelo meu corpo, em um gesto de masturbação. Fazer esta cena não foi
de todo injustificada. Tomei uma decisão política de apresentar uma foto de uma
96
reivindicar sua sexualidade ou ser sexualmente activas está quase inexistente,
geral. As mulheres negras com deficiência são as mais invisíveis de todas a esse
Em outra cena, descrevo minha parceira e eu num abraço amoroso. Isso foi difícil
a dificuldade. Eu senti que era importante mostrar que não devemos apenas
viver. Esta dança não é com os pés. Esta dança é com o coração. E quando eu
danço com o coração, a música vem através de mim. A música sou eu. E então
Faz dois anos desde que fiz o primeiro filme. Até o momento, ganhou quatro
prémios internacionais de cinema, para minha surpresa! Meu trabalho continuou
não apenas como seres sexuais, mas como pessoas na plenitude da experiência
humana. Estou a fazer malabarismos com vários estágios de pós-produção em
97
outros filmes e espero enviá-los ao mundo nos próximos meses. Também
rodas. A menos que nós, como pessoas com deficiência, mulheres, negros,
lésbicas, nos tornemos criadores de nossas próprias imagens, nossas vidas serão
Este artigo foi publicado pela primeira vez na Feminist Africa (2006, 6)
98
99
5 – MANIFESTO – DECLARAÇÃO LGBTI AFRICANA -
africana que engloba a demanda por uma re-imaginação de nossas vidas fora das
económica e política.
100
Estamos especificamente comprometidos com a transformação da política da
101
Fortalecer os laços de respeito, cooperação, paixão e solidariedade entre as
autoexpressão e idiomas.
http://www.blacklooks.org/2011/05/african-lgbti-manifestodeclaration
102
103
6 – ORGULHOSAMENTE AFRICANX E TRANSGÉNEROS – RETRATOS
COLABORATIVOS E HISTÓRIAS COM ACTIVISTAS TRANS E INTERSEXO
– Gabrielle Le Roux
querem que seus rostos sejam vistos e suas vozes ouvidas em todo o mundo.
Eu me senti perdido por um longo tempo. Eu pensei que não havia mais
pessoas como eu. Eu pensei que era anormal, um estranho e isso me
filho de amigos não se sentirá perdido. Eles olharão para o meu retrato e
ganharão poder, esperança, paz de espírito e orgulho. Eles saberão que
104
outro transgénero já existia antes e que não há problema em não estar
Quando o mundo vir nossos retratos, eles saberão que a África tem
tanto como a pessoa com quem concebi esse projectos por vários anos, como
(IGLHRC) tornou possível esse projectos. Ele agora trabalha como consultor
independente.
Gender Dynamix, iniciado por Victor Mukasa. Foi um evento histórico e muito
sua experiência dessa maneira sentou-se para eu lhe desenhar a partir da vida e
colaborou escrevendo o que queria dizer sobre si directamente nos seus retratos.
Mais tarde, escreveram textos sobre si, e a exposição continua a ser um trabalho
105
em andamento, pois esses textos mudam periodicamente. Os participantes
Botsuana.
por um ano, mas todx colaboradorx achavam que deveriam ser, e uma a uma as
Flavrina, Burundi
Eu tive três irmãos e uma irmã. Meu pai era político. Minha mãe não era rica, mas
gostava de ver todo mundo a disfrutar do pouco que ela tinha, me ensinou a
compartilhar tudo.
Ela dizia: 'Eu não sei se você é minha filha ou meu filho, mas eu te amo'. Eu estava
sempre com minha mãe. Quando cometia um erro, ela queria me proteger e não
acreditava em me bater. Ela morreu quando eu tinha 7 anos e meu pai quando eu
tinha 12 anos.
A vida é difícil para mim como refugiada transgénero na África do Sul. Eu moro
aqui há quatro anos e passei por muita coisa. Vim para a África do Sul para o
106
activistas trans africanx. Enquanto estava aqui, recebi uma mensagem de que não
Quero voltar ao Burundi e continuar meu trabalho como activista LGBTI; não
conheço outros activistas transgéneros lá, mas não posso viajar até que meus
pessoas HIV positivas. Faço parte das organizações SWEAT e PASSOP. Trabalho
a meio período como varredora de rua e meio período como profissional do sexo.
Eu sou uma criança de Deus. Dieu est grand et m'aime comme je suis. Deus é
grande e ele me ama como eu sou. J'aime les transcomme moi. Je les sens
dans mon corp e mon coeur. Eu amo os transexuais como eu, eu os sinto no
wimana.
Texto do retrato
107
Retrato de Gabrielle Le Roux, texto de Flavrina. Cidade do Cabo, 2008
108
Retrato de Gabrielle Le Roux, texto de Julius Kaggwa. Cidade do Cabo, 2008
109
Julius Kaggwa, Uganda
Sexual Atípico, SIPD, que é uma organização de base sem fins lucrativos de
comunidade LGBT. Passei por um momento muito difícil e tive que tirar um
Das lutas da minha vida, nunca esqueci o amor de Deus e dos meus pais que me
Eu acredito em direitos para todos. Eu me identifico como homem, mas não sou
uma ameaça para as mulheres e meu respeito sempre estará lá, porque todo ser
humano tem direitos iguais. Eu nunca estaria neste mundo se não fosse por uma
Eu luto e sofro porque minha cultura espera o oposto de mim, mas isso não
significa que deixarei de ser um africano. Ainda sou negro com ancestrais negros
110
Julius Kaggwa ganhou o primeiro prémio dos direitos humanos em 2010 por seu
tenho orgulho de quem eu sou. Foi uma jornada difícil, mas não me arrependo
de seguir, porque só posso ser quem sou. Uma criação única. "
Texto do retrato
111
Madam Jholerina Brina Timbo, Namíbia
Um caminho muito longo que percorro desde tenra idade de 12 anos. Transfobia,
abuso verbal e agressão que sofri por ser quem sou. Muitos acreditam e pensam
Encontrar o meu verdadeiro eu e me entender foi uma batalha que pensei que
deprimida, estressada e a lutar com minha aparência física e tudo mais, que eu
poderia passar sobre me aceitar como uma mulher trans. Muitos amigos eu perdi
quando alcancei esse ponto. Sempre tentando me encaixar, mas nunca me
de sermos livres.
dos direitos humanos que ocorrem neste mundo. Discriminação, estigma e abuso
No meu país, a Namíbia ser LGBTI é um crime se você for pego em flagrante. Eu
odeio a maneira como as pessoas olham para mim e riem. É porque não existem
112
Eu creio que, como seres humanos, devemos falar pelo bem maior do mundo.
Mas para mim como mulher trans na Namíbia, e não tendo todos os direitos como
sou e o que sou. Eu sou a Cleópatra dos dias de hoje. Coragem não é a ausência
de medo, mas o julgamento de que outra coisa é mais importante que o medo.
Texto do retrato
113
Retrato de Gabrielle Le Roux, texto de Madame Jholerina Brina Timbo. Cidade do
Cabo, 2008
114
115
Silva Skinny Dux Eiseb, Namíbia
Moro na Namíbia desde que nasci. Me vejo como um homem trans. Fundei o
Ser uma pessoa trans na Namíbia não é uma coisa fácil. Precisas ter um coração
corajoso para sair pelas ruas, estás exposto a muitos ataques físicos e verbais, se
não fores forte o suficiente para se defender. É errado ser diferente aos olhos
dessas pessoas do que o habitual: um homem tem que parecer assim e uma
mulher assim. É por isso que algumas pessoas trans são vítimas de estupro
correctivo, porque querem ver se você é um homem de verdade, você tem que
lutar para provar que é homem o suficiente. Mulheres trans são espancadas
Deixar meu retrato ser desenhado é deixar o mundo lá fora saber que estamos lá
beneficiará como pessoa, mas também como toda a comunidade trans, como uma
outros na minha situação se espalhar pelo mundo, isso poderá criar um terreno
116
'Sou especial porque sou dois em um. Não quero ou preciso estar numa caixa
porque Silva é precioso à sua maneira. Foi uma batalha para mim aceitar
quem eu sou, mas já passei desse espaço e aceitei quem eu sou. Silva. Especial.
Texto do retrato
Retrato de Gabrielle Le Roux, texto de Silva Skinny Dux Eiseb. Cidade do Cabo,
2008
117
Skipper Mogapi, Botswana
Sou activista do Botswana, que luta pelos direitos dos gays desde 2004. Eu me
Meu interesse pelos direitos LGBT começou em 2004, quando a Behind the Mask
Existem muitos desafios que eu enfrento como pessoa trans no Botswana, como
ter ser olhado o tempo todo e pedirem para se identificar em qualquer lugar que
você vá, por exemplo, ao usar banheiros públicos ou ao entrar numa boate. Na
que sou mulher, minha aparência física mostra que sou homem. O mais difícil é
que, desde que comecei a tomar testosterona em 2009, sempre que viajo, a polícia
identidade.
118
Homem negro africano é quem eu sou ... o homem que ninguém vê. Alegre
estava minha mãe no dia em que nasci, feliz por ter dado à luz uma menina.
Texto do retrato
119
Retrato de Gabrielle Le Roux, texto de Skipper Mogapi. Cidade do Cabo, 2008
120
Retrato de Gabrielle Le Roux, texto de Victor Mukasa. Cidade do Cabo, 2008
121
Victor Mukasa, Uganda
tradicionais de género. Não para ser teimoso, mas esse sou eu. Não é de minha
própria autoria. Eu nasci dessa forma. Minha infância, como meus pais me
contaram, e pelo que me lembro, foi assim. As pessoas em todo lugar que eu ia,
diziam que eu era um menino. De facto, muitos se dirigiram a mim como menino.
122
africano tem sido um sonho. África Trans aqui vamos nós. Eu represento
para meus filhos e seus filhos geração após geração. Eu nunca fui um mito.
Texto do retrato
123
Onde a exposição foi exibida:
A exposição foi vista pela primeira vez nas paredes da oficina na Cidade do Cabo,
em Barcelona, onde seis das dez pessoas nos retratos estavam presentes. A
124
• Athens Pride, Atenas, Grécia, Julho de 2011.
Dezembro de 2011.
http://www.blacklooks.org/2010/02/proudly-african- transgender/
125
126
7 – A MORDIDA DE VAMPIRO QUE ME TROUXE À VIDA – FICÇÃO –
Nancy Lylac Warinda
obcecada com a busca de emoção. Culpe aos problemas com o papá ou por ficar
Eu tive uma daquelas semanas longas sem graça, mas o fim-de-semana tão
esperado finalmente chegou. Minha amiga Debby me convidou para uma festa de
casamento em um dos clubes mais populares da rua Lang'ata. Naturalmente,
Possas, eu mereci. Fazia meses desde que eu terminei com meu namorado Fred.
duro por causa de seu passado empobrecido, mas tinha um cérebro de Einstein
e uma ambição feroz que o fez rapidamente subir na empresa no ano em que
namoramos.
Namoramos durante a porra de um ano inteiro. Esse foi o período mais longo de
127
importei. Até que aquelas moças colossalmente irritantes e oportunistas de
Sempre que ele me levava para sair, ele insistia em comer a sua carne salteada
Côtes du Rhône. Ele adorava seu fondue clássico com o Sauvignon Blanc da Nova
Ahh! Mas ele era exuberante, um deleite nos olhos de muitas mulheres.
minha amiga gozava comigo porque que só namorava homens bonitos. Mesmo
conseguia entender.
Ia encontrar-me com a Debby no clube. Coloquei meu vestido curto com fivela
meu cabelo e coloquei o meu spray Chloe para me manter fresca, estava sexy e
Incríveis misturas do DJ lotaram o ar, eram do tipo que te levam a mexer o corpo.
128
¹, como diz a minha boa amiga Debby.
Dançamos como se não houvesse amanhã, até que eu não me aguentei mais.
Passei pelos foliões para o meu lugar tentei respirar e pedir uma bebida. Sentei-
me por alguns minutos quando uma moça veio à minha mesa, apresentou-se
Certa vez, a Debby descreveu uma moça com quem ela trabalhava que se
encaixava na descrição como uma luva. Ela tinha cachos longos bonitos que
usava um perfume clássico da CK, uma camisa xadrez, um casaco preto cortado
e calça caqui. Ela parecia tão interessante quanto àquela propaganda da Smirnoff
radar selvagem ficou vermelho escarlate. Ela era alta, magra, com um corpo
uma moça.
Eu sempre fui atraída por homens, mas eu estava fixada a ela, na perspectiva de
captar sua atenção, mesmo que apenas durante a noite. Ela me pediu para tomar
doses de tequila com ela e eu fiquei imensamente emocionada.
129
Algo nela era incalculavelmente intrigante. Não sei se é o mistério que cercava
olhava para ela enquanto ela tomava doses de tequila. Havia um brilho de
travessura nos olhos dela e eu tinha certeza de que isso refletia nos meus.
abandonaram a pista de dança. Todo mundo estava falando alto demais, como se
repente.
Naquela noite, usava um vestido branco e rosa de cetim florido que revelava suas
largos e um cachecol rosa que se estendia por cima do ombro para cobrir
parcialmente a parte superior das costas exposta e que caia até as nádegas
voluptuosas.
Fez com que um de seus colegas, que aparentemente tinha algum interesse em
mim, sentasse ao meu lado. Ela obviamente estava alheia às tendências sensuais
entre eu e Verónica. Todo mundo que trabalhou com ela sabia que ela era gay e,
claro, eu não. Conversei um pouco com o moço, o que parecia ser uma
130
experiência tão árdua porque pensava só na Verónica. O moço tentou muito
O que ela estava pensando? O que ela me fazia pensar? Com quem ela estava indo
para casa? O que ela ia fazer com ela? Desculpei-me e, em passos instáveis, fui à
casa de banho.
Eu não sabia onde ficava, então tive que pedir orientações a um garçom – é só
subir algumas escadas e contornando cantos com luz escura. Fiquei surpresa em
Quando saí da casa de banho, não me lembrava de onde tinha vindo, mas
continuei tentando parecer mais sóbria do que estava. Quando dei por mim eu
estava na varanda e - infelizmente! - lá estava ela, fumando seu cigarro SM. Era
quase como se alguma força invisível estivesse a me levar em sua direcção. Ela
parecia gostosa, feroz e sediciosa. E o olhar que ela me deu fez meu interior
131
Ela pegou a minha mão e levou-me à pista de dança. Dançamos de uma maneira
subtil e sensual, com cuidado para não despertar o interesse indevido de homens
cobiçosos que tentavam fazer um trio. Tomamos mais algumas doses de tequila
que estava com frio. Então ela me parou e me apertou em um abraço caloroso.
Ela olhou para o meu rosto por uns dez segundos e levantou meu queixo em um
beijo. Primeiro suave e doce, depois profundo com desejo furioso.
"Vens para casa comigo?" Ela sussurrou no meu ouvido. “Uh, uh, eu não ...”, veio
a resposta fraca.
Eu estava a olhar para a Debby, que parecia bastante ocupada com seu parceiro.
"Somos adultas, podemos fazer o que quisermos." É como se ela tivesse lido
minha mente e sentido a minha preocupação. "Eu vou cuidar de ti menina, não te
vais arrepender."
Eu não precisava de mais insistência, precisava dela e precisava ver como essa
merda iria acabar.
132
chegar a um lugar mais privado. Tentamos ser discretas, mas aposto que o
motorista sabia que o silêncio atrás significava que coisas estavam a acontecer.
para cobrir seu constrangimento. Ele fez sons de clique e encobriu-o com um
pequeno assobio de uma música esquisita. A certa altura, pensei que ele iria parar
Ele não fez. Acho que a homofobia dele terminou quando recebeu o dinheiro. Nós
Ela mergulhou para beijar minha clavícula com beijos molhados enquanto a outra
mão procurava por mim, movendo-se para baixo do meu vestido para tapar meu
Eu quase gritei quando seu dedo frio encontrou seu caminho dentro de mim. Em
vez disso, o que saiu foi um trago estranho e abafado. Coloquei meus braços em
133
“Ah...claro!” Eu cedi e acariciei suavemente a parte interna do braço dela, numa
taxista e nós praticamente corremos pelo portão dela, passando pela varanda da
frente até a porta. Ela mexeu na bolsa para procurar as chaves enquanto eu
olhava nervosamente.
humilde residência.”
"Obrigada."
sabor do desejo. Quando ela se mudou para minha garganta, eu estava engolindo
Passei meus dedos pelos cabelos ordenadamente presos e movi a cabeça para
trás para que eu pudesse alcançar seus lábios. Minha língua brincava com a dela,
disparando, dobrando, mudando e lambendo, exigindo uma realização que eu
134
Ela pressionou-se contra mim, passou os dedos pelas minhas costas e agarrou
minha bunda, puxando-a para cima, batendo-a para deixar uma dor perversa
Eles eram pequenos, em forma de pera e firmes. Seus mamilos erectos, expondo
seu desejo.
Ela empurrou-me à sua cama e me atacou como um leão faminto. Ela arrancou o
Ela desfez as alças do meu vestido e deixou-o deslizar para o chão. Tirei a blusa
Ela desfez a alça do meu sutiã e gentilmente acariciou meus seios. Nossos olhos
juntas. Eu levantei meus joelhos para receber sua coxa que pressionava meu
clítoris.
135
Ela se moveu impiedosamente, provocando uma resposta selvagem. Eu senti
como se estivesse flutuando no oceano ou a dançar num prado com uma brisa
fervorosamente puxava sua coxa. Minhas mãos se moveram para cima e para
baixo em seu corpo esbelto. Segurando um peito aqui, acariciando uma coxa ali,
O calor inundou meu corpete inteiro, revestindo minha pele de suor. Ela sentiu
que eu estava aproximando-me do penhasco quando minha respiração ficou
minha felicidade.
Ela desceu, a boca e os dentes levando-me para uma zona onde coisas normais
não acontecem com muita frequência. Ela estava a deixar-me absolutamente
136
Deslizei mais meus dedos profundamente dentro dela e acompanhei seu ritmo
com o meu toque, acariciando intermitentemente seu clítoris com a outra mão.
acelerar. Por fim, ouvi-a gritar um grito severo ao seu Deus novamente.
“Pochas, moça! Isso foi demais!” ela disse com uma voz rouca e sensual que me
fez querer beijá- la várias vezes.
"Realmente foi ... então ... fazes isso com frequência?" “Fazer o quê?”
primeira moça com quem estou há muito, muito tempo.” Ela divulgou, “Perdi
“Ainda é surreal para mim. Levei muito tempo para aceitar sua morte repentina.
Ela era tudo para mim, minha melhor amiga, minha confidente, minha amante,
minha alma gémea. A mulher que seria minha esposa, minha para sempre. Eu até
137
"Realmente, como foi isso?"
“Minha mãe estava em choque. Apesar de eu tê-la dito que gosto de mulheres.
Ela nunca aceitou. Ela criou um plano para me fazer mudar de ideia. Primeiro, eu
tive de ser benzida pelo pastor dela, para remover os demónios na minha cabeça
Então eu fui ver um psicólogo para me ajudar a lidar com a mudança. Se isso não
poção de amor que me fará apaixonar por sua escolha de homem. Eu não a culpo.
Ela fez o possível para me criar sozinha. Ela não entendeu como eu me tornei
lésbica sob sua cuidadosa vigilância.”
“Sim, amei. Às vezes acho que ainda sinto a presença dela, o cheiro seu perfume
e a dor começa de novo. Eu quero ser honesta contigo. És uma boa moça, mas
espero que entendas que não posso apressar-me em nada sério, não agora.”
As palavras dela rasgaram-me por dentro. Senti uma facada aguda a percorrer
Abraçamo-nos. Deitei minha cabeça entre os seios dela e lentamente viajei nos
meus próprios pensamentos.
138
O que tudo isso significa para mim? Quero dizer, o que diabos tudo isso significa?
A experiência que tive com essa mulher foi como o nirvana. Não apenas no
sentido físico, mas em um nível emocional profundo. O desejo que senti por ela
Ela era linda, adorável, alguém para se contemplar. Macia, mas áspera. Eu podia
dizer pela sua forma de fazer amor que ela era uma pessoa incrível. Eu acabava
de conhecê-la, mas queria conhecê-la mais. Este não seria um dos meus
pequenos experimentos. Aqueles que fazem parte da lista de coisas a fazer antes
Mas o que isso me fez? Lésbica? Bissexual? Eu nunca gostei desses termos. Eles
não soam bem. Para mim, sempre foram usados num tom negativo, sempre
foi feita para o homem. Mas como isso pode existir? O que isso significava? O que
eu era? Todos os homens com quem eu namorei tinham que ser extremamente
bonitos, quase bonitos, bonitos como uma mulher. Sempre foi importante para
mim gostar do que vejo. Aqui estava eu, gostando do que vi em alguém como eu.
Ainda assim, eu não acho que gostaria de ser chamada por esses nomes. Onde é
que alguém entra em definir quem eu sou com base em quem levo à cama? Quem
Isso de definir quem eu era, tinha que estar ligada à minha vida sexual? Não era
irrelevante para a minha personalidade, o que fez com que eu fosse eu?
139
Para mim, a sexualidade era pessoal, não uma personalidade. A sexualidade é
fluida e flexível, mas, como é, um grande canal de poder usado para manipular e
controlar as pessoas.
Eu sabia que era muito mais, muito mais do que a caixa usada para definir gays,
explorar essa época ao máximo. Levada a ser tudo o que posso ser, tudo por causa
dela, a incrivelmente linda Verónica.
despediu de mim.
Nota
1 “Makaratasi vinoma o fim!” – calão de Nairobi usada para enfatizar o estado de embriaguez.
140
141
8 – CONTESTANDO NARRATIVAS DA ÁFRICA QUEER – Sokari Ekine
as sexualidades queer africanas: uma afirma que as sexualidades queer são "não
género euro- americanas brancas (Hoad 2007: xii, Massad 2007, Atluri 2009). As
tensões colocadas por essas duas narrativas representam um sério desafio
142
O pânico moral contra a homossexualidade em todo o continente é sistémico e
Uganda, uma lei anti homossexualidade foi apresentada pela primeira vez em
estar sob o relógio 'Uganda antigay', pois, no espaço de alguns dias, políticos de
dois outros países divulgaram declarações contra o casamento entre pessoas do
mesmo sexo. A primeira foi feita pelo presidente Yahya Jammeh, da Gâmbia,
durante a posse de um ministro. É difícil ver isso como uma coincidência, pois
não parece haver nenhuma outra razão contextual pela qual a declaração bem
porque a nova onda do mal que eles querem nos impor não será aceite
Sabemos o que são direitos humanos. Seres humanos do mesmo sexo não
podem se casar ou namorar - não somos da evolução, mas somos da
143
criação e conhecemos o início da criação - que foram Adão e Eva (Jollof
News, 2012).
pessoas do mesmo sexo (Libéria Times 2012). Isto foi seguido por uma emenda
preparada pela senadora Jewel Taylor, ex- primeira dama e ex-esposa de Charles
lei sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo / mesmo sexo (2006, 2009) e,
Mas nem todos escolheram ataques tão inequívocos contra as pessoas LGBTI. A
nacional (bem como no continental como pode ser visto nos instrumentos da
Todos os três países, Nigéria, Uganda e Libéria, possuem leis que criminalizam a
perguntas não são apenas por que essas leis permanecem, mas por que elas estão
a ser expandidas e por que agora? A recusa da morte das leis nigerianas e
144
internacional a seu redor e as diferentes respostas queer apresentam uma
internacionais.
como humano e que vidas contam como vidas (Macharia 2010). Essa posição
essencialista não implica que não exista algo como África. Não nega as
145
Dosekun lembra-nos, de maneira útil, da ligação entre nomear e reivindicar
colecção focar no passado, mas, como Clarke, Muthien e Ndashe apontam mais
sociais.
Uma análise adicional pode ser encontrada numa leitura do que Jacqui Alexander
146
projecto político, que envolveu um mínimo de perturbações nos interesses
base para a libertação e o pós- colonialismo, mantendo assim o não status das
mulheres africanas.
contradições (Alexander 1997, Hoad 2007, Atluri 2009). Para citar Alexander:
147
mandatos britânicos haviam encomendado, enquanto construía e
que este seja um projecto de lei popular e contará com o apoio da maioria
148
David Cameron , vinculando a ajuda ao desenvolvimento com os direitos 'LGBT'
(BBC, Andrew Marr Show, 2011) (Dowden 2011) e a declaração de Hillary Clinton
sobre a impor 'direitos gays' globalmente (Clinton 2011) .³ Tanto Cameron quanto
Clinton sugeriram que nos países que perseguissem pessoas LGBTI, o dinheiro
Se houver algum país que queira parar de dar ajuda porque não
Vale a pena notar para todos os cidadãos nigerianos que o projecto de lei
proposto visa:
149
proibir qualquer forma de coabitação de facto entre dois indivíduos do mesmo
mesmo sexo. Se esse projecto se tornar lei, homem e homem e mulher e mulher
sobre a soberania e o direito de determinar suas próprias leis têm algum peso do
150
LGBTI não são afectadas pelas políticas de ajuste estrutural do mercado livre.
'guerra ao terror' dos EUA, que é exemplificada pela presença militar dos EUA,
são vistos como ameaças aos valores percebidos religiosos e culturais por um
acordo imperativo judaico-cristão, heteronormativo, implicitamente branco. No
com, por exemplo, Arábia Saudita e Bahrein, ao mesmo tempo em que facilitam
151
Com este projecto, a Nigéria e os nigerianos demonstram ser indignos de
Embora seja verdade que em muitos países africanos o fervor religioso anti
imaginar que despertar o ódio ao povo queer irá, a longo prazo, desviar as
projecto de lei no Senado. Estas continuam a ser vozes minoritárias, mas as vozes
estão a aumentar em número e a tornar-se mais audíveis.
152
Nesse momento, a transformação de africanx LGBTI de desviantes não africanx
para uma minoria legítima permanece ilusória. Na África do Sul, o trabalho árduo
de activistas LGBTI como Simon Nkoli, Bev Ditsie, Edwin Cameron e Zackie
Achmat, para citar alguns, garantiu que a constituição de 1994 desse protecção
de africanx LGBTI fora de armários não vistos para cabines de vidro quebrado
havido uma presença e intervenção crescentes por aquilo que Massad chama de
essencialmente inerente.
153
'homossexualidade como não africana', colocando a culpa pela homofobia, pelo
masculina. Nem sempre é claro se essa busca por 'prova antropológica' de utopias
sexuais pré- coloniais é para o benefício de nós africanx ou uma justificativa para
que são moldadas por múltiplos factores - religião, etnia, nacionalismo, culturas
154
A imposição de sanções de doadores pode ser uma maneira de procurar
melhorar a situação dos direitos humanos num país, mas não resulta, por
155
condicionalidade da ajuda, há uma insistência na consulta e uma abordagem
específica do país, conforme explicado por David Kuria, do Quénia Gay (um dos
signatários da declaração):
observou que cada país teve uma narrativa de ajuda diferente e, portanto,
não podia falar de um 'africano', mas de uma resposta queniana
Steven Monjeza. O casal foi condenado a 14 anos por "actos não naturais e
"Era mais fácil [antes]", diz Thandeka. "As coisas estão difíceis agora."
156
"Algum tempo atrás, era possível dançar, puderias talvez beijar, mas agora não ",
diz Amanda. Todos os homens têm namoradas ou esposas para cobrir o facto de
e até colocar em perigo activistas e condições locais. Até o espaço para escrever
157
A universalização dos 'direitos dos gays' foi formalizada oficialmente por Hillary
Clinton em seu discurso do Dia dos Direitos Humanos de 2011, no qual jurou que
todo o mundo (Clinton 2011). Observe que ela usa a sigla LGBT e a palavra "gay"
em vez do LGBTI ou LGBTIQ mais inclusivo usado pela maioria de africanx. Ela
parece não ter ouvido falar de pessoas intersexuais e de seus direitos nessa luta.
Embora Clinton tenha reconhecido que o registo dos EUA sobre os direitos
"LGBT" estava longe de ser perfeito, sua declaração continha uma série de
Ela afirmou, no entanto, que a questão dos direitos dos gays na Libéria estava
"Nossas políticas sobre direitos dos gays são de domínio público", disse
ajuda dos Estados Unidos está ligada às acções da Libéria nessas áreas, e
esse não é o caso", disse ela.
158
Ela disse ao Daily Observer que ficou surpresa ao saber que os direitos
‘Não sei se isso é um problema aqui na Libéria; embora eu leia sobre isso
Considerando que a maioria dos países africanos são aliados dos EUA e são de
uma estratégica importância militar, é difícil imaginar que o policiamento e a
execução sejam outra coisa senão selectiva. Como é habitual para diplomatas dos
vivem suas vidas da mesma maneira que todos os outros e, como tal, nossa luta
159
mulheres rurais, moradores de casas precária, mudanças climáticas, direitos à
culpabilidade colonial nas leis homofóbicas o fazem com a ideia de que versões
Aqueles de nós que vivem na diáspora estão bem cientes de que as declarações
de Cameron e Clinton são contraditórias às configurações raciais de cidadania
lançar como africanos não autênticos. Para ser autêntico, é preciso viver no
descartadas.
160
Os estados africanos reivindicam soberania, mas ao mesmo tempo empregam
tornam-se internamente divisivas à medida que vários activistas lutam para ser
ouvidos. Mesmo com pessoas LGBTI africanas tornando-se o local de luta entre
narrativas concorrentes, mas relacionadas, e à medida que as tensões associadas
Notas
Nota sobre terminologia: o termo LGBTI (lésbica, gay, bissexual, transexual e intersexual) é o acrónimo de uso geral pelos
africanos. Eu uso "queer" como uma terminologia mais ampla e
inclusiva. Outros termos - LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais), 'homossexualidade', 'gay' - são usados apenas em
referência à fala directa.
Nesse discurso no Dia dos Direitos Humanos de 2011, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, pediu o fim mundial da
criminalização das pessoas LGBT.
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163
164
9 – DECLARAÇÃO AFRICANA AO GOVERNO BRITÂNICO SOBRE
CONDICIONALIDADE DA AJUDA -
Foi amplamente divulgado, no início deste mês, que o governo britânico ameaçou
parem de punir pessoas em relações com pessoas do mesmo sexo. Essas ameaças
seguem decisões semelhantes que foram tomadas por vários outros países
doadores contra países como Uganda e Malawi. Embora a intenção possa muito
amplo de justiça social no continente e cria o risco real de uma reacção negativa
165
através de várias estratégias para introduzir questões LGBTI em questões mais
construir relações com os governos para uma maior protecção das pessoas
LGBTI. Esses objectivos não podem ser alcançados quando os países doadores
a situação dos direitos humanos num país, mas não resulta, por si só, na
protecção aprimorada dos direitos das pessoas LGBTI. As sanções dos doadores
são, por natureza, coercitivas e reforçam a dinâmica desproporcional do poder
alimentar não são garantidas para ninguém, destacar as questões LGBTI enfatiza
166
homossexualidade é 'não-africana' e uma 'ideia' patrocinada pelo Ocidente que
ameaçados.
Uma resposta eficaz às violações dos direitos das pessoas LGBTI deve ser mais
de leis que criminalizam o sexo entre pessoas do mesmo sexo, continua a servir
Além disso, os cortes de ajuda também afetam as pessoas LGBTI. A ajuda recebida
na ajuda terá um impacto em todos, e mais ainda nas populações que já são
vulneráveis e cujo acesso à saúde e outros serviços já são limitados, como as
pessoas LGBTI.
167
Para abordar adequadamente os direitos humanos das pessoas LGBTI na África,
Revise sua decisão de cortar a ajuda a países que não protegem os direitos LGBTI;
http://bit.ly/SVB0rr
168
169
10 – DIRECTO AO ASSUNTO – FICÇÃO – Olamine Popoola
Podes pensar que eu deveria ter ido directo ao portão de chegada. Eu não deveria
atingiriam como um colapso. Só porque havia uma terra ainda não climatizada
em outra faixa etária. Tudo isso para que suas frágeis vidas interiores emocionais
perecendo.
Qual é a pressa, podes dizer? Qual é a pressa de fazer as coisas, avançar, amarrar
pontas soltas? De trazer isso para um bom pacote que a partir de agora possa ser
transportado para lugares pacientes, onde pessoas gentis o desdobrarão e
carga invariável do infinito e a pergunta mais quente que Julho (em algum país
realmente quente): nós prevaleceremos (ou seja, permaneceremos além da
morte)?
Mas ainda não estamos lá, nem longe. Continuas a interromper antes que
170
hesite em absorver tudo. Só para encarar os grupos de pessoas que passavam por
qualquer que fosse sua linha de fortuna que os levara para ocidente; estudantes
para acontecer além do estado de imigração. Mas eu não fumei; afinal estávamos
no aeroporto.
Eu também logo pegaria os pedaços que havia deixado para trás ou entrelaçaria
171
Eu estava a inclinar para a frente no banco em que sentava com as pernas
posição, toda observação era uma questão de olhar para cima, e casualmente
arrumados, unidos por dados e bolas coloridas que emitiam um leve som de
clique cada vez que ela chegava à cortina e seus olhos olhavam para trás. Eu
estava
- e tinha certeza de que era eu que ela estava procurando - a seguindo? Suas
covinhas me alcançando sem palavras, ela já sabia o valor de sua fofura e o
impacto que um sorriso daria a alguém, não apenas a alguém jovem como eu. Eu
não pude evitar. Arremessei meu braço quando ela estava a voltar e, com uma
risada estridente, ela correu na sua direcção, depois caiu nela, uma e outra vez.
A mãe dela, que estava sentada três cadeiras atrás de mim em um dos corredores
do meio, não estava muito feliz com isso. Eu não era do tipo que instigava
cachorro, com a cabeça apoiada no ombro do vizinho direito. Daquele jeito ela
estava produzindo uma imagem falsa de felicidade conjugal com ele, e, ele - de
172
tempos em tempos - olhava para a mulher que estava desmaiada em seu braço
como se nalgum momento no passado ele se ajoelhara e pedira a mão dela (ou
qualquer outra coisa igualmente apropriada). Ela não se mexeu, permaneceu com
a boca aberta, os pés esticados, agora que finalmente estavam fora dos sapatos.
que todos os aviões parecem emitir como respirações sem esforço - com ar
Eu nunca soube o nome dela porque sua mãe não acordou novamente até que os
filmes estivessem sendo repetidos pela terceira vez e a fralda da menina estivesse
caminho ela puxou o corpo pequeno num movimento confiante. A filha terminou
no colo e, com a outra mão, procurou os sapatos para ajudar os pés inchados a
“Ok, ok”, ela a silenciou e elas foram para o minúsculo cubículo de banheiro.
Quando voltaram, a menina trocada e com sono, o capitão anunciou a chegada
iminente a Lagos.
173
Eles estavam a aproximar-se da janela de vidro. O buba real azul e o iro da mãe
Acenei, mas a menininha não me viu. Eu deveria ter ido despedir-me, podes
dizer, mas para quê? Eles passaram para o outro lado. Que bem faria para
prolongar esse encontro casual como se tivesse mais significado do que poderia
ter?
Ele sabia que eu estava a chegar. Ele provavelmente estava no meio do limite
tinha encontrado uma roupa semelhante de saia e blusa a combinar e, se não uma
bolsa, uma bagagem adequadamente feminina. Não ria. Ele estaria do outro lado,
com os olhos fundos, teimosos demais para aceitar como óculos versus orgulho
facilitariam seus dias. Ele estaria lá, mais baixo que eu, atarracado, mas apenas
com uma barriga pequena, como eu tinha visto na foto que Ada havia enviado por
Não te lembras de Ada, certo? Isso é porque estás sempre à sua frente de ti
mesma. Aqueles que esperam às vezes podem ter a história toda. Tu decides.
A fila estava a ficar mais curta e eu estava a atrair atenção. Não diz que me
avisaste. Diga que entendes. Pelo menos fingir. Essa é uma opção.
174
Não foram apenas os seguranças que já haviam me dito algumas vezes: “Sr. Não
generosamente.
descansar.”
tudo o que eu queria. O segurança que estava na minha frente com o seu
uniforme impecavelmente passado, pernas afastadas, braços cruzados e
afundada, estava agora apontando para mim. Ele estava parado ao lado da caixa
Era uma figura alta e magra e sem fôlego, e instantaneamente pensei que ele
vizinho no banco de voo havia me informado antes que eu fosse absorvida pela
menina e o ignorasse. Eu não estava interessada em conversar, meu estômago
estava tenso demais para inspirar e soltar palavras de maneira regular; e ele era
175
O segurança afastou-se da caixa com os funcionários da imigração, vindo em
A última vez que conversamos foi por telefone. Eu tinha falado. Meu pai ficou
quieto. Eu não sabia se ele estava no fim da linha, mas o desejo de dizer o que eu
fiz me tinha consumido. Montando uma onda, uma perfeita. No topo - o ponto
mais alto - eu estava a exalar sentimentos que não eram da conta de ninguém.
uniforme que chegava à costa, de forma e inevitável. Eu pensei que eles estariam
consideração que isso também significava que alguém poderia ocupar lugares
diferentes, em diferentes baías, assim como nós dois ainda estamos lutando com
O que eu também tinha calculado mal era que praia era sinónimo de feriado,
consciência e foi melhor observado através de suas lacunas, mas não levado para
o campo real. Eu não tinha certeza se ele escutou até que sua voz ecoou em seu
colapso. A maneira como a água chega quando algo está no caminho. Diz que:
176
difração refere-se a vários fenómenos que ocorrem quando uma onda encontra
Agora, olhando novamente, posso ver que não era difração. Eu estava
“Não, não, eu estou bem. Sinto muito por incomodar. Só estou a descansar a
o dedo médio para o local em que apenas alguns minutos atrás, havia uma fila na
frente da cabine, “já é fim da fila. Precisas mostrar seu passaporte para o
funcionário ali.”
177
A última vez que estive aqui, tinha apenas alguns anos a mais do que a menina
com quem havia brincado antes. Uma aeromoça amigável pegou minha mão
ninguém para segurar minhas mãos húmidas agora. Abri a garrafa de plástico
que ainda estava a segurar e dei um gole profundo. Então eu carreguei a mochila
com força repentina. O oficial pareceu satisfeito. Suas mãos prontas, prontas
Surpreendentemente, tudo correu muito rápido, mas devo dizer-lhe que havia
um olhar suspeito: um olhar longo que viajou da minha cabeça raspada (número
1) à minha camiseta de grandes dimensões e às calças largas de três quartos.
Ele estava lá do outro lado, ele estaria. Como naquela época em que eu era o amor
passaporte, ele estava a espera bem aqui, bem neste lugar - ou, na verdade, não
tenho certeza de onde estava, foi antes do incêndio, mas figurativamente falando,
era esse lugar exato. Ele havia me passado pela segurança sem filas, sem muito
generoso com o pai e comigo. Em troca, o pai foi generoso com ele.
178
Esta última pergunta. Uma que não esperava uma resposta. Não de mim. Como
eu disse, tudo foi rápido. Ele mostrou ao seu camarada meu passaporte e,
destacou. Uma nova mochila esportiva, não diferente do gele da dama de manto
azul, só que mais brilhante, um tipo muito mais brilhante de cor de abóbora com
Podes interromper e mencionar que eu ainda não tinha estado tão longe. Que eu
qualquer motivo para discussões, pois certamente os detalhes são uma questão
sabiamente, desta vez, vou manter minha paz, juntar-me à observação, contigo.
A mochila cabia nas minhas costas como uma peça extra de roupa, como se
pertencesse. O meu tinha sido o último voo internacional e sua chegada duas
horas antes trouxe um fluxo constante de boas dicas dos alegres retornados e
179
minha relutância: eu não empreendia, nem gastava generosamente, mas, embora
Eles tentaram, no entanto, embora com pouca convicção ou esforço, mas minha
cabeça trémula apenas confirmou suas suspeitas. Eles pensaram que sim.
É claro que seu e-mail deixou tudo muito claro. Especialmente a questão da
direcção e qual minha vida seguiu. Que decisão eu tomei e que tomei sem
do que outros. Uma questão de decisão. Como se alguém pudesse trocá-los por
permanência.
