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Homossexualidade (CC)

A homossexualidade perante a Bíblia –


Resposta à seguinte mensagem.

De: “Dr. Elias Melo” <aasp1254@terra.com.br>


Para: “Camilo Est. Bíblicos” <camilo@estudos-
biblicos.com>
Assunto: “Sou pastor e sou gay” Revista Época
Data: quinta-feira, 3 de Abril de 2003 15:03

Camilo - Bom dia!!!


Como fui informado de que você é um estudioso, gostaria
de saber se a interpretação dada por este Pastor “gay” em sua
entrevista à revista época, encontra algum amparo bíblico,
porém, coerente.
Grato.
Elias

VICTOR ORELLANA “Sou pastor e sou gay”


Teólogo diz que há assédio nas igrejas e que parte do
preconceito contra homossexuais se deve a traduções erradas da
Bíblia.

JOÃO LUIZ VIEIRA


(a) A Igreja Metodista está entre as mais tradicionais
denominações protestantes. A Assembléia de Deus é famosa
como uma das mais rígidas - muitos pastores ainda recomendam
aos fiéis que não assistam à televisão e às mulheres que não
usem calças para não ressaltar os quadris. O chileno Victor
Ricardo Soto Orellana, de 31 anos, foi criado numa família
metodista em São Paulo e ordenado pastor na Assembléia de
Deus. Formado em teologia e pós-graduado em ciência e
religião, já deu aula em três seminários. O que o diferencia da
grande maioria dos religiosos é que ele é gay, e admite isso
publicamente. Ainda, contesta as interpretações mais difundidas
sobre o texto bíblico, que, em tese, condenam o
homossexualismo. Polêmico, ele afastou-se recentemente da
Assembléia para fundar sua própria igreja evangélica, a
Acalanto. Depois de um culto, Orellana concedeu a ÉPOCA a
seguinte entrevista.
PERFIL - Otavio Dias/ÉPOCA
Dados pessoais
Nascido no Chile, tem 31 anos e vive em São Paulo há
27. Assumiu a homossexualidade há sete anos
Trajetória
Formado em teologia no Instituto Betel, com pós-
graduação em ciência e religião.
Ordenado na Assembléia de Deus, saiu para fundar a
própria igreja, a Acalanto

ÉPOCA - Por que falar publicamente sobre sua


homossexualidade na condição de pastor evangélico?
Pastor Victor Orellana – (b) Porque é um assunto
velado dentro das igrejas e, por causa disso, ignorância e
preconceitos são perpetuados. É necessário que o assunto seja
debatido em toda a sociedade. O homossexual não é alguém que
mora longe ou está do outro lado da rua. Ele pode ser um amigo
nosso, um irmão ou um filho. Quanto mais conhecimento existir
sobre o tema, menos sofrimento haverá para todas as partes
envolvidas.

ÉPOCA - A homossexualidade e a Bíblia não são


incompatíveis?
Orellana – (c) De maneira alguma. Os homossexuais têm
dificuldade de se ver aceitos por Deus porque as pessoas dentro
das igrejas são preconceituosas. Mesmo os homossexuais
religiosos têm preconceito. Muitos jovens entram em conflito
porque pensam em exercer a espiritualidade cristã e as igrejas os
impedem. São espezinhados, excluídos ou humilhados. Penso
que a igreja não pode ser parcial nisso. Não pode escolher alguns
e deixar outros de fora de seu rebanho. Ela é a representante de
Deus na Terra e deve acolher a todos. Cristo jamais lançou fora
ninguém, ele tem amor incondicional. Eu pessoalmente já passei
por preconceitos quando fui ordenado pastor. Disseram-me que
eu estava errado, em pecado.

ÉPOCA - Chegou a acreditar nisso?


Orellana - Nasci numa família evangélica. À medida que
ia crescendo, maior era meu encontro com a fé. Entrei na
Assembléia de Deus e no seminário para seguir o que senti ser
um chamado de Cristo. Ao mesmo tempo, fui tomando
consciência de minha homossexualidade. Desde criança tinha
sentimentos por homens, mas os reprimia. Isso mudou quando
estava na Assembléia e um dirigente de minha congregação, um
homem mais velho, me assediou. Pensei: (d) “Porque eu me
culpo a ponto de me anular, enquanto dentro da igreja há esse
tipo de hipocrisia?” Decidi aceitar minha orientação
homossexual.

ÉPOCA - Contou à família?


Orellana - Minha família sabe há sete anos. O rosto
fechado veio da minha mãe. Toda mãe espera muito dos filhos. E
se você se nega a cumprir as metas que ela planejou é como se
destruísse seus sonhos. Mas sou existencialista, creio que cada
um tem a própria vida para viver. Meus irmãos me
compreenderam melhor. “Pecado é ter a liberdade de escolher
entre o bem e o mal e optar pelo mal. Ninguém escolhe ser
homossexual. A orientação sexual é algo inerente ao indivíduo e
a sua personalidade” A libertinagem e a promiscuidade são
pecados porque agridem a dignidade da pessoa. Cristo nos dá o
direito de nos guiar por nossas consciências e pelo amor. Pecado
é não amar.

ÉPOCA - Como foi descobrir-se homossexual na


Assembléia de Deus, uma das igrejas mais rígidas?
Orellana - Foi muito difícil. Eles acham que todas as
pessoas nascem com uma orientação heterossexual dada por
Deus mas alguns se pervertem. Acreditam que o ser humano não
é, em sua essência, homossexual, mas se homossexualiza. Isso é
ignorar a posição da ciência, que descreve a orientação sexual
como algo inerente ao indivíduo e a sua personalidade.
Muitos homossexuais crescem nesse ambiente religioso e
crêem que fazem algo de errado. Acham que são perniciosos e
buscam as igrejas para “se libertar”, anulando suas expectativas
pessoais e condicionando-se ao modelo heterossexual.
Os ex-gays, ou libertos, como eles se denominam, se
condicionam. Mas, com toda a fé que têm, não conseguem sentir
desejo por alguém do sexo oposto. Vivem como párias, excluem
o desejo de sua vida.

