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Faculdade de Ciências e Tecnologia

Departamento de Ciências da Terra

Licenciatura: Engª Geológica

Disciplina: Geologia Estrutural

GEOLOGIA ESTRUTURAL

- Apontamentos de apoio às aulas teóricas -

Maria Carla R. Kullberg (FC / UL)

com a colaboração de

José Carlos R. Kullberg (FCT / UNL)

Monte de Caparica, 2003


ÍNDICE

Introdução

Parte I : Análise Geométrica - Como descrever e classificar estruturas

0 - Generalidades

1 - Falhas e Fracturas

2 - Dobras

3 - Xistosidade, Lineação e Fabric

4 - Síntese da análise geométrica a diferentes escalas de observação

5 - Corpos Ígneos

Parte II : Análise Dinâmica e Cinemática - Como se formam as estruturas

6 - Tensão

7 - Deformação

8 - Reologia: tensão e deformação nos materiais

9 - Mecanismos de Falhamento

10 - Mecanismos de Dobramento

11 - Mecanismos de instalação dos corpos ígneos intrusivos

Parte III : Tectónica

12 - Associações estruturais

Anexo: A formação das Cadeias de Montanhas (M. Mattauer & J. Mercier)


BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL

(aulas teóricas)

DAVIS, H. D. (1984) – Structural Geology of Rocks and Regions. John Wiley &
Sons, New York, 492 p.

HOBBS, B. E.; MEANS, W. D. & WILLIAMS, P. F. (1976) – An outline of Structural


Geology. John Wiley & Sons, New York, 571 p.

PARK, R. G. (1983) – Foundations of structural geology. Blackie - Chapman and


Hall, London, 135 p.

PRICE, N. J. & COSGROVE, J. W. (1990) – Analysis of Geological Structures.


Cambridge Univ. Press, 502 P.

RAMSAY, J. G. (1967) – Folding and fracturing of rocks. Graham Hill, New York,
568p.

RAMSAY, J. G. & HUBER, M. I. (1983-85) – The Techniques of Modern Structural


Geology. 3 Vol., Academic Press, London 806 p.

TWISS, R. J. & MOORE, E. M. (1992) – Structural Geology. W. H. Freeman &


Comp., New York, 532 p.

PLUIJM, B. van der & MARSHAK, S. (1997) – Earth Structure – an Introduction to


Structural Geology and Tectonics. WCB/McGraw-Hill; New York, 495 p.
INTRODUÇÃO

O objectivo da Geologia Estrutural situa-se na identificação, representação e interpretação


genética das estruturas dos corpos rochosos. Durante o Ciclo Geológico (fig. I.1) os materiais da
crosta sofrem sucessivamente erosão, transporte, sedimentação, diagénese, deformação,
eventualmente acompanhada por metamorfismo regional e magmatismo.

Fig. I.1 - O Ciclo Geológico, ou Ciclo das Rochas.

O objectivo da Geologia Estrutural, em sentido lato, é justamente, o estudo da deformação


dos corpos geológicos. É usual distinguir um aspecto analítico, o estudo das estruturas individuais,
como por exemplo dobras, falhas, etc., que contribui para a Geologia Estrutural em sentido restrito; e
um aspecto sintético, o estudo da evolução das grandes unidades, tais como cadeias de montanhas,
bacias, escudos etc., constituindo a tectónica ou mesmo o estudo da evolução do globo no seu
conjunto, o que constitui a Geotectónica ou Geodinâmica.

A Geologia Estrutural tem ligações com muitos outros ramos das Ciências da Terra, como
por exemplo:
a) Estratigrafia – porque a deformação actua sobre sequências sedimentares ou porque a
evolução do enchimento de uma bacia é controlada por factores tectónicos;
b) Petrologia – porque a deformação actua sobre materiais com certas características
petrográficas e porque na sua transformação ou instalação a composição destes materiais vai ser
influenciada pelas condições tectónicas;
c) Geofísica – porque a deformação vai ser um efeito provocado por um determinado estado
de tensão na crosta (geodinâmica), denunciado por vários parâmetros geofísicos, sendo a
tectonofísica o ramo da geodinâmica que estabelece a ligação entre geofísica e tectónica;
d) Planetologia – porque a evolução mecânica da crosta é apenas um aspecto da evolução
do globo no seu conjunto, sob o ponto de vista térmico e geoquímico, que pode ser reconstituído
através das diferentes situações actualmente existentes nos diferentes planetas;

I-1
e) Geologia Económica – porque o estudo dos recursos minerais (jazigos minerais metálicos
e não-metálicos) e dos recursos energéticos (jazigos de hidrocarbonetos, carvões, sistemas
geotérmicos) obriga a estabelecer a estrutura da ocorrência com significado e a atender aos factores
estruturais que controlam a sua localização.

A análise estrutural é o ramo da Ciência que tem por objectivo a descrição de um corpo
rochoso no seu estado actual e, a partir desta, reconstituir a evolução da estrutura do corpo em
questão.

Este objectivo pretende ser atingido em várias fases:


1 - como é óbvio, procura-se dar uma descrição puramente geométrica da estrutura do corpo
rochoso é análise geométrica ou descritiva;
2 - tentam reconstituir-se os diferentes tipos de movimentos que tiveram lugar na passagem
de um estado inicial até ao estado actual, ou seja, a deformação é Análise Cinemática;
3 - procura-se relacionar os movimentos sofridos com o campo de tensões que os
provocaram é Análise Dinâmica.

Trata-se pois de uma marcha de espírito em tudo semelhante à da Mecânica. A análise


estrutural é, pois, uma mecânica dos corpos geológicos.

Esta análise processa-se a diferentes escalas:


Submicroscópica – a esta escala utilizam-se os microscópios electrónicos pois as estruturas
pertencem a uma escala não visível, nem sequer ao microscópio óptico. Ex: deformações
interatómicas.
Microscópica – escala a que se utiliza o microscópio óptico. Ex: deformações intra e
intercristalinas.
Mesoscópica – é a escala da amostra de mão (com ou sem uso da lupa) ou das estruturas
visíveis em afloramento. Ex: dobras, falhas, xistosidade, lineações, etc.
Macroscópica – é a escala do mapa: pode ser muito variada, entre 1/100 e 1/50000, ou
mesmo mais pequena. Ex: as mesmas estruturas anteriores mas de maiores dimensões como é, por
exemplo, o caso do Anticlinório do Pomarão.
Megascópica – A esta escala consideram-se as grandes unidades, com distribuição
geográfica da ordem dos milhares de quilómetros. Ex: Cadeia Alpina.
Normalmente as observações iniciam-se à escala mesoscópica e, posteriormente, analisam-
se os outros domínios (abaixo ou acima) conforme o pretendido.

Iniciaremos então o nosso estudo da Geologia Estrutural pela análise geométrica, com a
descrição e classificação de várias estruturas geológicas em termos da sua morfologia.

BIBLIOGRAFIA

Ribeiro, A. (1983) – Curso de Geologia Estrutural Elementar. AEFCUL, Lisboa, 121p.

I-2
PARTE I

Análise Geométrica:
como descrever e classificar estruturas
O – GENERALIDADES

Muitos dos corpos deformados têm como característica fundamental uma ordenação espacial
interna a que se chama Trama ou Fabric. Trata-se de uma extensão da noção de estrutura cristalina,
a corpos de escala maior, estatisticamente homogéneos. Esta ordenação espacial provém de um
arranjo de descontinuidades da estrutura, periódicas num espaço tridimensional. Quando estas
descontinuidades se repetem a uma escala menor do que aquela em que se observa o corpo, dizem-
se penetrativas, isto é, podem considerar-se uniformemente presentes, em qualquer ponto do corpo
em estudo e contribuem portanto para a trama. Uma descontinuidade pode ser penetrativa em certa
escala e não o ser a uma escala menor (fig. 0.1).

Fig. 0.1 - Descontinuidades planares no mesmo corpo, em cinco escalas diferentes: (a) Microscópica;
(b) Mesoscópica ampliada; (c) Mesoscópica; (d) Macroscópica ampliada e (e) Macroscópica.
(Turner & Weiss, 1963).

Uma falha, um contacto ígneo, uma superfície de erosão ou uma discordância, são não
penetrativos a qualquer escala (figs. 0.2, 0.3, 0.4).

Não contribuem para a trama apesar de serem geologicamente significativos (logo, a análise
estrutural não dispensa os estudos clássicos, antes completa-os).

0-1
Fig. 0.2 - Falhas funcionando como fronteira entre domínios distintos. (a) Falha transgressiva em
relação aos fabrics das paredes, embora estes sejam idênticos de um e outro lado da falha;
(b) Neste caso a falha é uma superfície de descontinuidade separando domínios muito
diferentes; (c) Neste caso os fabrics dos dois domínios são geometricamente idênticos e não
são interrompidos pela falha. Em qualquer caso a falha é uma superfície não penetrativa.
(Turner & Weiss, 1963).

Fig. 0.3 - Contactos ígneos funcionando como fronteira entre domínios: (a) A superfície de contacto é
discordante em relação aos dois domínios; (b) discordante apenas em relação ao fabric da
rocha eruptiva; (c) discordante em relação ao fabric da rocha encaixante; (d)
geometricamente não é uma superfície de descontinuidade pois não é discordante com
qualquer dos fabrics (Turner & Weiss, 1963).

Os elementos da trama podem ser cristalográficos, como por exemplo o plano [001] das
micas e o eixo {0001} do quartzo; ou não cristalográficos (Quadro I), como sejam as descontinuidades
estruturais ou heterogeneidades visíveis num agregado.
QUADRO I

0-2
Elementos não cristalográficos do fabric

(seg. M.S. Paterson & L.E. Weiss, in Turner & Weiss, 1963)

Fig. 0.4 - Discordâncias funcionando como fronteira entre domínios com fabrics distintos: (a)
discordância transgressiva em relação aos fabrics das duas rochas; (b) discordância
transgressiva em relação a um dos fabrics em presença; (c) Desconformidade.
Geometricamente não é uma descontinuidade, embora o seja geologicamente. (Turner &
Weiss, 1963).

Fig. 0.5 - Descontinuidades lineares não penetrativas. (a) e (b) : Lineação L1 de intersecção entre duas
clivagens, S1 e S2. (Turner & Weiss, 1963).

0-3
Os primeiros, reflectem descontinuidades à escala atómica, cuja orientação é determinada
pelas propriedades físicas que reflectem a estrutura cristalina (meios ópticos ou radiográficos).

Os segundos podem ser cristalograficamente controlados. Com efeito, é uma orientação


preferencial estatística dos elementos cristalográficos da trama que produz as descontinuidades a
uma escala superior; se não, trata-se de superfícies que cortam grãos minerais e que destroem a
homogeneidade da orientação da rede cristalina.

Os elementos da trama têm uma orientação e uma posição. Quando a orientação não é
ocasional diz-se que a trama é anisótropa e que existe uma orientação preferencial. Se esta falta, a
trama é isótropa, como por exemplo, numa corneana ou numa rocha eruptiva, formadas sem
intervenção de pressões orientadas. Registe-se que a Isotropia é a propriedade dos corpos que
traduz invariância à rotação, assim como a homogeneidade é a propriedade que traduz invariância à
translação (ver nota de rodapé na pág. 1 do Cap. 7 - Deformação).(fig. 0.6).

A trama regista algo da origem e evolução de uma rocha. Com efeito, a deformação realiza-
se a todas as escalas do corpo rochoso e, portanto, produz descontinuidades penetrativas que a
trama reflecte. A trama traduz:
(1) no caso dos tectonitos, a natureza e intensidade da deformação;
(2) no caso dos não tectonitos, os processos de deposição e crescimento.

Os tectonitos podem subdividir-se em:


tectonitos primários , cujos componentes da trama resultam da influência do movimento num
ambiente em que tenham sofrido eles próprios deformação. É o caso das rochas eruptivas com
texturas fluidais, ou de sedimentos com figuras de corrente:
- tectonitos secundários, cujos elementos da trama sofreram a influência directa de
movimentos. É o caso das rochas deformadas (tectonitos miméticos , em que o crescimento dos
grãos é devido a uma recristalização pós-tectónica comandada pela anisotropia de uma trama
tectonítica anterior).

Fig. 0.6 - Relação entre homogeneidade estatística e escala. As amostras I e II são estatisticamente
idênticas e a esta escala o corpo considera-se estatisticamente homogéneo. Numa escala
muito mais ampliada as amostras III e IV não são estatisticamente idênticas e nesta escala o
corpo é heterogéneo. (Turner & Weiss, 1963).

Numa trama é possível definir uma simetria que só difere da de um cristal por ser de natureza
estatística.
A simetria de uma trama rochosa pode definir-se, tal como a de uma rede cristalina, em
função de grupos espaciais de simetria uma vez que se supõe a estrutura com extensão infinita.

0-4
Numa situação heterogénea, isto é, na descrição de um objecto individual, como por exemplo
uma dobra, a simetria é do tipo grupo pontual de simetria (grupo finito de simetria), isto é, a simetria
de uma classe cristalina e não da sua rede.

Os elementos da trama são linhas e planos e, em geral, como são não polares, a sua simetria
é D∞h, isto é, contêm um eixo de grau infinito e um plano de simetria, normal ao eixo.

O eixo de simetria é normal à estrutura planar considerada ou paralelo à estrutura linear.

Todas as tramas têm centro de simetria e é possível obter para a trama 5 classes de simetria:
(1) trama esférica (K∞h) - é a simetria de uma esfera;
(2) trama axial (D∞h) - é a simetria de um esferóide ou elipsóide de revolução;
(3) trama ortorrômbica (D2h) - é a simetria de um elipsóide triaxial;
(4) trama monoclínica (C2A) - um único plano de simetria e um eixo binário normal a esse
plano;
(5) trama triclínica (S2 = C) - sem planos de simetria.

O Quadro II contem alguns exemplos de simetria de fabrics sedimentares e ígneos, não


deformados.

QUADRO II

(seg. M.S. Paterson & L.E. Weiss, in Turner & Weiss, 1963)

As tramas em que todas as subtramas têm a mesma simetria são homotéticas; as tramas em
que os diferentes elementos têm diferente simetria são heterotéticas.

Representação gráfica dos elementos da trama

Os elementos da trama são registados pelo geólogo estrutural assim como a sua posição,
dimensão e orientação. Depois são representados em mapas, cortes ou bloco-diagramas.

O estudo da orientação dos elementos, independentemente da sua posição, é


particularmente importante, tal como em cristalografia.
Por isso se usa, no tratamento gráfico dos dados de orientação, uma projecção
estereográfica. A única modificação introduzida é consequência da necessidade de avaliar o grau de

0-5
orientação preferencial a partir da densidade de elementos medidos, por área de projecção. Por isso
se usa uma projecção equivalente que conserva as áreas, em vez da projecção conforme da
cristalografia, que conserva os ângulos. A rede de Wulff é, assim, substituída pela rede de Schmidt.

BIBLIOGRAFIA

Ribeiro, A. (1981) - Curso de Geologia Estrutural Elementar. AEFCUL, Lisboa, 121p

Turner, F. J & Weiss, L. E (1963) - Structural Analysis of Metamorphic Tectonites. McGraw Hill, New
York, 545 p.

0-6
1 - FALHAS E FRACTURAS

Fracturas são o tipo de estrutura geológica mais comum e podem ser observadas em
muitos afloramentos rochosos.

Correspondem a fendas ao longo das quais se perdeu a coesão do material e são, para
todos os efeitos, superfícies ou planos de descontinuidade.

Quando existe um deslocamento mensurável ao longo do plano de fractura, ou seja, quando


a rocha de um dos lados se tiver movido ao longo da fractura em relação à rocha do outro lado do
plano de descontinuidade, designa-se a fractura por falha.

Se não existir qualquer movimentação ou se esta for demasiado pequena para que seja fácil
detectá-la, designa-se normalmente a fractura por diaclase. Contudo, a distinção entre fractura e
diaclase é bastante artificial e é muitas vezes, resultante exclusivamente da escala de observação.

As fracturas são importantes por vários motivos. A sua presença afecta significativamente a
resistência da rocha e devem por isso ser cuidadosamente estudadas nas operações de engenharia
civil que envolvem importantes construções, como por exemplo túneis, barragens, centrais nucleares,
etc.

São também importantes locais para o desenvolvimento de mineralizações, uma vez que as
fracturas dilatacionais, desenvolvidas sob o efeito de tensões distensivas, são normalmente
ocupadas por veios de material com interesse económico depositado no espaço criado pela abertura
da fractura (Ex: Minas de Estanho de Vale das Gatas, no Norte de Portugal).

1.1. Geometria e nomenclatura das falhas

Definição de uma falha: é uma fractura planar ao longo da qual a rocha foi deslocada, numa
direcção geralmente paralela ao plano de fractura.

Geometria do deslocamento (fig. 1.1)

Fig. 1.1 - Anatomia de uma zona de falha (Vialon, Ruhland & Grolier, 1976).
Se a geometria do plano de falha for não vertical, ou seja, se este for oblíquo, chama-se

1-1
"footwall" (F) ou bloco de apoio ao bloco abaixo do plano de falha, e "hangingwall" (H) ou bloco
suspenso àquele que fica acima do plano de falha.

A inclinação (i) do plano de falha mede-se sempre a partir da horizontal. Por vezes
considera-se o ângulo complementar, o desvio da vertical ou "hade".

O deslocamento entre os dois blocos separados pelo plano de falha pode efectuar-se em
qualquer direcção existente no plano de falha, com magnitudes idênticas (falhas translaccionais) ou
diferentes (falhas rotacionais). Este movimento pode, ou não, ser acompanhado por afastamento (ou
aproximação) dos blocos segundo uma direcção perpendicular ao plano de falha.

As falhas translaccionais, em que o deslocamento é paralelo à direcção do plano de falha


(componente horizontal de movimento, exclusivamente), chamam-se desligamentos ("strike-slip
faults") e aquelas em que o deslocamento é paralelo à linha de máxima inclinação do plano de falha
adquirem a designação de falhas normais ("normal faults") ou inversas ("reverse faults"), conforme se
observa a descida do bloco suspenso ou o inverso, respectivamente (fig. 1.2).

Principais tipos de falhas: (a) f. normais; (b) f. inversas; (c) desligamentos (Vialon et al., 1976).

Nestas falhas, o deslocamento é muitas vezes decomposto em componentes horizontal e


vertical, não existentes no plano de falha: (fig. 1.3 e 1.4).

É importante notar que os deslocamentos verificados em falhas são normalmente difíceis de


medir na prática uma vez que é frequentemente impossível ajustar pontos homólogos de um e outro
lado do plano de falha.

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Rv
sen α =
ds

Rv
tg α =
Rh

Fig. 1.3 - Geometria dos deslocamentos em falhas inclinadas. Rh = componente horizontal; Rv =


componente vertical; α = ângulo de inclinação; θ = "hade"- (90° - α); ds = deslocamento
(Park, 1983).

Fig. 1.4 - Deslocamentos relativos sobre o plano de falha (Vialon et al., 1976).

Se a estratificação estiver deslocada não podemos ter a certeza de quanto do deslocamento


aparente é devido a movimentos de desligamento e quanto é devido a movimentos de componente
vertical. O problema é ultrapassado se a direcção do movimento no plano de falha estiver registada
pela presença de estrias sobre o plano (resultantes do atrito desenvolvido pelo arraste dos blocos)
ou se, por exemplo, for possível medir o deslocamento de uma estrutura vertical, como um filão, ao
longo de uma direcção horizontal (falha de desligamento); o problema permanece sem solução se a
falha só tiver movimento de componente vertical.

A melhor forma, a mais segura, de determinar o verdadeiro deslocamento, ou rejeito, de


uma falha, é encontrar pontos homólogos deslocados (figs. 1.5, 1.6 e 1.7).

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Fig. 1.5 - Afastamento entre pontos homólogos.

Fig. 1.6 - Rejeitos de uma falha:


ABCD - plano de falha; ρ -
inclinação do plano de falha; α -
pitch das estrias no plano de
falha; Rr - rejeito real; Rva -
rejeito vertical aparente (Rva =
Rv.senρ = Rhl.tgα ); Rv - rejeito
vertical; Rht - rejeito horizontal
transversal; Rhl - rejeito horizontal
longitudinal ou lateral (Rhl
=Rr.cosα = Rva.cotgα ); No plano
de falha: senα = Rva/Rr; cosα =
Rhl/Rr; tgα = Rva/Rhl; Rr=
Rva/senα = Rhl/cosα (Vialon et.
al., 1976).

Fig. 1.7 - Rejeitos de uma falha


vistos em corte transversa:

(a) e (c) - falhas normais; (b) e


(d) - falhas inversas. AC- rejeito
vertical (componente vertical do
rejeito real = Rv); CB- rejeito
horizontal transversal
(componente horizontal do
rejeito, num plano perpendicular
ao plano de falha = Rht); AB-
rejeito vertical aparente (medido
no plano de falha, ao longo da
linha de máxima inclinação =
Rva); BD- rejeito estratigráfico (=
Re). ρ -inclinação do plano de
falha; ϕ -inclinação das camadas
(para calcular o rejeito
estratigráfico); Rv dá a diferença
de altitude entre os dois blocos;
Rht dá o valor do alongamento produzido (f. normal=positivo; f. inversa=negativo); senρ=Rv/Rva;
Cosρ=Rht/Rva; tgρ = Rv/Rht. Rejeito vertical: Rv=Rht.tgρ = Rva.senρ. Rejeito vertical aparente: Rva = Rv/senρ
= Rht/cosρ. Extensão: rejeito h. transversal Rht=Rv.cotgρ =Rv/tgρ.Rht= Rva.cosρ (Vialon et al., 1976).

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Sentido do deslocamento

No caso das falhas de desligamento o deslocamento pode ser esquerdo (sinistrógiro) ou


direito (dextrógiro) (fig. 1.8).

Fig. 1.8 – Vista, em planta, de desligamentos esquerdos e direitos (Park, 1983).

Existe apenas componente de movimento horizontal e a deslocação dos blocos desenvolve


um binário de rotação em sentido directo, no 1º caso, e em sentido retrógrado no 2º caso.

No caso de falhas inclinadas com movimentação de componente vertical, estas podem ser
normais ou inversas (figs. 1.9 e 1.11), como vimos.

Nas falhas normais ou distensivas, há abatimento do bloco acima do plano de falha, que
desliza ao longo dele sob a acção da gravidade.

Nas falhas inversas, pelo contrário, o bloco acima do plano de falha desloca-se subindo ao
longo daquele, contrariando assim a força da gravidade. Por isso se chamam as falhas inversas de
compressivas.

Fig. 1.9 - Corte vertical para apreciar os movimentos Fig. 1.10 - Cavalgamento e "lag", em corte vertical
das falhas normais e inversas (Park, 1983). (Park, 1983).

Se as inclinações dos planos de falha forem muito baixas, as falhas normais designam-se
por "lag" e as falhas inversas por cavalgamentos ("thrust") (figs. 1.10 e 1.11).

Fig. 1.11 - Extensão traduzida pelo rejeito horizontal transversal. Em falhas normais há alongamento
(e > 0); em falhas inversas há encurtamento (e < 0) (Vialon et al., 1976).
Os cavalgamentos podem atingir deslocamentos da ordem dos quilómetros, e estão

1-5
frequentemente associados a fenómenos orogénicos (compressão em larga escala). A sua
geometria pode ser complexa e voltaremos a falar deles mais adiante.

Sistemas conjugados sintéticos e antitéticos.

Num mesmo episódio de deformação, as falhas produzem-se normalmente segundo duas


famílias de acidentes com atitudes diferentes, que se dizem conjugadas por serem geradas mais ou
menos em simultâneo. As falhas conjugadas, ou as famílias conjugadas de acidentes, têm uma
geometria simples que normalmente permite a identificação do campo de tensões responsável pela
sua geração (fig. 1.2). Voltaremos a este assunto no capítulo 9, ao tratar do Falhamento
(mecanismos de produção de falhas e sua interpretação dinâmica).

Revendo a nomenclatura e classificação das falhas já apresentadas, verifica-se que as


mesmas se reportam sobretudo ao tipo de deslocamento observado ao longo do plano de falha, ou
seja, caracterizam as situações onde não ocorrem modificações na atitude das camadas afectadas,
em consequência ou em simultâneo com o movimento frágil sobre o plano de rotura.

Quando o campo de tensões produz falhas e também uma alteração na inclinação das
camadas, quer dizer, quando há uma rotação externa das camadas, a nomenclatura das falhas
complica-se um pouco.

Nestas circunstâncias as falhas, sejam normais, inversas ou de desligamento, dizem-se


sintéticas ou antitéticas em relação a esta rotação externa, se o movimento ao longo dos seus planos
desenvolve um binário de rotação interna do mesmo sentido ou de sentido contrário,
respectivamente, ao da rotação externa (fig. 1.12).

De um ponto de vista puramente geométrico, estas falhas também se designam, às vezes,


por falhas conformes ou falhas contrárias, se a sua inclinação for, respectivamente, no mesmo
sentido ou em sentido contrário ao das camadas.

Fig. 1.12 - Exemplos de falhas sintéticas e antitéticas, em distensão e em compressão (Mattauer,


1973).

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Quer isto dizer que, se a rotação externa aumenta com regularidade, as falhas normais
sintéticas vão aumentando a inclinação do seu plano, podendo ficar verticais ou até transformarem-
se em falhas inversas e, neste estádio, se a distensão continuar, o sentido do deslocamento ao longo
do plano de falha vai inverter-se (fig. 1.13). Do mesmo modo, as falhas inversas sintéticas podem
acabar por se transformar em falhas normais.

Assim sendo, sempre que existe uma rotação externa importante associada às falhas, e para
saber de que tipo de falha exactamente se trata, é necessário rodar as camadas para a sua posição
original (e, obviamente, rodar o plano de falha da mesma quantidade, no mesmo sentido).

Quando o valor da rotação externa é desconhecido, não podemos saber se uma falha era
originalmente normal ou inversa.

Fig. 1.13 - Esquema mostrando como uma falha normal sintética pode, por rotação externa, adquirir o
aspecto de uma falha inversa, invertendo-se o seu rejeito (Mattauer, 1973).

Finalmente, se atentarmos apenas na atitude do plano de falha, as falhas classificam-se em


verticais ou oblíquas, uma vez que não há falhas com planos horizontais (embora, como se verá
adiante, alguns extensos mantos de carreamento possam ter sectores do plano de carreamento
praticamente horizontais).

1.2. Material esmagado produzido pela movimentação das falhas

Brecha de falha e "farinha" (argila) de falha:

As maiorias das falhas estão assinaladas por uma zona de rocha fragmentada e esmagada,
com fragmentos rochosos de dimensões variadas.

Chama-se Brecha de falha a este material, sempre que os fragmentos visíveis constituam
parte apreciável do conjunto esmagado. Quando o conjunto do material produzido pelo esmagamento
é formado quase exclusivamente por partículas muito finas, do calibre das argilas, chama-se Farinha
de falha ou Argila de falha.

Este material é não coeso e tem, perante a erosão, um comportamento menos resistente que
as rochas afectadas pela falha, sendo pois facilmente removido. Surgem assim expressivas
depressões topográficas associadas aos afloramentos de falhas.

Esta ausência de coesão do material formado por esmagamento resulta das condições muito
superficiais em que se forma. Nos mesmos planos de falha, a maiores profundidades, onde as
condições de pressão e temperatura o permitem, frequentemente os produtos do esmagamento se
aglutinam sob forma coerente, constituindo rochas perfeitamente litificadas com texturas típicas de
esmagamento. São as chamadas Brechas de esmagamento, onde os fragmentos visíveis dominam
na rocha, ou os Cataclasitos onde uma matriz muito fina constitui proporção apreciável da rocha.

1-7
A maiores profundidades, o aumento da pressão e da temperatura produz, em certos casos,
recristalização da textura destas rochas. Podemos assim distinguir os seguintes tipos de rochas
produzidas por esmagamento: (Quadro 1.1)

QUADRO 1.1
Classificação das rochas produzidas por esmagamento

(seg. Sibson, 1977, in Park, 1983).

Milonitos - Normalmente faz-se uma distinção entre as rochas formadas sob regime frágil
pela partição (fracturação e esmagamento do material - Cataclase) e entre aquelas formadas em
regime dúctil, por recristalização contínua ou fluência. As rochas de esmagamento de grão mais fino,
produzidas por este último processo são resistentes e bastante coesas, com uma textura laminar ou
listrada. Chamam-se milonitos. Quando a recristalização é dominante a rocha diz-se um
blastomilonito. São rochas características das zonas de cisalhamento.

Ultramilonitos e Pseudotaquilitos – O esmagamento extremo produz uma rocha formada


por fragmentos quebrados imersos numa matriz de grãos ultramicroscópicos, de cor escura, muitas
vezes negra. Estas rochas são os ultramilonitos e indicam um grau de esmagamento muito elevado,
ou seja, uma intensidade de deformação associada à falha muito elevada. O calor de fricção
desenvolvido ao longo da falha durante rápidos movimentos relativos dos compartimentos em
intervalos breves pode ser suficiente para fundir algum deste material, formando uma substancia
vítrea, contendo frequentemente esferólitos e que se designa por pseudotaquilito. Este material
fundido forma então veios que intruem a rocha fracturada adjacente.

Como o material vítreo está normalmente desvitrificado e contém uma elevada percentagem
de fragmentos não fundidos, muitas vezes é difícil distinguir um pseudotaquilito de um ultramilonito, a
não ser utilizando meios de poderosa ampliação. O pseudotaquilito forma-se, aparentemente, apenas
em profundidade na crosta sob condições de pressão confinante moderada e elevada taxa de
deformação (muito rápida). É assim possível considerar que uma falha exibindo à superfície
esmagamento com produção de argila de falha não coerente pode desenvolver pseudotaquilitos a
profundidades intermédias sendo substituída por uma zona de cisalhamento dúctil a maiores

1-8
profundidades.

Fig. 1.14 - Determinação do sentido de movimento de uma falha a partir das figuras produzidas
durante o arraste. (a) nichos de arrancamento; (b) degrau de arrancamento; (c) nicho de
arrancamento; (d) degrau de "folheamento" com torção nas rochas junto ao plano de falha;
(e) aberturas em aglomerados cristalinos formados em fases anteriores; (f) escamação; (g)
degrau formado por fendas de tracção; (h) degrau formado por microfendas em "échelon"
(Vialon et al., 1976).

1.3. Estruturas associadas aos Planos de falha

Estrias de escorregamento ou de arraste.

Muitas vezes os planos de falha exibem superfícies "brilhantes" ou estriadas, produzidas


pela acção de "polimento" desenvolvida durante a movimentação relativa, com atrito, dos dois blocos
de uma falha. Chamam-se estrias de arraste ("slickensides") às lineações assim produzidas nos
planos de falha. Estes sulcos permitem a determinação da direcção do movimento e em certos casos
a análise do sentido do deslocamento relativo dos compartimentos (fig. 1.14).

Produzem-se ainda outras estruturas lineares devidas ao crescimento de veios de minerais


fibrosos, normalmente quartzo e calcite, com os seus eixos maiores paralelos à direcção de
movimento.

1-9
Como vimos, os movimentos relativos dos compartimentos definidos por uma fractura plana
regular ou irregular são de três tipos: pode existir deslocamento sem aproximação nem afastamento
dos compartimentos em presença, e pode haver afastamento ou aproximação segundo uma direcção
qualquer não contida no plano de falha.

No primeiro caso, se a fractura for um plano regular, não existe qualquer traço do movimento
a menos que ao longo do plano hajam irregularidades ou elementos em relevo: estes vão talhar
pequenas ranhuras paralelas, análogas às que se encontram na base dos glaciares. Muitas destas
ranhuras terminam bruscamente indicando o fim do trajecto do elemento estriador (fig. 1.15).

Deste modo é possível determinar o sentido do movimento.

Fig. 1.15 - Esquema mostrando três tipos de falhas e três aspectos possíveis de uma falha, conforme
o tipo de movimentação sofrida. (1) estrias formadas por um elemento estriador que produz
ranhuras na rocha; (2) estilólitos resultantes da aproximação dos blocos; (3) fibras de calcite
preenchendo o espaço aberto pelo afastamento relativo dos blocos (Mattauer, 1973).

No segundo caso o plano de falha fica coberto de produtos de recristalização, de que os mais
comuns são a calcite e o quartzo mas que podem ser, por exemplo, asbestos. Estes minerais têm
geralmente uma estrutura fibrosa oblíqua ao plano da falha e indicadora da direcção do movimento
(fig. 1.15). Muitas vezes os cristais de quartzo ou de calcite exibem uma estrutura linear, sublinhada
por recristalizações sucessivas, paralela às estrias de deslizamento mencionadas no caso anterior.
Chamam-se por isso estrias de recristalização.

No terceiro caso, evidente sobretudo em rochas carbonatadas, os dois blocos da falha


interpenetram-se como consequência de dissolução sob pressão. Deste fenómeno resultam
estruturas de dissolução ou estilólitos, cuja geometria depende da obliquidade do movimento sobre o Foto
plano da descontinuidade. Se a rocha não for solúvel podem verificar-se dois casos. Se a tensão
cisalhante for inferior a um determinado limite, não se produz qualquer movimento; o sistema fica
bloqueado. Se esse limite for ultrapassado produz-se um deslocamento com atrito e formam-se
estrias. Geralmente o sistema fica bloqueado após um pequeno deslocamento.

1 - 10
Se a superfície da descontinuidade planar for acidentada por irregularidades, estas originam
a formação de microestruturas de recristalização ou de dissolução (fig. 1.16).

Fig 1.16 - Exemplo de falhas não planares funcionando como falha normal e como falha inversa. No
primeiro caso formam-se cavidades, que podem ser preenchidas por calcite. No segundo
caso formam-se estilólitos (Mattauer, 1973).

Assim, verifica-se que a existência de pequenos abruptos, qualquer que seja a sua atitude,
permitem sempre a determinação do sentido do movimento. Se não se encontrarem estruturas de
dissolução, o melhor critério para determinar o sentido do deslocamento reside na observação dos
relevos que limitam as coberturas de calcite fibrosa. Muitas vezes formam-se geodes com cristais
automórficos que dão imediatamente o sentido do movimento (fig. 1.16). Ao longo do mesmo plano
de falha podem encontrar-se figuras de dissolução e figuras de recristalização (fig. 1.17) se as
facetas oblíquas ao plano principal de rotura se encontrarem, respectivamente, expostas à
compressão ou à dissolução. Mesmo quando as variações de inclinação de uma falha são pequenas
e progressivas, elas podem também ser utilizadas para a determinação do sentido do rejeito.