A mochila estava boa na minha mão. A alça de couro macio na minha palma
180
significar que as coisas estavam a melhorar. Minha confiança se impulsionou
para a acção. Mais uma porta, mais uma parede para atravessar.
quando saí de Londres horas atrás. Houve um baque quase monótono, a maneira
O suor escorria novamente pelo comprimento do meu torso, desta vez não mais
em antecipação, mas com a ajuda da humidade, com pleno conhecimento do
assunto.
Sua palavra havia dito: “Obviamente, seu tempo na Europa afastou-te do nosso
modo de vida. Embora ainda não sejas considerada uma mulher, mostraste que
não era africano nem que pudesse sustentar o dele, e ele, portanto, me libertou
181
gesticulando enquanto dois carregadores colocavam uma mala enorme na
“Não, eu esperava por si no momento em que lhe disse para vir aqui. Você vem e
centímetro. “Mas onde estás? Você deve esperar. Senhora não sabia que eu
ainda aberta.
Estás quieto agora? Aqui é onde eu poderia precisar de uma intervenção sábia,
uma de suas ajudas seguras. Eu liguei. Como disseste, o que pode dar de errado.
“Não fui claro? Em vista da tua decisão, não se considere mais parte desta
família.”
182
possibilidades. Eles não tinham espaço para todos os assuntos. Esse não. Tia Ada
havia ligado e dito: “Se acalme e tenha uma criança. Ninguém perguntará depois.
És tão jovem. Seu pai lhe negligenciou quando mais precisavas dele. Não lhe dê
verdade, aqui estava eu enfrentando todos, embora não tivesse trazido uma
telefones nos dois ouvidos diante de sua voz e rosto acalmados como o mar
vista quando ele quase arrancou a porta das dobradiças tão ansiosamente foi sua
abertura. Alôs alegres foram trocados e ele se inclinou ainda mais para dentro.
Um jovem piloto de camisa de basquete azul cobalto e laranja XXL pulou do banco
descrença anterior por ter ficado no aeroporto. Ele jogou sentimentos leves,
183
Ele não veio porque eu não era mais filha dele. Eu escolhi cuidadosamente,
mentores mais velhos. Depois de ouvir tudo e considerar o que disseste, eu tinha
escolhido o que pensava que seria facilmente entendido. Quando liguei, após a
troca de e-mails e disse que chegaria em duas semanas, ele ficou quieto.
"Não fui claro?" Depois de um longo silêncio, ele acrescentou secamente: "E o seu
lesbianismo?"
O homem de bege abriu a porta dos fundos novamente e entrou. Então ele se
virou para mim. "Aonde vais, filho?", Ele disse. Eu balancei minha cabeça.
Lágrimas rolavam pelo meu rosto.
Ele deixou a porta inclinada e caminhou até mim. “Estás aqui há um tempo.
Ninguém vem buscá-lo?”
Eu não disse nada. Eu não conseguia falar. Ele não veio. A magnitude deve ter
Na minha mão estava o endereço que eu tinha memorizado mais para mostrar e
surpreendê-lo do que por necessidade. Havia vários pedaços de papel porque
todo mundo sabe com que facilidade eu esqueço e perco as coisas e minhas
184
“Isso está fora de Ikorodu. Vamos deixá-lo no caminho.” Ele colocou a bolsa no
ombro e me puxou pela manga. "Sente-se nos fundos, com minha esposa."
Ele próprio escolheu o assento ao lado do motorista. Estava tão frio depois do ar
assento, murmurando “Boa noite, mãe” enquanto tentava desbotar o couro para
não incomodar ninguém. Minha camiseta húmida grudou na minha pele como
"Olá", ela respondeu de maneira confortável, um toque de alguém que tinha visto
o mundo e se mudado para ele como se fosse apenas o quintal de uma de suas
marido explicava. Ele olhava para mim pelo espelho retrovisor e se virou para
iniciar uma conversa, não interrogativa, mas curiosa o suficiente para ter certeza
Eu olhei para ele e depois para sua esposa. Ela estava segurando a menininha do
avião, que dormia profundamente, e agora eu vi que ela estava usando a roupa
azul, o gele laranja colocado no encosto. Qual era a probabilidade? Mais uma vez,
185
desconhecido. Tudo se encaixa tão perfeitamente, quase nada no meio da
coerência.
"Minha esposa também ...", ele olhou no espelho para o meu rosto e parou no meio
“Não estamos longe. Alguém estará lá? Eles sabem que vens?” Ele fez uma pausa.
"Eu não pretendo ser ... quer dizer, por favor, não receba de forma errada. És um
interesse pela segunda vez esta noite, que estávamos entrando na pequena rua
que levava ao endereço no meu pedaço de papel. O marido virou-se para mim
novamente.
186
É a forma que faz das coisas o que são. A mudança ocorre porque o mesmo
assunto pode ser organizado de maneiras diferentes.1 Tudo era o mesmo. Tudo
Pois o cerne do assunto está sempre em outro lugar que não deveria estar.2 "Sim,
Para permitir que surja, as pessoas o abordam indirectamente adiando até que
amadureça, deixando que chegue quando tiver que chegar. Não há captura,
Notas
Trinh, T.M. (1989) Women, Native, Other. Writing Postcoloniality and Feminism, Bloomington and Indianapolis, Indiana
University Press: 1.
3 Trinh (1989): 1
187
188
11 – A FACE QUE EU AMO: FACES E FASES DE ZANELE MUHOLI – Raél
Jero Salley
e agendas, pois, através de sua fotografia, ela confronta a violência sobre o corpo
África do Sul. A obra de Muholi inclui imagens que revelam crimes de ódio e
189
Meu objectivo não é falar por Muholi ou suas colaboradoras. Em vez disso, meu
Veja, por exemplo, Mbali, que fica ao lado, perto de uma parede, com a cabeça
loira quase raspada inclinada e o braço esquerdo cruzado atrás das costas. Mbali
nos confronta com um olhar confiante e uma pose aberta de três quartos. O
arranjo exibe orgulhosamente sua camiseta, estampada com o símbolo icónico
da supermulher.
190
Mbali Zulu,
KwaThema, Springs,
em gelatina de prata
50.5cm
Muholi insiste num estilo documental de criação de imagem, para seu 'activismo
visual'. Pretende produzir um arquivo histórico de imagens para e de lésbicas
negras, bissexuais, transexuais e queers. Fala com força quando explica: "Trata-
se de observar e agir, de tirar fotos dela e de outras mulheres para curar seu
passado" .4
191
Essa observação e acção são importantes para aqueles que vivem na África do Sul,
Documentos visuais
192
verdade, a mensagem de 'é assim que realmente foi'. Jennifer Blessing sugere que
sustentar uma imagem espelhada do eu, ser quem tu queres ser, ser" real ", mas,
acima de tudo, ser certeza de que tu existes ". Mas a forma documental também
pode ser vista em uma estrutura política mais ampla. Para fotógrafx negrx, o uso
luta. Betesta é uma pessoa transgénero do Botsuana, país com o único grupo de
apoio a transgénero do continente, chamado Rainbow Identity Association (RIA),
fundada por Skipper Mogapi, que também é referência em 'Faces and Phases'
espectadores que exigem tal definição. Como Jean Genet escreve: "Mudar de sexo
193
abolição de uma 'realidade' fixa (e, por extensão, a possibilidade de
Como Baudrillard teoriza: onde os polos não podem ser mantidos, entra-se em
trás e ponderarem.
Esse encontro visual crítico nos leva a perguntar: que tipo de aparência é essa e
como funciona?
Meu argumento é que 'Faces e Fases' provoca uma maneira de olhar que
Veja Pinky Zulu, por exemplo. Aqui somos confrontados com uma imagem - uma
194
meio (neste caso, a fotografia), que forma o conjunto de prácticas materiais que
conexão real no mundo. Pinky Zulu estava lá em 2010, posando para produzir a
específicos.
195
Pinky Zulu,
de prata Tamanho da
marginalidade lésbica negra, que envolve uma estratégia cultural que responde
196
De facto, um ícone fotográfico pode ser uma forma de arte pública que gera acção
material por conexão física directa, o ícone é uma mera relação entre o signo e a
coisa significada.
Como é que uma lésbica africana se parece? Existe uma estética lésbica
197
Ao afirmar a não-iconicidade, "Faces e Fases" enfatiza aspectos indexais
com os súbditos, bem como a autoapresentação. Esses retratos são íntimos. Eles
saem do tempo passado juntos.11 Mas eles também são públicos e tiveram
impacto nacional e internacional.
Como nosso interesse é pelas maneiras pelas quais esse projecto é voltado não
para a integração em estruturas dominantes, mas para transformar o tecido
Retratos e valores
198
O retrato tem sido um símbolo de altas qualidades humanas desde os tempos
estilização e individualidade.
indivíduo único. Mas essa definição simples não é suficiente porque um retrato é
199
física na aparência, também pode sugerir algo sobre a posição interna ou a vida,
Três factores são úteis para considerar as complexidades dos retratos, escreve
e adereços que podem ser lidos com o conhecimento das convenções sociais
e lugar reais.
Em 'Faces e Fases', as imagens são tanto sobre o indivíduo como sobre uma
presença colectiva ou comunitária. Os participantes não se vêem emoldurados
como os outros, mas sim infiltrados no status quo, trazendo a sua comunidade
(ou nação) para a linha da frente. A este ponto, Simon Njami escreve:
200
Dominar sua própria imagem significa trazer ao mundo vozes e cores que
natural: sua origem, história e destino são objetos de mitos, feitos e não dados,
mas "comunidades imaginadas" sempre negam seu carácter artificial e
201
Esses retratos, então, apresentam paradoxalmente a fotografia como o objecto
que olhamos, mas também se referem à sessão fotográfica, uma transacção entre
escreve Barthes, "[a fotografia] não é o que vemos" .16 O retrato fotográfico
Novas narrativas
202
psicológica, falamos como se tivessem sentimento, vontade, e desejo. O que tenho
tentado fazer é reflectir sobre como este poder é constituído e realizado neste
contexto.
através das tecnologias visuais.19 Isso faz parte de um esforço para resistir a
observar como essas imagens resistem aos rótulos impostos, vinculando o sujeito
visual a nós como agentes da visão e objetos do discurso que impactam a
produção da visualidade.
figuras de Muholi não são assuntos 'capturados' no filme; pelo contrário, são
prescrito para gerenciar crises, em favor de uma apresentação visual que diminui
203
isto é, sujeitos de 'abominação e adoração'. Essas 'faces' podem exigir amor, mas
Falar da 'a face que eu amo' em 'Faces e Fases' de Muholi é uma maneira de se
relacionar com um objecto (libidinal), uma imagem. Alguns rostos oferecem uma
Conclusão
Meu argumento foi sugerir um caminho para essas fotografias que não as reduza
204
visível de maneiras que possibilitam (e / ou forçam) uma nova visão das
Fases".
Notas
Cohen, Cathy (2005) ‘Punks, bulldaggers, and welfare queens: the radical potential of queer politics?’, Black Queer Studies: 21–
51.
Para uma discussão mais aprofundada sobre como ver e ver como ele opera na cultura visual contemporânea, consulte Marita
Sturken e Lisa Cartwright (2001) Práticas de olhar: uma introdução à cultura visual, Oxford, Oxford University Press.
Correspondência pessoal entre o autor e Zanele Muholi, Cape Town, Outubro de 2010.
Blessing, Jennifer (ed) (1997) Rrose Is a Rrose Is a Rrose: Gender Performance in Photography, New York, Guggenheim
Museum: 96.
D. Bailey and S. Hall (2003) ‘The vertigo of displacement’, in Liz Wells (ed) The Photography Reader, New York, Routledge: 381.
Esse tipo de reviravolta é semelhante à deturnement desenvolvida na década de 1950 pelos artistas da Internacional
Situacionista. Em geral, pode ser definido como uma variação de um trabalho visual anterior, no qual o recém-criado tem um
significado antagônico ou antitético ao original. O trabalho original que é "adiado" deve ser um pouco familiar para o público-
alvo, para que ele possa apreciar a oposição da nova mensagem. Veja http://en.wikipedia.org/wiki/Détournement e
http://www.cddc.vt.edu/sionline/presitu/usersguide.html.
R. Salley (2009) ‘Unfinished visuality: contemporary art and black diaspora 1964–2008’, PhD thesis, University of Chicago.
Z. Muholi (2010) ‘Faces and Phases’, Cape Town, Michael Stevenson Gallery. 11 Fleetwood (2011: 42).
205
Paralelos podem ser encontrados nas fotografias de Nan Goldin do início dos anos 1970, por exemplo. Goldin fotografou drag
queens e transexuais no pré-operatório. As rainhas drag foram alvo de muitos fotógrafos do século XX, incluindo Brassaï,
Lisette Model, Weegee e Diane Arbus. Veja 'Queer reality' em Blessing (1997).
S. Njami (2010) A Useful Dream: African Photography 1960–2010, Silvana Editoriale Brussels, Brussels, BoZar Books, Centre
for Fine Arts: 12.
S. West (2004) Portraiture, Oxford, Oxford University Press: 24. 15 West (2004: 41).
R. Barthes (1980) Camera Lucida: Reflections on Photography: 6 as quoted by.J.T. Mitchell (2005) What Do Pictures Want? The
Lives and Loves of Images, Chicago, University of Chicago Press: 274.
L. Wells, ‘General introduction’, in Wells (2003: 5); Mitchell (2005: 273). 18 Para discussões das vidas (e amores) de imagens, veja
Mitchell (2005): 30. 19 Fleetwood (2007: 12) emprega esta linguagem suscinta.
206
207
12 – CASTER CORRE POR MIM – Ola Osaze
Caster Semenya vive e respira. Talvez ela já esteja a treinar para a próxima
corrida, a imaginar uma vitória que não seja ofuscada por perguntas sobre seu
sexo. Ela emergiu duma obscuridade relativa para quebrar o recorde mundial e
ganhar a medalha de ouro na final feminina dos 800 metros em Berlim em 2009.
A vitória dela foi tão surpreendente que todos os rumores sobre seu sexo foram
subitamente ampliados. Algumas outras corredoras, que pensavam que o título
vencer. Eles fizeram o inimaginável: forçaram Semenya a passar por uma bateria
para analisar o que há entre elas. O que Caster passou nas mãos de supostos
208
Para mim, como um nigeriano que desafia a categorização de género, a história
Nova York que, de uma forma ou de outra, também são “fora da lei” do género.
se identificavam, sua análise de como Caster foi tratada e o que o mundo inteiro
que queria manter o anonimato, por que havia tanto furor nas expressões de
mulher, mas como ousa sair dessa armadilha [da pobreza] e correr a corrida,
cruzar a linha de chegada, usar a medalha [de ouro] e a bandeira da Sul- Africana’.
Ele conectou as experiências da atleta ao legado do colonialismo em África,
afirmando que é da mesma forma que rótulos como ‘coloured’ (mulato) e ‘indian’
foram usados para impor e defender o apartheid na África do Sul. Palavras não
são para impor limitações, explica ele, mas palavras e frases como ‘masculina’ ou
209
Hotentote”, pode ser o exemplo mais conhecido desse fenómeno’, declara. Da
mesma forma, Yvonne Fly Onakeme Etaghene, uma poeta auto identificada
nigeriana, argumenta: ‘Se Caster pode ser alguém que não se encaixa num papel
social prescrito por género, isso significa que as demarcações de nossos sexos
Oficiais da IAAF exigiram que Caster essencialmente provasse que ela é uma
mulher “tradicional”. ‘Bem, o que é uma mulher tradicional? O que são os corpos
das mulheres tradicionais? ‘, Pergunta a NCK. “Eles tentam dizer que este é um
qual eu fui à academia nos anos 90.) Mulheres masculinas não são novidade,
então por que Caster e pessoas não conformes de género em geral são
apegadas a pessoas que têm pénis. [Eles] não são capazes de lidar com as
210
Etaghene uma pessoa não conforme de género, argumenta, que é uma parte vital
culturas africanas e outras desde o início dos tempos, sempre houve mulheres
“Oh meu Deus, você é uma sapatona nigeriana, só há uma de você e você é tão
esquisita” Etaghene usa a arte como uma maneira de curar essas experiências.
normalidade. Eu não sou deixada no centro. Eu sou meu próprio centro. Eu não
ser.
conformes de género, transgéneros e intersex. “Se nada mais, pelo menos, talvez
211
a imprensa dominante relate sobre pessoas intersexuais e deixe [o termo
escala mais global. Além disso, de acordo com Murungi, o retrato de Caster
de um minuto, também intitulada ‘Caster corre por mim’, da artista turca alemã
queer Beldan Sezen exorta as pessoas a questionar papéis de género e a desafiar
Semenya: louvando seu nome’, a poeta olha para o passado e profetiza sobre o
futuro:
ser excelente
212
- de Jesus a Tupac
sente o impacto da dor e das críticas inesperadas que os filhos de seus críticos
Nota
1 O restante do poema de Etaghene pode ser encontrado em seu blog, a dyke of a certain calibre:
http://www.myloveisaverb.com.
213
214
13 – PESADELO TRANSEXUAL: ACTIVISMO OU SUBJUGAÇÃO – Audrey
Mbugua
errados. Por quê? Porque não se faz isso. Não se magoa os sentimentos de
homossexuais. Por quê? Porque não fazes‼! Não sairei do curso para ofender
por causa disso, mas também não vou adoçar as palavras deste capítulo.
para outro. Note que eu não vou falar de drag queens e kings, homens
trabalhadores do sexo que andam por aí vestidos com certas roupas para chamar
215
a atenção dos clientes e eu definitivamente não vou falar de shemale porno
amputação. Eu, como gay e orgulhoso, estou com nojo de que essas
que são o que não são. Os gays não fingem ter uma 'condição médica'. Se
É extraordinário que tal afirmação possa ser feita por um homossexual. No início
– não é verdade):
216
Um homossexual é um gambá mental e sexualmente deficiente com um
estou com nojo de que essas pessoas tenham direitos legais para induzir
outras pessoas a acreditar que são o que não são. Pessoas trans não
trate-o com terapia intensa para superar sua orientação não natural.
um determinado site e perguntei o que ele achava dele. Ele disse que era odioso,
falso, estúpido e baseado em preconceito.
pessoas não estavam cientes dos problemas transexuais porque não havia
217
forma chegam a um acordo com o corpo em que nasceram. Afirmar que precisas
merda, não estamos todos?! Eu acho que remover o seu pénis e inserir a carne
que os homens disseram que fazem isso porque se sentem como mulheres … o
sofrer.2
como as pessoas trans podem ser naturais. Acho nojento que pessoas trans
Acho que há muito mais pessoas na comunidade GL que não gostam de Travecos
porque os consideram egoístas, indecisos, excessivamente sexualmente fluidos e
grande parte dos seus amigos exige um certo nível de auto-absorção. É preciso
outro nível para optar por não ser de um género ou outro, mas no meio e depois
218
ter um relacionamento em que o parceiro normal precisa estar constantemente
disso, todas as pessoas trans que conheço tiveram que fazer uma grande
produção dramática de todas as escolhas que fizeram, para começar fazer drag,
para não começar a drag, para não se identificar como gay, para se identificar
como lésbica, isso realmente não acontece. Não importa o que eles escolham, tem
que ser algo grandioso. É ridículo pedir a toda a comunidade gay que participe e
diminuído… 4
heterossexuais. É a maneira deles de dizer: ‘Hei, olha para mim! Não pareço um
heterossexual? Mas olhe para aquela coisa que finge ser algo que não é. É uma
aberração. Vamos fazer algo para que esteja em conformidade com nossas
No início desta manhã, fui confundida por um homem gay numa viagem
219
deliberadamente balançou sua bolsa, atingindo meu traseiro e se
rindo alto e disse: ‘Eu não te disse que ele é um homem? ‘… um homem
gay ou qualquer outro homem que apalpa uma mulher transexual para
As pessoas trans geralmente usam o argumento de que não têm mais para onde
ir, mas não ter para onde ir não significa que precises de ir a algum lugar.
Especialmente se esse algures for um grupo de direitos civis que está tentando
não se misturam como mulheres que são abertas sobre sua identidade. Isso é
transexuais são gays e, para ser mais preciso, que "são os traseiros" (a "esposa"
num casal homossexual masculino) e se você for visto com um, então você é a
“concha do casal” (o marido). Por isso, a maioria dos homens homossexuais não
querem ser vistos com estes 'rabos', porque eles os denunciam (como os gays o
220
dizem). Assim, são marginalizá-los e perseguidos das organizações ou eventos
Terceiro, alguns gays e lésbicas são muito ciumentos. Acham que competimos
por atenção, beleza e direitos. É por isso que alguns sempre querem nos
derrubar. Uma vez saí na companhia de algumas amigas lésbicas e estava a falar
com esta rapariga do grupo e, do nada, uma das minhas amigas lésbicas estava a
dizer ao grupo que eu era um homem. E, usando tal disparate, ela levou a
Na adolescência, eu era amiga de Phil, um rapaz gay … não era feliz por
ser homem, então decidi mudar de sexo … Os homens me olhavam e Phil
ODIAVA toda a atenção que eu recebia … Phil entrou em minha nova casa,
disse que ele estava vivendo com um homem com peitos e um pau.
único crime era ser uma mulher trans atraente, que tinha um homem ao
221
meu lado … eu podia ficar aqui por horas e compartilhar inúmeras
histórias sobre coisas que os gays fizeram para tentar estragar minha
vida. 7
Eu sou uma mulher bissexual e acho que não temos credibilidade como
pessoas “mentalmente” estáveis, porque somos agrupadas com pessoas
de corpo e aparência não tem nada a ver com a sexualidade … Então, por
222
beleza sangrenta, se é que alguma coisa, tudo que elx cuidam é a
outros sites:
acho que isso arrasta o movimento dos direitos dos gays a ser apegado
223
Não tenho nenhum problema com gays, lésbicas ou transexuais, mas
transexuais. Eu não uso isso contra eles. Não podes deixar de ser gay, mas
Há um número de pessoas trans que tem algo a dizer sobre reunir transexuais
com homossexuais:
seu sexo. Não deveríamos estar no grupo deles de forma alguma, mas
desviantes sexuais pertencem aos grupos gays.16 Não foi nossa escolha
224
qualquer pessoa que apresente uma expressão atípica de género como
Esses três estavam respondendo aos ataques transfóbicos acima. Outro observou
que:
Sou uma mulher transexual que não busca nada da comunidade LGB nem
mas a condição delas não tem nada a ver com a minha condição.
225
realizações. Não temos negócios no movimento LGB, sabemos quem somos e
homossexuais.
Existem pessoas trans que atacam minha lógica e recorrem a não-problemas. Por
exemplo, alguns afirmam que existem mulheres trans lésbicas e homens trans
que são gays. (A propósito, por que não dizer que existem pessoas trans que são
ignorância? A ignorância não é uma defesa. Tenho certeza de que a maioria dos
gays que são transfóbicos não sabem muito sobre transposons? Eles andam por
Em tempos difíceis, nossas mentes podem ter o hábito de mentir para nós
226
Gaysificar /lesbificar e gayjacking vidas trans
Meu sonho é que um dia nenhuma pessoa LGBT terá que escolher entre
Agrupar pessoas trans sob o rótulo gay é uma práctica comum entre alguns
227
comunidade LGBT é a comunidade gay / homossexual. Essa práctica é prejudicial
casamentos e orgasmos do mesmo sexo, homens que fazem sexo com outros
Combinacão 23.9 23.6 16.8 18.4 Hijra e 49.2 3.9 29.6 42.2
de
transgéneros
228
Existem inúmeras organizações que pretendem trabalhar com questões de
mundo.
Os efeitos sérios podem ser vistos na desagregação dos dados sobre a prevalência
Mumbai.22
229
começamos a ter uma visão melhor da magnitude do problema do HIV entre
mulheres trans e podemos ver que as intervenções que antes eram canalizadas
homossexuais. Não sei o que eles perderão se as mulheres trans não fizerem
parte de suas campanhas para HSH; eles são tão arrogantes e brutais que é
negando aos transexuais seus direitos, porque eles não querem que eles
Prefiro ser confrontado por um “crime” do qual sou culpado do que pelos
“crimes” de outros.
Por fim, a gaysificação de pessoas trans é uma fraude intelectual. Isso é feito para
alguns homossexuais.
230
Às vezes, sinto um certo nível de desespero entre alguns homossexuais quando
existem pessoas trans que são gays”. (Por que a obsessão por sexo e trans; por
que não dizer que existem trans que são médicos, engenheiros, modelos e
contadores?) É ainda mais esquisito: para alguns deles, um homem trans que é
atraído por homens é gay e os que namora mulheres são lésbicas masculinas. As
mulheres trans que namoram homens são gays, enquanto as que namoram
mulheres são lésbicas – da pra ver como podem ser astutos. Alguns de nós
atraídas por homens são T5.000, as atraídas por mulheres são T7.000, as atraídas
por todos são TATA (Transexuais Atraídos por Todos) e as atraídas por ninguém
são T0. O sistema recebeu apoio notável de algumas pessoas trans, mas a maioria
dos homossexuais abusou de mim por isso (como se isso fosse mudar alguma
231
vistos como bons transexuais ou de se encaixar na caricatura ideal (para
um passo em falso sério para começar a acreditar nas suas próprias mentiras.
pessoas que suas actividades no quarto são assuntos particulares. Dizes à igreja
entanto, mudas a tua música quando se trata de pessoas trans; assumes que tens
o direito de saber como transexuais fazem sexo, com quem, quando, por que e
qual rótulo é apropriado para eles. Exorto transexuais a retaliarem contra
homossexuais opressivos; não ser mais babá de algumas pessoas que pensam que
o mundo lhes deve um pedido de desculpas e atenção especial porque são gays.
É necessário aprofundar o assunto sobre por que alguns gays forçam seus rótulos
a outros. Afirmo que essas pessoas não têm orgulho de quem são; eles
Esses indivíduos ficam assustados e tolamente decidem fazer com que outras
saber que tu não és o único que está sofrendo, há milhões de outros em sua
situação e eles estão lidando bem. O mantra é: pessoas transexuais nunca serão
felizes se a comunidade homossexual estiver infeliz.
232
Há algum tempo, no mundo da saúde mental, a homossexualidade era
E para finalizar:
Internacional de Doenças.25
233
Então, o pobre rapaz de nossa aldeia ri de mim porque leu o Texto do Manual de
policia que estava me assediando na rua outro dia o fez porque é um leitor regular
Certa vez, conheci três homossexuais que apoiaram a ideia de expulsar o GID do
não é uma condição médica e não deveria estar no DSM … Audrey, sabias que a
médicos relacionados às suas transições sexuais. Não podemos nos dar ao luxo
de discutir sobre o assunto. Pessoas sem sentido precisam levar suas ideias
opressivo para lésbicas e gays. Como muitas lésbicas e gays não estão em
conformidade com o paradigma cultural de género bipolar
234
… centenas de jovens LGBT estão confinados em instituições
saúde.26
Isso é um absurdo total. Se gays e lésbicas são forçados por médicos a mudar sua
orientação sexual, eles podem processar esses médicos ou seus hospitais em vez
de puxar o tapete para debaixo dos pés dos transexuais – o DSM-IV é uma
Além disso, alguns gays e lésbicas precisam parar de fazer declarações falsas. Eu
(da ‘camuflagem’) e precisa ser cortado pela raiz. É nojento e uma excelente
235
forma de traição. Consegui conversar com duas pessoas transexuais do Quénia
TXCRD
Qual é a tua opinião sobre pessoas trans serem forçadas a trabalhar com gays e
ponto de me chamar de homem, outro disse, junto com meus amigos trans, que
mesmo grupo com eles e não gosto que me associem a eles. Não gosto da maneira
como as pessoas falam sobre homossexuais e supõe-se que eu esteja lá. Além
disso, eles não conseguem responder pelos abusos cometidos.
O que achas que deveria ser feito sobre o activismo LGBT? Os problemas de
transexuais devem ser independentes, mas não me importo com o que os outros
236
TRT101
é mau e ímpio.
Gostas de ser associad@ a homossexuais? Não. Não vejo por que sempre devem
liberdade de associação.
Já tiveste alguns homossexuais abusando de seus direitos? Sim, alguém tentou fazer
Isso me deixa desconfortável e sinto-me horrível. A maioria não faz a coisa certa
e sofremos por esses erros.
nos seus problemas e transexuais nos nossos. Podemos trabalhar juntos quando
for acordado, mas eles não devem nos forçar a trabalhar com eles.
Conclusão
237
A transfobia é uma realidade entre alguns homossexuais. Assume a forma de
respeito não merecido. Isso significa que não se deve criticar homossexuais
houver evidência para provar que eles estão errados, é para que essa evidência
Parece que todos em qualquer nível de ignorância sobre transexuais têm o direito
inerente de dar a opinião de seus ‘especialistas’ sobre transexuais e
sentem que, só porque são homossexuais, estão sempre certos e são qualificados
o suficiente para dar uma opinião sobre transexuais e a transexualidade.
238
Recomendações
perceber que têm liberdade de associação. Não devem ser ditados sobre com
quem devem trabalhar. Não há razão para nós, transexuais, trabalharmos com
fazê-lo. Enquanto alguns homossexuais têm algo que vale a pena oferecer, a
maioria dos homossexuais, inadvertidamente ou intencionalmente, cria
239
envolverem em comportamento sexual destrutivo, abuso de substâncias e
famílias.
Notas
June 2011.
Mia Nikasimo (2010) ‘Transgender people face hate speech from lesbian and gay people’, Black Looks,
http://www.blacklooks.org/2010/10/ transgender-community-face-hate-speech-from- lesbian-and-gay-
people/, accessed 13 June 2011.
240
‘Do you think transgender should be lumped in with gays and lesbians?’, Yahoo Answers,
http://answers.yahoo.com/question/index?qid=201010141 21109AAJH3MA, accessed 13 June 2011.
Pamela Hayes (2011) ‘Why do some gay men hate transsexuals?’, Transgriot,
http://transgriot.blogspot.com/2011/01/pams-ponderings-whydo-some-gay-men.html, accessed 13 June 2011.
‘Do you think transgender should be lumped in with gays and lesbians?’, Yahoo Answers, accessed 15 June
2011.
Ibid.
‘Chaz Bono is no longer gay. Well, then it’s time for the old heave-ho’, (2010) The data lounge,
http://www.datalounge.com/cgi- bin/iowa/ajax. Html?t=9212259#page:showThread,9212259, accessed 15 June
2011.
Ibid.
Ibid.
‘Do you think transgender should be lumped in with gays and lesbians?’, Yahoo Answers, accessed 15 June 2011.
Ibid.
Ibid.
Ibid.
‘LGB People, what are your views on transgender individuals?’, Yahoo Answers,
A transposon is a chromosomal segment that can undergo transposition (Oxford English Dictionary).
241
A.L. Guevara (n.d.) ‘The hidden HIV epidemic. Transgender women in Latin America and Asia’, International
HIV/AIDS Alliance, http://www.
Msmgf.org/files/msmgf//Latin%20America/ART_EN_010808_HID.pdf, accessed 16 June 2011.
‘Groundwork for the campaign against the pathologizing of gender identity. Stop trans pathologizing’ (2012)
International Lesbian and Gay Association,
http://trans.ilga.org/trans/welcome_to_the_ilga_trans_secretariat/library/articles/groundwork_
for_the_campaign_against_the_pathologizing_of_gender_identity_stop_ trans_pathologizing_2012, accessed
17 June 2011.
Ibid.
‘MCC call to action: save LGBT lives in Uganda’, http://mccchurch. Org/2011/05/10/mcc-call- to-action-save-
Kiwianglo (2011) ‘Ugandan bishop addresses U.N. on tolerance for LGBT community’,
http://kiwianglo.wordpress.com/2011/04/11/nigerian-bishopaddresses-u-n-on-tolerance-for-lgbt-
242
243
14 – OS MEDIA, O TABLOIDE E O ESPECTÁCULO DA HOMOFOBIA DE
UGANDA – Kenne Mwikya
Introdução
244
Neste capítulo, examino a relação entre os media e a comunidade queer na África
evita rumores cruciais sobre a crise por parte dos intelectuais preocupados e
Contexto
Não foi a primeira vez que Uganda testemunhou manifestações em massa por
tabloides de má reputação. Outro tabloide, Red Pepper, começou a publicar os
245
contra queers no país. Foi, devo observar, a primeira vez que um tabloide foi
pronta, que foi inundada pela retórica anti-LGBTI de políticos e líderes religiosos
que culparam as pessoas LGBTI pelos problemas sociais do país. Pior ainda,
que apoiam medidas anti-LGBTI no país. Nesse contexto, a Rolling Stone e seus
antecessores ameaçavam os queers em dois aspectos cruciais. Primeiro, a
facto das publicações, mas nos homossexuais que vivem em Uganda. Isso
246
tendenciosas e inquestionáveis, sobre as quais o público (que consumia essas
Nos poucos dias que se seguiram, a Rolling Stone havia se tornado um “jornal”
redefinição do jornal e de seu editor se tornou uma das muitas acções da media
africanas, que estavam entusiasmados por levar uma história tão controversa e
Uganda e, de facto, na África. Pode-se dizer que o poder da Rolling Stone está em
seu ‘tabloide’ e em nossa credulidade em ‘condenar’ algo que teve um público de
media cada vez mais liberalizada.⁸ Por outro lado – e vejo isso num país como o
blogueiros insistiram que é bom que os media façam um retrato sobre queers,
sejam eles favoráveis ou desfavoráveis, com base na visão pragmática de que
247
ou não o facto de que algum ‘progresso’ está sendo feito na tentativa de estimular
da media é escasso. Como o debate pode ter várias maneiras, fins e meios que
De facto, seria indelicado não salientar que temos tido muitos textos de opinião
nos nossos jornais, reportagens e entrevistas na televisão e na rádio que
Tais suposições não foram totalmente claras. Os jornais, a televisão e rádio ainda
248
Esse tipo de discurso duplo trai o facto de que os media apenas usa a
debatidas pelo público. Deve-se notar que o jornalismo, assim como outras
ainda ligado à doutrina religiosa e ainda governado, mais ou menos, pelo lucro,
Assim, pode-se dizer que a cobertura da media sobre questões queer tende a ser
incrivelmente complexa em espaços locais, translocais e glocais, habitando
As circunstâncias em que a Rolling Stone operava não eram únicas, pois suas
publicações foram precedidas por Red Pepper. A única diferença com a Rolling
Stone foi a grande atenção da media que recebeu e a análise abafada inundada
anti-LGBTI por evangélicos dos EUA e líderes religiosos e políticos locais, e a lei
Alguém poderia pensar que este seria um bom momento para pensar sobre a
coincidência entre o que estava sendo publicado pela Rolling Stone e outros
249
subsequente participação no debate cultural, político e ideológico nacional e
tratamento do país pelas pessoas LGBTI passou do quadro mais amplo de direitos
Uganda, pode-se deduzir que a legitimação dos direitos LGBTI foi o resultado
pretendido depois que a lei foi derrotada – uma grande aposta. Duvido que a
atenção da media na questão da Rolling Stone tenha durado tanto tempo se a lei
não fosse tão ameaçadora ou, e isso é mais revelador, se os factores ocidentais
nessa equação, que são os evangélicos de extrema direita dos EUA e a mudança
em 2012. Para as pessoas com uma preocupação genuína com o que acontece em
Uganda, a intimidação de activistas e a normalização da retórica anti-queer, que
250
são sintomas da desumanização das pessoas LGBTI, a cacofonia não faz sentido.
homofóbico.
Os meios de comunicação social em África não se safam, uma vez que, sob um
Uganda. Em vez disso, vemos uma auto-censura geral, ou suposta censura por
parte dos governos, sobre questões que afectam queers no continente e uma
251
histórias e seu impacto, percebido ou não, na sociedade como algo formal. Isso é
evidenciado pelo facto de que, embora os media publiquem diversas histórias que
anti-LGBTI. A bola está na quadra da media para produzir material que gere
carregavam suas histórias era consistente com seus principais leitores. A Rolling
“saber”, mas não podiam pagar um jornal como o Daily Monitor ou o New Vision
Guardian (Londres), conhecido por seus extensos relatórios sobre a África queer,
sexuais. Muito pode ser dito sobre a Rolling Stone. Mesmo em Uganda, houve um
252
momento em que a Rolling Stone acabou de debater com o entusiasmo de uma
anedota do passado, perdendo força com seus principais leitores. Coloco esses
quanto pela Rolling Stone e seu antecessor, Red Pepper. Enquanto a Rolling Stone
blogs homossexuais ampliavam seu poder. Enquanto isso, Giles Muhame foi
institucionalizado e convidado para entrevistas, onde demonstrou seu domínio
que considera Uganda o “pior lugar para ser gay” – não importa que essa
.¹² Tais reportagens são voltadas exclusivamente para uma audiência ocidental
interessada em se isolar do resto do mundo. Dessa maneira, convenientemente
253
‘homofobia africana’. Uganda é o novo Irã, um estado africano atrasado que
queer no continente, não como realmente é, mas como eles querem que seja. O
empurrados para trás, como lendo os media, você pensaria que o activismo em
No entanto, algumas críticas também devem ser feitas contra as estratégias que
os activistas usam em seu trabalho para acabar com a repressão sancionada pelo
que a viabilidade de tais estratégias na África está em questão e que, mesmo nos
notícias ocidentais não era vista apenas como apropriada pela media ocidental,
mas também como uma extensão de uma globalização dos direitos queer nos
254
Quénia e Uganda, em oposição aos EUA e à Grã-Bretanha. Essas tensões não
que é “bom” para levar para a mesa. O internacionalismo queer não é tão
que deturpou completamente David Kato e seu amplo trabalho como activista e
pioneiro na luta pelos direitos das minorias sexuais na África Oriental. O artigo
255
um grande número de comentários condenando Kato e todos os queers, com
morte foi uma coisa boa. Assim, as pessoas que nada sabiam sobre David Kato ou
seu trabalho foram "convidadas" a expressar seu ódio e ignorância pelas questões
LGBTI. O mesmo pode ser dito sobre as reacções dos ugandenses que saudaram
depois que um juiz decidiu em favor dos requerentes da petição, David Kato foi
morto fora de sua casa em circunstâncias pouco claras. O projecto de lei contra
progressistas?
256
culturas e crenças, é hora de reconsiderar seriamente nossa relação
ser forjado. Num país como o Quénia, a Rolling Stone poderia ter sido criticada
por ser altamente abusiva da ética e das melhores prácticas jornalísticas, mas, no
entanto, vista como relevante. Essas são as regras de engajamento que os grupos
activistas LGBTI devem reconfigurar. Cooperação como os media deve ter como
257
• Como abordar a interferência dos meios de comunicação social ocidentais
activismo? Serão as suas histórias as nossas histórias? Até que ponto nos
Essas perguntas são apenas algumas que devem ser feitas e respondidas
analiticamente para pavimentar o caminho para uma nova estrutura activista dos
conformes gays, lésbicas, bissexuais e de género africanas, mas que seja capaz de
258
reintroduzido no parlamento duas vezes, em 2011 e 2012, com a pena de morte
que o público da África Oriental, da África e do mundo não participe de mais uma
Agradecimentos
Notas
259
X. Rice (2010) ‘Ugandan paper calls for gay people to be hanged’, Guardian, 21 October,
http://www.guardian.co.uk/world/2010/oct/21/ ugandan-paper-gay-people-hanged, accessed 19 November 2012; J. Gettleman
(2011) ‘Ugandan who spoke up for gays is beaten to death’, New York Times, 27 January,
http://www.nytimes.com/2011/01/28/world/ africa/28uganda.html?_r=1, acessado em 12 de Março de 2011.
Por exemplo, ‘Slouching into Kampala: O abraço mortal do ódio de Box Turtle Bulletin’
(www.boxturtlebulletin.com/slouching-towardkampala.htm, acessado em 12 de Março de 2011), uma linha do tempo dos
eventos que antecederam a introdução da anti-homossexualidade , concentra-se demais nas influências ocidentais que podem
ter desencadeado debates e conversas sobre o projectos dentro da classe política e administrativa de Uganda e só tem um
interesse casual nas forças internas que realmente entraram no projectos de lei possível no parlamento. Mas, embora
certamente tendencioso nesse aspecto, ainda é um site útil se alguém quiser se apossar de sites de notícias e blogs relevantes
que cobriram e ainda cobrem a história em Uganda. Outra página no site do Box Turtle Bulletin, no Ugandan Rolling Stone
(www.boxturtlebulletin.com/rolling-stone- uganda.htm, acessado em 12 de Março de 2011), também foi útil na coleta de
informações abrangentes não apenas sobre a atitude empregada por vários blogs e sites de notícias sobre o Uganda, mas
também sobre a qualidade da informação.