ÉPOCA - O senhor testemunhou algum processo dessa


suposta cura?
Orellana - Enquanto estava na Assembléia de Deus, vi
testemunhos nos quais as pessoas diziam que Jesus as havia
curado. Nos cultos, há muitos aplausos, “glória a Deus” e
“aleluia”. Essas pessoas aderem sinceramente à fé. E, como a
igreja lhes pede que renunciem ao pecado, elas acham que Deus
quer isso mesmo. Assim, vão contra a própria natureza e buscam
relacionamento com alguém do sexo oposto. Conheci fiéis que se
casaram e descasaram bem cedo porque viram que a situação não
é fácil de administrar. Mas os grupos que falavam em (e) “cura”
dos homossexuais estão diminuindo, graças ao maior
esclarecimento, que levou a mudanças no código social. As
igrejas estão mudando o tom agressivo contra os gays. Agora há
grupos que se denominam de auto-ajuda, não de libertação ou
cura. A sexualidade é coisa inerente a cada um. Lutar contra isso
é como lutar contra a cor dos olhos.
“A Bíblia fala que a igreja cristã não pode fazer
discriminação de pessoas. (f) Jesus instituiu uma nova visão de
mundo, na qual não existiriam mais divisões por raças, homens
livres e escravos” “Não podemos voltar a situações de vida
obsoletas. Antigamente as minorias não tinham direitos, mas
hoje há democracia, direitos humanos e conhecimento científico
que deve servir à teologia.”

ÉPOCA - A Igreja Católica perdoa os homossexuais,


mas sugere que eles vivam em celibato. Como o senhor vê essa
posição?
Orellana - A Igreja Católica ao menos reconhece a
existência de homossexuais. Os evangélicos ainda crêem que as
pessoas nascem heterossexuais mas se tornam homossexuais. Na
verdade, ninguém escolhe a orientação sexual que tem.

ÉPOCA - O senhor tem um namorado, um parceiro?


Orellana - Já tive parceiros e um relacionamento estável.
Mas, no momento, estou sozinho.

ÉPOCA - Freqüenta guetos homossexuais? Bares,


boates, saunas?
Orellana - Vou a bares de vez em quando. Mas não
freqüento saunas nem boates, ambientes em que se praticam a
promiscuidade e o chamado sexo predatório. Vou a lugares nos
quais encontro os amigos. Parte importante da vida é encontrar
pessoas que pensam como a gente, que passam pelos mesmos
problemas. Quero um cotidiano normal. Não quero viver em
guetos, mas em lugares nos quais possa demonstrar afeto sem
sofrer preconceito ou ser expulso.
ÉPOCA - O senhor acaba de fundar a própria igreja.
Pretende celebrar casamentos de homossexuais?
Orellana - Sim. Antes de fundar a Acalanto, já casei dois
amigos que me pediram a bênção. Acho positiva a parceria civil
registrada porque ela reconhece uma relação verdadeira. E está
na Constituição que o Estado não pode discriminar ninguém.
Como o governo só confere direitos previdenciários a casais
heterossexuais? Onde está a lógica disso?

ÉPOCA - A Bíblia tem passagens que condenam


explicitamente o homossexualismo. Por exemplo: “Não te
deitarás com varão como se fosse mulher; é abominação”
Levítico 18:22
Orellana - O termo toevah, traduzido por “abominação”,
indica na verdade uma impureza ritual, não algo intrinsecamente
mau. Essa proibição está no mesmo nível do veto a comer
camarão, ostra e carne de porco. A Lei de Moisés está repleta de
conceitos arcaicos. Ela admite a poligamia, manda apedrejar até
a morte homem e mulher adúlteros e ordena que (g) o homem,
mesmo se for casado, case com a mulher de seu falecido irmão
quando ela ficar viúva. Ainda proíbe o uso de roupas com dois
tipos de tecido e até mesmo misturar carne com leite - ou seja,
bife à parmegiana era pecado. Essa lei contém uma
irracionalidade que só poderia ser entendida no contexto em que
foi escrita, séculos antes de Cristo. Ela visava exclusivamente ao
povo judeu daquele tempo. Israel foi criada para ser uma nação
com um código moral diferente do das outras nações, uma nação
sacerdotal.

ÉPOCA - Mas, no Novo Testamento, o apóstolo Paulo


diz que “os injustos não herdarão o reino de Deus”, incluindo na
lista “os efeminados e os sodomitas”. Critica também os homens
que abandonam a mulher e se engajam em concupiscência com
outros homens.
Orellana - Há um disparate da tradução, que se
aproveitou de uma falsa equivalência entre os termos atuais e os
que eram usados naquele tempo. Paulo criticava os romanos por
sua libertinagem e chamava-os de “doces” e “macios”, apenas. A
palavra homossexual foi cunhada no fim do século XIX, e não
tem nada a ver com o que se pensava no século I a respeito das
relações entre homens. Paulo pensava em homens originalmente
afeiçoados às mulheres, mas que se engajavam no pansexualismo
romano, praticando a libertinagem em todas as suas formas.
Paulo não tinha em mente o homossexual como se conhece
atualmente, alguém que tem uma vida afetiva com uma pessoa
do mesmo sexo. Portanto, não é correto transpor para os dias de
hoje aquela

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Prezado irmão Elias


Antes de comentar esse artigo que me enviou, atendendo
a que o irmão pede a minha opinião sobre o fundamento bíblico
coerente desse artigo, penso que teremos de raciocinar um pouco
“a montante” do problema que me colocou, pelo que sugeria uma
prévia leitura dos meus artigos: “A Bíblia é a Palavra de Deus?”
http://www.estudos-biblicos.com/palavra.html , “Santidade ao
Senhor” http://www.estudos-biblicos.com/santidade.html e
“David ou Davi” http://www.estudos-
biblicos.com/davidavid.html .

