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Fabio Vito Pentagna Paciullo CONTATOS TECTÔNICOS

CONTATOS TECTÔNICOS

FALHAS

Contatos tectônicos são originados por falhamentos que podem colocar frente a frente
unidades litológicas de níveis estratigráficos diferentes (Fig.1B), empilharem sucessões com
metamorfismo invertido (mais alto grau metamórfico no topo. Fig. 1A), além de terem a
propriedade de modificar a textura das rochas nas quais se instalam como, por exemplo, brecha de
falha, cataclasito, milonito, filonito (Figs. 2 e 3). A diferença fundamental entre falhas e juntas
(ambas sob a denominação de fraturas) é que nas falhas, o movimento relativo entre os blocos é de
cisalhamento (setas opostas) enquanto que nas juntas tem-se sòmente extensão com separação
ortogonal entre os blocos.

Figura 1 – Falhas em níveis rasos e zonas de cisalhamento em níveis mais profundos da crosta, em
(A) regiões de compressão crustal e (B) regiões de extensão. Em ambas, conforme a
descontinuidade aprofunda, passa-se de deformação por ruptura (falhamento) para deformação
plástica (zona de cisalhamento dúctil). Extraído de Ramsay (1987), The Techniques of Modern
Structural Geology, fig.26.30, pg. 616.

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(a) (b)
Figura 2 – Produtos de dois estágios da deformação em falhas e zonas de cisalhamento. (a) – seção
delgada de cataclasito com fragmentos quebrados de quartzo e feldspato(quebra mecânica,
deformação rúptil). Nelspruit, leste Transvaal, África do Sul. Aumento x35, nicóis cruzados; (b) –
seção delgada de milonito derivado de gnaisse granítico, com fitas (ribbons) de quartzo e grãos de
feldspatos quebrados (recristalização dinâmica, deformação dúctil-rúptil). Outer Hebrides, Escócia.
Aumento x80, nicóis cruzados. Extraído de Extraído de Ramsay (1987), The Techniques of Modern
Structural Geology, figs.25.33 e 25.39, pgs 586 e 589, respectivamente.

Figura 3 – Bloco esquemático mostrando o traço de uma zona de falha na superfície e as mudanças
no tipo de deformação conforme aumenta profundidade. A zona de transição brittle-dúctil dá-se na
passagem cataclasito-milonito. Cataclasitos incoerentes (mais pseudotaquilito se seco) caracterizam
profundidades acima de 1-4 km. Abaixo disso, cataclasitos coerentes (mais pseudotaquilito se seco)
estão presentes a profundidades de até 15 km. Milonitos (zonas de cisalhamento dúcteis) estão
presentes a profundidades maiores que 10-15 km e temperaturas maiores que 250-350º C. Extraído
de Twiss, R.J. & Moores, E.M. (1992), Structural Geology, fig. 4.4, pg. 54.

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Em geral, a deformação grada de rúptil para dúctil conforme se penetra adentro da crosta
(Figs. 1, 2 e 3). A zona de transição entre um estado e outro é denominada de Zona de Transição
“Brittle” (quebradiço)-Ductil (ZTBD) ou Brittle-Ductile Transition Zone (BDTZ) (Rutter, E.M.
1986. On the nomenclature of mode of failure in rocks. Tectonophysics, 122, 381-387). Esta é a
zona onde os efeitos termais começam a atuar sobre a resistência das rochas tornando-as mais
suscetíveis à deformação plástica (zonas de cisalhamento dúcteis), e a deformação por ruptura
(brittle) é inibida. A profundidade da ZTBD varia e depende, entre outras coisas, do fluxo de calor e
da quantidade de fluidos presentes – pode ser próximo da superfície em zonas de fluxo térmico alto
e abundância de fluidos (p.ex: zonas de extensão crustal com sistemas magmáticos ativos e
falhamento associado), ou profundos dentro da crosta em zonas de fluxo térmico baixo com rochas
com poucos fluidos ou secas (p.ex. interior dos continentes em áreas cratônicas). Provavelmente,
existem duas zonas de transição brittle-dúctil: uma no interior da crosta continental, devido a
diferenças na composição e no conteúdo de fluidos entre a crosta continental superior rica em
fluidos e quartzo e a crosta continental inferior seca, e outra no manto superior devido a diferenças
na sua composição entre rochas ricas em olivina e piroxênio (Fig.4).

Figura 4 – (a) – Diagrama stress-


profundidade mostrando as variações em
propriedades dos materiais da crosta e do
manto assumindo uma crosta rica em quartzo,
“molhada” (com fluidos) na sua porção
superior e, seca na porção inferior; manto
composto de olivina e piroxênio. DBT –
transição brittle – dúctil. DT – descolamento
termal; DF – descolamento relacionado a
fluxo diferenciado; DM – descolamento
mecânico/composicional. (b) – descolamento
mecânico/composicional. (c) – descolamento
termal. (d) – descolamento relacionado a
diferentes razões de fluxo. Extraído de
Hatcher & Hooper (1992), Evolution of
cristalline thrust sheets in internal parts of
mountain chains, fig.2, pg.219. In:
McClay,K.R. ed., 1992, Thrust Tectonics,
Chapman & Hall, 217-233 pg.

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I - PROPRIEDADES FÍSICAS E ELEMENTOS GEOMÉTRICOS

Falhas estão representadas por uma superfície de descontinuidade, a superfície/plano de


falha, sobre a qual dois blocos movimentam-se relativamente entre si (Figs 1, 3, 5, 6, 7 e 8). Falhas
geralmente não andam desacompanhadas, ou seja, uma falha principal com diversas ramificações de
falhas menores constituem zonas de falhas. Os principais elementos geométricos de falhas são
(Fig. 6):

Figura 5 – Traço do plano de falha realçado pelo deslocamento do contato subhorizontal entre
rochas com estratificação grossa cobertas por outras com estratificação delgada. Extraído da
Internet, www.google.com - fault – imagens.

Figura 6 – Elementos geométricos de falha.


Extraído de Loczy & Ladeira (1976),
Geologia Estrutural e Introdução à
Geotectônica, fig. 8.1, pg. 81.

Plano de falha, superfície onde se dá o deslocamento entre blocos rochosos. Sendo, em


geral, uma estrutura planar tem atitude, ou seja, direção (strike) e ângulo de mergulho (dip)
representados em mapas com as simbologias usuais para estruturas planares.

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Hade, termo inglês usado na mineração nos séculos passados e hoje em desuso, é o ângulo
entre o plano de falha e a vertical. É o complemento do ângulo de mergulho (ângulo entre o plano
de falha e a horizontal).
Em falhas com planos inclinados e movimentos verticais/obliquos, o bloco acima do plano de falha
é denominado de capas ou teto (hangwall). O bloco abaixo é denominado de lapa ou muro
(footwall).
Por tratar-se de deformação ruptil, o movimento entre dois blocos rochosos deixa marcas na
superfície de deslizamento e nas rochas envolvidas, tais como: superfícies polidas (slickensided
surface), estrias e marcas de ressalto, brechas de falha, cataclasito, milonito e pseudotaquilito,
silicificação, estruturas cockscomb e gouge (Fig. 7). O movimento entre os blocos produz um
polimento na superfície de deslizamento. Esta superfície polida é, em inglês, é denominado de
slickensided surface (slick = polido; side = lado). Planos de falha geralmente mostram
estriamentos causados pelo movimento da falha (Fig. 7C). Estrias são mais visíveis em superfícies
polidas (slickensided), mas não restritas a elas. Algumas estrias são ranhuras na superfície de
deslizamento causadas pela fricção entre as partes deslocadas (Fig. 8).