Fig. 1.17 - Fractura exibindo figuras de recristalização e de dissolução muito próximas e aspecto de
falhas não planas. Em qualquer dos casos o sentido do movimento deduz-se de imediato
(Mattauer, 1973).

1 - 11
Flexuras

Rochas estratificadas na vizinhança de uma falha exibem frequentemente dobras de grande


raio de curvatura, também chamadas flexuras, estritamente relacionadas com a movimentação da
falha. São as chamadas "dobras de arraste" ("drag folds") produzidas quer pela resistência relativa
dos dois compartimentos ao movimento de deslocação ao longo do plano de falha, traduzida no
arqueamento das camadas, quer por um mecanismo de deformação dúctil quase sempre presente,
precedendo o momento da rotura (fig. 1.18 e 1.19).

Fig. 1.18 - Associação entre falhas e flexuras (Park, 1983).

Fig. 1.19 - Dobras de arraste em falhas normais e inversas (Mattauer, 1973).

Fendas de tracção e cisalhamentos secundários.

Dependendo das condições de plasticidade do material e da presença de anisotropias na


rocha, por efeito do atrito no plano de falha podem desenvolver-se fendas de tracção em “échelon”
ou cisalhamentos secundários em microfracturas.

Foto 1

Foto 2

Foto 3

Fig. 1.20 - Diferentes aspectos de fendas em “échelon” associadas a cisalhamentos, simples e


conjugados (Mattauer, 1973).

1 - 12
1.4. Associações de falhas

Geralmente as falhas não ocorrem isoladamente, aparecendo as falhas principais


associadas a conjuntos de falhas menores, com menores deslocamentos, mas paralelas e com o
mesmo tipo de movimento da falha principal. Blocos das mais variadas dimensões, sobreelevados ou
deprimidos, podem estar, e normalmente estão, limitados por conjuntos de falhas do mesmo tipo
mas com sentidos de deslocamento opostos. Um bloco deprimido limitado por falhas normais é um
graben, assim como um bloco sobreelevado constitui um horst (Fig. 1.21).

Fig. 1.21 - Estruturas em horst e graben (Park,1983).

Estruturas muito desenvolvidas, que se estendem por centenas de quilómetros e onde


dominam no centro grabens e nas extremidades horsts são aquelas que se podem encontrar não só
no fundo de vários oceanos mas também sobre os continentes e a que chamamos rifts.

Dois exemplos bem conhecidos são o Grande Rift Africano e o Rift do Reno; ambos são
formados por uma série de grabens interrelacionados que se estendem por algumas centenas de
quilómetros.

No entanto, as associações de falhas não têm necessariamente que ser constituídas por
falhas paralelas. Por exemplo, uma falha principal pode ser acompanhada por uma ramificação mais
ou menos complexa de falhas menores como se observa na vizinhança da Falha de Santo. André
(Califórnia) (fig. 1.22 - pág. seguinte).

Frequentemente a terminação de uma falha é assinalada pelo aparecimento de falhas em


bisel ("splay faults") que espalham o deslocamento por uma área mais ou menos vasta (fig. 1.23).

Fig. 1.23 - Falhas secundárias na terminação de uma falha principal (Park, 1983).

1 - 13
Fig. 1.22 - Zona da Falha de Santo. André (Califórnia). A - Distribuição das falhas (as mais
importantes destacadas); - Evolução do movimento das placas envolvidas, assumindo a
Americana estacionária; C - Pormenor da distribuição das falhas na região de Los Angeles; D
- Modelos para explicação da origem das estruturas compressivas (carreamentos e dobras) e
distensivas (bacias "pull-apart") como resultado quer determinações de falhas quer da
sobreposição de falhas (Park, 1983).

As falhas podem igualmente terminar contra outras falhas, de tipo diferente. Por exemplo,
dois carreamentos podem estar unidos por uma falha de desligamento, de forma a que o movimento
se transmita de um carreamento a outro (fig. 1.24).

Fig. 1.24 - Transferência do deslocamento de um carreamento para um desligamento (Park, 1983).

1 - 14
Como veremos adiante, muitas vezes estas situações não funcionam como vários planos de
falha discretos mas antes como um só, em que existem rampas frontais (carreamentos) e rampas
laterais com movimento de desligamento (Ex: estrutura cavalgante da Cadeia da Arrábida).

É frequente ainda encontrar famílias de falhas conjugadas, muitas vezes associadas a


fendas de tracção na vizinhança dos respectivos planos de rotura (figs. 1.20 e 1.25).

Fig. 1.25 - Geometria de planos de cisalhamento conjugados associados a fendas de


tracção em “échelon” (Vialon et al., 1976).

Um bloco onde se produziu rotura com movimentação ao longo de um plano pode


igualmente estar afectado por estruturas estilolíticas (de dissolução) orientadas segundo a direcção
de compressão máxima e/ou por fendas com abertura e recristalização de minerais fibrosos ----
normalmente quartzo ou calcite (fig. 1.26).

Fig. 1.26 - Estilólitos e fracturação (Vialon et al., 1976).

1 - 15
1.5. Diaclases

As diaclases são fracturas ao longo das quais não há deslocamento ou, existindo, este é
demasiado pequeno para ser perceptível a olho nu. Ocorrem geralmente em conjuntos de planos
paralelos regularmente espaçados, podendo identificar-se várias famílias de diaclases, cada uma
com a sua atitude, num mesmo conjunto rochoso. Os sistemas mais comuns correspondem a três
planos perpendiculares entre si, um dos quais paralelo à estratificação nas rochas sedimentares, que
conferem aos afloramentos um aspecto de partição em blocos paralelipipédicos.

As diaclases estão quase sempre relacionadas com a geometria do corpo rochoso onde
ocorrem e também com a geometria das tensões que o afectam, e produzem deformação. Ocorrem
associadas a dobras e também na vizinhança de falhas ("pinnate fractures") (figs. 1.27 e 1.28).

Fig. 1.27 - Relações entre diaclases e dobras (Park, 1983).

Fig. 1.28 - Dois exemplos de diaclases (“pinnate fractures") associadas a falhas. A sua disposição em
relação ao plano de falha permite interpretar o sentido do deslocamento (Hobbs, Means &
Williams, 1976).

Muitas diaclases são devidas a libertação de tensões acumuladas pelas rochas estratificadas
em consequência da carga litostática que suportam em profundidade. Quando as camadas
sobrejacentes são erodidas, produz-se uma redução na carga litostática o que provoca a expansão
da rocha a partir do desenvolvimento de fracturas distensivas (diaclases) muitas vezes paralelas às
superfícies de estratificação. Outra causa comum da formação de diaclases tem a ver com a
contracção que ocorre nos corpos ígneos em arrefecimento. Os corpos ígneos tabulares, filões
verticais e/ou camada, e certas escoadas, exibem muitas vezes disjunção colunar poligonal
perpendicular às superfícies de arrefecimento. Um exemplo clássico deste tipo de estrutura é a
Calçada dos Gigantes em Antrim (fig. 5.7 de A. Holmes, 1978).

1 - 16
Em circunstâncias favoráveis, as famílias de diaclases que ocorrem regionalmente em vários
tipos rochosos diferentes, podem ser relacionadas com uma compressão ou distensão regional, do
mesmo modo que as dobras. A relação entre a geometria das fracturas e os campos de tensão que
as produzem será abordada no capítulo 9 (Falhamento).

BIBLIOGRAFIA

Hobbs, B. E; Means, W. D & Williams, P. F. (1976) - An Outline of Structural Geology. John Wiley &
Sons, New York, 571p.

Holmes, A. (1978) - Principles of Physical Geology, Thomas Nelson & Sons Ltd, London, 1288 p.

Mattauer, M. (1973) - Les déformations des matériaux de l'écorce terrestre. Hermann, Paris, 493 p.

Park, R. G. (1983) - Foundations of structural geology. Blackie, Chapman & Hall, London, 135 p.

Ramsay, J. G. & Huber, M. I. (1987) - The Techniques of Modern Structural Geology; vol. 2: Folds
and Fractures. Academic Press, London, 403 p.

Vialon, P.; Ruhland, M. & Grolier, J. (1976) - Éléments de tectonique analytique. Masson, Paris,
118p.

1 - 17
2 - DOBRAS

Se as fracturas são a expressão mais comum da deformação das rochas à superfície da


crosta, as dobras são, sem dúvida, a mais espectacular. Quando vemos uma camada rochosa que
era originalmente plana e horizontal dobrada num arco mais ou menos amplo com um comprimento
de onda de algumas centenas de metros, somos forcados a reconhecer de um modo muito directo a
existência de forças bastante poderosas a actuarem na crosta terrestre.

2.1. Definição e significado das dobras


Dobra é uma estrutura produzida quando uma superfície planar original se torna arqueada ou
curvada como resultado de deformação. As fracturas (falhas e diaclases) resultam de deformação
frágil, que se traduz pela rotura das rochas segundo planos discretos e individualizados ao longo dos
quais as rochas perdem completamente a sua coesão. As dobras, contudo, são a expressão da
deformação dúctil, que produz modificações mais contínuas e graduais nas camadas rochosas, quer
nas superfícies de estratificação quer no seu interior, à medida que a rocha se vai acomodando e
alterando a sua forma.

2.2. Geometria das dobras

Charneira e flancos de uma dobra (figs. 2.1 e 2.2)

Fig. 2.1 - Charneira e flancos de uma dobra (Park, 1983).

Ao considerarmos uma superfície simples dobrada, os elementos principais da geometria da


dobra são a charneira ou fecho, que é a zona de máxima curvatura da superfície dobrada e os
flancos que representam as áreas articuladas pela charneira. Se for possível definir uma linha que
una os pontos de máxima curvatura da superfície, essa linha é a linha de charneira. Uma dobra
singular compreende uma charneira e dois flancos, articulados por essa charneira. Numa sequência
de dobras cada flanco é partilhado por duas dobras adjacentes.

Dependendo da forma actual da dobra, ou seja, do modo como a superfície altera a sua
curvatura, a charneira pode ser muito bem definida e os flancos relativamente rectos (fig. 2.1B), ou a
curvatura pode variar gradualmente acompanhando o perfil da dobra, em particular quando aquele se
aproxima da forma cilíndrica (fig. 2.1C).

Numa dobra verdadeiramente cilíndrica onde a superfície dobrada corresponde a parte da


superfície de um cilindro, é muito difícil separar a charneira dos flancos pois o gradiente de curvatura
é constante ao longo do desenvolvimento da dobra.

2-1
Fig. 2.2 - Elementos de caracterização de uma superfície dobrada.

No entanto, é comum utilizar-se a designação de dobra cilíndrica para toda aquela dobra cuja
geometria corresponde à de uma superfície gerada pela translação de uma recta, a geratriz da dobra
(fig. 2.2). Esta geometria tem uma propriedade importante que é a da sua charneira se apoiar sobre a
recta geratriz da superfície dobrada que por sua vez está presente em todos os pontos dessa
superfície.

Para além deste tipo de charneira existem outros, mais complexos (fig. 2.3).

Fig. 2.3 - (a) Dobra de charneira recta: (b) e (c) Dois tipos de dobras com charneiras curvas (Turner &
Weiss, 1963).

Eixo da dobra e Plano axial

Ao descrever a atitude de uma dobra é mais frequente utilizar-se não as atitudes dos dois
flancos mas a atitude do plano imaginário equidistante de ambos os flancos e que portanto bissecta o
ângulo entre eles. Este plano é o Plano axial que intersecta a zona de charneira da dobra segundo
uma linha a que se chama Eixo da dobra (fig. 2.4).

2-2
Fig. 2.4 - Eixo, plano axial e superfície axial de uma dobra (Park, 1983).

Se os flancos da dobra estiverem suficientemente bem definidos a determinação das atitudes


do plano axial e do eixo dará uma descrição precisa quanto à orientação da dobra.

Fig. 2.5 - Elementos de uma dobra: charneira e flancos; crista ou cume e cava ("creu"); ponto de
inflexão (Vialon et al., 1976).

Superfície axial da dobra

Ao considerar uma dobra formada por várias superfícies dobradas (várias superfícies de
estratificação em leitos adjacentes numa sequência estratificada) é mais conveniente considerar a
superfície não planar que passa pelas linhas de charneira das sucessivas superfícies dobradas. Esta
superfície é a superfície axial da dobra e, à medida que a sua regularidade aumenta, aproxima-se do
plano axial tal como o definimos no ponto anterior. As zonas de charneira sobretudo quando são
amplas nem sempre se localizam com facilidade a olho o que torna por vezes bastante difícil a
definição do plano médio correspondente à superfície axial. Por comodidade, a maioria dos geólogos
de campo usa apenas a designação de plano axial, mesmo quando este não corresponde a uma
superfície planar regular (fig. 2.4B).

Ângulo entre flancos – ângulo de abertura

O menor ângulo definido pelos flancos de uma dobra é o ângulo de abertura. A abertura ou
fecho de uma dobra, expressa por este ângulo é um método bastante útil para classificar as dobras,
como veremos adiante e reflecte a intensidade da deformação.

2-3
Fig. 2.6 - Plano axial (PA), plano bissector (PB) e plano de crista (PC) de um antiforma. O PB divide
ao meio o ângulo de abertura da dobra (Vialon et al., 1976).

Amplitude e comprimento de onda de uma superfície dobrada

São medidas da dimensão de uma dobra (figs. 2.7 e 2.8).

Fig. 2.7 - Amplitude e comprimento de onda de uma dobra: λ, comprimento de onda; a, amplitude; H,
charneira; I, ponto de inflexão (Park, 1983).

O método mais simples para determinar o comprimento de onda de uma dobra consiste na
medição da distância entre duas charneiras consecutivas do mesmo tipo (a que corresponde
ultrapassar uma charneira de tipo diferente). Se estas não forem visíveis então meio comprimento de
onda será a distância entre dois pontos de inflexão consecutivos, ou seja, em cada um dos flancos
da dobra.

Os Pontos de inflexão localizam-se onde o sentido de curvatura da superfície dobrada muda


de uma dobra para outra (figs. 2.5 e 2.7).

A amplitude de uma dobra pode ser medida considerando metade da distância medida
perpendicularmente entre uma charneira e a linha que une duas charneiras consecutivas do mesmo
tipo ou a distância entre uma charneira e a linha que une os dois pontos de inflexão, medida
igualmente na perpendicular desta última.

2-4
Fig. 2.8 - Comprimento de onda e amplitude de uma superfície dobrada. PA, plano axial; i,
pontos de inflexão; Wa, comprimento de onda real; Wb, comprimento de onda
aparente; Aa, amplitude real; Am, amplitude aparente. Superfície envolvente da
dobra: superfície que une todas as linhas de charneira de um mesmo tipo. Deste
modo todo o sistema de dobras possui 2 superfícies envolventes: uma que une as
charneiras antiforma e outra que une as charneiras sinforma (Vialon et al., 1976).

2.3. Orientação das dobras


A orientação de uma dobra obtém-se no campo pela determinação das atitudes dos dois
flancos e se estes forem relativamente rectos e regulares esta informação é suficiente para uma
descrição completa da atitude de uma dobra. Contudo, e como já foi assinalado, é mais importante e
comporta mais informação, a descrição e registo das dobras em termos dos seus planos axiais e
eixos. Assim, a posição e orientação de uma dobra ou sistema de dobras tem uma representação
cartográfica correspondente a uma linha paralela à direcção do plano axial. Esta linha é o chamado
traço do plano axial. A inclinação do plano axial pode ser representada do mesmo modo que a atitude
das estratificações, apenas utilizando uma convenção distinta para não confundir as estratificações
com os planos axiais das dobras por elas definidas.

Mergulho de uma dobra

O mergulho do eixo da dobra é o ângulo medido entre a horizontal e o eixo. Este ângulo tem
que ser medido sobre um plano vertical (o que contem a direcção do eixo) e designa-se por mergulho
de modo a distinguir-se do termo inclinação, habitualmente utilizado para referenciar estruturas
planares.

Fig. 2.9 - Mergulho de uma dobra (Park. 1983).

2-5
Uma descrição completa da orientação de uma dobra comporta, pois, um valor de direcção
(a direcção do traço do plano axial) indicando o sentido para onde se dá o mergulho do eixo e a
quantidade angular correspondente a esse mergulho. Se dissermos que uma dobra mergulha 30°
para 105°, queremos dizer que o plano axial da dobra tem uma direcção de N75W e que o seu eixo
mergulha 30° para a direcção ESE ou, com maior exactidão, para os 105° de azimute.

2.4. Classificação das dobras


A classificação das dobras baseia-se em quatro parâmetros fundamentais:

• direcção (sentido) de fecho da dobra;


• atitude do plano axial;
• dimensão do ângulo de abertura (ângulo entre flancos);
• natureza do perfil da dobra.

Classificação das dobras quanto à direcção de fecho

As dobras que fecham para cima, ou seja, onde a inclinação dos flancos diverge a partir da
charneira designam-se antiformas (fig. 2.10A) e aquelas que fecham para baixo, onde os flancos
inclinam em direcção à charneira, são os sinformas (fig. 2.10B). As dobras que fecham para os lados
ou seja, nem para cima nem para baixo, são neutras (fig. 2.10C). Em circunstâncias normais, onde
as camadas são mais recentes quanto mais altas estão na sequência sedimentar, os antiformas
possuem as rochas mais antigas no seu núcleo e são por isso chamados de anticlinais (fig. 2.10D). É
importante anotar que a designação de anticlinal se restringe apenas à situação de uma dobra que
possui no seu núcleo as rochas mais antigas sendo portanto uma designação que pressupõe o
conhecimento da polaridade estratigráfica. Do mesmo modo, a designação sinclinal (fig. 2.10E) é
reservada às dobras que possuem no seu núcleo as rochas mais modernas, independentemente da
sua geometria definir um sinforma ou um antiforma.

Fig. 2.10 - Fecho e vergência de uma dobra.


D, anticlinal; E, sinclinal; F, dobra deitada redobrada; X, sinforma anticlinal, Y, antiforma
sinclinal e Z um sinclinal (Park, 1983).

2-6
Em regiões afectadas por dobramento mais complexo, onde as bancadas estão
frequentemente invertidas, é possível encontrar anticlinais que fecham para baixo (sinformas
anticlinais), ou sinclinais que fecham para cima (antiformas sinclinais) (fig. 2.10F).

Nestes casos é conveniente introduzir o conceito de vergência de uma dobra, para facilitar a
compreensão das relações entre a polaridade sedimentar ou estratigráfica e as estruturas produzidas
pela deformação: dobras e clivagem.

A vergência é a direcção em que olham os flancos curtos das dobras monoclínicas, ou a


direcção para a qual houve transporte de massa quando há carreamento.

Se a vergência é conhecida, pode deduzir-se a polaridade através da relação


clivagem/estratificação. Quando se conhece a polaridade, é possível determinar a vergência com
base naquela mesma relação (fig. 2.11) (ver com maior detalhe, Cap. 4, Sec. 4.3, págs. 4.7 e 4.11).

Fig. 2.11 - Vergência: relação entre clivagem e estratificação (mod. Vialon et al., 1976).

2-7
Classificação das dobras quanto à orientação

QUADRO 2.1

Com base na inclinação da superfície axial as dobras podem ser divididas em três grupos:
a) dobras com planos axiais verticais ou fortemente inclinados dizem-se verticais:
b) dobras com planos axiais moderadamente inclinados dizem-se inclinadas;
c) dobras com planos axiais sub-horizontais dizem-se deitadas (fig. 2.12).

A divisão entre estas classes não é rígida. Por vezes chamam-se às dobras inclinadas com
um flanco inverso dobras monoclínicas (atendendo a sua simetria) com flanco inverso ("overfold"),
(fig. 2.12).

Fig. 2.12 - Atitude do plano axial de várias dobras: A - vertical; B e C - inclinado; D - deitado; E -
distinção entre linhas de charneira e crista e cava de uma dobra com plano axial inclinado
(Park, 1983).

2-8
Nas dobras inclinadas os pontos mais elevados e mais baixos da superfície dobrada
normalmente não coincidem com as charneiras sendo por vezes útil a utilização dos termos crista
("crest") e cava ("trough"), respectivamente, para essas posições (figs. 2.5 e 2.12E).

Classificação das dobras quanto ao ângulo de abertura

Fig. 2.13 - A. Classificação das dobras baseada no ângulo de abertura (seg. Fleuty, 1964); B. Medição
do ângulo de abertura em dobras com charneira arredondada. O ponto de tangência é nos
pontos de inflexão (Park, 1983).

A dimensão do ângulo de abertura de uma dobra mede o grau de "fecho" da dobra, o que
reflecte a quantidade de deformação sofrida pelos estratos. Quanto mais apertada é a dobra, menor
e o ângulo de abertura e maior foi a deformação envolvida.
A figura 2.13 mostra uma classificação esquemática que subdivide as dobras em 5 classes:
amplas (180° a 120°; abertas (120° a 70°); fechadas (70° a 30°); apertadas (30° a 0°) e isoclinais
(0°).
Estes limites podem variar de autor para autor e o melhor, ao considerar-se o ângulo de
abertura, e mencioná-lo. Muitas vezes as dobras amplas chamam-se flexuras.
Quando os flancos não são rectos não é fácil determinar o ângulo de abertura. Nestes
casos consideram-se as tangentes à superfície dobrada nos pontos de inflexão (fig. 2.13B) e mede-
se o ângulo entre elas.

Análise do Perfil das dobras

O perfil de uma dobra é a forma que a camada dobrada exibe quando observada
perpendicularmente ao seu eixo.

Fig. 2.14 - Tipos de perfis de dobras (Park, 1983).

2-9
As dobras variam bastante de aspecto quando vistas de perfil e, como estas variações
reflectem em parte diferenças no mecanismo de formação das dobras é por vezes importante
considerar descrições precisas do seu perfil. As categorias principais de perfil apresentado pelas
dobras estão referenciadas na figura 2.14.

Fig. 2.15 - Dobras concêntricas. (a) Forma geral; (b) em arenitos (seg. de Sitter, in Turner & Weiss,
1963).

O perfil mais simples é o das dobras paralelas onde a espessura ortogonal das bancadas é
constante. Um caso especial de dobras paralelas é o das dobras concêntricas, onde as superfícies
dobradas adjacentes são arcos de círculo com um centro comum, designado por centro de curvatura
da dobra (figs. 2.15 e 2.16a).

Fig. 2.16 - Dobras concêntricas (a) e dobras similares (b) (Vialon et al., 1976).

2 - 10
Como consequência da sua geometria não é difícil provar que as dobras paralelas ou
concêntricas "morrem" para cima e para baixo, não podendo afectar mais do que uma espessura
finita de estratos (fig. 2.17), limitada pela localização dos centros de curvatura. Para além dos centros
de curvatura a deformação, o achatamento é acomodado pela geração de falhas ou outro tipo de
dobras: dobras concêntricas achatadas (figs. 2.16a e 2.18).

Fig. 2.17 - Geometria das dobras concêntricas circulares.

Fig. 2.18 - Dobramento flexural seguido de


achatamento homogéneo: (a) camada não deformada
com espessura t; (b) camada flectida com Fig. 2.19 - Dobramento similar de uma superfície S1,
conservação da espessura ortogonal; sobreposição com plano axial S2. (a) por deslizamento em
de achatamento homogéneo com 50% de descontinuidades discretas paralelas a S2 (b) por
encurtamento perpendicularmente ao plano axial
(Turner & Weiss, 1963). deformação global continua (Turner & Weiss, 1963).

Outro tipo de dobras são as dobras similares (figs. 2.16b, 2.19 e 2.20) onde a espessura
ortogonal das bancadas varia de modo sistemático, mantendo constante a espessura vertical (fig.
2.21), medida paralelamente ao plano axial da dobra.

Numa dobra verdadeiramente similar a forma das superfícies dobradas adjacentes


corresponde-se precisamente e esta propriedade permite às dobras similares manterem o seu perfil
constante, indefinidamente, para cima e para baixo, ao longo de sucessivas bancadas.

Fig. 2.20 - Dobra de fluência: estratificação cinematicamente passiva (Vialon et al., 1983).

2 - 11
Fig. 2.21 - Espessura ortogonal e espessura vertical.

As dobras que possuem flancos planares e charneiras rectas bem definidas (fig. 2.14D) são
conhecidas por dobras em chevron.

Estas dobras exibem a curiosa propriedade de serem aparentemente tanto similares como
paralelas, no sentido de que muitas das bancadas individuais dobradas podem ser paralelas,
enquanto a dobra, no seu conjunto, é normalmente similar.

Fig. 2.22 - Kinks conjugados.

Quando estas dobras são fortemente assimétricas, os flancos curtos aparentam bandas que
atravessam a rocha. Estas bandas são conhecidas como "kink bands" e afectam sobretudo materiais
com forte anisotropia inicial (fig. 2.22).

Isógonas

São linhas que unem pontos de igual inclinação entre camadas adjacentes (figs. 2.23 e 2.24).
Permitem uma classificação (Ramsay, 1967) bastante utilizada (fig. 2.25).

2 - 12
Fig. 2.23 - Isógonas de inclinação e classificação de Ramsay (1967) (Vialon et al., 1976).

Fig. 2.24 - Classificação das dobras segundo as isógonas (Ramsay, 1967).

Consideram-se três classes:


Classe 1 – dobras com isógonas convergentes (concêntricas)
Classe 2 – dobras com isógonas paralelas (similares)
Classe 3 – dobras com isógonas divergentes

A classe 1 subdivide-se em 3 grupos, de acordo com o grau de convergência das isógonas.


Assim sendo, a classe 1A é a das dobras com isógonas fortemente convergentes, a classe 1B é a
das dobras paralelas ou concêntricas, de espessura ortogonal constante e a classe 1C das dobras
com isógonas fracamente convergentes ou das dobras flexurais achatadas (fig. 2.18c)

2 - 13
Fig. 2.25 - Classificação das dobras vistas de perfil. Relação entre a espessura dos flancos, a
inclinação das isógonas e o achatamento (in Vialon et al., 1976).

Quando considerarmos os mecanismos de formação das dobras veremos como e possível


considerar estados contínuos de deformação na passagem dos diferentes tipos de dobras umas para
as outras.

Outras classificações

É ainda possível classificar as dobras quanto à simetria, em dobras ortorrômbicas (as de


máxima simetria), dobras monoclínicas e dobras triclínicas (as de mais baixo grau de simetria) (fig.
2.26).

2 - 14
Fig. 2.26 - Classificação das dobras quanto à simetria. (a) dobra ortorrômbica; (b) , (c) e (d) dobras
monoclínicas; (e) dobra triclínica (Turner & Weiss, 1963).

2.5. Descrição de sistemas de dobras


A forma como as dobras estão associadas e o modo como se relacionam umas com as
outras é tão importante para a compreensão dos seus mecanismos de formação como a forma e o
perfil de cada dobra individual.

Em sistemas de dobras, as dobras com simetria monoclínica são as mais frequentes. De um


ponto de vista estrito, podemos considerar como simétricas aquelas dobras cujos flancos têm a
mesma dimensão e valores de inclinação idênticos, embora para sentidos opostos (fig. 2.27). Como
vimos, estas características adaptam-se apenas a dobras com o plano axial vertical e o eixo sub-
horizontal, sendo o plano axial, neste caso, um plano de simetria. Nesta linha de pensamento, uma
dobra monoclínica pode ser considerada um tipo especial de dobra assimétrica (pois os seus flancos
têm desigual desenvolvimento e frequentemente valores de inclinação diferentes) onde um dos
flancos é bastante curto quando comparado com a dimensão do outro flanco.

Fig. 2.27 - Dobras simétricas (ortorrômbicas) e assimétricas (Park, 1983).

2 - 15
Dobras Parasitas

Frequentemente, em sobreposição a dobras de maior comprimento de onda, ocorrem


sistemas de dobras de menor comprimento de onda.

As dobras menores, localizadas nos flancos ou na charneira das dobras maiores, designam-
se por dobras Parasitas ou satélites. Em muitos casos há uma relação sistemática entre a simetria
das dobras parasitas e a sua posição nas dobras maiores. Assim sendo, quando os dois sistemas de
dobras, as de menor escala e as de maior escala, se formam conjuntamente, o sentido da assimetria
geralmente muda de um flanco para outro dos antiformas. Nos flancos longos as dobras menores
têm um perfil em "Z" igualmente com flancos maiores bem desenvolvidos e uma vergência
geométrica (dada pela posição do flanco curto das dobras menores) apontando para a charneira
antiforma (fig. 2.28).

Fig. 2.28 - Dobras parasitas (Park, 1983). Fig. 2.29 - Superfícies envolventes (Park, 1983).

Na zona da charneira da dobra principal as dobras menores adquirem um perfil mais


simétrico, com forma de "M" sem flancos longo ou curto distintos. No flanco curto, por óbvia falta de
espaço, não há grandes condições para o desenvolvimento de flancos longos bem marcados nas
dobras menores e deste modo estas adquirem perfis com forma de 'S', embora mantenham a
vergência para a charneira da dobra principal.

A existência de dobras de diferentes ordens de magnitude podem produzir formas bastante


complicadas na superfície dobrada. Estas podem ser consideravelmente simplificadas pelo uso de
superfícies envolventes (figs. 2.29 e 2.30). Uma superfície envolvente é uma superfície desenhada
ao longo de todas as linhas de charneira de todas as dobras. Se a superfície envolvente estiver
igualmente dobrada, pode ser desenhada uma segunda superfície envolvente para melhorar a
simplificação. Num sistema de dobras existem tantas superfícies envolventes quantas as ordens de
dobramento representadas.

Fig. 2.30 - Tipos de superfícies envolventes (a tracejado) (Vialon et al., 1976).

2 - 16
Sistemas de dobras harmónicas e desarmónicas

Quando os sistemas de dobras em bancadas adjacentes se correspondem em comprimento


de onda, simetria e forma geral os sistemas dizem-se harmónicos (fig. 2.31).

Fig. 2.31 - Dobras harmónicas (Park, 1983). Fig. 2.32 - Dobras desarmónicas (Park,1983).

Fig. 2.33 - Desarmonia progressiva. Fig. 2.34 - Dobras ptigmáticas.

Fig. 2.35 - Desarmonia por descolamento. Fig. 2.36 - Desarmonia por alternância de camadas
competentes com dobramento concêntrico e
camadas incompetentes com dobramento similar.

Contudo, muitas vezes, o comprimento de onda e a forma das dobras em bancadas adjacentes
é bastante diferente, normalmente como consequência de diferentes propriedades físicas dos
materiais que constituem as bancadas em questão ou, ainda, importantes variações na sua
espessura. Estes sistemas de dobras dizem-se desarmónicos (figs. 2.32, 2.33, 2.34, 2.35 e 2.36).

Sistemas conjugados e policlinais

Fig. 2.37 - Dobras conjugadas e policlinais. A, kinks conjugados definindo uma estrutura simétrica; B, "Box fold" –
dobra simétrica com 4 grupos de charneiras; C, Dobras policlinais, com superfícies axiais variáveis
(Park,1983).

2 - 17
Um par de dobras assimétricas com sentidos opostos de vergência geométrica, de tal forma
que os respectivos planos axiais inclinem um para o outro, constitui o que se designa por dobras
conjugadas. Um tipo comum de dobra conjugada é a "box fold" ou dobra em caixa, onde os ângulos
da dobra são de aproximadamente 90°, formando uma estrutura quase rectangular (fig. 2.37).

Um sistema de dobras policlinais é uma estrutura complexa formada por dobras em que os
planos axiais de dobras adjacentes têm orientações variáveis.

2.6. Dobras a três dimensões


Até aqui considerámos apenas as dobras a duas dimensões, ou seja, concentrámos a nossa
análise sobre o seu perfil, ignorando a terceira dimensão.

As dobras que mantêm perfis constantes são as dobras cilíndricas. Tais dobras podem,
como vimos, ser consideradas como tendo sido geradas por uma linha recta deslocando-se
paralelamente a si própria de tal forma que a superfície dobrada contem um sistema de linhas
paralelas entre si e paralelas ao eixo da dobra (materialização física dessa geratriz).

As dobras não cilíndricas são também bastante comuns. Analisaremos algumas delas.

Periclinais, domas e bacias (fig. 2.38)

O termo periclinal aplica-se usualmente apenas a dobramentos em grande escala


(macroscópica).

Um periclinal é uma dobra cuja amplitude decresce regularmente até zero em ambas as
direcções, de tal modo que a dobra tem limites precisos no espaço. Os periclinais podem ser
antiformas ou sinformas e, frequentemente, constituem apenas a parte terminal de dobras cilíndricas.

Fig. 2.38 - Periclinais, bacias e domas. A, vista em mapa de periclinais anticlinais (A) e sinclinais (S)
exibindo o seu padrão cartográfico típico; B e C, padrão cartográfico de bacia e doma. As
setas indicam a direcção de inclinação das camadas (Park, 1983).

Um doma é um tipo particular de anticlinal periclinal, onde a inclinação é radial ou seja, vista
em mapa, a estrutura é aproximadamente circular.

O equivalente sinclinal do doma é a bacia.

Culminações e depressões

Numa superfície dobrada exibindo dobras não cilíndricas, sejam elas periclinais ou outras
mais complexas, os eixos das dobras são normalmente curvos e variam em comprimento. Os pontos
de elevação máxima ao longo de eixos de antiformas formam culminações e os pontos de elevação
mínima ao longo dos eixos de sinformas constituem depressões ou cavas.

Muitas vezes as culminações aparecem como domas e as depressões como bacias.

2 - 18
Padrões de interferência e sistemas de dobras sobrepostos

Muitos sistemas de dobras complexos são o resultado da interferência entre dois ou mais
sistemas de dobras de geometria simples. É fácil imaginar como o dobramento de uma camada que
já possui um sistema de dobras irá produzir uma complicada forma a três dimensões.

Tais estruturas são facilmente identificáveis pelos padrões de afloramento que produzem.
Estes dependem da geometria dos dois sistemas de dobras envolvidos e da relação que entre eles
existe. Alguns padrões característicos de interferência ilustrados na fig. 2.39 são, por exemplo:
l) formas fechadas de "domas e bacias";
2) formas em cogumelo ou crescente;
3) formas em duplo "zig-zag" ou padrão "convergente-divergente".

Fig. 2.39 - Dobramentos sobrepostos. A, 2ª fase de dobramento (F2) afectando dobras de 1ª fase (F1);
B, três tipos de padrões de interferência; C, exemplo de uma estrutura de interferência (Loch
Monar); D, a dobra de Loch Monar antes da 2ª fase de dobramento (f2). (Park, 1983).