A posição do Pastor Victor Orellana tem algum


amparo bíblico?

A sua pergunta poderia ser abordada sob dois aspectos:


1) Sob o aspecto fundamentalista ou biblicista, de quem
considera a Bíblia como um todo homogéneo e de igual
importância, considerando por exemplo o livro de Levítico em pé
de igualdade com o evangelho de João e a palavra de Moisés tão
importante como a de Cristo. Neste caso bastaria pegarmos numa
concordância, ou chave bíblica ou a busca informática.
Penso que é este o posicionamento teológico das
Assembleias de Deus, e é neste contexto que devemos tentar
compreender a sua posição perante os homossexuais.
Mas penso que seria interessante saber qual a posição do
Pastor Orellana sobre este importante assunto, que está na base
da divergência de opiniões.
Com esta interpretação fundamentalista, que não é a
minha posição, julgo que o entrevistador da revista Época, Sr.
Otávio Dias já mencionou uma das mais importantes passagens
em Levítico 18:22 e temos também Levítico 20:13, talvez até
mais explícita.
Não confirmo a informação do Pastor Orellana de que
“toevah” não deve ser traduzido por “abominação”, pois
consultei várias traduções (tenho doze na minha estante), e a
palavra que aparece nas traduções em português é “abominação”
ou “coisa abominável” ou “detestável”... e nas outras línguas é
mais ou menos a sua tradução. Se nos lembrarmos de que, pelo
menos as melhores traduções não são obra de um só homem, mas
de um grupo de biblistas, parece-nos que não será muito realista
admitir desconhecimento de todos estes entendidos protestantes e
católicos não só da nossa língua como da língua francesa,
espanhola, inglesa ou alemã, para aceitarmos que só o pastor
Orellana estará correcto. Aliás, se examinarmos o contexto deste
versículo, vemos no versículo 29 “Porém, qualquer que fizer
alguma destas abominações, as almas que as fizerem serão
extirpadas do seu povo.” Levítico 18:29 A palavra extirpar é
termo agrícola que significa arrancar pela raiz e que corresponde
a exterminar que pode significar expulsar ou destruir, portanto
seria a pena de morte que parece confirmar a gravidade da
transgressão.
2) Mas podemos considerar uma outra abordagem do
problema, que me parece mais correcta e mais cristã, em que se
coloca em primeiro lugar a opinião de Jesus o Cristo, o único que
é a Palavra de Deus.
Segundo vemos em Mateus 5:21/34 aparece várias vezes
a expressão “Ouvistes que foi dito aos antigos... eu porém, vos
digo....” Portanto, Jesus falava com a sua própria autoridade para
alterar e actualizar toda a Escritura.
Se houvesse alguma referência de Jesus ao assunto, não
teríamos certamente qualquer dúvida em aceitá-la em
primeiríssimo lugar, mesmo que contrariasse todo o resto da
Bíblia. Mas como infelizmente não temos essa passagem, julgo
que só nos resta procurar outros casos semelhantes a fim de se
tentar estabelecer um paralelo de ideias que nos leve a imaginar
qual teria sido a reacção do Mestre perante a pergunta que o
irmão me coloca.
Lamento não poder dar ao prezado irmão Elias uma
resposta com sólido fundamento bíblico, como me pediu, mas
somente a minha modesta opinião, ou talvez nem isso, mas
somente as minhas dúvidas. Em todo o Novo Testamento só
encontro essa afirmação de Paulo em Romanos 1:18/32 em que
ele condena a depravação dos gentios, mas suponho que o Pastor
Orellana também não apoia o que ele chama de “promiscuidade e
sexo predatório”.
Mas, pode alguém perguntar: Não temos já essa
passagem da Lei? Será possível Jesus fazer alguma coisa que não
esteja rigorosamente de acordo com toda a Lei
veterotestamentária? Se Jesus nunca pecou, como será isso
possível?
Penso que tudo depende do que se considera transgressão
da Lei, pois por vezes temos de aceitar uma certa hierarquia das
leis, e segundo o nosso Mestre a Lei do amor deve estar sempre
em primeiro lugar, pois Jesus transgrediu a lei do sábado ao curar
nesse dia, assim como não cumpriu a lei que mandava apedrejar
a mulher adúltera e aproximou-se de leprosos e até tocou neles,
tornando-se assim também impuro de acordo com a Velha Lei.
Tudo isso foram transgressões da lei de Moisés, em obediência a
uma lei superior a todas as outras, que Jesus nos deixou.
Mas tenho ainda outra dúvida. Se adoptarmos neste caso
uma posição rígida e fundamentalista, pois está escrito que os
homossexuais sejam apedrejados, então o que fazer com os
desgraçados dos leprosos? Em vez de os ajudar nos hospitais
apropriados, teríamos de os escorraçar para morrerem em lugares
desérticos de acordo com a velha Lei.
Ainda outra dúvida. De acordo com I Coríntios 6:10, que
me parece ser a passagem sugerida embora não mencionada
propriamente pelo Pastor Orellana, segundo a tradução de
Almeida, Paulo escreveu aos Coríntios “Não erreis: nem os
devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os
efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os
avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os
roubadores, herdarão o reino de Deus.” Claro que podemos
pensar que nós não somos nada disso que Paulo menciona, mas
se nos lembrarmos das palavras do Mestre na passagem que já
referi em Mateus 5:21/34 em que Ele nos diz que a cólera contra
alguém corresponde ao homicídio, o cobiçar uma mulher só em
pensamento já é adultério, etc... então eu também estou incluído
nesse grupo dos que não podem herdar o reino de Deus.