Figura 7 - Diagrama esquemático mostrando


algumas características fisiográficas e físicas
de falhamentos. (A) – escarpa de falha. (B) –
rochas de falha como gouge, brecha e
milonito. (C) – estriamento e marcas de
ressalto. Extraído de Davis, G.H.(1984),
Structural Geology of Rocks and Regions, fig.
9.5, pg. 263.

Figura 8 - Estrias no plano de falha,


inclinadas para a direita. O ângulo entre o
traço do plano horizontal e a estria é
denominado de rake (obliqüidade). Notar a
escala dada pelas pessoas de pé no canto
inferior direito da fotografia. Extraído da
Internet, www.google.com - fault - imagem.

Outras são lineações produzidas por cristalização de minerais, geralmente como fibras de
quartzo e calcita. Fibras polidas e marcas de ressaltos formando degraus indicam o deslocamento
mínimo ocorrido e o sentido de deslizamento da falha, respectivamente (Figs. 9 e 10). O tamanho
das fibras indicaria um valor mínimo para o deslocamento, o seu posicionamento espacial e a
direção degrau abaixo dos ressaltos (direção suave ao tato) indicariam a orientação e sentido do
deslizamento (Fig 10,A e B).

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Figura 9 – Fibras polidas (slickenfibers) de calcita (claro) inclinadas para a esquerda, sobre plano de
falha em metarenito (escuro) précambriano. Marcas de ressalto (linhas irregulares perpendiculares
às fibras) indicam sentido de movimento da falha da esquerda inferior para a direita superior
(movimento destral). Comparar com figuras abaixo.

Figura 10 – Fibras polidas (slickenfibers) como indicadores de sentido de movimento e


deslocamento mínimo de falhas. Figura à esquerda: (A) – A posição das fibras sugere a direção do
movimento relativo entre os blocos (setas nos pontos de junção). O comprimento da fibra de uma
parede à outra representa uma medida mínima de deslocamento da falha. (B) – As marcas de
ressalto ou “degraus” definem o sentido do movimento da falha: sempre no sentido mais suave
(smooth direction) quando se passa o dedo, ou seja, no sentido “degrau abaixo”. Extraído de Twiss,
R.J. & Moores, E.M. (1992), Structural Geology, fig. 4.15, pg. 61. Figura à direita: superfície
polida com fibras. Sentido do movimento inferido pelos ressaltos na superfície estriada. Extraído de
Loczy & Ladeira (1976), Geologia Estrutural e Introdução à Geotectônica, fig.9.3, pg. 92.

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As rochas envolvidas no falhamento respondem de maneiras diferentes ao esforço


dependendo do ambiente de deformação e das litologias envolvidas. Sob condições de deformação
brittle (quebradiça), as rochas das paredes das falhas tornam-se altamente fraturadas por juntas e
microfallhas, e as rochas no plano de falha são convertidas em brechas de falha – fragmentos
angulares em matriz fina (Fig. 11A e B). Dilatação e aumento de volume são características do
processo, implicando em que brechas formam-se em ambientes de pressão confinante relativamente
baixa. Sob condições de stress concentrado alto, pressão confinante alta e temperaturas
moderadamente altas, as rochas ao longo das falhas tornam-se cataclasitos, milonitos (Figs. 2 e 3),
filonitos e pseudotaquilitos (Davis 1984).

Figura 11 – Brecha de falha: por dentro (A) e por fora (B). Extraído de Davis, G.H.(1984),
Structural Geology of Rocks and Regions, fig. 7.39, pg. 226.

Vazios (buracos) que não foram preenchidos pela matriz fina durante o falhamento podem
ser ocupados por precipitações de minerais através da circulação de águas subterrâneas e/ou
soluções hidrotermais. Estruturas como a crista de galo (cockscomb), caracterizada por uma
crustificação de minerais revestindo um buraco vazio, são assim formadas (Fig. 12B). Rochas
incompetentes (p.ex: pelitos) respondem de modo plástico ao falhamento e são ao longo da falha,
geralmente, convertidas em um material moído muito fina e argiloso denominado de gouge (Fig.
13).

Figura 12 – Estrutura crista de galo


(cockscomb) em calcário. Extraído de Davis,
G.H.(1984), Structural Geology of Rocks and
Regions, fig. 7.40B, pg. 226.

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Figura 13 – Gouge de falha (material branco


abaixo da fratura) formado ao longo de falha
subhorizontal. Extraído de Davis, G.H.(1984),
Structural Geology of Rocks and Regions, fig.
7.41, pg. 226.

II - FEIÇÔES NA SUPERFÍCIE

Contatos por falha podem ser facilmente identificados no campo em áreas onde o
falhamento é ativo. Falhas produzem translações (mudança de posição) de feições naturais (contatos
litológicos, córregos, etc.) e feitos pelo homem (cercas, estradas, pontes, etc.) que podem ser
utilizados na sua identificação no campo (Fig. 14). Falhas atuais e aquelas ativas no passado
recente, geralmente, têm forte expressão fisiográfica. Lineamentos retilíneos a curvos, definidos
por feições topográficas, servem para marcar os traços faz falhas na superfície. Lineamentos podem
ser observados em qualquer escala, desde fotografias aéreas a imagens de satélite (Figs. 14 e 15).

Figura 14 – Expressão topográfica da Falha de San Andréas na planície de Carrizo, sul da


Califórnia, USA. O traço da falha na superfície está representado pelo lineamento retilíneo que
atravessa a área (esquerda superior para direita inferior). O deslocamento em ângulos retos do
córrego (superior direito para inferior esquerdo) sugere movimento destral dos blocos (superior para
a direita, inferior para esquerda).

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Figura 15 – Imagem de satélite da zona da Falha de San Andréas. Lineamentos retilíneos marcam
traços de planos de falha na superfície (vermelho). Extraído de www.google.com - fault - imagem.

Escarpas de falha formam-se onde os movimentos de falhas produzem deslocamentos


verticais/oblíquos, ou seja, quando se produz relevo topográfico. As alturas das escarpas de falha
não refletem o seu deslocamento uma vez que, tendo se formado um relevo, a primeira coisa que se
sucede é a sua dissecação pela ação da erosão. Isto produz uma feição fisiográfica característica –
facetas trapezoidais/triangulares, que indica a locação do traço da falha (Figs. 15, 16 e 17).

Figura 16 – Escarpas de falhas e facetas


trapezoidias/triangulares: A – escarpa original
parcialmente dissecada, com facetas
trapezoidais. Notar depósitos de leques
aluviais na base. B – com dissecação
contínua, as facetas tornam-se triangulares. C
– a escarpa recua e as facetas ficam menos
empinadas. D – recuo pronunciado da escarpa
e destruição avançada das facetas. Extraído de
Loczy & Ladeira (1976), Geologia Estrutural
e Introdução à Geotectônica, fig.9.7, pg. 95.

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Figura 17 – Facetas triangulares em escarpa de falha, Rocky Mountain Trench, British Columbia,
USA. Extraído de Badgley, P.C. (1965), Structural and Tectonics Principles, fig. 5-27, pg.176.

III - REJEITO E SEPARAÇÃO

Falhas movimentam-se por translação e/ou rotação (Fig. 18), na maioria dos casos não sendo
possível estabelecer qual bloco se moveu. Assim, considera-se o movimento relativo entre eles.

Figura 18- Movimentos de translação (A) e rotação (B) de falhas. Extraído de Loczy & Ladeira
(1976), Geologia Estrutural e Introdução à Geotectônica, fig. 8.3, pg. 82.