Em 2) e 3) é clara a ordem de sobreposição dos dobramentos uma vez que é possível


identificar os eixos e os planos axiais das dobras de 1ª fase, dobrados pela 2ª fase.

Um exemplo muito conhecido de um mapa com uma estrutura de interferência de


dobramentos é o de Loch Monar, na Escócia (figs. 2.39C e D).

Se considerarmos todas as possibilidades de interferência entre dois sistemas ondulatórios


(de igual ou diferente comprimento de onda), encontramos de facto quatro tipos principais de padrão
de interferência, cuja geometria a três dimensões pode ser apreciada na figura 2.40. Em cada um
dos quatro tipos de padrão a geometria da dobra inicial (1ª fase) é a indicada por A. e é diferente
para cada um dos quatro tipos de padrão de interferência. O padrão de deslocamento do sistema
sobreposto (2ª fase) esta representado em B., constituindo uma grelha fixa de referência geométrica
para todos os tipos. Os deslocamentos produzidos pela 2ª fase de dobramento são considerados em
termos de um cisalhamento simples heterogéneo (ver capítulos 6 e 9), sendo a orientação do plano
de cisalhamento dada por a2b2: a geometria das dobras formadas em qualquer superfície
inicialmente perpendicular à direcção de deslocamento a2 é a indicada em B. Nesta figura, os
diferentes diagramas C. mostram o resultado final da sobreposição do dobramento representado por
B. na morfologia das superfícies dobradas numa fase anterior.

2 - 19
A forma tridimensional da estrutura final depende fundamentalmente de dois factores:
1º) ângulo entre o plano axial das dobras de 1ª fase (na figura, Ax.P11, a ponteado) e a
direcção de transporte a2 da 2ª fase de deformação;
2º) ângulo entre o eixo das dobras de 1ª fase (F1, na fig. 2.45) e o eixo das dobras de 2ª fase
(b2, na mesma figura).

Fig. 2.40 - Os quatro tipos principais de formas tridimensionais de dobras resultantes da sobreposição
de duas fases de dobramento (Ramsay & Huber, 1987).

As relações mais simples entre estes elementos, que produzem os quatro tipos básicos de
padrão de interferência, podem ser resumidas na tabela seguinte.

2 - 20
QUADRO 2.2

Condições geométricas para a produção dos quatro tipos principais de padrões de


interferência de dobras

Ângulo entre F1 e b2

± 90° ± 0°

Ângulo entre ± 0° Tipo 1 Tipo 0


Ax.P11 e a2
± 90° Tipo 2 Tipo 3

É óbvio que podem existir tipos intermédios ou mistos, quando as relações angulares dos
dois principais factores controladores da geometria de interferência não forem nem 90° nem 0°; por
outro lado, o padrão de interferência observado a duas dimensões (em corte ou em mapa)
dependerá do ângulo segundo o qual essa superfície bidimensional intersecta ou corta a estrutura
tridimensional.

Fig. 2.41 - Principais tipos de padrão de interferência a duas dimensões e suas variantes. Os tipos
puros correspondem aos quatro cantos do diagrama e os restantes são tipos "mistos",
conforme indicado no canto superior esquerdo de cada exemplo (Ramsay, 1967).

Na figura 2.41 estão representadas várias destas possibilidades, segundo uma secção
horizontal. C, A, G e I representam os casos "puros" dos Tipos 0, 1, 2 e 3, respectivamente. B, D, E,
F e H são exemplos de tipos "mistos".

2 - 21
Tipo 0 – Sobreposição redundante
Tem esta designação porque a interacção entre os dois sistemas de dobras não produz
qualquer das características geométricas típicas da sobreposição de dobramentos, e a geometria
tridimensional resultante é praticamente idêntica à das estruturas dobradas numa única fase de
deformação. A forma resultante corresponde normalmente a uma mútua amplificação (fig. 2.40, Tipo
0,C), se as dobras dos dois sistemas estiverem em fase, sendo matematicamente previsível, embora
geologicamente improvável, que a 2ª fase de dobramento anule as dobras da fase anterior, se os
dois sistemas não estiverem em fase e tiverem igual amplitude; podem produzir-se vários tipos de
dobras poli-harmónicas, se as duas fases de dobramento possuírem diferentes comprimentos de
onda.

Tipo 1 – Padrão de Domas e Bacias.


Devido ao baixo ângulo entre os planos axiais das dobras de 1ª fase e a direcção de
movimento das dobras da 2ª fase (a2), o cisalhamento diferencial produzido pela segunda fase de
deformação não deflecte grandemente aqueles planos axiais em relação à sua forma planar inicial.
Pelo contrário, os flancos das primeiras dobras são deflectidos e desenvolvem novas dobras com
eixos mergulhantes em direcção aos planos axiais das dobras de 1ª fase ou mergulhantes em
sentido oposto. Embora os planos axiais da 1ª fase permaneçam planares e praticamente com a
mesma atitude, as charneiras dessas dobras ficam fortemente onduladas, produzindo culminações e
depressões (ou cavas). Este efeito combina-se com as culminações e depressões produzidas nas
dobras de 2ª fase, resultantes das formas dos flancos em que se geram, para produzir domas na
intersecção de duas culminações e bacias na intersecção de duas depressões. Daqui resulta um
padrão em que se observa cada doma rodeado por quatro bacias e, do mesmo modo, cada bacia
rodeada por quatro domas (fig. 2.41A).
Convém salientar que dobras com direcções axiais variáveis, conduzindo à formação de
domas e bacias, podem ser produzidas por vários processos diferentes, de que o acima descrito é
um exemplo. Instabilidades gravíticas desenvolvidas em situações geológicas em que camadas de
menor densidade se encontram abaixo de outras mais densas, induzem a ascensão vertical de
diapiros. Como consequência da indentação produzida nas camadas superficiais da crosta formam-
se domas, frequentemente associados a sinclinais anelares que rodeiam o doma ou a bacias. Em
qualquer dos casos, estas depressões são a compensação geométrica do diapiro ascendente. Estas
estruturas ocorrem associadas quer à ascensão de sal, quer de material eruptivo (alguns plutões
graníticos, por exemplo).

Tipo 2 – Formas em crescente ou cogumelo.

Neste tipo de padrão, os planos axiais das dobras de 1ª fase ficam fortemente dobrados (fig.
2.40 Tipo 2, C), uma vez que o ângulo entre a direcção de movimento da 2ª fase (a2) e o plano axial
das dobras de 1ª fase é elevado (aproximadamente perpendicular). Como o ângulo entre F1 e b2
também é elevado, as charneiras das dobras de 1ª fase ficam bastante arqueadas, como a figura
documenta (fig. 2.40, idem). Este arqueamento produz culminações e depressões idênticas às
formas de doma e bacia, com a diferença destas se encontrarem tombadas no sentido do
tombamento das dobras de 1ª fase. O padrão. bidimensional resultante depende do nível a que a
estrutura tridimensional for seccionada, podendo exibir o aspecto representado na gravura E da
figura 2.41, se a secção corresponder a um nível elevado (mais superficial) na estrutura, ou o
aspecto representado na gravura G, o mais típico, correspondente a um plano de corte mais
profundo. Destas formas, idênticas às de um cogumelo ou a crescentes dispostos alternadamente,
resulta o nome porque é conhecido este padrão de interferência.
Estas estruturas são frequentes em regiões onde grandes mantos de dobras deitadas foram
redobrados.

Tipo 3 – Padrão convergente-divergente, ou em "duplo zig-zag".

As dobras com esta morfologia resultam do facto de a direcção de movimento diferencial da


2ª fase (a2) fazer um ângulo muito aberto com os planos axiais das dobras de 1ª fase, como
acontecia nas dobras de Tipo 2 descritas anteriormente. Simplesmente, neste caso, as direcções dos
eixos dos dois dobramentos (F1 e b2, respectivamente) são praticamente coincidentes. Isto significa
que, embora os planos axiais das primeiras dobras sejam dobrados pelo segundo dobramento, os
eixos das dobras de 1ª fase não vão ser afectados (fig. 2.40, Tipo 3. C). Mais ainda, os eixos das
dobras das duas fases tendem a ser subparalelos. Tipicamente, o padrão de interferência a duas
dimensões a que correspondem estas formas é o representado na gravura 1 da figura 2.41.

2 - 22
2.7. Relações entre falhas, dobras e cisalhamentos dúcteis
Como vimos, as falhas são o produto da deformação frágil enquanto as dobras se formam
por lentas e continuadas modificações dos materiais geológicos, sob condições de deformação dúctil.

Contudo, os dois tipos de processos não estão completamente separados, como teremos
oportunidade de verificar quando analisarmos o comportamento físico das rochas à deformação. Por
exemplo, sob certas condições, o dobramento pode conduzir à fracturação como processo de
deformação (fig. 2.42).

Mais ainda, camadas de material mais rígido (competentes) interestratificadas com camadas
de material menos rígido (incompetentes), podem apresentar fracturas enquanto as camadas menos
rígidas exibem apenas dobramento dúctil.

As rochas tornam-se mais dúcteis em níveis mais profundos da crosta e, uma superfície
frágil – uma falha – à superfície, pode passar em profundidade (˜ a 10 - 20 km) a uma estrutura onde
o deslocamento entre os dois blocos falhados se faz por um tipo de estrutura dúctil chamada zona de
cisalhamento (ver capítulo 12 - Associações Estruturais).

Fig. 2.42 - Falhas desenvolvidas durante o dobramento. As camadas tracejadas e com ponteado são
relativamente competentes e as camadas em branco relativamente incompetentes (Park;
1983).

Zonas de cisalhamento (fig. 2.43)

Uma zona de cisalhamento é uma zona de deformação dúctil entre dois blocos não
deformados mas que foram deslocados um em relação ao outro. Não existem planos discretos de
fractura numa zona de cisalhamento ideal embora na prática haja uma gradação completa entre uma
zona de falha e uma zona de cisalhamento, com os estádios intermédios representados por zonas de
cisalhamento falhadas. A estrutura e o modo de formação das zonas de cisalhamento serão
analisadas mais adiante.

Fig. 2.43 - Geometria de uma zona de cisalhamento (Park. 1983).


"Slides"

O termo "slide" foi inicialmente utilizado para falhas desenvolvidas durante o dobramento. As

2 - 23
estruturas típicas destas condições eram os cavalgamentos de baixo ângulo desenvolvidos em
associação com grandes dobras deitadas e muitas vezes eles próprios dobrados como consequência
da deformação subsequente.

Na prática é muito difícil distinguir entre falhas que precedem o dobramento e aquelas que se
desenvolvem contemporaneamente.

Alguns dos famosos "slides" dos "Highlands" (terras altas) da Escócia (o "Sgurr Beag Slide",
por exemplo), são actualmente considerados zonas de cisalhamento dúcteis desenvolvidas sob
condições metamórficas e estão associadas com regiões de intensa deformação.

Actualmente os geólogos estruturalistas usam o termo "slide" para descrever estruturas


deste tipo, onde o slide corresponde quer a uma zona de cisalhamento quer a uma ou mais falhas no
interior e geneticamente relacionadas com uma zona de cisalhamento.

BIBLIOGRAFIA

Hobbs, B. E; Means, W. D & Williams, P. F. (1976) – An Outline of Structural Geology. John Wiley &
Sons, New York, 571 p.

Park, R. G. (1983) – Foundations of structural geology. Blackie - Chapman and Hall, London, 135 p.

Ramsay, J. G. (1967) – Folding and fracturing of rocks. Graham Hill, New York, 568 p.

Ramsay, J. G. & Huber, M. I. (1987) – The Techniques of Modern Structural Geology. Vol. 2: Folds
and Fractures. Academic Press, London, 403 p.

Ribeiro, A. (1983) – Curso de Geologia Estrutural Elementar. AEFCUL, Lisboa, 121 p.

Vialon, P.; Ruhland, M. & Grolier, J. (1976) – Éléments de tectonique analytique. Masson, Paris, 118p.

2 - 24
3 - XISTOSIDADE. LINEAÇÃO E FABRIC

As estruturas encontradas nas rochas provenientes dos níveis mais profundos das cinturas
orogénicas são caracteristicamente diferentes daquelas que se podem observar a níveis mais
elevados na crosta.

A diferença deve-se, principalmente, ao efeito de aumento de temperatura e da pressão


confinante nas zonas mais profundas da crosta, o que aumenta a ductilidade das rochas, e ainda
às fortes compressões que conduzem a intenso e repetido dobramento.

Três importantes observações podem ser feitas, a propósito das estruturas


correspondentes aos níveis crostais profundos:
1) o processo de deformação mais típico é o dobramento sendo as dobras mais
frequentes que as falhas;
2) desenvolvem-se com frequência conjuntos de novas superfícies planares, vulgarmente
conhecidas como clivagem ou xistosidade;
3) sob compressão, produz-se recristalização selectiva nos materiais rochosos, de que
resulta um rearranjo interno da textura das rochas, produzindo um fabric.

3.1 Xistosidade
Definição e significado – Xistosidade é um conjunto de novas superfícies planares
produzidas numa rocha como consequência de deformação.

Fig. 3.1 - Elementos definidores de xistosidades. (a) definida por bandado litológico; (b) definida por
superfícies de descontinuidade discretas; (c) definida por orientação preferencial planar
dos grãos; (d) definida pela combinação de (a), (b) e (c) (Turner & Weiss, 1963).

3-1
Xistosidade é uma designação genérica que abrange diferentes tipos de estruturas
produzidas de diversos modos.
Clivagem xistenta, xistosidade propriamente dita, bandado gnáissico ou foliação e famílias
de fracturas regularmente espaçadas a pequenas distancias entre si, são tudo exemplos de
xistosidades (fig. 3.1).
Muitas rochas exibem várias gerações de xistosidades, susceptíveis de serem separadas
cronologicamente. Desta forma se introduz a referenciação simplificada de xistosidades,
considerando S1, S2 e S3, três famílias distintas, a mais antiga das quais, S1, se encontra afectada
por S2 e S3, a mais recente das famílias de xistosidades.
As xistosidades mais antigas são assim sempre deformadas e cortadas por xistosidades
mais recentes (posteriores) o que permite o estabelecimento da história estrutural das rochas (fig.
3.2).

Fig. 3.2 - Relações de idade entre xistosidades: S2 é posterior a S1 (Turner & Weiss, 1963).

A estratificação, sendo a primeira superfície planar existente nas rochas, denomina-se,


atendendo a notação anteriormente referida, S0. Contudo, muitas vezes a natureza da
estratificação encontra-se obliterada pela deformação e a origem das primeiras estruturas planares
visíveis é indeterminada. Em muitas regiões há uma xistosidade paralela à estratificação,
frequentemente designada por "bedding foliation" (não é costume traduzir-se este termo).

Este facto pode ocorrer quer por deformação associada a dobramento, e neste caso a
xistosidade corta localmente a estratificação nas zonas de charneira, quer em consequência da
pressão confinante ou carga (peso) dos sedimentos e camadas que lhe estão sobrepostos.

3-2
Tipos de xistosidade (fig. 3.3)

A nomenclatura dos vários tipos de xistosidade é bastante confusa. Isto sucede porque as
origens de algumas estruturas, como por exemplo a clivagem xistenta e o bandado gnáissico, só
muito recentemente foram esclarecidas.

O termo clivagem ("cleavage"), por exemplo, compreende estruturas de origens variadas,


em que o único factor comum é a fissilidade que permite à rocha separar-se ao longo desses
planos de clivagem.

Os principais tipos de clivagem são a clivagem xistenta, uma clivagem muito penetrativa
típica das ardósias e xistos ardosíferos; a clivagem de fractura, um conjunto de planos de fractura
regularmente espaçados e a pequenas distancias entre si; e a clivagem de crenulação, que é uma
superfície planar produzida por microdobramento.

A xistosidade propriamente dita é uma estrutura planar produzida pelo alinhamento


paralelo de minerais tabulares como por exemplo as micas, em rochas que estiveram sujeitas a
acções de recristalização metamórfica muito mais intensas.

Fig. 3.3 - Diferentes tipos de clivagem. (a) clivagem de fractura grosseira: (b) clivagem de fractura;
(c) clivagem xistenta; (d) xistosidade p.d. (Vialon et al., 1976).

Outro tipo de xistosidade (em sentido lato) ocorre quando se forma um bandado
composicional semelhante à estratificação mas de origem metamórfica ou de deformação. O
"layering" ou bandado gnáissico, também chamado, por vezes, gnaissosidade, é um exemplo
deste tipo de estruturas. Pode ter duas origens:
a) ser a estratificação original com transposição, ou ser,
b) o resultado de diferenciação metamórfica, em que uma rocha inicialmente homogénea
se diferencia dando leitos alternantes de composição diferente, controlada pela clivagem.

Analisemos agora com mais detalhe cada um dos tipos mencionados.

Clivagem xistenta

Está melhor representada em rochas de grão fino como por exemplo argilitos que foram
deformados sob condições de metamorfismo de muito baixo grau, produzindo xistos e/ou filitos.
Consequentemente, a natureza das alterações internas na rocha que produziram esta fissilidade
penetrativa (trama paralela) nem sempre é óbvia em afloramento ou em amostras de mão, embora
se reconheça no campo porque produz superfícies de brilho sedoso. Ao microscópio, contudo, a
natureza da clivagem torna-se muito mais clara. Assim, os planos de clivagem são vistos como o

3-3
resultado, em parte, da orientação paralela dos minerais lamelares como a moscovite e minerais
das argilas e em parte ao arranjo paralelo de agregados cristalinos de partículas tabulares e
micáceas ou lenticulares. A origem desta estrutura torna-se mais clara ao examinarmos ardósias
contendo objectos deformados de forma inicial conhecida, tais como fósseis ou manchas de
redução. O plano de clivagem corresponde ao plano de achatamento de tais objectos deformados
o que nos leva a concluir que a orientação paralela dos agregados de grãos e minerais tabulares
se deve a intensa compressão da rocha numa direcção perpendicular ao plano de clivagem.

Esta compressão produz a rotação dos minerais formados anteriormente à deformação


mas controla igualmente o crescimento de novos minerais, provocando o seu alinhamento ao
longo da direcção de clivagem.

A clivagem xistenta parece formar-se apenas quando a rocha apropriada sofreu uma
compressão de cerca de 30% do seu volume inicial.

Clivagem de fractura

Como o nome sugere, a clivagem de fractura é uma partição definida por fracturas
paralelas pouco espaçadas entre si (de ordem centimétrica). A clivagem de fractura distingue-se
normalmente da clivagem xistenta uma vez que é formada por planos discretos separados por
rocha sem clivagem, cuja orientação é independente de qualquer orientação planar preferencial de
contornos de grãos que possa existir na rocha. A porção de rocha limitada por duas fracturas
paralelas toma o nome de microlithon.

Em lâmina delgada é muitas vezes visível movimentação ou deslocação da rocha ao longo


destes planos, provando que eles correspondem a microfalhas. Este tipo de clivagem forma-se sob
condições frágeis, a baixas temperaturas e é típica de rochas deformadas relativamente
competentes, como arenitos, quartzitos e calcários.

A clivagem de fractura pode acompanhar a clivagem xistenta, quer na mesma rocha quer
em camadas adjacentes e, nalguns casos, pode haver deslocamento em planos de clivagem
xistenta previamente formados. Este facto originou no passado certa confusão acerca da origem
da clivagem xistenta.

As fracturas podem originar-se por compressão (fracturas cisalhantes) ou distensão e,


neste caso, são geralmente preenchidas por quartzo ou calcite. Alguns exemplos de clivagem de
fractura são atribuídos a fracturação hidráulica, onde a água sob pressão devido à carga dos
sedimentos acumulados produz fracturas distensivas.

Fig. 3.4 - Clivagem de crenulação afectando uma clivagem xistenta anterior. A, assimétrica; B,
simétrica. A clivagem é paralela aos traços dos planos axiais das crenulações. (Park,
1983).

3-4
Clivagem de crenulação

Este tipo de clivagem é produzido, como o nome sugere, por dobramento a pequena
escala (crenulação) de camadas muito pouco espessas ou laminações no interior da rocha. Se as
superfícies axiais de tais crenulações são pouco espaçadas e paralelas, produzem uma
xistosidade bem marcada (fig. 3.4).
Muitas vezes esta xistosidade é realçada por recristalização selectiva que conduz à
concentração de certos constituintes em leitos. Deste modo, as micas podem concentrar-se nos
flancos longos de crenulações assimétricas ou em ambos os flancos de crenulações simétricas,
como consequência da migração do quartzo ou da calcite para os flancos curtos ou para as
charneiras.

Fig. 3.5 - Sequência de transposição da estratificação S1 numa clivagem S2. (Turner & Weiss,
1963).

A combinação de bandado composicional e orientação paralela dos minerais lamelares


origina as fraquezas planares que vão produzir a forte fissilidade da rocha.
A clivagem de crenulação está comummente associada a deformações tardias das rochas
que possuem já uma clivagem forte ou uma xistosidade resultante de deformações anteriores. Os
primeiros planos de xistosidade formam uma estrutura laminada, muito anisótropa, que deforma
por crenulação.
Rochas não deformadas previamente podem igualmente possuir clivagem de crenulação,
em litologias apropriadas – normalmente argilitos com laminação muito fina. Se as crenulações
são a uma escala suficientemente pequena, em amostras de mão a clivagem resultante fica
indistinguível da clivagem xistenta.

Xistosidade
Com o aumento do grau de metamorfismo as ardósias transformam-se em xistos pelo
aumento das dimensões dos recém formados minerais metamórficos. Nas ardósias, os minerais
lamelares alinhados que produzem a clivagem xistenta são invisíveis a olho nu enquanto nos
xistos, os cristais tabulares individuais de mica, horneblenda, etc., são suficientemente grandes
para serem visíveis em amostra de mão.

3-5
Deste modo, chamamos xistosidade a esta foliação desenvolvida pela orientação paralela
destes minerais tabulares em rochas metamórficas de grão suficientemente grosseiro.

Fig. 3.6 - Diferentes escalas de observação de um domínio com uma xistosidade S1 dobrada por
uma xistosidade S2: (a) à escala do afloramento, S1 transpôs a estratificação e são
visíveis as duas xistosidades. (b) numa ampliação, S2 torna-se a estrutura dominante,
parecendo ser ela a transpor a estratificação. (Turner & Weiss, 1963).

Directamente a partir da clivagem xistenta, pode produzir-se xistosidade apenas pelo


aumento do grão dos minerais metamórficos em consequência de um aumento de temperatura.

A clivagem de crenulação pode igualmente passar a xistosidade como consequência do


mesmo processo. Muitas rochas xistentas mostram uma combinação de alinhamento de minerais
(verdadeira xistosidade) e um arranjo tabular ou lenticular idêntico, mas em maior escala, ao
observado em muitos xistos ardosíferos ou ardósias, produzidos por compressão.

Fig. 3.7 - Estruturas associadas à clivagem. (Vialon et al , 1976).

3-6
3.2 Lineações
Lineação é o conjunto das estruturas lineares produzidas numa rocha como resultado da
deformação.

Há muitos tipos de lineações e um dos problemas que o geólogo pouco experiente


enfrenta com frequência no campo é exactamente a distinção entre lineações significativas ou
importantes e lineações sem grande significado geológico.

Uma vez que quaisquer duas superfícies planares se intersectam por uma linha, quantas
mais superfícies planares existirem no afloramento, potencialmente mais lineações haverá e,
contudo, nem todas exprimem igual importância e significado geológico.

Exemplos de lineações são:


a) "slickensides";
b) estrias;
c) eixos de dobras de crenulação;
d) clastos alongados em conglomerados deformados;
e) linhas de intersecção da estratificação e clivagem em xistos, por exemplo;
f) alinhamento de minerais com hábito alongado, etc.

As lineações podem ser divididas nos seguintes grupos (fig. 3.8):

Fig. 3.8 - Tipos de lineações. A, estrias sobre uma falha; B, estrias numa camada devido a
dobramento flexural (deslizamento flexural); C, L. de crenulação; D, L. de intersecção entre
estratificação e clivagem; E, L. de alongamento de minerais; F, L. de intersecção de
minerais; G, Fabric em parte planar e em parte linear. (Park, 1983).

3-7
1) Lineações que indicam a direcção de movimentos ao longo de uma superfície (estrias e
"slickensides", por exemplo);
2) Eixos de crenulações paralelas ou de dobras de pequena escala;
3) Alongamento dimensional de conjuntos de objectos deformados, tais como clastos,
oóides, megablastos, etc;
4) Orientação paralela de minerais alongados (lineações minerais);
5) Intersecções de conjuntos de planos (lineações de intersecção).

Lineações indicando direcções de movimento

As superfícies de falha que mostram "slickensides" normalmente contêm sulcos ou


estriações que indicam a direcção do movimento relativo dos dois blocos.

Um tipo idêntico de lineação encontra-se frequentemente em superfícies de estratificação


envolvidas em mecanismo de dobramento do tipo flexural, onde sucessivas bancadas se deslocam
umas sobre as outras à medida que a dobra se desenvolve e fica mais apertada.

Estas lineações fazem normalmente ângulos muito abertos com os eixos das dobras –
próximos de 90°.

Qualquer dos dois tipos de lineação referidos estão contidos numa determinada superfície
e não existem no interior da rocha em que foram encontrados. São por isso estruturas não
penetrativas.

Eixos de crenulações paralelas

Rochas finamente laminadas e afectadas por dobramento a pequena escala muito intenso
ou por crenulação, exibem uma estrutura linear bastante desenvolvida produzida pelo paralelismo
das charneiras das dobras que afectam toda a rocha. As rochas xistentas exibem com frequência
dois ou mais conjuntos destas crenulações e ainda clivagens de crenulação, de tal forma que um
plano único de clivagem pode conter dois conjuntos de lineações de crenulação que se
intersectam formando um padrão de interferência a pequena escala.

Fig. 3.9 - Fabrics lineares resultantes de estruturas planares penetrativas. (Turner & Weiss,
1963).

3-8
Intersecções de planos

Um dos tipos de lineação mais comum é o formado pela intersecção de duas famílias de
estruturas planares. Com frequência se encontram lineações de intersecção da estratificação com
a clivagem muito bem desenvolvidas, ou ainda resultantes da intersecção de duas clivagens – por
exemplo, uma clivagem xistenta (mais antiga) intersectada por uma clivagem de crenulação.

Estas lineações de intersecção são muitas vezes paralelas aos eixos das dobras locais e
às lineações de crenulação, desde que pertençam ao mesmo episódio de deformação.

Antes de medir e registar a atitude de uma lineação no campo, deve ter-se grande atenção
à determinação da origem dessa lineação, uma vez que o significado estrutural de diversas
lineações pode ser muito diferente.

Em muitos afloramentos podem observar-se diversas lineações com pouco ou nulo


significado estrutural, lineações causadas, por exemplo, pela intersecção de uma clivagem com
uma superfície de disjunção ou diaclase qualquer, orientada aleatoriamente, ou ainda com a
própria superfície de exposição. Estas lineações devem ser ignoradas.

As lineações de crenulação e as lineações de intersecção, que são como vimos


frequentemente paralelas aos eixos das dobras locais, chamam-se, por isso mesmo, lineações em
"b" (ou seja, paralelas ao eixo cinemático "b") enquanto as lineações paralelas a direcções de
movimento, como por exemplo a lineação de estiramento, se designam por lineações em "a" (ou
seja, paralelas ao eixo cinemático "a"). Importante registar, contudo, que há casos em que a
lineação de estiramento é paralela ao eixo cinemático "b".

Fig. 3.10 - Lineações do plano de clivagem (caso em que X não é paralelo ao eixo "b" das dobras)
(Vialon et al., 1976).

Alongamento dimensional

Um importante tipo de lineação corresponde ao alinhamento paralelo de um conjunto de


objectos existentes no interior da rocha, objectos esses que possuem um alongamento linear
resultante da deformação.

Há uma grande variedade de objectos que podem definir estas lineações por alongamento
linear. Os exemplos mais óbvios são os clastos, os oóides e os esferólitos, embora os grãos
individuais ou os agregados de grãos ou até qualquer tipo de heterogeneidade existente no interior
da rocha, possam adquirir uma forma alongada como resultado da deformação e contribuir para
uma lineação de alongamento linear.

Em rochas fortemente deformadas, estas lineações podem afectar toda a rocha e


corresponder a muitos e variados tipos de estruturas orientadas.

3-9
Estruturas do tipo "rod" e "mullion"

Muitas rochas fortemente deformadas possuem uma estrutura designada por "rod" e cuja
origem não é muito evidente.

Os "rods" podem ser formados pelas charneiras de veios de quartzo crenulados ou podem
representar calhaus extremamente alongados.

Em rochas que estiveram submetidas a deformações muito fortes, existem por vezes
calhaus alongados com um ou dois centímetros de espessura e que podem ter um metro ou mais
de comprimento. Neste caso a verdadeira natureza da lineação pode não ser imediatamente
aparente.

Uma estrutura do tipo "rod" em que a espessura dos elementos seja da ordem das
dezenas de centímetros designa-se por "mullion".

Muitos "mullions" formam-se entre camadas competentes e incompetentes (por exemplo.


arenitos e argilitos) e são devidos, em parte, ao dobramento da superfície de estratificação (como
consequência do alto contraste de viscosidade entre as duas camadas), e em parte a uma
lineação de intersecção estratificação – clivagem.

Nalguns casos, quer as estruturas em "rod" quer os "mullion" podem representar uma
lineação de alongamento linear; no entanto, cada exemplo deve ser cuidadosamente apreciado e
analisado a fim de ser determinada a sua verdadeira natureza.

Lineações minerais

Nas rochas metamórficas deformadas é comum a presença de cristais orientados


paralelamente, desenvolvendo alinhamentos lineares.

Estas lineações são as chamadas lineações minerais sendo, de facto, constituídas por
alinhamentos paralelos de cristais alongados. Este alinhamento paralelo dos cristais pode ser
devido a rotações dos mesmos para a posição mais favorável como resultado da deformação ou
pode, também, resultar de efeitos de recristalização sob pressão, que induzem certas orientações
cristalográficas a ficarem paralelas e suprimem normalmente outras orientações preexistentes.

Os minerais cujo crescimento se faz preferencialmente numa direcção particular, sob


tensão, dizem-se possuidores de anisotropia de crescimento.

As lineações minerais podem ser devidas ao alinhamento de cristais com hábito alongado,
como por exemplo a horneblenda, mas podem também ser devidas ao alinhamento de minerais
com hábito achatado, como por exemplo as micas, desde que estas se disponham de tal modo
que formem uma lineação de intersecção.

Neste último caso, podem estar dispostos aleatoriamente no plano perpendicular à


lineação. Muitas lineações minerais estão associadas a clivagens, particularmente nas situações
em que estas últimas são também em parte formadas por orientação de minerais; ou, como é o
caso mais frequente, por uma combinação de orientações dimensionais e cristalográficas
planares.

Nestes casos, os elementos planares e lineares são ambos aspectos da mesma geometria
tridimensional, relacionada com a forma do elipsóide de deformação respectivo.

É possível conceber uma progressão contínua desde estruturas puramente lineares sem
elementos planares, passando pelas mais variadas estruturas produzidas por combinação de
alongamento e achatamento até se obterem estruturas puramente planares, sem elementos
lineares.

3.3 "Boudinage"
Quando camadas de rochas relativamente competentes são estiradas e alongadas
durante a deformação, separam-se normalmente em blocos ou formam estruturas lenticulares com

3 - 10
a forma de "almofadas", separadas por zonas estreitas a que se dá o nome de "necks". Estas
estruturas designam-se por "boudins"' ou estruturas de "pull-apart", e o processo de alongamento
que as produz designa-se por "boudinage".

Quando a separação é incompleta e a camada exibe um estreitamento ou "necking", a


estrutura designa-se muitas vezes por "pinch-and-swell". Os boudins, caracteristicamente
constituídos por blocos individualizados, podem ser lineares e formar uma lineação de
alongamento ou podem formar uma estrutura em "tablete de chocolate", se ocorreu extensão nas
duas direcções principais de deformação existentes no plano da camada (fig. 3.10).

Foto 1

Foto 2

Foto 3

Fig. 3.11 - Os dois tipos de boudinagem: A, boudinagem linear (simples); B, estrutura em tablete de
chocolate (Park, 1983).

Normalmente os boudins formam-se em camadas relativamente pouco espessas (no


máximo com cerca de um metro de espessura) que são mais competentes e portanto mais
resistentes à deformação que a rocha envolvente, que tende a estirar-se de forma dúctil e a fluir
para os espaços entre os boudins (fig. 3.11).

Muitos boudins, particularmente os de tipo "pull-apart", são separados por veios de quartzo
ou calcite ou, nas rochas metamórficas de alto grau, por material pegmatítico.

Os boudins são bastante importantes como indicadores das direcções de extensão nas
rochas deformadas.

Como veremos mais adiante, podem ocorrer associados a dobramento.

3.4 Fabric
O fabric de um corpo rochoso é o arranjo geométrico de todos os elementos estruturais
existentes no interior do corpo. Pode ser considerado como a "textura" da rocha deformada.

Segundo Ramsay (1983), fabric é a relação geométrica e espacial entre os componentes


cristalinos que formam um corpo rochoso. O fabric pode referir-se a orientações preferenciais da
forma ou dimensão dos grãos e à orientação cristalográfica dos componentes.

Orientações preferenciais de cristais de forma achatada e de forma acicular originam


fabrics planares, lineares ou mistos.

Para o fabric contribuem apenas os elementos estruturais observáveis a escalas


relativamente pequenas (amostra de mão ou ao microscópio) e nunca as estruturas em grande
escala.

3 - 11
Deste modo, o estudo do fabric envolve análise estrutural ao nível da dimensão dos grãos.
Um fabric é constituído por um número de elementos do fabric, sendo cada um deles um
grupo de estruturas geométricas do mesmo tipo. Estes elementos do fabric são, usualmente, ou
planares ou lineares.
Os elementos planares do fabric incluem as expressões, a pequena escala, de clivagens
ou lineações, isto é, orientações cristalográficas ou dimensionais dos grãos ou dos agregados
cristalinos.
Incluem também vários tipos de descontinuidades planares tais como fronteiras de grãos,
planos de geminação e deslocações no interior dos cristais.
Os elementos do fabric produzem normalmente uma orientação planar ou linear mas é
possível ter fabrics aleatórios, que consistem em fabrics cujos elementos não exibem orientação
preferencial. Um fabric composto por objectos dimensionalmente orientados (grãos ou agregados
de grãos) é o chamado "shape fabric" (fabric de forma).
Exactamente do mesmo modo que as clivagens e as lineações, o fabric de uma rocha
expressa a geometria da deformação e reflecte o modo como a rocha se acomodou àquela, quer
através de modificações de forma, quer através de alterações do padrão e orientação da rede
cristalina.

