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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 4

3.4.1. Movimentos de deformação

3.4.1.1. Princípios mecânicos (elasticidade e plasticidade)


Devido à acção da gravidade, as rochas estão constantemente sujeitas a forças de magnitude
variável. Estas forças sujeitam as rochas a tensões que tendem a deslocá-las e a deformá-las. Tais
deformações são opostas pela rigidez e resistência da formação rochosa. Entende-se por rigidez dum
sólido a sua resistência inicial à mudança de forma e por resistência dum sólido a sua capacidade de resistir
às forças deformadoras por longos períodos.
A capacidade de um objecto de resistir à deformação é medida em termos de força compressiva
e força de tracção. A força compressiva é a pressão ou força por unidade de área, necessária para
deformar ou esmagar permanentemente um objecto. A força do tracção é a força necessária para dividir um
objecto. Os granitos têm uma resistência à compressão de 1.600-2.400 kg/cm 2, mas a sua resistência à
tracção é baixa, cerca de 50-80 kg/cm2.
Um líquido viscoso, como o alcatrão, não tem resistência; um bloco pesado de metal afunda-se
nele. A principal diferença entre um fluido e um sólido é que o fluido sujeita-se continuamente sob a acção
da mais pequena carga ou pressão. Um sólido, por outro lado, deve ser sujeito a uma pressão ou carga
definidas antes que as suas forças coesivas sejam ultrapassadas e ceda por fluxão ou fractura.
As propriedades de fluxão ou fractura dum sólido dependem da pressão e temperatura ambientais.
Todos os sólidos são mais fracos a altas temperaturas do que a baixas. As altas temperaturas nas
profundezas do globo permitem que as rochas possam ser mais facilmente deformadas por fluxão plástica
sob a acção das variadas pressões que aí se fazem sentir. Além disso, a plasticidade de muitos sólidos
aumenta com a pressão confinante e eles podem ser muito deformados sem se partir. Sob uma pressão de
20.000 atmosferas uma peça de aço pode ser esticada a 300 vezes o seu comprimento inicial sem se partir.
Sem dúvida que os efeitos da temperatura e da pressão nas propriedades de fluxão das rochas jogaram um
papel preponderante na modificação da resistência da crusta.
Elasticidade - é a propriedade que uma substância tem de resistir à deformação permanente. Ela
pode ser ilustrada ao se pressionar com um dedo um balão cheio. Quando se tira o dedo a superfície
assume de imediato a sua forma original. Uma bola de aço responde de maneira semelhante a uma pressão
temporária na sua superfície. Mesmo que a bola tenha grande rigidez, ela cede um pouco sem se partir.
Quando a pressão alivia, a bola assume de imediato a sua forma original, o que a faz saltar. O mesmo
acontece com um seixo, que também é elástico.
Plasticidade - sob a acção duma pressão grande e prolongada, as ligações entre o átomos no
aço ou rocha são partidas, os átomos deslizam entre si e o material flui, se bem que a velocidade do
movimento seja muito lenta. Estes deslocamentos internos são permanentes. Este tipo de deformação não
é elástico mas sim plástico e necessita de um grande período de tempo. Uma vez que as rochas têm
elasticidade e plasticidade, dois tipos de deformação são possíveis.

3.4.1.2. Movimento crustal


Durante a história geológica até à actualidade, a crusta tem sido dobrada, inclinada, levantada,
afundada, resultando nas mudanças relativas de posição das formações rochosas. Os movimentos podem
ser em qualquer direcção - para cima, para baixo, na horizontal, inclinados - e podem ser extremamente
lentos e graduais ou rápidos e violentos.

3.4.2. Estruturas de deformação ruptural

3.4.2.1. Falhas
As falhas são fracturas na crusta ao longo das quais ocorre deslizamento paralelo à superfície da
fractura (Fig. 4.18). Elas ocorrem em qualquer tipo de rocha, mas são mais facilmente detectadas em rochas
sedimentares. A quantidade de deslocamento pode ser de fracções de .centímetros ou de centenas de
metros. Em qualquer dos casos não é possível dizer qual dos lados se manteve parado e qual se moveu ou
se ambos se moveram. Tudo o que se pode dizer é que houve um movimento relativo entre os dois.
A superfície da fractura, ao longo da qual se deu o movimento, chama-se plano de falha (Fig.
4.18). Este "plano", contudo, raramente é plano por longas distâncias e, consequentemente, o termo
superfície de falha seria mais apropriado. Se uma falha puder ser seguida em todo e seu comprimento
verificar-se-ia que o deslocamento é zero nos seus extremos. Quer dizer, o deslocamento é máximo no

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ponto médio e diminui até anular nos extremos. Em algumas regiões


as falhas tendem a ocorrer em grupos ou zonas, em que o movimento
ocorre ao longo dum certo número de fracturas separadas por
pequenos intervalos (Fig. 4.19).

B
Fig. 4.18. Falha Normal (A) e Inversa (B)
BA – Bloco ascendente; BD – Bloco Fig. 4.19. Esquema tectónico da área de Cahora Bassa, com alguns dos
descendente; T – Teto; M – Muro; Pf – Plano traços de falhas existentes na região.
de Falha
Onde as massas de rochas envolvidas no falhamento são de grande tamanho e peso, a enorme
pressão mantém as faces dos dois blocos de falha em contacto compressivo. Como resultado da fricção
entre os blocos, o plano de falha dá uma superfície brilhante, chamada espelho de falha. Se o plano de
falha for muito irregular, o movimento entre blocos esmaga o material, originando uma brecha de falha.
Se bem que alguns planos de falha sejam verticais, a maioria é inclinada de modo que um dos
blocos fica por cima do outro. O bloco que fica por cima do plano de falha chama-se teto e o outro chama-
se muro (Fig. 4.18). O bloco que sobe em relação ao outro chama-se bloco ascendente e o que desce
chama-se bloco descendente (Fig. 4.18).