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O rejeito (slip) de uma falha é o deslocamento de pontos/objetos anteriormente adjacentes,


medido no plano de falha (Loczy & Ladeira 1976). O rejeito total (net slip) é a quantificação do
deslocamento total, medido no plano de falha, entre dois pontos /objetos anteriormente adjacentes.
Portanto, o rejeito total é um vetor com suas respectivas decomposições (Fig. 19).
Rejeito de mergulho é o componente do rejeito total medido paralelamente ao sentido de
mergulho do plano de falha.
Rejeito direcional é o componente do rejeito total medido paralelamente a direção (strike)
do plano de falha.
Rejeito horizontal é o componente horizontal do rejeito total. Rejeito vertical é o
componente vertical do rejeito total e do rejeito de mergulho.
Rejeito horizontal de mergulho é o componente horizontal do rejeito de mergulho.

Figura 19 – Elementos geométricos do deslocamento de falhas: ab = rejeito total; ac = db = rejeito


de mergulho; ad = bc = rejeito direcional; ae = rejeito horizontal; af = rejeito vertical; cf = rejeito
horizontal de mergulho; θ = caimento (dip) do rejeito total (ab); ρ = obliqüidade do rejeito total
(ab). Extraído de Loczy & Ladeira (1976), Geologia Estrutural e Introdução à Geotectônica, fig.
8.4, pg. 82.

A separação é a distância entre duas partes comparáveis de um horizonte-guia (veio,


camada, etc.), medida num plano diferente do plano de falha e em qualquer direção (Loczy &
Ladeira 1976). Enquanto rejeito se mede no plano de falha, separação se mede em qualquer plano,
portanto, pode ser obtida a partir de mapa. Os tipos de separação são (Figs.20, 21, 22 e 23):
Separação vertical (vertical separation) - determinada segundo uma linha vertical em um
plano vertical.
Separação horizontal (horizontal separation) - aquela medida em um plano horizontal, em
qualquer direção.
Separação direcional (strike separation) - medida paralelamente a direção do traço do
plano de falha. Pode ter um movimento levógiro ou sinistral (deslocamento da direita para
esquerda) e dextrógiro ou dextral (da esquerda para direita).
Separação de mergulho (dip separation) - medida segundo a inclinação da falha.
Separação normal (normal separation ou offset) – medida perpendicularmente à direção do
horizonte falhado.
Recobrimento (overlap) – é a projeção sobre uma das partes do traço do horizonte
deslocado, da outra parte do traço que se superpõe ao primeiro.
Intervalo ou folga (gap) – é a separação horizontal determinada ao longo do traço do
horizonte falhado entre dois segmentos deslocados deste horizonte.

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Separação estratigráfica (stratigraphic separation ou stratigraphic throw) – é a espessura


real de corpos rochosos que usualmente separam horizontes-guia (Fig. 24). Também pode ser
calculada trigonometricamente pela fórmula Se = l x cosα, onde l = largura em mapa entre os
horizontes-guia e α = ângulo de mergulho dos horizontes-guia.
Throw (lançamento) e Heave são os componentes vertical e horizontal, respectivamente, da
separação de mergulho, medidos em seção vertical perpendicular à direção da falha.

Figura 20 – Mapas geológicos esquemáticos mostrando os diversos tipos de separação. Faixas


negras são segmentos falhados da mesma camada (horizonte-guia). FF’ são traços das falhas no
mapa. (A) – camada mergulha para SE; ns = separação horizontal segundo N-S; we = separação
horizontal segundo E-W; ab = separação direcional; ad = bc = separação normal (offset); bd = ac =
recobrimento (overlap). (B) – camada mergulha para NE; ab = separação direcional; ac = separação
normal (offset); bc = intervalo (gap). Extraído de Loczy & Ladeira (1976), Geologia Estrutural e
Introdução à Geotectônica, fig. 8.18, pg. 86.

Figura 21 – Falha diagonal que mergulha para


SE e interrompe um horizonte-guia (linhas
pretas) que mergulha para sul: ab = rejeito
total; bc = separação vertical; ac = de =
separação horizontal segundo a direção do
horizonte-guia = gap; be = separaçãonormal
ou offset. Extraído de Loczy & Ladeira
(1976), Geologia Estrutural e Introdução à
Geotectônica, fig. 8.19, pg. 86.

Figura 22 – Falha diagonal mergulhando para


SE, interrompendo um horizonte-guias (linhas
pretas) inclinado para norte: ad = traço do
horizonte-guia na superfície da falha; ab =
rejeito total; bc = separação vertical; ac = be
= separação horizontal segundo a direção do
horizonte-guia = recobrimento = gap; de =
separação normal (offset). Extraído de Loczy
& Ladeira (1976), Geologia Estrutural e
Introdução à Geotectônica, fig. 8.20, pg. 86.

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Figura 23 - (A) e (B) são mapas das estruturas


projetadas no plano XYZ das figs. 21 e 22: be
= separação normal (offset); de = intervalo
(gap) em (A) e recobrimento (overlap) em
(B); db = separação direcional. Extraído de
Loczy & Ladeira (1976), Geologia Estrutural
e Introdução à Geotectônica, fig. 8.21, pg.
86.

IV - CLASSIFICAÇÕES DE FALHAS

Falhas podem ser classificadas de diversas maneiras, dependendo do parâmetro utilizado


para tal fim. As classificações mais usadas utilizam o rejeito (slip) e a separação como critérios
principais (Davis 1984).

• CLASSIFICAÇÃO GEOMÉTRICA

Considerando elementos geométricos, as falhas podem ser classificadas com base: 1- no (rake
do) rejeito total (net slip); 2- no movimento aparente das falhas; 3- na atitude do plano de falha em
relação a coordenadas das rochas regionais; 4- no padrão das falhas e 5- no mergulho do plano de
falha.

1- Classificação baseada no(rake do) rejeito total

Falha de rejeito direcional (strike-slip fault) é aquela na qual o rake do rejeito total é zero,
ou seja, o deslocamento é paralelo à direção do plano de falha (Fig. 24).

Figura 24 – Falhas de rejeito direcional sinistral (blocos diagramas à esquerda) e destral (blocos à
direita). Notar as seções geológicas nos cortes ortogonais aos planos de falha, após a erosão: nos
blocos à esquerda, o movimento relativo é zero (sem deslocamento aparente). Nos blocos à direita,
o movimento aparente é tal que a capa parece subir em relação à lapa (movimento aparente de falha
reversa). Extraído de Loczy & Ladeira (1976), Geologia Estrutural e Introdução à Geotectônica,
figs. 8.8 e 8.9, respectivamente, pg. 84.

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Falha de rejeito de mergulho (dip-slip fault) é aquela na qual o rake do rejeito total é 90°,
ou seja, o deslocamento é paralelo a inclinação (dip) do plano de falha (Fig. 25).

Figura 25 – Falhas de rejeito de mergulho (dip-slip faults). Notar efeitos do deslocamento nos
horizontes-guia: repetição de litologias (diagramas superiores) e deslocamentos aparentes (vertical x
horizontal). Extraído de Loczy & Ladeira (1976), Geologia Estrutural e Introdução à Geotectônica,
figs. 8.10 e 8.12, pgs. 84 e 85, respectivamente.

2 – Classificação baseada no movimento aparente

Classificação baseada no movimento aparente entre os blocos falhados, observado em


seções verticais perpendiculares à direção do plano de falha (Fig.26).

Figura 26 – Classificação de falhas pelo


movimento aparente em seções verticais
perpendiculares à direção do plano de falha.
Em B, a seção vertical mostra um movimento
aparente reverso (capa subiu em relação à
lapa), porém, o movimento real foi de rejeito
direcional (A). Extraído de Loczy & Ladeira
(1976), Geologia Estrutural e Introdução à
Geotectônica, fig. 8.9 pg. 84.