Veja Keguro Macharia (2010) ‘Homofobia na África não é uma história única’, 26 de Maio de
http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2010/may/26/ homophobia-africa-not-single-story, acessado em 19 de Novembro
de 2012; e “Explicando a homofobia africana?” (2010) 24 de Maio, http: // gukira. Wordpress.com/2010/05/24/explaining-
african-homophobia/, acessado em 19 de Novembro de 2012. Ambos são uma resposta à afirmação de Madeleine Bunting (2010)
de ‘homofobia africana’, ‘homofobia africana tem raízes complexas’, 21 de Maio de
http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2010/may/21/ complex-roots-africa-homophobia, acessado em 19 de Novembro
de 2012, uma noção baseada em grande parte nos aspectos anedóticos e outros da homofobia encontrados em todos os
contextos culturais . Keguro desafia estudiosos do Ocidente a realmente se envolverem com trabalhos académicos e coletivos
activistas que acumularam uma riqueza de conhecimentos sobre sexualidades africanas, informações que contestariam
qualquer concepção de uma “homofobia africana” excepcional. Os desafios de Keguro podem ser empregados muitas vezes
quando se trata do espetáculo de homofobia em Uganda.
Uma cópia do Projecto de Lei da Homossexualidade, Uganda 2009 pode ser encontrada no site da Warren Throckmorton,
http://wthrockmorton.com/wp-content/ uploads / 2009/10 / anti- homosexuality-bill-2009.pdf, acessado em 19 de Novembro
, 2012. Mais informações sobre o projectos, sua publicação e subsequente controvérsia internacionalmente podem ser
encontradas na entrada da Wikipedia, ‘Projecto de lei anti-homossexualidade de Uganda’,
http://en.wikipedia.org/wiki/Uganda_AntiHomosexuality_Bill, acessado em 19 de Novembro de 2012.
Exemplos de que a Rolling Stone de Uganda está sendo chamada de jornal erroneamente incluem a Rolling Stone, EUA (o
impostor ‘Rolling Stone’ africano espalha a agenda do ódio ‘’, http://rollingstone.com/politics/news/africanrolling-stone-
260
impostor-spreads-hate -agenda) e no Reino Unido, Simon Akam (2010) ‘Clamor como jornal ugandense nomeia “principais
homossexuais”’, Independent, 22 de Outubro, www.independent.co.uk/news/world/africa/ clamor por ugandense- paper-
names-top-homosexuals-2113348.html, acessado em 12 de Março de 2011.
O que agora é chamado de ‘agenda gay’ é uma noção profundamente enraizada no americanismo, na medida em que as
modalidades de seu argumento não podem reter água em uma região como a África Oriental, onde as organizações de direitos
LGBTIQ não têm capacidade logística nem financeira para realizar as enormes campanhas ideológicas que essa noção pode
exigir da comunidade LGBTI. No entanto, embora os argumentos sejam inconstantes e, às vezes, baseados em falsidades, eles
continuam sendo usados em todo o mundo para justificar a criminalização de queers, a supressão dos direitos LGBTIQ e a
consequente bastardização do activismo dos direitos queer.
Para um resumo disso, leia “O internacionalismo queer da África”, de Keguro Macharia, The New Black Magazine, http: //
www. Thenewblackmagazine.com/view.aspx?index=2527, acessado em 12 de Março de 2011.
X. Rice (2011) ‘O papel de “enforcá-los” em Uganda não se arrepende após a morte de David Kato ”, Guardian, 27 de Janeiro de
http://www.guardian.co.uk/world/2011/jan/27/ uganda-paper -david- kato-death, acessado em 12 de Março de 2011.
Vídeo de Scott Mills para a BBC, “O pior lugar para ser gay”, http://www.bbc.
Co.uk/iplayer/episode/b00yrt1c/The_Worlds_Worst_Place_to_Be_Gay/, acessado em 12 de Março de 2011.
Keguro Macharia, ‘Estratégias Global para o activismo LGBTI’, www.gaykenya. Com / news / 3769.html, acessado em 12 de
Março de 2011.
E. Rukundo (2011) ‘Nairobi: Ativista gay aos olhos de seus amigos e inimigos’, Daily Nation, 6 de Fevereiro,
http://www.nation.co.ke/Features/DN2/ Gay% 20ativist% 20in% 20the % 20eyes% 20of% 20his% 20friends% 20and% 20 foes%
20 / - / 957860/1102396 / - / item / 0 / - / t11skl / - / index.html, acessado em 12 de Março de 2011. Um artigo semelhante foi
publicado no Uganda Monitor diário no mesmo dia.
Juiz ordena que jornal ugandense pare de publicar listas gays ‘, CNN, http: //
edition.cnn.com/2010/WORLD/africa/11/02/uganda.gay.list/?hpt=T2.
É difícil dizer o que exatamente aconteceu. Os detalhes sobre a dita “morte” do projectos de lei anti- homossexualidade de
Uganda e se a classe política de Uganda seguirá um projectos semelhante na nova sessão do parlamento ainda permanecem
incompletos. Pink News (2011) ‘Confusão sobre o projectos de lei anti-homossexualidade do Uganda’, 5 de Maio,
http://www.pinknews.com/2011/05/11/ confusion-over-ugandas-anti-homosexuality-bill, acessado em 2 de Junho de
2011.
261
J. Mayamba (2011) ‘Assassino de activistas gays condenado a 30 anos’, Daily Monitor, 10 de Novembro,
http://www.monitor.co.ug/News/ National / - / 688334/1270664 / - / bgvjh8z / - / index.html, acessado em 19 de Novembro de
2012. O David Kato Vision and Voice Award reconhece ‘um indivíduo que demonstra coragem e liderança excepcional na defesa
dos direitos sexuais das pessoas LGBTI’. O destinatário inaugural deste prémio foi o activista gay jamaicano Maurice
Tomlinson (http: // www. Visionandvoiceaward.com, acessado em 20 de Fevereiro de 2012.
Sokari Ekine (2012) ‘Uganda aprovará uma lei anti-homossexualidade este ano, diz o palestrante’, Guardian, 26 de Novembro,
http://www.guardian. Co.uk/world/2012/nov/26/uganda-anti- homosexuality-bill, acessado em 16 de Dezembro de 2012.
(2012) ‘Ministro ugandense encerra a conferência sobre direitos dos gays’, Guardian, 15 de Fevereiro,
http://guardian.co.uk./2012/feb/15/ugandan-minister-gayrights- conference?newsfeed=true, acessado em 20 de Fevereiro
de 2012.
262
263
15 – A HISTÓRIA ÚNICA DA “HOMOFOBIA AFRICANA” É PERIGOSA
PARA O ACTIVISMO LGBTI – Sibongile Ndashe
se tornando mais visível, a próxima fase exige que seja dada atenção à mensagem
que ajuda a impulsionar o movimento. Deixa de ser suficiente para contar o
partida sempre foi que os direitos LGBTI são direitos humanos e, com sorte, esse
também é o ponto final. Essa fase actual do activismo deve responder ao contexto
a ser a única forma de activismo: as pessoas sabem que existem pessoas LGBTI
264
nas comunidades, mas não há discussão a ser feita. Existem países em que houve
activismo LGBTI no continente, ou seja, que o activismo não existe e que existe
soluções prontas no mar do “nada”; torna mais fácil minar os processos locais
porque ‘eles não acontecem’; e torna mais fácil absorver indivíduos e chamá-los
de movimentos locais, a fim de ganhar uma posição em um país. Isso dá às vozes
dinâmica e a política local e podem causar muito mais mal do que bem. Mais
265
A busca por homofóbicos, num contexto em que se sabe que a homofobia existe,
não faz sentido, a menos que, é claro, o único ponto seja reunir evidências de
Por exemplo, ao falar sobre como a homofobia é tolerada pelo estado na África
incitamento à violência, afirmando que, quando ele era mais jovem, nenhum gay
teria ficado na sua frente.2 Zuma foi condenado de maneira correta e directa por
essas declarações. Na época, ele havia sido demitido como vice-presidente do
país, mas ainda era vice-presidente do ANC. Poucos dias depois que essa
quando Zuma foi forçado a dizer algo sobre a condenação e sentença de Tiwonge
266
parlamento sul-africano, o que é um passo positivo para o país tomar. Apesar das
que foi claramente emitida pela primeira vez no parlamento quando Zuma foi
por que os homens queriam respirar nos ouvidos um do outro,5 ele foi
apesar do facto de que, sem dúvida, o maior partido do país adotou efectivamente
uma postura de defesa dos direitos LGBTI.
mesmo sexo.7 A constituição queniana não fala sobre esse assunto. Dias depois
dessa declaração, depois que ele foi condenado, ele alegou que havia sido mal-
interpretado. Embora ele não tenha se retirado da declaração, deixou claro que
Nos três casos, o perigo representado pelas declarações iniciais não pode ser
267
deles poderia ter preparado seus defensores progressistas para as declarações.
Não se pode dizer que Zuma estava a testar águas; foi isso que fez sua primeira
fora desses três países que têm o poder de controlar, mitigar e negar a homofobia
conduta lésbica entre pessoas do mesmo sexo sob as disposições do código penal,
268
Assuntos Constitucionais, Dr. George Chaponda, afirmou que o Malawi não
cortou sua ajuda financeira ao país em resposta ao seu fracasso9. Ele também
essa não seja a solução perfeita, o uso de leis de privacidade pode ser a melhor
estratégia de curto prazo no Malawi para proteger os direitos das pessoas LGBTI.
continente – disso não há dúvida -, mas também que há grupos de pressão nas
prolongados, visando à realização dos direitos das pessoas LGBTI. Embora não
exista uma fórmula ou roteiro que possa ser cortado, colado e considerado útil
para todos, algumas das estratégias sugeridas para alguns países parecem se
269
opor a um desenvolvimento gradual e incremental do movimento. As estratégias
propostas para o movimento africano variaram, mas o que elas têm em comum é
as pessoas LGBTI. É até sugerido que a resposta sobre como lidar com as várias
formas de violação dos direitos das pessoas LGBTI pode ser encontrada em salas
de tribunal e que a solução pode ser tão simples quanto encontrar um advogado,
sexo. Um movimento crescente e cauteloso está sendo cada vez mais solicitado
para ser mais assertivo e agressivo na reivindicação de direitos. Aqueles que
simples covardia. Faz parte da história única propor uma solução única para
negativo dessa estratégia em países que não estão prontos é enorme. É bem
possível que decisões legais sejam tomadas nos níveis nacional e regional que a
270
Recebam sanções!
Foi apenas uma questão de tempo até os países africanos começarem a se opor a
serem intimidados pelos países ocidentais para mudar sua posição sobre a
Quando o Malawi rejeitou a ajuda financeira dos alemães devido à sua condição
de descriminalizar a homossexualidade, o perdedor foi, é claro, as múltiplas
por ser um valentão e não se importar com os direitos humanos, mas por insistir
em “impor valores ocidentais”. Era fácil para o Malawi manter a cabeça erguida
e dizer: ‘Esse dinheiro é uma ameaça à nossa soberania e mina nossa autonomia
como essa mudança ocorreu, como isso ajudar os movimentos LGBTI locais a se
271
financiamento de doadores para realizar uma série de outras actividades e
prestar serviços a outras causas? Como essa acção permite que os movimentos
Amigos sinceros
Cada vez mais, há uma visão de que a luta pelos "direitos dos gays" é mais do que
por uma questão de princípio. Existem várias maneiras pelas quais o sentimento
é expresso, mas há uma visão de que o Ocidente se preocupa mais com os direitos
dos homossexuais do que com outros direitos humanos, da mesma maneira que
sempre pareceu se importar com os direitos humanos das pessoas cujos países
272
nas ruas. Se eram as minorias com as quais o Ocidente se importava, onde eles
estavam quando o povo Batwa continuou sendo caçado no Congo, o povo Basarwa
discriminação a que outros grupos estão sujeitos é que a lei serve para autorizar,
geralmente são questões que os próprios governos sentem que não têm solução
273
os Codirectores da Aids-Free World embarcaram em uma campanha de cartas
porque não podemos esconder o facto de que esses tipos de união podem nos
alcançar no futuro. É a hora de dizer que não queremos casamentos entre
sexo, embora necessários para a plena igualdade, ainda não estão na agenda.
274
Bernice Sam é uma respeitada defensora dos direitos das mulheres, não apenas
são úteis para alguém? Qual activista pediu casamento homossexual no Gana?
estamos falando agora. Vamos atravessar essa ponte quando chegarmos a ela. ‘A
campanha de amor igual do Reino Unido e a batalha quase terminada dos EUA
uma intervenção prematura e não contextual. Isso obriga aos activistas locais a
Conclusão
275
A situação em África em relação aos direitos das pessoas LGBTI é diversa e
complicada pela política nacional e local, pela história e pelas normas sociais.
língua inglesa, em parte como consequência das leis coloniais, também existe na
precisará desenvolver sua própria estratégia para realizar os direitos das pessoas
LGBTI, e a história única milita contra isso, criando a impressão de que há uma
direitos humanos.
276
pertencentes ou suportados por grupos locais? Como os movimentos LGBTI
não permite que essas perguntas sejam feitas e respondidas com honestidade nos
Agradecimentos
algumas das ideias, e a Joel Nana, que está sempre disponível no outro lado da
Notas
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Dezembro, http://aidsfreeworld.org/ Sala de imprensa / Divulgação ses / 2010 / Homophobia-PlaguesAfrica.aspx? p = 2,
acessado em 18 de Junho de 2011.
278
279
16 – CONTANDO HISTÓRIAS – FICÇÃO – Happy Mwende Kinyili
Ébano brilhante. Eu sempre penso em Ébano brilhante quando olho para o rosto
escapam e, em vez disso, leio seu rosto para ouvir seu coração se partir. Ele se
Seus olhos ansiosos olham profundamente nos meus enquanto ela escuta minhas
palavras. Ela quer que sua audição mude o mundo – seu mundo. Ela se move
esperança. O sol é envergonhado por seu esplendor, a esperança respira nela. Ela
corre para o mundo, pronta para contar uma história diferente. O mundo a
expulsa – sua interpretação é falsa, a palavra é clara, ela está errada e ela é
pecado. A luz é brutalmente apagada. Ela quebra. E quebra, de novo. Seus olhos
tinham buracos de ódio em seu ser. Eu choro.
deísmo, santidade – eles buscam por Deus. Seu fogo queima dentro de mim …
280
queimo dentro de mim com seu fogo. Levante os olhos e veja a glória do Senhor
porão tênue e desliza por seus rostos. As palavras do pastor, embora tenham a
intenção de libertar, prendem muitas almas. Eles olham de entre as barras da
prisão para a opção apresentada – Você é um pecador, mas como somos todos
pecadores, não podemos condená-lo. O que fazemos é orar por sua redenção.
Deixe Deus redimir sua alma. Eu choro.
Encontro o jovem Ébano brilhante, parado na praia, olhando para a água. Nós
falamos. Ele me fala de seu amor por homens. Como a cada dia ele acorda e reza
para vencer esse amor. Ele jejua a cada dois meses, acreditando que este será o
jejum pelo qual seu amor por homens será vencido. Ele ora por redenção. Por
que Deus não ouve seu pedido? Quando Deus lhe trará cura e redenção para se
afastar de sua cruz? Quando ele desejará uma mulher como ele deseja um
homem?
281
Eu andei nesta terra por 33 anos ímpares. Na minha vida, procurei o bem na
andava pela terra, ficou claro para mim que a busca pela divindade nos céus
declararam que eu era Belzebu1 porque meus caminhos eram diferentes dos
vez em que jantei na casa do fariseu Simon, e uma mulher que foi condenada
como pecadora veio até mim e lavou meus pés com suas lágrimas e óleo precioso
e secou meus pés com seus cabelos. Simon, em sua contínua condenação à
mulher, pensou que eu, como santo professor, não deveria deixá-la tocar meus
pés. Foi triste ver que Simon não conseguia entender o amor que ela derramou
para mim e o amor que eu, por sua vez, derramei para ela. Simão não viu o divino
nela.2
Da mesma forma, ao observar o mundo hoje, vejo que há aqueles que receberam
status e são considerados dignos. Eles olham para você, Ébano brilhante, e veem
seu amor por outros homens como aquilo que não é digno. Eles chamam seu
amor de pecado e declaram que por causa do seu amor, eles não podem te amar
na totalidade. Eles declaram que você é menos importante, menos valioso, menos
282
digno de ser meu filho. No entanto, ao ensinar em suas mega igrejas e púlpitos
poderosos, eles esquecem o que eu ensinei quando andei nesta terra. Aqueles que
esquecendo meus ensinamentos: ‘Em verdade, eu lhe digo, o mesmo que fizeste
professores de hoje declaram que é por esse mesmo amor que eles o evitam e o
declaram pecador. Eles afirmam que não podem amar você sem gritar e condenar
o ‘pecado’ que você vive, o ‘pecado’ de amar outro homem. No entanto, meu
discípulo Paulo ensinou-lhes amor e não deixou espaço para ambiguidade. Paulo
ensinou o amor como paciente e gentil, o amor que não inveja, se vangloria e não
é arrogante. O amor é aquilo que não insiste no seu próprio caminho. Não se
alegra em agir mal, mas se alegra em verdade. O amor suporta todas as coisas;
sem amor.6
Ébano brilhante olhou para mim quando concluí minha história. Sua descrença,
explicou ele, foi porque, embora eu tivesse mudado o foco para o amor, ainda
permaneci em silêncio sobre os ensinamentos da Bíblia usados para condenar
seu amor por outros homens. Apesar da mensagem de amor que compartilhei,
essa mensagem não silenciou esses ensinamentos. Deus não considerou que
essas mensagens matariam e destruiriam pessoas como ele ao serem incluídas
283
nos ensinamentos de Deus? O Ébano brilhante virou-se e disse: 'O amor de que
O meu coração partiu-se. O ódio tinha chovido sobre o Ébano Brilhante e tinha
Minha história, a história que você lê na Bíblia, é sobre amor divino. Pessoas,
sobre guerra e adoração, nos falam sobre o nascimento de seus entes queridos e
Tentam entender o mundo e escrevem sobre sua busca pela certeza. No entanto,
o que une suas histórias é sua experiência com o amor divino – o dar e receber
do amor divino.
uma importância apropriada nas nossas vidas diárias. Descobrimos que não
muitas vezes nos voltamos para esses conflitos para abater aqueles que foram
mantidos ao longo da história e avançar uma agenda que não carrega amor
divino. Em toda a história e em diferentes lugares do mundo, mulheres, negros,
284
experiência de amor divino não se encaixasse com aqueles que detinham o poder
Ébano brilhante, minha mensagem para você não é para explicar por que os
para negar aos outros a experiência do amor divino. Antes, ensino sobre amor –
o amor que levou minha caminhada nesta terra a encontrar o divino em toda a
humanidade e a compartilhar minha experiência de divindade com toda a
declarou sem esperança e ensinar amor divino por meio de minhas acções. Pois
dei a minha vida por toda a humanidade, por causa do meu amor por toda a
Notas
1 Mateus 12:24.
2 Lucas 7:36–50.
Mateus 25:40.
Mateus 22:39.
1Coríntios 13:4–7.
285
1Corintios 13:1.
286
287
17 – FACES E FASES – Zanele Muholi
testa ao queixo), a face também expressa a pessoa. Para mim, ‘Faces’ significa eu,
fotógrafa e trabalhadora comunitária, estando cara-a-cara com muitas lésbicas
somos representadas por pessoas de fora, somos apenas vistas como vítimas de
288
compreendidas. Essa é a razão das ‘Fases’: nossas vidas não são apenas o que
fazem as manchetes dos jornais toda vez que uma de nós é atacada. Passamos por
em nossa existência.
Do ponto de vista de quem está dentro, esse projecto pretende ser uma
em minhas viagens pelos municípios. Vidas e narrativas são contadas com dor e
alegria, pois algumas dessas as mulheres passavam por dificuldades nas suas
vidas. Suas histórias me causaram noites sem dormir, pois eu não sabia como
violadas; Eu não queria que a câmera fosse mais uma violação; antes, eu queria
estabelecer relacionamentos com elas com base na compreensão mútua do que
formado cada uma de nós de maneira diferente, mas aos seus olhos somos da
289
me levou a continuar com o meu projecto ‘Faces and Fases’, onde tirei fotografias
Unido, 2010
290
Canadá (o que não acontece com todos). Não sei que tratamento meu falecido pai
pastos mais verdes. No entanto, a realidade não era mais verde para esses
“outros”. Muitas vezes, ficavam desabrigados sem comida e emprego depois que
Canadá, 2009
291
Funeka Soldaat, Makhaza, Khayelitsha, Tlhalefo‘Zeal’Ntseane,Mafikeng, North
West, 2011
De mulheres para homens trans para o que quer que seja – as pessoas são
pessoas. Os seres humanos merecem ser tratados com amor e respeito, todos e
As fotos aqui são de 'Faces e Fases: III', que foi lançado na Documenta 13 de 2012
em Kassel, Alemanha, e é esse facto que é o meu ponto de partida para a terceira
série. A pergunta que faço e gostaria que outros considerassem é: 'O que significa
292
ter uma exposição itinerante que foi exibida pela primeira vez na Documenta? A
cinco anos. O que significa exibir arte lésbica negra e queer num espaço tão
branco no auge dos crimes de ódio que ocorrem na África do Sul? Observe que
– Onde estás? O que tens feito? Olhas, mas está sempre em silêncio – nada além
de um olhar!
293
294
18 – REMOVIDX DUAS VEZES: INVISIBILIDADE AFRICANA NA TEORIA
QUEER OCIDENTAL – Douglas Clarke
queer que sai da academia dos EUA e, em menor medida do Canadá, é o que
Hawley 2001). No entanto, existe uma distinta falta de consideração pela cultura
africana que deseja o mesmo sexo. É como se a teoria queer ocidental tentasse
apagar a homossexualidade africana e centrada em Africa. Este ensaio procura
queer ocidental e como ela se aplica ao que chamarei de ‘questão africana’. Para
uma teoria que busca interromper o poder e a norma cultural, a teoria queer
295
África. De maneira alguma minha linguagem pan-africanista procura
realidade do discurso teórico que o autor deve usar uma linguagem que cubra
mente, passo a definir mais dos meus termos na esperança de criar o exemplo
mais claro da literatura teórica que pode ser produzida neste momento.
Essa redação é uma crítica da teoria queer que sai do discurso académico
ocidental, que é, nos limites desta peça, para ser entendida como a escrita,
discurso e diálogo sobre cultura queer, homossexualidade, desejo do mesmo sexo
teoria racista e “cega” de qualquer outro país. É usado apenas para definir os
termos que serão usados ao longo deste ensaio. Além disso, este ensaio tratará
296
repartido queerness em várias categorias (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais,
intersexuais, etc.), seria difícil num ensaio desse tamanho explicar todas as
categorias toda vez que uma é usada. Por esse motivo, muitas vezes me referirei
atenção agora para algumas maneiras pelas quais a África já contribuiu para os
Primeiro, deve-se afirmar que África deu ao mundo uma forma de teoria queer
que permanece em grande parte invisível ou “não dita”, como Epprecht (1998)
embora não seja um respeito por ela (Epprecht 1998: 636). O que quero dizer com
tolerância é apenas isso, uma atitude permissiva que existe enquanto essas
297
homossexuais secretas ou tratamento ilícito daqueles a quem a sociedade
“acredita” que poderiam ser “gays”, mas o importante é reconhecer que a África
ocidental. Se o leitor cauteloso aceita Epprecht em sua palavra, podemos ver que
a África, muito antes do Ocidente, tinha uma política para tolerar a actividade
homossexual, desde que fosse mantida a portas fechadas. Não há dúvida que todo
mundo quer uma teoria que seja mais progressiva, permitindo que a
pode negar que África dá ao Ocidente um bom ponto de partida para pular.
Permitir que as pessoas façam suas próprias escolhas sexuais não destrói a
sociedade nem a arruína, mas permite que avanços ocorram. A África, apesar de
esboçado brevemente alguns dos avanços que a África fez (socialmente e para a
2004: 5, Epprecht 2008: 34); foi submetida a quadros de estudos que supre-
estimularam o homem negro (Fanon 1967: 159–60, Lyons e Lyons 2004: 131) e, mais
298
recentemente, foi sujeita a um tipo de apagamento, uma negação da sexualidade
para aqueles que habitam culturas de África que desejam o mesmo sexo (Spurlin
2001: 185; Johnson 2005: 127). África é marginalizada na teoria queer ocidental, o
que significa que africanx queer não são representados na literatura principal ou
gay ainda não seja tão comum ou amplamente distribuída como deveria ser (Stein
e Plummer 1994: 178), os estudos queer africanos são ainda menos. Por não ter
este ensaio, descobri que havia uma lacuna considerável em fontes que tratavam
(Collins 2005, Russell 2008), mas não muito sobre a teoria queer africana. Parecia
ficou bastante claro foi que o Ocidente certamente estava em uma posição de
disso, era a América do Norte branca e académica que estava no controle. Muitas
fontes tratavam de sexualidade, queer, homossexualidade e categorias de género,
299
transculturais. Este ensaio espera trazer à luz o que falta e fazer uma distinção
nítida entre como o Ocidente usou a teoria queer e como a África pode criar suas
criação de identidade. A teoria queer não apenas não deu uma olhada nas
a figura do homossexual (Sullivan 2003: 66). Isso significa que a maior parte da
teoria queer que foi escrita com o homossexual branco em mente. Na melhor das
posicional (…) coloca o ocidental em toda uma série de … relações com o Oriente
sem nunca lhe perder a vantagem’ (Said 2003 [1978]: 7). Substitua “África” pelo
300
para o modo como o Ocidente lida com questões transculturais. A superioridade
próprias perguntas, com pouca consideração àquelas que ficam fora dos
da imposição dessa estrutura. A África não pode seguir seu próprio caminho sem
apelar para o conhecimento (e, portanto, o poder) do Ocidente. Duas opções estão
branca que os negros africanos compartilham a tal ponto que precisam adoptar
identidades que vêm junto com o facto de ser homossexual? Todas essas
perguntas clamam por atenção e respostas que ainda devem ser vistas no mundo
ocidental. O que é necessário é uma descolonização da teoria que está a ser
301
Frantz Fanon, psicanalista e intelectual negro, escreveu extensivamente sobre
do corpo negro que existia no mundo da supremacia branca (Cherki 2006: 26).
questionou o colonialismo e seu legado e o impacto que teve sobre indivíduos que
viviam dentro de seus limites (Gendzier 1976: 502). Suas teorias se mostraram
manter calado e obediente. O que Fanon descreveu aqui é nada menos que a
situação da teoria queer ocidental. Os académicos ocidentais brancos são os
302
Onde isso deixa as identidades de afro-homossexuais? Apagadas, estereotipadas
e “demonizadas” (Nagel 2000: 123). Talvez ainda pior do que isso, deixa as
que levou a dois conflitos inconciliáveis, duas ideias em guerra num corpo escuro
‘(Dubois 1903 [1999]: 11). Como alguém poderia ser negro e cidadão se a cidadania
exigia que não fosses negro? Esse é o problema que Dubois procurou desvendar
ao longo de sua vida. Da mesma forma, este ensaio pergunta como africanx
podem permitir que a teoria queer ocidental fale por elx. Moore, teorizando tanto
em Dubois quanto em Fanon, diz que isso muitas vezes leva o corpo negro à
brancura, a um desejo de aceitar a brancura (Moore 2005: 758) ou, neste ensaio, a
303
A única maneira de reconciliar as duas metades dessa divisão é através da
(Fanon 2004: 1), é através dessa violência que os colonizados são capazes de lutar
por sua história e vencer as ideias do colonizador. No entanto, este não é o tipo
de violência que usa armas ou facas; antes, é uma violência descolonizadora que
colonizados têm o direito de retornar essa violência para recuperar o que foi
apagado pela imposição. Essa violência é do tipo que une a consciência dividida
melhor para eles e como criar sua própria identidade, que é exactamente o
oposto do apagamento.
Pode parecer que este ensaio se tornou violento, que agora se baseia na
linguagem da luta e da destruição, mas não é esse o caso. O que é proposto é uma
académicas ocidentais. Este ensaio não é capaz de dar à África a resposta, visto
304
que está a ser escrito por um ocidental, mas posso dar um modelo e ferramentas
seguir são “sugestões educadas” que descrevem uma estrutura teórica que pode
ocidental, que adopta o espírito da teoria queer em geral, mas não segue
obstinadamente o que foi escrito. Não se pode esquecer que o que o Ocidente
estabeleceu apagou efectivamente a identidade africana. O que as pessoas
africanas precisam é recuperar essa identidade e avançar com algo que celebre o
que eles podem trazer para a mesa. Uma maneira de fazer isso é assumir a
como se aplica à sexualidade. Trebilcot diz que a primeira coisa a perceber sobre
assumir a responsabilidade por uma situação é que não é o mesmo que assumir
a responsabilidade pela causa dessa situação (Trebilcot 1984: 421). Alguém pode
mesmo modo, ela diz que um indivíduo pode assumir a responsabilidade por sua
sexualidade agora, sem ter que explicar o que tem sido e o que será no futuro
305
(Trebilcot 1984: 421). O que pode ser extraído disso para a discussão actual é a
perspectiva. Isso não quer dizer que alguém deva esquecer o que foi teorizado no
africana (Pincheon 2000: 40). O que digo é que a África pode assumir a
la. É sem dúvidas mais fácil dizer do que fazer, mas com isso realizado, seguir em
acções, atitudes, pensamentos, desejos, estilo e assim por diante. ‘(Trebilcot 1984:
422). Para adicionar a esta lista, eu diria que isso também significa assumir a
algo que pode ser responsabilizada e um indivíduo pode ser responsável por
306
para toda a gama de suas prácticas sexuais específicas e desejos. Assumir a
Um último ponto deve ser feito aqui. Este capítulo está perigosamente próximo
superfície, mas que não se mantém sob escrutínio. Eles mantêm dentro deles
semelhanças tácitas que são apagadas ou ignoradas no interesse de vencer uma
discussão. Por exemplo, a afirmação ‘gays não são heterossexuais’ parece válida
e forte, mas como alguém pode entender o que é ser hétero ou gay se o outro não
categorias usadas para classificar parceiros sexuais. O que vimos até agora neste
ensaio é que existe uma profunda divisão entre a teoria queer do Ocidente e a
teoria emergente da África, mas isso não quer dizer que elas sejam exclusivas e
limitadas apenas por suas próprias fronteiras. Diana Fuss argumenta que os
binários tratam de acoplar o que está dentro e o que está fora (Fuss 1991: 1), o que
307
significa que sempre há aqueles que inclui (dentro) e aqueles que exclui. Além
disso, pode significar que existem aqueles que são capazes de executar a referida
práctica (dentro) e aqueles que não podem (fora). No campo dos estudos da
distinguir quem é incluído nas suas propostas e os que são excluídos. Ao falar
sobre a teoria queer, como vimos, queer brancx tendem a ser os assuntos
ensaio? Este ensaio não chamou o conhecimento do colonial ocidental? Isso deve
significar que eu argumentei que a África esteja do lado de dentro agora e o resto
do Ocidente deveria ser movido para as margens. Espero muito que não seja o
caso.
Fuss continua a dizer que a figura de dentro / fora não pode ser totalmente
removida, mas isso não significa que ela deva sempre representar lados
diametralmente opostos. Ela diz ainda que qualquer termo dado sempre depende
do que é exterior a ele (Fuss, 1991: 1). Isso significa simplesmente que, se não
temos algo do lado de fora, não podemos saber o que está ‘dentro’. Este capítulo
agora tentará defender este raciocínio. Quando se trata da teoria queer ocidental
versus africana, é inegável que o Ocidente tentou fazer teorias que abranjam
todas as culturas queer, sem excepção. Essas teorias acabam por fracassar
308
porque não levam em conta as diferenças culturais que existem em comunidades
leva em conta a questão de impor ideias aos pensadores sem lhes dar a
sendo considerado “fora”. Estar posicionado do lado de fora certamente pode ser
lido como algo mau, sem ter discernimento e não estar a par das negociações
fazer é impor suas ideias coloniais a outros pensadores. A África, de certa forma,
posição existir, não haverá verdadeira justiça na representação. Não que esses
estudiosos estejam errados. O que quero dizer é que, neste ensaio, neste
momento e tratando deste assunto, não quero estabelecer uma dicotomia estrita
da África contra o Ocidente. Em vez disso, quero dizer que o interior determina
o exterior tanto quanto o exterior determina o interior. Existem passagens de
fronteira que existem tanto em nível teórico quanto prático. Portanto, o que eu
309
quero chamar atenção é o apagamento que esse posicionamento já causou. Não
Concluindo, gostaria de dizer que este não foi um ensaio fácil de escrever. Eu tive
que me equilibrar numa fina linha de estudo pós-colonial que leva a caminhos
tortuosos. Desvie-se demais para um lado e parece que culpo a teoria ocidental
por todas as falhas da teoria queer da África, desvie-se demais para o outro e
parece que posiciono a África acima do Ocidente. Espero não ter feito nenhuma
dessas coisas. Quando iniciei este projecto, tentei mostrar como a teoria
persuasivos são seus argumentos. Também procurei mostrar que ser tão
formidável pode levar a muitos problemas, o principal para mim é que estava a
apagar a África e queers africanx. Com a conclusão desta peça eu sei que
de se libertar das margens e se plantar firmemente como uma força teórica a ser
reconhecida. A descolonização pode ser um assunto violento, mas também é
necessário. Espero que a teoria queer africana seja o próximo tópico discutido
nas universidades ocidentais, não porque eu pense que o Ocidente possa fazer
310
isso melhor, mas porque a África terá feito tal contribuição que não poderá mais
ser ignorada.
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312
313
19 – ONGS E ACTIVISMO DE MULHERES QUEER EM NAIROBI – Kaitlin
Dearham
Introdução
314
Esta redacção é baseada em pesquisa qualitativa realizada para um projecto
outras sociais. À medida que mais grupos são estabelecidos, profissionais do sexo
para mulheres queer agora do que em 2010. Nos últimos dois anos, a GALCK
passou por problemas de gestão e financeiros que dificultaram a sua relação com
a comunidade LGBTI.
315
Dada a proliferação de grupos focados em direitos humanos, questões de
Terminologia
Muitas mulheres observaram que o ‘queer’ não era amplamente usado no Quénia
porque a maioria das pessoas não foi exposta ao termo. Em termos gerais,
316
de LGBTI, para reconhecer a presença de mulheres que não se identificam com
que trabalham com questões queer, continuarei a usar o acrónimo LGBTI, já que
O Quénia tem uma comunidade queer em expansão, que está se tornando mais
que, nos anos 60, os gays se reuniam em banheiros públicos e em salões de chá
no centro de Nairobi (Ocholla 2011: 94). As evidências de um movimento político
organizado surgiram pela primeira vez em 1997, com a formação de Ishtar MSM.
direitos à saúde de todos os homens que fazem sexo com homens, bem como de
mulheres trans (Kuria 2009: 2). Várias outras organizações LGBTI se formaram
formou. O GALCK é uma coalizão de seis dos principais grupos de direitos LGBTI
317
do Quénia e trabalha para apoiar suas metas e objectivos (Kuria 2009: 5). Cinco
GALCK. Várias
para se divertir.
318
comentários a seguir, os entrevistados especulam sobre o motivo do domínio dos
mulher nasce, ela é informada: ‘Tu tens de ser uma boa esposa … ou mãe.
Teu lugar será … servir seu marido. ‘Mas, para o homem´, é do tipo ` tu
tens de administrar este país ‘. É por isso que acho que há mais homens
mulheres tiveram que lutar muito por seu lugar. Portanto, realmente não
319
Os entrevistados identificaram a reprodução da hierarquia de género nas
organização de mulheres queer. Outro motivo apontado para a falta de vozes das
mulheres nas organizações LGBTI foi o facto de existirem mais homens queer
dispostos a ser abertos sobre sua sexualidade do que as mulheres. Isso está
sociais sobre as mulheres para se casar e ter filhos em uma idade relativamente
(HSH) e HIV / SIDA foi identificada como um factor adicional que precipita a
320
ONGnização
Armstrong (2004) salienta que, embora essas prácticas garantam que as ONGs
prestem contas aos seus doadores, nem as ONGs nem os doadores devem prestar
contas à comunidade local de maneira confiável. Estruturas hierárquicas e ênfase
321
as ONGs ficarem alienadas das pessoas no nível de base (Armstrong 2004: 40).
queer em Nairobi por meio de uma discussão sobre o uso da estrutura de direitos
Direitos humanos
estrutura de direitos humanos. Alguns argumentam que esse é o meio mais eficaz
de abordar questões queer. Outros são mais céticos sobre seu uso neste contexto,
usados para combater os argumentos de direitos humanos (ver Cobbah 1987, Njoh
322
2006). Cobbah escreve que as instituições de direitos humanos se envolveram
Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada pelas Nações Unidas em
Dezembro de 1948, a ONU era dominada pelos países ocidentais e a maior parte
da África Subsaariana era ainda sob controlo colonial (Cobbah 1987: 316). Apesar
disso, muitos argumentam que a estrutura de direitos humanos não tem origem
Direitos humanos, a própria palavra, é ocidental. Mas … é dizer que nunca houve
considerado um alienígena.
Isso não quer dizer que a estrutura de direitos humanos deva ser abandonada
inteiramente. Essa estrutura pode ser útil quando se trata de advogar mudanças
Khadija, que trabalha para uma organização de justiça social, observou: ‘Eu acho
que quando estamos conversando com esse tipo de público (popular), a
323
linguagem dos direitos humanos é limitadora, pois parece muito imperialista.
também pode alienar activistas queer de suas comunidades maiores. Njoki, poeta
324
ou ‘diferentes’ de outros quenianos serve para reforçar o argumento
cultural de que a natureza queer é diferente e que não tem lugar nas
sexuais são como o sabor do mês, então todo mundo quer trabalhar com
elas. Mas o que tu fazes quando não somos o sabor do mês, o que
acontece?”
Questões de Classe
que a programação não aborda sua realidade e seus desafios. Mulheres queer de
áreas de baixa renda sofrem mais violência e agressão sexual do que mulheres
325
que vivem em bairros de classe média. Embora a violência e o estupro não sejam
questões legais. Eles tomam a lei em suas próprias mãos, se acharem que
E não farás nada a esse respeito. Porque o sistema jurídico realmente não
Fora do gueto, acho que é diferente. As pessoas sabem, mas tu vives nesse
326
as pessoas, a maneira como tu vives, os pequenos espaços: é muito fácil
são analfabetas. Eles não têm habilidades. É sabido a vida quotidiana é uma luta
para eles. Como não tens formação académica, não tem nada. A única opção é
casar, porque para casar não precisa de aulas. ”Val, membro do comité de
327
lutar. Os Toms realmente não podem usar vestido ou vestido... e sair para
uma entrevista porque sentem que não estão sendo quem são. Quem eles
vinte anos. Mas não é culpa sua ... a vida é uma merda.
... é preciso muito sacrifício para ajudar a quem está deprimido. Mas,
para a escola, arrume um emprego. Mas outras pessoas não têm essas
oportunidades, e acho que é isso que falta. Eu digo, não sei como
preencher essa lacuna. Eu certamente não sei.