Posição veterotestamentária perante as deficiências


físicas

Todos conhecemos a passagem no capítulo 9 de João em


que os discípulos, vendo um cego de nascença, perguntam a
Jesus quem tinha pecado, se ele ou seus pais. João 9:1/3
Penso que eles tinham razão de acordo com a teologia
veterotestamentária que de certa maneira considerava qualquer
deficiência física como consequência do pecado e consequente
castigo de Deus. Um sacerdote que não fosse fisicamente
perfeito não podia aproximar-se do altar segundo vemos em
Levítico 21:16/21 onde estão as condições a que o sacerdote teria
de obedecer. Não podia ser cego, ou coxo, ou ter o nariz
achatado, ou membros muito compridos, ou defeitos nos pés ou
nas mãos, ou se fosse corcunda, ou com doenças de pele, ou
defeito nos testículos. Tudo isso era identificado com o pecado e
considerado motivo de rejeição da parte do Deus de Israel. Não
podemos ignorar esse contexto cultural veterotestamentário
quando meditamos nestes assuntos.
Mas então, surge certamente a pergunta:

O que é propriamente um homossexual?

Será que se tornam homossexuais pelo pecado, por uma


decisão livre e consciente de querer transgredir a lei divina, ou
talvez, antes do seu nascimento, já são vítimas duma má
formação, tal como o cego ou o coxo de nascença, ou o
mongoloide etc? Será que uns nascem homossexuais assim como
outros nascem homens ou nascem mulheres normais sem que
essa fosse a sua opção?
O Pastor Orellana afirma que “ninguém escolhe ser
homossexual”, mas pelo seu testemunho, julgo que um
homossexual pode, dentro de certos limites, optar entre levar
uma vida de “promiscuidade e o chamado sexo predatório” ou
levar uma vida discreta. Até que ponto ele será livre para
escolher entre estas duas opções?
Não tenho capacidade para dar uma resposta sobre o
assunto, pelo que pedi ajuda ao Professor de Psicologia Dr.
Orlando Caetano que é também Pastor habilitado com o curso de
teologia, distinto colaborador da nossa página na internet, que me
enviou o seguinte esclarecimento.

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=

“Com base nas ciências humanas, nomeadamente na


psicologia, sim, essa informação é correcta.
Assim como ninguém escolhe ser heterossexual, também
ninguém escolhe ser homossexual.
De facto, a palavra grega «malakoi» que Almeida traduz
por efeminados, significa literalmente macios, moles.
A palavra «arsevnokoitai», que Almeida traduz por
sodomitas é uma palavra composta: arsenoi (macho, varão) e
koitai (leito, cama), de modo que há várias
traduções/interpretações como já verificaste. Numa obra de
estudo das palavras gregas do Novo Testamento encontro:
abusadores.
Uma coisa é uma pessoa não poder escolher a sua
orientação sexual, outra coisa é, dentro dessa orientação sexual,
escolher uma vida celibatária, monógama, promíscua, de
adultério, de relação a dois, estável etc...
Ou seja, há que distinguir entre orientação sexual e
comportamento sexual. A orientação sexual não é uma opção. O
comportamento sexual é. (Ressalvando muito embora, neste
caso, eventuais condicionantes biossocioculturais).
Isto aplica-se tanto a uma pessoa heterossexual como a
uma pessoa homossexual.
Há heterossexuais, como há homossexuais, que fazem
sexo sem amor, prejudicam os seus parceiros sexuais, são
irresponsáveis, promíscuos... Mas também há, tanto
heterossexuais como homossexuais, que vivem a sua sexualidade
em amor, com um só parceiro, no respeito mútuo.”

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De acordo com o livro de Génesis, Deus criou Adão e


Eva. Quer se aceite esta passagem como uma descrição da
realidade quer se aceite como uma alegoria, eles são o homem e
a mulher originais. De certa maneira todos nós somos como que
cópias desse original e eles, Adão e Eva são heterossexuais. Essa
é a situação normal e desejável para o homem ou a mulher.
Por um lado, não posso deixar de considerar a
homossexualidade como uma situação anormal e indesejável
dum ser humano, assim como a situação do coxo, ou do cego ou
de qualquer outra deficiência. Mas julgo que o Pastor Orellana
tem razão quando se queixa do que sofreu na Assembleia de
Deus, pois penso que muita da agressão verbal e violenta rejeição
de que é vítima o homossexual se deve mais a motivos culturais
do que a um sólido fundamento bíblico neotestamentário. Nesses
casos, o homossexual reage muitas vezes negativamente e em
vez de levar uma vida celibatária ou estável a dois, vai para o
extremo oposto da promiscuidade, ou tenta até passar a
mensagem de que a homossexualidade é uma excepção, não pela
negativa, mas pela positiva, uma característica de pessoas
altamente dotadas, mensagem que tem de ser compreendida
como fruto do desespero de quem se sente marginalizado devido
à sua deficiência.
Apesar de ter algumas divergências em relação às
declarações do Pastor Orellana na sua interpretação dos textos
bíblicos, ou pelo menos é o que me parece, pois não podemos
esquecer de que não estamos perante um artigo teológico escrito
por esse Pastor mas sim perante uma entrevista dada a uma
revista secular, penso que duma maneira geral o Pastor Orellana
tem uma atitude sensata e moderada que poderá ajudar outros
que têm a mesma deficiência e necessitam duma ajuda que lhes é
negada nas nossas igrejas.
E é tudo o que tenho a dizer sobre a principal questão que
me foi colocada.
Mas há outros pormenores secundários que gostaria de
comentar.