Falha normal (normal fault) é aquela na qual aparentemente a capa desce e lapa sobe (Figs.
27A e 28A). O ângulo de mergulho do plano de falha gira em torno de 60º, geralmente.
Falha reversa (reverse fault) é aquela na qual aparentemente a capa sobe e lapa desce (Figs.
27B e 28B). O ângulo de mergulho do plano de falha gira em torno de 60º, geralmente.

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Figura 27 – Classificação de falhas segundo o


movimento aparente observado em seções
verticais perpendiculares à direção da falha. A
– falha de rejeito de mergulho normal; B –
falha de rejeito de mergulho reversa. Extraído
de Ramsay (1987), The Techniques of
Modern Structural Geology, fig23.13, pg.
513.

(a) (b)
Figura 28 – Classificação de falhas segundo movimento relativo entre os blocos, observados em
seção vertical perpendiculares à direção do plano de falha. (a) – falha normal; (b) – falha reversa
deslocando camada de arenito em sucessão turbidítica.

3 – Classificação baseada na atitude da falha em relação às coordenadas geológicas das rochas


regionais

Esta é uma classificação utilizada para nomear falhas em imagens (radar e fotointerpretação)
e mapas geológicos, em relação à estruturação regional.
Falha direcional (strike fault) é aquela cuja direção do plano de falha é paralelo à direção
regional, seja foliação primária (acamamento, fluxo magmático) ou secundária (clivagem,
xistosidade) (Fig. 25, diagramas superiores).
Uma falha de acamamento (bedding fault) é uma variedade da falha direcional cujo plano
de falha é paralelo ao acamamento (Fig. 29).

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Figura 29 – Falha de acamamento. Movimento


aparente é nulo. Extraído de Billings, M.P.
(1972), Structural Geology, 3a ed., fig. 8-15,
pg.186.

Falha de mergulho (dip fault) é aquela cuja direção é paralela ao sentido de mergulho da
estruturação regional (p.ex: acamamento). Portanto, sua direção é perpendicular ao das camadas
(Fig. 24, diagramas da direita; Fig. 25, diagramas inferiores).
Falha oblíqua ou diagonal (oblique ou diagonal fault) é aquela que possui disposição
obliqua em relação as direções das rochas por ela deslocadas (Fig. 20, 21, 22 e 23).
Falha transversal (transverse fault) tem direção perpendicular ou em diagonal em relação à
estruturação regional (Fig. 31).

Figura 30 – Falhas transversais, cortando sinformal (em cima) e antiformal (em baixo). Notar os
deslocamentos nos horizontes-guia. Extraído de Loczy & Ladeira (1976), Geologia Estrutural e
Introdução à Geotectônica, figs. 8.13 e 8.14, respectivamente, pg. 85.

Falha longitudinal (longitudinal fault) possui direção paralela ao da estruturação regional


(Fig. 31).

Figura 31 – Falha longitudinal e transversal.


Antiformal plungeante para leste (direita)
falhado. Abcd é uma falha longitudinal; ebcf e
gh são falhas transversais. Extraído de Billings,
M.P. (1972), Structural Geology, 3a ed., fig. 8-
23, pg.193.

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4 – Classificação baseada no padrão das falhas

Baseia-se no aspecto das falhas em mapas e seções estruturais. Coordenadas geológicas das
rochas adjacentes é irrelevante.
Falhas paralelas (parallel fault) têm atitudes semelhantes (Fig. 32A).
Falhas radiais (radial fault) irradiam-se a partir de um ponto (Fig.32B). Assim, são comuns
em centros vulcânicos e intrusivos e domos de sal. Falhas periféricas (peripheral fault) exibem
padrão em arco ou mais ou menos circular, envolvendo ou limitando uma área circular ou parte
desta (Fig. 32C). Falhas radiais e periféricas estão associadas a tectonismo vertical e distensão.
Falhas “en échelon” se superpõem umas às outras mantendo um leve deslocamento lateral
entre seus traços (Fig. 32D).

Figura 32 – Classificação geométrica de falhas com base no padrão que apresentam. A – falhas
paralelas, B – falhas radiais, C – falhas periféricas, D – falhas en échelon. Extraído de Loczy &
Ladeira (1976), Geologia Estrutural e Introdução à Geotectônica, fig. 8.25.

5 – Classificação baseada no valor angular do ângulo de mergulho do plano de falha

Dependendo do valor angular da inclinação da falha, elas podem ser classificadas como
falhas de alto ângulo, quando mergulharem > 45º e falhas de baixo ângulo, quando mergulharem
< 45º.

• CLASSIFICAÇÃO GENÉTICA

Conhecendo-se os elementos geométricos de uma falha de modo suficiente, é possível


interpretar os aspectos mecânicos de sua origem. A classificação genética baseia-se nos tipos,
magnitudes e sentido dos campos de tensões envolvidas – compressivas, trativas, cisalhantes ou
torcionais. Como nem sempre isto é possível, esta classificação apóia-se no movimento relativo e
absoluto entre os blocos falhados (Loczy & Ladeira 1976).

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1 – Classificação genética baseada no movimento relativo

Falhas de empurrão ou de cavalgamento (thrust fault) são aquelas nas quais a capa subiu
relativamente em relação a lapa, ou seja, são falhas reversas com baixo ângulo de mergulho do
plano de falha (menor ou igual a 30º). Caracterizam-se por eixo principal de stress (σ1)
essencialmente horizontal, com direção de máximo alívio (σ3) na vertical (Fig. 33c). Falhas de
empurrão indicam encurtamento crustal, devido a esforços compressionais e tangenciais.
Falhas de gravidade (gravity fault) são aquelas nas quais a capa desce relativamente em
relação à lapa, como nas falhas normais. O movimento é de rejeito de mergulho (rake = 0) e o eixo
principal de stress (σ1) é essencialmente vertical, com a direção de maior alívio (σ3) na horizontal
(Fig. 33a). Falhas de gravidade relacionam-se a esforços trativos como distensões da crosta
terrestre, formação de bacias sedimentares e rifteamentos.
Falhas de rejeito direcional (strike-slip fault) ou transcorrente (transcurrent fault) são
aquelas onde o movimento dominante é horizontal. O eixo principal de stress (σ1) é horizontal ,
assim como a direção de maior alívio (σ3) (Fig.33b). O termo wrench fault (falhas de torção) é
usado especialmente se o mergulho do plano de falha é subvertical e sua direção é transversal ao
trend das estruturas regionais. As falhas de rejeito direcional ou transcorrentes podem ter dois tipos
de movimento tendo-se como referência o bloco do outro lado da falha: sinistrais (levógiras ou
esquerda, com o bloco movendo-se da direita para a esquerda) e destrais (destrógira ou direita,
com o bloco movendo-se da esquerda para a direita).

(a) (b) (c)


Figura 33 - Blocos diagramas das três principais classes de falhas e seus respectivos eixos principais
de stress. Extraído de Rowland, S.M. (1986), Structural Analysis and Synthesis, A Laboratory
Course in Structural Geology, fig. 10-7, pg. 134.

A maioria dos geólogos utiliza os termos falha normal, reversa, de empurrão e


transcorrente para classificar os tipos principais de falhas que parecem ocorrer com mais
freqüência na natureza, independentemente do tipo de referência utilizada para sua classificação.
Quando se fala em falhas normais e reversas (incluindo as de empurrão), em geral, estamos nos
referindo a falhas de rejeito de mergulho (dip-slip fault) com movimento aparente normal (capa
desce em relação à lapa) e reverso (capa sobe em relação à lapa). Assim, uma falha normal
geralmente é uma falha gravitacional. Falha transcorrente é a denominação genética para falha de
rejeito direcional (strike-slip fault) (Fig.34).