328
casamentos heterossexuais para sobreviver. Pode ser difícil para essas mulheres
participar de oficinas de estilo ONG e outras actividades por várias razões. Tais
inacessíveis para aqueles com pouca educação formal; para as mulheres que
vivem com ou são casadas com homens, pode ser difícil justificar a necessidade
das mulheres de menor renda devido ao tempo de viagem (como bairros de baixa
membro do comité, especulou que “Seria bom se eles pudessem falar mais com
realizamos são de classe alta, ou seja, meio que reuniões na cidade. E realmente
329
frequência. Ninguém está falando sobre isso … sinto que se tivéssemos
Naomi mencionou que as pessoas foram “colocadas em suas posições” e que era
Para lidar com as diferenças de classe, que são tão inerentes às pessoas,
Aqui, Rose está traçando um paralelo importante entre classe e outras opressões
estruturais. Muitos participantes da entrevista expressaram um desejo comum
330
está certamente presente. No entanto, é um desafio para uma organização que
Sucessos
seus próprios recursos para criar uma sociedade mais igualitária e segura para
os quenianos queer. Nesta secção, discutirei sucessos organizacionais na criação
Visibilidade
331
consciência pública e do diálogo, o que é uma grande mudança em relação a cinco
Mundial em 2007:
foi realmente muito bom, porque temos muita media com isso. Pelo
menos isso ajudou a acabar com o mito de que as pessoas LGBTI não
Essa foi uma das primeiras vezes que queers apareceram publicamente como um
Lugares Seguros
O escritório da GALCK, e outros espaços que a MWA ocupa para eventos, são
alguns dos poucos lugares onde as mulheres queers se sentem capazes de relaxar
e não precisam se monitorar por medo de revelar sua sexualidade. Esses espaços
332
de segurança formal para LGBTI complementam os espaços informais de
segurança queer que as mulheres queer desenvolvem para si mesmas fora das
activista no qual eles poderiam “ser eles mesmos” era um enorme alívio. Sam,
membro da AFRA, descreveu a primeira vez que ela foi ao centro da GALCK: ‘Foi
pessoas queers teve o efeito de normalizar sua sexualidade: ‘Eu podia ver as
pessoas, elas são felizes … estão se comportando como nada grande, como
queers foi um passo importante para muitos queers de Nairobi, que podem ter
queers. Faith explicou que, quando a MWA estava se formando, havia muita
excitação … acho que antes dessa época, lésbicas … estavam espalhadas. Mas isso
333
Mobilização
Mesmo para aqueles que decidiram não se envolver em activismo por meio da
útil com outras mulheres queer. Aqueles que decidiram não participar da
organização, em grande parte por causa de preocupações estruturais, continuam
334
Coalizão
significa que é fácil para seus membros trocar ideias e colaborar em projetos. A
Fortalecendo o movimento
Em sua análise das ONG feministas em Israel, Hanna Herzog afirma que “a força
335
programas e estrutura, verificando se estão servindo a sua base de membros e
dentro da organização.
trabalhar com outras organizações que lidam com questões queer, como já está
336
trabalhistas, feministas, queer e profissionais do sexo, de diversas origens
com mais frequência. Ninguém está falando sobre isso... Sinto que se
como um todo, que poderia ser usado para criar uma nova estrutura para o
no que pode ter sido eficaz em outras partes do mundo. A MWA fez um trabalho
337
Agradecimentos
Notas
A observação participante é um método de pesquisa antropológica que envolve a participação no quotidiano e nas actividades,
além de observar e coletar dados relacionados a essas actividades. Durante a observação participante, observei as interações
dos grupos e como as crenças e valores foram expressos em um ambiente relativamente natural e informal.
Heteronormatividade é um conjunto de suposições sobre papéis sexuais e de género que legitima homofobia e transfobia. A
heteronormatividade supõe que as pessoas se enquadram em apenas um dos dois sexos (masculino ou feminino) e sexos
(homens ou mulheres), que têm certos papéis na vida. Presume-se que a heterossexualidade seja a única orientação sexual
natural, o que significa que apenas as relações sexuais e conjugais entre um homem e uma mulher são aceitáveis. Presume-
se que sexo e género se correlacionem naturalmente, o que significa que pessoas trans e intersexuais são excluídas de
estruturas heteronormativas.
As secções 162 a 165 do código penal são comumente interpretadas como significando que actos sexuais entre pessoas do
mesmo sexo são ilegais no Quénia. A lei é muito ambígua, referindo-se a “ofensas não naturais”, “conhecimento carnal contra
a ordem da natureza” e “actos de indecência grosseira” (Kenya Law Reports: 2010). Essas leis foram estabelecidas pelo governo
britânico durante os tempos coloniais e permaneceram no código penal do Quénia desde então.
“Tom” é uma forma abreviada de “tommy”, um termo para uma mulher queer ambígua andrógina, juvenil ou de género
derivada do termo “tomboy”
338
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339
340
20 – A LUTA PELOS DIREITOS INTERSEXO EM ÁFRICA – Julius Kaggwa
africana.
na África e como a cultura, incluindo a religião, tem sido usada para avançar uma
341
é uma das razões pelas quais a maioria dos programas de saúde sexual na África
não pode ser chamado de ‘sexo’ sem rodeios. É aludido em termos proverbiais,
como “apontar outro para o reino do diabo” (okutunuza omuntu mumbuga za
sitani) ou sob uma luz mais positiva “uma conversa privada de adulto” (akaboozi
342
torno do desenvolvimento sexual, género, diversidade sexual, actividade sexual
género mais privilegiado. Isso também é visto nas intervenções de HIV, onde as
mulheres grávidas são submetidas a testes obrigatórios de HIV, mas não os pais
pandemia e não os homens que compram seus serviços, onde é mais aceitável a
mutilação genital ser feita em crianças intersexo para torná-las meninas, em vez
Em muitos países africanos, enormes recursos foram gastos e ainda são gastos
acesso a esses programas. Mesmo após a programação do HIV entre homens que
fazem sexo com homens (HSH) e mulheres que fazem sexo com mulheres (MSM),
uma subcultura que pressupõe que apenas o sexo gay ou anal existe além do sexo
343
ter acesso livremente os serviços de saúde. Como resultado, se automedicam
sofrem discriminação.
344
possíveis de excluir essas populações da sociedade como rejeições culturais e
Tal disposição tornaria muito fácil para uma pessoa caçar bruxas ou apresentar
acusações falsas à vontade contra outra, simplesmente para causar escândalo.
345
e políticas que revelam preconceitos baseados em homofobia, racismo,
sectarismo e assim por diante. Também nos informa que a cultura como a
inegavelmente tudo está sendo feito para negar direitos de saúde sexual e
são frequentemente mortas logo após o nascimento ou, se não, são mantidas
346
muitos africanos, de todas as esferas da vida, têm corpos que não estão em
e actividade sexual. Não podemos nos dar ao luxo de fugir do facto de que muitas
pessoas ocupam o meio termo cinza entre homem e mulher. O assunto do debate
intrínsecas.
moralista que nega as minorias sexuais e os sexos não conformes, acesso e gozo
de saúde e direitos sexuais. Essas realidades vividas incluem (todos os nomes
foram alterados):
• Musa, um menino de 16 anos que vive com a mãe e foi diagnosticado com
• Mary, uma mulher de 22 anos que possui órgãos genitais ambíguos onde
347
• John, um jovem de 20 anos que mora com a madrasta que passou por
cirurgia correctiva mais de duas vezes, mas que ainda não consegue
e liberar o pênis.
• Jane, uma criança de quatro meses e meio que nasceu com genitais
genital; era escondida por sua mãe e mais tarde foi encontrada morta em
circunstâncias misteriosas.
348
como formular estratégias relevantes para alcançar isso em nossos contextos
O aspecto crítico sobre o qual precisamos nos educar como africanos é que,
349
350
21 – DECLARAÇÃO AFRICANA SOBRE ORIENTAÇÃO SEXUAL E
IDENTIDADE DE GÉNERO
07/03/2012
Nós, activistas africanx, falamos em nome das pessoas em todo o continente que
Recebemos com alegria o relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Direitos Humanos, Navi Pillay, que destaca o estado deplorável dos direitos
351
O continente africano levantou-se e continua se erguendo contra estruturas
tradicionais africanos;
4. Fundamentalismos religiosos;
352
Nós, como activistas LGBTI africanx, não solicitamos direitos novos ou especiais,
Apelamos aos nossos estados africanos para que ponham fim à violência e
cessar tais leis. Conclamamos todos os estados africanos a criar ambientes legais
http://bit.ly/UvZzMj
353
354
22 – FRONTEIRAS
QUEERYING: UMA
PERSPECTIVA ACTIVISTA
AFRICANA – Bernedette
Muthein
beliscar arrancar em todos os lugares cheio de barrancos, corroendo meu tecido cicatricial
nem aqui nem ali
lambendo as crateras de todos os lados, nações habitam
Não estou entre ninguém Beijo-a, fodo- meu ser
o e desejo apenas um sonho
enquanto eu humedeço por sua maestria cutucando suas
banda desenhada canções de chuveiro pernas abertas vulneráveis ciente de toda a nossa
inocência
através de tempestades elétricas sem
madeira feita de nada além de ar
355
Qualquer campo de estudo só tem relevância se pessoas reais, e especificamente
que parece para alguns de nós, não tem absolutamente nenhuma relevância para
cruzando). Às vezes, pessoas “comuns” não são vistas como “teóricas” sobre suas
violência são questões mais pertinentes para muitos de nós. A violência é uma
356
realidade vivida diariamente para pessoas não heteronormativas em todo o
mundo, especialmente na África, mas ainda mais perto de casa na África do Sul,
como lésbicas pelos homens, ostensivamente como uma ‘cura’ para / de suas
sujeitam alguns gays a esse ‘estupro curativo’. Portanto, teorizar sobre não-
estudos sobre lésbicas para pessoas comuns, o que é uma lésbica e quem define
o lesbianismo. A palavra ‘lésbica’, como a maioria dos conceitos incluídos na sopa
dinâmicas, e não como binários e estáticos. Essa fluidez se aplica à maioria dos
‘terceiro sexo’, transgéneros, intersex e / ou qualquer outra coisa que não são as
357
dicotomias estereotipadas masculino-feminino. As definições geralmente
circunstâncias.
Então, como se deve definir lésbica? Muitas pessoas com quem associo definem
bissexual, mas esse termo também subscreve uma noção de polaridade – de que
contínuo linear estático, mas em uma elipse infinitamente espiralada que, não
conhecemos lésbicas que dormem com homens e lésbicas que, mesmo que não
358
mulheres que se identificam como heterossexuais e, muitas vezes
outras mulheres. Muitas mulheres africanas fora da África do Sul que podem se
colonial. Por exemplo, a casa de uma importante activista africana de género foi
geral. Uma de suas tarefas foi estabelecer redes nacionais discretas para homens
lésbicas, que é tão predominante que as organizações queer na África do Sul têm
género.
359
todas as identidades sejam mais complexas após uma investigação mais
coisa de que podemos realmente ter certeza, nesta fase, é que todos nascemos
nunca pode ser realmente fixa, não é pré-determinada e primordial, não nos
maneira semelhante à que a ciência tem sido usada para dividir e conquistar
Batchelor coloca:
As coisas não são tão claras quanto parecem. Eles não são circunscritos
nem separados um do outro por linhas. Linhas são desenhadas na mente.
360
Não há linhas na natureza … [Tudo surge] de uma matriz de condições e,
por sua vez, torna-se parte de outra matriz de condições a partir de qual
(coloniais) reconhecidas pela ONU que cortam grupos étnicos indígenas como os
Dagara, que vivem em Burkina Faso e Gana, assim como os Khoe-San, que
continuam morando na Namíbia, Angola, Botsuana e África do Sul. Como
casamentos de mulher para mulher em sua Nigéria natal. Stobie (2003) critica o
oferece uma variedade de textos do século XVIII ao final do século XX, e examina
361
sexual de adolescentes do mesmo sexo, travestis, reversão de papéis e mulheres
lista de 50 culturas africanas com padrões do mesmo sexo, a maioria das quais
com termos locais para prácticas ou papéis sexuais entre pessoas do mesmo sexo,
Falando de seu povo nativo de Dagara em Burkina Faso, Malidoma Somé afirma
grandes astrólogos do Dogon são gays … Por que em qualquer outro lugar
do mundo, os gays são uma bênção e no mundo moderno eles são uma
362
Dagara:
integrada na vida espiritual dos Dagara que seu povo não tem nenhuma
Alicia Banks (2005) cita um artigo intitulado ‘Inside gay africa’ para descrever
363
certamente universais e definitivamente incluem a África. No entanto, o que fica
ser humano, bem como o facto de que as sexualidades sempre foram fluidas,
antigas.
maneira geral, uma recepção mais confortável, em vez de uma casa, porque
supõem que tudo o que era pré-colonial está morto e enterrado. Estou
364
reivindicando o conceito de tradicional na África como significando
As lutas pelos direitos básicos das lésbicas ainda estão longe de serem realizadas
globalmente, inclusive na África do Sul, onde a noção de estupro ‘curativo’
ganhou notoriedade no país depois que a África do Sul entrou no Guinness Book
nosso foco e que os estudos sobre sexualidade e activismos precisam incluir toda
identidade para a vida quotidiana das pessoas queer comuns e, de facto, para as
365
outros sistemas de opressão, como racismo e sexismo, e precisa ser analisada e
binários do status quo, pode ser ainda mais revolucionário, mesmo que seja mais
366
primeira lição patriarcal. Dividir e conquistar, em nosso mundo, deve
ideal…
IQ Fotografia perfeita
balcanização decapitando
367
esse (in) voluntário ar de bastardo
suprimento
Agradecimentos
Bibliografia
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369
370
23 – A LUTA LGBTIQ – QUEER COMO OUTRAS LUTAS EM ÁFRICA -
Gathoni Blessol
estrangeiras e estranhas.
são religiosas, fazem parte da rica diversidade cultural e são pessoas tradicionais
e não tradicionais. São filhas e filhos, irmãos e irmãs, mães e pais, amigos e
de uma das sessões 'Queering Africa'. Aqui, foi introduzido a um conceito que me
deixou ansioso para reflectir e redefinir minhas lutas pessoais. A oradora era de
longe a queer e defensora dos direitos humanos mais poderosa que eu já tinha
371
de esquerda na África do Sul. Lembro que minhas contradições eram com o facto
Como ela conseguiu falar tão eloquentemente sobre outras lutas em seu país?
movimentos?
Aproveitei a oportunidade para discutir com ela minhas perguntas sobre seu
trabalho como activista em movimentos sociais. Ela me disse que enquanto sua
sexualidade ainda permanecia uma parte muito importante da vida dela, havia
muito mais nela como pessoa e como activista do que sua sexualidade. Havia a
humana. Enquanto sua raça, género e orientação sexual - que haviam constituído
a base de suas opressões - permaneceram importantes para sua luta, sua política
acompanham.
Essa activista era tão poderosa que mudou não só a mim, mas também todo o
público. Ela era uma líder em todos os aspectos e alguém que eu queria imitar no
372
futuro. De facto, pela primeira vez na época, considerava que precisava de
Outra coisa que ela disse que permanece uma triste verdade é que a luta LGBTI-
discutidas nas sessões para o contexto que temos em África e em Quénia, por
exemplo, a luta pelo poder entre os extremistas / fascistas religiosos e liberais.
Os extremistas religiosos na África, cujo reino dos céus foi concedido a eles por
causa de sua 'justiça', são os seguidores dos ministérios evangélicos do Ocidente
ironia não está perdida. A maioria das prácticas religiosas que temos aqui no
'shammah, nisi e eloi - nenhumas das quais são palavras africanas para se referir
a Deus.
373
favor, note que tudo isso é feito em nome do Senhor, como meus companheiros
Kato, que foi assassinado em sua própria casa em 2011. No enterro, um padre,
sem vergonha, contestou a vida nobre que David teve aqui na terra e os esforços
que ele colocou na luta, afirmando que até os animais 'sabem' com quem eles
deveriam 'acasalar / dormir'. Aquele 'homem de Deus', por quaisquer que sejam
odioso e vingativo, que o Deus santo e amoroso que pregam. Os seus duplos
suas almas imundas ao Senhor para descansar em paz eterna. Além disso, o papel
eles experimentaram uma perda de poder estatal depois que o povo votou em
374
judicial. Em segundo lugar, a nova Constituição afirma claramente que Quénia é
Assim, de que outra forma eles podem recuperar outro poder que não seja
e alta que vêm à África para 'salvar' o povo africano 'pobre'. Eles são os estudantes
aprendemos até agora, a ajuda tem um preço, não importa quão pouco, com o
burocráticas. Não estou a insinuar que todas as ONGs têm más intenções, mas
como Issa Shivji afirma em seu livro Silences in NGOs Discourse : 'Não julgamos
o resultado de um processo pelas intenções de seus autores. Nosso objectivo é
375
O resultado final desse ideal catastrófico, como na maioria das lutas, houve um
comunidades sobre questões que nos afectam como africanx, como os múltiplos
Por sua vez, isso limitou nosso pensamento ao que os doadores 'querem' e qual a
melhor forma de obter financiamento, e não como incorporar nossas lutas com
doadores. Eles se tornaram a face pública da luta e são guardas de portões bem
de modo à que uma pessoa estranha não possa se relacionar com outro sem
paixão, que adere ao seu próprio constituinte de base localizados em África. Tudo
376
isso é composto pela loucura religiosa que leva à violação bruta e fatal dos direitos
homossexualidade é uma coisa ocidental ou, como diria um camarada meu, 'algo
que alguém escolheu à caminho da vida na cidade. Outra crença, é uma que ouvi
quando voltava do Fórum Social Mundial, é que se tornar gay acontece quando
alguém está a subir a escada e quer obter dinheiro. No caso das mulheres, elas se
complexas, teriam algo para refutar esses conceitos erróneos e aumentar sua
luta. Eu acredito que é um passo crucial em qualquer luta para que as pessoas
obtenham uma compreensão de onde elas são, onde eles estão e para onde eles
religiosas que alcançam do norte ao sul, do oeste para o leste.’² Para citar apenas
alguns, pode-se chamar a atenção para os Qemant da Etiópia central, onde as
377
relações homossexuais entre os pastores eram comuns, ou os Maale no sul da
eram bastante comuns. Alguns estudiosos argumentam que estas eram mais
apaixonassem.
A língua Kirundi do Burundi possui pelo menos cinco palavras para sexualidade
chamado adandara. E assim por diante eu posso continuar! Isso e muito mais
para este continente - só que não estava entre colchetes, como está nas siglas
africana.
movimento LGBTI- Q, que está a ser combatido com muito fervor, tanto da
378
documentação suficiente e adequada, por exemplo, os ditados ridículos que
Monte Quénia quando, de facto , nossos ancestrais haviam vivido naquelas terras
ser referido como o Monte Quénia, mesmo depois de atingir nossa 'in-
dependência'.
suas colónias, incluindo o Quénia. Nossa história foi ditada e alimentada a nós
As várias lutas combatem contra o mesmo sistema opressivo de que fazem parte
379
hierárquica e burocrática e acabamos estreitando nossas lutas apenas para a
libertação sexual para alguns. Uma leitura de história e política LGBTI- Q em toda
luta do que se encontra à olho nu. Uma exploração mais complexa da história e a
política LGBTI-Q de África, juntamente com o colonialismo, irão nos levar a uma
pessoas LGBTI-Q em particular. Isso, por sua vez, deixará nossa luta aberta para
ser estudada, analisada, criticada e talvez aceite como um dos mais antigos
O estado e seus líderes políticos são outro obstáculo para essas lutas. Os políticos
ocultar os problemas reais que afetam os nossos países. Um exemplo perfeito foi
a confusão parlamentar no Quénia no final de 2010, quando os documentos do
podia me dar ao luxo de perder as notícias; foi como assistir a uma série de
drama.
380
queniano algo em que pensar além da violência pós- eleitoral. Enquanto a elite
distraídos por essa retórica e se recusaram a ser dissuadidos pela questão do ICC,
internacional e Ocampo que ele fora mal citado e que ele reconheceu os direitos
dos 'gays' – o que quer que isso significasse. Ele em seguida, repetiu virtualmente
e lutas LGBTI-Q como nada mais que desvio ou desorientação sexual, como se
essas pessoas não fossem seres sociais, políticos e culturais como todo mundo e
não tem direito de reivindicar. É sobre esta questão de direitos que os debates
género atribuídos ao nascimento, que ignora as pessoas intersex que vivem entre
nós. Como um resultado, a atribuição de género se torna problemática para a
381
Precisamos descolonizar nossas mentes do imperialismo e capitalismo para se
educação para mostrar ao nosso povo que a África tem uma base e riqueza na
A visão positiva é que pessoas e culturas nunca são fixas, mas, ao contrário, estão
em constante mudança ao longo do tempo. Por exemplo, duas décadas atrás, era
usarem calças. Nossas sociedades podem mudar ao longo do tempo, sabendo que
as lutas sociais, económicas e políticas se interseptam. Todas essas questões
acontecer.
Eles fizeram sua história, redefiniram o "normal" que Mubarak era intocável, e
próprias regras, que são de África para África. Com solidariedade, camaradagem
e unidade, coloquemos todas as nossas diferenças e políticas pessoais de lado e
382
lutemos contra isso que nos oprime, ao ter uma onda de movimentos (aquela que
já está vibrando na África) que trará essa mudança. Que, para mim é o novo
Notas
Issa Shivji (2007: 2) Silêncios no discurso das ONGs: o papel e o futuro das ONGs na África, Nairobi e Oxford, Pambazuka Press.
Um excelente começo para o tópico é Steven O. Murray (2009) 'Homossexualidade na África Subsaariana “tradicional” e na
África do Sul contemporânea”, em Leitor do Grupo de Estudo para Sete Irmãs, Volume 1.
Luis Moreno Ocampo foi o promotor no Tribunal Penal Internacional Tribunal (até Junho de 2012) que preparou o caso contra
a suposta principal causa autores da violência ocorrida em 2007- 2008 após a contestação as Eleições no Quénia. Quatro dos
seis suspeitos enfrentaram julgamentos em andamento enquanto eu escrevo.
O falecido Kirima era um infame empresário que foi assassinado em o caminho de casa uma noite.
O WikiLeaks é uma plataforma / fórum da Internet que expôs muita sombra relações entre políticos e Estados Unidos.
383
384
24 – PEQUENO EIXO NA ENCRUZILHADA: UMA REFLEXÃO SOBRE
SEXUALIDADES AFRICANAS E DIREITOS HUMANOS – história de vida –
Kagendo Murungi
Sou uma africana defensora de direitos humanos que se envolveu com o trabalho
género e enfrentavam perseguição por isso. Eu queria saber onde esse trabalho
naquela época.
final dos anos 80 e início dos anos 90, fui exposta a inovações pragmáticas na
385
localizados e transnacionais através do meu campus e comunidade anti-
direitos dos gays que trabalha contra o HIV / AIDS. O meu primeiro encontro com
sem levar em consideração sua orientação sexual foi em 1995, durante a Quarta
participação na marcha dos direitos humanos das lésbicas, fui enquadrada num
artigo curto, mas altamente sensacionalista, num diário nacional do Quénia
colonial estrangeira e confusa). Quando recebi uma cópia do artigo de meu pai,
fiquei muito paralisada pelo meu próprio medo das consequências para
386
Em retrospetiva, eu me perguntei como poderia, de alguma forma, estar mais
africanos que foram levados ainda mais para o subterrâneo. Enquanto isso, a
387
grande maioria de defensoras dos direitos das mulheres africanas mantinha
medo de ter suas lutas legítimas como mulheres heterossexuais minadas pela
A criação de activista
questão que havia impactado minha vida tão dramaticamente. Aceitei a oferta de
um emprego de período integral na Comissão Internacional de Direitos Humanos
relacionados à sexualidade a partir de uma base nos EUA, me expôs aos rigores
388
mundo em que o amplo apoio a ainda é recém- nascido. Fui transformada
Tive a sorte de ter sido exposta, durante meus anos de faculdade, à importância
389
Para abordar a igualdade de status das mulheres, os advogados começaram a
direitos humanos das mulheres, como condição de seu status igual na sociedade.
da exposição à violência na esfera doméstica, era essencial para o pleno gozo dos
390
SIDA, acesso a medicamentos e tratamentos acessíveis, direitos à terra após a
estruturas que precisam ser abordadas. Isso, deve resultar numa constante
medida que novas análises emergem do próprio trabalho. Diante da seca global
diaspórias bem-sucedidas.
391
como uma mulher imigrante africana móvel, de localização múltipla,
saúde e para meus entes queridos. Deixei meu emprego em direitos humanos e
mas não minha análise completa em nenhum lugar – nada disso havia
funcionado. Essas identidades parciais e narrativas fragmentadas não me
392
protegeram. Eu permaneci à deriva num discurso hegemónico sobre meus
compartilhadas; flertou; dançou; riu; comeu; e criou comunidade. Lá, tão longe
de ‘casa’, muitos de nós incapazes de viajar por longos períodos devido a status
393
reafirmaram meu senso de direitos humanos sociais e culturais como primário e
indivisível dos direitos civis e políticos neste país e em nossos países de origem.
bem-sucedidas (ou seja, iniciativas entre localidades e não além das fronteiras
outro recurso imediato à justiça, mesmo quando seus casos já estão bem
394
acção desses mesmos assuntos. A visibilidade descontextualizada dos africanos
exposição a chantagens, não podemos nos dar ao luxo de ter nossas histórias e
conscientes de nossa relação histórica com movimentos, tanto nos EUA quanto
social.
Nosso legado histórico como povo africano totalmente sexual inclui vitórias
395
organização, elas também sustentam casualmente os privilégios estruturais de
heterossexual.
África do Sul. Com o apoio da Astraea Fundo Internacional para Minorias Sexuais
da nossa rede LGBTI africana com sede em Nova York, a Organização Gay e
Lésbica da Witwatersrand (GLOW), com sede em Joanesburgo e o grupo LGBTI
planejou e criou uma zona franca cultural chamada ‘Unifying Links’, que serviu
396
como um local de compensação para as experiências e necessidades das
sobre as questões que surgiam. Na conferência, bem como questões cruciais para
397
século. Este é o contexto do debate em andamento sobre questões de
(entre outras):
398
• Como podemos centralizar questões de violência racista, xenofobia,
bidirecional?
399
e “super-explorado” de comunidades. Esse tipo de mudança discursiva
geográficas específicas.
devem, portanto, ser problematizadas. Não fazer isso, arrisca a perda de variadas
totalmente sexuais com sede nos EUA descobriram que é estrategicamente útil
desenvolver laços com organizadores de todos os sexos no continente africano e
400
seus países de origem. Integrante disso é a necessidade do estabelecimento e
LGBTI, devemos primeiro reconhecer que qualquer pessoa africana que o faz
África, mas também para nós na diáspora. Meu mandato de três anos como
de segurança.
O trabalho de defesa dos direitos humanos centrado nas pessoas que protegem a
liberdade de expressão deve permitir e incentivar os profissionais a estruturar e
promover seu trabalho como bem entenderem. Por exemplo, quando voltei ao
401
de identificação com um objectivo colectivo, e não individual. Também escolhi
402
questões contenciosas. Os grupos políticos que trabalham nessas questões são
403
expressões criativas de organização comunitária e auto-expressão em meus
404
juntamente com os da produção e distribuição de conteúdo, podem ser aplicados
estácticas, nomeando o que está conectado e o que é importante para mim. Voltei
ao trabalho formal de direitos humanos após três anos de trabalho criativo para
autocuidado.
Notas
Why boasteth thyself, oh evil men, Playing smart and not being clever?
I say you’re working iniquity to achieve vanity, yeah, But the goodness of JAH JAH endureth forever.
Audre Lorde (1983) Zami: A New Spelling of My Name, Santa Cruz, CA, Crossing Press.
405
All-sexual 'é um termo usado na rede do Fórum Caribenho de Lésbicas, AllSexuals & Gays (C-FLAG) para indicar que
considera o comportamento all-sexual como parte de um continuum sexual no qual classificações como' gay lésbicas 'e'
bissexuais 'geralmente não podem ser aplicadas rigidamente. Os termos "homens que fazem sexo com homens" e "mulheres
que fazem sexo com mulheres" são tentativas de contornar essas classificações rígidas. O termo 'allsexual' refere-se não
apenas a características biológicas e sexuais, mas também a atitudes sociais relacionadas a elas. 'All-sexuals' refere-se,
portanto, a pessoas que amam os mesmos géneros cujas acções não violam a Declaração Universal dos Direitos Humanos, ou
seja, cujas acções não são abusivas para menores e outras pessoas que estão em circunstâncias dependentes ou com
capacidade reduzida ou violar os direitos ou a dignidade pessoal de qualquer pessoa. Veja
http://www.jflag.org/misc/allsexual.htm.
O Third World Within (TWW) é uma rede de pessoas de organizações de cor da cidade de Nova York. Seu objectivo é destacar
questões 'domésticas' resultantes do racismo e da reestruturação económica dos EUA, educar e mobilizar comunidades de cor
em torno dessas questões e trabalhar em solidariedade com activistas, organizadores e comunidades do Terceiro Mundo e do
mundo para exigir responsabilidade. do governo dos EUA e instituições internacionais por seu papel no desenvolvimento e
manutenção de políticas e instituições destrutivas para as comunidades do Terceiro Mundo e do Terceiro Mundo nos EUA.
406
407
25 – A NATUREZA NÃO É RÍGIDA
– POEMA – Kagendo Murungi
Abrangendo o mundo
Eu era um homem
Da África para a Ásia;
Agora eu sou uma mulher
Da Europa para a Utopia
Eu era uma mulher
Onde quer que você vá
Agora sou um homem
Na identidade de género
Fui visto como ambos
Não há absolutos
Eu não sou nem um nem outro...
Na identidade de género
Você é um homem, diz uma multidão
Existem apenas parentes
Você é uma mulher, diz uma multidão
Forçando absolutos
Eu sou uma mulher, eu insisto
Desiquilibrando
Eu não sou um homem, mas alguns
Da natureza - um casamento gradual insistem
de
Agora eu sou ambos
ambos
Agora também não sou eu
Traz equilíbrio
Eu sou todo mundo
408
É natural desde o nascimento, De ambos e de nenhum dos dois
409
Incomódo; disseram-me (...) Utopia para a Europa de
Homem és
porque
410
411
26 – SOBRE A LÓGICA PARADOXAL DAS INTERSECÇÕES: UMA LEITURA
MATEMÁTICA DA REALIDADE DA HOMOSSEXUALIDADE EM ÁFRICA –
Charles Gueboguo
Introdução
que agora também são completamente aceitas pelo UNAIDS, todos os principais
doadores e até muitos governos africanos por meio, por exemplo, de seus planos
sociais e não os vejo como estáticos. Eu tenho em mente que eles são dinâmicos
em sua essência, ou seja, toda vez que, como observador, você tenta abordar
‘homossexualidades’ na África, sempre terá algo novo para descobrir. Isso é
412
facto de a ciência ser percebida como um processo cumulativo de descoberta
abordadas por estudiosos não africanos não é uma desculpa para parar de tentar
“repensar” as realidades sociais que ainda trazem tragédias para a vida cotidiana
chantagem, extorsões (Thoreson e Cook 2011). Mas, como veremos mais adiante,
África. Quem realmente tem legitimidade para argumentar quem pode ou não
inclusive eu, ainda perdemos a resposta de por que a vida quotidiana das pessoas
teoria, não no sentido grego da teoria, que é pura e simples contemplação, mas
413
Dito isto, gostaria de continuar discutindo neste artigo as fronteiras, notadas em
margens das fronteiras sociais aceitas é o movimento que cria uma sensação
inicial de vazio.
Isso quer dizer que a raiz desse vazio pode ser encontrada em algum discurso do
414
pénis nas formas em que a vida, o poder e o prazer são simbolizados, como
ao trabalho do falo. Enquanto todo observador pode perceber que essa situação
comunidade política que opera neste espaço sempre quis, acima de tudo, o
pénis ereto.4 Daí a hipótese de que toda a psicologia do poder em África poderia
ter sido organizada em torno do fenómeno do inchaço do órgão viril. Da mesma
sua própria erecção como uma entidade não confinada às margens do que é
falável.
para participar do jogo da interação social sem se sentir constrangido pela raça,
415
género ou orientação sexual de outra pessoa apoiada por um modo dominante
de interação. O modo dominante pode ser entendido como forças externas que
são opressivas e que não permitem que o sujeito seja o mestre de seu próprio
destino. Eu chamo esse sistema simbólico de dominação, que usa, entre outras
coerente (hólon) como um facto ‘abjecto’. Nessa área, os tabus criam fronteiras
dentro de um espaço social (Kristeva, citado por Butler 2005: 254), ao mesmo
tempo em que criam a base para a formação do vazio, embora seu ponto de
“indignos”. São objectos que, no que Derrida chamou de cultura falocêntrica, são
416
factos sociais “dignos”. Em seu desempenho, a intersecção de factos ‘dignos’ e
‘indignos’ dentro do corpo social pode fazer com que factos ‘indignos’ apareçam
que factos “indignos” não são dominantes, mas existem. Como tal, esses factos
também são dignos de serem vistos como factos faláveis, para serem analisados
e discutidos em geral, como pode ser visto neste volume. Portanto, não se trata
e Epprecht 2011).
existem em África e que eles podem, nessa base, ser um marcador que revela algo
sobre uma área da realidade social. Apoiarei meu argumento com uma
417
Nyeck e “interseccionalidade”
destacamos acima.
paradoxal. Seu objectivo é mostrar a relação não visível que existe entre as
418
abordagem, ela discute o paradoxo necessário em torno dessa
de sua intersecção é uma falácia etimológica porque está vazia. Esse vazio,
419
‘Homosexualité, chercheur e Afrique’: lógica matemática,
interseccionalidade e paradoxo
chercheur (pesquisador) e Afrique (África), onde x pode aparecer apenas uma vez.
H= {homsexualit};
A = {afrique};
C = {cheru}.
o que chamamos de ‘eu’ (le je). Como tal, o ‘eu’ não tem conteúdo (Dubet 1994). O
‘eu’ posso aguentar sem o ‘eu’ (le moi) (Chébaux 1999), que se manifesta, entre
outras coisas, no desejo de prazer (gozo). Mas, na verdade, o ‘eu’ se combina com
o ‘eu’ e se torna uma parte fixa e integral da estrutura que nos dá ‘nós’ (le nous).
O “eu” é o controle interno das funções esperadas atribuídas a um agente social,
420
até a morte dele. O ‘eu’ (ou ego) é um produto das demandas normativas
(Dubet 1994: 129). . É possível que haja falhas variáveis na promulgação disso em
relação às avaliações normativas feitas pelos ‘nós’, uma vez que o ‘eu’ pode
normalizado, ainda resta a este nível uma ilusão de ser o que parece ser o caso
(Chébaux 1999: 131), ou melhor, o que é projectado como sendo o caso. É por isso
comportamentos expressos por esse indivíduo. Nesse caso, não pode haver ‘eu’
sem o ‘nós’ (Mead 1963 [1934]), e não ‘nós’ sem que haja oposição a ‘eles’ (eux): ‘a
Como tal, o grupo aparece como um ‘eu’ autónomo, que chamamos de sociedade.
Essa sociedade tem uma identidade, um apelido que pode ser usado,
regulamentos que podem aparecer como sinais de trânsito, como luzes verdes e
do ‘nós’ ao mesmo tempo em que falta o conceito de oposição a ‘eles’ é uma visão
421
do ‘eu’ (Chébaux 1999: 125), só pode ser entendido no contexto dessa relação
discursiva com o ‘eu’, que pode se tornar uma relação patológica se, por sua vez,
o ‘eu’ for considerado sem referência aos ‘nós’ (Elias 1973 [1932]).
Se concordarmos, portanto, com o facto de que cada fonema não é fonético, mas
≠ A ≠ C.
postula que, se conjuntos de cartas não são equivalentes em sua natureza física,
eles ainda podem ter algo em comum. Eles podem, por exemplo, ter o mesmo
número de variáveis. Isso não pode ser verificado neste caso específico.
Isso nos permite postular que a África permanece um todo (isto é, não
desempenham seu papel dentro da matriz da África, embora ainda não sejam
iguais à África. No entanto, proponho que eles possam ter algo em comum se
422
considerarmos o número cardinal relacionado aos seus conjuntos que se cruzam.
RARC
∩ A ∩ C ≠ Ø.
Em outras palavras, está em relação (R) com A e C se sua intersecção não estiver
vazia, o que significa que eles não compartilham um fonema comum. Todas as
C ∩ A = {e, u}.
número cardinal que eles têm em comum, que é 4, em oposição às duas outras
intersecções que têm apenas 2 em comum. A noção de que a origem da
423
homossexualidade não é africana é, portanto, demolida. Esta conclusão
matemática (ver Murray e Roscoe 1998; Epprecht 2004, 2008; Gueboguo 2006,
2009).
significativa, pois, entre outras coisas, revela uma lógica social que coloca facto s
Como tal, no campo das possibilidades de falar e coisas construídas como facto s
contra os desafios de um mundo globalizado. Esses são objectos que, por sua
424
estão ansiosos para apresentar trabalhos sobre assuntos impostos no momento,
Bourdieu não pode deixar de afirmar que essa situação continha “algo bastante
específico de uma pessoa, o que torna inevitável que alguém encontre história
limites como algo indigno, como mancha ou defeito. Dentro da hierarquia binária
existente entre diferentes prioridades, entre assuntos urgentes e assuntos
Douglas em relação a essa mancha ou defeito, Butler (2005 [1990]: 253) destaca
que os sistemas sociais podem ser vulneráveis nas margens. Por sua vez, as
temer o caos nas formações sociais que já estão em crise. Esse medo é
apresentado como sendo mais justificado do que a práctica da homossexualidade
425
a única versão que podemos ouvir, e a única versão que oferece soluções para a
a propaganda oficial.
após a independência ter sido concedida em todo o continente (Ela, 1998). É por
incluída no acto de repetição (Cixous, como citado por Moi 1985: 105) na pesquisa
De facto , a diferença binária existe apenas na relação que coloca objectos dignos
– que também estão situados dentro deste corpo – em oposição um ao outro, daí
o paradoxo que surge. Dessa maneira, no ponto de intersecção entre essas forças
conflituantes e esses interesses, ‘a subjetividade queer africana deve emergir
como um conjunto vazio depois que os poderes que se cruzam em seu processo
426
Bourdieu (2002 [1984]: 197) não vê isso de maneira diferente quando enfatiza que
um dos meios pelos quais a censura social é exercida pode ser encontrado
objectos que já são classificados. No entanto, eles também classificam outros que
Essa lógica também pode ser usada para explicar, entre outras coisas, como, de
acordo com o que foi demonstrado, a relação entre chercheur (C), Afrique (A) e
homossexualidade () pode ser tão fraca. Mas também poderíamos recorrer à
entre os três conjuntos, Afrique (A), homossexualité (H) e chercheur (C), que
Aqui, podemos ver que existe uma relação e envolve a mesma fraca relação de
equivalência que a relação (R) encontrada em: HRC e CR A. Isso nos permite
427
de um fonema como um facto social que opera dentro de um espaço contencioso
não significa, portanto, que ele não exista ou não possa justificar sua entrega às
Seguindo Dubet (1994: 75), e usando a análise sociológica, pode-se dizer que o que
é estrangeiro (ou aqui, recessivo) não é o que pertencer a outra cultura, apesar
Por extensão, categorias situacionais que são empurradas para as margens, fora
de um espaço contencioso, podem ser encontradas no mundo social, assim como
todas as outras categorias (Bourdieu 2002 [1984]: 12). Por que esse é o caso?
Devido ao seguinte:
∩ C ∩ A ≠ Ø.
Conclusão
é o caso a seguir: A ∩ A = A;
428
∩ =;
C ∩ C = C.
maneira menos abstracta, isso significa que podemos pegar cada fonema
não tem mais razão de existir. Por sua vez, problemas urgentes e questões
questões sociais de uma maneira pragmática e, portanto, concreta. Aqui, ele pode
429
fornecer respostas para toda a tendência à globalização e, assim, às mudanças
Notas
1 Veja, por exemplo, como o relatório da Comissão de Direitos Humanos do Quénia (2011) é apresentado como um grande
avanço, de acordo com meu amigo Marc Epprecht. Ele argumenta que abordagens de direitos humanos em geral e
questões de AIDS em particular agora são usadas como pontos de entrada para abordar a realidade das
homossexualidades onde são proibidas por leis e normas sociais.
2 Marc Epprecht fez uma observação muito pertinente aqui, ao dizer que às vezes exagero meu argumento, porque no fluxo
do debate, apesar de não considerar os factos sociais como garantidos, eu assumia que todos deveriam saber que alguns
factos são evidentes, por exemplo que a África do Sul é conhecida, desde 1996, como o primeiro país da África a abordar
o princípio da não discriminação em sua constituição. Aqui tentarei corrigir essa posição, acrescentando que há muitos
outros que já fizeram o mesmo: Cabo Verde é o segundo país do continente a descriminalizar as relações entre pessoas
do mesmo sexo em 2004. Participei da reunião da ONU em Dezembro de 2008 em Nova York, onde Gabão, República
Centro-Africana, Ruanda e Serra Leoa estavam entre os países que assinaram ou sinalizaram sua intenção de apoiar a
resolução da Assembleia Geral da ONU de incluir orientação sexual na Declaração Universal dos Direitos Humanos. O
tribunal de Botwsana está discutindo o mesmo que eu escrevo.