(a) “A Igreja Metodista está entre as mais tradicionais


denominações protestantes.”
Eu não sou muito defensor da tradição, mas também não
sou contra a tradição nas igrejas. Penso que a tradição se deve
manter enquanto for útil, e deve ser rejeitada se deixar de ter
significado. Principalmente nas igrejas evangélicas em África ou
no Oriente, há muitos casos em que a tradição prejudica a
mensagem do Evangelho. Foi mencionado o caso das mulheres
na Assembleia de Deus não poderem usar calças no Brasil. Mas
na China, a mulher anda de calças e certas igrejas proíbem que
use saias para não mostrar as pernas. Vi isso há mais de 30 anos
na mesma igreja, A Assembleia de Deus de Macau. Mas quando
se fala em tradição, pergunto: Que tradição? É a tradição bíblica?
Ou é a tradição da Reforma? Ou é a tradição ocidental, que nada
tem a ver com esse oriental da Ásia menor chamado Jesus o
Cristo? Se isso é assim importante, então os pastores deverão dar
o exemplo abandonando a gravata para se vestirem como Cristo
se vestia no seu tempo.

(b) “Porque é um assunto velado dentro das igrejas e, por


causa disso, ignorância e preconceitos são perpetuados...”
Infelizmente, penso que o Pastor Orellana tem razão
quanto à ignorância nas igrejas evangélicas que são fruto da falta
de liberdade de expressão. Essa falta de liberdade começa logo
nos Seminários onde os pastores se formam, que logo
estabelecem uma espécie de “cânon” do que eles podem ou não
podem ler.
Geralmente as igrejas estão mais preocupadas com a
mentalização doutrinária do que com a séria reflexão e livre
interpretação da Bíblia, que foi a tradição da Reforma que
infelizmente se perdeu, e essa sim... essa tradição era importante
recuperar.

(c) “De maneira alguma.” (a homossexualidade e a Bíblia


são incompatíveis?).
Eu aqui discordo do Pastor Orellana. Penso que, se o
Velho Testamento condena o homossexual à pena de morte, há
uma forte incompatibilidade. O problema, como disse, é saber se
seguimos o Velho Testamento como judeus, ou se seguimos a
Cristo como cristãos.

(d) “Porque eu me culpo a ponto de me anular, enquanto


dentro da igreja há esse tipo de hipocrisia?”
Certamente que nas igrejas poderá haver hipocrisia. A
própria Bíblia nos alerta para isso, mas um dirigente duma
igrejas nunca pode servir de exemplo para um jovem. Penso no
entanto que ao dar essa informação o Pastor Orellana não está a
querer justificar-se mas simplesmente a descrever o que
aconteceu.

(e) “Cura dos homossexuais”


Em primeiro lugar quero deixar bem claro que acredito
que Deus pode interferir na natureza humana, pode curar
qualquer doença ou deformação física, tanto na época de Jesus
como nos nossos dias. Acredito que Deus ainda cura nalguns
casos.
Mas outra coisa bem diferente é acreditar ingenuamente
nessas “curas espectáculo” apresentadas por certas igrejas, que
até informam com antecedência que no dia tal às tantas horas
Deus vai derramar o seu Espírito e vai haver curas, como se o
Deus supremo estivesse às ordens dos pastores e das igrejas ou se
sujeitasse aos nossos planos e aos nossos horários.
Infelizmente, a informação que nos vem dos profissionais
de saúde é bem diferente. É pena não haver dados estatísticos
(pelo menos em Portugal não há), mas penso que pelo contrário
são mais os casos de perturbações mentais e delírios místicos
causados por certas igrejas, precisamente por essas que dizem
que curam. Penso que é mais correcta a atitude dos grupos de
auto-ajuda como refere o Pastor Orellana.

(f) “A Bíblia fala que a igreja cristã não pode fazer


discriminação de pessoas. Jesus instituiu uma nova visão do
mundo, na qual não existiriam mais divisões por raças, homens
livres e escravos.”
É pena o Pastor Orellana não ter mencionado a passagem
em que se baseia, para verificarmos se o contexto confirma a sua
interpretação. Penso que o assunto seria importante para um
maior desenvolvimento, pois em Efésios 6:5 e em Colossenses
3:22 que na tradução de Almeida vem “... servos obedecei a
vossos senhores...”, nas cópias dos textos originais está “doulos”
que significa escravos. Mas isso daria para uma grande
conversa. Teríamos de compreender o que era um escravo nessa
cultura. E será que nos nossos dias, embora a palavra não seja
utilizada, já não há “escravos”? Somos nós melhores do que os
antigos que tinham os seus escravos?

(g) “... e ordena que o homem, mesmo se for casado, case


com a mulher de seu falecido irmão quando ela ficar viuva.”
Penso que esta informação não é absolutamente correcta.
Convido a ler em Deuteronómio 25:5/10, onde se vê que isto não
é o caso geral e só se aplicava “quando alguns irmãos morarem
juntos” e se a viuva não tivesse filhos.
Tratava-se da obrigação do cunhado e em caso de não
cumprimento a viuva podia queixar-se aos anciãos para que ele
fosse punido por essa falta de “respeito” para com a sua cunhada
e seu falecido irmão. Esta lei, que não faz sentido nos nossos
dias, tem de ser entendida no contexto histórico que lhe deu
origem, numa cultura em que a viuva não tinha muitas
possibilidades de sobreviver e não podia herdar a terra, pois ela
(a viuva) poderia ser de outra tribo, pois o território estava
dividido pelas várias tribos de Israel e teria necessidade dum
filho varão para ser o herdeiro.