Homogeneidade dos fabrics (fig. 3.12)


O fabric de uma rocha diz-se homogéneo se quaisquer duas amostras, orientadas do
mesmo modo, exibem estrutura idêntica. O termo aplica-se usualmente a um elemento do fabric
em particular, por exemplo uma clivagem.
A escala de observação é importante, uma vez que o elemento do fabric em questão pode
ser homogéneo à escala da amostra de mão mas heterogéneo à escala da lâmina delgada.
Os fabrics heterogéneos podem normalmente ser divididos em domínios homogéneos, de
forma a simplificar a análise.

Fig. 3.12 - Domínios homogéneos (X, Y) num fabric heterogéneo. Os estereogramas mostram os
pólos do fabric planar em toda a dobra e nos domínios X e Y. (Park, 1983).

Elementos do microfabric
Estudos detalhados de como a deformação afecta os grãos, individualmente, levados a
cabo sobretudo com o auxílio do microscópio de electrões, mostraram que a deformação à escala
submicroscópica é muito heterogénea e ocorre fundamentalmente por deslocamentos ao longo de
certas descontinuidades no interior dos grãos ou nas suas fronteiras. (Os processos envolvidos na
produção do microfabric cristalino estão bastante desenvolvidos no livro de Hobbs et al., 1976).

3 - 12
À escala do cristal individual há um certo número de diferentes tipos de descontinuidades.
Para além das fronteiras dos grãos, estas descontinuidades são, fundamentalmente, defeitos
cristalinos cuja natureza é controlada pela estrutura molecular do cristal. Os defeitos planares são
normalmente paralelos a um dos planos cristalográficos desse cristal e permitem a ocorrência de
deslocamento. Estes deslocamentos conduzem o cristal a modificações na sua forma de modo a
acomodar a deformação. Muitos deles mostram defeitos planares, frequentemente de extensão
limitada, ao longo dos quais há deslocamentos infinitesimais da estrutura cristalina. Estes defeitos
são designados por "stacking faults" (falhas empilhadas ou empilhamento de falhas) e são
importantes na propagação das deslocações que podem subsequentemente produzir planos de
deformação mais penetrativos.

As fronteiras sub-granulares ("sub-grain boundaries") são defeitos planares no interior de


grãos e separam regiões da rede molecular de orientação ligeiramente diferente. Tornam-se
visíveis através de pequenas variações no ângulo de extinção. Estas fronteiras são as
responsáveis pelo bem conhecido fenómeno da extinção ondulante no quartzo.

As bandas de deformação são estreitas zonas planares que contêm material que foi
deformado de forma diferente das restantes regiões do cristal, quer por pequena variação na
orientação da rede molecular, quer por modificações mais complicadas.

As lamelas de deformação são um tipo particular das bandas de deformação. Possuem


uma estrutura uniforme mas exibem um índice de refracção diferente do cristal hospedeiro.

Outro tipo de bandas de deformação é produzido pela deformação em maclas (maclas


induzidas por deformação), bastante comum em muitos cristais, especialmente na calcite.

Exprimem-se pela existência de um ligeiro ângulo entre as orientações das redes


moleculares de um e outro lado do plano de geminação. Tudo se passa como se um dos lados
tivesse sofrido uma ligeira rotação homogénea, por efeito da deformação.

BIBLIOGRAFIA

Hobbs, B. E; Means, W. D & Williams, P. F. (1976) – An Outline of Structural Geology. John Wiley &
Sons, New York, 571 p.

Park, R. G. (1983) – Foundations of structural geology. Blackie - Chapman and Hall, London, 135 p.

Turner, F. J. & Weiss, L. E. (1963) – Structural analysis of metamorphic tectonites. McGraw Hill, New
York, 545 p.

Vialon, P.; Ruhland, M. & Grolier, J. (1976) – Éléments de tectonique analytique. Masson, Paris, 118p.

3 - 13
4 - SÍNTESE DA ANÁLISE GEOMÉTRICA A DIFERENTES
ESCALAS DE OBSERVAÇÃO

4.1 Análise geométrica mesoscópica

A esta escala de observação as estruturas que podemos identificar são de 3 tipos:


1) planares, ou superfícies S;
2) lineares;
3) dobras.

A medição das estruturas planares, independentemente da sua natureza, é feita


directamente, quando a estrutura é visível em 3 dimensões ou, indirectamente, quando é observado o
traço da estrutura planar em, pelo menos, duas outras superfícies.

A medição das estruturas lineares pode fazer-se de vários modos, conforme a natureza da
estrutura:
• directamente, a direcção e a inclinação ("plunge" = mergulho);
• se está situada num plano, mede-se, além da atitude do plano, o ângulo da linha com a
horizontal do plano ("pitch");
• se é intersecção de 2 planos, basta ter as atitudes dos 2 planos, obtendo-se a atitude da
linha através da projecção estereográfica.

Por seu lado, as dobras ficam perfeitamente definidas por 2 parâmetros: o seu eixo e o plano
axial.

Uma amostra de mão é referenciada em relação a um sistema de 3 eixos coordenados a, b e


c, que são eixos de trama geométricos ou simetrológicos (fig. 4.1):
1º - Trama dominada por uma estrutura planar S proeminente: nesse caso, S = ab; qualquer
lineação existente em S, em especial se for normal a um eixo de simetria do fabric,
corresponde a b.
2º - Trama com duas ou mais estruturas planares intersectando-se num eixo comum: a
estrutura planar mais proeminente coincide com ab; o eixo comum de intersecção
corresponde a b.
3º - Trama com duas ou mais estruturas planares que não se intersectam num eixo comum: a
estrutura planar mais desenvolvida corresponde a ab; a intersecção desta com a segunda
mais importante coincide com b.
4º - Trama dominada por lineação nítida: a lineação corresponde a b e qualquer direcção
normal a b coincide com a.

Estruturas planares

Podem ser:
a) Superfícies herdadas, de origem pré-tectónica, sendo a estratificação a mais importante.
b) Superfícies de origem tectónica ou metamórfica.
c) Diaclases.

Estratificação

Quando presente num tectonito, é um marcador interno cuja configuração reflecte a natureza
e grau da deformação; é possível reconhecer a estratificação, à escala mesoscópica, pelos seguintes
critérios:
- os níveis litológicos são contínuos e de espessura constante;
- o bandado litológico grosseiro, discordante em relação à foliação mais evidente é,
geralmente, a estratificação;
- a presença de estruturas sedimentares cujas relações individuais estão preservadas.

No entanto, por vezes a estratificação está quase completamente apagada pelas superfícies
de origem tectónica ou metamórfica; neste caso, diz-se que houve "transposição" (fig. 3.5, pág. 3-5).

4-1
Fig. 4.1 - Relação entre os eixos a, b e c e a simetria: (A) e (B) fabrics axiais; (C) fabric ortorrômbico;
(D) fabric monoclínico; (E) fabric triclínico (seg. Turner & Weiss, 1963).

Superfície de origem tectónica ou metamórfica (foliação ou clivagem s.l.)

É definida por:
• bandado litológico;
• orientação planar, preferencial, das formas dos grãos de minerais;
• superfícies de descontinuidade ou fissilidades resultantes de deslizamentos;
• combinação dos diferentes tipos.

Como se viu no Capítulo 3, existem vários tipos de clivagem, com significados estruturais
diferentes.

Estruturas lineares

São estruturas penetrativas à escala do afloramento ou da amostra de mão. Como vimos,


podem ser de diferentes tipos:
• orientação preferencial de domínios alongados constituídos por grãos equidimensionais;
• orientação preferencial de grãos de hábito prismático;
• orientação linear preferencial de grãos planares;
• pequenas corrugações de uma superfície S;
• intersecções de superfícies S (fig. 4.2).

4-2
Fig. 4.2 - Estruturas físicas definindo lineação L. (A) L. por orientação de domínios alongados de grãos
equidimensionais; (B) L. por orientação preferencial de grãos prismáticos; (C) L. por
orientação preferencial de grãos achatados; (D) L. definida por pequenas crenulações sobre
uma superfície S; (L) L. por intersecção de superfícies S (seg. Turner & Weiss, 1963).

Há outras estruturas lineares mais grosseiras e não penetrativas, tais como:


• "mullion" – fragmentos alongados de rocha semelhante à encaixante (ver capítulo 3, págs.
10 e 11);
• “rod” – fragmentos alongados de natureza diferente da rocha encaixante, geralmente
quartzo ou calcite (ver capítulo 3, págs. 10 e 11);
• “boudin” – fragmentos formados a partir da disrupção de leitos competentes (ver capítulo
3, págs. 11 e 12);
• calhaus alongados.

Dobras

São, como foi descrito no Capítulo 2, estruturas curviplanares que, quando geradas a partir de
estruturas planares iniciais, revelam a distorção dum corpo geológico.

Relações entre estruturas mesoscópicas associadas

A – No caso de dobramento monofásico, isto é, produzido numa única fase de deformação,


verificam-se as seguintes relações entre as diferentes estruturas mesoscópicas atrás consideradas:

1º Relação entre a clivagem e a dobra


a) a clivagem pode ser paralela ao plano axial; Foto ?
4-3
b) a clivagem pode ter uma distribuição em leque simétrico em relação ao plano axial;
c) podem existir duas ou mais clivagens conjugadas simétricas em relação ao plano axial.

2º Relação entre a lineação de intersecção e a dobra


A lineação de intersecção é paralela ao eixo das dobras cilíndricas. No caso de dobras não
cilíndricas deixa de existir paralelismo, como nos casos de dobramentos sobrepostos.

B – No caso de dobramentos polifásicos, normalmente estão presentes mais do que uma


superfície de clivagem. Entre duas clivagens de idade diferente determina-se a primitiva, S1, e a
posterior, S2, porque esta corta aquela.

Um caso bastante geral é aquele em que uma clivagem de crenulação corta uma clivagem
xistenta anterior: os minerais filitosos de S1 são deformados ao longo de S2 e, ao mesmo tempo,
gera-se uma lineação L2 de intersecção S1/S2 (L1 é a lineação de intersecção S0/S1). A idade relativa
de duas lineações é dada porque L2 deforma L1.

1º No caso das dobras anté-xistentas (isto é, anteriores à geração da clivagem), a clivagem e


a lineação aparecem sobrepostas em dobras anteriores (fig. 4.3).

Uma dobra de S1 (S0) com eixo e plano axial S2 (S1) é cortada por uma clivagem posterior
S3 (S2): a lineação que marca a intersecção de S3 (S2) com S1 (S0) é uma curva plana.

Fig. 4.3 - (A) Sobreposição de clivagem planar S3 e lineação L2 numa superfície S1 que sofreu
dobramento cilíndrico (eixo B, plano axial S2); (B) Estereograma das relações geométricas
para S3 vertical; (C) idem, com S3 não vertical (seg. Turner & Weiss, 1963).

2º Quando a clivagem e a lineação estão afectadas por dobramento posterior estamos


perante dobras pós-xistentas. A clivagem anterior (S1) é dobrada contendo como plano axial S2; a
lineação L1 é também dobrada, de modo que depende da natureza do dobramento da 2ª fase (ver
Cap. 10, Mecanismos de dobramento).

3º No caso de dobramentos mesoscópicos sobrepostos: Quando dois sistemas de


dobramentos se interferem, podem ser sincrónicos ou metacrónicos. No primeiro caso, há dois eixos
diferentes, um para cada sistema (heteroaxia sincrónica). No segundo caso, os dobramentos

4-4
sobrepostos podem ter eixos comuns (homoaxia metacrónica), ou não (heteroaxia metacrónica), o
que é o caso mais geral.

Vários factores regem a configuração geométrica da superfície dobrada após as duas fases
de dobramento:
a) a natureza cinemática do segundo dobramento;
b) a natureza geométrica do segundo dobramento, em especial se o dobramento é planar ou
não;
c) a orientação relativa dos dois dobramentos.

4.2 Análise geométrica macroscópica

Objectivos e metodologia

O objectivo desta análise é triplo:


a) reconstituição da geometria e cronologia das macroestruturas, especialmente das dobras;
b) estabelecimento da orientação preferencial das estruturas mesoscópicas que são
penetrativas em relação a domínios macroscópicos;
c) definição da homogeneidade e da simetria dos domínios macroscópicos.

As tramas macroscópicas são compostas por dobras macroscópicas penetrativas a certa


escala ou por estruturas mesoscópicas. A trama resultante pode ser ou não homogénea. No caso de
trama heterogénea pode operar-se no sentido de subdividi-la em domínios, com limites determinados,
que apresentem subtrama mais próxima da homogeneidade, pelo menos em relação a certos
elementos da trama.

A trama mesoscópica é sempre obtida a partir de uma característica feita sobre elementos
mesoscópicos, pelo que todos os conceitos de análise são de natureza estatística.

Análise de dobras macroscópicas ou sistemas de dobras

As dobras macroscópicas podem detectar-se a partir da cartografia de unidades litológicas;


inicialmente planares, as dobras tornam-se visíveis no mapa final da estrutura. Mas, se o dobramento
afecta superfícies de espaçamento pequeno, só é reconstituível a partir do tratamento estatístico das
medições efectuadas sobre uma superfície de referência. Numa superfície estatisticamente cilíndrica,
todos os planos tangentes tendem a intersectar-se num eixo comum, designado por β. Em
Cristalografia, as faces que são paralelas a um eixo comum designam-se tautozonais; o eixo da zona
é determinado pela intersecção das faces duas a duas. Do mesmo modo, o eixo de um dobramento é
determinado a partir da intersecção dos planos tangentes à superfície dobrada em pontos sucessivos,
tomados dois a dois. Assim se obtém um diagrama βda superfície dobrada (Ramsay, 1967, p436)
(fig. 4.4).

Fig. 4.4 - Intersecção das superfícies A, B e C definindo o eixo β e correspondente diagrama β


(estereograma) (seg. Ramsay, 1967).

4-5
Como o número de intersecções de n planos tangentes, dois a dois, é [n.(n-1)]/2, o
estereograma fica muito confuso. Uma outra técnica consiste em projectar não os planos tangentes
mas os seus pólos. Se o dobramento é cilíndrico eles devem dispor-se, aproximadamente, ao longo
de um circulo maior – denominado círculo Π –, cujo pólo, π, é coincidente com β, eixo do dobramento
(fig. 4.5).

Ramsay demonstrou que os diagramas π apresentam vantagens de precisão e correcção na


interpretação de dados, em relação aos diagramas β. A superfície axial pode ser determinada pela
circunstância de ela ter que conter o eixo, definido a partir de um diagrama β ou π e o traço axial,
determinado pelo aspecto do dobramento num ponto.

Fig. 4.5 - Relação de perpendicularidade entre a superfície que contem as normais (πA, πB, etc.) à
estratificação e a direcção do eixo φ da dobra, e respectivo diagrama π (Ramsay, 1967).

Se a escala do dobramento for maior do que a escala a que se fazem as observações, é


necessário uma extrapolação entre os símbolos de orientação para traçar as dobras individuais. As
dobras cilíndricas apresentam propriedades geométricas que permitem uma extrapolação: com efeito,
elas tendem a apresentar perfis constantes ao longo dos seus eixos. A configuração da dobra é
visível na carta desde que se elimine a distorção devida à irregularidade da superfície topográfica. A
partir da intersecção do sistema de dobras com a superfície topográfica é possível construir um perfil
transversal, normal ao eixo da dobra, que no caso geral mergulha de x graus. A direcção do eixo é
dada pelo azimute de uma camada vertical. A inclinação axial é definida pelo mergulho de uma
camada cuja direcção é normal à direcção axial; é a menor das inclinações das camadas.

As estruturas cilíndricas são especialmente indicadas para a construção de bloco-diagramas,


que combinam perfis com plantas em projecção ortográfica No caso das dobras não cilíndricas,
existem vários eixos b para o mesmo sistema de dobras. Neste caso há que subdividir o sistema em
domínios cuja subtrama seja, tanto quanto possível, homogénea.

Do mesmo modo se procede quando há dobramentos sobrepostos, que no caso mais geral
possuem eixos de dobramento oblíquos.

Os limites dos domínios são escolhidos por tentativas, guiando-se o geólogo pelo aspecto do
dobramento na carta, que dá uma primeira ideia dos sectores homogéneos do dobramento. Para
cada domínio determina-se o eixo b da superfície dobrada e estuda-se a sua variação em todo o
sector analisado.

Análise macroscópica de lineações

Projectando todas as lineações mesoscópicas e comparando com os eixos β (ou π) das


superfícies dobradas, podem tirar-se conclusões quanto à idade relativa das lineações mesoscópicas
e dos eixos macroscópicos de dobramento.

No caso dos dobramentos cilíndricos, se L e p são coincidentes, a lineação e o dobramento

4-6
devem ser sincrónicos e estar geneticamente relacionados.

No caso dos dobramentos não cilíndricos, segue-se o procedimento geral, já apontado para a
análise dos eixos β (ou π).

Análise macroscópica de dobras mesoscópicas

A regra de Pumpelly diz-nos que os eixos das dobras mesoscópicas são paralelos aos eixos
das dobras macroscópicas, desde que o dobramento seja cilíndrico. A aplicação desta regra é de
grande utilidade no caso, muito frequente, de apenas as dobras mesoscópicas serem imediatamente
evidentes.

Se as dobras mesoscópicas são monoclínicas, o sentido da vergência indica-nos qual a


posição dos fechos das dobras. Conhecido o fecho sabe-se imediatamente qual foi o sentido do
movimento das camadas superiores em relação às inferiores – que é convergente para os anticlinais
e divergente nos sinclinais.

Se há dobramentos sobrepostos, a mesma regra é válida para dobras correspondentes às


diferentes fases do dobramento.

4.3 Síntese dos resultados da análise estrutural geométrica e dos critérios de


polaridade

A polaridade das sequências sedimentares é consequência do dobramento. É, portanto,


natural tentar uma síntese dos resultados obtidos a partir da observação dos critérios de polaridade
com os obtidos a partir da análise estrutural.

Na prática, quando o geólogo aborda uma região de dobras deitadas procura, em primeiro
lugar, ver os lugares onde se observa a polaridade sedimentar. Daí, deduz-se a vergência.
Geralmente a vergência mantém-se ao longo de grandes áreas e, portanto, uma vez determinada
permite deduzir a polaridade mesmo sem critérios sedimentológicos. Como veremos adiante, no caso
de dobramento concêntrico há escorregamento ao longo das camadas, podendo determinar-se a
sequência sedimentar indirectamente. Com efeito, sabendo que as direcções de escorregamento das
bancadas superiores em relação às inferiores convergem para os anticlinais e divergem nos sinclinais
(figs. 4.6 e 4.7), uma vez determinado o sentido de escorregamento pelas estrias de fricção, induzidas
pelo dobramento numa superfície de estratificação, reconstitui-se o binário que gerou o dobramento e
determina-se, portanto, a estrutura (figs. 4.7, 4.8 e 4.9).

Fig. 4.6 - Dobras formadas por flexão e deslizamento entre bancadas. (a) Dobra com deformação dos
flancos; (b) Dobra com deformação concentrada na zona de charneira (Vialon et al., 1976).

4-7
Fig. 4.7 - Reconstituição dos binários de tensões responsáveis pelo dobramento, pela análise das
estrias de fricção (Wilson, 1960).

Existe uma relação entre a orientação das estrias de fricção com o mergulho da dobra (fig.
4.10). Se o dobramento for acompanhado de uma clivagem de plano axial (fig. 4.11), podem deduzir-
se algumas regras para esclarecer a estrutura:

a) a direcção da clivagem, se não foi deformada posteriormente, dá a direcção geral do


sistema de dobras; no caso de dobras ortorrômbicas, a clivagem é vertical e as camadas estão
sempre direitas (fig. 4.11);

Fig. 4.8 - Rotação externa ligada ao movimento das bancadas nos flancos de uma dobra flexural,
associada a clivagem e indicando uma charneira antiforma localizada para a direita (Vialon et
al., 1976).

4-8
Fig. 4.9 - Estruturas associadas ao flanco de um antiforma e que podem ser utilizadas para a
interpretação da vergência. R, rotação externa; r; rotação interna (Vialon et al., 1976).

b) se as dobras estão tombadas, a clivagem mergulha no sentido inverso do tombamento;


num dos flancos a clivagem e a estratificação inclinam no mesmo sentido, inclinando a clivagem mais
fortemente (flanco normal) e, no outro flanco, inclinam em sentidos contrários (flanco inverso) (fig.
2.11a, pág. 2 - 8);

c) se as dobras são invertidas, a regra anterior continua válida: no flanco inverso a


estratificação inclina mais que a clivagem mas no mesmo sentido e no flanco normal a estratificação
inclina menos que a clivagem (fig. 2.11a, pág. 2-8);

Fig. 4.10 - Relação entre a orientação das estrias de fricção (s) e o mergulho do eixo da dobra (φ)
(Wilson, 1960).

4-9
d) se as dobras são isoclinais a estratificação e a clivagem estão confundidas e há que
encontrar charneiras para decifrar a estrutura;
e) se a inclinação axial é nula as regras anteriores são de fácil aplicação;
f) se a inclinação axial é moderada, para aplicar as regras atrás enunciadas é necessário
observar os ângulos que fazem a clivagem e a estratificação segundo o eixo da dobra;
g) se a inclinação axial é muito forte, ou seja, da mesma ordem de grandeza que a inclinação
das camadas, é necessário aplicar as regras anteriores com toda a prudência, porque é de considerar
a possibilidade de existência de dobramentos sobrepostos.

Fig. 4.11 - Clivagem de plano axial em leque, numa dobra afectando camadas alternadamente
competentes (c) e incompetentes (i) (Vialon et al., 1976).

Nas regiões caracterizadas por dobras deitadas ou mantos de carreamento, cujos planos
axiais são horizontais, é impossível decifrar a estrutura apenas com base em critérios estruturais.

Assim, no caso de uma "tête-plongeante" ou anticlinal invertido (fig. 2.11) – falso sinclinal – as
mesoestruturas permitem reconstituir a geometria da estrutura (figs. 4.8 e 4.9), mas não as idades
relativas do fecho e flancos da dobra. Para tal, é necessário conhecer a polaridade sedimentar.

Resumindo:

- se as dobras fecham para cima ("upward facing structures") as regras anteriores são
válidas; a clivagem mergulha em sentido contrário ao da vergência (desde que seja de plano axial);

- se as dobras fecham para baixo ("downward facing structures") são válidas as proposições
inversas; a clivagem foi basculada e mergulha no mesmo sentido da vergência.

No caso de dobramentos sobrepostos, estas regras podem aplicar-se desde que se refiram a
acontecimentos sincrónicos. E, para reconstituir as estruturas mais antigas, é preciso primeiramente
eliminar os efeitos das estruturas mais recentes.

4.4 Análise geométrica microscópica

Na análise microscópica há dois aspectos a considerar que empregam técnicas diferentes e


pretendem objectivos bem distintos, embora complementares.

A) Análise do petrofabric microscópico

4 - 10
O objectivo é a definição do estado de orientação preferencial dos componentes minerais,
especialmente quartzo, micas e carbonatos. Para tal, medem-se as orientações tridimensionais das
direcções reticulares de cada grão, que se projectam em seguida num diagrama, geralmente uma
rede de Schmidt. Tal operação só pode ser realizada numa Platina Universal sobre amostras
orientadas no terreno antes de serem recolhidas.

B) Análise microtextural
Ao microscópio podem observar-se com maior detalhe aspectos do fabric já evidenciados
pela análise mesoscópica ou aspectos que se podem unicamente evidenciar a esta escala (como, por
exemplo, lamelas de deformação, maclas vulcânicas, etc.). A partir do estudo destes elementos
podem evidenciar-se os movimentos que se deram durante a deformação e estabelecer uma relação
entre esta e a sequência de cristalizações que se deram no corpo em estudo. Este tipo de análise é
executado num microscópio sem platina mas sobre secções orientadas seleccionadas.

Relações cristalização / deformação

A cristalização pode preceder uma determinada fase de deformação – diz-se cristalização


ante-tectónica ou ante-cinemática; pode acompanhá-la e, nesse caso, diz-se cristalização sin-
tectónica ou sin-cinemática; ou pode suceder-lhe tratando-se, neste caso, de cristalização pós-
tectónica ou pós-cinemática (fig. 4.12).

Fig. 4.12 - Características de cristais pós-tectónicos: (a) estrutura helicítica; (b) "cross micas"; (c)
estrutura poligonizada (micas); (d) cristal de limites discordantes com a xistosidade; (e)
granada com uma anel idioblástico externo; (f) agregado aleatório multicristalino,
pseudomorfo depois de granadas (Spry, 1969).

Cristalização pré-tectónica:

É denunciada por vários aspectos (fig. 4.13):


1. Extinção ondulante;
2. Lamelas de deformação;
3. Maclas mecânicas;
4. Kinks;
5. Clivagens ou planos de maclas encurvados;
6. Fracturas;
7. Moldagem pela clivagem envolvente;
8. Figuras de pressão;
9. Alteração noutros minerais mais estáveis.

4 - 11
Fig. 4.13 - Características de cristais pré-tectónicos. (a) extinção ondulante e lamelas de deformação,
em quartzo; (b) cristal rodeado e contornado pela xistosidade; (c) solução de pressão em
torno da pirite; (d) Kink; (e) cristal fragmentado; (f) maclas deformadas; (g) orlas de pressão
contornadas pela xistosidade; (h) textura mortar (Spry, 1969).

Fig. 4.14 - Características de cristais sin-tectónicos. (a) textura em bola de neve; (b) cristal que
cresceu durante o achatamento de uma xistosidade anterior; (c) cristal que cresceu durante a
crenulação de uma xistosidade pré existente (Spry, 1969).

Cristalização sin-tectónica: (figs. 4.14 e 4.15)

É evidenciada por estruturas rotacionais, uma vez que o cristal (porfiroblasto) vai crescendo
durante o processo de deformação (a clivagem no interior do porfiroblasto, Si, vai sendo encurvada e
passando gradualmente à clivagem exterior ao porfiroblasto, Se, nos bordos do cristal - assim se
origina a estrutura em bola de neve).

4 - 12
Fig. 4.15 - Granada com textura em bola de neve – crescimento e rotação simultânea do cristal, de
cerca de 95°, no sentido directo. (Spry, 1969).

Cristalização pós-tectónica:

Há uma discordância nítida entre os bordos dos cristais e a xistosidade gerada no corpo
durante a deformação. São típicas, a estrutura helicítica onde o cristal cresce sobre uma clivagem
anterior, transgressivo sobre as dobras eventuais desta clivagem, os cristais transversos e
discordantes, a poligonização e pseudomorfoses por substituição de minerais anteriores (fig.
4.12).

BIBLIOGRAFIA

Ramsay, J. G. (1967) – Folding and fracturing of rocks. Graham Hill, New York, 568 p.

Ribeiro, A. (1981) – Curso de Geologia Estrutural Elementar. AEFCUL, Lisboa, 121p

Spry, A. (1969) – Metamorphic Textures. Pergamon Press, Oxford, 350 p.

Turner, F. J. & Weiss, L. E. (1963) – Structural analysis of metamorphic tectonites. McGraw Hill, New
York, 545 p.

Vialon, P.; Ruhland, M. & Grolier, J. (1976) – Éléments de tectonique analytique. Masson, Paris, 118p.

4 - 13
5 - CORPOS IGNEOS INTRUSIVOS

5.1. 0 significado dos corpos ígneos na geologia estrutural


Embora esteja fora do nosso âimbito realizar uma discussão detalhada e classificação dos
corpos ígneos, há alguns aspectos relevantes do ponto de vista da geologia estrutural que convém
analisar nos corpos ígneos.

Podemos distinguir três aspectos fundamentais que revelam a importância estrutural destes
corpos.

Em primeiro lugar, os corpos ígneos podem conter estruturas, em particular clivagem e/ou
lineações, originadas por deformação, quer durante quer após a intrusão. Em segundo lugar, a forma
e a orientação de muitos corpos ígneos é a consequência imediata da estrutura pré-existente nas
rochas encaixantes destes corpos. Finalmente, um dos aspectos mais importantes diz respeito ao
próprio controle da produção e instalação do magma em níveis mais elevados da crosta. De facto, as
forças no interior da litosfera que originam a deformação das rochas sólidas da crosta controlam
igualmente a geração e a intrusão do magma o que, até certo ponto, determinará a geometria dos
corpos ígneos resultantes.

5.2. Estruturas existentes nos corpos ígneos


Frequentemente é difícil distinguir as estruturas formadas como consequência da
movimentação do magma durante a sua instalação (estruturas ígneas) das estruturas formadas após
a instalação, como consequência da deformação da rocha sólida.

A estrutura ígnea mais comum é a clivagem de fluxo causada pelo alinhamento, durante a
fluência do magma, dos minerais tabulares formados antes da consolidação final do mesmo. Do
mesmo modo se pode produzir uma lineação de fluxo a partir do alinhamento de cristais alongados,
embora seja menos comum. Por vezes, em magmas muito viscosos, como por exemplo os de
composição riolítica, forma-se um bandado de fluxo. Este bandado pode localmente estar afectado
de complicados dobramentos, bastante parecidos aos que se produzem nas rochas sólidas sob
condições de extrema ductilidade. Um outro tipo de bandado, ou laminação, ocorre quando se
verificam fenómenos de "assentamento gravítico" no interior de uma câimara magmática.

Fig. 5.1 - Estrutura geral de uma intrusão ideal.F: falhas ligadas à fluência interna ou ao movimento da
intrusão (Vialon et al., 1976).

Muitos maciços graníticos exibem uma clivagem paralela às suas margens e que diminui de
intensidade para o interior do corpo. Estudos realizados sobre a forma dos xenólitos, por exemplo,
mostram que esta diminuição de intensidade está relacionada com um padrão regular de deformação
atribuído ao "efeito de balão" ("ballooning") dos últimos impulsos intrusivos do magma, quando o
material está já praticamente todo consolidado.

5-1
Contudo, outros exemplos deste fenómeno têm sido atribuídos a deformação no estado
sólido produzida por ascensão diapírica.

Analisaremos estes aspectos mais em detalhe quando falarmos nos mecanismos de


instalação dos corpos ígneos intrusivos.

A melhor forma de distinguir as verdadeiras estruturas ígneas é procurar evidências de


texturas ígneas não deformadas. As rochas ígneas deformadas no estado sólido mostram
preferencialmente um fabric penetrativo no interior de todo o maciço.

5.3. Classificação estrutural dos corpos ígneos Figura


Consideraremos apenas os corpos ígneos intrusivos, uma vez que estes são os que mais
interessam ao geólogo estruturalista. Normalmente, e de uma forma mais ou menos arbitrária,
dividem-se as intrusões em maiores e menores. As intrusões maiores ou plutonitos são corpos
ígneos de grandes dimensões, com formas bastante variadas mas representando muitos quilómetros
cúbicos de rocha ígnea. As intrusões menores são geralmente subtabulares ou em forma de
chaminés e, em qualquer dos casos, pelo menos uma das dimensões é da ordem dos metros e não
dos quilómetros.

Corpos intrusivos subtabulares

São o tipo mais frequente das intrusões menores e constituem os diques e os "sills" (soleiras)
ou filões camada. São corpos com forma tabular, limitados por contactos planares subparalelos e
que diferem entre si unicamente pela atitude.

Os diques, são visivelmente discordantes da estrutura encaixante e tendem a ter uma atitude
subvertical ou próxima da vertical. Os "sills" ou filões camada, são corpos concordantes,
normalmente subparalelos à estratificação das rochas encaixantes, e têm atitudes próximas da
horizontal ou pouco inclinados.

Os diques ou filões verticais ocorrem frequentemente como um conjunto de corpos ígneos


intimamente associados, constituindo o que se chama uma rede filoniana ou um campo filoniano.
Podem ter disposições paralelas, radiais ou qualquer outra.

Os "cone-sheets" são um tipo particular de campo filoniano, pois aqui os filões dispõem-se
em conjuntos de superfícies cónicas inclinadas para um ponto central localizado algures em zonas
mais profundas da crosta.

Este tipo de filões subtabulares intruem quase sempre em fracturas. O padrão de distribuição
destas fracturas e o modo como se relacionam com os campos de tensão locais e regionais têm
normalmente grande interesse para o geólogo estruturalista, e adiante discutiremos este aspecto
com mais pormenor.

Outros corpos de pequenas dimensões

"Plugs" - são corpos em forma de chaminé, com espessuras da ordem dos 100 a 1000
metros, e que normalmente preenchem os canais alimentadores de antigos vulcões. Muitos vulcões
erodidos estão representados em profundidade por corpos deste tipo.

Dá-se o nome de veio a um corpo bastante pequeno (com centímetros ou poucos metros de
extensão) que pode ser quer subtabular quer de forma bastante irregular. Os veios de rocha ígnea
são normalmente apófises ou ramos provenientes de corpos maiores, embora em certas regiões
metamórficas sejam conhecidos complexos de veios graníticos sem qualquer ligação a uma fonte
detectável. Neste caso são atribuidos à mobilização por fusão parcial da rocha encaixante.

Uma classe importante de veios é preenchida por minerais depositados a partir de soluções
aquosas. Estes veios são bastante comuns, em particular os compostos por quartzo e calcite, e são
uma importante fonte de minerais com interesse económico.

Do ponto de vista estrutural, os veios são importantes ao indicarem que as fracturas são
dilatacionais, ou seja, que a rocha encaixante, através das paredes da fractura, se moveu afastando-
se para um e outro lado permitindo deste modo ao material que forma o veio a sua instalação.

5-2
Estes veios dilatacionais podem, deste modo, indicar as direcções de tracção (distensão) na
rocha. Contudo, nem todos os veios são dilatacionais. Quando discutirmos os mecanismos de
falhamento analisaremos com mais pormenor os aspectos da interpretação cinemática e dinâmica
dos veios e fracturas.

Fig. 5.2 - Classificação dos corpos ígneos intrusivos com base na forma e nas relações estruturais
(Park, 1983).

Intrusões maiores

Os plutonitos ou intrusões maiores podem ser concordantes ou discordantes das rochas


suas encaixantes.