3 Embora isso possa ser verdade até certo ponto, não estou negando que exista um verdadeiro senso de solidariedade por
grupos LGBTI no Ocidente, com o apoio de governos e organizações ocidentais como ILGA, IGLHRC, o capítulo LGBTI da
Anistia Internacional, Human Rights Watch ou amfAR, a Fundação para a Pesquisa sobre AIDS.
4 Em comunicações privadas com Marc Epprecht, ele respondeu sutilmente a esse ponto dizendo que, quando pensa no
Zimbábue, um de seus campos de trabalho, o político no nível da vila e do chefe é circular e plano, permitindo debates e
discussões livres. Ele acrescentou que, se olhar para os prédios do parlamento em todo o continente, eles geralmente são
arredondados e parecidos com seios. Comparados aos bancos, eles não parecem muito fálicos. Então, o debate está aberto:
esta é a minha opinião.
5 Marc Epprecht (1998, 2006, 2008, entre outros), em quase todas as suas pesquisas no Zimbábue, afirmou que se você for
às aldeias, as pessoas dirão, é claro que sabemos que ‘homossexualidade’ sempre esteve aqui. As mesmas afirmações são
registradas por Murray e Roscoe (1998).
430
7 Citação traduzida do francês.
8 Pode-se ver novamente o paradoxo porque, como foi observado, existem associações de pessoas que amam o mesmo sexo
na maioria dos países africanos com graus variados de aceitação (Gueboguo 2008, 2010). E de acordo com os Relatórios
de Direitos Humanos do Departamento de Estado dos Estados Unidos em 2009 (USDS 2010), por exemplo no Gabão,
‘Discriminação e violência ocasionadas por conduta homossexual e transgénero não eram um problema’ ou na Mauritânia
(onde, apesar de uma sentença de morte em potencial ) não havia ‘evidência de violência social ou discriminação
sistemática do governo com base na orientação sexual e não houve processos criminais durante o ano’. Esses pontos são
feitos para reconhecer e reconhecer a situação não determinística que é desenhada por alguns extremistas em algumas
sociedades. Isso ajuda a evitar uma generalização excessiva que poderia ser informada apenas pelo pior cenário, enquanto
há algumas mudanças perceptíveis em um determinado nível social em alguns lugares da África.
431
432
27 – OS FUNDAMENTOS DA VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA DO SENEGAL –
Mouhamadou Tidiane Kassé
introduzida em 1962, mas raramente foi aplicada. Homens que fazem sexo com
433
(batismos, casamentos etc.). Eles até foram notados em círculos políticos, onde
A esse respeito, o sociólogo Cheikh Niang observa que durante o período colonial
com as atitudes que até então prevaleciam, tanto em sua manifestação real
grau e uma forma nunca antes experimentados. Houve uma caçada sistemática
434
posições mais rígidas adoptadas foram de círculos religiosos muçulmanos,
A caça aos homossexuais começou após a publicação pela Ícone, uma revista
com círculos próximos de amigas. Esse ‘casamento’ foi visto como um ataque a
uma instituição sagrada e revelou a muitos que a homossexualidade não é uma
atitude, mas também uma orientação sexual. “De facto, para os senegaleses, (…)
Percebida como uma tendência e não como uma orientação sexual efeminada, a
al 2003) sugere que essa tolerância é percetível desde o período colonial: ‘Os
anciãos e os muçulmanos fiéis condenam os homens por isso, mas é típico da
tolerância africana que eles fiquem muito sozinho (Crowder, 1959). Essa
435
Vários eventos ocorreram desde 2008 para fortalecer a radicalização contra a
polícia por supostos actos homossexuais. O caso continuará por um longo tempo.
sentenças de oito anos de prisão. Essa pena vai além das disposições penais
arrependimentos e lágrimas.
declaração conjunta foi emitida pela Assembleia Africana de Defesa dos Direitos
436
‘garantir o respeito pela integridade física e moral das pessoas envolvidas e, de
maneira mais geral, condenar de maneira mais forte os actos homofóbicos que
437
tem uma prevalência muito alta de infeção pelo HIV – uma taxa de infecção de
2003).
envolvidos na luta contra o HIV / SIDA. Decidiu-se que a situação actual tornava
inseguro continuar suas estratégias para responder à epidemia e consolidar os
actividades. As redes através das quais as organizações gays que lutam contra a
SIDA.
438
O risco de perder as redes de associações para homossexuais é considerado sério,
pelo mesmo sexo. Além disso, mais e mais jovens tendem a se envolver em
comité informal de crise. Sua primeira acção foi implorar pela libertação dos
nove prisioneiros. Posteriormente, eles se engajaram em uma acção mais
maior respeito por sua dignidade’. Sua estratégia para promover um ambiente
de tolerância à homossexualidade baseia-se na construção de alianças com
em advocacia.
Homossexualidade e SIDA
439
descriminalização da homossexualidade. A ênfase, ao contrário, está nas
respeito ao direito à saúde; e garantir apoio aos homossexuais por meio do acesso
violência.
Os prestadores de serviços de saúde são outro grupo que precisa ser abordado,
ser explicada pelo facto de que a visibilidade desse grupo foi favorecida nos
440
reconhecimento de seus direitos e a mais respeito à sua privacidade. Mas há uma
homofóbico foi exacerbada pela violência aberta que eclodiu após a prisão das
nove pessoas em Dezembro que, após serem condenadas a oito anos de prisão,
441
da Human Rights Watch agendado para Novembro de 2010 no Senegal também
reunião com o comité de crise. Eles poderiam, no entanto, ter se encontrado com
reuniões com organizações de defesa dos direitos humanos, bem como grupos
responsáveis pela luta contra o SIDA. Os relatórios que eles compilaram, que
Homossexualidade e media
causas nem sempre produzem os mesmos efeitos. Duas pessoas foram presas,
julgadas e condenadas em Junho de 2010 por ‘actos contra a natureza entre duas
pessoas do mesmo sexo’, mas a sentença foi de apenas três meses de prisão para
442
religiosos radicais não inflamaram a questão, facto que passou praticamente
desencadeamento da violência dos últimos anos, facto que levou Codou Bop a
turística de Saly Portudal, foi manchete nos jornais, apoiado em fotografias, sem
provocar ataques físicos contra homossexuais. Em 2003, um processo entre um
443
conta própria, sem nenhuma reacção violenta das pessoas. Da mesma forma, em
sem olhar para o próprio futuro. Quando ganham a vida, geralmente são
444
longe de seus círculos habituais, onde estão sujeitos a requisitos para
mostrar contenção.
ou tolerância.
declarou:
445
no país; peço ao governo que venha à Assembleia Nacional, para contar
seus direitos.
446
De facto, embora o Senegal tenha assinado convenções e cartas constitutivas das
direitos humanos das minorias sexuais. Um clima de medo destrói a busca aberta
ligou para minha mãe e disse: “Você sabe o que? Seu filho é gay! Antes de desligar
“(HRW 2010).
447
A cena gay senegalesa ainda é marcada pela falta de conhecimento e
comunidade HSH.
Notas
Homens que fazem sexo com homens (HSH) são mais comumente usados do que o equivalente francês, ‘hommes ayant des
relações sexuelles avec d’autres hommes’ (HSH), e foram usados no texto original para descrever homossexuais.
Evidência obtida de um membro do comité de crise que foi estabelecido para advogar a libertação de HSH condenados. Após
várias semanas de detenção, eles foram libertados depois que o Tribunal de Cassação anulou o veredicto devido a
irregularidades.
Esta opinião foi afirmada ao autor pelo líder de uma das principais associações de HSH no Senegal.
Em 23 de Março de 2011, os signatários da convenção eram 85, com o Senegal entre eles. Outros países africanos que assinaram
incluem África do Sul, República Centro-Africana e Serra Leoa.
Referências
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449
450
28 – QUÉNIA QUEER EM DIREITO E POLÍTICA – Keguro Macharia
Quénia.4
Neste artigo, ofereço uma narrativa sobre o estado dos direitos das minorias
451
de argumentar em favor do primeiro sem considerar o segundo corre o risco de
Quénia.
de Lei de Ofensas Sexuais foi divulgado pela primeira vez em Dezembro de 2004,
452
República e no sector privado, incluindo uma passagem como política analista da
sociedade civil do Quénia, como ex- membro da FIDA e activista dos direitos das
mulheres.
sexuais.
argumentou: “não são apenas meninas e mulheres que podem ser vítimas; a lei
deve reconhecer que meninos e homens também são abusados ‘.9 Ao especificar
453
argumentando: ‘Existem muitos corpos partidos, corações partidos e mentes
todos feridos, brutalizados e muitas vezes mortos pela violência sexual. ‘No
este projecto de lei não revoga as leis existentes sobre esses assuntos de tal
maneira que esses males sejam introduzidos pela porta dos fundos ou por
a pena defender.
454
Projecto de Lei de Ofensas Sexuais tinha como objectivo definir e formas
continuar, são suas filhas como assim como as nossas, suas irmãs e mães,
455
assim como as nossas e, cada vez mais, até seus filhinhos, que serão as
próximas vítimas.
o artigo: “Aquelas bestas que caçam nossas filhas, irmãs, mães e esposas devem
projecto de lei. Você está apoiando sua esposa, mãe, filha e irmã.’ 15
Essa ênfase retórica em “esposa, mãe” e assim por diante mudou o local da
vulnerabilidade: os crimes sexuais não eram mais o que eram cometidos contra
estavam mais sendo solicitados a proteger toda e qualquer pessoa que tivesse
sofrido abuso sexual, incluindo prostitutas e minorias sexuais; em vez disso, eles
456
os legisladores procuraram proteger as condições que possibilitavam a
O projecto de lei também não pode ser percebido como um ataque às prácticas
‘Esse projecto quebrará as famílias porque diz que alguém pode estuprar sua
esposa’ .17 Outros parlamentares argumentaram que ‘não havia como ocorrer
uma relação não consensual entre cônjuges amorosos’ 18. Em uma ironia trágica
457
transformado em um que protegesse a família. Enquanto a família
sobre estupro conjugal sugeriram que o objectivo final do projecto era proteger
que seu maior oponente em tais debates era a cultura, que estava sendo usada
como desculpa pelos homens ligados à tradição para não mudar a lei. Essa
uma ameaça real, assim como outras formas de violência sexual e de género
projectadas para criar corpos e relacionamentos normativos.
458
Da lei à política: a família
claramente uma resposta ao caos da violência pós- eleitoral que abalou o país em
‘.19 Em termos gerais, a política tem um duplo mandato: tenta forjar unidades
dentro das já diversas comunidades do Quénia e procura controlar significados
ao Quénia. É uma proposta, então, que imagina e tenta produzir o Quénia como
uma forma de intimidade que enfrenta ameaças internas e externas.
Declarações políticas
459
O governo trabalhará em conjunto com outras instituições para fortalecer as
da escola primária.20
brevidade não apenas assume, mas constrói a intimidade queniana como uma
património estão ancorados em uma forma sexual muito específica e não pode
460
queniana’ emergiu apaga as formas inovadoras e criativas de afiliação. Que foram
“sociedade queniana” em 1885, 1952 ou 1963.22 As formas adoptadas por esta nação
pode ser que em 1922, quando o activista trabalhista Harry Thuku estivesse preso,
família’ como aquilo que funciona ao longo do tempo, como o fundamento sobre
461
não são confirmadas pela história do Quénia.23 Ideias importantes sobre o que
462
para o futuro. Tudo isso dentro de aproximadamente 40 palavras no parágrafo
introdutório.
É contra esse pano de fundo histórico que as declarações de política são definidas
463
nacional seja o de multiplicar as possibilidades de apego íntimo, reconhecer o
país nessa base arrisca alienar os muitos jovens solteiros, mas ainda intimamente
ligados; as mulheres e homens que prestam serviços íntimos; aqueles de nós que
464
No entanto, descartar a sentença com base em sua idiossincrasia sintáctica corre
bibliotecas, instalações para artes cénicas e visuais’, que recebemos ‘acesso fácil’
portanto, projectados para inovar novos arranjos sociais e íntimos, nem devem
desafiar nossas ideias pré-concebidas sobre intimidade adequada.
465
queer. Representações artísticas e literárias que desafiam a forma e a função da
jogo aqui: nada menos que a unidade da nação. Aqueles que criticam essa política
são, consequentemente, não apenas “contra a família”, são contra uma “nação
unificada”.
pessoas isoladas queer e questionadoras. Nós procuramos por nós mesmos nas
páginas de livros de medicina, livros de psiquiatria, dicionários, enciclopédias;
mesmos, como ocupar o mundo como parte dele, mesmo quando isolado.
queerness.
466
consideradas guardiãs da tradição, na memória, se não necessariamente na
que são uma parte rica da herança multiétnica do Quénia. Longe estão as
prácticas de flexão de género nas quais as mulheres biológicas funcionavam
centrais para os rituais de crescimento.27 Volto mais uma vez à brevidade deste
como vivemos e construímos nossas vidas íntimas. Esse silêncio torna cultural o
que deve ser profundamente cultural, histórico o que fornece textura à história,
467
devem ser protegidos para que, por sua vez, possam nos proteger, modelando
género e sexual. Este capítulo e a política que ele contém não são leis. No entanto,
adoptado como política oficial do governo, este capítulo poderia ser organizado
recorrer a essa definição oficial de cultura e património íntimos para advogar leis
repressivas e punitivas.
reavalia à luz da história recente que descrevi até agora. Para recapitular
brevemente meu argumento: desde que o debate começou a sério sobre a Lei de
vez mais protegida por lei e promovida por políticas. O casamento heterossexual
468
Simultaneamente, lei e política definiram implicitamente formas não normativas
intenção de durar a vida inteira.” Nem uma vez na factura inteira é casamento do
‘Como qualquer estudante médio de direito do primeiro ano sabe, uma liberdade
realizada com Njoki Ndung’u logo após as ofensas sexuais a lei foi promulgada
oferece algumas ideias sobre a relação entre os não- ditos e os não-autorizados:
469
Isso me surpreendeu porque, conhecendo a sensibilidade desses tópicos no
abordar essas questões. ”32 Para Ndung’u, o não dito é parte do que o estudioso
justaposição dessas duas Secções delimita o que queremos dizer com família,
sexo e género. No rascunho da constituição, ‘família’ não é uma metáfora para as
conta do casamento.
O génio dessa lei é que ela torna, em termos afirmativos e positivos, o que outras
470
espírito, a legislação negativa que provocou polémica em todo o mundo. Observe,
Somente quando fazemos essa pergunta é que entendemos o quanto essas duas
contra homens que dormem com homens e mulheres que dormem com
mulheres e contra indivíduos que praticam sexo e sexo entre homens e mulheres
que perturbam o puro binário de género que ancora a nação.
Meu objectivo neste ensaio foi começar a traçar como a vida íntima é estruturada
nas leis e políticas do Quénia. Ao fazer isso, concentrei-me não nas leis e políticas
trans -, mas nas leis e políticas que, embora pareçam indiferentes aos corpos,
Notas
1Lucas Barasa (2010) ‘Kenya PM orders gays’ arrest’, Daily Nation, 28 November, acessado em 1 de Janeiro de 2011.
471
2Veja Macharia Gaitho (2010) ‘Sr. PM, a Declaração de Direitos pelos quais você lutou tanto para cobrir os quenianos gays
também, Daily Nation, 29 de Novembro, acessado em 1º de Janeiro de 2011; Lukoye Atwoli (2010) 'Homofobia serve apenas para
espalhar a homossexualidade', Daily Nation, 4 de Dezembro, acessado em 1 de Janeiro de 2011; Rasna Warah (2010) 'Raila deve
aos quenianos um pedido de desculpas, não negação, pela declaração contra os gays', Daily Nation, 5 de Dezembro, acessado
em 1 de Janeiro de 2011.
Makau Mutua (2010) 'Por que a nova constituição do Quénia protege os gays', Daily Nation, 11 de Dezembro, acessado em 1 de
Janeiro de 2011.
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http://www.sacw.net/article985.html.
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Para uma história do processo de elaboração de contas, ver Onyango-Ouma, Njoki Ndung'u, Nancy Baraza e Harriet Birungi
(2009) A Lei sobre as ofensas sexuais no Quénia, 2006: Bastidores, Nairobi, Kwani Trust .
Michel Foucault (1978) História da Sexualidade, trad. Robert Hurley, Nova York, Vintage: 17. Uma cópia da fatura final pode ser
encontrada em http://www.mzalendo.com/Bills.Details.php?ID=1.
Veja, por exemplo, a postagem do blog e a discussão subsequente do blog 'O que uma mulher africana pensa', em
http://wherehermadnessresides.blogspot.com/2006/05/sexual-offences- bill.html; Owino Opondo (2005) 'MPs apóiam novas
penalidades duras para estupradores', Daily Nation, 28 de Abril; Emman Omari (2005) "Apreensão dos parlamentares votam
no projectos de lei de castração", Daily Nation, 28 de Abril; Ory Okolloh (2005) 'Estupro: concentre-se nas necessidades da
vítima', Daily Nation, 9 de Maio; Rosemarie M. Onyando (2006) values Valores culturais, meu pé! Isso é estupro, Daily Nation,
28 de Abril; Odhiambo Orlale (2006) "Os membros deixam de lado o medo de discutir o tabu", Daily Nation, 30 de Abril; Billow
A. Kerrow (2006) "O Islã está bastante à vontade com a lei do sexo", Daily Nation, 4 de Maio; Emmo Opoti (2006) 'Projecto de
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de 1885 foi a data da Conferência de Berlim, a infame corrida pela África; 1952 foi o começo "oficial" da luta nacionalista do
Quénia, na qual os Mau Mau assumiram um papel fundamental; e em 1963, o Quénia conquistou a independência dos britânicos
Na história pós-independência do Quénia, o caso mais famoso sobre as complicações do casamento interétnico foi o
apresentado entre a viúva de S.M. Otieno, Wambui Otieno e seus membros do clã. Veja Patricia Stamp (1991) 'Enterrar Otieno:
a política de género e etnia no Quénia', Signs 16 (4): 808-45; April Gordon (1995) 'Género, etnia e classe no Quénia: Enterrando
Otieno 'revisitado', Signs 20 (4): 883–912; David Cohen e E.S. Atieno Odhiambo (1992) Enterrando S.M .: A Política do
Conhecimento e a Sociologia do Poder na África, Londres, James Currey. Mais recentemente, Wambui Otieno também tem
sido foco de controvérsia por se casar com um homem vários anos mais novo. Veja Grace A. Musila (2005) 'Idade, sexo e poder
no Quénia moderno: um conto de dois casamentos', Social Identities, 11 (2): 113–29.
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democracias emergentes', em Arnaldo Cruz-Malavé e Martin F. Manalansan IV (eds) Globalizações Queer: cidadania e vida
após a morte do colonialismo, Nova York, New York University Press: 195-218.
473
Aqui, afasto-me da crítica queer padrão de que o Estado deveria sair do negócio de legislar sobre a intimidade. Embora
reconheça os muitos problemas da intimidade sancionada pelo Estado, também desconfio de abordagens que alienam o
estado, abordagens que podem não ser apropriadas ou possíveis em um espaço como o Quénia
Para ser justa, a frase pode ser completa e coerente, mas minha descrença com seu heterocentrismo nu me obriga a lê-la
como incoerente. Isso é chamado apropriadamente de leitura "interessada".
Ver Wairimu Ngaruiya Njambi e William E. O'Brien (2000) 'Revisitando o' casamento mulher-mulher: notas sobre mulheres
Gikuyu', NWSA Journal, 12 (1): 1–23.
Mesmo categorias não baseadas em identidade, como homens que fazem sexo com homens (HSH), ameaçam a família, como
Andil Gosine (2009) explica em 'Monstro, útero, HSH: o trabalho do sexo no desenvolvimento internacional', Desenvolvimento
52 (1): 30:
As transgressões do HSH são muitas. Ele quebra os códigos legais que proíbem a sodomia e a homossexualidade, prejudica a
instituição do casamento heterossexual através de sua participação em actos sexuais que a prejudicam (já que muitos, se não
a maioria dos HSH, são homens casados), e ele interrompe as estruturas hetero: homossexuais, por sua recusa. executar ou
se apegar a uma identidade sexual fixa. Essas prácticas são todos os requisitos das formas dominantes euro-americanas de
regulação sexual. De facto, o que é particularmente interessante sobre o trabalho de desenvolvimento realizado em nome da
protecção dos HSH (ou da sociedade) é sua ênfase na protecção de características-chave das prácticas euro-americanas de
regulação sexual: o casal heterossexual, declaração pública e reificação da identidade e mediação estatal da práctica sexual.
Caroline Njung’e (2009) 'Casamentos no Quénia enfrentam uma reforma drástica', Daily Nation, 1º de Maio, acessado em 7 de
Janeiro de 2010.
31 Mutua (2010).
Assuntos de saúde reprodutiva (2007) ‘Legislação contra a violência sexual no Quénia: uma entrevista com o Exmo. Njoki
Ndungu, 15 (29): 150.
Michel-Rolph Trouillot (1995) Silenciando o passado: poder e produção da história, Boston, MA, Beacon Press: 70-107
474
475
29 – NHORONDO – MAWAZO YETU: RASTREANDO A VIDA DE VOLTA:
NOSSAS REFLEXÕES – HISTÓRIA DE VIDA – Zandile Makahamadze e
Kagendo Murungi
que se tornou uma amizade familiar que sustenta a vida. Nossa história começa
476
A metade dos anos 90 marcou nossa entrada no campo do activismo pela justiça
York, EUA. Zandile se envolveu com a GALZ através do processo de explorar sua
organização LGBT africana sediada em Nova York, da qual Kagendo era membro
Trabalhos passados
Kagendo: Por que se juntou à GALZ e qual foi o impacto de sua participação como
lésbica negra? Zandile: Onde eu cresci, você era mulher ou homem e tinha que
477
se casar com o sexo oposto. Como não me encaixava nessas categorias, sempre
fiquei curiosa e queria descobrir mais sobre mim. Descobri a GALZ em 1995, por
se referido aos homossexuais como “inferior aos cães e porcos” e pediu que eles
até 1997. Eu estava numa situação muito violenta, morando com o pai dos meus
dois filhos que me estuprou e me engravidou com meu primeiro filho aos 14 anos.
Ninguém podia cuidar de mim e esse homem me forçou a morar com ele. Eu
estava lidando com muitos traumas por ter sido estuprada e abusada mental,
situação e, dois anos depois, eu estava envolvida com o GALZ. Entrei porque
Foi muito emocionante, porque era isso que eu procurava. Fiz a diferença para
Mas não foi fácil, porque GALZ tinha suas próprias maneiras de operar;
realmente não recebia lésbicas negras ou mulheres em geral. Tinha seus próprios
organização. Eu me consolava dizendo: ‘Estou aqui agora, não pode ficar pior’. Eu
sabia o que queria e ia conseguir, apesar de não ter apoio. Keith Goddard, chefe
da GALZ, era um homem branco e talvez fosse difícil para ele abraçar lésbicas
478
Antes do IGLHRC, você trabalhou com alguma organização de lésbicas, gays,
como o Women of Color Collective, com Cheryl Clarke como nossa orientadora
Mulheres. Também fui abençoada por ter Abena Busia como minha orientadora
Em 1995, quando fui para a Quarta Conferência Mundial da ONU sobre Mulheres
seguida, assumi uma posição no IGLHRC e comecei a aprender como aplicar uma
abordagem de direitos humanos à libertação de LGBT no continente.
479
Você trouxe estratégias específicas para a GALZ e teve apoio de algum aliado
regional ou internacional?
Parte disso também foi o conhecimento que adquiri na GALZ durante meus
presidente.
fui indicada como membro do conselho para representar a região africana. Esta
foi a minha primeira exposição a workshops internacionais de lésbicas e
480
fora da África Austral foram organizados como organizações de HIV / SIDA e até
rede continental real existia ainda, então eu tive que construir pontes.
nos EUA.
Por que você se mudou para os EUA e isso mudou sua relação com a organização
Zandile: Minha vida foi ameaçada porque eu estava muito envolvida na defesa
481
físicos. Estranhos ligaram no meu telefone, abusando verbalmente de todas essas
ameaças. Tive que mudar de residência três vezes para evitar assédio. Quando
minha casa foi atacada, decidi imediatamente deixar o país. Eu fazia esse trabalho
como indivíduo, mas minha família também pagavam o preço. Eu não queria que
relatório; disseram que sabiam que éramos lésbicas e disseram que já sabiam
onde morávamos. Eles nos acusaram de causar esses ataques e disseram que não
desperdiçariam seus recursos, deixando-nos fazer uma denúncia. Perguntei a
eles como estávamos causando esses ataques, e eles disseram que era por causa
de como vivíamos nossas vidas. Eles também disseram que se vivêssemos como
todo mundo, o que quer que estivesse acontecendo pararia. Eles perguntaram
por que estávamos dormindo com mulheres e também disseram que não iriam
visitei minha irmã e seu marido e contei a eles sobre minha decisão de deixar o
Zimbábue. Perguntei se eles poderiam cuidar dos meus filhos, já que eu não
poderia partir com eles. Eles concordaram e tomaram providências para que
continuassem os estudos. Renunciei ao meu emprego e fui para a conferência da
ILGA na Holanda em 2002. Fiquei com o coração partido porque minha família
482
Minha decisão também afetou meu relacionamento com a GALZ. Eu ainda estava
originalmente, mas de repente ele mudou de ideia. Fiquei chocada porque não
membros da GALZ, eles não responderam. Percebi então que eles não queriam
ter nada a ver comigo e fiquei magoada. Eu me senti tão abandonado por esta
contexto da defesa dos direitos humanos, as pessoas cujos direitos estão sendo
483
conteúdo (brancos e / ou cidadãos do sexo masculino dos EUA ou Europa). Nesse
paradigma, ser defensora dos direitos humanos dos imigrantes africanos é auto-
contraditório.
Como funcionária de uma organização sem fins lucrativos nos EUA, fui
compensada pelo meu trabalho de movimento. Não sabia como seria difícil gerar
LGBT na África como uma africana nos EUA que trabalha fora do complexo
Como você vê seu papel no LGBT africano movimento como africana nos EUA?
Zandile: Aos olhos deles, não existimos, mas podemos desempenhar um papel
muito importante quando se trata de questões LGBT africanas. Lembro que em
2007 fomos ao consulado sul- africano em Nova York para protestar contra o
orientação sexual. Tivemos que protestar sobre o quão errado era que essas
país africano que legaliza casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Eu gostaria
de fazer algo mais do que apenas reagir ao que está a acontecer. Quais foram
que eu fazia. Houve momentos em que isso se chocou com a defesa dos direitos
humanos, na medida em que privilegia os governos, órgãos regionais e
484
testemunhando lobistas LGBT do continente enfrentando tremendas
comunidades locais.
imigrante africana nos EUA naquele tempo ajudou a direcionar recursos críticos
Reflexões actuais
Kagendo: Com base na sua história, por que é importante você ter sido incluída
em uma publicação continental queer como essa e qual você acha que será o
autêntica à nossa existência. Também fortalece aqueles que estão passando por
lutas semelhantes.
485
Como africanx, é importante para o nosso trabalho, mas também dá esperança a
muitos activistas. Não podemos mais ficar no armário, nem podemos calar sobre
essas injustiças. Não podemos deixar que as pessoas nos abusem. Eles precisam
saber que temos o direito de ser. O que você acha que deve ser priorizado na
Você teve alguma ajuda quando procurou asilo e quais foram suas principais
Zandile: Consegui muito apoio e sou muito grata por ter recebido seu apoio
pessoal durante todo esse processo. Após a minha chegada, fui ajudada por um
casal em San Diego com hospedagem e alimentação. Tentei procurar asilo lá, mas
486
não consegui encontrar um advogado para me ajudar. Você, Kele e Nguru Karugu,
dinheiro, o que me permitiu mudar para Chicago, onde outro membro de Uhuru-
Wazobia tentou me ajudar a procurar asilo, mas não obteve êxito. Você também
de três semanas, mudei-me para Connecticut para cuidar dele e iniciei meu
processo de asilo. Eu sempre aprecio Heather por me defender, assim como por
todos aqueles que me ajudaram. Minha família tem sido uma grande fonte de
apoio durante minhas lutas e minha irmã mais velha sempre foi minha fonte de
para os EUA. Minha irmã, seu marido, sua família e meus filhos me ajudaram a
Que preço você pagou trabalhando como activista africana LGBT em ambientes
487
Kagendo: Havia muitos sacrifícios relacionados à necessidade de ser adaptável e
protecção e paz de espírito como activistas africanx LGBT e deve ser um padrão
em pesquisa, documentação e advocacia sobre essas questões.
Em outro momento, optei por me identificar pelo meu primeiro nome sem meu
sobrenome para simbolizar que eu assumia a responsabilidade de minha
Asiático (ASWAN), que apareceu nos meus cartões de visita, juntamente com o
Tem sido activa desde que está nos EUA e podes compartilhar exemplos de
vitórias e desafios em seu trabalho?
488
Zandile: Consegui defender o meu caso de asilo, concedido um ano após a minha
Qual é o papel que outras pessoas tiveram em ajudar a equilibrar seu lugar no
movimento?
entre aqueles que queriam ser mais ativos politicamente e aqueles que queriam
489
Um grupo de pessoas não conformes com o género formou o L4AA, um comitê
Por que acha que é tão difícil se qualificar para o financiamento como activista
africana queer nos EUA e como você acha que isso afeta nossa capacidade de
Zandile: É difícil por causa dos padrões estabelecidos pelos financiadores. Eles
precisam entender que não temos mais para onde ir para financiamento, estamos
aqui e também somos africanx. Devemos nos qualificar para algo para podermos
porque queremos lutar pelos mesmos problemas pelos quais lutamos na África.
Há uma limitação ao que pode ser feito sem financiamento. Financeiramente, não
Para que nosso trabalho seja bem-sucedido, devemos fazê-lo com o coração
aberto, não com reservas. Por exemplo, a legislação anti-gay em Uganda e toda a
problema precisa de voz. A voz se torna mais forte quando vem de todos os cantos
do mundo.
490
Você sente que concorda com as actuais lutas africanas LGBT em oposição às
mesmos. Eu acho que o grande obstáculo é que não tivemos a chance de revelar
avançar conjuntamente.
491
Ferramentas prácticas
social?
torna uma pessoa melhor. A sociedade se estabeleceu para garantir que tenha a
palavra final; castiga aqueles que não cumprem suas ‘normas’ sociais. Essa
caminhos.
fui criada. Eu leio a Bíblia e oro. Eu também tento viver em harmonia comigo
mesma e com o meu redor. Espero que um dia todos nós nos abracemos e não
julguemos.
por muitos anos eu não estava respirando. Ao trabalhar com direitos humanos,
492
Quando comecei a fazer esse trabalho, meu autocuidado estava desequilibrado
com o meu trabalho, já que eu trabalhava às vezes por 16 horas por dia, porque
estava sobrecarregada pelo grande volume, violência e urgência dos casos e pelo
conhecimento de que minha comunidade estava sob ataque. Percebi que tinha
pode advogar pela justiça de outra pessoa quando não tem paz em sua própria
Zandile: Eu me curei reconhecendo que fiz o meu melhor para criar mudanças
493
principalmente liguei e enviei um email para ela falar sobre a minha crise. Ela me
ensinou a meditar e fazer longas caminhadas por motivos de saúde. Minha família
meu activismo.
trabalho, e que utilizar as mesmas técnicas sem tentar novas ideias não mudará
494
Aprendi que é importante desapegar-se para recuperar a perspectiva quando a
lembra que não é uma questão de pessoas más versus pessoas boas, mas sim de
energia negativa versus energia positiva, as quais podem ser acessadas por
qualquer pessoa.
energia direcionar em resposta a qualquer coisa externa que ocorra. Aprendi que
nadar, dançar e criar arte. Tenho que lembrar que sou filha, irmã, prima, tia e
avó e preciso dar energia para entender meu papel e responsabilidades como
Zandile: tive que encontrar ajuda por conta própria, principalmente de amigos e
495
educacionais em que adquiri o diploma do ensino médio e consegui uma bolsa
Que mecanismo você usou para lidar com o isolamento e a falta de acesso aos
recursos?
ferramentas para superar meu próprio sentimento de medo quando ele surgir,
minhas comunidades.
Quanto aos recursos inacessíveis, acho que fomos realmente criativos como uma
conversa com você está me abrindo para a quantidade de recursos críticos que o
496
Quando você olha para trás, há algo que você poderia ter feito de maneira
diferente?
Zimbábue. Eu poderia ter solicitado oficinas sensíveis ao género; poderia ter sido
mais fácil conscientizar dessa maneira do que quando todo mundo está te
criticando.
Eu também gostaria de ter tido mais informações sobre o processo de asilo antes
Quando você olha para trás, há algo que você gostaria de ter feito de maneira
diferente?
Kagendo: realmente tenho pensado sobre isso e percebo que faria tudo de novo
porque esse trabalho me fez ser quem eu sou. Ele transformou minha vida através
497
Antes de entrar para a defesa internacional dos direitos humanos LGBT, eu
teria sido catártico, e vê-lo poderia ter alimentado um melhor equilíbrio entre
meu trabalho e minha vida criativa e me manteria em contato com um meio que
eu amo.
Nota
Para uma definição do “complexo industrial sem fins lucrativos”, consulte http: // www Incite- national.org/index.php?s=100.
498
499
30 – DIGA AO SOL PARA NÃO BRILHAR – FICÇÃO – Diriye Osman
Era Eid e eu não tinha ninguém com quem celebrar. Eu precisava de um sinal
para me indicar leste ou oeste. A placa veio como um folheto através da minha
da beleza – vestem a cor de Fanta, sapatos de salto alto. As crianças corriam com
Fui às torneiras do lado de fora para realizar a ablução. Um rapaz asiático num
‘Vá assim’, ele disse, lavando as mãos e os pulsos três vezes. Notei que ele tinha
“Vá assim”, ele disse, lavando a boca três vezes. Notei que seu lábio inferior estava
500
“Vá assim”, ele disse, colocando água no nariz e soprando três vezes. Notei que
Após a ablução, era hora de orar. “Vá”, disse o garoto. Então eu fui.
com cachos jheri. Ele tinha seis dedos no pé esquerdo. Quando ele torceu os
dedos, o sexto não se mexeu.
“Espero que você encontre paz”, disse ele, sentindo minha tristeza.
“Espero que sim”, eu disse. Eu me perguntei se o sexto dedo dele lhe dava um
sexto sentido.
mãos aos ouvidos. Mesmo que as costas do imã estivessem viradas para mim,
reconheci sua voz instantaneamente. Foi Libaan. Ele usava um khamiis branco
como ovo e um boné de caveira. Seu barítono ainda estava tão liso quanto a água.
Quando ele disse, ‘Allahu Akbar’, mais uma vez, lembrei-me da primeira vez que
nos conhecemos. Ele veio da Somália para passar o verão conosco em Nairóbi. Eu
501
O alto-falante estalou quando ele agora recitava Sura Al-Fatiha. Sua voz
Lembrei-me dele se elevando-se sobre mim. Sua pele estava escura como Oreos.
Ele tinha dois dentes de ouro. Ele me apresentou os cigarros. Eu engasgava com
a fumaça e ele dizia: ‘Você vai chegar lá, garoto’. Agora eu fumo 20 por dia.
Lembrei-me de dar a ele minha cama e dormir no chão. Ficávamos acordados até
tarde e ele me falava sobre ser um pastor de gado na Somália. Contei a ele sobre
próxima vez’, ele disse, ‘eu irei à sua escola e espancarei eles’.
Lembrei-me da primeira vez que o vi nu. Ele dormia e seu lençol havia
mais perto. Eu queria tocá-lo, mas estava aterrorizado. Sentei-me ao lado dele
na cama e ele não acordou. Toquei suas nádegas com dedos trêmulos e saí a
correr do quarto. Quando voltei, ele ainda estava dormindo. Apertei suas nádegas
gentilmente e saí a correr do quarto. Quando voltei, ele ainda estava dormindo.
Tentei tocá-lo, mas ele pulou e disse: ‘Pelo amor de Deus! Estou a tentar dormir
Meu rosto esquentou agora quando ele se levantou e disse: ‘Alá ouve aqueles que
502
Eu tinha medo que ele contasse aos meus pais. Mas, em vez disso, no dia seguinte,
silêncio. Quando terminamos, ele mexeu meu cabelo e sorriu com um sorriso de
dentes dourados que dizia: ‘Não vamos mencionar isso’. Eu não conseguia olhar
Agora ele explodiu ‘Allahu Akbar’ e toda a congregação se prostrou. Ele disse
Em vez de ir para a cama naquela noite, Libaan se sentou no meu colchão e enfiou
a mão por baixo do meu cobertor. Sua mão agarrou meu pênis. Eu estava duro.
Seus movimentos eram lentos, deliberados. Suas mãos estavam macias como
leitelho. Ele cheirava a cigarro e chiclete de cereja. Ele me acariciou até minhas
coxas ficarem húmidas, garganta seca. Quando me vim, ele limpou as mãos na
esperançoso.
me passar a bola. Toda vez que fazia isso, ele sorria com um sorriso de dentes de
ouro que dizia: ‘Nada aconteceu’. Ele tentava evitar uma vida de complicações.
Mas à noite, ele colocava suas mãos, lábios, língua dentro do meu mundo de
complicações. Dávamos golpes até chegar a hora das orações da manhã. E então
continuávamos o dia, imaginando se a noite anterior havia acontecido.
503
Quando a oração terminou, Libaan olhou para a direita e disse: ‘Asalamu aleykum
exemplo.
Na noite anterior ao seu retorno à Somália, deitamos juntos no meu colchão sujo.
Eu pressionei sua palma nos meus lábios. Ele beijou minha clavícula. Estávamos
desesperados para prolongar o momento. Na sala iluminada pela lua, pude vê-lo
sorrir com um sorriso de dentes dourados que dizia: “Nada importa.” Quando
chegou a hora da oração da manhã, ele sussurrou em meu ouvido: ‘Diga ao sol
para não brilhar.’ Eu sussurrei ‘Direi se você prometer ficar.’ Ele embarcou num
avião para a Somália no dia seguinte.
Agora ele se virou e deu uma palestra, mas eu não estava a ouvir. Tudo o que notei
foi sua barriga, redonda como uma bola de basquete. Tudo o que notei foram suas
bochechas, que caíam como as mandíbulas de um bulldog. Ele ainda tinha dois
dentes de ouro, mas o resto era preto. Sua barba tinha sido usada como hena até
‘Que Deus abençoe você e sua família neste dia feliz’, ele disse. ‘Que você
pessoas se filtravam, senti vontade de falar com Libaan. Eu queria dizer a ele que
504
Eu queria dizer a ele que eu via o rosto dele sempre que fazia amor com Simon.
Eu queria dizer a ele que meus pais me deserdaram quando eu saí do armário.
Mas antes que eu pudesse, uma mulher de jilbab de tinta preta e um menino
vestido de khamiis foram até Libaan. Ele abraçou a mulher e levantou o garoto
sobre seus ombros. Foi quando ele me viu. Ele tentou sorrir com um sorriso de
dentes de ouro que dizia muitas coisas: “Não aqui, agora não”, “desculpe”, “estou
com medo”. Mas antes que ele pudesse fazê-lo, antes que pudesse partir meu
Eu corri.