3.4.2.2. Escarpas de falha


Muitas falhas atingem a superfície. O movimento descendente dum dos blocos origina um declive
(correspondendo ao plano de falha) chamado escarpa de falha (Fig. 4.17). A altura desta escarpa depende
de dois factores:
 quantidade de deslocamento
 idade da falha,
pois que em muitos lugares a erosão reduziu o bloco ascendente, levando-o a atingir o nível do descendente.

3.4.2.3. Tipos de falha


Se o teto duma falha parece ter-se movido para
baixo em relação ao muro, a falha é chamada de falha
normal (Fig. 4.18.A); se parece ter subido, a falha é chamada
falha inversa (Fig. 4.18.B). Uma falha de cavalgamento é
uma falha inversa em que o plano de falha é subhorizontal e o
teto se moveu muitos quilómetros (Fig. 4.20). Há falhas que
não são nem normais nem inversas; são falhas em que o
movimento se deu horizontalmente (Fig. 4.21.A),
verticalmente (Fig. 4.21.B) ou rotativamente (Fig. 4.21.C).
Um bloco que se afunda entre duas falhas normais
chama-se graben (Fig. 4.22.A) e o que sobe entre duas
falhas normais chama-se horst (Fig. 4.22.B). Um exemplo
concreto de graben em Moçambique é a depressão ocupada
pelos Lagos Niassa e Chirua.
A Fig. 4.23 mostra uma falha real, da Praia do
Castelejo, Alentejo, Portugal. Fig. 4.20. Evolução duma falha de cavalgamento.

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A B C
Fig. 4.21. Outros tipos de falhas: A – Horizontal; B – Vertical; C – Rotativa

A B
Fig. 4.22. Graben (A) e Horst (B)

3.4.2.4. Diaclases ou Juntas


Diaclases ou juntas são um outro tipo de fractura que ocorre nas rochas em que não há
movimento dos blocos paralelamente à superfície de fractura.
As juntas não ocorrem isoladas mas em grupos de várias direcções, sendo a direcção a mesma
para juntas do mesmo grupo (Fig. 4.24 - Leça da Palmeira, Portugal)).
Teoricamente, as juntas podem ser classificadas em função de terem sido originadas por
compressão, tensão ou torção (estas últimas envolvem compressão e tensão).
Todas as rochas são mais sensíveis a forças de tensão do que de compressão, pelo que as
juntas de tensão são mais abundantes que as de compressão. Nem sempre é possível dizer se um
determinado grupo de juntas tem uma origem compressiva ou de tensão.

Fig. 4.23. Exemplo duma falha inversa Fig. 4.24. Exemplo de diaclases

3.4.3. Estruturas de deformação não ruptural (dobras)


Já vimos anteriormente a importância dos factores pressão,
temperatura e tempo de actuação de forças na deformação elástica ou
plástica das rochas. Vimos também anteriormente que existem dois
tipos de pressão: hidrostática (compressão) e dirigida (tensão).
Uma pressão aplicada tangencialmente (pressão dirigida)
sobre uma rocha, seja esta pressão originada duma intrusão
magmática ou por forças tectónicas, pode originar a formação duma
dobra (curvatura numa camada rochosa).
A forma das dobras varia muito, dependendo da intensidade,
duração e ângulo de incidência da direcção do esforço em relação ao
plano que sofreu o dobramento. Quanto ao tamanho, variam desde
milimétricas até centenas de metros de amplitude. A posição das
dobras no espaço pode ser muito variada. As partes constituintes duma

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dobra são (Fig. 4.25): Fig. 4.25. Partes constituintes duma dobra
 Flancos - são os dois lados da dobra;
 Eixo ou charneira - linha ao redor da qual se dá o dobramento, a qual pode ser horizontal,
inclinada ou vertical; nos últimos casos, a dobra é mergulhante;
 Plano axial - superfície que divide a dobra em duas partes similares, que podem ser ou não
simétricas, dependendo da simetria da dobra;
 Crista - linha que resulta da ligação dos pontos mais altos da dobra, que pode coincidir ou não
com o eixo.
Quanto à sua morfologia, as dobras classificam-se em (Fig. 4.26):
 Anticlinal - dobra na qual os flancos se abrem para baixo, tendo por cima o eixo;
 Sinclinal - dobra na qual os flancos se abrem para cima, ao contrário do anticlinal;
 Isoclinal - dobra na qual os dois flancos mergulham na mesma direcção e com o mesmo
ângulo de mergulho;
 Monoclinal - dá-se o encurvamento de apenas uma parte;
 Dobra Simétrica - quando o plano axial faz ângulos iguais com ambos os flancos;
 Dobra Assimétrica - quando o plano axial faz ângulos diferentes com cada um dos flancos;
 Dobra Deitada - quando o plano axial é horizontal a subhorizontal;
 Dobra em leque - quando os flancos da dobra se aproximam mais intensamente na parte
mediana.

Monoclinal
Anticilinal Sinclinal Isoclinal Assimétrica Deitada em Leque
Fig. 4.26. Diversos tipos de dobra

A Fig. 4.27 mostra algumas fotografias de dobras em afloramentos de Moçambique e Portugal.

Arrifana, Algarve, Portugal Castelejo, Alentejo, Portugal

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Mina de Amianto, Mavita, Manica Muaguide, Cabo Delgado, Moçambique


Fig. 4.27. Alguns exemplos de dobras.

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