Ainda ficaram muitos pormenores por esclarecer, mas


para concluir este artigo:
Penso que o Pastor Orellana tem razão quanto ao
preconceito negativo contra os homossexuais que é fruto da
ignorância e falta de liberdade de expressão nas nossas igrejas
onde certos assuntos não são livremente debatidos, como ele diz.

Quanto às traduções erradas da Bíblia, não sou pessoa


com preparação para emitir uma opinião sobre o assunto, pois
não conheço as línguas originais, mas como já referi, prefiro
confiar no grande número biblistas de várias línguas, várias
culturas e várias linhas doutrinárias que mostram uma certa
unanimidade nesses pontos que foram citados, em que o Pastor
Orellana e outros homossexuais, segundo vemos nas suas
páginas da internet, são, segundo me parece, os únicos a
discordar.
Embora pessoalmente seja contra a organização de novas
igrejas (denominações), pois já bastam as que temos, penso que
há algumas situações em que tal atitude se pode justificar. Se os
homossexuais forem rejeitados nas igrejas evangélicas, não terão
outra opção senão a formação da sua própria igreja.
Que o Senhor abençoe a nova igreja do Pastor Orellana.

Camilo – Marinha Grande - Abril de 2003.

COMENTÁRIOS RECEBIDOS SOBRE


ESTE ARTIGO

Mensagem recebida em 2006/01/04


Enviada por Ronaldo <osadracrolf@hotmail.com>
Caro Camilo estive buscando recursos nos sites de
buscas e me deparo com os seus artigos,e por incrivél que
pareça me deparo com uma situção sua em opinão a
homossexual.confesso que fiquei decepcionado aonde você
diz: que o senhor abençõe a nova igreja do pastor Orellana.
como pode consetir com isso? uma igreja formada por
gays?
De acordo com a bíblia eles são afeminados e
carregam consigo os traços e um sentimento maligno de estar
no lugar de uma mulher. pensei que estivesse base bíblica pra
não concordar com esses tipos. Mas vejo diferença em seus
argumentos e opiniões eles precisam é ser libertos e lavados
no sangue do cordeiro.
abençoar em que sentido? o senhor enviando mais
gays para aquela igreja e como tem coragem de chamar um
pevertido de pastor?pelo geito vc tem muita base bíblica que
só faria piorar a situação duas vezes mais dessas vidas.

Respondi no mesmo dia 2006/01/04


Prezado Ronaldo
Em primeiro lugar os meus agradecimentos pela
mensagem que me enviou, julgo que ontem à noite, pois recebi
esta madrugada devido à diferença horária.
Bem sei que a sua opinião é diferente, mas na minha
página, a “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas”, há
liberdade de expressão e de opinião, e é salutar a diversidade de
opiniões.
Gostaria de publicar o seu comentário a seguir a esse
artigo que o irmão refere, para depois acrescentar a minha
resposta e possivelmente muitos outros comentários que os
visitantes da minha página queiram enviar.
Assim, peço autorização para publicar o seu comentário
bem como mais informações a seu respeito. Já tenho o seu
endereço de internet, mas peço que nos informe onde se
encontra, qual a sua igreja, idade, preparação cultural e teológica,
se é Pastor ou leigo ou diácono, etc, bem como outras
informações que nos queira dar, pois só publico artigos ou
comentários de pessoas devidamente identificadas. Assim, os
outros visitantes da minha página poderão contactá-lo, ou
directamente ou através da minha página.
Aguardo sua resposta.
Com os meus cumprimentos
Camilo

Mensagem recebida em 2006/01/05


Caro Camilo
È sempre assim que se chama a filosofia e o modernismo
e o secularismo diantes de situações tão ridículas quanto a
palavra de Deus “liberdade de expressão” e nunca a verdade e
realidade,quanto a conduta do homem diante das sagradas
Escrituras.É triste quando conhecemos a palavra e consentimos
com esses tipos de perversão.
Não estou aqui a querer denegrir e nem ser racista,como
pensam o tal e nem à condenar e julgar que não cabe a mim,mas
sim ao supremo e justo Juíz naquele grande dia que julgará a
cada um segundo a sua obra.Moro em jucutuquara-Vitória-
ES,sou da Assembléia de Deus,sirvo aos santos como diácono e
fique a vontade em publicar o que quizer ao meu respeito.
Prezado Diácono Ronaldo
Em primeiro lugar, penso que foi bem útil a sua
colaboração na minha página.
Embora não me tenha dado toda a informação que lhe
pedi, sobre a sua idade, preparação cultural e teológica,
considero a omissão dessas informações, de certa maneira como
uma resposta da sua parte. Mas foi pena, porque através da
internet contacto com pessoas bem diferentes e essas
informações eram importantes para lhe responder, pois falar para
um jovem não é o mesmo que para um adulto, nem responder a
um leigo novo convertido sem preparação, não é o mesmo que
responder a quem já tenha alguma preparação cultural e teológica
e só a informação de que é diácono, nada me diz. Não julgue que
estou a ser elitista, pois conheço leigos ou jovens com boa
preparação teológica, e conheço pastores com muito fraca
preparação teológica e cultural, que nem têm a nossa
escolaridade mínima.
Verifico pela linguagem utilizada, que as suas mensagens
foram enviadas no calor da emoção. Espero que estes poucos
dias que já passaram, o tenham feito acalmar, para podermos
reflectir no assunto. Não sou contra a emoção, dentro de certos
limites. Mas por vezes, a emoção descontrolada, pode bloquear o
nosso raciocínio, levando a ver só a nossa “verdade”, sem termos
possibilidade de compreender os outros, nem descobrir a
Verdade que o Mestre nos revelou e que muitas vezes foi
substituída pelas tradições das igrejas “evangélicas” que já pouco
ou nada têm do verdadeiro Evangelho.