505
506
31 – O QUE HÁ NUMA LETRA? – Valerie Mason-John
pode olhar através de uma lente eurocêntrica para África e começar a comparar.
pode parecer diferente nos países africanos. É comum que mulheres ou homens
casa com seu amante, poderiam ser atacadx, na pior das hipóteses, ou perder
toda a subsistência financeira.
que criaram suas comunidades do mesmo sexo e vivem com seus parceiros
discretamente. Ironicamente, enquanto muitos de nós no Ocidente têm a opção
507
de estar fora ou dentro do armário, é o mesmo Ocidente, especificamente a
africanos. O casal do Malauí que deu uma festa em Dezembro de 2010 para
comemorar seu noivado estava sob ameaça de 14 anos de prisão devido a uma lei
que costuma ser chamada de “Lei da Matança dos Gays”. Se aprovado, esse
alguma tolerância às relações entre pessoas do mesmo sexo, os rótulos têm sido
uma parte definidora dessa cultura. Esses rótulos explícitos, acredito, foram o
508
completamente do armário. Essas pessoas podem exibir uma faixa, estar na
televisão, falar na rádio e gritar em voz alta sobre qual é sua sexualidade ou
género e não temer por suas vidas. Este não é o caso na África. Aqueles que saem
Sou uma segunda geração africana nascida na Inglaterra. Embora tenha visitado
meu país, a Serra Leoa e apreciado a comunidade queer subterrânea, mal posso
falar sobre isso. Chamo de queer, mas na verdade chamam de comunidade gay,
Eu cresci com rótulos a vida toda. O primeiro que me lembro foi órfã, o segundo,
wog (preto), o terceiro, nigger (negro), quarto, racum, e depois ficou meio
borrado. O primeiro rótulo queer colocado em mim foi quando eu tinha sete
anos. Eu fui chamada de Tom Boy, e adorei, estava orgulhosa disso. Isso
significava que eu poderia fazer algo tão bom ou até melhor do que alguns
minha idade, e podia subir em árvores tão altas quanto qualquer rapaz e fazer
alguns daqueles jogos ousados que eles faziam. Eu podia andar de mãos dadas e
Desde os oito anos de idade, eu sabia claramente que nunca queria um homem
perto de mim. Eu não sabia o que significava. Mas depois que um homem negro
tentou enfiar o pênis dentro de mim, eu sabia que não o queria perto de mim
novamente. É claro que eu tive namorados na adolescência, mas nunca fiz sexo
509
com eles. Eu não estava interessada. Eu estava me divertindo muito com meus
amigos.
Quando eu tinha 13 anos, me apaixonei por uma garota que estava sentada na
pensamentos. Em algum lugar, eu aprendi que isso era mau, mas também
aprendi que se um rapaz te beijasse e tocasse seus seios ao mesmo tempo, você
Eu me apaixonei pela primeira vez aos18 anos por uma mulher casada. Entrei
num relacionamento com ela enquanto ela permanecia no seu casamento. Eu
morava na casa conjugal, com a filha deles, e era nesse ponto que eu precisava
começar a explorar.
Minha melhor amiga assistiu e me levou para o meu primeiro clube de lésbicas.
Era o jeito dela de me dizer o que eu era. Mas quando entrei na livraria Gay’s the
Word em Londres e vi a palavra lésbica nas prateleiras, senti repulsa. Era como
se alguém estivesse dizendo que eu tinha uma doença. A palavra parecia tão
deus patrono chamado Lesbos, uma ilha grega inteira recebeu o nome dele. É
certo que foi aqui que Sappho nasceu, mas o facto é que somos lésbicas porque
Sappho era uma lésbica de Lesbos, assim como todos os outros habitantes de
510
Lesvos que são Lesvians (o V é pronunciado como B em inglês). E então meu
Eu fui para a Universidade de Leeds em meados dos anos 80, e isso abriu uma
uma dyke – gostei desse termo. Isso ressoou, e mais tarde eu aprendi que dyke
Para mim, a palavra dyke significava que eu estava na frente e na sua cara sobre
(masculina). Eu poderia ser tão femme (feminina) quanto eu queria e ainda ser
uma dyke. Havia muitas de nós, e é claro que confundia a comunidade
anos 90, mas eu fui chic nos anos 80. Muitas lésbicas negras sempre foram chics;
eles não conheciam outra coisa, porque nas comunidades negras do Reino Unido
você tinha que estar bem nas ruas, fosse você butch, femme ou mesmo
heterossexual.
511
A comunidade lésbica e gay negra em Londres era definitivamente mais diferente
Ouvimos reggae, ragga, lovers e dub. Nós nos vestíamos bem e raramente mal, e
criamos nossos próprios clubes, que eram negros apenas. Algunx de nós
cansaram de ser recusadx a entrar em clubes gays e não queriam passar a noite
negras e brancas. A chamada para ‘recolher’ todos os homens não foi bem-vinda
contra todos os homens exacerbaria o racismo contra os negros nas ruas. Seria
vivi com mulheres e só socializei com mulheres. No centro da minha vida havia
sexo masculino, e agora eu tinha que deixar ir mulheres brancas. Acho que isso
foi muito limitante para mim, porque eu havia sido colocado de maneira trans-
racial em lares adotivos e orfanatos e crescido com cuidadores brancos.
512
Depois que deixei a universidade e me mudei para Londres, fiquei mais imersa
adoptaram o novo rótulo ‘zami’. Audre Lorde finalmente deu um nome as afro-
funcionou para mim. Eu gostei, mas fiquei feliz com meu rótulo de dyke.
Logo percebi o quanto estava apegado aos rótulos: preta, mulher, dyke e
feminista. Minha vida inteira se concentrou nesses rótulos. Eles eram fixos e
ditavam como eu me sentia, o que pensava, o que comia e com quem socializava.
Havia um pensamento policial na comunidade e, para ser dyke, eu tinha que ser
vegetariana e ter políticas de esquerda. Para ser uma dyke negra, eu tive que
No final dos anos 90, fui exposta à política queer. “Queer” foi inicialmente
autodefinição. A ‘política queer’, que foi tipificada por grupos activistas como
ACT UP e Queer Nation, se desenvolveu com raiva contra a estratégia de
513
assimilação gay na sociedade em geral, que ainda não havia conquistado direitos
básicos.
O início dos anos 90 testemunhou uma onda de políticas queer no Reino Unido,
sua atração entre as gerações mais jovens, e uma nova identidade lésbica e gay
vibrador na minha calça e sair cruzando gays durante a noite e ter um ‘sexo
atrevido’. E eu ainda podia ter minha política lésbica e não ser classificada como
bissexual. “Bissexual” era uma palavra suja entre a comunidade lésbica, e você a
ocultava ou suprimia com medo de ser banida da comunidade.
A política queer talvez tenha sido o fim da polícia lésbica, daqueles académicos
que escreveram artigos sobre como as lésbicas deveriam fazer sexo e que
começo de uma nova identidade lésbica dentro das comunidades brancas da qual
muitas de nós lésbicas negras fazíamos parte. A política queer foi libertadora para
muitx e não surpreende que no Reino Unido tenhamos começado a ver toda uma
cultura de resistência.
514
podiam tomar hormônios e experimentar ser homem. Alguns transitaram
Termos como lésbica e dyke começaram a cair na pauta. Eles eram restritivos e
algunx de nós namoravam com homens trans. Como isso nos definiu? Em qual
categoria isso nos colocou? Quando seus amigos ou amantes se tornam homens,
você precisa criar um mundo onde todos possam existir felizes. As mulheres e os
homens que estavam em transição começaram a criar os espaços para todx nós
como queer. Adolescentes com quem trabalho me dizem que queer significa
diferente. Você pode ser lésbica, gay, bi, tri, trans e het e ser queer. Eu sinto que
o bicho deu um círculo completo. Quando criança, nas décadas de 1960 e 1970,
queer significava diferente, estranho. Era uma palavra usada por adultos para
descrever pessoas que não viviam vidas convencionais. Então, eu estava muito
ciente de queer quando criança. As duas mulheres idosas que moravam juntas há
anos, o homem que era solteiro a vida inteira, o homem que era afeminado eram
todx queer, incluindo a famosa Dame Edna Everage.3
515
Comecei a me identificar como budista em meados dos anos 90, mas logo percebi
queria ser definida por um rótulo. Eu não era um pacote que poderia ser colocado
numa prateleira e vendido. Eu só queria ser eu. Quando alguém pergunta se ele
é gay, essa pessoa é trans, essa pessoa é queer ou é intersexo, esses rótulos e as
muita fluidez e flexibilidade. O que ele quer dizer ou ela? Não são fixos, mas
Até agora, o mais fluido dos rótulos era queer, acho que porque abrange todas as
identidades sexuais. Mas, claro, há o risco de esquecer aqueles de nós que são
Nenhum rótulo funciona para mim. E isso importa? Para quem nos definimos?
As autoridades? O censo? Por que os rótulos são tão importantes? Uma vez eu
estava na categoria de gays e lésbicas, depois mudou para lésbicas e gays, depois
como zami, mati, que saíram da cultura afro-caribenha, nunca entraram na lista
principal. Mas, para algumas mulheres negras, elas foram primeiro lésbicas,
516
geração negra mais jovem parecia ter abraçado a etiqueta queer, e o
letras? Desviante sexual e heterossexual. Não tenho certeza se vou viver o tempo
Notas
theGrio (2010) 'Pastor anti-gay de Uganda transmite pornografia gay na igreja', 18 de Fevereiro,
http://www.thegrio.com/news/ugandan-anti-gay-pastor-airsgay-porn-in-church. php, acessado em 10 de Dezembro de
2012.
Diane Torr é conhecida por suas oficinas de homem por um dia. Ela é educadora, especialista em drag king e imitador
masculino.
Dame Edna Everage é um personagem de TV criado e interpretado pelo comediante australiano Barry Humphries.
517
518
32 – A ETIQUETA SE ENCAIXA? – Liesl Theron
Introdução ao cisgénero
atribuído a elas pela sociedade, combinando sua identidade de género com o sexo
transgéneros.
519
sendo rejeitados por seus entes queridos, as pessoas trans sempre enfrentam
só pode ser alocada para um determinado sexo (Butler 2004: 9). Butler continua
‘Thinking Sex’ (Rubin 1999 [1984]) é frequentemente visto como um dos textos
teoria de Rubin, cinco formações ideológicas são usadas pelas sociedades para
regular o sexo e os corpos, além do essencialismo sexual. Intrinsecamente, o
520
modelos, além das margens da inclusão. Rubin argumenta que o pensamento
e feministas, apenas para descobrir mais tarde que sua identidade como pedra
masculina, homens e mulheres transexuais, travestis, intersex, jovens
feministas na África do Sul e na região. Matebeni (2009) concorda com esta visão
no encontro alegaram que se uniram sem cessar à luta pelos direitos das
521
mulheres no nosso continente. “Uma clara saída do encontro é que a noção de
cair na armadilha de impor às pessoas trans como elas devem ser definidas. Sem
(Cook-Daniels, 1998: 1), que no caso de pessoas trans identificando como homens
Perigos da homonormatividade
(Steyn e van Zyl 2009: 3). Com esse credo, segue o comportamento apropriado
dos corpos ‘presos’ nele, vivendo sua vida cotidiana neste mundo. Em Agosto de
2007, uma mulher em Umlazi, KwaZulu Natal, foi despida e seu barraco
522
incendiado, para ‘puni-la’ por não obedecer às rígidas normas de género e às
expectativas da mulher – ela usava calças. Ela não era lésbica, nem trans. Muito
feministas sobre isso. Também não recebeu muita cobertura da media. Este
incidente ocorreu logo após o assassinato de Salomé e Sizakele, duas lésbicas que
fobia de género (Wilchins 2004: 17) entre gays e lésbicas. A expressão clássica de
algumas pessoas gays e lésbicas que não querem se associar a eventos queer,
como marchas ou festivais de Pride devido às ‘rainhas do drag que estão “acima
do topo” e nos farão parecer todos com essa síndrome”, apenas mostra como a
transfobia incorporada é encontrada nas comunidades de gays e lésbicas. O
desânimo vindo de uma mulher butch ou dyke em direcção a uma FTM se traduz
523
na mesma transfobia interna que se revela como uma observação zombeteira de
que homens trans estão traindo a feminilidade e que levarão à falsa impressão de
que ‘todas as lésbicas querem ser homens’. As pessoas trans são frequentemente
29; Smit 2006: 286, 287). Namaste argumenta (2005: 51–54) que transexuais e
524
financeiramente. Esses programas serão desenvolvidos, implementados e
África do Sul. Num dos trabalhos anteriores sobre o assunto, Defiant Desire: Gay
and Lesbian Lives in South Africa (Gevisser e Cameron 1994), lemos sobre a
história de Gertie Williams, que remonta a 1955. O capítulo foi escrito usando
forte desejo de ser visto como homem, mencionou orar a Deus todas as noites
de uma operação, e disse que nenhuma dor seria um preço muito alto. Williams
que não teria mais utilidade para eles: ‘eu queria ser homem, e nada me
impediria’ (Chetty 1994: 131). Embora esse material tenha sido citado
525
directamente no Golden City Post de 1956, quando o idioma actual em torno do
trans. É por isso que Smit (2006: 283) mencionou com retidão: ‘grande parte da
uma grande conquista para o activismo LGBT e direitos iguais para homossexuais
na África do Sul. Por mais que isso tenha sido celebrado, inclusive entre os sul-
africanos transgéneros e seus parceiros, o novo Projecto de Lei da União Civil e
quantidade de amor que as duas pessoas declararam uma para a outra e sua
Assuntos Internos. Isso provou ser uma experiência muito traumática, como
Christelle explicou: ‘toda a dignidade com que seu relacionamento é concedido é
526
O género e a identidade de género das pessoas trans e de seus parceiros são
86, 87), que às vezes é confuso, complexo e precisa de tempo para se analisar.
surge como trans são desafiados com incerteza (de ambos os parceiros) em vários
níveis. Keketso confirmou isso (Theron 2009: 156) quando reconheceu sua
confusão quando, como mulher heterossexual, foi atraída pela primeira vez ao
parceiro. Era difícil para ela dizer que era lésbica, que não conseguia entender o
assunto até que, depois de um tempo, soube que ele era trans e estava prestes a
fazer a transição para o sexo masculino. As coisas começaram a se encaixar para
ela.
examinam sua orientação (Cook-Daniels 1998, Mason 2006, Lenning 2008, Brown
a acompanha (Cook-Daniels 1998, Lev 2004, Brown 2004, Brown 2009, Theron
527
2009). À medida que a transição da parceira trans de identificação masculina
lésbica. Uma lésbica observou que estar com um FTM mudou sua identidade de
lésbica para parceira de um FTM (Cook-Daniels 1998). Dois anos após o término
lésbicas que não a aceitavam como lésbica. Mesmo depois que ela começou a
explicar que ela não era trans e verificar se eu sou lésbica” (Theron 2009: 160). É
lésbica e além. ‘Não consigo descobrir como estar’ fora ‘sem comprometer seu
direito de sair / não sair quando ele quiser, porque ele passa a maior parte do
1996: 106) ao sair com amigas lésbicas, que podem acabar perguntando se está
amigas não esperam uma grande sessão educacional numa saída social à noite. E
parece complexo demais para ela, ser lésbica dizer que está com um ‘ele’.
Em muitos casos, a parceira lésbica não era apenas lésbica na sua comunidade,
mas também era conhecida por ser activa como voluntária ou activista. Ter que
mudar uma identidade em sua totalidade não apenas apaga uma história de seu
528
activismo e participação da comunidade, mas também pode levar a emoções
Em 2009, fiz minhas honras de pesquisa com foco nas parceiras cisgénero
mudado. Não vou me aprofundar aqui nos detalhes subtis dos resultados da
pesquisa, mas, em vez disso, vou esclarecer os meandros do que as parceiras
mulheres eram negras, das quais duas eram Xhosa, uma Zulu e uma Tsonga. Das
quatro mulheres brancas, três eram de uma educação inglesa e uma era
529
Três parceiros usaram várias maneiras de se descrever em um continuum
bissexual. Das duas mulheres heterossexuais, uma disse que era “heterossexual
casal em que o parceiro cisgénero era bissexual era casado de acordo com a
A orientação sexual de uma pessoa é entendida para prever o sexo pelo qual uma
homossexuais.
entrevistei fosse todo do sexo feminino, eles representavam toda uma série de
530
orientação sexual. Torna-se aparente que as definições ou rótulos aceitos e
usados pelo meio académico e pelo sector LGBTI organizado não são
mesmo quando esse idioma está disponível para eles. Os indivíduos também
seu próprio senso de orientação sexual, mas sua compreensão de que género
se preocupa com as normas sexuais, com base nas realidades corporais. Embora
parceiros trans.
531
A noção de ser bissexual baseia-se no pressuposto de que existe um binário de
anteriores não tinha sido primeiro o género deles ou o que quer que fosse,
A partir dessa pesquisa, previ encontrar pelo menos algumas parceiras cisgénero
que compartilham uma mudança, insignificante ou mais obviamente experiente,
sexual tivesse se ampliado, de facto não haviam mudado sua própria orientação
532
alguma mudança na maneira como geralmente via orientação sexual, género e
parceiras cisgénero femininos. Como Lebogang ficou confusa com o facto de ter
ver a qualquer momento como lésbica, ela passou por algumas mudanças na
relacionamento com uma pessoa do sexo feminino, com uma lésbica através das
lentes de corpo físico e sexo biológico. Quando ela percebeu que ele ‘não era mais
uma lésbica’, ocorreu uma mudança em seu entendimento sobre a construção de
identidades transgéneros, que também removeram, para seu alívio, sua própria
expressou sua orientação sexual com base no corpo de seu parceiro: ‘Quero
dizer, porque ele iria fazer uma cirurgia se fosse viável … e isso me levaria a voltar
ela na entrevista sobre qualquer mudança na sua própria orientação sexual. Ela
não sofreu nenhuma mudança na maneira como via o género (papéis ou
533
Eu nunca vi a principal linha entre homem e mulher. Não há diferença para mim.
um homem não. Sou uma péssima cozinheira, mas isso não me torna ainda
menos mulher. Portanto, o género como tal não mudou para mim de forma
alguma.
identidade não mudou, mas ela ganhou muito mais conhecimento de todo o
Conclusão
534
Usei duas lentes para observar a bem conhecida sopa do alfabeto LGBTI. Com a
trans. Esses dois pontos de vista levantam sérias questões sobre se o rótulo
LGBTIQ é útil e até que ponto o acrônimo será estendido antes de atingir seu
prazo de validade.
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Wilchins, R. (2004) Queer Theory, Gender Theory: An Instant Primer, Los Angeles, Alyson Books
536
537
33 – DIREITOS HUMANOS E IMPLICAÇÕES LEGAIS DO PROJECTO DE
LEI DE PROIBIÇÃO DE CASAMENTO ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO
PARA TODOS OS CIDADÃOS NIGERIANOS, 2011
Nigéria
Esta é a terceira vez que um projecto de lei que proíbe o casamento entre pessoas
Sexo, 2011", no entanto, vai muito além do título criminalizar todas as pessoas,
538
É muito importante que, quando os membros do parlamento propuserem
não entende suas disposições e implicações para sua vida cotidiana como
A proposta de lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo de 2011 foi aprovada
os nigerianos.
de saber se seu investimento e seu pessoal podem estar seguros nas mãos de um
parceiro não confiável. No momento em que o país está busca atrair
ameaça à economia.
539
De acordo com o relatório de 2010 da UNGASS (Assembleia Geral das Nações
Unidas) sobre a Nigéria, 3,6% da população é composta por pessoas vivendo com
HIV / SIDA - ou seja, mais de 5,5 milhões de pessoas. A maior parte do apoio para
Vale a pena notar para todos os cidadãos nigerianos que o projecto de lei visa:
540
e) tem como alvo defensores dos direitos humanos que se manifestam a favor
f) e, por fim, tem como alvo os direitos e a segurança das pessoas que se
género, assim como em qualquer pessoa que seja relacionada a eles ou que
suas obrigações sob nossa própria constituição, nossas próprias leis e a lei
541
ouvida e defesa - inclusive pelo advogado de sua escolha) da Carta Africana dos
Direitos Humanos e dos Povos (CADHP). Desde que a CADHP foi adoptada pela
lei nigeriana em 1983, as disposições deste projecto de lei também violam nossas
revisada e final do projecto vão muito além de seu escopo para atacar a liberdade
Numa sociedade muito táctil como a nossa, onde pessoas do mesmo sexo
calorosamente, será difícil, se não impossível, saber quando essas acções são uma
542
SECÇÃO 5 do projecto de lei proposto
grupo de direitos das mulheres pode ser facilmente alvo daqueles que não
543
solteira na faixa dos 30 ou 40 anos de idade, ou mesmo uma mulher que
esteja de calça branca, pode ser facilmente acusada de ser gay ou lésbica.
544
entre pessoas do mesmo sexo. Essa lei pode afetar potencialmente uma
país.
direitos humanos da própria lei sem ser considerado culpado por apoiar
uma mulher, a ampla inclusão da Secção sete de duas pessoas do mesmo sexo
vivendo juntas permite que alguém seja alvo, mesmo quando não tem nenhum
relacionamento sexual.
545
pública de “viver juntos como marido e mulher” e serem processados sob a
lei.
apenas visitando-os.
A Secção 1 (3) e 2 (2) afirma que, mesmo que existam casamentos do mesmo sexo
ou uniões civis válidas celebradas fora da Nigéria, eles não serão reconhecidos na
Além disso, a criminalização das relações entre pessoas do mesmo sexo forçará
546
Em resumo, as implicações e efeitos do projecto de lei vão muito além da
de sua sexualidade. De facto, embora este projecto de lei ainda seja apenas
547
de sua sexualidade e da probabilidade de impedir a Nigéria da comunidade
de nações democráticas.
comportamental (IBBSS)
548
HIV / AIDS na Nigéria (que tornar-se criminoso se este projecto de lei foi
aprovado.
APÊNDICE
Senado da República
Claramente, a nova lei é totalmente desnecessária porque, uma vez que a conduta
sexual entre pessoas do mesmo sexo entre adultos consentidos já é proibida e
ilegais na Nigéria.
constituição de 1999.
549
35 (1) Toda pessoa terá direito à sua liberdade pessoal e nenhuma pessoa será
Embora vários países tenham escolhido não permitir o casamento entre pessoas
mesmo sexo.
550
As disposições relativas à proibição de reconhecer o casamento entre pessoas do
rejeitada. De qualquer forma, a Nigéria não assinou essa convenção: isso significa
culto.
O casamento ou união civil celebrado entre pessoas do mesmo sexo não deve ser
religiosa daqueles grupos que optarem por abençoar a união entre pessoas do
551
mesmo sexo, mesmo que nenhuma consequência legal seja atribuída a esses
sindicatos. Este tem sido o caso de várias igrejas cristãs e templos judaicos em
Comentário Geral no. 22 (1993), no artigo 18, afirma claramente que a noção de
Nigéria, uma vez que viola o artigo 38 que reconhece a liberdade de religião e
Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos e, portanto, também a lei
interna da Nigéria.
552
Somente casamentos contratados entre homem e mulher são reconhecidos como
válidos na Nigéria.
procissões e reuniões.
553
(order public), protecção do público saúde ou moral ou a protecção dos
3.
estabelecendo que “[e] muito indivíduo terá o direito à livre associação, desde
Associação (1992), que mais tarde foi redigida pela Comissão Africana dos Direitos
554
3. A regulamentação do exercício do direito à liberdade de associação deve
ou indirectamente.
555
operam nos campos de direitos sexuais, direitos à saúde e direitos LGBTI. Os
últimos 10 anos. Este projecto de lei aumentaria esse abuso. Isso resultaria em
artigo 2 (2) “proíbe qualquer discriminação no acesso aos cuidados de saúde” com
base, entre outras coisas, na saúde status (incluindo HIV / AIDS) e orientação
556
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis a todos os nigerianos,
Por fim, essas disposições, em particular, podem pôr em risco a vida de todos os
legislação.
5 Infrações e Sanções
557
mesmo sexo na Nigéria comete um delito e cada um deles será condenado por
Nigéria comete uma ofensa e deve ser condenado por condenação a 10 anos de prisão.
6 Interpretação
"Uniões civis" significa qualquer acordo entre pessoas do mesmo sexo para viverem
558
todos os códigos penais e criminais da Nigéria já fazem conduta sexual entre
objectivo de viver juntos como marido e mulher ou para outros fins do mesmo
relacionamento sexual.
A definição proposta de casamento entre pessoas do mesmo sexo vai muito além
da noção de casamento entre pessoas do mesmo sexo que é aceita nos países que
Humanos tenha estabelecido em Joslin v. Nova Zelândia [1] que o PIDCP não
diferente pode constituir uma violação das obrigações dos estados partes sob a
proibição de discriminação do artigo 26, que inclui a discriminação com base na
559
Além disso, como a lei proíbe as escolhas íntimas e emocionais dos adultos que
mesmo sexo como “outra forma de relacionamento entre pessoas do mesmo sexo
projecto de lei não protege a família e as tradições, conforme exigido pelo Artigo
18 da Carta Africana, mas coloca em risco a dignidade e a segurança individuais,
claramente a protecção das pessoas LGBTI e de suas famílias que, de acordo com
os Artigos 5 (2) e 5 (3), podem ficar presos por 10 anos se não denunciarem
560
Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, nos últimos
o fracasso dos Estados proteger gays, lésbicas, transgéneros e outros grupos que
não se enquadram nas "normas sexuais" têm sido a causa de assassinatos por
discutidas pelo Relator Especial sobre Violência contra a Mulher, suas Causas e
[1] Communication No. 902/1999, UN Doc. CCPR/C/75/D/902/1999 (1998). [2] Communication No. 941/2000, UN Doc
CCPR/C/78/D/941/2000 (2003). http://bit.ly/U8xQQB
561
562
34 – DIREITOS HUMANOS E DESCONSTRUÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA
LÉSBICAS NEGRAS NA ÁFRICA DO SUL – Zethu Matebeni
Introdução
como raça, nação e classe. Argumento que essa interação retrocede e ressurge
da maneira como a categoria lésbica é feita para 'desaparecer' através de várias
lésbicas negras têm sido cada vez mais enquadradas como vítimas de formas
563
grupos denominaram violação corretiva 'ou' curativa. Sem dúvida, a violência
lésbicas são alvos de violência por causa de sua orientação sexual, expressões de
são violadas porque invertem sua atração feminina e erotismo para outras
permanece contestada.
condições severas que tentam "acabar" com suas subjetividades sexuais. A forma
de violação corretiva ou curativa mencionada anteriormente é um exemplo. Nas
564
e violência sexual contribuiu para a identificação e o enquadramento de lésbicas
mulheres na África do Sul. Essa é uma posição complexa e difícil de ser tomada,
por causa de sua perturbação percebida e real da ordem de género e sexo. Por
outro lado, ao enquadrar lésbicas negras como vítimas especiais de uma forma
municípios da África do Sul fora das lutas mais amplas de género, classe,
Lésbicas negras que vivem nos municípios (e, portanto, presume-se "pobres") na
África do Sul têm sido cada vez mais vistas como vítimas e sobreviventes do que
lésbicas negras é uma visão limitada e problemática de como nós, como lésbicas
no estupro lésbico' de Zanele Muholi (2004), credita Donna Smith, então CEO do
565
Fórum para o Empoderamento das Mulheres (uma organização de lésbicas
Gauteng, a maioria das quais foi 'estuprada explicitamente' por causa de sua
elas, menos da metade havia relatado suas experiências à polícia e muitos tinham
mulheres percebidas como lésbicas pelos homens como uma" cura "ostensiva
de que esse termo limita esse tipo de experiência apenas a uma certa classe de
lésbicas negras, existem várias razões pelas quais sugiro que ele apresenta uma
e relatos de crimes na África do Sul, o estupro correctivo não existe. Todo estupro
é registrado e categorizado da mesma maneira. Em um documentário que
566
O que é estupro correctivo? Não tenho certeza do que é estupro
estupro correctivo que será capaz de dizer que isso está alcançando
Estrategicamente, o uso desse termo tem sido eficaz nos círculos activistas, pois
negras por causa de suas sexualidades e identidades. Além desses círculos, ainda
não está claro o quão útil foi a implantação desse termo. A linguagem do estupro
como curativa a esse respeito, eu argumento, faz mais mal do que bem para
que uma vítima sofreu estupro curativo a identifica imediatamente como lésbica,
uma categoria que muitos (incluindo certas instituições) ainda tratam com
567
desdém. Nesse sentido, essa linguagem e terminologia podem funcionar
muito prejudicial, causa raiva. Destrói e derruba vidas. Causa divisões e danifica
uma alma inocente (Reddy et al 2007: 11). Visto do ponto de vista da sobrevivente
linguagem (ou a leitura da violência como curativa) sugere um status elevado para
Amandla oferece uma alternativa de como o termo correctivo pode ser usado em
568
nossa sociedade. Mtetwa inverte o termo correto, redirecionando-o para longe
ainda mais aqueles que são contra homossexuais e aqueles que ainda não se
Ela argumenta que eles devem "corrigir" seus caminhos, direcionando nossa
individuais.
O uso desse termo pode ter sido efectivo ao mesmo tempo, mas suspeito que ele
que lutar com várias questões relacionadas ao uso do termo estupro correctivo.
Entre muitas perguntas, tivemos que considerar os motivos pelos quais uma
reconhecida como tal. Além disso, tivemos que interrogar a utilidade de rotular
por uma chamada para acabar com o termo completamente. A resposta para isso
foi encontrar um termo de substituição que captura similarmente o estupro
569
deveriam isolar grupos ou indivíduos específicos. Em vez disso, a violência deve
ser pensada em seu sentido amplo, além de ser específica sobre quem é o alvo.
prejudicar as mesmas pessoas para as quais foi projetada para ajudar, além de
excluir algumas de grupos semelhantes. Acima de tudo isso, é importante
silenciar, por violar nossos corpos e pelo uso da linguagem, ao mesmo tempo em
que avançamos em ganhos patriarcais.
Muitas de nós confiam no sistema de justiça para justiça. No entanto, ainda existe
por vários motivos. No artigo de Muholi (2004), a maioria das mulheres com quem
ela conversou nunca relatou seus casos à polícia, e muitos dos casos relatados
570
Para muitas lésbicas negras, a justiça é adiada ou não é obtida, mesmo quando
vezes somos lembradas de quão falho e limitado o sistema judicial pode ser. Os
efeitos disso podem ser sentidos de maneiras muito pessoais (e, portanto,
políticas).
Para ilustrar isso, farei referência a um dos poucos casos bem divulgados, o de
assassinatos de uma lésbica negra, o caso de Eudy pode ser considerado muito
limitações.
Como muitos activistas, acompanhei esse caso e muitos outros de muito perto,
571
O tribunal de Delmas, a cerca de 80 km de Joanesburgo, no leste de Rand, é
mais antigos da história jurídica da África do Sul. Este foi o local da acusação do
famoso ícone dos direitos dos gays e do activista anti-apartheid e AIDS Simon
Nkoli, junto com os então líderes políticos alinhados pelo ANC. Pode-se dizer
que, como no julgamento da traição, o caso de Eudy Simelane foi político. Fora
solidariedade, em mais um caso do que tem sido cada vez mais entendido como
O julgamento estava marcado para começar às 10 horas, mas devido a atrasos, foi
esse atraso e o que alguns activistas chamaram de "justiça atrasada". Muitos dos
mandados para casa 15 minutos após a chegada porque um dos acusados havia
sido convocado para outro julgamento em outro tribunal por uma série de outros
crimes. Aparecer na corte, apenas para ser submetido a outro atraso foi descrito
por alguns dos manifestantes do lado de fora do tribunal como sendo 'redigidos
572
caso muito pessoal. Para alguns, o resultado do caso determinaria como e quando
passado por acomodar pessoas gays e lésbicas e que havia gerado muitos grupos
desafiou seu próprio senso de segurança e sugeriu que seu município não era tão
fora desse tribunal era, de certa forma, uma recuperação de seu espaço e
Foi o acusado número quatro, Mpiti, cuja declaração abalou muitos de nós no
tribunal. Lendo sua declaração, Mpiti parecia relaxado. Ele se declarou culpado
reconheceu Themba (outro coacusado). Themba me deu a faca e disse que "devo
fazer alguma coisa", pois ela o reconhecia e podia ver quem ele era. Ele confirmou
que ela o conhecia e Themba disse "ela vai nos prender", então eu "preciso fazer
573
Ao fazer um interrogatório após ler sua declaração, Mpiti afirmou que ele não
conhecia a falecida antes de matá-la, que sua identidade só lhe foi revelada após
sua prisão: ‘Fui informado após minha prisão de seu nome e de onde ela é.
também ouvi sobre a orientação sexual dela enquanto estava sob custódia.
A essa altura, todos nós, prestando atenção nos processos judiciais, já tínhamos
notado o que o juiz decidiu perder. Mpiti reconheceu que seu coacusado
(Themba) havia sido reconhecido por Eudy. Mais tarde, ele alegou não ter
conhecido Eudy antes de matá-la. Também é indubitável que Eudy era uma figura
bem conhecida em seu município. Não é comum uma jovem negra que joga na
Foi a intervenção do juiz que irritou muitos de nós neste tribunal. O promotor
O protector injusto
574
A afirmação do juiz Mavundla durante o interrogatório de Mpiti foi uma
Ele negou o conhecimento comum de que Eudy era conhecida pelos autores e
possibilidade de Eudy ter sido alvo especificamente por ser lésbica, um factor
importante que faz com que muitas lésbicas se sintam vulneráveis e inseguras
qualquer pessoa ou vítima de crime possui apenas uma identidade durante esse
de cada indivíduo. É uma falha não reconhecer que Eudy era uma jovem lésbica
comunidade enquanto cuidava de sua família. Em vez disso, durante esse caso,
não podia cuidar de sua namorada, um filho cuja mãe doente precisava dele; a
575
lista era interminável. Em suma, Mpiti foi vítima de circunstâncias que o levaram
entrelaçadas de Eudy. Ela só deveria permanecer sem nome, sem rosto, sem
Como Sen coloca, "em nossas vidas normais, nos vemos como membros de uma
sujeito. Assim, afirmar que a orientação sexual 'não tem significado' não era
apenas um julgamento moral ou ético indesejável, mas também uma descrição
limitada ou uma 'abordagem solitarista' (Sen 2007: xii) para entender e descrever
as muitas maneiras pelas quais as pessoas vivem suas vidas. Portanto, roubar um
indivíduo da multiplicidade e interseccionalidade de suas identidades é
violência (Sen 2007: xii). Assim, quando um caso está sendo tratado, pelo menos
no nível do tribunal, espera-se que todos os motivos pelos quais uma violação
violação e assassinato.
O juiz estava errado, mas pode não ter sido inteiramente culpa dele. Como Sally
576
geralmente tem como premissa uma hierarquia de classes sociais -
vivemos, não é de surpreender que nossas vidas como lésbicas negras de classe
média ou baixa, mesmo no contexto da corte, constituição progressiva e discurso
577
adicionais que nossas vidas e experiências como membros de raça, classe, género
Notas
Simon Nkoli foi preso em 1985 e acusado de traição. Ele estava detido por supostas actividades terroristas, juntamente com
outros 21 activistas. O julgamento de traição de Delmas foi um dos processos judiciais mais prolongados da África do Sul, que
terminou em 1988 com a absolvição de Nkoli.
Sou grato a Sarai Chisala por esse insight e por seus argumentos esclarecedores
Referências
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Gunkel, Henriette (2010) The Cultural Politics of Female Sexuality in South Africa, New York, Routledge
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and why hate crime laws won’t save them’, N. U. Review of Law and Social Change, 27: 257–80
Mkhize, N., Bennett, J., Reddy, V. and Moletsane, R. (2010) The Country We Want to Live in: Hate Crimes and Homophobia in
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578
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Sen, Amartya (2007) Identity and Violence: The Illusion of Destiny, London, Penguin Books
Wittig, Monique (1993) ‘One is not born a woman’, in Abelove, Barale, M.A. and Halperin, D.M.
579
580
35 – ARQUIVO ÍNTIMO DE ZANELE MUHOLI: FOTOGRAFIA E VIDAS
LÉSBICAS PÓS-APARTHEID – Kylie Thomas
de ocupar uma posição tão "fora da lei"? Como o ir além do reconhecimento abre
experiência lésbica e o luto pela perda lésbica. Dessa forma, este capítulo
581
argumenta que o trabalho mais recente de Muholi, 'queers', tanto as convenções
subjetividade lésbica.
Zanele Muholi é uma das poucas artistas mulheres negras que se destacam no
campo das artes visuais e seu trabalho foi exibido na África do Sul e no exterior.
Ela é certamente a artista lésbica negra mais visível na África do Sul e recebeu
inúmeros prémios por seu trabalho. Suas fotografias também geraram muita
Lulu Xingwana, saiu de uma exposição que continha várias fotografias de Muholi,
alegando que eram "imorais, ofensivas" e trabalhavam "contra a construção da
sobre as tácticas que Muholi emprega em suas fotografias de lésbicas negras que
582
convenções da fotografia memorial, a fim de garantir um lugar para assuntos
isso, começo a descrever algumas das maneiras pelas quais as fotografias podem
passar a uma leitura de sua mais recente série de retratos, "Rostos e Fases". O
limite do que pode ser falado, e as fotografias de Muholi marcam esse limite,
583
o cânone" ⁷. Ela rapidamente repousa a noção de que o cânone é bastante
todos os homens em nossos arquivos culturais, mas agora nossa própria luta está
sendo escrita fora da história,⁸ Pollock começa suas reflexões sobre o lugar das
com uma série de cartões postais que retratam The Three Graces, uma escultura
no museu de arte é tão naturalizada que não vemos mais sua estranheza e, como
um ponto limite pedregoso para a práctica e a teoria feministas da arte. Seu livro
de Pollock nos lembra que os arquivos são importantes. O que está incluído
molda para sempre o que pensamos que éramos e, portanto, o que poderíamos
nos tornar. A ausência de histórias das mulheres nos arquivos mundiais definiu
uma visão do ser humano sobre o padrão de uma masculinidade privilegiada. '9 A
584
preocupa-se com muitos dos mesmos problemas de visibilidade e invisibilidade
individuais adicionais lá: 'Only Half the Picture' (2006); 'Ser' (2007); 'Faces e Fases',
exibido pela primeira vez em 2009; e "Indawo Yami" (2010). Suas exposições na
2007, juntamente com a fotógrafa lésbica branca sul- africana Jean Brundrit,
Muholi facilitou uma série de oficinas fotográficas 'para reunir opiniões diversas
585
Empoderamento das Mulheres, uma organização que ela cofundou e para ensinar
estabelecidas ao longo do tempo por artistas como Judy Chicago, Cindy Sherman,
Laura Aguilar e outras. Em sua obra, existem numerosas obras que proclamam
sua postura transgressora e perturbadora, e essas são talvez as imagens que são
mais fáceis de categorizar, mais fáceis de descartar - como alguns críticos têm -
como 'arte não muito boa' que, no entanto, faz um ponto político importante .12
Algumas das imagens do livro de Muholi, Only Half the Picture, e algumas que
aparecem em sua série mais recente de 'Being' estão entre aquelas que invocam
uma fotografia em preto e branco de uma mulher negra de seios nus amarrada a
e a série 'LiZa' de 2009 podem ser lidas como testando os limites da propriedade
projecto de Muholi está alinhado com a posição feminista dominante que Pollock
586
representadas sejam reconhecidas como mulheres. O projecto de Muholi, que ela
articula em seu site como 'mapeando e arquivando uma história visual de lésbicas
feminista que Pollock articula também, abre uma maneira de considerar quais
podem ser os limites de 'diferenciar o cânone'. O que acontece quando formas de
permanecem?
587
A primeira monografia de Muholi, Only Half the Picture, trabalha
Nas unhas dos pés rachadas das mulheres em 'Triplo III', por exemplo, há sinais
de sofrimento; nas marcas escuras ao longo das bordas externas das coxas das
manchas. .13 Leia em conjunto com as outras fotografias da série 'Triple' que
'Triple III' são amplamente apagadas. Sua dimensão erótica chega a frente. A pose
das três mulheres fala da quietude do sono e mostra a ternura protectora dos
desses corpos no chão. Eles são mostrados descansando em uma faixa de carpete,
estranho e depois desaparecem para se fundir com o que parece ser um piso de
pedra que se estende atrás deles. As marcas nos membros dessas mulheres
588
evocam a história da escravidão, convocam fotografias dos corpos dos mortos no
genocídio de Ruanda, fornecem um eco visual das pernas das alunas que foram
Sul em 1976. O contexto mais amplo do livro de Muholi, que inclui fotografias de
que dentro do quadro do 'Triplo III' não há medo, apenas parentesco, intimidade,
amor. Mas se é assim, então o medo está além das fronteiras do que é tornado
visível aqui e assombra esse belo conjunto de formas nuas. Aqui, como nos
trabalhos que fazem parte de sua série retratando lésbicas que foram sujeitas a
crimes de ódio que eu discuto abaixo, Muholi é magistral ao retratar a
Em 'Ordeal, 2003', há uma linha de fúria que atravessa o braço da mulher que se
turvo, movendo-se tão rápido e tão escorregadio com a água que parece não ter
mãos ficam irreconhecíveis, uma massa pulpy, um órgão interno exposto ao ar,
Esta é a primeira de uma série de fotografias em, Only Half the Picture, que
retratam os sobreviventes de crimes de ódio. É seguido por uma página dupla de
589
emitido pelo Serviço de Polícia da África do Sul em Meadowlands, Soweto.