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Figura 34 – Tipos de falhas: normal (B), reversa (B), transcorrente ou de rejeito direcional (A) e de
rejeito obliquo (C). Falhas normais e reversas com deslocamento vertical são também falhas de
rejeito de mergulho (dip-slip fault). Extraído de Davis, G.H.(1984), Structural Geology of Rocks
and Regions, fig. 9.8, pg. 266.

2 – Classificação genética baseada no movimento absoluto

Esta classificação baseia-se no movimento real (absoluto) entre os blocos falhados, tendo
como referência um plano-base, em geral, o nível do mar (Loczy & Ladeira 1976). Teoricamente,
podemos ter cinco tipos de falhas gravitacionais/normais em função do movimento absoluto: a – a
capa desce e a lapa permanece parada; b – a capa desce e a lapa sobe; c – a lapa sobe e a capa
permanece parada; d – ambos os blocos sobem, porém a capa desloca-se menos que a lapa; e –
ambos sobem, porém a lapa desloca-se mais que a capa. De modo análogo, podem ser definidos
idealmente cinco tipos de falhas de empurrão/reversa (Loczy & Ladeira 1976).
Falhas de crescimento (growth fault) são falhas normais/gravitacionais atuantes
simultaneamente a eventos de sedimentação (falhas sin-sedimentares). Caracteriza-se por um
aumento na espessura da pilha sedimentar na direção do plano de falha, que cresce conforme falha
se move. Neste tipo de falha o movimento absoluto seria a capa descendo e a lapa estacionária.
Geralmente, falhas de crescimento são também falhas lístricas, com o plano de falha íngrime na
superfície e subhorizontal em profundidade (ver item Falhas Normais adiante, e Fig.X).

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Upthrusts são falhas de alto ângulo, de gravidade ou de empurrão, nas quais o bloco
relativamente soerguido foi o elemento ativo. Underthrusts são falhas onde o elemento ativo é a
lapa. Quando o bloco ativo é a capa, tem-se o overthrust ou supracavalgamento (Loczy & Ladeira
1976).

V – FEIÇÕES DE FALHAS EM MAPAS GEOLÓGICOS

Um dos principais efeitos de falhas na superfície é o deslocamento de feições anteriormente


contínuas. Entretanto, isto é valido sòmente quando os planos de falha cortam obliquamente as
estruturas regionais. Os principais critérios para o reconhecimento de falhas em mapas geológicos
são: (a) deslocamento e truncamento de estruturas e (b) repetição ou omissão de unidades
litológicas. No campo, podemos reconhecer também: (c) silicificação e mineralização, (d) feições
estruturais típicas de falha como brechas e dobras de arrasto, (e) variações bruscas de fácies
sedimentares, (f) diferença de fácies metamórfica (comum em falhas de empurrão) e (g) feições
geomorfológicas (Loczy & Ladeira 1976).

• Deslocamento e truncamento de estruturas e comportamento das linhas de strike

O deslocamento e truncamento de contatos litológicos talvez sejam, junto com brecha de


falha, as feições mais comuns para identificar falhas no campo (Figs. 2, 5, 11, 14, 28, 30 e 31). Este
é o efeito mostrado em falhas antigas, depois de seus planos de falha terem sido erodidos (Fig. 35a).
Entretanto, truncamento de estruturas não é típico sòmente para falhas, pois, discordância angular
também apresenta esta mesma característica (ver capítulo Contatos Deposicionais - Discordâncias).

Figura 35 – Truncamento de contatos por falha: (a) – falha de rejeito de mergulho (dip-slip fault)
mostrando como uma separação vertical vista em seção (plano vertical) assemelha-se a uma
separação lateral quando vista em mapa (plano horizontal). Os contatos deslocam-se
progressivamente no sentido do mergulho das camadas conforme a erosão vai abaixando o terreno.
(b) – bloco diagrama de uma falha de rejeito de mergulho normal. Notar os deslocamentos laterais
dos contatos no plano horizontal, embora o deslocamento real tenha sido vertical (normal no plano
vertical). Extraído de Bennison, M. 1990, An Introduction to Geological Structures and Maps, 3a
ed., fig. 27, pg.31.

Embora o deslocamento dos contatos seja uma feição fácil de se observar no campo, não
necessariamente reflete o movimento real da falha: uma falha de rejeito direcional pode mostrar um
movimento aparente de falha reversa em seção vertical (Fig. 26), ou ainda, uma falha de rejeito de

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mergulho normal pode, no plano horizontal, mostrar um deslocamento lateral semelhante ao


produzido por falhas de rejeito direcional (Fig. 35b). O problema poderá ser resolvido tendo-se
evidências de campo que mostrem como foi este movimento como, por exemplo, através da atitude
de estrias e fibras encontradas no plano de falha, ou por feições geométricas como os deslocamentos
das linhas de strike (LS) dos contatos: falhas de rejeito direcional (strike-slip fault) deslocarão
lateralmente as LS sem mudanças nas suas cotas, enquanto que falhas de rejeito de mergulho
(dip-slip fault) manterão as LS contínuas, porém, com cotas diferentes conforme o movimento
ascendente (reversa) ou descendente (normal) dos blocos falhados (Figs. 36 e 37).

Figura 36 – Deslocamento de contatos por falha. Pelo V desenhado pelos contatos da unidade B na
drenagem (regra dos V’s), as unidades litológicas mergulham para oeste (dip) tendo, portanto,
direções norte-sul (strike). Isto é confirmado achando-se dois pontos de mesma cota ao longo do
contato do topo da unidade B (p.ex: LS 600), pelos quais obtém-se LS orientadas nesta direção.
Ainda ao longo da drenagem, o traço do plano de falha faz um leve V para sul, indicando como este
o seu sentido de mergulho (dip) e, portanto, direção leste-oeste (strike), o que também é confirmado
por dois pontos de mesma cota ao longo do traço da falha. A pequena distância no espaçamento das
LS mostra um ângulo de mergulho alto para o plano de falha. Embora no plano horizontal (mapa) o
deslocamento pareça ter sido lateral (sinistral), as LS não apresentam este deslocamento e sim uma
mudança nas suas cotas com uma diferença de 500 metros, correspondente a separação vertical de
mergulho (throw). Assim, a linha de strike de cota 1000 metros do topo da unidade B, no outro lado
da falha cai para a cota 500 metros; do mesmo modo, a LS 600 cai para a cota 100 metros no outro
lado. O movimento real é então ao de uma falha de rejeito de mergulho normal (normal dip-slip
fault), com uma separação de mergulho vertical de 500 metros. Extraído de Bennison, M. 1990, An
Introduction to Geological Structures and Maps, 3a ed., mapa 12, pg.30.

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Figura 37 – Deslocamento de contatos e truncamento de estruturas por falha. Repetição de


litologias, regra dos V’s e disposições de linhas de strike (norte-sul) mostram no mapa duas dobras
normais horizontais: antiformal anticlinal com unidade A no núcleo (mais velha) e sinformal
sinclinal com unidade D no núcleo (mais nova). Apesar dos eixos serem horizontais (as LS são
paralelas), as charneiras das dobras aparecem no mapa (bloco esquerdo e direito superior) devido a
interação com a topografia. A camada de carvão tem uma LS de cota 500 metros que aparece
deslocada para a esquerda no outro lado da falha sugerindo uma separação horizontal sinistral.
Entretanto, quando desfazemos este movimento, ainda assim os contatos da camada de carvão no
antiformal estarão defasados de maneira tal que os contatos do bloco direito correm por fora
daqueles do bloco esquerdo. Tal disposição corresponderia a um movimento de rejeito de mergulho
normal. Esta combinação de elementos geométricos sugere então que a falha tenha tido um
movimento com rejeito obliquo sinistral, dado tanto pelo deslocamento das linhas de strike como
pela disposição dos contatos após a restauração da separação lateral. Extraído de Bennison, M.
1990, An Introduction to Geological Structures and Maps, 3a ed., mapa 19, pg.46.