Depois de meditar neste caso, e talvez eu esteja em


posição de o fazer mais calmamente do que vocês (o Diácono
Ronaldo e o Pastor Orellana) por estarem envolvidos
emocionalmente no assunto, cheguei à conclusão de que têm
entre si, muito mais em comum, na vossa posição doutrinária, do
que eu. Refiro-me concretamente à base das vossas convicções e
aos pressupostos de que partem, pois julgo que ambos aceitam o
dogma do Concílio de Trento que considera toda a Bíblia como a
Palavra de Deus, eterna e imutável. Sobre o assunto aconselho a
ler o meu artigo “A Bíblia é a Palavra de Deus?” ou o artigo do
Pastor Orlando Caetano “A Palavra é Jesus”, que estão
publicados nesta página da internet.
Partindo deste pressuposto, de que toda a Bíblia é a
Palavra de Deus, eterna e imutável, então de acordo com as
passagens que já citei no livro de Levítico 18:22 e 29, e Levítico
20:13 o Pastor Orellana está em grave transgressão por ter
nascido homossexual. Nisso o Diácono Ronaldo teria toda a
razão, mas também estaria em falta se não matasse o Pastor
Orellana como manda a tal Lei eterna e imutável.
Mas temos mais actos condenados com a pena de morte
nesse livro de Levítico:
Levítico 7:23/27 e Levítico 17:10 Quem comer gordura
de algum animal ou comida preparada com sangue, será
condenado à morte.
Levítico 13:46 O leproso era declarado imundo e tinha de
viver isolado, fora das cidades. Portanto, o seu tratamento nos
hospitais especializados é transgressão à Lei de Deus.
Levítico 20:6 Quem consultar adivinhadores e
encantadores será extirpado do meio do povo. No entanto, os
magos do Oriente, personagens em evidência logo no início do
Evangelho de Mateus, eram astrólogos e também deveriam ser
condenados à morte.
Levítico 20:9 O mesmo acontecerá a quem amaldiçoar o
pai ou a mãe, ou tiver relações sexuais com diversos familiares,
como se vê nos versículos seguintes a este.
Levítico 24:16 Estabelece a pena de morte para quem
blasfemar, embora não defina claramente o que é blasfémia.
O Velho Testamento, que consideram como a Palavra de
Deus, prevê a escravatura, havendo uma das primeiras referência
em Números 31:13/18, em que Moisés, depois de terem vencido
os midianitas, indignou-se por terem morto só os homens e não
as mulheres e crianças, obrigou a matar todas as mulheres e
todos os meninos, entregando as meninas aos seus soldados.
Piores crimes e massacres estão descritos no livro Josué,
em que cidades inteiras são exterminadas, com todos os seus
homens, mulheres, crianças, idosos e até os animais. Crimes
horrorosos, cometidos segundo dizem, em obediência ao deus
dos judeus, e que os mais “espirituais” consideram como grandes
manifestações do poder do Deus dos Exércitos.
De acordo com a Velha Lei de Moisés, havia forte
discriminação da mulher, que começava logo quando nascia, de
acordo com Levítico 12:1/5. A poligamia era permitida e como
sabe, foi esse o exemplo que deixaram quase todos os que
considera como os “grandes exemplos” do Velho Testamento.
Nem é preciso mencionar David ou Salomão com as suas 700
mulheres e 300 concubinas, pois também Moisés e Abraão nos
deixaram este exemplo. O caso deste último foi bem mais grave,
pois teve um filho duma escrava Génesis 16:15, para depois que
nascer um filho da sua mulher, abandonar a escrava e seu menino
para morrerem à sede no deserto Génesis 21:14/21.
Assim, se o irmão Diácono Ronaldo entende que toda a
Bíblia é a Palavra de Deus, eterna e imutável, então, como já
afirmei, tem toda a razão em considerar o Pastor Orellana como
um pervertido, mas também está em falta, enquanto não o
apedrejar até à morte, segundo o mandamento da Velha Lei.
O grande problema da teologia, que os teólogos
geralmente evitam de esclarecer, é a sua posição perante o Velho
Testamento. Se o irmão Ronaldo considera que toda a Bíblia é
eterna e imutável... então todas estas leis estão em vigor e terá de
as cumprir. Mas gostaria de ouvir também a posição do Pastor
Orellana que irei convidar a ler este artigo e dar o seu parecer.
Gostaria que dessem uma resposta sem evasivas, pois há
pastores que se servem do Velho Testamento como um grande
“super-mercado” onde podem escolher livremente o que lhes
interessa, rejeitando umas coisas e aceitando outras, para ir
buscar tudo que necessitam e que não tem base neotestamentária.
Gostaria de acrescentar sobre este assunto, que nenhum
país, nem mesmo Israel dos nossos dias, é uma teocracia com
base no Velho Testamento.
Certamente que considero todo o Velho Testamento
como importantíssimo, mas somente para se compreender o
contexto cultural em que Cristo viveu e melhor se compreender a
sua Palavra, pois só Ele é verdadeiramente a Palavra de Deus.