Há também uma linha que lê ‘ATT. Estupro + agressão G.B. [dano corporal grave].
A fotografia que aparece no verso lança luz por que esse número de caso escrito
retrato recortado de uma mulher visível da cintura até um pouco acima dos
joelhos. As linhas verticais de sua calça de pijama para uso hospitalar se inclinam
para as partes violadas que não podemos ver. Ao redor de seus pulsos há três
etiquetas de identificação que significam seu status de paciente interno, mas aqui
número do caso que precede imediatamente essa imagem, as lésbicas que são
estupradas muitas vezes não são acreditadas e são tratadas como criminosas
590
acusados de terem causado violência sobre si mesmos. O conceito de estupro
lésbicas fizeram algo errado no início e que o estupro é aquele que corrige as
para punir e corrigir lésbicas na África do Sul: 'Os estupros curativos, como são
Uma das fotografias mais dolorosas da obra de Muholi é 'Hate Crime Survivor II'.
a lógica fatal e falha que procura culpar as lésbicas que foram estupradas. Numa
enfermaria de hospital, em uma cama alta coberta com um lençol branco, há uma
legenda que acompanha a fotografia que torna a figura legível - sem a única linha
que nos diz que, o que estamos olhando é uma pessoa, uma 'sobrevivente', não há
como saber com certeza que a forma na cama é uma forma humana. O ângulo da
camera torna a cama enorme e encurta a figura para que a pessoa pareça
591
encolhida, quase lá. A fotografia retracta como a forma humana é superada pelo
estar lá, mas a quem não podemos ver, não foi feita 'mulher', mas foi totalmente
cicatriz que se estende ao longo da coxa dessa mulher significa que não pode
própria cicatriz, uma lágrima alongada, uma abertura em seu corpo agora
fechada, como a mão enrolada da mulher retractada em 'Hate Crime Survivor I',
neste caso, tanto do nosso olhar quanto da memória traumática do ataque, mas,
ao mesmo tempo em que são passivos, são mãos que contam uma história de
derrota. Se existe um pontual aqui, não é a cicatriz que não podemos deixar de
ver, mas a luz que captura o polegar dessa mulher, seus dedos enrolados, a
592
A série de crimes de ódio de Muholi nos pede que pensemos de maneira diferente
a pensar o que são ou podem ser lésbicas. Eles nos mostram que ser lésbica não
nada, o vazio no centro da ficção que anima todas as formas de ser de género.¹⁷
Enqueerecendo o arquivo
As maneiras pelas quais a escultura das três graças de Antonio Canova pode ser
pose das Três Graças, com os braços um ao outro e a cabeça raspada, o corpo
escultura por LaGrace Volcano no livro de Parveen Adams, The Emptiness of the
593
ponto que ela argumenta: "Essas mulheres estão além do reconhecimento¹⁹. Ela
continua explicando:
essas mulheres, não é porque elas são reconhecidas como outra coisa. É
LaGrace inaugura uma maneira de olhar que desfaz nosso olhar de género. O
poder transgressor da imagem reside no facto de que não podemos
ser posicionado fora dos reinos do legível. E isso nos leva ao significado do
594
os militares e os religiosos. Áreas vastas da vida social e um grande
uma forma de apagamento. Aqui está central a questão do que o próprio arquivo
arquivo é a lei do que pode ser dito", qual é o lugar dos sujeitos
ilegais que não estão apenas além ou fora da lei, mas que significam que a lei está
sendo prejudicial?
595
processo que o teórico literário Ross Chambers chama de 'sequestro de género'
23 e que aqui desenho e recodifico como 'passageiro', o trabalho de Muholi realiza
representação.24
Roland Barthes²⁵
chave para pensar em como as fotografias são lidas. A maioria das fotografias
pertence ao estúdio, aquilo que aprendi a ver por aculturação e aquilo que
pontual: O segundo elemento irá quebrar ou (pontuar) o estúdio. Desta vez, não
sou eu que a procuro (ao investir o campo do estúdio com minha consciência
596
soberana), é esse elemento que surge da cena, dispara como uma flecha e me
de leitura de fotografias que ilumina como todas as leituras são culturais - mas
com o modo como o trabalho dela em relação aos termos influentes de Barthes
lança luz sobre as implicações de "olhar estranho" além dos estudos de gays e
lésbicas. Em outras palavras, não é simplesmente que o método de Barthes
Muholi mostra que a leitura com e para o pontual pode ser entendida como um
modo de leitura queer, uma abertura para formas de ver que perturbam o meio
olhar.
certa forma, desistir".27 Revelar as maneiras pelas quais sou afectada por uma
fotografia deve ser exposto, descrevendo o que vejo, um acto que me 'exclui', um
que posiciona meu eu íntimo em uma esfera pública. 'Desistir' antes de uma
fotografia é também ocupar uma posição de sujeito além ou fora da minha. O que
a ministra poderia ter visto se ela tivesse ficado para olhar as fotografias de
597
Muholi? A qualidade incendiária dos trabalhos que a Xingwana fez e não viu,
entrada para um arquivo íntimo, que é encarnado, aquele que é formado através
do amor.
Estado Seward: ‘A fotografia é bonita, assim como o menino: esse é o estúdio. Mas
o ponto é: ele vai morrer ”.28 Barthes rapidamente vê que todas as fotografias
tornam visível nosso ser em direcção à morte. ‘Li ao mesmo tempo: será e já foi;
Observo com horror um futuro anterior do qual a morte está em jogo. Ao me dar
598
'retornando' o olhar do espectador, a maioria são retratos de meio comprimento
e a data em que a imagem foi tirada. A uniformidade das imagens indica que elas
também serve a outro fim - ela funciona como um sinal visual de uma experiência
gerações futuras notem que estávamos aqui.'30 Em sua descrição do trabalho que
para outro. '31 Aqui Muholi usa o termo 'passes' no sentido de 'faleceu' ou 'morrer'.
Uma análise do trabalho 'Rostos e fases' também revela como a 'passagem' opera
de outra maneira através dessas fotografias que tornam visível a morte de
599
forma de passagem entre posições fixas de género. Esses retratos permitem
memorial para abrir um espaço para luto e, ao mesmo tempo, queers que
espaçam justapondo imagens dos mortos com vários retratos de assuntos
estranhos vivos.
A questão do que está em jogo nesse acto de passar marca a linha ténue entre
entrada no reino da legível. Essa invisibilidade pode ser psíquica, uma perda
assassinato que afecta lésbicas em todo lugar da África do Sul hoje. A declaração
mas ao mesmo tempo os posiciona entre os retratos dos vivos. Aqui a presença
dos mortos sinaliza a posição precária dos vivos e dos vivos nos lembram a
600
"Rostos" articula a dor colectiva que vivemos na comunidade devido à
filhos.³²
Posicionar os retratos dos mortos entre os que ainda vivem implica solidariedade
com os mortos, uma comunidade que atravessa a fronteira entre a vida e a morte.
601
As fotografias da série de mulheres que morreram - Busi Sigasa, Penny Fish e
mas leram em relação aos outros retratos da série que esses códigos são
Gugulethu, Cidade do Cabo, 2008' e 'Gazi T Zuma, Umlazi, Durban, 2010'. O que
resulta é uma forma de memorial queer que torna visível a vida e a morte de
mortes de lésbicas que Muholi não permitirá que elas passem, mesmo que elas
movem através e além de nossas percepções sobre o que pode ser a subjetividade
602
implicar em abrir mão da estranheza? No complexo desconhecimento das
constituem "Rostos e fases" sugerem que isso não precisa ser assim.
de ódio, bem como algumas das respostas que seu trabalho gerou - como a de
Xingwana - mostram que essa demanda ainda precisa ser atendida.35 A inclusão
Este ensaio apareceu de uma forma um pouco mais longa na revista Safundi em
2010.
Notas
603
Van Wyk 2010. Para a declaração da media, consulte Xingwana (n.d.). Também é instrutivo ler as declarações do ministro sobre
arte que promove a construção da nação. Veja, por exemplo, seu endereço (Xingwana 2009) no lançamento do Mês da
Regeneração Moral.
Emprego o termo 'queer' para abrir uma maneira de pensar sobre sexualidade e subjetividade que atravessa e procura desfazer
os limites entre categorias de identificação como 'gay', 'lésbica', 'hétero', 'bissexual' e 'intersex
Eu desenho a frase 'estruturas de reconhecimento' do teórico psicanalítico Parveen Adams (1996). O termo implica modos de
ver socialmente construídos e modos pelos quais alguém se torna reconhecível como sujeito, bem como a dimensão psíquica
das operações do olhar.
Uma seleção de fotografias dos participantes do workshop, uma descrição do projecto e alguns dos trabalhos fotográficos
muito interessantes de Jean Brundrit que, como os de Muholi, se envolvem com a experiência lésbica, (in) visibilidade e o
arquivo é coletado em Brundrit 2008.
Para obter mais informações sobre o activismo visual de Muholi, consulte seus projetos em seu site wwww.zanelemuholi.com.
Veja as críticas feitas nos primeiros trabalhos de Muholi por revisores como Smith e reimpressas em Muholi (2006: 90-1); e
Hogg, citado em Lewis (2005: 17).
A imagem pode ser vista no site da Michael Stevenson Gallery (Muholi 2005). 14 Veja esta e outras imagens em Muholi (2005).
Para outras leituras desta fotografia, consulte Lewis (2005) e Gunkel (2010).
O texto-chave para pensar o género como performativo continua sendo o problema de género de Judith Butler, que pergunta,
entre outras coisas, como a própria linguagem produz a construção fictícia do "sexo" (Butler 1990: xi).
Della Grace agora é Del LaGrace Volcano, uma artista visual que varia de género. Consulte www.dellagracevolcano.com.
604
21 Pollock (2007: 12).
Chambers (2004: 29). Veja também Chambers (1998) para um excelente estudo de como escrever a experiência de viver e
morrer de aids testa os limites da escrita autobiográfica.
O ensaio de Natasha Distiller 'Outra história' (2005) oferece uma reflexão crítica sobre os limites da e para a experiência lésbica
na representação. Curiosamente, Muholi se refere ao argumento de Distiller em sua discussão sobre sua motivação para
produzir 'Faces and Fhases' e afirma: 'Eu queria resistir à representação heterossexual de lésbicas por meio de retratos'
(Muholi 2009a: 26).
29 Barthes (1981).
30 Muholi (2010).
32 Muholi (2010).
33 Para uma seleção representativa de imagens, consulte Muholi (2009b e 2010). 34 Adams (1996: 138).
35 Veja, por exemplo, o recente incidente no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em Genebra, em que o
representante da África do Sul, Jerry Matjila, se opôs à inclusão da orientação sexual em um relatório sobre o racismo, para
fazê-lo, seria "rebaixar a situação legítima da vítimas do racismo (Fabricius 2010: 3).
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women exhibition’, Department of Arts and Culture, http://www.dac.gov.za/media_releases/2010/04-03-10.html, accessed 2
July 2010
607
608
36 – O RETRATO – FICÇÃO – Pamella Dlungwana
Jabu fica de pé, cabeça e os ombros, com o pai, num retrato pendurado no salão.
Eles parecem irmãos, na verdade, o pai dela em forma e mais velho e Jabu magro
e mais jovem. A única diferença é o grau de cabelo e o rosto sem pelos. O pai dela
tem barba, é dura e preta, pode ser espessa e grossa, mas a maneira como pega
o sol torna a aparência mais dura e áspera. Acabei de decidir que Jabu é ela; nós
não tivemos essa loucura antes. Bobo, sério, quando você considera a realidade
com a qual namoramos há três meses. Jabu simplesmente foi Jabu. Em Zulu, Jabu
Essa pergunta é recebida com um silêncio vazio, uma bagunça nos bolsos de Jabu
No caminho para o carro, quero perguntar o que o caixa quis dizer com a
pergunta dela, por que Jabu respondeu e não a corrigiu a princípio. O silêncio
que pensávamos ter deixado na fila de check-out nos seguiu até o carro e até o
apartamento de Jabu em Berea.
609
Fico ali, entre a geleira e o sofá, no salão de Jabu, olhando o retratos de pai e filha,
descoberta. Jabu passa o resto da tarde na cama; de repente ela não se sentiu
minhas costas. Pai e filha, pai e filho, monitoram todos os meus movimentos.
Eu espio dentro do quarto antes de sair; Jabu está a dormir, eu acho. Tranco e
talvez. Eu deveria estar em casa a cozinhar papa para a minha família também. A
ao sol. Jabu veste calças, moletons e shorts curtos com blusas e blusas de
da Air Jordans. Fico aliviada que suas mãos não serem patas calejadas e lembro
que elas são grandes, da mesma forma que o resto dela geralmente é grande. Eu
610
amo Jabu antes de amar ela e ele juntos, antes de me perguntar por que nunca
mãe. Vou cozinhar frango e arroz; vou fazer um caril rápido, talvez peixe. Vou
está cheio, é a sardinha que eu posso abrir mais tarde, derramando peixe em um
estendido acima da minha cabeça. Sua axila está na minha cara e sua barriga
pressiona contra minha bunda. Suponho que ele esteja com desodorante, mas há
um cheiro de suor no seu perfume; sua axila está respirando directamente no
meu nariz. Jabu sempre cheira fresco; as garrafas de Calvin Klein estão
semana. Farejo entre as aulas quando sinto falta de Jabu; parece que, se eu
Eu olho para o rosto do homem gordo e de repente seu bigode começa a crescer
chegar em casa para cozinhar peixe enlatado e arroz e ver minha família comê-
lo.
611
Às oito Jabu liga. Ela quer saber se eu cheguei em casa em segurança, seu tom é
plano, anestesiado por qualquer emoção. Estou bem, cheguei em casa bem, fixe
Vou dormir cedo e não consigo dormir. A imagem de Jabu quando a deixei na
cama me segue e não sei o que perguntar quando nos encontrarmos novamente.
De manhã, espero receber a ligação de Jabu. Não vem. Não tenho dinheiro, minha
mãe esqueceu de nos deixar o dinheiro do almoço novamente e não tenho
telefone celular. Não sei se vou ver Jabu à tarde e, assim, arrasto os pés enquanto
me preparo para sair de casa. A irmã dela liga apenas alguns minutos antes de eu
sair. Eu devo ir ao Hospital da Cidade a caminho da escola. Jabu não está bem.
Ela desliga.
pela minha escola, apesar de estar atrasada 15 minutos e o portão estar fechado e
do hospital tem uma recepcionista; ela já me viu aqui antes. Passei alguns dias no
lobby, a espera para ver minha tia que tem asma. Conversamos em todas essas
ocasiões.
612
‘Não, ela está bem. Estou aqui para ver um amigo, respondo, passando correndo
doente de novo, não quero que essa mulher conte histórias. Estou escondendo
Jabu. Eu nunca escondi Jabu antes. Estou escondendo Jabu ou evitando responder
perguntas sobre abandonar a escola? Eu não tenho uma resposta para isso. Estou
sozinha no elevador, mas os muitos eus que olham para mim não parecem muito
orgulhosos.
Jabu esta numa ala feminina, uma ala para mulheres. As paredes são de um
para pacientes. Quando elas perguntam quem eu estou visitando, eu lhes dou o
‘A paciente cortou seu peito ... algo como uma navalha. Sim, com uma navalha, eu
acho. Foi um corte suave. Nenhum acidente. As fotos que tiramos dos seios
mostram outros cortes, nas axilas e nos próprios seios. Esta não é a primeira vez.
horário de visita, Jabu e eu não somos família. Ela está sedada, está vinculada a
613
medicamentos e ela não pode falar. Eu me inclino hesitantemente contra o
batente da porta, silenciosamente a espera que toda a cena desapareça, que Jabu
esteja bem, nas palestras no ML Sultan e não deitada na cama sendo analisada.
Esses estranhos viram os seios de Jabu. Eles têm uma pasta cheia de fotos deles
pequeno enclave estão eles que minha presença ainda não foi notada.
Jabu vira um pouco; ele esteve acordado esse tempo todo. Ele ficou acordado
enquanto esses sete ou oito académicos famintos por fofocas e vestidos de bata
estavam debruçados sobre seu arquivo.
‘Oi, com licença. Posso falar com ele sozinho, por favor?” É assim que eu pratico
há horas, como algo que costumo dizer com frequência. Eles olham para mim, de
uniforme, com minha mochila. Eu devo ser a irmã, uma de muitas. Eles afastam,
cama de Jabu.
Não pode ser tão ruim, quero dizer. Não sei por que, mas essa ideia morre na
minha garganta. Não tenho ideia de como deve ser, bom ou ruim. Eu fico lá, como
614
"Eu odeio inglês", Jabu administra. Ele levanta a mão e pega a minha. Estamos
tocando ao fundo. Suas mãos estão atadas com ataduras, bem como o tipo que
ele mantém em sua mesa de cabeceira. Seu polegar esfrega no centro da minha
chão, agarrei uma cadeira e passei o resto da manhã conversando com meu
parceiro.
615
31
3
616
37 – VER ALÉM DOS BINÁRIOS COLONIAIS: DESFAZENDO O DISCURSO
DA HOMOSSEXUALIDADE DO MALAWI – Jessie Kabwila
Introdução
Kaliyati e artigos do Nyasa Times sobre o Movimento dos Direitos dos Gays do
Malawi, argumento que, dado o nível de HIV e SIDA1 que o Malawi está
617
enfrentando e o carácter imperial, parasitário e abutre do discurso sobre direitos
categorias;
618
Abordagens ancoradas em binários polarizados só problematizam e aumentam
começa com uma visão geral da cobertura da media impressa, ² com foco nos
619
Os meios de comunicação do Malawi, especialmente os impressos e os rádios4 (a
perguntados por que fazem isso, eles relatam que é por razões comerciais; os
torna mais famosos que os outros e cria uma sensação de intriga e suspense ao
seu redor, aumentando assim suas vendas. A media malauiana apresenta homens
funerais para algumas etnias, mas isso não é tratado como uma práctica
cruzado é retratado como uma práctica que não está ligada à sexualidade,
identidade sexual ou questões de identidade, mas como uma ferramenta de
620
entretenimento que ambos os sexos podem praticar. A homossexualidade, por
outro lado, é geralmente vista como uma nova ameaça, um 'pecado' alienígena
que precisa ser erradicado muito rapidamente antes que se espalhe e contamine
de Gays e Lésbicas do Malawi", sediada na África do Sul. Ele descreveu seu status
legal e declarou que planejava apresentar seu pedido de legalização na próxima
feminista que viu o cartão da cultura, etnia, género e regionalismo em suas lutas
621
Eu estava interessada em ver como os malauianos “aprendidos” reagiriam a esse
problema que havia sido jogado em seus rostos. Eu queria ver se a discussão seria
O que se seguiu foram pontos de vista que citaram a religião e a cultura como
foram ataques verbais directos ao membro da equipe que se acredita ser gay e
expressaram expressamente desdém pela pessoa e por qualquer pessoa que "faça
o que faz". Outros e-mails rotularam a práctica como algo compreensível quando
feito por prisioneiros, mas não por malauianos livres. A palavra operativa usada
para vincular essa práctica à prisão era matanyula, um termo depreciativo que se
refere aos homens que participam de sexo anal. Um dos e-mails lamentava por
que um homem não queria dormir com as inúmeras mulheres bonitas, enquanto
outro expressava alegria pelo facto de que quanto mais gays houvesse, mais
622
mulheres haveria à sua disposição. Em geral, a heterossexualidade foi rotulada
como norma, qualquer coisa fora dela retratada como uma anomalia e, portanto,
O cartão makwerekwere
Essa reacção me lembrou o modo como vivenciei a reacção de Botswana 'ao HIV
moradores locais pedirem que eles fossem enviados de volta para suas casas
africanos, não faziam parte dos makwerekwere que vendiam HIV e auxílios;
623
foram os "outros" africanos negros de países pobres como Zimbábue, Malawi e
emprego e mandados para casa, depois de dar positivo. Fiquei enfurecida com o
convidado a fazer esse teste. Decidi registrar meu desgosto com meu
Esse inglês, que por acaso era amigo e vizinho, concordou em me acompanhar,
nossa cara que era política do governo que o teste fosse feito por expatriados
'negros' (leia-se os negros africanos porque não são necessários euro- ocidentais
e afro-americanos).
624
'estrangularem' uma práctica que consideraram negativa e prejudicial e que não
fossem perfeitos e bons. A síndrome de culpar o estrangeiro não parou por aí.
2006: 1). Ela rapidamente jogou o cartão de cultura: ‘Nossa cultura não tolera a
homossexualidade. Esses turistas, quando chegam, devem aprender nossa
cultura, não nos apresentando uma cultura ruim como a homossexualidade, que
é desnecessária no Malawi (Jomo 2006: 1). Ela passou a culpar os turistas que
625
era seu principal meio de subsistência. Neste artigo, não havia relato de planos
comunidade. Pergunta-se por que, dada a crença em sua cultura que ela atestou
em vez de recorrer à abordagem de cima para baixo e usando seu poder e status
colonialista que "veio, viu e conquistou", passando a prescrever o que era bom
posição.
A tomada parlamentar
626
Ela foi uma das participantes, embora não tenha participado de todo o workshop
vindo à tona. Eu citei a saga de Mary Nangwale13 como um exemplo para ilustrar
por que os homossexuais não saíam para lutar por seus direitos sexuais, por que
para entender esta questão melhor. Alguns deles até dão exemplos de pessoas
gays e lésbicas que eles conhecem, citando exemplos históricos de pessoas que
foram avisadas por seus avós. No final da discussão, alguns dos parlamentares
627
gostaram da minha apresentação. A visão geral era de que, tanto quanto eles
podem perguntar e se abrir sobre o assunto, a conclusão é que eles não podem
endossar aquilo que enfurece e é visto como um tabu por seus líderes
cujos votos eles dependem para seus empregos. Eu ainda enfatizei que eles, como
de ambos, pedindo sua prisão onde quer que fossem encontrados no Malawi.
Kaliyati não foi a primeira política a pedir a prisão de homossexuais. Ela estava,
claramente, seguindo a sugestão do Presidente Mugabe, do Zimbábue, que em
argumentar que o casamento entre pessoas do mesmo sexo era uma ameaça à
2). Seu discurso foi aplaudido por padres anglicanos na plateia e o Zimbábue é
628
A rejeição de Henderson
Para apreciar o peso que essa voz carrega, é importante conhecer a composição
A rejeição do bispo Nick Henderson, que em Julho de 2005 havia sido eleito pela
diocese de Lake Malawi para servir como bispo, mas que foi desafiado por
629
relatos de que ele era gay, alegando que o apoio de Henderson aos direitos dos
sozinho, argumentando que ser gay vai contra os valores africanos. O bispo
homens que desejam fazer sexo com homens. Quanto às mulheres que querem
fazer sexo com mulheres - para a maioria das pessoas nas áreas rurais, é
630
O argumento para legalizar a homossexualidade no Malawi é escasso, mas
homossexualidade no país. O centro disse que queria que essa proposta fosse
deveriam aceitar que havia gays e lésbicas em sua comunidade e que eles
precisavam ter permissão para sair ao ar livre e viver livremente. Isso não
poderia acontecer até o centro 'abrir a mente das pessoas' (Namangale 2005: 1,
631
Começando com o MHRRC, as duas palavras destacadas acima, "internacional" e
com o orador. Quando alguém tenta alcançar, para ser entendido pela nação do
Malawi - um povo que foi colonizado pela Europa e que luta contra várias formas
orientado para o Ocidente, pedir aos malauianos que façam uma mudança de
está atrasado e que não tem agência para traçar seu próprio caminho nesse
assunto. Phiri precisa lembrar que este é o tropo exato que foi usado para
tendência continua até hoje. Phiri precisa lembrar que a palavra "internacional"
632
O oposto de 'aberto' é 'fechado' e quando Phiri diz que o centro quer abrir a mente
das pessoas, isso implica que suas mentes estão e / ou foram fechadas, esperando
serem abertas por pessoas como ele e pessoas do seu centro. Essa abordagem
humanos usado pela Europa e pela América do Norte. Em uma entrevista comigo
maneira que não a considerava igual a outros continentes, uma maneira que não
respeitava seu povo e que, em vez disso, colocava o Ocidente no centro do mundo
explicando como a sofisticada arte africana que eles encontraram foi rotulada
visões, fica evidente por que as visões de Phiri podem ser problemáticas para a
África de hoje, que está lutando para se sustentar, enfrentando tantos obstáculos
exotização não apenas das identidades africanas, mas também das sexualidades
633
definia o africano como homem e mulher excedidos (Salo 2001). O povo da África
e do Malawi, neste caso, está lutando contra a imagem de ser anacrônico16 pelo
iluminado e selecionado, os três Reis Magos bíblicos do Oriente, ou, neste caso,
Falando sobre as línguas europeias que se diz serem um presente que pode unir
chamados dons do Ocidente: 'Para saber quem eu sou (africano) e como me saí,
você deve entender por que resisto a todos os tipos de dominação, incluindo a de
Rótulos racistas
634
É crucial que aqueles que defendem a legalização da homossexualidade evitem
rótulos racistas, pois isso só problematiza a maneira como os africanos leem sua
causa. Richard Kirker, secretário- geral do pequeno, mas vocal, Movimento Gay
Lésbico-Cristão, tinha isso a dizer ao reagir à divisão que ocorreu quando a igreja
homofobia, para citar Steven Gregory (2007)? Tal afirmação acelera o discurso,
agravando a situação.
precisamos alcançar dentro de nós mesmos como povo e descobrir como o sexo
635
é definido e como foi definido antes da colonização, e o papel que o sexo e a
problema entre nós agora ou não? Como isso está relacionado ao HIV e à sida que
ter certeza de que o debate sobre esta questão pertence e participa dos
do cristianismo e islamismo.
homossexualidade.
636
"cultura do Malawi" foi citada no discurso sobre prostituição, mães solteiras e
Kapasula (2007), Nzegwu ilustra como a sexualidade das mulheres na África pós-
colonial foi policiada em questões que não eram na África pré-colonial. Usando
o exemplo de sua sociedade igbo, Nzegwu (2006) ilustra como a definição cristã
nos ideais vitorianos e usada para policiar a sexualidade europeia das mulheres
foi diferente antes dos colonialistas guiados pelo estilo vitoriano chegarem à
Igbolândia.
outro lado, quantas coisas os malauianos fazem hoje que não fizeram antes? A
637
questão da homossexualidade precisa ser desvendada e interrogada por nós
pesar e ver como nós, como povo, sentiu e sentimos sobre isso.
Precisamos nos perguntar como definimos sexo, se o sexo como um acto tem e é
matrilocalismo, e ver qual o peso que é dado às relações sexuais e como isso se
região da SADC, ainda não vi provas de uma comunidade que sancione uma
pessoa, desqualifica-a de ser membro da aldeia ou comunidade com base em
Conclusão
638
legalização da homossexualidade precisam se envolver com o Malawi como uma
Malawi fica para trás. Em uma entrevista com o autor, Nzegwu enfatiza que
se envolver com respeito, como igual. Ela precisa ser abordada com uma atitude
que a leia por dentro, e não uma que passe nas prescrições e diga 'Eu vim para
lhe dizer o que fazer' (Kabwila-Kapasula 2007: 174). O Malawi precisa usar seus
mancais para encontrar uma solução para os problemas de seu lar, porque, leste,
oeste, norte ou sul, o lar é o melhor. É imperativo que o Malawi use óculos
caseiros para ver a homossexualidade além dos binários coloniais de religião /
Notas
1. Este artigo adopta a posição de Zillah Einstein de não capitalizar letras que atingem uma presença hegemónica em
outros (1996) e aplica isso para não capitalizar HIV / AIDS, em uma tentativa de enfatizar que, embora o HIV / AIDS
seja real na África, ele não define o povo da África. É uma maneira de ilustrar que eles estão vivendo suas vidas
heroicamente diante de uma doença tão crónica. A vida continua e a África não é uma história de miséria, vitimização
e dependência, comoos media ocidental quer que acreditemos.
2. O estado moderno do Malawi tem uma população de cerca de 18 milhões e conquistou sua independência em 1964.
Seus baixos níveis de alfabetização e desafios económicos tornam o rádio a forma de media mais amplamente usada.
As taxas de alfabetização são de 49,8% para mulheres, 76,1% para homens, em comparação com o Zimbábue, onde os
números são 87,2% para mulheres e 94,2% para homens (UNICEF (2007) The State of the World's children)
639
3. Voltei ao Malawi em 2003 depois de trabalhar como professor expatriado no Botsuana por oito anos.
4. A principal estação de rádio do Malawi é a Malawi Broadcasting Corporation (MBC), e os principais jornais são The
Daily Times e The Nation.
5. A força hegemónica que trabalha de várias formas, incluindo físicas, ideológicas, institucionais e processos,
defendendo a criação e manutenção da dominação masculina nos níveis individual e / ou colectivo. Este poder é usado
por homens de qualquer idade, raça, classe ou religião para dominar as mulheres.
6. Iniciei um projecto para combater a violência contra as mulheres na universidade (UNIMA) e vi como forças
hegemónicas, como o patriarcado, se disfarçam, se reinventam e se transformam, principalmente quando estão sob
ataque. Esta é uma universidade onde uma colega activista académica feminista (professora Isabel Phiri) teve que sair
depois de fazer uma pesquisa que expôs a prevalência de várias formas de violência contra as mulheres no campus
em que ensino.
7. Fui presidente da União do Pessoal Académico do Chancellor College (2004-2006) e, em nossas batalhas contra o
governo pela liderança visionária e com o governo por salários, eu tinha visto em primeira mão como o capitalismo
protege a si próprio e luta ferozmente quando é atacado. proteger os lucros, inventando categorias de etnia, género
e idade.
8. Um local onde o pessoal académico e seus cônjuges se encontram e socializam e discutem questões académicas e
outras. Seus membros incluem professores universitários, do mais baixo ao mais alto escalão, de funcionários a
professores.
9. Eu acreditava que o email veio da comunidade homossexual clandestina do Malawi. Isso foi discutível, pois o e-mail
dizia que os membros da associação estavam na África do Sul e isso fez com que algumas pessoas duvidassem de sua
autenticidade. Coloquei o subterfúgio no medo de ser identificado, dado o status legal da homossexualidade.
11. Termo depreciativo referente a estrangeiros negros africanos no Botsuana. Emprego uma abordagem centrada no
sujeito para a ortografia, a ortografia que eu, os Chichewa / Shona Mukwek, morávamos no Botsuana, para autenticar
e contextualizar o termo.
12. Estou ciente de que o papel e a definição dos chefes do Malawi foram muito influenciados pelo colonialismo, pela
política multipartidária e pela chamada democratização do estado neocolonial. Emprego a definição pré-colonial de
chefe no Malawi.
640
13. O manuseio, pela media e pelo sistema político, do debate parlamentar sobre a primeira inspetora geral da polícia
do Malawi. Outro exemplo é o tratamento dado pela media à candidatura de Vera Chirwa à candidatura à presidência.
Ela foi rotulada como muito velha quando tinha a mesma idade de Bingu wa Mutharika, então presidente do Malawi.
Existem tantos exemplos que evidenciam o viés de género na liderança política global e no Malawi
14. Alguns parlamentares e colegas da sociedade civil disseram que ficaram desapontados com a minha escolha de
discutir a questão da homossexualidade, com um lamentando claramente que desta vez eu havia ido longe demais
em meu radicalismo.
15. Isso se baseia no artigo do Reverendo Dr. Chakanza sobre 'Percentual de religiões da população visão geral do país'
(2004).
16. Um termo usado por Fanon (1963), Boahen (1987) e McClintock (1995) para se referir à maneira como o Ocidente
considerava a África um lugar sombrio, atrasado e desamparado. Chegar a ele era visto como voltar no tempo,
enquanto ir à Europa era visto como ir à luz, desenvolvimento e ao mundo.
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Phiri, A. (2006) African Women, Religion and Health, New York, Orbis Books
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United Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR) (2006) Malawi Country Report, UNHCR,
http://www.unhcr.org/home/RSDCOI/445620472, accessed 12 May 2007
643
644
38 – O CAMPO DE TREINO DE CONSTRUÇÃO DE MOVIMENTO PARA
ACTIVISTAS QUEER DA ÁFRICA ORIENTAL: UM EXPERIMENTO EM
AMOR REVOLUCIONÁRIO – Jessica Horn
Memória
economias, perdas ... Vendo agora tão claramente que os africanx queer
645
De todos os espaços activistas em que participei desde meus dias como uma
práctica, algo elétrico nasceu entre nós no processo MBBC; algo profundo mudou
percebi que era bonita, que era queer, africana e tinha consciência'. Então, o que
foi o MBBC?
646
corpo das minhas emoções) e o engajamento de uma teoria que vivemos através
2009) em nosso trabalho, uma vez que passamos a maior parte do tempo
Ideias de nascimento
Em meados de 2010, Hakima Abbas, uma feminista africana que trabalha para a
organização pan- africana de justiça social Fahamu, abordou-me com uma ideia
647
treinamento para activistas LGBTI da África Oriental. A ideia era criar um 'campo
desde a primeira ideia, o MBBC foi um processo colectivo ... saiu de conversas
com camaradas, onde a sensação era de que precisava haver uma reinjecção da
que existem ideias excelentes e maravilhosas por aí que não estão sendo
exploradas porque estamos ocupando muito espaço.
poder para instigar mudanças. Com essa intenção e uma tremenda latitude dada
introduzir no debate gay africano. Uma dessas áreas era o bem-estar, que
648
aprendizado e discussões em andamento sobre questões-chave por meio de uma
facilitadoras Phumi Mtetwa, uma feminista socialista queer sul-africana que tem
uma aliada vocal dos direitos das mulheres, LGBTI e profissionais do sexo; e
principais facilitadoras eram africanas, mas também, sem querer, todas eram
Embora nem todx os facilitadores tenham sido identificados como queer, todx
sexo, aqueles que representavam o que Hakima Abbas descreve como 'pessoas
correr riscos, tornando as coisas diferentes e que têm paixão pelas pessoas.
Base
649
Você nunca pode esquecer quem você é e onde está na luta.
activismo. A sessão foi bastante interessante, mas naquela noite nos encontramos
dinâmica de poder que criamos. Paulo Freire sugere que, em uma práctica de
simultaneamente professores e alunos" (Freire 2005 [1970]: 72) É claro que é uma
650
leste são herdeiros de um sistema de educação colonial baseado na obediência
para chorar, espaço para esgotar-se e obter ar, e a oportunidade de segurar e ser
651
da necessidade de abrir espaço para os participantes nos envolverem também
método simples de apoio ao grupo. Ele nos pediu para formar um círculo, com
cada pessoa atrás de outra. Ele então nos pediu para tomar nota da pessoa que
estávamos atrás e ofereça- se como seu "anjo", cuidando deles durante o processo
um de nós também concordou em ser procurado pela pessoa que estava atrás de
nós; eles seriam nosso anjo. Ao oferecer esse pequeno ritual, o participante não
apenas nos deu uma estrutura práctica para gerenciar o cenário emocional do
652
pessoa e sua capacidade de cuidar de outra pessoa. Isso criou outro eixo
tempo visual com todos os momentos-chave que sentimos ter contribuído para
de aprendizado
653
Ver a sala de aula como um local comum aumenta a probabilidade de esforço
escrever!), como activista, armado com o Manifesto Africano Queer. É minha hora
de retribuir às pessoas que represento.
654
que trabalha com teatro político, compartilharam esse espírito de ensino radical
abençoado pelos ancestrais, pois era tão claro que quem se envolvia nele vinha
como homem nos guiou pela arte do sexo seguro, numa demonstração
poder da pesquisa em saúde pública, abrindo espaço para discutir questões como
os ensaios de vacinas contra o HIV, das quais alguns membros da nossa
655
cujo conhecimento e uso estamos a recuperar agora em nossa linguagem,
ampla dança provocativa entre as sessões e no final de alguns dias (levando a uma
onde as pessoas falavam de amor queer, desejo e experiências sexuais. Todos nós
incentivamos uma participante e uma fabulosa drag queen ugandense com
música, joias e um piso para 'fazer a coisa dela', inclusive numa celebração de
nós mesmos, ser fabulosos, andar e saber que seus irmãos e irmãs seguram suas
costas.
656
encerrar os treinamentos residenciais com todos escrevendo afirmações um
maneira que sabia, tocando uma música da ópera Farinelli, pedindo aos
essencial. É uma parte simples e bonita do que significa estar vivo. Para mim,
ambos os sexos. Acabou não sendo uma montanha muito grande para escalar,
pois todos trabalhamos para nos encontrar como éramos (inclusive em nossas
657
desigualdades das mulheres na família. No entanto, e talvez esperado,
partes da anatomia das mulheres (não era o caso das mulheres do grupo que
maneiras pelas quais expressamos ideias sobre o que significava ser 'queer' (por
exemplo, com muitas drag queen, mas sem performances de drag king). Essas
são, é claro, todas as hierarquias aprendidas e parte do trabalho de mudar a
Ubuntu queer
pessoas".
658
Se eu entro na emoção que o MBBC cria em meu corpo, sei que a magia do MBBC
o trabalho político requer vontade individual e escolha activa, e que nem todos
659
em ONGs. No primeiro dia do MBBC residencial, alguns participantes
ter sido realizado em um hotel cinco estrelas ou próximo à vida noturna urbana.
sua escolha política para não apoiar a ideia de serem 'pagos para aprender', e a
escolha deliberada de nos situar num local onde pudéssemos nos conectar ao
660
transgressivo, também continuamos trabalhando para abrir espaço para
sou eu? Desse ponto de vista, sou livre ou não sou livre? Se eu não me considero
livre, o que seria necessário para eu ser livre? Reunimos as respostas dos
liberdade para queer africanx, em nossa visão libertadora, exige envolver a terra
661
relevantes para ele e sua vida. Enquanto estávamos no círculo, ele entregou um
narrativa poética que nos ligava a elementos de seu corpo, alma, história de vida
e sobrevivência. Ao fazê-lo, ele criou uma conexão política mágica e radical entre
sou você.
nossa indignação com elx quando o filme terminou. No filme, também vimos
662
Falar, escrever e discursar não são meros actos de comunicação; eles são acima
activistas. Isso criou dificuldades para alguns participantes, que tiveram que
esforços ativos dos organizadores para incluir a inclusão trans, inicialmente não
663
espaço para mudar. No segundo processo residencial, uma mulher trans também
textos e filmes foram apresentados em inglês. É claro que o inglês é uma língua
franca para africanx do leste e do sul e, como tal, uma 'ferramenta' para permitir
No entanto, tem seus limites e exclusões, inclusive no facto de que nem todos os
que usamos para falar sobre questões como sexualidade, poder e mudança. E, de
664
familiarizarmos e entendermos a intenção política por trás da palavra e sua
das semelhanças nas conceções de género nas línguas da África Oriental, que
665
Batimento cardíaco
forte do que qualquer arma ... precisamos ser armas de construção em massa,
mantém unidos, nos faz sentir tão comprometidos um com o outro e se manifesta
como uma respiração criativa e reconfortante diante do que podem ser paisagens
666
Essa energia do amor revolucionário foi expressada evocativamente por uma
palavras dela:
Neste dia eu aprecio tudo ao meu redor e respiro amor, respiro amor. Eu
quero apreciar todos os paxás do dia. Quero dar uma última olhada em
tudo e vê-los de uma maneira que não vejo nos últimos 12 dias. Eu quero
respirar fundo o amor que eles vão exalar. Amando o movimento. Sempre
há beleza atrás da ponte.
numa alegre celebração das realizações das pessoas. Na lista de email do MBBC,
unidade entre aliados que lutam em terrenos diferentes em direcção aos mesmos
667
objectivos'. Na comunidade MBBC e em pleno abraço de nossas diversidades,
Notas
O currículo completo, incluindo textos e contribuições adicionais dos facilitadores do MBBC e outros, está disponível online
em http://www.fahamu.org/mbbc.