• Repetição ou omissão de unidades litológicas

Deslocamentos laterais de contatos ocorrem quando uma falha corta os contatos litológicos, ou
seja, quando a direção da falha é diferente daquela dos contatos (falhas de mergulho, transversais e
obliquas). Quando uma falha tem a mesma direção (strike) dos contatos litológicos que corta (falhas
direcionais e longitudinais), ocorrerá repetição ou omissão de unidades (ou camadas), dependendo
do sentido de mergulho da falha: repetição se a falha mergulha no sentido oposto ao dos contatos
litológicos ou omissão se mergulha no mesmo sentido dos contatos (fig. 38).

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Figura 38 – Bloco diagrama de falha direcional normal (direção do plano de falha paralela ao dos
contatos): (a) unidades litológicas e plano de falha com sentidos de mergulho opostos – repetição de
litologias; (b) mesmo sentido de mergulho – omissão de litologias. Extraído de Bennison, M. 1990,
An Introduction to Geological Structures and Maps, 3a ed., fig. 26, pg.29.

VI - AVALIAÇÃO DO REJEITO TOTAL DE UMA FALHA

A direção e o sentido do rejeito total de uma falha podem ser determinados de várias
maneiras: reconstrução de linhas deslocadas (Fig.39), estrias e fibras, dobras de arrasto (drag folds)
fraturas de tensão (tension gashes) e dobras assimétricas apertadas (Davis, G.H. 1984).

Figura 39 – Situações geométricas onde é possível computar o movimento total do vetor de


deslocamento X-X’ ao longo da superfície de falha: A – deslocamento de charneira (eixo) de dobra;
B – deslocamento de linhas de interseção entre planos S1 e S2. Extraído de Ramsay (1987), The
Techniques of Modern Structural Geology, fig.23.11, pg. 512.

• Reconstrução de linhas de charneira

Identificar linhas que tenham sido deslocadas é uma das maneiras para se avaliar o movimento
de uma falha. Exemplos incluem a interseção entre planos como, por exemplo, a linha interseção
entre as paredes de um dique com a unidade litológica por ele penetrada, a interseção entre

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acamamentos de sucessões separadas por discordância angular, linhas de contorno como linhas de
strike e isópacas e, principalmente, eixos de dobras. O exemplo a seguir baseia-se no deslocamento
de linhas representadas por charneiras (eixos) de dobras (Davis, G.H. 1984). No mapa mostrado na
figura abaixo (Fig. 40), a charneira (eixo) de um sinformal sinclinal revirado tem atitude de
S10ºE/22º. A charneira da dobra está deslocada por uma falha com atitude de N75ºW/65ºSW.
Partes da charneira afloram em ambos blocos da falha (locais A e B da Fig. 40). Antes do
falhamento estas partes constituíam uma só linha de charneira, retilínea e contínua. O rejeito total é
deduzido pela projeção dos segmentos lineares deslocados, no plano de falha (lembrete: a projeção
de uma linha é um ponto). Feito isso, mede-se a distância e a direção entre as linhas projetadas (ou
pontos).

CONSTRUÇÃO

- A solução envolve a construção de seções verticais estruturais orientados paralelamente a


direção (trend) do eixo da dobra (N10ºW ou S10ºE, Fig. 40A).
- Na lapa (footwall), a linha de charneira se lança para a superfície da falha numa inclinação
de 22º (ponto A, cota 2650 pés). Sua projeção em subsuperfície fura o plano de falha no
ponto C, na cota de 2610 pés (791 metros) (Fig. 40B).
- Na capa (hanging wall), a linha de charneira se lança para o céu numa inclinação de 22º a
partir do seu afloramento (ponto B, cota 2600 pés) para o ponto D (cota 2645 pés ou 801
metros) onde fura a projeção do plano de falha acima da superfície (antes de sua erosão).
- As posições relativas e elevações dos pontos C e D indicam que o movimento da falha foi de
rejeito obliquo, envolvendo uma combinação de deslizamento reverso e sinistral. Assim, a
falha é classificada como falha de rejeito direcional sinistral reversa. C’ e D’ são as
projeções dos pontos C e D no plano horizontal (mapa).

Figura 40 – Determinação da translação ao longo de uma falha com base no deslocamento da linha
de charneira de uma dobra. (A) – Mapa mostrando as relações entre a falha e a linha de charneira do
sinformal revirado deslocada. (B) – seção vertical estrutural mostrando onde as linhas de charneira
se interceptam no plano de falha. (C) – componentes do rejeito total visto no plano de falha.
Extraído de Davis, G.H.(1984), Structural Geology of Rocks and Regions, fig. 9.9, pg. 269.

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• Reconstrução de linhas de interseção entre planos

O exemplo a seguir ilustra o método gráfico para a determinação do deslocamento em uma


falha que mergulha a um ângulo diferente de 90º, se a atitude e a locação de dois horizontes-guia
são conhecidos em ambos os lados da falha.
Dados: Em uma superfície sem relevo, uma falha FF’ tem atitude N90ºE/40ºS. Um veio de quartzo
com atitude N30ºW/35ºNE está exposto em A e A’ nos lados sul e norte da falha, respectivamente
(Fig. 41). Outro veio de quartzo, com atitude N30ºE/60ºNW ocorre em B e B’ nos lados sul e norte
da falha, respectivamente. Um terceiro veio, com atitude N40ºE/70ºSE está exposto em X (Fig. 42)
no lado sul da falha.
Achar: (a)- o rejeito total da falha; (b)- a orientação da projeção horizontal do rejeito total; (c)- o
caimento do rejeito total; (d)- o movimento relativo da falha; (e)- a locação do terceiro veio no lado
norte da falha.

CONSTRUÇÃO

1- Desenhe os traços dos veios AC e A’C’ paralelos a direção N30ºW, e BD e B’D’ paralelos a
direção N30ºE (Fig. 41).
2- Faça seções verticais perpendiculares as direções dos veios (linhas EE’e FF’) e da falha (linha
GG’) e desenhe seus traços a partir dos pontos E’’, F’’ e G’’, usando os respectivos ângulos de
mergulho (linhas E’’L, F’’M e G’’K, respectivamente).
3- Desenhe a reta HH’ paralela e a uma distancia arbitrária h de EE’. Construa II’ e JJ’ da mesma
maneira. Estas linhas representam um nível que será denominado de plano de referência
inferior, distante h abaixo da superfície (linhas EE’, FF’ e GG’). Estes planos interceptam os
traços dos veios e da falha nos pontos L’, M’ e K’, respectivamente.
4- A partir de K’ desenhe uma linha K’O paralela a FF’. A partir de L’, desenhe uma linha
paralela a BD até que intercepte K’O no ponto P. A partir de M’, desenhe uma linha paralela a
AC até que intercepte K’O no ponto Q. As linhas K’O, L’P e M’Q representam linhas de
contorno da falha e dos veios localizadas a uma distância h abaixo da superfície. As
interseções dos dois veios com o plano de falha neste plano de referência inferior são os pontos
P e Q.
5- A seguir, trabalhamos no plano de falha onde faremos uma seção. Para isto é necessário
rotacionar o plano de falha para o plano do mapa a fim de mostrar a seção. A linha FF’ será
usada como eixo de rotação. Usando G’’K’ como raio e G’’ como centro, desenhe um arco
para interceptar GG’ em R. G’’R é a distância do declive, no plano de falha, entre o plano da
superfície e o plano de referência inferior. A partir de R, desenhe RR’ paralela a FF’. BG’’
RR’ é a seção no plano de falha.
6- A partir de Q, construa a linha perpendicular a K’O para interceptar RR’ em Q’. Faça o mesmo
a partir do ponto P, para interceptar RR’ em P’. Q’ e P’ representam as interseções dos veios
com o plano de referência inferior, visto no plano de falha.
7- Desenhe AQ’ e BP’ até se interceptarem em S’. AS’ e BS’ representam os traços dos dois
veios na parede sul do plano de falha; S’ representa suas interseções na parede sul. Desenhe
A’N’ e B’N’ paralelas a AS’ e BS’, respectivamente. N’ representa a interseção dos traços dos
dois veios na parede norte do plano de falha. Desenhe N’S’, que será o rejeito total.
8- Desenhe AQ e BP até a interseção S. AS é a projeção horizontal da interseção do veio N30ºW
com a falha. S é a projeção horizontal da interseção dos dois veios na parede sul do plano de
falha. Desenhe A’N e B’N paralelas a AS e BS, respectivamente. Desenhe NS, que
corresponderá a projeção horizontal do rejeito total.