Os corpos concordantes que podem, contudo. exibir localmente discordâncias consideráveis.


são os lacólitos e os lopólitos. Os lacólitos criam espaço para si mesmos arqueando os estratos
sobrejacentes à intrusão, de modo a gerar uma forma lenticular. Os lopólitos são menos frequentes.
Acomodam-se arqueando para baixo as camadas subjacentes à intrusão formando uma intrusão
lenticular limitada superiormente por uma superfície subhorizontal. O exemplo deste tipo de estrutura
é o complexo do Bushveld, na África do Sul, um dos maiores maciços ígneos intrusivos do mundo,
com uma área de afloramento superior a 67000 Km2.

Os plutões discordantes podem ter formas bastante irregulares mas são com frequência de
secção horizontal subcircular ou elíptica e possuem paredes muito verticalizadas. A este tipo de
plutões de forma regular chama-se muitas vezes "stocks". A parte sobrejacente a estes corpos
intrusivos é normalmente arqueada e constitui um doma.

5-3
Muitas vezes não é fácil estabelecer a geometria destes corpos em profundidade e, no
passado, considerava-se que muitos corpos se prolongavam indefinidamente para o interior da crosta
até que as prospecções gravíticas e a cartografia mais detalhada mostraram as suas formas
subtabulares ou lacolíticas.

Hoje em dia a maioria dos corpos intrusivos maiores são considerados como diapiros
eruptivos cuja forma aflorante corresponde à porção dilatada acima da zona alimentadora, mais ou
menos estreita e que pode, em muitos casos, ter perdido já o contacto com a camada mãe
alimentadora do magma. Têm a forma, em perfil, de uma gota invertida e podem ter ascendido na
crosta algumas dezenas de quilómetros.

Um tipo particular de plutonitos corresponde aos chamados "ring dykes". Têm uma forma
subcircular a elíptica em secção horizontal e formam anéis, normalmente em torno de um núcleo ou
complexo ígneo central mais profundo. São subtabulares e instalam-se em fracturas cónicas com o
vértice localizado para cima da superfície da crosta. Aparecem quase sempre associados a "cone-
sheets" e a filões radiais. Há variadíssimos exemplos no Cenozóico destes tipos de complexos: a
província ígnea do Noroeste da Escócia, incluindo Ardnamurchen, Mull e Skye, e o Complexo
Eruptivo de Sintra.

As intrusões maiores de maiores dimensões são normalmente designadas por batólitos. São
subcirculares (forma isótropa) ou alongados e podem ter várias centenas de quilómetros de
comprimento. Nos locais onde estão bem estudados verificou-se serem constituidos por muitos
plutões individuais de variadas formas. Os batólitos são tipicamente de composição granítica embora
possam, obviamente, incluir outros tipos de rochas eruptivas. Esta designação, contudo, tende a ser
abandonada.

BIBLIOGRAFIA

Park, R. G. (1983) – Foundations of structural geology. Blackie - Chapman and Hall, London, 135 p.

5-4
PARTE II

Análise Dinâmica e Cinemática:

como se formam as estruturas


6 - TENSÃ0

A deformação de um material é o processo pelo qual se produzem modificações físicas


nesse material em consequência da acção de forças aplicadas.

As forças que actuam nas rochas da crosta terrestre são de dois tipos: forças de massa e
forças de superfície.

As mais importantes são as forças devidas à acção da gravidade (forças de massa) e as


provocadas pelos movimentos relativos de grandes massas rochosas na crosta e no manto,
associadas portanto às placas litosféricas (que são fundamentalmente forças de superfície).

Uma vez que a força da gravidade é proporcional à massa, o peso da coluna de rochas
sobrejacentes constitui uma força bastante significativa para as rochas situadas na crosta a grandes
profundidades.

As forças de massa, medidas em unidade de força por unidade de volume, são forças que
actuam à distância sobre o conjunto do material, sendo proporcionais à massa da substância.

As forças de superfície, medidas em unidade de força por unidade de área, operam ao longo
das superfícies de contacto entre partes adjacentes de um sistema mecânico e dependem pois da
área da superfície considerada, materializada ou não no sistema em questão.

As forças de massa e de superfície estão estreitamente relacionadas porque as forças de


massa originam variações espaciais ou gradientes de forças de superfície.

Se considerarmos um metro cúbico de rocha situado na superfície da Terra, a pressão que


se exerce sobre a face superior do cubo é o produto da pressão atmosférica (0,97 Kg/cm2) pela área
dessa face, isto é, cerca de 9700 Kg ou 11 toneladas força.

Na face inferior, a força exercida é mais elevada, devido ao peso do cubo de rocha. De
F=mg, deduz-se F= ρVg ou F= ρgHA, sendo m e V a massa e volume do cubo, H e A a sua altura e
área da base e ρ a densidade. Tomando como densidade média 2,6 g/cm3, obtém-se um peso de
2,55x10 dines, 266 Kg ou 2,9 toneladas força. A força de superfície total na base do cubo é a soma
do seu peso e do peso da coluna de ar situada acima do cubo, ou seja, 12.300 Kg ou cerca de 14
toneladas (fig. 6.1).

Fig. 6.1 - Afloramento quartzítico (à esquerda) onde foi considerado um metro cúbico de rocha,
limitado por diaclases, (à direita), para ilustrar as forças em acção nas faces superior e inferior
do cubo (Means, 1976).

Portanto, a existência de forças de massa no interior do cubo conduz a um acréscimo para a


profundidade de forças de superfície em planos horizontais. A pressão induzida em profundidade
pela coluna de rocha situada acima dum determinado ponto é a chamada pressão litostática.

6-1
As forças que actuam sobre uma porção de rocha produzem um conjunto de tensões e a
quantidade de deformação produzida por estas tensões exprime-se nas variações de dimensão dos
corpos. Estas variações podem consistir numa modificação da forma. ou de volume, ou de ambos,
forma e volume (fig. 6.2), e constituem o que entendemos por deformação.

Fig. 6.2 - Efeitos de tensões aplicadas: variação da forma e/ou volume do corpo (Park, 1983).

6.1. Força e Tensão


Força é o produto da massa pela sua aceleração. Força é uma quantidade vectorial que
possui intensidade e direcção e pode ser representada por uma linha (vector) cujo comprimento
especifica a intensidade da força e cuja orientação indica a orientação da força. O sentido de
aplicação da força é normalmente representado por uma seta.

Resolução de forças

Uma força F pode ser resolvida em duas componentes F1 e F2, localizadas


perpendicularmente entre si (fig 6.3A). Inversamente, quaisquer duas forças podem ser
representadas pela sua resultante que, vectorialmente, se obtém determinando a diagonal principal
do paralelogramo subtenso pelas forças em questão (fig. 6.3B).

Fig. 6.3 - Resolução de forças. A: força F decomposta em duas componentes, F1 e F2; B: Duas forças,
F1 e F2, representadas pela sua resultante F (Park, 1983).

A extensão deste princípio conduz-nos facilmente à percepção de que qualquer sistema de


forças actuando sobre um ponto pode ser representado por uma única força, a sua resultante.

Definição de tensão

Na deformação das rochas normalmente não se considera a aceleração global do corpo e


tratamos os sistemas de forças como fechados - isto é, considerando que forças opostas se anulam.

6-2
Esta situação é governada pela 3ª Lei do Movimento de Newton que diz que "para um corpo
em repouso ou sofrendo movimento uniforme, a toda a acção se opõem uma reacção de igual
intensidade e sentido de aplicação contrário".

Podemos assim definir tensão como o par de forças de igual intensidade e sentidos opostos
que actuam sobre a unidade de área do corpo.

Portanto, a tensão resulta da acção de forças sobre uma superfície, real ou imaginária, no
exterior ou no interior do corpo rochoso e compreende tanto a força como a reacção do material do
outro lado da superfície.

A magnitude da tensão depende da magnitude da força e da dimensão do elemento de


superfície sobre o qual esta é aplicada. Daqui a relação

Tensão = Força / Área.

Uma força de massa como a gravidade pode provocar tensões medidas calculando os seus
efeitos através de uma superfície. A gravidade contribui bastante para os campos de tensão
associados à formação das falhas e das dobras.

Unidades de medição

A unidade de força padrão no Sistema Internacional é o newton e é igual a:


1N = 1 quilograma metro por segundo quadrado
1N = 1 Kg m s-2.

No mesmo sistema a unidade de pressão e de tensão é o pascal:


1Pa = 1 newton por metro quadrado
1Pa = 1 N m-Z

A unidade mais utilizada, contudo, é o bar ou o Kilobar:


1 bar = l05 pascais = 0.1 Mpa = 105 N/mZ = 1 atm
1 Kbar = 103 bar.

As dimensões da tensão são, pois,


massa . comprimento-1 . tempo-2.

6.2. Tensão normal e tensão cisalhante


A força F actuando sobre a unidade de área de uma superfície pode ser resolvida numa
tensão normal que actua perpendicularmente à superfície e numa tensão cisalhante que actua
paralelamente à superfície.

Fig. 6.4 - Componentes normal e cisalhante de uma força F, a duas (A) e três (B) dimensões. (Park,
1983).

6-3
As tensões normais atribui-se por convenção a letra grega sigma (σ) e às tensões
cisalhantes a letra tau (τ). A três dimensões, τ pode ser resolvida em duas componentes, τ1 e τ2 , a
90° uma da outra. Deste modo, convertemos a força F em três tensões perpendiculares entre si (fig.
6.4).

Convém notar que as tensões não podem ser resolvidas do mesmo modo que as forças; têm
que ser convertidas em forças, multiplicando-as pela área sobre a qual actuam. Isto porque as forças
são vectores (tensor de grau 1) e as tensões são tensores (tensor de grau 2).

Exemplos relacionados com estruturas geológicas

A aplicação de tensões normais e cisalhantes pode ser ilustrada recorrendo a dois exemplos
geológicos simples: as tensões num plano de falha e na superfície de estratificação de camadas
sofrendo dobramento flexural, como consequência da aplicação de esforços compressivos de
sentidos opostos (fig. 6.5).

Fig. 6.5 - A, Tensão normal e tensão cisalhante num plano de falha; B, idem numa superfície de
estratificação sujeita a dobramento flexural (Park, 1983).

Não é difícil verificar que conhecendo a direcção da força é possível prever o sentido de
deslocamento quer no plano de falha, quer na superfície de estratificação e reciprocamente, a partir
dos deslocamentos observados deduzir a direcção das forças actuantes.

6.3. As componentes da tensão

Fig. 6.6 - Componentes da tensão para um cubo infinitamente pequeno actuado por forças
compressivas opostas (Park, 1983).

6-4
No espaço tridimensional, para analisarmos o estado de tensão num ponto, devemos
imaginar o efeito de um sistema de forças sobre um cubo infinitamente pequeno. O sistema de forças
pode ser resolvido numa força única F que actua no centro do cubo. Como o cubo é muito pequeno
podemos considerar que as forças que actuam em cada uma das suas faces são iguais a F. Se
orientarmos o cubo de modo a que as suas arestas fiquem paralelas a eixos ortogonais X, Y e Z, as
componentes da tensão que actuam no cubo são as que podemos visualizar na figura 6.6.

Porque as forças são iguais e se opõem, as tensões que se observam em faces opostas são
idênticas. As nove componentes de tensão são:

⎡ σx τ xy τxz ⎤
⎢τyx σy τyz ⎥
⎢τzx τ zy σz ⎥
⎣ ⎦

Uma vez que a definição de tensão impede qualquer contribuição para uma rotação externa
do cubo, as tensões cisalhantes opostas em torno dos eixos X, Y e Z devem equilibrar-se ou, de
outra forma, o cubo entrará em rotação em torno de qualquer destes eixos.

Assim sendo, τxy = τyx ; τxz = τzx ; τyz = τzy, o que mostra que das nove componentes de
tensão deduzidas apenas seis são independentes: três tensões normais (σx, σy e σz) e três tensões
cisalhantes (τxy, τyz e τzx). Portanto, para qualquer sistema de eixos X, Y, Z ortogonais,
arbitrariamente seleccionado, são necessárias seis componentes independentes para especificar
completamente o estado de tensão num ponto.

6.4. Tensões Principais


Em vez de considerar sistemas de eixos X, Y, Z arbitrários, há vantagens em escolher um
sistema com outros eixos, por exemplo a, b e c ou 1, 2 e 3, de tal modo que as tensões cisalhantes
sejam nulas. Por outras palavras,

τab = τbc = τca = 0.

Os três planos perpendiculares entre si nos quais a tensão cisalhante é nula são os
chamados planos principais de tensão e as tensões normais através de cada um deles
correspondem às tensões principais ou eixos principais de tensão. Para estas tensões principais
utiliza-se a notação σ1, σ2, σ3, onde σ1 ≥ σ2 ≥ σ3, o que significa que σ1 é a tensão principal máxima,
σ2 a tensão principal intermédia e σ3 a tensão principal mínima. Por convenção adopta-se o sentido
compressivo como positivo ou como negativo, conforme os autores.

Fig. 6.7 - Eixos principais de tensão (p/ compressão positiva) (Park, 1983).

Se as tensões compressivas forem positivas, então σ1 representa a compressão máxima e


σ3 a compressão mínima, provavelmente até uma distensão.

6-5
Se, pelo contrário, as tensões distensivas forem positivas, σ1 representará a tracção máxima
e σ3 a tracção mínima, mais frequentemente até uma compressão. Nestes apontamentos
utilizaremos esta última convenção, de acordo com Ramsay (1967), excepto neste capítulo, onde se
torna mais cómodo considerar o sistema de notação contrário.

Um estado de tensão fica completamente especificado conhecendo quer as direcções quer


as dimensões (intensidades) de cada uma das três tensões principais.

6.5. Tensões actuando sobre um plano


Se as tensões principais forem conhecidas, podem ser calculadas as tensões que actuam
em qualquer plano com uma orientação conhecida.

É mais fácil visualizar o problema a duas dimensões (análise da tensão plana).

Fig. 6.8 - Tensões normal e cisalhante num plano inclinado em relação aos eixos principais de tensão
(tensão plana) (Park, 1983).

Consideremos as tensões que actuam num plano AB cuja normal faz um ângulo de θ com
σ1, num campo de tensão bidimensional, com tensões principais σ1 e σ2.

Uma vez que não podemos resolver as tensões σ1 e σ2 temos que convertê-las em forças. A
linha AB representa a unidade de comprimento (correspondendo portanto a uma aresta de um
quadrado com área unitária, visto de perfil). Deste modo, OA = senθ e OB = cosθ .

As forças que actuam ao longo de OA (F1) e OB (F2) (fig. 6.8) são portanto, (σ1.cosθ) e
(σ1.senθ), respectivamente (da relação: força = tensão x área).

Resolvendo estas forças perpendicular e paralelamente ao plano AB, as respectivas tensão


normal σ e tensão cisalhante τ , são as seguintes:

F F
σ = S = 1 = F1 cosθ + F2 senθ = (σ1 cosθ) cosθ + (σ2 senθ) senθ
donde
σ = σ1 cos2θ + σ2 sen2θ (6.1)
e
τ = σ1 sen2θ - σ2 cos2θ (6.2) ou
τ = (σ1 - σ2)(senθ . cosθ) (6.3)

σ resulta pois, da soma de duas componentes: uma é a componente segundo a direcção de


σ1, resultante da acção de σ1 na superfície OB e a outra a resultante da acção de σ2 na superfície
OA.

6-6
Uma vez que
1 1 1
cos 2 θ = (1+ cos2θ) ; sen2 θ = (1− cos2θ) e (sen θ . cos θ) = sen2θ
2 2 2
podemos escrever estas equações

1 1
σ= ( σ1 + σ 2 ) + ( σ 1 - σ 2 ) cos2θ
2 2 (6.4)

1
τ= ( σ 1 - σ 2 ) sen2 θ
2 (6.5)

Esta forma é directamente aplicável à resolução de problemas utilizando o diagrama de


Mohr.

Tensão cisalhante máxima

O valor de τ nesta última equação é máximo quando 2θ = 90° e sen 2θ = 1.

Então os planos de tensão cisalhante máxima fazem um ângulo de 45° com σ1 e σ2,
independentemente dos valores de σ1 e σ2.

Nestas posições:
1
τ = ( σ1 - σ2 )
2 (6.6)

Tensão a três dimensões

A geometria a três dimensões pode ser deduzida da que considerámos, imaginando um


plano de área unitária fazendo ângulos de θ1, θ2 e θ3 com os três eixos de tensão principais, σ1, σ2 e
σ3.

A tensão normal neste plano será

σ = σ1 cos2θ1 + σ2 sen2θ2 + σ3 sen2θ3 (6.7)

e a tensão cisalhante é dada por

τ = (σ1 - σ2)2 cos2θ1 cos2θ2 + (σ2 - σ3)2 cos2θ2 cos2θ3 + (σ3 - σ1)2 cos2θ3 cos2θ1 (6.8)

Para a dedução destas equações é conveniente consultar Ramsay (1967).

Planos de tensão cisalhante máxima

Fig. 6.9 - Planos de tensão cisalhante máxima fazendo ângulos de 45° com os eixos principais de
tensão. Há três conjuntos de planos, intersectando-se segundo σ1, σ2 e σ3 (Park, 1983).

6-7
Desta última equação podem determinar-se três conjuntos de planos de tensão cisalhante
máxima que fazem ângulos de 45° com cada par dos três eixos principais de tensão, σ1, σ2 e σ3,
intersectando-se segundo o terceiro eixo.

Direcções de tensão cisalhante máxima num plano

Se um plano faz um ângulo com os três eixos principais de tensão, a direcção da tensão
cisalhante máxima no plano é dada por

cosθ 2 ⎡ 2 2 σ 3 - σ1 ⎤
tgα = ⎢ cos θ 2 - (1 - cos θ3)
cosθ1 cos θ 2 ⎣ σ2 − σ3 ⎥⎦ (6.9)

onde, assumindo por conveniência que dois dos eixos principais de tensão são horizontais, α é o
ângulo entre a direcção pretendida e a horizontal no plano e θ1, θ2 e θ3 são os ângulos que o plano
faz com σ1, σ2 e σ3, respectivamente (fig. 6.10).

Fig. 6.10 - Tensão cisalhante num plano inclinado segundo ângulos θ1, θ2 e θ3 em relação aos eixos
principais de tensão. A seta mostra a direcção de cisalhamento que faz com a horizontal do
plano um ângulo α (Park. 1983).

6.6. Tensão hidrostática e tensão desviacional

Quando as tensões principais são iguais, o estado de tensão diz-se hidrostático, isto é,
corresponde ao estado de tensão de um fluido. Da equação (6.5) pode verificar-se que a tensão
cisalhante é nula nesta situação. A tensão hidrostática produz variações no volume mas não
variações na forma do material, uma vez que é isótropa.

Num sistema com tensões principais σ1, σ2 e σ3, diferentes entre si, existe uma tensão
média P que representa a componente de tensão hidrostática.

Então
P = (σ1 + σ2 + σ3)/3 (6.10)

A parte restante do sistema de tensões corresponde à componente de tensão desviacional e


consiste em três tensões desviacionais:

(σ1 - P) , (σ2 - P) e (σ3 - P).

6-8
Estas tensões desviacionais medem o afastamento do sistema de tensões do estado de
simetria e controlam a extensão da variação de forma ou distorção do corpo, enquanto que a tensão
hidrostática controla as variações de volume.

As rochas que ficam a grandes profundidades, sujeitas a tensões hidrostáticas provenientes


exclusivamente do peso das rochas sobrejacentes consideram-se sujeitas a tensões litostáticas.

Convém notar que esta tensão ou pressão litostática não corresponde necessariamente à
pressão média P (fig. 6.11).

Fig. 6.11 - Efeitos da tensão hidrostática e da tensão desviacional. A: alteração de volume produzida
por uma tensão P do tipo hidrostático; B: As tensões desviacionais (σ1 - P) e (σ3 - P)
produzem alteração da forma do corpo (Park, 1983).

6.7. Campos de tensão e trajectórias de tensão

Até aqui temos considerado apenas a tensão num ponto mas normalmente as tensões
variam através dos corpos rochosos formando o que é conhecido como um campo de tensão. As
variações nas tensões podem ser representadas pelas trajectórias de tensão que são linhas que
mostram uma variação contínua na orientação das tensões principais desde um ponto até outro, no
interior de um corpo.

Fig. 6.12 - Trajectórias de tensão. O diagrama representa a distribuição teórica das trajectórias de
tensão num bloco de crosta sujeito a uma tensão horizontal σH variável, aplicada lateralmente,
e a uma tensão vertical gravítica uniforme σV. O eixo intermédio de tensão (σ2) é
perpendicular ao plano do esquema. Em cada ponto pode definir-se a posição dos eixos
principais de tensão por interpolação (Park,1983).

6-9
As trajectórias individuais podem ser curvas mas, obviamente, as tensões principais devem
permanecer perpendiculares entre si em qualquer ponto das curvas.

É frequente a utilização de trajectórias de tensão na análise de sistemas e padrões de falhas


e filões, de que apresentaremos alguns exemplos mais adiante.

Combinação de campos de tensão

Com frequência dois ou mais campos de tensão de origens diferentes se sobrepõem de


forma a dar um campo combinado de tensões. Um exemplo é o representado na figura 8.9
(Falhamento). Em cada ponto as tensões podem ser combinadas calculando cada conjunto de
tensões sob a forma de componentes de tensão em relação ao mesmo sistema de eixos ortogonais.
X, Y e Z.

O sistema de tensões combinadas resulta da adição das componentes, isto é:

σx = σx1 + σx2 , τxy = τx1y1 + τx2y2 ,

etc. As novas tensões principais ficam determinadas se calcularmos as posições para as quais τ = 0.

O método para calcular as tensões principais dadas 6 componentes de tensão pode


consultar-se em Ramsay (1967), pp. 31-34.

BIBLIOGRAFIA

Means, W. D. (1976) - Stress and Strain. Basic concepts of continuum mechanics to geologists.
Springer-Verlag, New York, 339 p.

Park, R. G. (1983) - Foundations of structural geology. Blackie - Chapman and Hall, London, 135 p.

Ramsay, J. G. (1967) - Folding and fracturing of rocks. McGraw-Hill, New York, 568 p.

6 - 10
7 - DEFORMAÇÃO

7.1. Natureza da deformação

Como foi já referido, a deformação ("strain") é a expressão geométrica da quantidade de


modificações produzidas pela acção de um sistema de tensões sobre um corpo. Deste modo,
podemos definir deformação como a modificação de tamanho e de forma de um corpo em resultado
da acção de um campo de tensões aplicadas.

A deformação exprime-se como uma dilatação ou variação de volume, como uma distorção
ou variação de forma, ou como uma combinação destes dois processos (Fig. 7.1).

Fig. 7.1 - Natureza da deformação: dilatação, distorção e rotação. (Park, 1983).

Por vezes é conveniente descrever a distorção do corpo em termos de uma variação de


forma (componente irrotacional da deformação) mais uma rotação frequentemente não especificada
(componente rotacional da deformação).

Deformação homogénea e deformação não homogénea

Se a quantidade de deformação é igual em toda a parte de um corpo diz-se que a


deformação é homogénea(1) .

(1) Homogeneidade e Isotropia


(Kittel et al., 1973; Berkeley Physic Course, Mechanics, Vol I, p. 13-14)

Um corpo é homogéneo quando as suas propriedades são invariantes sob translacção - isto é as propriedades não
mudam de ponto para ponto.

A heterogeneidade é, simplesmente, a ausência de homogeneidade: as propriedades não são invariantes sob


translacção.O corpo é isótropo quando as suas propriedades são invariantes sob rotação - isto é, as propriedades não variam
consoante a direcção considerada em torno de um ponto.

Um corpo é anisótropo quando as suas propriedades são variaveis sob rotação.

HOMOGÉNEO HETEROGÉNEO
corpo amorfo

ISÓTROPO cristal do sistema cúbico


(para certas propriedades)
ANISÓTROPO cristal perfeito corpo estratificado

Um corpo pode ser homogéneo e isótropo para certas propriedades, como por exemplo um corpo amorfo
homogéneo ou um cristal cúbico homogéneo e anisótropo como um cristal perfeito; heterogéneo e isótropo à mesma escala é
impossível; heterogéneo e anisótropo como por exemplo um corpo estratificado.
(continua)

7-1
Podem definir-se critérios para a identificação da deformação homogénea:
1º) As linhas rectas permanecem rectas após a deformação;
2º) As linhas paralelas permanecem paralelas após a deformação;
3º) Pontos homólogos no corpo deformado têm os mesmos parâmetros de deformação.

No caso da deformação ser heterogénea (ou não homogénea), a deformação em diferentes


partes do corpo é diferente (Fig. 7.2).

Fig. 7.2 - Deformação homogénea (A) e não homogénea (B) (Park, 1983).

Por oposição ao que foi anteriormente enunciado, os critérios para definir a deformação
heterogénea podiam ser:
1º) Linhas rectas ficam curvas após a deformação;
2º) Linhas paralelas deixam de o ser.

As diferenças entre deformação homogénea e deformação heterogénea podem ser


facilmente ilustradas pelo dobramento de uma bancada (Fig. 7.3). Tomada no seu conjunto, a dobra
exibe deformação heterogénea. Contudo, os flancos rectos da dobra analisados separadamente
exibem deformação homogénea. Este exemplo ilustra um princípio muito útil na análise estrutural,
que considera que "... as deformações heterogéneas mais ou menos complexas são facilmente
analisadas se as dividirmos em domínios de menor dimensão onde a deformação seja
homogénea"(2).

(continuação)

Se o corpo é isótropo em torno de um ponto A e em torno de um outro ponto B, as propriedades em 1 e 2 devem ser
as mesmas por haver isotropia em torno de A e em 2 e 3 também, por haver isotropia em torno de B. Logo, devem ser as
mesmas em 1 e 3 e, portanto, em todos os pontos. Logo, o corpo terá que ser homogéneo. (Weinberg, S. : "Os 3 primeiros
minutos do Universo", 1977).

(2) Deformação heterogénea


(Ver Anexo II: Teoria da Deformação Heterogénea)
Se o sistema de equações de transformação abrange equações não lineares, a deformação descrita pelo sistema é
heterogénea.
Na deformação heterogénea, as elipses de deformação não existem para domínios de dimensões superiores à
escala da heterogeneidade. Mas, considerando um pequeno elemento aproximadamente homogéneo, e se o seu tamanho
tender para zero, pode definir-se o estado de deformação num ponto, através dos parâmetros de deformação (e1, e2, θ). Pode,

7-2
Fig. 7.3 - Domínios de deformação homogénea (H) e não homogénea (I) numa camada dobrada (Park,
1983).

7.2. Medidas da deformação

A deformação pode ser medida por duas vias:


1º) pela variação de comprimento de uma linha;
2º) pela variação do ângulo entre duas linhas.

Qualquer geometria da deformação pode ser considerada como uma combinação destes
dois tipos de variações. Podemos assim definir vários parâmetros de deformação.

Parâmetros de deformação longitudinal

A - Extensão (e)
e = (l1 - l0) / l0 , (7.1)

onde l0 é o comprimento inicial de uma linha e l1 o comprimento da linha depois de


deformada. Quando e é positivo diz-se que há alongamento e se e é negativo diz-se que há
encurtamento.

pois, considerar-se um corpo deformado heterogeneamente como um somatório infinito de pontos que sofreram deformação
homogénea. Se considerarmos as direcções variáveis de e1 e e2, obtemos as trajectórias de deformação finita.

7-3
l0

l1
extenção

B - Elongação quadrática (λ).

Define-se como o quadrado do comprimento de um segmento de recta deformado,


originalmente de comprimento unitário:

2
⎛l ⎞
λ = ⎜ 1 ⎟ = (1 + e)
2

⎝ l0 ⎠

Parâmetro de deformação cisalhante

Durante a deformação dão-se, como vimos, modificações nos valores dos ângulos entre
rectas. Se o ângulo entre duas linhas era inicialmente de 90°, qualquer desvio da perpendicularidade
é definido como o cisalhamento angular ϕ e a deformação cisalhante γ como

γ = tg ϕ

Se o cisalhamento angular for pequeno, então tg = ϕ (em radianos) e γ= ϕ. Se o material


acima da linha (ou do plano) de cisalhamento é deflectido para a direita, γ é positivo; caso contrário,
define-se como sendo negativo.

deformação cisalhante

7.3. Deformação finita a duas dimensões

Para iniciar a análise da deformação bidimensional, ou plana, começamos por definir um


sistema de eixos rectangulares OX e OY. Iremos então verificar o que acontece se mantivermos fixo
o ponto (0,0) e deformarmos o corpo deslocando os restantes pontos de acordo com leis lineares a
definir. Deste modo poderemos definir o estado de deformação.

Analisaremos alguns casos particulares antes de abordarmos o caso geral da deformação


homogénea plana.

Extensão simples paralelamente a um eixo

Um ponto de coordenadas (x,y) é transformado num ponto de coordenadas (x1,y1) tais que

x1 = (1+e)x e y1 = y .

7-4
Ou, dito por outras palavras: o vector de origem O e extremo (x,y) é transformado num vector
de extremos (x1,y1) com a mesma origem, de tal modo que

y
(x , y) (x1 , y1 )

x
0

⎡ x1⎤ ⎡1+ e 0⎤ ⎡ x ⎤
⎢⎣ y1⎥⎦ = ⎢⎣ 0 1⎥⎦ ⎢⎣ y ⎥⎦

Extensão paralelamente a dois eixos


y
(x 1 , y1 )
(x , y)

(x1 , y1 )

x
0
⎧x1 = (ex + 1) x

⎩y1 = (ey + 1) y

⎡ x1⎤ ⎡ex + 1 0 ⎤⎡x ⎤


=
⎢⎣ y1⎥⎦ ⎢⎣ 0 ey + 1⎥⎦ ⎢⎣ y ⎥⎦

A variação de área do estado original para o estado deformado é de


∆ S = (ex+1) (ey+1) - 1

Quando (ex + 1) = 1 / (ey + 1), ∆S = 0, isto é, a área do quadrado inicial é igual à área do
rectângulo final e a deformação diz-se um cisalhamento puro.

Cisalhamento simples

As partículas deslocam-se numa direcção paralela ao eixo dos X de tal modo que a linha que
nos dá a ordenada de cada ponto é cisalhada de um certo ângulo ϕ1.

7-5
y

ϕ
1

⎧x1 = x + y tgϕ1

⎩ y1 = y
⎡ x1⎤ ⎡ 1 tg ϕ 1⎤ ⎡ x⎤
⎢⎣ y1⎥⎦ = ⎢⎣0 1 ⎥⎦ ⎢⎣ y⎥⎦
Não se dá alteração de área.

Sobreposição de cisalhamentos simples

Se o corpo deformado pelo cisalhamento definido no exemplo anterior for sujeito a outro
cisalhamento, agora paralelo ao eixo dos Y, de tal modo que as linhas paralelas ao eixo dos X são
deflectidas de um ângulo ϕ2, teremos que
(x 1 , y1 )
(x 2 , y2 )
y ϕ
2
ϕ
1

⎡ x2 ⎤ ⎡ 1 0 ⎤⎡x1⎤ ⎡ 1 0 ⎤ ⎡1 tg ϕ1⎤ ⎡x⎤


⎢ ⎥=⎢ ⎥⎢ ⎥ = ⎢ ⎥ =
⎣y 2 ⎦ ⎣tg ϕ2 1 ⎦⎣y1⎦ ⎣ tg ϕ2 1⎦ ⎢⎣0 1 ⎥⎦ ⎢⎣y⎥⎦
⎡ 1 tg ϕ1 ⎤⎡ x⎤
=⎢ ⎥⎢ ⎥
⎣tg ϕ2 1+ tg ϕ1tg ϕ2 ⎦⎣ y⎦
Isto é,
⎧ x2 = x + y tgϕ1

⎩ y2 = x tgϕ 2 + y (1 + tgϕ1tgϕ 2 )

Como a aplicação dos dois cisalhamentos é susceptível de ser descrita pela multiplicação
das respectivas matrizes de transformação, é de esperar que aquela, tal como esta, não seja
comutativa.
De facto, e como exemplo, verifica-se que cisalhando primeiro de ϕ2 ao longo de Y e depois
de ϕ1 ao longo de X se obtem um resultado (corpo deformado) diferente do obtido anteriormente.
⎡ x2 ⎤ ⎡1 tg ϕ1 ⎤⎡ 1 0 ⎤ ⎡x ⎤ ⎡1+ tg ϕ1tg ϕ 2 tg ϕ1⎤ ⎡x ⎤
⎢⎣y ⎥⎦ = ⎢⎣0 ⎥ ⎢ =
1 ⎦⎣ tg ϕ2 1⎥⎦ ⎢⎣y ⎥⎦ ⎢⎣ tg ϕ 2 1 ⎥⎦ ⎢⎣y ⎥⎦
2
isto é,
⎧ x2 = x (1 + tgϕ1tgϕ 2 ) + y tgϕ1

⎩ y 2 = x tgϕ 2 + y

7-6
Fig. 7.4 - Cisalhamento puro e cisalhamento simples. No c. puro (A) a deformação é irrotacional; no c.
simples (B) as posições dos eixos X e Z rodam durante a deformação progressiva (deformação
rotacional) (Park, 1983).

Rotação simples de um ângulo

Embora a rotação simples de um objecto bidimensional não seja uma deformação (em
sentido estrito), ela é frequentemente uma componente de transformações gerais do plano; para
além disso, a semelhança estrutural das leis de transformação, com os exemplos anteriormente
apresentados, leva-nos a incluir aqui o estudo desta transformação.
y (x 1 , y1 )

(x , y)

α
x
Uma rotação, porém, exige que se especifique não só o ângulo de rotação (α) mas também
o sentido de rotação. Vejamos as equações de transformação para uma rotação de ângulo α no
sentido directo (contrário ao dos ponteiros do relógio):
⎧ x1 = x cosα - y senα

⎩ y1 = x senα + y cosα
isto é,
⎡ x1⎤ ⎡cosα −senα ⎤⎡x ⎤
⎢⎣y ⎥⎦ = ⎢⎣senα cos α ⎥⎦⎢⎣y ⎥⎦
1

Transformação Geral

Em todos os casos particulares até aqui examinados, a deformação corresponde a alguma


transformação linear de coordenadas dos pontos do corpo não deformado. A deformação plana mais
geral corresponde a uma deformação homogénea e é da forma

⎧ x1 = ax + by

⎩ y1 = cx + dy com a>0 e d>0

7-7
Como facilmente se observa, o sistema de equações anterior permite-nos obter as
coordenadas de um ponto no estado deformado, a partir das suas coordenadas no estado não
deformado.
Na mesma figura, verifica-se que o rectângulo original, formado juntando-se os quatro pontos
de coordenadas (0,0), (x,0), (0,y) e (x,y), é deformado no paralelogramo (0,0), (ax,cx), (ax+by, cx+dy)
e (by,dy). O significado físico de cada uma destas constantes é o seguinte: a e d são componentes
de deformação longitudinal paralelas aos eixos X e Y, respectivamente, enquanto que b e c são
componentes de cisalhamento que reflectem os deslocamentos angulares dos lados do rectângulo,
originalmente perpendiculares. Por outro lado, é fácil verificar que b = d tgα e que c = a tgβ .