Uma das facilitadoras, Happy Kinyili, da UHAI, gerou um debate sobre como o espaço activista queer frequentemente se torna
tão abertamente sexualizado, criando um fascinante jardim de perguntas que ela sem dúvida explorará mais.
Referências
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Galeano, Eduardo (1991) The Book of Embraces, New York and London Norton
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Minh-ha, Trinh T. (1989) Woman, Native, Other: Writing Postcoloniality and Feminism, Bloomington, Indian University Pres
Quashie, Kevin (2012) The Sovereignty of Quiet: Beyond Resistance in Black Culture, New Jersey, Rutgers University Press
668
669
670
39 – O LUGAR MAIS FABULOSO DA TERRA – Um poema em muitas vozes
Rena
Eu vivo num mundo onde o riso é a música do dia rimos até chorarmos
sorrimos até nos tornarmos máquinas sorridentes abraçar até a alma suar
amar incondicionalmente
Eu moro no mundo onde a família é composta por todos e os amigos são todos
Eu vivo num mundo que toda palavra dita cria, restaura e ama
Eu vivo num mundo em que temos bebês, não os temos, casamos, não casamos,
me apaixono por minhas colegas, por homens, por mim, por mulheres e homens,
Eu vivo num mundo onde abraçamos a diferença e eu adoro viver neste meu
mundo
671
Jessica
Contra a noite de ametista do meu mundo nós decoramos o céu, sem medo
a cair sobre os amantes banhados ao luar chovendo risos quando eles pisam
seu solo, sua família como raízes de uma videira sem fim
meninomeninameninameninomeninomeninameninomeninamenina
meu mundo não conhece ricos ou pobres único alimento, não tem fúria
Nicole
na minha alma onde amo, onde anseio, onde reside minha paixão,
minha paixão pela África, pela minha feminilidade, pela minha liberdade,
672
cantar e dançar ritmos da minha alma e ver como os que estão à minha volta
meus camaradas
correr para o mundo onde tudo o que importa é amor, amar, segurar, abraçar,
Jia
Se queer é amoroso, então devo ser queer, porque amo com paixão,
Eu fui eles e eles foram eu de várias formas como agora ... eu sou eles e eles sou
eu
673
Nós somos todos um
você é amor
divino
Jay
Eu me amo,
Eu me importo muito
toda noite eu sento lá fora e olho para o céu, Eu olho para a lua e as estrelas,
674
mas eu posso fazer algo o caminho
eu sou
Essy
O orvalho da manhã em meus pés, nos comunicamos olhando nos olhos uma da
outra,
Seus lábios macios e molhados são a razão de eu acordar todas as manhãs Deus
Como esse amor pode estar errado se o que estou sentindo está certo?
Nicholas
Algumas pessoas vão tentar me fazer sentir-se mal por ser gay
675
e eu posso fazer qualquer coisa eu quero fazer
para mim,
do meu próprio coração. Eu não tenho que ir através da vida oscilando das nuvens
um para o meu.
Hakima
conformidade,
676
é a própria deusa.
guerreiro à resistência
Onde ele / ela se torna obsoleto diante de você / eu Onde elx não podem encaixar
nós
Eu vivo num mundo onde seus olhos explodem meus instintos de mãe lutadora
por uma alma bonita demais para este mundo. Onde nosso filho entende o poder
do amor
e tem muitas respostas para a pergunta de seu livro 'o bebê é menino ou menina?
Eu vivo num mundo onde o trabalho é valorizado sobre o capital e tudo o que
Eu moro em um mundo
677
Pade
então deixe suas habilidades talentosas fluírem adiante e combinar com o mundo
cabeça corajosa
Desde que você é como a luz para todos nós, nossa brilhante Estrela do Norte
como o anjo uma gota de lágrimas, que limpa nossas almas ...
Muhaari
Eu moro num lugar onde outros se preocupam com as sombras que ganham vida,
Eu moro num lugar onde um colar colorido pode se tornar uma cobra venenosa
que importa,
678
capaz e pronto para transformar para caber sem perder minha identidade
aprovação, ainda vivo, amo, brinco, oro e preso, como todo mundo.
Sim, minha vida é doce e minha alegria completa, porque eu sou um ogro,
confortável na minha floresta, feliz em cuidar e compartilhar, aqui estou eu, aqui
vou ficar
Dismus
Barbra
679
activa activista
Soloh
Como digo a todos, seja fabuloso e viva um com o outro viva em harmonia
viva como se a liberdade fosse o próximo segundo a todos meus amigos LGBTI,
pelos irmãos e irmãs que partiram em nosso curso, estamos vivendo para você,
Lugar, colocar na
terra
680
Este poema foi uma contribuição colectiva dos activistas envolvidos no Campo de
por Fahamu e UHAI e discutido por Jessica Horn no capítulo 38 deste volume
681
682
40 – ONDAS CARMESINS – FICÇÃO - Hakima Abbas
navalha corta a pele, o carmesim aparece primeiro como uma gota, depois um fio
até que um fio é uma piscina e minha cabeça fica leve. Mas eu não diria que é
você deveria saber disso sobre mim, sou muito teimosa -, mas agora estou vejo
outra pessoa. Como se eu estivesse assistindo de outro lugar. A dor se foi, minha
longe, cansada e leve. De alguma forma, me sinto velha como meus ancestrais.
Como se estivesse na água, as vistas e os sons ao meu redor são abafados. Estou
Lembrando que sim, porque essa foi uma jornada. E eu comecei do final, que é
realmente apenas um começo. Então, deixe-me começar pelo que todos parecem
Bem, tenho muitos nomes, alguns mais agradáveis que outros, outros mais
verdadeiros que outros, mas aprendi a não sentir nada sobre nomes. Quem eu
sou não está em meu nome ou em um nome. Mas o mundo está determinado a
nomear e definir. De onde tiramos isso? Essa obsessão por definir. Alguns dizem
683
que o wazungu nos deu com sua 'ciência'. Que, antes de nossa subjugação, éramos
construção europeia do outro primitivo. Eu ri. Seja qual for o caso, certamente
é a África em que vivo. Essa é a África que quer saber o que sou. Constantemente,
a pergunta mais desagradável: o que você é? Eu ri. Como alguém pode começar
você é?
enchendo. Pesado como uma nuvem cheia de chuva. Eu ainda flutuo, e ainda há
uma pulsação na minha cabeça. Aqui mesmo no lado direito. Uma batida rítmica
como ondas batendo na praia.
Eu sempre pensei que as ondas são tão provocadoras. Eles chegam com um
drama perfeito, com uma arrogância, uma desgraça iminente, como uma mulher
caminhando alto ou, melhor ainda, como uma trans mulher, fazendo beicinho,
uma sobrancelha levantada, cabeça baixa, mas olhando directamente para você,
balançando os quadris sob roupas justas e saltos assassinos. Assim, quando ela
chega até você, perto o suficiente para te tocar, ela sorri lentamente. É assim que
imagino as ondas, mas são provocações. Eles entram na sala, na praia,
aplaudindo. E então, no clímax, assim como elas batem para provar seu poder ...
elas recuam! O que é isso?
684
Mas talvez eu esteja sendo dura com as ondas. Talvez eles sejam tímidas, afinal.
E quem sou eu para conversar? Porque eu não sou esse tipo de heroína. Eu não
sou essa mulher. Teimosa, certamente, e ousada, apenas do meu jeito. Caso
simplesmente não consigo. Falo em voz baixa e cubro a boca quando rio.
Normalmente tímida.
Até o meu nome preferido é comum. Pelo menos de onde eu venho. Meu nome é
Njeri. Uma de muitas Njeri no Quénia, especialmente em Thika, onde moro, de
onde venho, onde sempre estive. A cidade é comum. Minha vida é comum. É
interessante pensar na minha vida. A única vez que realmente me senti viva foi
quando deixei as ondas tomarem conta de mim. Sem vergonha, sem vergonha,
viva.
Eu era jovem então. Eu ainda sou. Mas, na verdade, uma esperança ainda brilhava
nos meus olhos para todos que se importavam em ver. Eu tinha acabado de
terminar o ensino médio, fiquei em terceiro no distrito escolar. Meu pai teria
orgulho de mim. Só que pelo pequeno erro que me fez a única rapariga duma
escola de rapazes. Ele se recusou a entender ou até olhar para mim. Ele sempre
desviou os olhos com nojo quando entrava numa sala. Mas eu não me importava
muito. Além disso, mal vi o homem. Eu estava no internato há anos. Ele e minha
mãe nos separaram assim que entramos no ensino médio. Meus dois irmãos mais
novos estavam na mesma escola que eu e eles não pareciam se importar.
685
Ninguém realmente se importava. Fiquei sozinha, estudei e tirei boas notas. Às
continuo a andar. Porque eu sabia que não era gay. Eu não sou gay Eu sou uma
ficou chato. Ou pode ser porque eu tenho uma reputação após o incidente da
Uma manhã, como todas as manhãs, nosso dormitório foi acordado pelos sons
corredor para garantir que ninguém ainda estivesse dormindo. Por que acordar
em um novo dia deve ser brutal está além do meu entendimento, mas .... Enfim,
essa era uma manhã como qualquer outra. Comum, você pode chamar. Mas,
quando fui para a pia, joguei a água gelada da única torneira para 40 meninos no
meu rosto e me olhei, brevemente, fugazmente o suficiente para garantir que não
havia pasta de dente colada no rosto, mas não muito tempo, o suficiente para ver
queixo. Já era ruim o suficiente quando meu lábio superior começou a ser
coroado com penas mais grossas, mas, isso ... a propagação, como uma doença,
ondas. Olhei mais de perto no espelho rachado, encontrando o único ponto duas
686
por quatro no vidro onde você podia ver um reflexo e confirmei que restolho
peludo ameaçava se espalhar pelo meu queixo e pelo meu rosto. Eu quase chorei.
De pé lá. Silenciosa. Até que fui empurrada pelo próximo rapaz querendo usar a
Andando nas lajes frias de volta ao meu beliche, puxando meu uniforme por cima
manhãs, se não era ridículo uma garota estar se vestindo assim. Mas esta manhã,
minha pergunta interna não foi convincente, nem mesmo para mim mesma. Meu
salão de reunião. Eu sempre me perguntei como rapazes, sem gritar, porque isso
seria contra as regras, poderiam fazer tanto barulho. Mas esta manhã eu não me
importei. Eu mal podia ouvi-los de qualquer maneira. Abafei os sons com tanto
sucesso que não ouvi as provocações. Atrás de mim, nos bancos planos que
ouvido: 'Patrick é um shoga, hein, Patrick, você gosta de rapazes, hein. . "Você não
Então ele cuspiu. Duro, vil, sujo. Senti uma pastilha pousar directamente entre
meus ombros na espinha. Meu corpo estremeceu sutilmente. Meu queixo travou.
Suor nas palmas das mãos. Eu vi carmesim quando fechei meus olhos
gentilmente. Minha boca seca, todos os meus pensamentos haviam evaporado.
687
última Antes mesmo que eu soubesse, eu já havia dado uma surra naquele
menino. Sua boca, lábios, nariz, quem sabe, a fonte, o fim, do sangue. Tudo o que
sei é que eu estava montado nele e mergulhei cada soco em seu rosto rindo há
não muito tempo. Cada soco pousava com um baque satisfatório. 1–2–3–4,
quantos socos, não tenho certeza. Como agora, eu estava flutuando, de longe,
assistindo a cena sangrenta. Foram necessários quatro meninos mais velhos para
me tirar dele.
Inevitavelmente, fui punida. Enlatada de facto. Mas não me importei tanto. Além
disso, acho que o director foi gentil comigo, porque nunca havia sido punida
antes e era uma boa aluna. Os cílios pousaram suavemente, a dor pálida em
comparação com as contusões latejantes das minhas mãos onde eu bati naquele
garoto. Eu nem sei o que aconteceu com ele. Ouvi que seus pais o transferiram
para outra escola depois que ele saiu do hospital. Pobre garoto, quase sinto pena
dele agora. Aposto que ele não viu isso acontecer! Eu ri.
Foi aí que aprendi a ficar quieta e passar despercebida. Onde eu chorei até dormir
toda vez que fui acordado para um novo horror neste / naquele corpo. Porque
agora é diferente, este corpo. Hoje será mais um passo. Um começo. Ah, mas eu
entrar na universidade para estudar biologia, minha irmã mais velha, que estava
casada e grávida, me convidou para visitá-la em Kisumu. Nós sempre nos demos
bem, eu e minha irmã. Ela cuidou de mim quando eu era pequena, me
688
defendendo das outras crianças do bairro e até tanto quanto ela podia, do meu
pai. Eu passava horas no quarto dela assistindo ela e seus amigos. Foi divertido.
Para minha irmã, eu era apenas seu bebê e ainda sou. Às vezes, quando ela me
olha com amor, vejo uma tristeza em seus olhos. Não pena, porque isso seria
removido. Mas uma tristeza para nós; para o mundo, talvez. Ela pegou meu rosto
em suas mãos uma vez e me disse que eu era bonita demais para este mundo e
que deveria perdoá-los por não serem capazes de entender. Uma única lágrima
escorreu por sua bochecha. "Não deixe que eles cheguem até você, está me
ouvindo", disse ela com firmeza, reforçando seu aperto no meu queixo antes de
para jantar. Eu sinto falta dela. Não é o mesmo agora que ela é casada e tem quatro
com ela. Mas um cansaço cobriu seu rosto. Ela tem "um bom emprego e um bom
marido", é o que dizem. No entanto, sua faísca foi extinta. Eu não tenho certeza
do que. Minha irmã nunca me conta sobre sua vida e seus sentimentos. Quando
pergunto, ela diz: 'Calma, você é da minha idade? Retoricamente. Então, eu calo.
Quando eu a visitei, ela estava grávida de seu primogênito. Muito grávida E ela
estava linda carregando sua barriga enorme sem graça. Ela andava pela casa, sem
andava até a porta murmurando sobre como disse a todos que não queria visitas,
689
por que as pessoas não podiam ouvir! Então, num instante, ela sorria
Eu a ouvi discutir com o marido numa noite sobre mim. Ele estava preocupado
com o modo como ela se comportou na minha frente. Ela riu alto, rouco, para ele.
Então ele gritou que era inapropriado e que ele não queria que sua esposa se
comportasse dessa maneira, ponto final! Apenas mal conseguindo rir, ouvi-a
dizer tranquilamente: “Não se preocupe com Patrick, confie em mim, ele nem
percebe, não se preocupe com Patrick.” O marido dela sempre me olhou com
desconfiança, mas não muito mais do que a maioria dos homens, então não me
importei tanto. Às vezes, quando saio com as crianças, ele resmunga, como se
com essas crianças. A mais velha me lembra muito minha irmã. Curiosa, quieta,
teimosa e muito inteligente. Ela é minha favorita. Mas é claro, não digo isso a eles.
Aquele mês que passei com eles foi a primeira vez que estive em Kisumu. Uma
então uma das minhas tarefas foi abanar minha irmã enorme enquanto ela
dormia ou assistia TV. Ela estava sempre reclamando do calor. ‘Está muito quente
neste lugar. Tão quente, você pensaria que o diabo havia se mudado para a porta
ao lado. Haiya, está quente. Eu ria. Eu gostava de gostar dela e do bebê em sua
barriga. Fiquei empolgada com a nova vida que ela estava levando e, em algum
lugar no fundo da minha mente, empolgada com minha nova vida: a possibilidade
de começar de novo na universidade, num lugar onde não conhecia ninguém e
690
longe de meus pais. Talvez lá eu pudesse ser eu mesma, a verdadeira eu que
desejava ser. Kisumu parecia ser o primeiro passo para essa vida e eu a abracei.
Um dia, quando eu estava comprar mantimentos para a casa, parei num quiosque
para comprar refrigerantes para minha irmã que, por alguma razão, estava
bebendo pelo menos quatro Fanta laranjas por dia. Eu dizia a ela que era ruim
para ela, mas ela não quis ouvir. No quiosque, um jovem de bicicleta subiu para
mim. Curiosamente, mas sem a malícia que às vezes sinto. Ele apenas olhou.
Fiquei nervoso e desviei o olhar, pedindo à mulher atrás das grades de metal os
refrigerantes e levantando desajeitadamente minha bolsa para devolver as
garrafas de vidro vazias. O homem usava apenas um par de shorts cáqui na altura
do joelho. Embora esbeltos, os músculos de sua pele escura eram definidos. Todo
movimento causava uma ondulação em seus tendões e músculos, como se ele
uma resposta. Não ousei olhar para ele, mas observei pelo canto do meu olho
quando ele acendeu o cigarro e ficou parado, respirando fundo. Eu estava ciente,
perfume profundo de suor do homem. Não o cheiro de garotos tão familiar nos
Como se ele não tivesse nenhum outro lugar para ir ou nada mais para fazer e
como se fosse perfeitamente normal ele ainda estar ali, eu podia senti-lo me
observando pegar minhas garrafas de refrigerante e pagar a mulher por trás das
grades de metal. Agradecendo em silêncio e olhando com determinação para o
691
chão, eu me afastei. Eu podia senti-lo assistindo todos os meus movimentos. Eu
Eu tinha dado apenas 12 passos, que eu tinha contado resolutamente para manter
o equilíbrio, quando ouvi o barulho de metal de sua bicicleta. À medida que o som
que eu estava contando. 'Psst', ouvi dizer. Eu nunca entendi por que os homens
chamam mulheres assim. Eu sou um gato? "Psiu", ele disse novamente, presumi
que chamasse minha atenção. Eu não me virei - teimosa, mesmo nas situações
mais tensas -, mas suavemente diminuí o ritmo até sentir o cheiro dele ao meu
Não sabia mais o que dizer, mas não queria que a conversa terminasse. Eu ainda
não tinha tirado os olhos do chão e podia sentir gotas de suor se formando na
minha testa.
'Por que você quer saber? Eu disse, parecendo irritada. Eu simplesmente não
sabia o que dizer.
692
"Eu estava curioso", disse ele calmamente, parecendo desanimado. Ergui os olhos
Eu tenho muitos nomes. Mas ainda não encontrei um que gostei - falei baixinho.
Eu sorri de volta.
irmã.
'Ok, tchau', eu disse sem jeito, esperando que não fosse realmente um adeus.
Procurando algo mais a dizer, uma maneira de fazer o momento durar mais, uma
Ele empurrou a bicicleta para a frente e colocou a outra perna por cima da sela.
"A propósito, eu tenho um nome", ele gritou de volta para mim. "É Omondi."
693
"Bom, está tão quente neste lugar que estou morrendo aqui", disse ela, abanando-
A semana seguinte foi torturante. Todo dia, toda hora, todo segundo, eu me
que era humanamente possível. Até a mulher anônima e sem emoção por trás das
grades de metal começou a me olhar com desconfiança. Eu não sabia o que fazer.
Como eu podia encontrar esse homem? Quem era esse Omondi? Não pude
perguntar a ninguém, porque não sabia nada sobre ele e procurar um Omondi
cenários sobre quando o veria em seguida, o que diria, como me comportaria, até
o que vestiria! Mas não havia sinal dele em lugar algum. E comecei a me perguntar
por que queria ver esse homem novamente. Eu nem o conhecia e, pelo que sabia,
ele poderia ser um assassino psicótico. Mas então me lembrei daqueles olhos. E
eu sabia que tudo que eu queria era ser encarado assim novamente. Ser envolvida
naquele corpo frio e sem compromisso e mantida fechada naqueles olhos gentis
me dizendo pela primeira vez por um homem adulto que sou visível e digna de
E, como digo agora, meu eu pessimista se pergunta como isso é possível, num
olhar de um estranho de 21 anos em Kisumu. Mas eu sabia então que era assim
que eu sentia. O leve cheiro de lago em seus cabelos e roupas lhe dava uma
paisagem permanente. Como um cenário, um cenário. E é claro, como todo amor,
694
eu também dei o tema de uma música para ele. Mas estou pulando em frente. Eu
que era ele. Meu coração pulou quando eu estava em cima da pia onde eu lavava
pesadamente para a porta. Então ouvi a voz dele, insegura: ‘Olá, senhora. Eu
estava pensando se há alguém que mora aqui. Minha idade? Veja eu não tenho o
nome, mas nos conhecemos na semana passada. Hum Minha irmã ficou lá
jeans. "Tudo bem, Chico, é para mim." E parei na frente dela para protegê-lo de
seu olhar. Fechei a porta atrás de mim, com ela ainda de pé, agora também
olhando para mim incrédula, mas sem dizer nada. Depois de um segundo, eu a
ouvi murmurando novamente, desta vez quase como uma risadinha, respirando
'Oi', eu disse.
"Oi", ele disse. "Obrigado por me resgatar, estou tão feliz que você mora aqui, eu
não tinha ideia do que eu diria!", Ele soltou um suspiro, como se ele também
estivesse prendendo a respiração desde a última vez que nos vimos.
Ele riu profundamente, uma mistura de diversão, nervos e alívio. Eu ri com ele
quando nos sentamos nos degraus da casa. De repente, foi tão fácil.
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Conversamos, rimos, brincamos e brincamos. Bem, ele me provocou, não posso
dizer que realmente o provoquei. E ficamos ali sentados pelo que pareceram
horas até o céu ficar laranja e os mosquitos se revezando a chupar minha carne.
"Eu devo ir", ele disse suavemente, olhando para mim com perspicácia. Ele
'Eu também.
'Amanhã?
Eu gostaria disso.
Nós rimos.
No dia seguinte, esperei aquele baque na nossa porta da frente. Minha irmã não
disse nada sobre o meu visitante. Ela tinha acabado de olhar para mim com um
meio sorriso nos lábios e uma pergunta nos olhos durante o jantar. Evitei o olhar
dela, mas sabia que meu meio sorriso respondeu ao dela com todas as respostas
que ela precisava. Então, quando o barulho finalmente ressoou por toda a casa
no dia seguinte, eu a ouvi rir livremente antes de gritar: 'Seu amigo está aqui',
Saí do banheiro onde estava escovando os dentes pela quinta vez naquele dia e a
696
"Sim, senhora, meu nome é Omondi", disse ele, olhando para os pés.
Mais uma vez, minha irmã riu uma risada total e desenfreada, olhando Omondi
Minha irmã colocou a mão no meu ombro e olhou directamente nos meus olhos,
novamente com essa pergunta. Eu olhei para ela como se não soubesse o que ela
estava perguntando. "O quê?" Ela sorriu. 'Nada. Divirta-se. 'E então, como se
lembrando de algo profundo, subitamente preocupado. "Ah, mas ..." ela disse.
E então voltei para casa, pedindo para eu seguir. "Omondi, sente-se, preciso falar
com Patrick."
Omondi sorriu ao ouvir esse nome pela primeira vez. Eu me encolhi, querendo
interromper, para dizer: ‘Mas não, isso não é quem eu sou. Patrick não é o meu
‘OK, não sei como ter essa conversa. E eu definitivamente não achei que teria que
fazê-lo agora e com pressa como esta. Mas de qualquer maneira, olhe. Você
"Então, Patrick, você sabe como estar seguro?" Ela disse com naturalidade. "Hmm,
sim", eu disse, embora não tivesse certeza.
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"E você tem o equipamento?"
'Hmm, não', eu disse envergonhada. "Mas, de qualquer maneira, por que você está
"Patrick", ela disse, olhando-me morta nos olhos. 'Eu não sou burra e isso é
importante. Eu quero que me escutes. Nada, quero dizer, nada acontece sem
estar seguro. Estas a ouvir-me? - ela disse com firmeza, colocando algo no meu
'Ok Chico', eu disse, chocado com a insistência dela. 'ESTÁ BEM. 'Promessa?
'Promessa.
Ela soltou um profundo suspiro de alívio. 'Ok, agora vá, seu amigo te espera', disse
ela, recostando-se no balcão. ‘Lembre-se do que eu disse, Patrick. Sempre - ela
Meu coração estava pesado. Eu não sabia se eram os avisos da minha irmã ou o
se era possível. Como poderíamos fazer isso? Na minha cabeça, minhas fantasias,
bem, era como nos filmes - um homem bonito, eu sou uma garota bonita, uma
coisa leva apaixonadamente a outra, tão simples quanto parecia. Essa
possibilidade era nova para mim. Confusa, de repente entrei em pânico. E se ele
não soubesse que eu, bem, que eu tinha o corpo de um menino. Claro que ele
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sabia, todo mundo sabia, certo? Então eu percebi que estava sendo boba. Ele era
um homem, é claro, ele não queria fazer sexo comigo, ele pensava que eu também
era um homem, não é? Eu ainda não tinha dito a ele que não era, então ele
provavelmente assumiu, certo? Então, nós íamos sair. Como amigos. No barco
dele Puxa, Chico é tão louca, por que ela me assustou assim?
E foi isso que fizemos, Nós remamos no barco dele. Bem, ele remava, eu me sentei
no barco com minhas mãos entre os joelhos. Eu me ofereci para ajudar, mas,
piscando, ele disse que não era um trabalho para mim. Eu sorri silenciosamente,
olhando para a água. Observar e sentir as ondas nos levam adiante com cada
curvatura de seus antebraços. Agora parecia que o estímulo e a resposta de seu
corpo se estendiam aos remos, à água, às ondas, ao barco, tudo como um.
o outro, de lugar nenhum e de outro lugar. Não sabia por que estava tão
confortável, mas era delicioso me sentir perdido, longe das realidades da costa.
Eu estava ciente de seu corpo, seu cheiro, seu suor, os toques delicados entre nós.
Eu estava ciente de sua respiração perto o suficiente para eu senti-lo rir. Ciente
699
Deitei debaixo dele enquanto ele olhava interrogativamente com aqueles olhos
negros hesitantes nos meus. E, como se encontrasse uma verdade, ele sorriu e
aproximou os lábios para tocar os meus. Fechei os olhos. Era aqui que eu queria
estar. Neste momento, neste tempo, este era o fim e o começo. Gentilmente, ele
beijou meu rosto, meu pescoço, minha boca e eu afundei nele, ciente da
Suas mãos começaram a procurar meu corpo com uma urgência grosseira que
abalou com a intensidade de estar perdida em seu perfume, toque e energia. Abri
os olhos e procurei o rosto dele, mas ele estava muito ocupado procurando os
de procurar sua entrada. Sua mão acariciando meu peito era o único sinal do
toque que me trouxe aqui. E então ele me puxou para perto num impulso lento,
a dor disparando pela minha espinha atingindo a ponta da minha cabeça. Prendi
lentamente, seu aperto diminuiu, ele entrou e saiu, acelerando o ritmo, entrando
700
mente estava em branco. O movimento da água embalando minha alma. Parte de
mim queria chorar, parte de mim queria rir. Eu queria abraçá-lo e ao mesmo
tempo fui repelida por seu corpo pesado. Então, abrindo meus olhos de repente,
como se tivesse sido atingida por uma epifania, me virei para beijá-lo. Eu
encontrei a resposta. Eu beijei seus lábios, sua bochecha, seu pescoço, sua orelha.
Beijei seus olhos e sua boca, acordando-o de seu sono. Passei minhas mãos e
Muito tarde. Mas ainda assim, desta vez eu queria fazer o certo. Despindo e
encontrei os olhos que eu ansiava. Ele olhou para mim como se pudesse me ver
experiente. Eu ri de novo, sem saber o que faria, mas me diverti com minha
própria inaptidão. Ele então levantou minha camisa e circulou meus mamilos
com a língua. Eu podia ver seu pulsar ficando mais forte e grosso, e afundei na
para o lado. Eu deixei ele me conhecer. E a dor era suportável, o toque suave, seus
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beijos quentes, meu corpo relaxando em seu ritmo que lentamente subiu para
um rugido. Nossas águas se fundiram, suas ondas batendo contra a minha costa.
Ele lembraria como eu? "Devemos ir, está escurecendo", ele disse, me beijando
retumbante. Eu o beijei, bem ali na porta da minha irmã, e soltei um sorriso antes
de dizer: 'Obrigado'. Ele sorriu de volta, tocando meu cabelo com a ponta dos
dedos. E, lá, eu vi a pesada tristeza em seu rosto, como se a realização se
desenrolasse sobre seu espírito também. Nós ficamos lá. Presos pelo inatingível.
Não foi possível congelar o tempo. Nós ficamos lá. Nossos dedos se encontram
companhia de conexão, se tudo fosse diferente. Uma utopia onde eu posso ser
aquela alma, se ela flutuasse diante de mim agora. Faz apenas seis anos desde
Kisumu. Minha irmã se mudou depois que Kathambi nasceu. Eu nunca voltei. Mas
702
eu posso, às vezes cheirar o lago no ar, de repente no meio de uma conversa, ou
E agora. Enquanto faço meu sétimo círculo. À medida que meu corpo enfraquece,
minha visão fica embaçada e meus olhos se fecham, sinto o cheiro do lago à
distância, ouço as ondas batendo cada vez mais perto e sei que, se eu alcançar o
703
704
41 – CONVERSAS AFRICANAS SOBRE IDENTIDADE E CLASSIFICAÇÕES
DO CID
mais incluída, outras questões que podem nos interessar permanecem, como o
Audrey
705
A Educação e Advocacia Transgénero (TEA) enviará uma carta solicitando à OMS
A propósito, remover do ICD para quê? Que alternativa vocês propõem se ter?
Fico feliz que alguns grupos estejam falando de tê-lo como uma condição médica,
o que é bom para alguns de nós, mas detestamos a maneira como a LGB cisgénero
não saltem para os nossos problemas casualmente, para que pareçam estar a
Ajudem a estender a mão a algumas pessoas e organizações para que elas vejam
sensível como esse. Não conseguimos obter serviços médicos adequados para a
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Penso que a melhor maneira de lidar com o estigma relacionado a transtornos
IV. Por que não deixar esse assunto para pessoas trans - nós temos nossa própria
Audrey - T36.000
Hakima
Querida mana,
que você é cientista então não vai gostar disso). Acho que o erro que cometemos
707
do que aquilo que entendemos por género ou sexo ou a interação entre os dois,
por exemplo. os papéis que eu desempenhei na minha família, na rua, nos lençóis,
como meu corpo funciona, como não funciona, o que é esperado de mim, o que
acho que o mito biológico dos binários do sexo é desintegrado pelos povos
'inter' implica entre duas coisas) - mas que ocupam um espaço físico de
Eu sei que você não se importa com essa parte, mana, mas o mesmo é verdade,
ou não ter nada a ver com o que fazemos na cama com nós mesmos, com um ou
mais parceiros. Tentamos dizer que somos heterossexuais, gays e lésbicas para
evitar a luta boa (mas muito mais complicada) de dizer que a sexualidade é plural.
Eu não acho que homens que se dizem gays são excitados apenas por outros
homens, ou que lésbicas não fazem sexo com homens trans ou que uma lésbica
como muitas outras categorias do mundo - algumas das quais luto mais para ver
dessa maneira) é uma posição política que pode nos permitir combater a boa/
complexa luta como, o que eu chamaria de queers.
708
"A política queer é anti-assimilacionalista, inclusiva e diversificada". "O queer não
é visto como uma maneira única de ser, mas como uma posição dissidente com
Como você verá, portanto, a partir desse ponto de vista, as ideias de desordem
ou, como acabei de ver nalgum lugar, desordem congênita (como sugerido para
pessoas intersexo como uma 'desordem' física) ) não fazem muito sentido. Não
creio que 1) esses sejam distúrbios ou 2) que haja pessoas cisgénero (quando
Novamente, a rota mais complexa para a advocacia pode não ser a que
escolhemos, mas talvez para criar o mundo que procuramos, a longo prazo seria
mesma estrutura do TIBLG! Porque, irmã, entendo que digo isso da posição
solidariedade. E isso não quer dizer que você e outras pessoas trans não sofram
pluralidade de opiniões, por isso espero que minha partilha tenha sido útil para
fazer fluir os sucos da mente e que possamos continuar discutindo.
709
Hakima
Barbra
Olá a todx,
Quando descobri que era trans, foi como um momento de luz. Disseram-me todo
tipo de coisas, e principalmente me disseram que eu era gay (ou naquela época:
homo). Eu sabia claramente que não era isso, mesmo desde tenra idade de 12
anos. Para mim, quando soube que havia uma causa diagnosticada para minha
'dor', foi um momento de 'Aha'. Eu tinha algo para contar às pessoas e não estava
Acho que essa discussão é sensível porque, por um lado, sabemos (presumo) que
alívio deve ser ouvir alguém lhe dizer que o que você está passar não é seu próprio
710
entanto, sendo eu e sendo 'diagnosticada como tendo GD', consegui ter acesso a
realmente por que trans e intersex se correlacionam: porque para essas pessoas
não é apenas 'eu amo essa pessoa, sou atraído por essa pessoa', é uma coisa física,
mental e social. Muito tangível! É assim que eu vejo. E é por isso que hesito em
Não quero ser tratado como um caso mental, quero ser tratado como uma pessoa
que precisa de certos cuidados médicos específicos para mim e para minha
condição.
Julius
Olá a todx,
711
Eu eco alguns dos pensamentos que Barbra expressou. Na minha opinião, é
situação e terão até abordagens diferentes para a situação. A questão crítica para
desejado?
implicações para todos os outros que podem não estar no mesmo espaço político
e socioeconómico que eu. sou. Para mim, a palavra "desordem" em si não seria
um problema, mas como é usada, e se o seu uso pode dar a pessoas como eu
Correndo o risco de parecer patológico, ouso dizer que na verdade existe algo
'não muito certo' ou que 'não está em ordem' com ou a maneira como nossos
Como alguém escolhe dizer que o resultado do corpo "não está certo" é
praticamente uma questão pessoal, dependendo das necessidades do indivíduo.
712
iremos interagir apenas com os médicos que se sentem à vontade para modificar
um corpo que foi diagnosticado como sem anomalia. Portanto, é de alguma forma
exibe algo 'não muito ORDENADO' para o indivíduo que lida com isso e requer
alguma intervenção médica para NÃO 'corrigi-lo' por si só, mas torná-lo 'certo'
para o indivíduo em causa. Sendo realista comigo mesmo, essa percepção abre
perguntas subsequentes que me assombram, como por que não possuo o corpo
que corresponde a quem eu acredito que sou - como diabos eu recebi esse tipo
de corpo, que eu odeio com paixão? De onde vieram esses seios, que não
deveriam estar lá e que eu odeio tanto? Por que eu deixo essa barba crescer
Calorosamente, Julius
Guillit
Olá a todx,
713
Eu realmente não sei por onde começar com a coisa do 'transtorno mental'.
pessoas. Concordo com Barbra e Júlio. NADA ESTÁ FORA DE ORDEM, ponto final.
Quero partilhar uma história que mostra como acredito que algo está errado com
escrevendo uma história sobre isso e espero que todos vocês nesta lista tenham
algumas ideias sobre o próximo passo e como ajudar essa pessoa a sair dessa vida
toda de humilhação.
traumatizado. Não consigo imaginar como ele sobreviveu com isso a vida toda.
Depois da minha observação, acho que alguns dos irmãos de Eric podem ser gays
Nada está errado com Eric; ele nasceu bem com genitais únicos. No entanto, sua
singularidade genital fez sua família e vizinhos tentarem matá-lo mais de uma
vez, espancá-lo e denunciá-lo à polícia toda vez que ele fala com mulheres
porque ele não está assumindo o papel que elas acreditam que ele deveria
714
cabeça aos pés. Essa é a magnitude da ignorância e da sociedade que molestam
as pessoas TI.
Eu também experimentei algumas dessas coisas, mas não nessa extensão. Foi
difícil para mim me amar completamente no começo por causa do jeito que
coisas assim acontecerem comigo. As pessoas religiosas não entendem que ser
trans não tem nada a ver com o que está escrito na Bíblia - inferno, nem está na
As pessoas cisgénero não sabem e nunca experimentarão seu corpo e mente sem
coordenar. Portanto, como eles não entendem as pessoas TI, o próximo passo
Isso pode parecer patológico, mas não é. Eu tenho que cortar 'transtorno mental'
e rotular as pessoas sem o seu consentimento. Eu sei que sou tão queer como elx
vem, se é que viemos num pacote com uma fita vermelha. Se as pessoas cisgénero
devem me identificar, que coloquem um adesivo em mim, sou eu, trans homem
715
Classificação, não preciso estar em laboratórios de pesquisa para me rotular de
acordo com os resultados finais. Por que sentimos a necessidade de ajustar tudo
categorizar e dar um nome a ela! Apenas para que possa ser arquivado e acedido
para que todos se ajustem às suas normas sociais egoístas e papéis patriarcais.
mente ou no corpo. Ser intersexo ou transgénero não é uma doença, mas uma
condição. "
Concordo com Hakima que o género é fluido e você pode e deve ser o que quiser,
A maioria de nós, mesmo trans e intersexo, ainda tenta se encaixar nas categorias
de 'homem' e 'mulher', 'hétero' e 'gay' e outros binários. Precisamos expandir
716
Terminarei mencionando que minhas emoções, pensamentos, acções e fazer
escolhas informadas são o que me fazem Guillit, e mudar meu nome não tem
nada a ver com isso. Pense bem, por que a sociedade e suas normas patriarcais
nome que escolhi para mim, não como os nomes impostos ou dados nos quais
DSM e ICD.
Vou projetar como viver e qual é o melhor para mim e fazer parte de trazer
habitável para mim e para outras pessoas para as quais o mundo não foi
embora o homem esteja lutando para parar meus sonhos. Só podemos trazer à
nos despedaçarmos.
Solidariedade, Guillit
Notas
O DSM-V é a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, compilado pela Associação Americana
de Psiquiatria (APA), a ser publicada em Maio de 2013. Substitui o DSM-IV, publicado em 2000.
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Ushirikiano Panda (UP) é uma organização queniana cuja missão é criar espaços seguros e aumentar o bem-estar das pessoas
intersexuais e transgéneros (IT) no Quénia. O grupo é liderado pelo próprio pessoal de TI e se esforça para desenvolver um
país no qual todos os cidadãos sejam livres para determinar e expressar seu próprio género. Desde essa conversa, a UP mudou
seu nome para Jinsiangu, que vem das palavras em kiswahili jinsia yangu, que significam 'meu género'.
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42 – LEMBRA-TE DE MIM QUANDO EU ME FOR – Busisiwe Sigasa
Em Abril de 2006, Busi foi estuprada por um jovem perto de sua casa. Alguns
meses depois, ela descobriu que era seropositiva. Busi já sofria de diabetes e,
embora estivesse a receber ARVs, nunca estava muito bem e muitas vezes lutava
por seus dias. Ela não apenas teve que aceitar ser estuprada e seropositiva, mas
teve que viver vendo seu estuprador andar pelas ruas e até se deparar com ele na
clínica de HIV. Em 12 de Março de 2007, Busi, que tentava trabalhar alguns dias
por semana, voltou para casa e imediatamente foi dormir no seu quarto. Poucas
horas depois, sua mãe apareceu e a acordou para tomar seu remédio para
diabéticos. Busi disse que estava tudo bem, mas ela deve ter adormecido e a partir
daí nunca mais acordou. Este é um dos muitos poemas que ela escreveu e
http://latifah.wordpress.com/.
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Parei sem medo e contei a minha história
Eu conscientizei nações
Fiz isso para permanecer forte e viver minha vida, independentemente do meu
status
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Lutei e mostrei a muitos que não há nada errado em ser diabética, epilética e HIV
minha câmara
Eu trouxe à tona o que não era visto pelas nações através do poder da imagem,
caneta e papel
Fui levada para um passeio por alguns que eu pensei que eram amigos
Eu acreditei e orei
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Eu digo junto com os outros
Eu tinha uma mensagem para entregar e uma visão para ver Eu tentei, caí e nunca
consegui às vezes
Eu era amada por alguns e odiada por alguns, AINDA assim eu fiz o que eu fazia
Eu sou uma merda! mas espiritualmente eu estava cheia Fui alimentada com a
glória de DEUS, por isso o louvei Eu adorei-O mais do que adorei amigos
POR ... sem dúvida, vou e estou em paz com meu fazedor e criador. AMÉM!
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