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9- Para determinar o caimento (plunge) do rejeito total é necessário achar a altitude dos pontos
para os quais N e S são as projeções horizontais. Desenhe uma linha a partir de S, paralela a
FF’, que intercepte G’’K em T. Faça o mesmo a partir de N, para interceptar G’’K em U. São,
então, levantadas linhas perpendiculares a FF’, uma a partir de T e outra a partir de U. Estas
linhas se interceptam FF’ em T’ e U’. T’U’, na mesma escala do mapa seja qual for, é a
diferença em altitude entre os pontos dos quais N e S são as projeções horizontais.
10- Desenhe NS separadamente. Desça uma perpendicular a partir de S para S’’ de tal modo que
S’S = T’U’. Desenhe NS’. SNS’ nos dá o ângulo vertical que o rejeito total faz com sua
projeção horizontal; é o caimento (plunge) do rejeito total. Pra checar o trabalho feito, NS’
neste diagrama deve ser igual a N’S’ na construção principal.
11- O ponto de interseção dos dois veios no bloco sul com o plano de falha encontra-se numa
altitude mais baixa e a leste da interseção correspondente no bloco norte da falha. O
movimento relativo ao longo da falha é tal que o lado sul moveu-se para baixo e para leste em
relação ao lado norte. Estenda N’S’ até interceptar FF’ em V. O ângulo S’VB é a obliqüidade
(rake) do rejeito total.
12-

Figura 41 – Solução gráfica para problemas de falhas inclinadas. Dois veios com atitudes
N30ºW/35ºNE e N30ºE/ 60ºNW são deslocados por uma falha com atitude N90ºE/40ºS. Extraído de
Billings, M.P. 1972, Structural Geology, 3a ed., fig. E11-1, pg. 565.

A fig. 42 ilustra o método usado para localizar no lado norte da falha, um terceiro veio de
quartzo com atitude N40ºE/70ºSE aflorando no lado sul. FF’ é o traço da falha no mapa. K’O é a
projeção horizontal da interseção da falha e o plano de referência inferior, e RR’ é a mesma

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interseção após rotação para o plano de falha. A locação do veio N40ºE no lado sul da falha é
mostrado na fig. 42.

Figura 42 – Solução gráfica para problemas de falha. Veio com atitude N40ºE/70ºSE aflora no lado
sul da falha FF’. O rejeito total é o mesmo do problema anterior (fig. 41). O problema é achar a
posição do veio no lado norte da falha. Extraído de Billings, M.P. 1972, Structural Geology, 3a ed.,
fig. E11-2, pg. 569.

CONSTRUÇÃO

1- Desenhe XY paralelo a direção do veio. Em um ponto conveniente ao longo de XY, como


p.ex. A’’, desenhe AA’ perpendicular a XY. A uma distancia h (mesma usada na fig. 41) de
AA’, desenhe BB’ perpendicular a XY.
2- Faça seções perpendiculares a direção do veio (A’’C) e da falha (G’’K), usando os
respectivos ângulos de mergulho.
3- Trace planos de referência inferiores no veio (BB’) e na falha (JJ’), distantes h da superfície.
Estes irão gerar as interseções C’ e K’, respectivamente. A partir de C’, desenhe uma linha
paralela a direção do veio até interceptar K’O (gerada a partir de K’, paralela a FF’) em D.
C’D representa uma linha de contorno no veio; todos os pontos localizados nesta linha estão
a uma distancia h abaixo da superfície. A interseção do veio com a falha neste plano de
referência inferior está em D.
4- A partir de D trace uma linha perpendicular a K’O até interceptar RR’ em D’. D’ representa
a interseção do veio com o plano de referência inferior, visto no plano de falha.
5- Desenhe EE’, que passa através dos pontos X e D’. EE1 é o traço do veio na parede sul do
plano de falha.

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6- A fig. 41 mostra que o bloco norte moveu-se para cima e para oeste, portanto, o traço do
veio na parede norte do plano de falha irá ser acima e para oeste de EE’. A um ponto
conveniente ao longo de EE’, p.ex. em X, plote o ângulo G’’XH igual a obliqüidade (rake)
do rejeito total, que será o ângulo S’VB da fig. 41. Em XH, plote XH’ igual ao rejeito total
correspondente as dimensões de N’S’ na fig. 41.
7- Por H’, desenhe II’ paralela a EE’. II’ é o traço do veio no lado norte da falha.
8- A partir de X’, desenhe X’Y’ paralela a XY. O ponto X’ representa a interseção do veio com
a falha no seu lado norte e X’Y’ é o traço do veio na superfície.

• Dobras de arrasto

Dobra de arrasto é um outro tipo de estrutura que pode ser usada para determinar a direção e o
sentido do deslizamento durante falhamento. São dobras localizadas próximo dos planos de falha
resultantes do movimento de cisalhamento entre os blocos (Fig.43).

Figura 43 – Exemplos de dobras de arrasto. (A)- falhas reversas e de empurrão: camadas da capa
são dobradas em antiformais; camadas da lapa são dobradas em sinformais. (B)- falhas normais:
sinformais na capa e antiformais na lapa. (C)- padrões de dobramento em falhas transcorrentes e de
rejeito direcional (strike-slip) destrais e sinistrais. (D)- dobras de arrasto sigmoidais em falhas de
rejeito direcional (strike-slip) pouco espaçadas. (A) e (B) são seções verticais; (C) e (D) são vistas
de mapa. Extraído de Davis, G.H.(1984), Structural Geology of Rocks and Regions, fig. 9.11, pg.
270.

Embora sejam ferramentas úteis na determinação do sentido do movimento do falhamento,


dobras de arrasto podem enganar o observador. Arrasto inverso pode ocorrer, principalmente em
falhas lístricas (listric fault) e de crescimento (growth fault). As primeiras são falhas normais com
ângulo de mergulho íngrime na superfície e horizontais em profundidade; as últimas são falhas
normais sin-sedimentares, comumente lístricas, onde há um espessamento das unidades próximo ao
plano de falha (ver item “Falhas Normais”). Devido a sua forma, o movimento numa falha lístrica

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seria de uma tal maneira que provocaria um vazio entre os blocos falhados, o que é geologicamente
improvável (Fig. 44A). Para preencher este vazio, duas soluções seriam possíveis: as camadas da
capa são arrastadas de tal maneira que mergulham contra o plano de falha formando um anticlinal
“roll-over” ou, as camadas mergulham contra o plano de falha não por dobramento mas por
falhamento secundário com falhas mergulhando no sentido contrário ao do plano de falha principal
– falhas antitéticas (Fig.44B)

Figura 44 – Formação de arrasto reverso por: (A)- arqueamento das camadas para dentro da zona de
potencial separação (anticlinal “roll-over”) e/ou (B)- falhamento normal escalonado com sentido de
mergulho contrário ao da falha principal (falhas antitéticas). Extraído de Davis, G.H.(1984),
Structural Geology of Rocks and Regions, fig. 9.14, pg. 271.