A forma matricial da deformação geral homogénea é dada por:


⎡ x1⎤ ⎡a b ⎤⎡ x⎤
⎢⎣y ⎥⎦ = ⎢⎣c d ⎥⎦⎢⎣y ⎥⎦
1

A transformação homogénea atrás descrita é reversível e, portanto, podem obter-se as


coordenadas iniciais a partir das coordenadas dos pontos na figura deformada.

Resolvendo o sistema anterior em relação a X1 e a Y1, obtem-se:


cx1 - by1 -cx1 + ay1
x = y =
ad - bc e ad - bc

sendo ∆= ad - bc o determinante da matriz

⎡a b ⎤
⎢⎣c d⎥⎦

Vamos agora estudar o efeito da deformação da linha recta cuja equação é


y = mx + k

Substituindo y e x pelas expressões que dão os seus valores em função de x1 e y1 obtem-se


a equação

c + dm ad - bc
y1 = x1 + k
a + bm a + bm

que, por ser da forma


y1 = Mx1 + k1

é também uma linha recta. Verifica-se pois que a transformação atrás definida obedece ao critério da
deformação homogénea: uma recta permanece recta após a deformação.

7-8
Elipse de deformação finita e elipse recíproca da deformação

Vamos agora estudar o efeito da deformação homogénea num círculo de equação x2 + y2 =


1 , ou circulo de raio unitário.
Aplicando o sistema de equações que dá as coordenadas de (x,y) em função de (x1,y1)
obtem-se:

(c2 + d2)x12 - 2(ac + bd)x1y1 + (a2 + b2)y12 = (ad -bc)2


Esta equação é a de uma elipse, a elipse de deformação, cujos eixos maior e menor
representam as posições da deformação longitudinal máxima e mínima, com comprimentos
1 + e1 = λ1 e 1 + e2 = λ 2

Se a equação geral for aplicada à equação de uma elipse centrada na origem, (lx2 - 2mxy +
ny2 = 1) esta elipse é transformada noutra elipse:
px12 - 2qx1y1 + ry12 = 1
donde,
p = (ld2 + 2mcd + nc2) / (ad - bc)2
q = [-m(ad + bc) + lbd + nac] / (ad - bc)2
r = (lb2 + 2mab + na2) / (ad - bc)2
Isto prova que os efeitos geométricos de várias deformações homogéneas finitas, a duas
dimensões,podem ser sempre descritos por uma única elipse de deformação.
Há uma elipse que é transformada no circulo de raio unitário x12 + y12 = 1 ,cuja equa-
ção é:
(a2 + c2)x2+ 2(ab + cd)xy + (b2 + d2)y2 = 1
Esta é a elipse de deformação recíproca. Isto demonstra-se muito simplesmente aplicando
ao circulo de raio unitário a transformação homogénea no caso geral.

Eixos principais de deformação e elipse de deformação finita

Em geral a deformação conduz a uma modificação do ângulo que fazem duas linhas que
antes da deformação eram perpendiculares.
Há, contudo, duas linhas que são perpendiculares antes da deformação, e continuam a sê-lo
depois.
Se considerarmos uma linha através da origem do sistema de eixos, de equação y = mx a
sua perpendicular que passa pela origem será de equação y = nx, sendo:

0 -1 -1
n = - tg(90° - α) = =
90°- α tgα m

m = tgα

Portanto, a equação da perpendicular será y = -x/m e, depois da deformação,

7-9
terá uma inclinação M.

Dado que
y1 = Mx1
e
1
c + d(- )
c + dn m
M = = 1
a + bn a + b(- )
m
obtem-se para M:

mc - d
ma - b

Se as duas linhas perpendiculares com inclinação de m e -1/m devem permanecer


perpendiculares, o produto das suas inclinações depois da deformação deve ser igual a -1 ( ou seja,
m.n = -1):
md + c mc - d a2 - b2 + c2 - d2
( ).( ) = -1 m2 + m - 1= 0
mb + a ma - b ab + cd

Desde que ab+cd seja diferente de zero, as raízes desta equação são sempre reais e,
portanto, há sempre duas linhas inicialmente perpendiculares que continuam perpendiculares depois
da deformação. As orientações originais das linhas de inclinação m e -1/m são definidas como os
eixos principais da deformação. No estado deformado estes coincidem com os eixos de elongação
máxima e mínima, isto é, com os eixos da elipse de deformação finita. No caso geral, a orientação
geral destas linhas perpendiculares não coincide com a sua posição depois da deformação e a
deformação é, pois, designada de deformação rotacional. Em casos especiais pode haver
coincidência e a deformação designa-se irrotacional.

A condição para uma deformação ser irrotacional é que as inclinações antes e depois da
deformação sejam as mesmas. Portanto,

md + c mc - d 1
( ) = m ( ) = -
mb + a e ma - b m

Se estas condições se verificam simultâneamente obtem-se a condição necessária para uma


deformação irrotacional: b=c.

Descrição lagrangiana e euleriana da deformação (consultar Anexo I)

y y
elipse de
deformação

x x
0 0

DESCRIÇÃO LAGRANGIANA

7 - 10
y y
1
elipse recíproca
de deformação

x x1
0 0

DESCRIÇÃO EULERIANA

A deformação pode ser descrita de duas maneiras (Mase, 1970):

A - Descrição lagrangiana

Os aspectos do corpo deformado são descritos em relação a uma rede original traçada no
corpo não deformado. A elipse de deformação é, pois, um conceito lagrangiano;

B - Descrição euleriana

Os aspectos da deformação são descritos em relação a uma rede ortogonal desenhada no


corpo deformado. A elipse recíproca da deformação é, pois, um conceito euleriano.

No caso geral, o geólogo dispõe unicamente de material deformado para investigação.

A descrição euleriana constitui o referencial mais adequado para descrever os aspectos da


deformação, uma vez que se pretende remover os efeitos dos processos que conduziram à
deformação, reconstituindo o estado inicial.

As descrições lagrangianas são mais úteis na discussão dos efeitos daqueles processos e
da história da deformação, quando se passa do corpo não deformado ao deformado.

Mudanças no comprimento das linhas

Depois de uma determinada deformação finita, o comprimento das linhas é alterado, como
vimos; no caso geral do valor (1+e) ou (λ1/2).

Se θ for o ângulo que faz qualquer linha OP com o eixo OX antes da deformação, e θ' o
ângulo depois da deformação, então:
λ = (1 + e)2 = x12 + y12
Mas,
⎧ x1 = x(1 + e1) = cosθ λ1

⎩ y1 = y(1 + e2 ) = senθ λ2

Então:
λ = λ1cos2θ + λ2sen2θ

Esta equação dá a elongação quadrática de linhas em relação ao ângulo θ que estas linhas
fazem com o eixo OX no estado não deformado (especificação ou descrição lagrangiana).

7 - 11
Fig. 7.5 - Elipse de deformação finita (Ramsay, 1967).

Para se obter o comprimento das linhas em função de θ' verifique-se que:

x1 = cosθ (1 + e1) = cosθ' (1 + e)


donde
cos θ' (1 + e)
cos θ =
1 + e1
e
y1 = senθ (1 + e2) = senθ' (1 + e)
assim:
senθ' (1 + e)
senθ =
1 + e2

Pondo estes valores em cos2θ + sen2θ = 1 ,


cos 2θ' (1 + e)2 sen2 θ' (1 + e)2
+ = 1
(1 + e1)2 (1 + e 2 )2
ou
cos 2θ' sen2 θ' 1
2
+ 2
=
(1 + e1) (1 + e2 ) (1 + e)2
mas
1 1 1 1
= = λ' 2
= λ'1 = λ'2
(1 + e)2 λ ; (1 + e1) e (1 + e2 )2

donde
λ' = λ1' cos2θ' + λ2'sen2θ' .

Esta equação define pois o valor recíproco da extensão quadrática, λ',em função dos
ângulos que determinada linha faz com o eixo OX no estado deformado (especificação ou descrição
euleriana).

Linhas de não alongamento finito

Depois de uma deformação finita, se λ1>1>λ2, há linhas em certas direcções que sofreram
extensão enquanto outras, noutras direcções, foram encurtadas; mas há sempre duas linhas da
elipse de deformação que não sofreram alongamento finito, isto é, linhas que têm o mesmo
comprimento que no estado não deformado (λ = 1). A posição destas linhas pode ser encontrada em
pontos em que o círculo x2 + y2 = 1 corta a elipse x2/λ1 + y2/λ2 = 1, ou, mais simplesmente,
obrigando a que λ seja igual a 1, na equação
λ = λ1 cos2θ + λ2sen2θ

7 - 12
e recordando que sen2θ + cos2θ = 1

obtem-se
1 - λ2 λ1 -1
cos 2 θ = sen2θ =
λ1 - λ 2 e λ1 - λ 2

ou seja,
λ 1 -1
tg 2θ =
1 - λ2
Do mesmo modo, pode calcular-se a posição das linhas de não alongamento finito em
relação aos ângulos medidos no estado deformado:
λ' -1 1 - λ'1
cos 2 θ' = ' 2 ' sen2θ' = '
λ 2 - λ1 λ 2 - λ'1

Ou seja,
1 - λ'1
tg 2θ' =
λ' 2 - λ'1

Se λ1>λ2>1 ou 1>λ1>λ2 , não há soluções reais para estas equações, porque as linhas da
elipse de deformação são todas ou maiores ou menores que os seus comprimentos iniciais.

Mudanças angulares

Da Fig. 7.5 deduz-se que


y senθ (1 + e 2 ) (1 + e2 )
tgθ' = 1 = = tgθ (Equação de Wettstein)
x1 cosθ (1 + e1) (1 + e1)

Esta fórmula que dá o ângulo depois da deformação, se o ângulo antes da deformação e a


forma da elipse de deformação são conhecidos, depende unicamente da razão entre o comprimento
dos eixos principais da elipse, ou relação axial. ê independente dos valores absolutos desses eixos e
portanto da mudança de área.

Deformação cisalhante

Partamos de 2 rectas originalmente perpendiculares, de coeficientes angulares m e -1/m.

Depois da deformação são transformadas em 2 rectas com coeficientes angulares


λ2 1 λ2
m e −( )
λ1 m λ1
λ2
y y y1 = - 1 x1
m λ1

y=- 1 x
m ϕ
λ2
y = mx y1 = m x
1
λ1

θ θ'
x x
NÃO DEFORMADO DEFORMADO

7 - 13
⎧ y = mx ⎧ λ2
⎪ y1 = m x
⎪ ⎪⎪ λ1 1

⎨ y = tgθ x ⎨
⎪ ⎪
⎪y = - 1 x ⎪ y = − 1 λ2 x
⎩ m ⎪⎩ 1 m λ1 1

Duas rectas de coeficientes angulares C e C' fazem entre si o ângulo α dado por:

C - C'
tg α =
1 + CC'

Então,

m2 + 1 λ1 λ2 tg2θ + 1 λ1 λ 2 1
tg(90° - ϕ) = = =
m λ1 - λ 2 tg θ λ1 - λ 2 tgϕ

donde,

λ1 - λ 2
γ = tg ϕ = cosθ senθ
λ1 λ 2

(Demonstração de A. Possolo, mais curta e elegante que a de Ramsay).

Esta fórmula da deformação cisalhante em função do ângulo medido no estado não


deformado em descrição lagrangiana, é equivalente a

λ1 λ
γ = + 2 - 2 cosθ senθ
λ2 λ1
(7.2)
donde se conclui que é dependente unicamente da relação axial da elipse de deformação.

Substituindo, para os ângulos medidos no estado deformado:

λ1 - λ 2 λ cos θ' λ senθ'


γ =
λ1 λ 2 λ1 λ2
ou,

γ ⎛ 1 1⎞
= ⎜ - senθ ' cosθ'
λ ⎝ λ2 λ1 ⎟⎠

Pode definir-se um novo parâmetro

γ
γ' =
λ

unicamente para simplificar a equação. Como propriedade importante assinale-se que tem o mesmo
valor mas sinal oposto para duas direcções perpendiculares no estado deformado.

Usando γ' e as extensões quadráticas recíprocas:

1 1
λ 1' = e λ2 ' =
λ1 λ2

obtem-se a fórmula para a deformação cisalhante referida ao estado deformado em descrição


euleriana:
γ' = (λ2' - λ1').senθ'.cosθ'

7 - 14
Deformação cisalhante máxima

Diferenciando a equação que dá o valor de γ em relação a θ:


∂γ λ - λ2
= 1 cos2θ
∂θ λ1 λ2
em que os valores máximos ocorrem para:
∂γ
= 0
∂θ
Ou seja: cos2θ = 0 ou θ = 45° e θ = 135°
Mas como
λ2
tg θ' = tgθ
λ1
obtem-se para posição das linhas de deformação cisalhante máxima:
λ2
tg θ' =
λ1

As linhas que faziam inicialmente um ângulo de 45° com a posição final dos eixos da elipse
de deformação, e que fazem um ângulo cuja tangente é √λ2 / λ1 depois da deformação, mostram
deformação cisalhante máxima, cujo valor é
λ - λ2
γ = ± 1
2 λ1 λ 2
fazendo θ = 45° ou θ = 135° na equação que dá o valor de γ.

7.4 - Deformação a três dimensões


A deformação de um corpo pode ser determinada a 3 dimensões, em referência a um
sistema de eixos coordenados, mutuamente perpendiculares, X, Y e Z. X é paralelo à direcção de
máximo alongamento, Y é paralelo à direcção de alongamento intermédio enquanto Z representa a
direcção do menor alongamento.

Deste modo, enquanto a deformação plana se exprime por uma elipse de deformação finita
com eixos 1 + ex e 1 + ey, a deformação a 3 dimensões pode exprimir-se pelo elipsóide de
deformação finita com eixos principais X = 1+ex, Y = 1+ey e Z = 1+ez (λ1, λ2 e λ3, respectivamente),
obtido a partir da deformação de uma esfera com raio unitário.

Fig. 7.6 - Elipsóide de deformação finita (Park, 1983)

A análise matemática das propriedades da deformação finita a três dimensões fica fora do
âmbito de uma cadeira elementar pelo que a ela não se fará mais referências.

7 - 15
7.5 - Tipos particulares de deformação homogénea
É conveniente reconhecer três casos especiais de deformação homogénea, que podem ser
identificados por relações axiais particulares entre os eixos X, Y e Z. No caso geral, os três eixos do
elipsóide de deformação são diferentes entre si e X>Y>Z. Os casos particulares a que nos referimos
são: (Fig. 7.7)

Fig. 7.7 - Tipos particulares de deformação homogénea: (A) extensão axialmente simétrica; (B)
encurtamento axialmente simétrico; (C) deformação plana (Park, 1983).

7 - 16
1) Extensão axial simétrica (X>Y=Z)

Este tipo de deformação envolve extensão uniforme na direcção de X e igual encurtamento


em todas as direcções localizadas no plano perpendicular a X. A este tipo de elipsóide chamamos
prolato ou em charuto.

2) Encurtamento axial simétrico (X=Y>Z)

Este tipo de deformação envolve encurtamento uniforme na direcção de Z e igual extensão


em todas as direcões perpendiculares a Z. Corresponde a um elipsóide do tipo oblato ou em bolacha.

3) Deformação plana (X>Y=1>Z)

Este tipo de deformação distingue-se facilmente pois o eixo intermédio de deformação não
sofre modificação durante a deformação, continuando portanto com o comprimento unitário. Ao longo
de X há extensão e ao longo de Z há encurtamento. A deformação plana é assim um caso particular
de um elipsóide triaxial.

7.6 - Variação de volume durante a deformação

Durante a deformação é frequente as modificações de forma dos corpos geológicos serem


acompanhadas por uma variação de volume. Na maioria das vezes essa variação de volume traduz-
se por uma contracção (variação negativa) mas existem igualmente situações em que ocorre
dilatação (variação positiva). O não reconhecimento destas variações de volume tem implicações
importantes na estimativa das razões das deformações principais que nesse caso indicarão valores
errados.
A variação de volume, também chamada dilatação, representa-se por ∆ (delta) e é dada por
∆ = (V-V0) / V0
onde V e V0 são, respectivamente, os volumes do corpo deformado e não deformado.

Uma vez que o volume do elipsóide de deformação derivado de uma esfera de raio unitário é
4/3 π (X.Y.Z),
e o volume dessa esfera será 4/3π, ∆ é dado por ∆ = (X.Y.Z) - 1 ou,
1 + ∆ = (1+ex) (1+ey) (1+ez) ou, ainda,
∆ = (λ1 . λ2. λ3)1/2

7.7 - Representação gráfica da deformação homogénea

A forma mais conveniente de representar os vários estados de deformação consiste na


utilização do Diagrama de Flinn. Neste diagrama, uma vez que se pretende reproduzir uma realidade
tridimensional num gráfico bidimensional, as ordenadas e abcissas do diagrama correspondem a
razões entre as deformações principais ou, por outras palavras, razões entre o comprimento dos
eixos principais de deformação. Assim se definem as razões a e b, respectivamente ordenada e
abcissa do diagrama de Flinn:

X (1 + ex ) Y (1 + ey )
a = = e b = =
Y (1 + ey ) Z (1 + ez )
e

Para distinguir as formas dos diferentes elipsóides e, consequentemente, avaliar as


deformações geológicas que lhes correspondem, utiliza-se um parâmetro k que se define como
(a - 1)
k =
(b - 1)

Os vários estados de deformação podem então ser descritos como se segue (Fig. 7.8):

7 - 17
Fig. 7.8 - Diagrama de Flinn (A). (B), idem, considerando que houve variação de volume durante a
deformação; a linha a = b(1+∆) separa o campo da constrição do campo do achatamento e,
neste caso, não passa pela origem; neste exemplo considerou-se uma redução de volume de
20% (Park, 1983).

I) Extensão axial simétrica

Corresponde a K = ∞, ou seja, a uma situação em que (b-1) = 0, donde b = 1.

Se b = 1 então os valores das deformações principais correspondentes aos eixos intermédio


e menor do elipsóide são iguais. Neste caso existe extensão ao longo de uma direcção e
compressão nas outras duas (no plano perpendicular à direcção de alongamento) com valores
iguais. É a situação associada a um diapiro, por exemplo, como veremos adiante. Produzem-se
dobras em várias direcções, algumas com eixos curvos sendo o estiramento muito bem marcado, ao
longo da direcção de X (eixo maior do elipsóide de deformação finita).

II) Deformação constritiva (elipsóides prolatos)

Têm k incluido entre 1 e ∞ (1<k<∞) e indicam o mesmo que a situação anterior,


simplesmente os valores da compressão são agora desiguais no plano perpendicular à direcção do
estiramento (X).

III) Deformação plana (a volume constante)

Tem k = 1 o que significa que (1+ey) (eixo intermédio) é igual a 1 e, portanto, não há
deformação ao longo desta direcção. Reduz-se então ao caso da deformação a duas dimensões
(Fig. 7.9 e 7.10). A volume constante, todas as deformações por cisalhamento simples se
representam sobre esta linha. Podem produzir-se dobras com extensão sub-perpendicular aos eixos.
Em algumas secções especiais só se desenvolvem dobras (λ1=1) ou boudinagem (λ2=1), que
contêm o eixo principal intermédio do elipsóide de deformação (Y).

7 - 18
Fig. 7.9 - Classificação das formas de elipses de deformação finita, projectando os comprimentos dos
seus semi-eixos maior (abcissa) e menor (ordenada). Definem-se três domínios fundamentais.
Estão representadas as linhas de igual variação de área (∆A) (Ramsay & Huber, 1983).

IV) Deformação por achatamento (elipsóides oblatos)

Em que 1>k>0. Isto indica que segundo a direcção de Z, (um dos eixos principais) há
encurtamento e que nas direcções perpendiculares a este existe extensão. Neste caso a extensão ao
longo do eixo intermédio é menor que a extensão ao longo do eixo maior do elipsóide e corresponde
a uma situação em que se comprime o material ao longo de uma única direcção, produzindo
alongamento em todas as direcções do plano perpendicular à compressão. Esta deformação está
associada a dobras com produção de xistosidade paralela ao plano que contem X e Y e onde se
observa também lineação de estiramento ao longo de X. Em leitos competentes, localizados
perpendicularmente à compressão (paralela ao eixo Z) podem desenvolver-se estruturas em tablete
de chocolate (boudinagem segundo duas direcções sub-perpendiculares È X e Y).

Alternativamente podem gerar-se dobras ptigmáticas se o leito competente, interestratificado


em leitos incompetentes, estiver no plano da compressão ou encurtamento. Perpendicularmente aos
eixos das dobras (segundo X) pode, simultaneamente, ocorrer boudinagem.

V) Achatamento axial simétrico

Tem k = 0 e corresponde à situação anterior mas com alongamento igual em todas as


direcções do plano perpendicular à compressão.

Por este processo (Diagrama de Flinn, 1962), a forma de um elipsóide de deformação finita
pode ser descrita usando apenas o valor do parâmetro k, sendo as deformações do tipo constritivo
ou achatamento imediatamente identificáveis se k for maior que 1 ou menor que 1, respectivamente.

7 - 19
Fig. 7.10 - Estruturas desenvolvidas em camadas competentes como consequência das deformações
correspondentes aos três campos de elipses de deformação finita representados na fig.
anterior. A e B, mostram estruturas em tablete de chocolate, C mostra as dobras e os boudins
desenvolvidos no campo 2; D e E mostram dobras do tipo doma e bacia, desenvolvidas em
duas, e numa só fase de deformação (Ramsay & Huber, 1983).

O diagrama da Fig. 7.8A foi construido assumindo um volume constante, uma vez que a linha
k=1 apenas intercepta a origem quando, a variação de volume é igual a zero. Quando ∆=0, a
equação do cálculo da variação de volume reduz-se a
1+∆ = (1+ex) (1+ez)
uma vez que 1+ey = 1 para os elipsóides com k=1.
Neste caso 1+∆ = a/b donde a = b(1+∆).
Esta equação significa que para uma variação de volume de ∆, a linha a = b(1+∆) representa
a deformação plana e separa os domínios de verdadeira deformação constritiva e verdadeira
deformação por achatamento, independentemente do facto de não passar pela origem do diagrama.

7.8. Deformação progressiva e deformação finita

O corpo deformado, no momento das medições representa a deformação total produzida


nesse corpo até esse momento. Isto é, contudo, o resultado de vários incrementos de deformação
sucessivamente aplicados ao corpo, traduzidos por uma sucessão de variações de forma e
posicionamento do corpo, como resposta às tensões aplicadas.

Este processo, da posição inicial à posição final, designa-se por deformação progressiva e a
deformação final no momento das medições é designada por deformação finita.

É importante reter a noção de que a natureza da deformação finita não é necessáriamente

7 - 20
um guia de confiança para a percepção dos estádios intermédios de deformação. Mesmo casos
simples de deformação progressiva mostram diferenças assinaláveis no padrão de deformação com
o tempo, envolvendo, por exemplo, conjuntos de linhas existentes nos objectos deformados que
passam por estádios de contracção seguidos por estádios de distensão, à medida que a deformação
progride.

Em qualquer instante durante a deformação progressiva é possível examinar quer a


deformação finita (a deformação total acumulada até esse instante) quer a deformação infinitésimal
nesse instante.

A elipse de deformação finita pode ser dividida em sectores de contração e distensão,


separados por linhas de não alongamento finito (isto é, com valores de e, extensão, iguais a zero)
(Fig. 7.11).

Se a orientação das camadas for a indicada (a direcção de distensão estar contida na


superfície de estratificação ou a direcção de compressão principal for paralela à estratificação), então
produzir-se-à boudinage nos sectores onde domina o alongamento (distensão) e dobramento nos
sectores onde domina a contracção (compressão).

A elipse de deformação infinitésimal num determinado instante mostrará que há sectores


onde as linhas estão a ser comprimidas e outros onde estão a ser alongadas.

Sobrepondo as duas elipses, a de deformação finita e a de deformação infinitésimal,


podemos distuinguir quatro zonas (Fig. 7.11):
Zona 1 : alongamento continuado 0 boudins;
Zona 2 : alongamento seguido de contracção 0 boudins dobrados;
Zona 3 : contracção seguida de alongamento 0 dobras desdobradas ou com boudins;
Zona 4 : contracção continuada 0 dobras.

Fig. 7.11 - Variações nos campos da contracção e do alongamento durante a deformação progressiva
(a duas dimensões). A, elipse de deformação finita; B, elipse de deformação infinitésimal; C,
sobreposição das elipses de A e B, em cisalhamento puro; D, idem, mas em cisalhamento
simples (Park, 1983).

7 - 21
A distribuição destas zonas ou sectores dependerá da história da deformação e, em
particular, do facto da deformação ser irrotacional (isto é, do tipo cisalhamento puro) ou rotacional
(isto é, do tipo cisalhamento simples). Deste modo, observações quanto à orientação das camadas
dobradas e/ou boudinadas têm grande importância na investigação da deformação progressiva.

Análise do crescimento de fibras

Outro método bastante útil na investigação da história da deformação consiste na análise da


orientação das fibras de crescimento de quartzo ou calcite existentes nas frequentes fendas de
tracção ou em veios.

Estas fibras de crescimento são cristais alongados orientados paralelamente à direcção ao


longo da qual as paredes da fenda ou do veio se foram afastando, abrindo o espaço que permitiu a
cristalização.

Esta direcção corresponde obviamente à direcção da distensão principal na rocha.


Modificações na orientação das fibras marcam variações na direcção da distensão. Por este
processo é possível ter o registo de bastantes e complexas variações nas direcções principais da
deformação.

Há duas formas fundamentais de crescimento das fibras: o crescimento sintáxico e o


crescimento antitáxico. O mais comum é o crescimento sintáxico e neste caso as fibras são de um
mineral existente na rocha, mobilizado por solução por pressão. É o caso de fibras calcíticas em
calcários ou de fibras quartzosas em rochas siliciosas - arenitos, quartzitos, grauvaques, etc.

O crescimento sintáxico caracteriza-se ainda pelo facto das fibras crescerem das paredes da
fenda para o seu interior, orientando-se sempre perpendicularmente às paredes da fenda, junto ao
bordo. Este facto explica-se facilmente porque sendo fendas de tracção, elas geram-se pela 1ª vez
sempre perpendicularmente à direcção da extensão principal. Desta forma, se regista a direcção de
σ1do 1º impulso de deformação. Se o campo de tensões rodar, o 2º impulso de crescimento, embora
vá abrir a mesma fenda já produzida, provoca uma cristalização das fibras que, sendo paralela à
nova direcção principal de distensão, já não é perpendicular às paredes da fenda, adquirindo esta o
aspecto representado na Fig. 7.12B.

Fig. 7.12 - Crescimento sintáxico em fendas e veios.

Sucessivos impulsos conduzirão a novas aberturas da fenda, sempre a partir da sua zona
média.
O crescimento antitáxico é bastante menos frequente. Este tipo de fendas são normalmente
preenchidas por minerais remobilizados de muito longe pelo que habitualmente em calcários podem
aparecer fibras de quartzo, por exemplo.
Para além desta característica composicional, em termos geométricos distinguem-se das
anteriores pelo facto do crescimento das fibras se fazer a partir de uma zona de sutura central
existente na fenda e não a partir das paredes da fenda, como no caso das fibras sintáxicas. Para
cada impulso, a direcção segundo a qual os cristais fibrosos se orientam é também a da direcção de
distensão principal; simplesmente, a história da deformação faz-se tendo em atenção que os
impulsos mais recentes correspondem à orientação das fibras junto ao bordo da fenda (ao contrário

7 - 22
do que sucede nas fibras sintáxicas). Por este motivo as fibras são sempre oblíquas às paredes da
fenda, junto aos seus bordos (Fig. 7.13).

Fig. 7.13 - Crescimento antitáxico: A, 1° impulso; B, após o 2° impulso de crescimento.

7.9 - Relação entre tensão e deformação

Uma vez que a deformação resulta da acção de tensões, há sempre uma relação geométrica
directa entre as duas. Contudo, uma vez que a geometria, quer dos campos de tensão quer dos
campos de deformação, varia ao longo do tempo, essa relação pode não ser simples.
Esta situação pode ser ilustrada se considerarmos sucessivos incrementos de deformação
homogénea, num caso aplicando cisalhamento puro e noutro, aplicando cisalhamento simples (Fig.
7.4).
No caso do cisalhamento puro, a orientação dos eixos das deformações finitas principais e
dos eixos das tensões, corresponde-se com a direcção de máximo alongamento coincidente com a
compressão mínima (ou distensão principal) e a direcção de maior encurtamento coincidente com a
direcção de máxima compressão (ou distensão mínima).
Contudo, no caso do cisalhamento simples, apenas os eixos intermédios de deformação e da
tensão são coincidentes, uma vez que se trata de deformação plana, e os eixos X e Z de
deformação, rodarão progressivamente, com o aumento da deformação, no sentido do movimento
dos ponteiros do relógio se o cisalhamento for direito, a partir da sua posição inicial e, em geral, a
sua posição não coincide com a orientação dos eixos de tensão compressivo e distensivo.
Na deformação natural apenas é possível observar a orientação dos eixos principais de
deformação e a orientação dos correspondentes eixos de tensão não pode ser deduzida
imediatamente.
Da Fig. 7.4, pode verificar-se que a magnitude dos eixos de deformação nos estádios 2, 3 e
4 de A é, respectivamente, idêntica à dos mesmos estádios em B, embora tenham sido produzidos
de forma diferente.
A variação na forma de um corpo deformado pode, ela própria, causar uma modificação no
campo de tensões. Isto é provavelmente mais óbvio no caso do cisalhamento simples.
Quando os lados do corpo deformado da Fig. 7.4B partem da sua posição inicial,
perpendiculares entre si, as tensões normal e cisalhante sobre ele orientam-se obliquamente à rede
ortogonal inicial.
Deste modo, a posição dos eixos de tensão só pode ser reconstituida em relação à história
da deformação do corpo deformado.
Adiante discutiremos o caso em que a partir dos deslocamentos em falhas é possível
reconstituir o campo de tensões associado.

7.10 - Determinação da deformação finita nas rochas

7 - 23
Um dos objectivos mais importantes da Geologia Estrutural é a estimação quantitativa da
deformação finita global em cada região onde existam estruturas de deformação. Idealmente, se
estivermos a analisar os efeitos de uma determinada orogenia, será desejável conhecer as
magnitudes e orientações dos três eixos principais de deformação nos diferentes locais afectados.
Conhecida a distribuição da deformação, sob a forma de um mapa de trajectórias de deformação ou
de um elipsóide de deformação global representativo, será então possível tentar relacioná-lo com
modelos de tensão aplicáveis.

Para a quantificação da deformação podem utilizar-se três aproximações ao problema, muito


diferentes entre si. A primeira, e mais óbvia, consiste na determinação de vários elipsóides de
deformação individuais, usando diferentes tipos de marcadores da deformação ("strain markers"), e
sintetisar depois essa informação para toda a área em questão. A segunda aproximação consiste na
avaliação do encurtamento total ou do alongamento total através da análise geométrica de dobras ou
falhas, o que contudo, é de difícil aplicação a três dimensões. A terceira, e talvez a mais simples,
consiste em assumir que a deformação em larga escala é estatisticamente essencialmente
homogénea, e que a disposição estatística de todos os elementos estruturais planares e lineares
nessa área reflecte tanto a orientação como a relação axial do elipsóide de deformação finita. Em
terrenos muito deformados, por vezes este é um método bastante útil.

Determinação dos eixos principais de deformação

Se identificarmos as orientações dos eixos principais de deformação (X,Y e Z) antes de


tentarmos quantificá-la, esta questão fica simplificada. Se o corpo deformado possuir um fabric
planar ou linear que reflicta a geometria da deformação finita, podemos extrair certas conclusões
preliminares. Assim, um fabric planar de achatamento (clivagem xistenta, por exemplo) coincide com
o plano XY do elipsóide de deformação, o que permite reconhecer de imediato a orientação do eixo
Z. Em certas circunstâncias, a direcção de X também pode ser localizada, se for visível a lineação de
estiramento sobre o plano de clivagem. Deste modo fica conhecida a posição dos três eixos.Os
fabrics fortemente lineares (X>Y=Z) ou fortemente planares (X=Y>Z) permitem apenas o
reconhecimento de um eixo principal de deformação.

Conhecidas as orientações dos eixos principais de deformação , a quantificação da mesma


exige a determinação da extensão ao longo de cada um deles. Para tal utilizam-se objectos cuja
forma original é conhecida e a que chamamos, como vimos atrás, marcadores da deformação.
Podem ser fósseis, com simetria bilateral inicial, como os braquiópodes, por exemplo, ou alongados,
como as belemnites, ou ainda com formas espiraladas, como as amonites. Podem também ser
objectos de forma inicial sub-esférica ou elipsóidal, como oólitos, pisólitos (em calcários), manchas
de redução (em xistos), vesículas gasosas e esferólitos (em escoadas vulcânicas), agregados de
recristalização em corneanas, vários tipos de concreções, etc.

Conforme os marcadores disponíveis, vários métodos podem ser utilizados na estimação da


deformação finita. Referiremos alguns.

1 - Utilização de objectos de forma inicial esférica

Se os objectos inicialmente possuiam forma rigorosamente esférica, após a deformação


adquirem a forma de um elipsóide, que, como foi demonstrado anteriormente para duas dimensões
(pág. 7 - 8), reproduz o elipsóide de deformação. Assim sendo, basta medi-lo directamente se os
objectos estiverem visíveis a três dimensões ou, o que é mais frequente, determinar as elipses de
deformação finita correspondentes a três secções não paralelas, de preferência ortogonais, do
elipsóide e depois reconstituí-lo por métodos analíticos.

Como os objectos naturais em causa raramente têm formas perfeitamente esféricas, devem
ser feitas correcções estatísticas sobre os valores medidos. Se a variação da forma for aleatória,
pode tomar-se a média geométrica de um certo número de determinações. Se não for aleatória e,
pelo contrário, estiver controlada pela presença de um fabric sedimentar, planar ou não, o problema
é de muito mais difícil resolução, podendo, em certos casos aplicar-se uma técnica que será descrita
no ponto seguinte.