Então, qual a atitude que um crente deve assumir em face


da homossexualidade?
Isso depende, como já vimos, da sua atitude em face da
Bíblia, em especial o Velho Testamento.
Penso que terá de optar entre seguir a Lei de Moisés ou a
Lei de Cristo, pois nestes casos, quando há contradição, não
podemos seguir a Cristo e a Moisés.
Se a sua opção for pela Lei de Moisés, então terá de
apedrejar o homossexual até à morte, mesmo que este seja um
Pastor da sua própria denominação, pois o Velho Testamento é
bem claro nas passagens que citei. Também terá de assumir a
mesma atitude para com o leproso que terá se ser escorraçado à
pedrada, e terá de discriminar todos os portadores de deficiências
físicas que não podiam entrar no Templo onde tudo deveria ser
puro e santo, mas com o conceito de santidade desse contexto
cultural veterotestamentário, uma santidade litúrgica ou
santidade higiénica. Sobre o assunto, aconselho a ler o meu
artigo “Santidade do Senhor – Bom Samaritano”, onde
desenvolvo os dois conceitos de santidade, segundo a Lei de
Moisés, e segundo a nova Lei que Jesus nos revelou. Ninguém
que aceita verdadeiramente a Cristo, poderá continuar agarrado à
Lei de Moisés.
Mas, embora discorde da sua posição e o convide a rever
a sua opinião, quero dizer que a sua intervenção foi útil, pois
vem confirmar o que disse o Pastor Orellana na sua entrevista
que publiquei neste artigo sobre a falta de liberdade de expressão
em muitas igrejas evangélicas e o tratamento humilhante que dão
aos homossexuais. Como podem eles encontrar o amor de Deus
nessas igrejas?!!
O ir. Ronaldo até ficou escandalizado por eu terminar o
meu artigo com a expressão “Que o Senhor abençoe a nova
igreja do Pastor Orellana”!!! Desejo que o Senhor abençoe essa
igreja, não por ser formada por homossexuais, ou eles estarem
em maioria (o homossexual é um pecador, assim como o
heterossexual), mas porque essa igreja faz aquilo que
possivelmente a sua igreja não faz. Não me refiro a todas as
igrejas da Assembleia de Deus, pois também conheço Pastores
da Assembleia com preparação, por quem tenho todo o respeito e
admiração.
Mesmo que o Pastor Orellana fosse um dos maiores
criminosos (e há muitos que se apresentam como cristãos e são
respeitados nas igrejas), memo assim, eu teria a obrigação de
orar para que o Senhor o abençoasse.
Repare no que está em Mateus 5:43/45 Ouvistes que foi
dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo. Eu,
porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos
perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está
nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e
faz chover sobre justos e injustos.
Gostaria que o irmão Ronaldo deixasse de forçar a sua
consciência, tentando seguir a Velha Lei que Cristo já revogou, e
também se comportasse como um verdadeiro filho do Deus Pai,
que Jesus nos revelou.
Para isso, não tem de concordar em tudo com o Pastor
Orellana.
Eu também não apoio a 100% toda a posição teológica do
Pastor Orellana, nem todo o seu ministério, e não escondo as
minhas divergências no artigo que escrevi.
Afinal, como já disse, nalguns pontos fundamentais, o
posicionamento teológico do Pastor Orellana parece-me mais
próximo da posição do Diácono Ronaldo que da minha posição,
pois julgo que ambos defendem toda a Bíblia como sendo a
Palavra de Deus, eterna e imutável.
Eu discordo da afirmação do Pastor Orellana de que a
homossexualidade e a Bíblia de maneira alguma, são
incompatíveis. Neste ponto o Diácono Ronaldo tem razão. A
Bíblia condena os homossexuais à morte.
Mas nem tudo que é bíblico é bom. Ao fazer esta
afirmação, não me estou a colocar como Juiz da Bíblia, mas
estou a ser fiel à mensagem de “Logos”, o único que é
verdadeiramente a Palavra de Deus, e que rejeitou muitas
afirmações e mandamentos da Velha Lei, onde há racismo,
xenofobia, forte discriminação da mulher, e onde encontramos
fundamento para a escravatura e a pena de morte para as mais
variadas transgressões com o maior desprezo pela vida humana.
Jesus, o Cristo, veio revogar toda a Velha Lei, veio a este
mundo não só para morrer pelo pecador, mas também para nos
mostrar como é o Deus verdadeiro, o Deus que é Pai de toda a
humanidade.
Mas estas diferenças teológicas não me impedem de
respeitar e admirar o Pastor Orellana, pois tenta ajudar os
homossexuais que foram escorraçados de algumas igrejas
“evangélicas” que estão mais em sintonia com a Lei de Moisés
(aquilo que foi dito aos antigos) e ainda não compreenderam a
nova mentalidade, a Boa Nova, a que chamamos de Evangelho, a
mensagem que Jesus nos apresentou.
Que o Senhor abençoe o irmão Ronaldo e a sua igreja.
Suponho que o Pastor Orellana, não irá ficar escandalizado com
esta minha afirmação, apesar do que o ir. Ronaldo escreveu sobre
ele. Bem sei que é mais fácil aconselhar do que cumprir... mas
espero que o Prezado Pastor Orellana e os membros da sua igreja
se lembrem afirmação do Mestre na passagem que citei em
Mateus 5:43/45.

Camilo
Janeiro de 2006

NOTA

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de teologia onde estudou, igreja a que está ligado, cargo que
desempenha na sua igreja, e outras informação que nos queira
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Pastor Orellana - Igreja Acalanto
acalanto@grupos.com.br
Diácono Ronaldo - osadracrolf@hotmail.com

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