• Fraturas de tensão (tension gashes) e dobras assimétricas apertadas

Outro procedimento para avaliação do movimento de falhas é através da caracterização de


estruturas menores denominadas fraturas de tensão (tension gashes) e de dobras assimétricas
apertadas. São estruturas derivadas da aplicação direta da teoria de strain para cisalhamento
simples. Neste tipo de strain, as rochas são submetidas a estiramento na direção do eixo X do
elipsóide de strain e encurtamento na direção do eixo Z. Assim, dobras assimétricas apertadas
formam-se no plano de achatamento XZ e, concomitantemente, formam-se fraturas de tensão
perpendiculares a direção de estiramento máximo (Fig. 45).

Figura 45 – Fraturas de tensão (tension


gashes) e dobras assimétricas geradas por
cisalhamento simples em zona de
cisalhamento. Extraído de Davis, G.H.(1984),
Structural Geology of Rocks and Regions, fig.
9.15, pg. 272.

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• Estrias e fibras

São estruturas que indica também a direção e sentido do deslizamento. A obliqüidade (rake) das
estrias e fibras no plano de falha é uma feição diagnóstica para a direção do deslizamento (Fig. 8).
Fibras e marcas de ressalto são feições indicativas do sentido de deslizamento (Figs. 9 e 10).

VII – TERMINAÇÕES E SISTEMAS DE FALHAS

Falhas não são estruturas infinitas, ou seja, o deslocamento em algum momento termina,
desaparecendo na superfície e em profundidade. A linha que limita o deslocamento físico das
paredes da falha é denominada tip line ou “linha de terminação” numa tradução livre. A linha
interseção entre a falha e a superfície é o traço do plano de falha. Onde ele acaba é denominado de
ponto de terminação (tip point) ou simplesmente terminação (tip) (Fig.2A). Em algumas
situações a linha de terminação não alcança a superfície e a falha é denominada de falha cega
(blind fault) (Fig.2B).

Figura 2 – Feições geométricas de planos de falha. Em falhas cegas, a linha de terminação não
alcança a superfície. Extraído de Ramsay (1987), The Techniques of Modern Structural Geology,
fig23.3, pg. 507.

Falhas também podem terminar abruptamente umas contra outras, seja devido a duas
gerações de falhamento com uma cortando a outra, ou porque constituem dois sistemas de falhas
com orientações diferentes interagindo de tal maneira que geometricamente têm um movimento
geral compatível. Falhas individuais algumas vezes ramificam-se nas suas extremidades em
inúmeras falhas secundárias - terminação chanfrada (termination splay) ou ramificada. O termo
splay (chanfrado) indica uma falha que se ramifica em outras. A Fig. 3 mostra a nomenclatura
corrente para ramificações isoladas (isolated splay), divergentes (diverging splay), rejuntadas
(rejoining splay) e conectadas (connecting splay). Denomina-se de horse (cavalo), uma massa de
rocha em forma lenticular limitada por falhas em todos os seus lados. Quando planos de falhas se
encontram, a linha interseção é denominada de linha de ramificação (branch line); se as falhas
afloram na superfície, a linha aparecerá como um ponto de ramificação (branch point).

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Figura 3 – Falhas secundárias bifurcadas a partir de uma falha principal inferior (main fault). A
linha de terminação (tip line) das falhas (t.l.) marcam os limites de seus movimentos. As falhas
secundárias juntam-se a falha principal ao longo das linhas de ramificação (branch lines, b.l.). Estas
linhas podem estar expostas na superfície como pontos de ramificação (branch point, b.p.). Extraído
de Ramsay (1987), The Techniques of Modern Structural Geology, fig23.4, pg. 507.

VII - ZONAS DE CISALHAMENTO DÚCTEIS

Como visto anteriormente, ao penetrarmos nas profundezas da crosta a deformação muda de


comportamento passando de um caráter rúptil para outro dúctil ou plástico (Figs. 1, 2, 3, 4 e 18).

(A) (B)
Figura 18 – Comportamento dos materiais rochosos conforme variações de temperatura e pressão
confinante. (A) – fraturas de extensão em calcário geradas por compressão longitudinal (eixo
principal de stress máximo vertical, eixo de stress mínimo horizontal). Pressão confinante de 100
atmosferas, temperatura ambiente, porcentagem de strain (encurtamento) de 0,4%. (B) – Falha em
arenito. Compressão longitudinal (vertical). Pressão confinante de 5000 bar, pressão de água
intersticial de 1000 bar, temperatura de 500 ºC, encurtamento (strain) de 40 %. Notar zona de
milonitização atravessando a amostra. Há muito pouca quebra de grãos de quartzo para fora da zona
milonitizada. Extraído de Badgley, P.C. (1965), Structural and Tectonics Principles, figs. 2-1 e 2-2,
respectivamente, pg. 5.

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Zonas de cisalhamento dúcteis (ductile shear zones) produzem contatos inteiramente


diferentes daqueles produzidos por falhas. Diferentemente de superfícies de falhas, onde predomina
a cataclasis (granulação onde fricção é importante), zonas de cisalhamento não mostram quebra
física das rochas e sim, translação diferencial por fluxo dúctil ou uniforme (deslizamento
intergranular e recristalização). Marcadores passam através das zonas de cisalhamento dúctil sem
necessariamente perderem suas continuidades, mas o efeito do cisalhamento fica refletido nas suas
distorções e nas transformações das rochas em milonitos (Davis 1984, Badgley 1965) (Figs. 18B e
19).

(A) (B)

Figura 19 – Zonas de cisalhamento dúcteis. (A) – veio granítico (claro) intrusivo em


metagranodiorito, deslocado por zona de cisalhamento subvertical (faixa escura). Notar a
diminuição na espessura do veio ao entrar na zona de cisalhamento. Pedreira Jaguará, Lavras, MG.
(B) – Zona de cisalhamento em ortognaisse, Pedreira de Itumirim, MG.

Zonas de cisalhamento são comuns em ambientes ígneos ou metamórficos, onde


temperaturas e pressões confinantes altas tornam as rochas mais suscetíveis à deformação plástica.
Distorções são expressas tanto na forma como em mudanças de orientação (Davis 1984).

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

BENNISON, G. M. 1990. An Introduction to Geological Structures and Maps.5a edição, Londres,


Edward Arnold, Ltda., 69 p.

BILLINGS, M.P. 1972. Structural Geology. 2a edição, Prentice-Hall, Inc. New Jersey, 606p.

DAVIS, G.H. 1984. Structural Geology of Rocks and Regions. New York, John Wiley & Sons, Inc.,
492 p.

LOCKZY, L. de & LADEIRA, E. 1976. Geologia Estrutural e Introdução a Geotectônica. São


Paulo, Edgard Blucher Ltd; Rio de Janeiro, CNPq, 528 pgs.

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RAMSAY, J.G. & HUBBER, M.I. 1987. The Techniques of Modern Structural Geology, vol. 2:
Folds and Fractures. Academic Press, 700 pgs.

TWISS, R.J. & MOORES E.M. 1992, Structural Geology, W.H. FREEMAN & COMPANY ed.,
532 pgs.

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