Outro problema, quando se tenta estimar a deformação finita a partir de marcadores, diz
respeito ao grau de homogeneidade da deformação no interior da rocha ou, por outras palavras, à
existência de contraste de ductilidade entre os objectos marcadores e a matriz em que estão
imersos. Frequentemente aqueles são de composição distinta da matriz que os rodeia, mostrando
comportamento mais competente à deformação (Ex: concreções carbonatadas em matriz argilo-

7 - 24
xistenta, vesículas calcíticas em matriz clorítica (em espilitos), etc.). Nestas condições, os valores
obtidos através dos objectos, subestimam o verdadeiro valor da deformação, que será o expresso
pela matriz mais dúctil.

Fig. 7.14 - Determinação da razão da elipse de deformação finita (análise bidimensional) a partir de
objectos de secção inicial circular. Cada objecto está representado por um ponto cujas
coordenadas são o comprimento dos seus eixos, maior e menor. O declive da recta de
correlação dá a razão Y'/X' da secção (mod. de Ramsay, 1967).

Para a medição directa dos comprimentos dos eixos principais de deformação trabalha-se
sobre secções da rocha deformada, tendo sido previamente seleccionados os melhores planos de
corte: perpendiculares entre si e, de preferência, paralelos aos ou a um dos planos principais de
deformação, se forem conhecidos. As medições podem ser feitas sobre lâmina delgada, fotografia
ampliada se os objectos forem muito pequenos, ou superfícies polidas em amostra de mão.
Devem ser medidos os eixos maior e menor do maior número possível de objectos e
projectados os valores obtidos num gráfico de abcissa "eixo maior" e cuja ordenada é o eixo menor
(Fig. 7.14). A inclinação da recta que passa na origem e é a linha de melhor ajuste ("best fit") aos
pontos projectados, dá o valor da razão Y'/X' nesse plano (que pode não coincidir com os
verdadeiros valores de Y e X, se a secção estudada não contiver nenhuma das direcções principais).

Método Centro a Centro - Quando o contraste de viscosidade entre os objectos e a matriz é


grande, não tem grande significado estimar a deformação a partir daqueles, uma vez que o valor
determinado não corresponderá ao da deformação global sofrida pela rocha. Nesse caso, interessa
recorrer a um método que permita estimar a deformação sofrida pela matriz. Ramsay (1967)
desenvolveu pela primeira vez uma técnica, que ficou conhecida por "Centro a Centro", para
ultrapassar o problema do contraste de viscosidade objecto/matriz, aplicável a rochas cujos
marcadores são objectos de forma elíptica (em secção) e que por efeito da deformação não
estiveram em contacto uns com os outros. Mais tarde, Norman Fry (1979), um seu aluno,
desenvolveu o método e tornou-o extensivo a todos os casos de objectos de forma irregular
susceptíveis de possuirem centro de massa (calhaus de natureza diversa e formas variadas, por
exemplo) e também a situações em que os objectos irregulares contactam entre si, sem existência
de matriz (Ex: agregado cristalino).
Este método assenta no facto de as distâncias entre os centros de esferas dispostas
uniformemente serem sistematicamente modificadas durante a deformação, de tal modo que essas
modificações estão relacionadas com as direcções de máximo alongamento e de máximo
encurtamento. Projectando num gráfico valores de distâncias entre centros de objectos contíguos e
os respectivos ângulos em relação a uma linha de referência arbitrária, a variação daquelas passa
por um valor máximo (m2 no gráfico da Fig. 7.15) e um valor mínimo (m1 na mesma figura); a razão
m1/m2 é equivalente à razão das deformações principais Y'/X'. Para definir as suas orientações basta
verificar quais os valores angulares que correspondem aos valores de Y' e X', respectivamente Y e X.

A aplicação deste método tem dois problemas:

- nem sempre a definição dos centros das partículas é muito precisa;

- inicialmente foi definido para uma distribuição aleatória das partículas, mas estudos

7 - 25
posteriores sobre distribuições de pontos no espaço provaram que se efectivamente tal se
verificasse, não era possível estimar a deformação finita sofrida.

Fig. 7.15 - Determinação da razão entre as deformações principais a duas dimensões, usando as
distâncias entre os objectos. A, Distâncias entre centros adjacentes e ângulo medido em
relação a uma linha de referência. B, projecção de distâncias versus ângulos. Define-se um
valor mínimo para a distância (m1) e um valor máximo (m2), que representam Y' e X',
respectivamente (mod. de Ramsay, 1967).

2 - Utilização de conglomerados deformados

Os marcadores da deformação mais abundantes são sem dúvida os conglomerados que, por
isso, são excelente material para a determinação da deformação finita, particularmente quando os
seus clastos estão bastante rolados e têm formas elipsoidais.
Contudo, os conglomerados podem ter certas características que complicam um pouco a
análise pretendida. A maior parte das vezes os clastos que os constituem têm formas muito
irregulares e, nessas condições, métodos que analizem a forma dos clastos deformados, como o
método Rf/φ que adiante se descreve, não podem ser aplicados. Apenas o método de Fry ou as suas
variantes analíticas, permitem a obtenção de resultados satisfatórios, ultrapassando
simultaneamente o efeito de diferente ductilidade entre os clastos e a matriz, mesmo quando esse
contraste é significativo. A maior dificuldade reside na existência de um fabric sedimentar primário,
planar ou não planar, pois nesse caso o fabric produzido na rocha representa um compromisso entre
o fabric sedimentar e a deformação aplicada sendo bastante complexa, e em muitos casos
problemática, a determinação da elipse (e consequente elipsóide) de deformação finita real.
Dada a variância deste tipo de material, sempre que possível é conveniente fazer várias
determinações em cada estação a fim de obter um valor estatisticamente representativo da
deformação finita.
Se os clastos do conglomerado possuirem formas originais (antes de deformados) elípticas
(em secção), a sua forma final, após a deformação, será a resultante da interferência de duas elipses
com orientações e relações axiais diferentes (Fig. 7.16). Assim sendo, a flutuação observada nos

7 - 26
valores de orientação dos eixos maiores das partículas deformadas (φ) e respectivas relações axiais
(Rf) estão sistematicamente relacionados com a elipse de deformação finita.

Fig. 7.16 - Efeito de aplicação de uma elipse de deformação sobre objectos elípticos. A, forma inicial; B,
forma final, após deformação homogénea com eixos X' e Y' (Park, 1983).

Na Fig. 7.17 está representado um método gráfico que permite a estimação da deformação
finita, sua relação axial e orientação, a partir da projecção das relações axiais (eixo maior/eixo
menor) medidas nos vários objectos deformados (Rf) contra as suas respectivas orientações (ângulo
φ) medidas em relação a qualquer linha de referência. Para um número suficiente de medições (>50)
o gráfico define os valores máximo e mínimo de Rf, que permitem a determinação de Rs (a relação
axial da elipse de deformação finita) e Ri máximo (a máxima relação axial original das partículas):
a) Se Rs>Rimáx, então:
Rs = (Rfmáx . Rfmín)1/2
Rimáx = (Rfmáx / Rfmín)1/2

b) Se Rs<Rimáx, então:
Rs = (Rfmáx / Rfmín)1/2
Rimáx = (Rfmáx . Rfmín)1/2

Fig. 7.17 - Diagrama Rf/φ para objectos deformados com formas iniciais elípticas. A, com Ri constante;
B, com Ri variável (mod. Ramsay, 1967).

Se a posição do eixo de máximo alongamento da elipse de deformação finita não for


conhecida (se não for visível o traço da clivagem nessa secção ou a lineação de estiramento), o eixo
de simetria do diagrama Rf/φ (φ' na Fig. 7.17) dá a sua localização. Nesta figura, os diagramas A e B
distinguem-se pelo facto de no primeiro (A) estarem representadas partículas deformadas todas com

7 - 27
a mesma relação axial original (= Ri) enquanto que no segundo (B) estão representadas partículas
com relações axiais originais diferentes (= Ri). A linha que envolve os pontos
projectadoscorresponde à das partículas que tinham a máxima relação axial original (Ri máx.).

3 - Utilização de fósseis deformados com simetria bilateral original

Neste caso utilizam-se dois ângulos ϕ, medindo o afastamento da perpendicularidade entre


dois pares de linhas originalmente perpendiculares, e o ângulo entre essas linhas de referência (α' ou
θ').
É um dos métodos mais simples e eficaz mas, infelizmente, pouco utilizado pois é raro
encontrarem-se vários exemplares fósseis na mesma camada, com simetria bilateral original (como
por exemplo trilobites ou braquiópodes). Neste caso, a linha de charneira do braquiópode, por
exemplo, é perpendicular à linha de simetria do fóssil não deformado (Fig. 7.18A). Sempre que essa
perpendicularidade não se observa, o fóssil sofreu uma deformação cisalhante e o valor
correspondente à deflecção exibida é o correspondente valor de ϕ (Fig. 7.18B).
Se na secção analisada for visível a lineação de estiramento, ficam conhecidas as
orientações dos eixos principais de deformação e, nesse caso, para estimar a relação axial da elipse
de deformação finita basta a presença de um destes fósseis deformados.

Fig. 7.18 - Fósseis com simetria bilateral original utilizados na estimação da deformação
finita. A, fóssil não deformado, orientado em relação aos eixos principais de
deformação (X',Y'); B, após a deformação, a deformação cisalhante ϕ permite a
estimação da deformação finita aplicada (Park, 1983).

Se não for conhecida a orientação dos eixos principais de deformação, o problema só tem
resolução se poderem ser feitas medições sobre dois fósseis deformados. Pode optar-se por uma
resolução gráfica, utilizando o Diagrama de Mohr (ver Anexo II) ou por uma resolução analítica.
Da Fig. 7.18 A,B e da equação (7.2), temos
Y' tgθ'
=
X' tgθ
sendo X' e Y' os eixos principais de deformação nessa secção. Multiplicando as expressões
anteriores:

7 - 28
2
⎛ Y' ⎞ tgθ' tg (90° - θ' - ϕ)
⎜ ⎟ = = tgθ' tg (90° - θ' - ϕ)
⎝ X' ⎠ tgθ tg (90° - θ)
porque
tgθ tg (90° - θ) = 1
donde,
2
⎛ Y' ⎞ tgθ'
⎜ ⎟ =
⎝ X' ⎠ tg (θ' + ϕ)

• Fósseis com Forma Longa (estreita) e Forma Larga:

Se o eixo de simetria de um fóssil coincidir com uma das direcções principais de deformação,
o fóssil não vai sofrer deformação cisalhante, alongando ou encurtando ao longo dessa direcção,
dependendo de se tratar, respectivamente, do eixo X' ou Y'.

Fig. 7.19 - Formas larga e estreita, sem deformação cisalhante angular () (Park, 1983).

No primeiro caso, se se tratar de um braquiópode como está representado na Fig. 7.19, o


fóssil adquire a chamada "Forma Larga" (A) e, no segundo caso, (B), temos uma "Forma Estreita ou
Longa".

Se l1 e l2 forem os comprimentos originais das linhas de simetria dos fósseis A e B, e b1 e b2


os comprimentos originais das suas linhas de charneira, temos, para A:
x1 = l1X' e y1 = b1Y'
e para B:
x2 = b2X' e y2 = l2Y'
onde x1 e x2 são os novos comprimentos ao longo da direcção de X' e y1 e y2 são os novos
comprimentos ao longo da direcção de Y'.

Multiplicando membro a membro:


2
y1 y2 b Y ' l Y' ⎛ Y' ⎞ l1 b 2 y1 y2
= 1 2 ⎜ ⎟ =
x1 x2 l1X' b2X' ⎝ X' ⎠ b1 l2 x1 x 2

7 - 29
Se assumirmos que
b1 b
= 2
l1 l2
(ou seja, que os fósseis tinham uma relação axial original idêntica - o que é verdade se forem da
mesma espécie) e
b1 l2
l1 b2
então,
2
⎛ Y' ⎞ y y
⎜ ⎟ = 1 2
⎝ X' ⎠ x1 x2

Fig. 7.20 - Determinação da deformação finita a duas dimensões, usando vários fósseis
deformados, com orientações variáveis. A, antes da deformação; B, após a
deformação; C, projecção dos valores de ϕ para cada fóssil e respectivo ângulo de
orientação (α) (mod. de Ramsay, 1967).

• Vários fósseis afectados por deformação cisalhante

Se forem em número suficiente, é possível utilizar um método gráfico alternativo, que permite
a determinação com bastante precisão da relação axial da elipse de deformação finita e a orientação
dos eixos principais de deformação (Fig. 7.20).

Os fósseis podem não ser todos da mesma espécie e, em cada um, mede-se o respectivo
valor da deformação cisalhante angular (ϕ) e o ângulo entre uma das linhas de referência do fóssil
(sempre a mesma para os diferentes fósseis) e uma linha de referência externa arbitrária.

Projectam-se os dois valores num gráfico ϕ/α e deve obter-se um curva sinusoidal de melhor
ajustamento aos pontos projectados que intersecta o eixo dos α (ϕ = 0°) em dois pontos,

7 - 30
correspondentes à localização dos dois eixos principais de deformação. A relação axial da elipse de
deformação finita pode ser obtida a partir da estimativa do máximo valor de deformação cisalhante
observado.

Como esse valor ocorre para θ = 45° e tgθ = 1,


Y' tg θ'
=
X' tg θ
e
Y'
= tg θ'máx
X'
Podemos ainda utilizar a equação:

λ1 - λ2
γ máx = tgϕmáx = ±
2 λ1 λ 2
considerando que

λ1 λ1
= Rs ou = R
λ2 λ2

Nas figuras 7.21 e 7.22, estão representados alguns exemplos de objectos e estruturas
naturais, que podem ser usados como medidas de extensão e de rotação durante a deformação.

7 - 31
Fig. 7.21 - Medidas da rotação (Vialon et al., 1976).

7 - 32
Fig. 7.22 - Medidas da extensão, incluindo (C) uma belemnite boudinada (estirada) num
plano de xistosidade segundo uma direcção oblíqua à sua (Vialon et al., 1976).

BIBLIOGRAFIA
Park, R. G. (1983) - Foundations of Structural Geology. Blackie- Chapman and Hall, London, 135pp.

Ramsay, J. G. (1967) - Folding and Fracturing of rocks. Mc Graw-Hill, New York, 568pp.

Ramsay, J. G. & Huber, M. I. (1983) - The Techniques of Modern Structural Geology. Vol. 1: Finite
Strain Analysis. Academic Press, London, 403pp.

Ribeiro, A. (1977) - Apontamentos de Geologia Estrutural Elementar. Ass. Est. Fac. Ciên. Lisboa,
Lisboa,

Vialon, P.; Ruhland, M. & Grolier, J. (1976) – Eléments de Tectonique Analytique. Masson, Paris, 118
p.

7 - 33
8 - TENSÃO E DEFORMAÇÃO NOS MATERIAIS

A forma como os materiais individualmente respondem às tensões aplicadas varia bastante.


de acordo com as condições físicas sob as quais decorre a deformação; depende igualmente da
composição e das propriedades mecânicas do material. Antes de considerar o comportamento das
rochas sob tensão, discutiremos brevemente os vários tipos "ideais" de resposta.

8.1. Deformação idealmente elástica e viscosa


Deformação elástica

Na deformação elástica ideal, a remoção da tensão deformante provoca o regresso imediato


do corpo à sua forma não deformada. Este tipo de deformação é muitas vezes chamado de
deformação temporária ou recuperável e pode ser demonstrada pela compressão e libertação de
uma mola elástica. Corresponde ao tipo de deformação associada, por exemplo, à propagação das
ondas sísmicas através das rochas e materiais da Terra, ou ainda à passagem de ondas sonoras
através de qualquer meio.

Fig. 8.1 - Tipos de deformação dos materiais. (A) deformação elástica ideal; (B) def. viscosa ideal; (C)
curva ideal def./tempo para comportamento viscoelástico; (D) def. elastoviscosa ideal a tensão
constante; (E) def. plástica ideal (Park, 1983).

O comportamento dos corpos perfeitamente elásticos é comandado pela Lei de Hooke que
diz que

e = l - l0 / l0 = σ/ E ou

tensão (σ) / deformação (e) = constante (E) (8.1)

8-1
onde e é a deformação longitudinal, l o novo comprimento, l0 o comprimento original, a a tensão
aplicada e E uma constante chamada Módulo de Young ou de elasticidade do material.

Pode definir-se também como


e = V - V0 / V0 = P / K (8.2)

onde e é a deformação dilatacional, V o novo volume, V0 o volume original, P a pressão


hidrostática e K uma constante chamada compressibilidade. Assim, nas variações elásticas de forma
e volume, a deformação é directamente proporcional à tensão, ou seja, tensão e deformação
representam uma relação linear (Fig. 8.1A). As rochas só exibem comportamento perfeitamente
elástico sob certas condições, muito restritivas.

Deformação viscosa

Na deformação viscosa ideal não há recuperação após a remoção da tensão deformante. Por
outras palavras, toda a deformação é permanente.

O comportamento idealmente viscoso ou "Newtoniano" é demonstrado pela fluência de


fluidos e é regulado pela equação

σ = µe (8.3)
(ou seja,
tensão = viscosidade x taxa de deformação).

onde e é a taxa de deformação (razão da variação da forma com o tempo) e µ (eta) é uma constante
designada viscosidade do material.

Assim sendo, na deformação idealmente viscosa, a tensão tem uma relação linear com a
taxa de deformação. Deste modo, quanto maior for a tensão aplicada, mais rapidamente se
deformará o material e a deformação total depende tanto da magnitude da tensão como do intervalo
de tempo durante o qual aquela é aplicada (Fig. 8.1B).

Para uma tensão constante a deformação aumentará linearmente com o tempo t uma vez
que se integrarmos a equação anterior (8.3) temos

e = σt/µ (8.4)

8.2. Comportamento visco-elástico, elasto-viscoso e plástico


As rochas na natureza combinam as propriedades dos corpos elásticos ideais e dos corpos
viscosos ideais e a deformação de tais materiais pode ser analisada como tendo quer uma
componente elástica quer uma componente viscosa (anelástica).

Uma aproximação à deformação total pode ser obtida adicionando as equações (8.1) e (8.4)
ficando
e = σ/E (comp. elástica) + σt/µ (comp. viscosa) (8.5)
a tensão constante.

Contudo, esta equação simplifica demasiado as relações e outros factores devem ser
considerados.

Comportamento viscoelástico

Um material que para uma dada tensão exibe uma deformação basicamente do tipo elástico,
mas que demora um certo tempo a atingir o seu valor limite, diz-se que possui comportamento visco-
elástico (Fig. 8.1C). Simultaneamente, a remoção da tensão não causa um retorno imediato ao

8-2
estado não deformado, existe um certo atraso na recuperação das condições iniciais. É este atraso
na recuperação da deformação elástica que é o responsável pelo bem conhecido fenómeno dos
sismos de réplica ("aftershocks") que representam movimentos continuados na crosta enquanto a
deformação elástica diminui gradualmente, após a libertação principal de energia representada pelo
sismo. Para baixos valores de tensão, a maioria das rochas tem comportamento viscoelástico.

Comportamento elasto-viscoso

Um material que basicamente obedeça à Lei da Viscosidade (eq. 8.4) mas que se comporte
elasticamente para tensões de curta duração diz-se elasto-viscoso (Fig. 8.1D). A plasticina e certas
pastas de silicones são óptimos exemplares deste tipo de materiais. Quando submetidos a tensões
instantâneas mostram deformação elástica que é completamente recuperável após a remoção das
tensões. Para tensões mantidas durante muito tempo, contudo, o material flui mostrando um
comportamento perfeitamente viscoso.

Comportamento plástico

Um material plástico é aquele que se comporta elasticamente para baixos valores da tensão
mas que, acima de um certo valor crítico de tensão (a tensão de cedência) se comporta de modo
perfeitamente viscoso (Fig. 8.1E). O comportamento dos materiais rochosos sob tensão não pode ser
descrito em termos de qualquer um destes modelos simples, antes inclui combinações das suas
características.

A Fig. 8.2 mostra esquematicamente como o diagrama deformação/tempo de um material


tipicamente plástico (como a maioria das rochas) mostra elementos de todos os modelos de
comportamento de que falámos acima.

Fig. 8.2 - Relação ideal deformação/tempo para um material tipicamente plástico, deformado acima do
seu ponto de cedência ("yield point") (Park, 1983).

O termo viscoelástico é usado muitas vezes de uma forma bastante livre para descrever
qualquer destas combinações de comportamentos elástico e viscoso. Na prática, a relação entre
tensão e deformação quando consideramos a deformação das rochas, varia tanto com a magnitude
da tensão como com a taxa de deformação.

8.3. Comportamento frágil e dúctil


Quando a deformação elástica conduz à rotura, o material perde coesão pelo
desenvolvimento de uma ou mais fracturas, através das quais a continuidade do material é
interrompida. Este tipo de deformação diz-se frágil ou de comportamento frágil e preside à formação
das falhas e diaclases.

O comportamento dúctil, em contraste, produz deformação permanente que mostra variações


suaves ao longo da amostra deformada ou da rocha sem quaisquer descontinuidades visíveis.

8-3
A maioria dos materiais rochosos podem exibir quer comportamento frágil quer
comportamento dúctil, dependendo de certos factores, como por exemplo a magnitude da tensão
diferencial (σ1 - σ3), a pressão litostática, a temperatura, a taxa de deformação e a pressão de
fluidos.

8.4. Os efeitos da variação da tensão

Consideraremos o efeito da variação da tensão diferencial (σ1 - σ3), pois só ela contribui
para a deformação; a componente hidrostática da tensão (neste caso, litostática), ou pressão
confinante, é considerada à parte. A Fig. 8.3 resume esquematicamente os efeitos de tensões
diferenciais crescentes na curva deformação/tempo.

Fig. 8.3 - Representação do efeito de uma tensão diferencial crescente sobre uma curva
deformação/tempo (Park, 1983).

Para um valor baixo da tensão diferencial, σA, o material pode mostrar comportamento
exclusivamente elástico. Para valores de tensão um pouco mais elevados, σB, a deformação pode
ser parcialmente viscoelástica mas é ainda fundamentalmente elástica. Acima de um determinado
valor crítico de tensão, chamado tensão de cedência (σy), o material mostra comportamento
essencialmente viscoso para valores sucessivamente mais elevados de tensão, σC, σD, por
exemplo, apos uma deformação inicial viscoelástica. Acima de um segundo valor crítico de tensão, a
tensão de rotura (σr), o material mostra fluência viscosa acelerada para valores mais elevados da
tensão até atingir a rotura após ter passado por estádios de comportamento viscoelástico e viscoso
(compare-se com a curva de "creep"da Fig. 8.4).

Podemos distinguir três domínios fundamentais num diagrama deformação/tempo típico,


correspondendo a aumentos progressivos da tensão - domínio elástico, viscoso e da rotura.

No caso de materiais dúcteis, o domínio viscoso é bastante alargado, à custa dos domínios
elástico e da rotura e, nesse caso, σr >> σy .

Resistência dos materiais

A resistência dos materiais é, simplesmente, o valor da tensão aplicada para a qual ocorre a
rotura. Muitos materiais possuem uma tensão de cedência (σy) definida como a tensão limite acima
da qual ocorre deformação permanente e uma tensão de rotura ou máxima resistência (σr) acima da
qual se produz rotura.

8-4
Os valores da resistência à tracção e de resistência à compressão são normalmente
diferentes, isto é, a tensão de cedência e a tensão de rotura são normalmente muito superiores sob o
efeito de tensões compressivas. Isto mostra que os materiais são mais resistentes à compressão que
à tracção.

8.5. Relação entre tensão, deformação e tempo


A relação entre tensão e deformação para os materiais naturais que mostram uma
combinação de propriedades elásticas, viscosas e plásticas, depende fundamentalmente do intervalo
de tempo longo do qual se aplica a tensão.

Experiências laboratoriais em rochas, normalmente durante curtos intervalos de tempo


(segundos ou alguns minutos) conduzem a comportamentos "instantâneos", em termos geológicos,
do material e que diferem substancialmente dos comportamentos dos mesmos materiais submetidos
a tensões durante períodos geologicamente mais realistas, da ordem dos meses ou anos.

Ao modo como os materiais deformam a longo prazo chama-se "creep". A característica


importante do comportamento do tipo "creep" é que a deformação viscosa se produz durante longos
períodos de tempo e a baixas tensões, as quais produziriam apenas efeitos elásticos se fossem
aplicadas por curtos intervalos de tempo.

Outra forma de expressar esta diferença de comportamento é verificando que a taxa de


deformação tem uma influência decisiva no tipo de comportamento do material, ou seja, materiais
que sejam deformados a baixas taxas de deformação (geologicamente mais realistas) exibem "creep"
enquanto que a uma taxa elevada de deformação (ou seja, em condições experimentais) o seu
comportamento está associado a deformações geologicamente instantâneas (por exemplo: sismos).

Fig. 8.4 - Curva de "creep": diagrama deformação/tempo para longos períodos de tempo (Park, 1983).

A curva típica de "creep"

A maioria das rochas, quando submetidas a uma tensão constante, baixa e durante bastante
tempo (alguns meses) mostram uma curva de deformação/tempo onde são bem visíveis três
domínios ou estádios:
1°) um "creep" primário onde o material se comporta viscoelasticamente, seguido de
2°) um estádio secundário - "creep" secundário - onde o material mostra essencialmente
fluência viscosa com uma taxa de deformação mais baixa e,
3°) finalmente, um estádio de "creep" terciário onde o material mostra deformação viscosa
acelerada que conduz à rotura. A tensão constante o "creep" pode ser representado pela
equação
e = A + B log t + C t (8.6)

onde A , B e C são constantes que reflectem as propriedades físicas do material e os valores de


tensão e de temperatura (conforme a eq. 8.5). Assinale-se a notável semelhança entre a curva típica
de "creep" e a curva ideal de deformação/tempo.

8-5
8.6. O efeito da pressão confinante
Considerando o efeito de um campo de tensões aplicadas durante a deformação, as
componentes desviacional e hidrostática (= litostática) devem ser consideradas em separado. Na
crosta, em profundidade, as rochas estão sujeitas ao peso ou à carga litostática da coluna de rochas
que as sobrepõem. Esta pressão pode ser considerada como efectivamente hidrostática e está
apenas relacionada com a espessura e a densidade média dos materiais suprajacentes. A pressão
na base de uma crosta com 35 Km de espessura é da ordem dos 10 Kilobares e, para muitas das
rochas deformadas da crosta, as pressões a que estiveram submetidas variam desde algumas
centenas de bares até valores provavelmente próximos da dezena de Kilobares.

Esta tensão hidrostática, frequentemente designada por pressão confinante produz variações
de volume elásticas dependentes da compressibilidade do material (ver eq. 8.2). A dimensão destas
variações de volume é despresável excepto a grandes profundidades.

As ondas sísmicas primárias (ondas P) propagam-se através destas variações elásticas de


volume, ou seja, por meio de compressões e dilatações alternadas do material através do qual as
ondas são transmitidas.

Um aspecto bastante importante da pressão confinante no estudo da deformação é o efeito


sobre a resistência dos materiais. Com pressões confinantes crescentes a tensão de cedência (σy) e
a tensão de rotura (σr) sobem, dando ao material uma resistência efectiva maior.

Fig. 8.5 - Efeito do aumento da pressão confinante nas curvas de tensão/deformação de um mármore
(Park, 1983).

A Fig. 8.5 ilustra o efeito da pressão confinante nas curvas de tensão/deformação na


deformação experimental de um mármore.

A baixas pressões a resposta é sobretudo elástica e a rotura ocorre a baixos valores de σ. A


300 bares a tensão de cedência sobe para cerca de 1400 bares e é seguida de um aumento de
deformação por comportamento viscoso, o que indica que o material se torna mais dúctil a pressões
elevadas.

8.7. Efeito da temperatura

O efeito da temperatura nas curvas de tensão/deformação para a deformação experimental


de um mármore está representado na Fig. 8.6.

Com o aumento da temperatura a tensão de cedência (σy) baixa e a tensão de rotura (σr)
aumenta, o que tem como efeito ampliar o campo da deformação viscosa, à custa da deformação
elástica e do campo da rotura.

8-6
A tensão de cedência a 800° C é inferior a 0.5 Kilobares, cerca de um sexto do seu valor à
temperatura ambiente. Verifica-se igualmente que o domínio do comportamento viscoso aumentou
consideravelmente.

Fig. 8.6 - Efeito do aumento da temperatura nas curvas de tensão/deformação num mármore submetido
a uma pressão confinante constante de 5 Kbares (Park, 1983).

Estas observações são consistentes com a nossa experiência geológica das rochas
metamórficas deformadas a elevadas temperaturas e pressões. Estas mostram muito mais tipos de
deformação dúctil do que as rochas equivalentes à superfície.

Consequentemente, pode afirmar-se que o material nestas condições aumenta a sua


ductilidade.

8.8. Efeito da pressão de fluidos

A presença de uma fase fluida nas rochas que sofrem deformação é importante de duas
maneiras. Em primeiro lugar, pode promover reacções mineralógicas, nomeadamente a altas
temperaturas, que afectam obviamente as propriedades mecânicas da rocha; em segundo lugar
podem reduzir o efeito da pressão confinante (litostática) contrariando directamente a pressão entre
grãos adjacentes pelo efeito de pressão dos fluidos que ocupam os poros e interstícios entre grãos.

O efeito mecânico da pressão de fluidos é dado por

Pe = P - Pf (8 7)

onde Pe é a pressão efectiva no material sólido, P a pressão confinante e Pf a pressão de fluidos


intersticiais.

Para as rochas saturadas, onde a pressão dos fluidos pode ser bastante elevada se
comparada com a pressão confinante, o efeito de elevadas pressões confinantes pode ser anulado e
nesse caso a resistência das rochas baixa para valores idênticos aos das condições superficiais. O
efeito de altas pressões de fluidos em rochas bastante aquecidas está representado nas curvas de
tensão/deformação para cristais de quartzo saturados e sem água (Fig. 8.7).

8-7
Fig. 8.7 - Efeito da pressão dos fluidos nas curvas de tensão/deformação para quartzo natural, anidro e
hidratado, a 5 Kbares de pressão confinante e temperaturas variáveis, a uma taxa de
deformação de 0.8 x 1°-5/seg (Park, 1983).

A tensão de cedência a 950° C no quartzo saturado é apenas um décimo da do quartzo


anidro à mesma temperatura. Neste caso a ductilidade é claramente aumentada, o que explica
porque certos materiais, normalmente resistentes mesmo a altas temperaturas, podem fluir sob
condições metamórficas na presença de fluidos aquosos.

Por outro lado, ao suportar a pressão confinante, a pressão de fluidos baixando a resistência
das rochas (σr) favorece a deformação frágil com formação de grandes mantos de carreamento a
profundidades consideráveis na crosta (que de outro modo seriam difíceis de explicar).

8.9. Efeito da taxa de deformação


A importância da taxa de deformação no processo de deformação das rochas foi já referida
nos pontos anteriores, nomeadamente durante a análise do "creep". Os valores das tensões de
cedência e de rotura das rochas são muito mais elevados se medidos durante curtos intervalos de
tempo, do que durante períodos geologicamente significativos.

Uma sucessão de curvas tensão/deformação obtidas experimentalmente para o mármore de


Yule (Fig. 8.8), a taxas de deformação variando desde 2 x 10-7 seg-1(≈ 20% em 100 segundos) até 2
x 10-7 seg-1 (≈20% em 12 dias) mostram uma redução gradual na resistência do material e um
aumento da ductilidade associados ao decréscimo da taxa de deformação.

Uma taxa de deformação de 2 x 10-2 seg-1 (≈ 20% em 12 dias) é ainda muito mais elevada
do que as taxas de deformação geológicas, que são da ordem dos 10-14 seg-1, isto é, 10% num
milhão de anos.

Para extrapolar os resultados experimentais a valores tão baixos da taxa de deformação,


tem-se utilizado uma projecção logarítmica das curvas tensão/deformação. Este diagrama (Fig. 8.8B)
mostra que a 300° C a tensão diferencial requerida para manter um comportamento de fluência
viscosa a uma taxa de 10-14 seg-1 e apenas de cerca de 400 bares, ou será 160 bares a 400°C.

8-8
Fig. 8.8 - (A) Efeito da taxa de deformação nas curvas de tensão/deformação de um mármore. (B)
Extrapolação dos resultados para valores representativos das taxas de deformação geológicas
(Park, 1983).

8.10. Controlo físico no comportamento dos materiais durante a deformação


A rotura frágil é típica de rochas a baixas pressões confinantes e baixas temperaturas,
correspondentes portanto às condições superficiais ou próximas da superfície da crosta.

Na gama de temperaturas - pressões existentes através da maior parte da crosta (isto é,


pressões confinantes entre 0,1 e 3 Kilobares e temperaturas entre 100° C e 500° C) a maioria das
rochas mostram pelo menos algum comportamento dúctil antes de atingir a rotura. A tensão de
cedência, o valor critico de tensão diferencial necessária para que se inicie o comportamento dúctil, é
bastante elevada na maioria das rochas o que, de facto, inibiria qualquer comportamento dúctil
sob.condições superficiais. Contudo, este valor da tensão de cedência é drasticamente reduzido pela
pressão de fluidos intersticiais, particularmente a altas temperaturas e, ainda mais importante, se
reduzirmos a taxa de deformação para valores geologicamente apropriados, da ordem dos 10-14 por
segundo.

Assim sendo, atendendo ás condições físicas que são de esperar a uma certa profundidade
da crosta e considerando ainda tensões actuando ao longo de milhões de anos, a grande maioria das
rochas nestes domínios apresentam comportamento dúctil, tão familiar aos geólogos que estudam as
rochas dos terrenos metamórficos.

As mesmas rochas, sob tensões mais elevadas e sujeitas a taxas de deformação muito mais
rápidas vão, contudo, fracturar e produzir sismos.

8.11. Mecanismos de deformação das rochas


Uma vez que as rochas consistem em agregados de cristais e grãos individuais,
normalmente de várias espécies minerais diferentes, a forma como se deformam depende em parte
das propriedades dos próprios cristais e em parte da textura da rocha no seu conjunto.

Uma rocha ígnea com uma textura cristalina bem desenvolvida será claramente mais
resistente do que um arenito com um cimento carbonatado fraco e mais forte do que uma rocha
cortada por várias fracturas planares penetrativas, independentemente da natureza dos minerais
presentes.

Estudando o fabric microscópico das rochas deformadas é possível aprender bastante


quanto aos mecanismos de deformação das rochas e é possível, em casos favoráveis, reconstituir
detalhadamente as sucessivas modificações nas formas e interrelações dos cristais constituintes da
rocha que conduziram à sua forma final deformada.

8-9
As propriedades puramente elásticas de uma rocha são-lhe conferidas pela distorção elástica
da malha de cristais individuais. Quando a malha é submetida a uma tensão diferencial, o
espaçamento entre átomos é ligeiramente modificado numa quantidade proporcional à magnitude da
tensão e que depende igualmente das forças de ligação entre os átomos - o que, por sua vez, é uma
propriedade característica do cristal e, por isso, de cada rocha. Este mecanismo é responsável pelo
primeiro estádio de deformação elástica da curva típica de deformação do tipo "creep".

A deformação permanente produz-se por vários mecanismos de deslizamento e


microfracturação, tais como deslizamentos na malha, geminação mecânica e deslocamentos
intergranulares, e é frequentemente acompanhada por alguma recristalização. Estes processos são
irreversíveis e, a níveis apropriados de tensão e condições físicas adequadas podem originar fluência
viscosa uniforme - correspondente ao 2° estádio de deformação da curva de "creep".

A fluência viscosa acelerada é causada fundamentalmente pela propagação de


microfracturas e planos de escorregamento no interior das rochas, de tal forma que estes se podem
juntar e formar fendas penetrativas contínuas que provocam a-perda de coesão do material e sua
consequente rotura.

A importância relativa dos deslocamentos ao longo de planos de escorregamento e da


recristalização na produção da fluência viscosa controlada, em primeiro lugar, pela composição da
rocha, temperatura e presença de fluidos intersticiais.

A deformação a baixas temperaturas envolve fundamentalmente deslocamentos .relativos


dos grãos individuais que sofrem fracturação e granulação mecânica. Este processo é conhecido por
cataclase e produz um fabric cataclástico. O desenvolvimento de distorções no interior dos cristais
por flexão, desligamentos maclados e processos similares, sem microfracturação, chama-se "cold
working" ou endurecimento a frio e confere à rocha maior resistência à fracturação.

Fabrics deformados produzidos por cataclase e "cold working" podem ser removidos a altas
temperaturas por recristalização. Formam-se então novos grãos não deformados e normalmente
poligonais a partir dos grãos originais deformados que podem eventualmente ser completamente
substituídos. Este processo de "encobrimento" da deformação chama-se Poligonização "annealing"
ou "hot working".

O comportamento das rochas da crosta abaixo dos lQ-15 Km de profundidade e também das
rochas do manto superior, é largamente controlado por fluência viscosa a taxas muito baixas de
deformação, originando um ciclo progressivo e contínuo de distorções e recristalização ("annealing").

Sob tais condições a taxa de deformação é controlada apenas pela viscosidade efectiva do
material e pela magnitude da tensão diferencial.

BIBLIOGRAFIA
Davies, G. H. (1984) - Structural Geology of Rocks and Regions. John Wiley & Sons., New York, 492
pp.

Hobbs, B. E; Means, W. D & Williams, P. F. (1976) - An Outline of Structural Geology. John Wiley &
Sons, New York, 571p.

Means, W. D. (1973) - Stress and Strain. Basic concepts of continuum mechanics for geologists.
Springer-Verlag.

Park, R. G. (1983) - Foundations of Structural Geology. Blackie- Chapman and Hall, London, 135pp.

Ramsay, J. G. (1967) - Folding and Fracturing of rocks. Mc Graw-Hill, New York, 568pp.

8 - 10
9 - MECANISMOS DE FRACTURAÇÃO

Depois de termos analisado a morfologia das falhas no capítulo 1 vamos agora discutir alguns
mecanismos de falhamento ou geração de falhas e as relações dinâmicas entre falhas e campos de
tensão.

9.1 Tensão cisalhante e rotura frágil

Condições para a rotura frágil.

Quando um determinado material fractura durante um processo de deformação dentro do seu


campo de comportamento elástico, diz-se que tem rotura frágil.

As condições de tensão no ponto de rotura constituem o critério de tensão de resistência


frágil. Este critério inclui tanto a tensão cisalhante exercida ao longo da fractura como a pressão
confinante (de natureza hidrostática e que se traduz por uma tensão normal) exercida sobre os
materiais geológicos em profundidade e varia com a composição das rochas, com a temperatura, etc.

Se considerarmos os ensaios experimentais, verifica-se que quando as rochas são


submetidas a compressões, fracturam segundo dois conjuntos de planos de cisalhamento. Estas
duas famílias de planos conjugados intersectam-se segundo uma linha recta que é paralela ao eixo
de tensão intermédia σ2 (modelo de fracturação bi-dimensional de Anderson, 1951) (Fig. 9.1).

Fig. 9.1 - Relação entre planos de cisalhamento conjugados e eixos principais de tensão. A, os
cisalhamentos conjugados intersectam-se segundo σ2 e fazem entre si um ângulo agudo
bissectado pela compressão principal; B, corte segundo o plano perpendicular a σ2 : 2α+β =
90º (Park, 1983).

Verifica-se ainda que o ângulo agudo entre eles é bissectado pelo eixo principal de tensão
compressiva, que neste capítulo vamos de novo considerar como σ1. Assim sendo, os planos pelos
quais se produz na natureza a rotura não correspondem aos planos de tensão cisalhante máxima
deduzidos teoricamente em capítulo anterior e que, como vimos, faziam com σ1ângulos de 45º.

Se chamarmos 2α ao ângulo entre os dois planos de cisalhamento produzidos nas rochas,


então a diferença entre este ângulo e o ângulo teórico previsto entre os planos de máxima tensão
cisalhante é

β = 90º - 2α (Fig. 9.1, B).

O ângulo β representa o ângulo de atrito interno do material e varia para diferentes estados
de tensão.

9-1
Envolvente de Mohr.

O diagrama da Fig. 9.2 A é uma das formas mais convenientes de representar as relações a
duas dimensões entre a tensão cisalhante, a pressão confinante (tensão normal) e a tensão
diferencial σ1-σ3 e o ângulo de rotura, no ponto em que esta ocorre. É, como sabemos, um diagrama
de Mohr para análise da Tensão(1).

Cada estado de tensão é representado por um círculo com centro [(σ1+σ3)/2] e raio [(σ1-σ3)
/2] que intersecta o eixo dos σ em dois pontos para os quais a ordenada é nula (γ=0) e que são σ1 e
σ3, as tensões normais principais.

Se os valores das tensões principais σ1 e σ3 no momento da rotura estiverem representados


pelo círculo da Fig. 9.2A e o ângulo entre os planos de fractura for 2α, as condições de tensão no
plano de rotura estão representadas pelas coordenadas do ponto X. Nesse caso, a tensão cisalhante
respectiva, γr, é dada por:

γr = [(σ1-σ3)/2] cos β (9.1)

de acordo com a equação 6.4 [ γ = (σ1-σ2)/2 sen 2θ é a tensão cisalhante em qualquer plano de um
corpo sujeito a tensões σ1 e σ2 e que faz com σ1 um ângulo de θ], e uma vez que β = (90º-2α).

β é o ângulo que faz com a horizontal a tangente ao círculo no ponto X, representando o


ângulo de atrito interno do material. A pressão confinante no ponto de rotura é dada por

P = (σ1+σ3)/2 (9.2)

e a tensão normal actuante no plano de fractura é dada por

σ = (σ1+σ3)/2 + [ (σ1-σ3) /2] sen β como se deduz da eq. 6.3.

Fazendo variar as condições de tensão para que se produza rotura, obtém-se um diagrama
como o representado na Fig. 9.2 B onde estão desenhados vários círculos, cada um deles
representando um estado de tensão particular (ou seja, determinados valores de σ1 e σ3), para os
quais ocorre a rotura num determinado tipo de material rochoso.

A curva que une os pontos de rotura para os diferentes estados de tensão é a chamada
Envolvente de Mohr e delimita o campo da estabilidade dos materiais à tensão (ao qual corresponde
deformação sem rotura frágil), do respectivo campo de instabilidade: aquele onde ocorre a rotura
frágil do material.

Esta curva ilustra o princípio geral segundo o qual o valor da tensão cisalhante γ necessário
para que ocorra a rotura aumenta com a intensidade das tensões principais σ1 e σ3 e, portanto, com a
pressão confinante. Isto significa que é mais difícil produzir rotura em profundidade na crosta do que
próximo da superfície pois aqui a tensão cisalhante necessária para produzir uma falha é muito
menor. A forma da envolvente, abrindo para o lado das compressões crescentes, mostra ainda que
os materiais são mais resistentes a esforços compressivos que a tracções ou, por outras palavras, em
regime distensivo bastam pequenos valores das tensões principais para que se produzam falhas
(enquanto que, em regime compressivo, são necessários elevados valores da tensão diferencial σ1-
σ3 para produzir o mesmo efeito).

(1) Convém notar que o ângulo a entre cada plano de cisalhamento conjugado e a direcção da compressão
principal (σ1) é igual ao ângulo entre qualquer das normais aos dois planos de cisalhamento e a direcção da
compressão mínima, ou tracção principal (σ3). É o dobro deste último ângulo (2α) que está representado no
Diagrama de Mohr da Fig. 9.2 A. Ou, por outras palavras, do diagrama se verifica que a direcção da mínima
compressão (da tracção) bissecta o ângulo agudo entre as normais aos planos de cisalhamento conjugados
e, simultaneamente, bissecta o ângulo obtuso entre os planos de cisalhamento (ver DAVIS, G.H., 1984,
Structural Geology of rocks and regions, J. Wiley & Sons, pp. 306-309.)

9-2
Fig. 9.2 - Diagrama de Mohr para as tensões: critérios de rotura a duas dimensões. A, Condições de
tensão durante a rotura numa fractura cisalhante que faz com σ1 um ângulo α; B, Envolvente
de Mohr para diferentes estados de tensão do mesmo material; C, Envolvente de Mohr definida
experimentalmente para um mármore; D, idem para um dolerito; E, Efeito da pressão de fluidos
no estado de tensão do material e, consequentemente, na ocorrência de rotura frágil (Park,
1983).

Do diagrama verifica-se ainda que no domínio das tensões de tracção os planos de fractura
cisalhante produzidos pela rotura do material fazem com σ1 ângulos mais pequenos (β é maior) e que
o valor de σ para o qual a tensão cisalhante é nula representa a resistência do material à tracção.

A composição da rocha tem um efeito notável na forma das envolventes de Mohr (ou
envolventes de rotura). As Figs. 9.2 C e D mostram exemplos de envolventes determinadas
experimentalmente para um mármore e uma diabase (dolerito). É de assinalar que a resistência ao
cisalhamento da diabase aumenta mais rapidamente com o aumento das tensões compressivas, do
que no caso do mármore.

Critérios de rotura

A tensão cisalhante γ que actua ao longo do plano de fractura de modo a produzir a rotura é
contrariada pela tensão compressiva normal σ que actua através do mesmo plano de fractura e que
por isso tende a fechar a abertura evitando a rotura. A relação mais simples entre estas tensões
cisalhante e normal actuando no plano de fractura é dada por

γ = c + µσ (9.4)

onde c e µ são constantes. Esta relação expressa o Critério de rotura de Navier-Coulomb e


corresponde a uma envolvente de Mohr recta, com um declive igual a µ. µ é o coeficiente de atrito
interno do material e é igual à tangente de β; c é a coesão do material.

9-3
Contudo, verifica-se que muito poucos materiais se comportam de acordo com este critério e
uma interpretação mais completa e realista da rotura é dada pelo Critério de rotura de Griffith,
baseado na sugestão de que a rotura ocorre da propagação e consequente junção de microfendas
produzidas no material (a nível atómico), chamadas as fendas de Griffith ("Griffith cracks").

Este conceito opõe-se ao inerente ao Critério de Navier-Coulomb uma vez que aqui se admite
que a rotura é elástica e portanto instantânea ao longo de todo o comprimento da fractura.

Segundo Griffith, há concentração de tensões nas extremidades das microfendas as quais se


propagam espontaneamente a partir de uma determinada tensão crítica. Este conceito conduz à
relação:

γ2 = 4σt (σt + σ) (9.5)

onde σt é a resistência do material à tracção (e portanto um valor negativo).

Esta curva dá uma envolvente de Mohr parabólica o que significa que β é um ângulo grande
para baixos valores de pressão confinante (ou tensões compressivas baixas) e baixo para valores de
pressão confinante elevados, em vez de ser um valor constante como previsto no critério de Navier-
Coulomb e corresponde com bastante aproximação à maioria das curvas de rotura definidas
experimentalmente (por exemplo, Figs. 9.2C e D).

Este critério é também um critério a duas dimensões, assumindo que σ2=σ3. Contudo, na
maioria dos casos os estados de tensão não são de tensão plana e, por isso, σ1>σ2>σ3 e assim o
valor de σ2 tem alguma influência no critério de rotura. A equação anterior pode então ser modificada
para condições tridimensionais de tensão:

γoct2 = 8σtP (9.6)

onde P é a pressão confinante (hidrostática), igual a (σ1+σ2+σ3)/3 e γoct a tensão cisalhante


tridimensional tal que

γoct2 = [(σ1-σ2)2 + (σ2-σ3)2 + (σ3-σ1)2)] / 9 (9.7)

Este é conhecido como o critério de rotura de Griffith-Murnell e é considerado uma boa


aproximação do comportamento das rochas que atingem rotura a baixas pressões confinantes.

Sob condições de elevada pressão confinante, onde as microfendas teriam tendência a ser
fechadas pelas tensões normais mais elevadas, parece que o critério de Coulomb constitui uma
aproximação mais correcta. Modernos ensaios conduziram à formulação da teoria tridimensional da
fracturação (Reeches, 1983; Reeches & Dietrich, 1983, 1985), um modelo matemático bastante
complicado onde todos os parâmetros em jogo são devidamente considerados. Reeches demostra
que o Critério de Navier-Coulomb (e todos os critérios bi-dimensionais de rotura) é um caso particular
da sua teoria, que é mais geral.

Efeito da Pressão dos fluidos intersticiais.

Como vimos no capítulo 8.8 o efeito da pressão dos fluidos consiste na redução da pressão
confinante efectiva para um valor

Pe = P - Pf

onde Pf é a pressão dos fluidos.

Nas rochas saturadas, em que Pf é quase igual a P, o valor da tensão cisalhante no ponto de
rotura atinge valores muito baixos, o que prova que os grandes acidentes podem ser facilitados pela
presença de fluidos que vão, por isso. ter uma acção lubrificante em relação ao movimento nessas
falhas.

9-4
Este efeito da pressão de fluidos pode ser representado no critério de Navier-Coulomb,
modificando-o da seguinte maneira:

γ = c + µ(σ - Pf) (9.4)

o que dá uma redução do valor de γ necessário para que a rotura se produza, para valores elevados
de µPf).

Este mesmo efeito pode ser evidenciado no diagrama de Mohr deslocando o círculo para a
esquerda de uma quantidade equivalente a Pf) (Fig. 9.2 E).

Se o valor de Pf) for suficientemente elevado o círculo intersecta a envolvente de Mohr e


então produz-se a rotura, embora a intensidade das tensões principais seja demasiado elevada e a
da correspondente tensão cisalhante γ seja demasiado baixa para produzirem a rotura numa rocha
seca (sem fluidos).

9.2 Orientação das falhas em relação aos eixos principais de tensão

Independentemente do critério de rotura que se considere a relação entre a orientação das


falhas e a dos eixos principais de tensão responsáveis pela rotura é sempre a mesma e bastante
simples; como vimos no diagrama de Mohr, σ1, a máxima compressão, bissecta o ângulo agudo entre
os dois sistemas de cisalhamento conjugados produzidos (Fig. 9.1). Esta relação pode ser utilizada
para, em certos casos, descobrir a orientação do campo de tensões responsável por um determinado
episódio de rotura frágil. Com todas as aproximações que naturais inhomogeneidades das rochas da
crosta possam aconselhar, os critérios expostos anteriormente constituem boas aproximações aos
casos reais, desde que não haja fracturas pré-existentes no material deformado naquele episódio de
rotura.

Uma vez que podemos assumir que as tensões cisalhantes ao longo da superfície da Terra
são nulas, podemos considerar um dos três eixos principais de tensão como aproximadamente
vertical e os dois restantes como horizontais. Deste modo, dependendo das posições relativas da
compressão máxima e mínima, é possível analisar as relações entre os três tipos fundamentais de
sistemas de falhas e respectivos campos de tensão (Fig. 9.3).

Sistemas de falhas normais (Fig. 9.3A)

Neste caso a máxima compressão é vertical e corresponde sobretudo à carga gravítica. As


duas famílias conjugadas intersectam-se segundo σ2 e têm ângulos de inclinação superiores a 45º.

Os valores típicos para o ângulo α (o ângulo entre o plano de falha e σ1) são da ordem dos
25º-30º. 0 sentido do deslocamento ao longo destes planos de falha produz encurtamento no bloco
paralelo a σ1 (encurtamento vertical) e extensão paralelamente a σ3 (Fig. 9.4). Assim sendo, o eixo
principal de deformação X é paralelo a σ3, o eixo Z é paralelo a σ1 e Y sendo paralelo a σ2 é uma
direcção ao longo da qual não há alterações (deformação plana).

Sistemas de falhas inversas (Fig. 9.3 B)

Neste caso a compressão máxima está horizontal e σ3 vertical (distensão). As duas famílias
de falhas conjugadas intersectam-se segundo uma linha horizontal paralela a σ2 e os seus planos têm
inclinações inferiores a 45º. Em falhas inversas os valores típicos para o ângulo α são da ordem dos
20º-25º. De acordo com o deslocamento observado, produz-se encurtamento crustal segundo uma
direcção horizontal paralela a σ1 e extensão na vertical. Convém salientar que em regiões afectadas
por falhas inversas em larga escala raramente se produzem sistemas conjugados com as relações de
simetria representadas nesta figura. Normalmente a sua distribuição é fortemente assimétrica com
uma família dominante, indicando a vergência da deformação (ver Cap. 12 - Associações Estruturais,
sistemas de falhas cavalgantes). Não estando envolvidos fluidos sob pressão, os sistemas de falhas
inversas ou cavalgantes formam-se mais facilmente nas zonas superficiais da crosta terrestre, onde a
carga litostática é fraca.

9-5
Fig. 9.3 - Falhas e campos de tensão associados. A, falhas normais; B, f. inversas; C, desligamentos.
Os estereogramas representam uma secção horizontal e os diagramas de deformação uma
secção vertical (Park,1983).

Sistemas de desligamento (Fig. 9.3 C)

Neste caso as duas tensões principais responsáveis pela rotura (σ1 e σ3) estão ambas
horizontais e, sendo assim, as duas famílias conjugadas intersectam-se segundo uma recta vertical
paralela a σ2 como nos casos anteriores. Os dois planos são subverticais e os valores típicos para o
ângulo a são da ordem dos 30º. Do deslocamento observado verifica-se que se produz encurtamento
na horizontal, paralelo à direcção de σ1, e alongamento também na horizontal ao longo da direcção
de σ3.

9-6
Fig. 9.4 - Encurtamento e alongamento produzido num bloco em consequência de deslocamentos ao
longo de um sistema conjugado de falhas normais (Park, 1983).

Falhamento em corpos não homogéneos

Numa situação natural, onde campos de tensão são aplicados a corpos rochosos contendo
litologias diferentes e descontinuidades planares com orientações variáveis, as relações enunciadas
anteriormente não se aplicam. A existência de um plano de fraqueza (uma fractura anterior, por
exemplo) com uma orientação qualquer em relação a σ1, pode ser o suficiente para que haja
movimentação preferencialmente nesse plano, em vez de se formarem novos planos de rotura - as
duas famílias de planos conjugados, fazendo entre si e com a máxima compressão os ângulos
teoricamente previsíveis.

Onde existem famílias de falhas conjugadas, a orientação dos eixos principais de tensão
pode ser determinada assumindo que elas se intersectam segundo σ2 e que σ1 bissecta o ângulo
agudo entre os planos conjugados, mesmo quando há uma certa gama de variações de atitudes dos
planos de falhas.

Quando, contudo, não se formam famílias de acidentes conjugados e há várias gamas de


atitudes, qualquer falha individual pode fazer um ângulo com os três eixos principais de tensão. Neste
caso, a direcção de deslocamento no plano de falha depende da orientação e da intensidade relativa
das três tensões principais e não pode ser interpretada simplesmente.

Quando o sentido de deslocamento é conhecido num número de planos de orientações


variadas, é muitas vezes possível encontrar as posições aproximadas dos eixos principais de tensão.

Fig. 9.5 - Determinação das direcções aproximadas dos eixos principais de tensão, conhecidas as
atitudes das falhas e respectivos movimentos: (A) desligamentos direitos e esquerdos; (B)
falhas normais e falhas inversas (Park, 1983).

9-7
Utiliza-se a projecção estereográfica, representando os polos de todos os planos de falha e
indicando o tipo de movimento observado. Procuram-se depois os planos (planos principais de
tensão) que separam os domínios de diferente sentido de deslocamento, planos que devem ser
perpendiculares entre si: σ2 está na intersecção e σ1 e σ3 definem-se a partir da posição mais
adequada para explicar os movimentos observados. (Fig. 9.5).

Trajectórias de tensão e orientação das falhas.

A relação simples entre a orientação dos eixos de tensão e o plano horizontal é verdadeira
próximo da superfície mas, em profundidade, uma variedade de factores origina variações na
orientação dos eixos de tensão o que por sua vez se reflecte na variação da orientação dos planos de
falha.

Em circunstâncias favoráveis é possível usar estas variações para desenhar trajectórias de


tensão que mostram a variação na orientação das tensões, o que pode então ser relacionado com os
modelos teóricos.

A Fig. 9.6 mostra um exemplo teórico de um conjunto de trajectórias de tensão resultantes de


um arqueamento elástico e bem assim a distribuição das correspondentes falhas normais.

Fig. 9.6 - Trajectórias de tensão e orientação das falhas normais resultantes de um encurvamento
elástico a duas dimensões. As falhas estão representadas a tracejado (Park, 1983).

Fig. 9.7 - Variação do ângulo de inclinação de uma falha em consequência do aumento da pressão
confinante. O ângulo que a falha faz com a vertical ["hade", aqui representado por α, varia de
0º no ponto 1 (tracção pura sem tensão cisalhante) até cerca de 30º no ponto 3, no interior de
um campo compressivo. Compare com o diagrama de Mohr da Fig. 9.2 (Park, 1983).

Isto sugere que as falhas curvas em profundidade são explicadas pela variação na orientação
das tensões principais mas é bom não esquecer que com a profundidade aumenta a pressão
confinante o que modifica o ângulo α a que ocorre a rotura (tende a diminuir), o que é particularmente
visível quando se sai do domínio da tracção e se entra no domínio da compressão (Fig. 9.7).

9-8
9.3 Falhas e sismos

Geração e propagação das falhas

Quando uma rocha frágil é submetida à compressão, alguns efeitos de deformação ocorrem
antes da rotura. Estas modificações são importantes para a previsão de sismos.

A tensão inicial é elástica mas quando a tensão cisalhante atinge um valor de cerca de
metade da resistência ao cisalhamento, a rocha começa a mostrar alguma deformação permanente
devido à abertura e propagação de pequenas fendas na região de maior deformação e na qual
eventualmente se formará e desenvolverá a falha.

A intensidade desta microfracturação aumenta à medida que os valores das tensões


acumuladas se aproximam da resistência ao cisalhamento. A abertura das fendas produz um
aumento de volume ou dilatação na rocha a que se associa um aumento no conteúdo em fluidos,
devido à migração da água subterrânea para as fendas. O aumento na pressão dos fluidos
intersticiais tem um efeito relevante no enfraquecimento da rocha (como aliás já foi analisado).

A taxa de propagação das microfracturas é o factor crítico para a determinação da taxa de


deformação e, por sua vez, o tempo necessário para que a falha se produza (o mesmo é dizer, o
momento em que ocorrerá o correspondente sismo).

A influência da pressão dos fluidos na taxa de deformação conduziu a experiências onde o


nível de actividade sísmica foi artificialmente aumentado a partir da bombagem e injecção de água
numa zona de falha (Colorado, U.S.A.). Concluiu-se que sismos de grande magnitude e
potencialmente destruidores podem ser evitados, gerando sismos de menor magnitude por este
método, o que conduz a libertações de energia mais seguras e controladas.

Identificação de sismos que estão para ocorrer.

Há várias estruturas associadas às modificações anteriormente mencionadas e que podem


ser utilizadas na previsão de sismos. A dilatação da rocha é acompanhada por um decréscimo na
velocidade das ondas sísmicas P e também por um levantamento ("uplift") do solo em torno da zona
de falha. Tem-se também referenciado um aumento na quantidade de Rádon (um gás inerte) na
atmosfera, presumivelmente devido à sua libertação durante o processo de microfracturação.

O aumento na pressão de fluidos provoca um aumento na resistividade eléctrica, que pode


ser facilmente medida. Todas estas modificações se invertem no período de rápida deformação que
conduz ao sismo.

Finalmente, todos os grandes sismos parecem ser precedidos por um certo número de
pequenos abalos que aumentam de frequência imediatamente antes do sismo principal.

Mecanismos de movimento nas falhas

A partir do momento em que se produz rotura e um plano de falha é gerado, ulteriores efeitos
de deformação são da forma quer de movimentos muito rápidos ("slip") ao longo do plano de falha,
quer de movimentos bastante lentos, comparáveis à deformação por microfracturação prévia.

O primeiro tipo de movimentos são sísmicos, com taxas de deslocamento da ordem dos
metros por segundo, enquanto os últimos são assísmicos, com velocidades da ordem de centímetros
por ano - semelhantes a outros movimentos crustais não sísmicos.

Apenas uma secção limitada de uma grande falha tomará parte num episódio particular de
deslocamento sísmico e este deslocamento amortece-se gradualmente para ambas as extremidades
dessa secção, para as zonas de movimento não sísmico (Fig. 9.8).

Qualquer secção de um plano de falha exibirá portanto, curtos períodos de rápido


deslocamento sísmico, separados por longos períodos de inactividade. Este comportamento é
conhecido como "stick-slip" ou movimentos às sacadas, e é típico da zona crustal entre os 4 Km e os
10 Km de profundidade, onde ocorre a maioria dos focos de sismos gerados em falhas.

9-9
Acima dos 4 Km, ocorrem escorregamentos estáveis ("sliding") uma vez que a tensão
compressiva ao longo do plano de falha é baixa.

Abaixo dos 10 Km, devido ao aumento da pressão confinante há uma transição para formas
de deformação mais dúcteis.

Fig. 9.8 - Substituição lateral do deslizamento sísmico por deformação assísmica (Park, 1983).

Campos de tensão secundários.

O processo de falhamento, pela libertação local de tensões na zona deformada e pela


movimentação lateral dos blocos rochosos ao longo do plano de falha, causa modificações no campo
de tensão à volta da região activa o que pode, por sua vez, influenciar posteriores movimentos na
falha.

Fig. 9.9 - Trajectórias de tensão em torno da extremidade de uma falha. (A) trajectórias iniciais (σ1, σ3)
e tensões secundárias (σ1', σ3') resultantes do movimento ao longo do plano de falha; (B) a
combinação dos dois campos de tensão produz um novo conjunto de trajectórias de tensão
(Park, 1983).

9 - 10
Os campos de tensão secundários são particularmente importantes em torno da extremidade
de uma linha de deslocamento activo.

A Fig. 9.9 mostra um exemplo de como se pode gerar um novo conjunto de trajectórias de
tensão por sobreposição de novas tensões de compressão ( σ1') e de tracção ( σ3') paralelas à falha e
oblíquas ao conjunto das tensões existentes antes da rotura.

Na extremidade de um sector activo de uma falha formam-se frequentemente con9.10, e que


podem igualmente ser explicadas pela indução de campos de tensão secundários associados ao
movimento no plano de falha.

Solução dos mecanismos focais de sismos

A partir de um método chamado "estudo dos primeiros movimentos", é possível, em


condições favoráveis, determinar a orientação das falhas geradoras de um sismo e a direcção de
movimento ao longo delas.

Este método é particularmente útil na determinação da origem de sismos relacionados com


falhas, especialmente nos oceanos e provou ser muito importante no desenvolvimento da teoria da
tectónica de placas permitindo que sejam determinados os movimentos relativos das placas
litosféricas. (Fig. 9.10).

Fig. 9.10 - Mecanismos focais de um sismo: estudo dos primeiros movimentos. (A), desenha-se uma
esfera em torno do foco F de um sismo produzido por movimentação de um segmento de falha
activo (b-b'). O movimento de desligamento direito produz compressão e dilatação em
quadrantes opostos (B). As ondas P originadas nos quadrantes compressivos vão mostrar
primeiros movimentos compressivos à chegada à superfície às estações de registo S2 e S4 e
as originadas nos quadrantes distensivos vão mostrar primeiros movimentos distensivos ao
chegarem a S1 e S3. Se existirem estações suficientes podem definir-se as atitudes dos
planos que dividem os quadrantes. Se os deslocamentos forem oblíquos, utiliza-se o mesmo
método, inclinando a esfera para a orientação necessária (Park, 1983).

Se se produz um sismo por um deslocamento do tipo desligamento, ao longo de uma secção


de um plano de falha, o plano perpendicular ao vector deslocamento da falha, e a meio caminho ao
longo do sector deslocado (plano auxiliar) - em projecção estereográfica - dividirá as regiões de
compressão das regiões de tracção.

9 - 11
Estas regiões situar-se-ão em quadrantes opostos uma vez que o movimento é em direcções
opostas de cada lado do plano de falha.

O padrão de compressão e dilatação é preservado nas ondas sísmicas que são irradiadas
pela fonte sísmica e a fase da onda sísmica inicial recebida na estação registadora reflecte a sua
origem.

Assim sendo, se houver um número suficiente de estações sismográficas em diferentes


direcções a partir do foco sísmico, a orientação dos planos que dividem os quadrantes compressivos
e distensivos pode ser determinada.

Um desses planos é o plano de falha e o outro é o plano auxiliar. Não é possível, a partir do
estudo dos primeiros movimentos, apenas, determinar qual desses planos é a falha sismogénica mas,
se através do conhecimento da geologia local, uma das direcções se ajustar ao previsto, pode então
ser determinada a-atitude da falha geradora do sismo e o sentido do movimento nessa falha.

9.4 Interpretação cinemática e dinâmica de fracturas e veios

Nas fracturas (falhas e diaclases) há fendilhamento do material rochoso com perda da coesão
original. Frequentemente, a seguir à fracturação dá-se a cicatrização, parcial ou total, por introdução
de minerais secundários ou por recristalização dos minerais originais para formar veios.

Fig. 9.11 - Critérios para a identificação de veios dilatacionais e de substituição: (a) correspondência
entre as paredes (b) estrutura "Comb" com vazios; (c) deslocamento de estruturas planares
anteriores; (d) veios alargados em leitos com composição química favorável; (e) leitos
resistentes do ponto de vista químico são contínuos através do veio; (f) estruturas planares
anteriores não deslocadas (Hobbs, et al., 1976, p.292).

Nos veios dilatacionais o preenchimento ocupa o espaço entre duas superfícies de fractura
originais; houve pois abertura da fenda original (Fig. 9.11, a, b, c).

Nos veios com substituição o preenchimento ocupa espaço para fora das duas superfícies de
fractura originais; esse espaço foi originado por substituição da rocha original (Fig. 9.11, d, e, f).

9 - 12
O melhor critério para identificar os veios dilatacionais reside na verificação da
correspondência entre as paredes do veio. Frequentemente irregulares, o vector que une pontos
homólogos da mesma fractura agora afastados, permite determinar a direcção de abertura da
mesma, que pode ser oblíqua à parede de um veio planar.

BIBLIOGRAFIA

Anderson, E.M. (1951) - The Dynamics of Faulting and Dyke Formation. Oliver & Boyd, Edinburgh,
206pp..

Bolt, B. A. (1978) - Earthquakes, a Primer. Freeman & Co., S. Francisco.

Davies, G. H. (1984) - Structural Geology of Rocks and Regions. John Wiley & Sons, New York,
492pp.

Hobbs, B.E.; Means, W. D. & Williams P.F. (1976) - An Outline of Structural Geology. John Wiley &
Sons, New York, 571pp.

Park, R. G. (1983) - Foundations of structural geology. Blackie, Chapman and Hall, New York, 135pp.

Price, N. J. (1966) - Fault and Joint Development in Brittle and Semi-brittle rocks. Pergamon, New
York, 176pp.

Ramsay, J. G. (1967) - Folding and Fracturing of rocks. McGraw Hill Book Co, New York, 568pp.

Ramsay, J. G. & Huber, M. I. (1987) - The Techniques of modern structural geology, Vol 2: Folds and
Fractures. Academic Press, London, 403pp.

9 - 13
10 - DOBRAMENTO

10.1. Mecanismos de dobramento e geometria das dobras

Para explicar a formação das dobras têm sido propostos vários mecanismos. A diferença
fundamental entre estes mecanismos reside no facto de, para uns, (1) as camadas do material
rochoso responderem activamente às tensões compressivas aplicadas paralelamente às suas
superficies de estratificação, durante a formação da dobra; (2) enquanto para outros as camadas têm
uma resposta passiva, quer a modificações na forma, quer a modificações nas posições, produzidas
por movimentos externos às camadas e normalmente oblíquos a elas.

0 primeiro destes mecanisrnos pode ser ilustrado pela flexão de uma folha pouco espessa,
sob compressao lateral e, o segundo, pelo encurvamento gravítico de uma camada que está a
recobrir um bloco de soco afectado por falhas quando, por acção de rnovimentos tardios nessas
falhas ao nível do soco se produz uma depressão, ou um doma na cobertura (dobras de
revestimento) (Fig. 10.1).

Fig. 10.1 - (A) Flexão e (B) encurvamento passivo (Park, 1983).

Qualquer destes dois modelos é irrealista uma vez que ambos ignoram os efeilos resultantes
do material que compõe as camadas, da espessura das camadas, da espessura da sequência de
camadas-que vai ser dobrada e, ainda, da espessura relativa de leitos competentes e incompetentes
na sequência multiestratificada, factores que, na prática, têm um papel importante na definição da
geometria global da dobra produzida.

Flexão

ldealmente, numa dobra produzida por flexão sob compressão lateral de uma úinica camada,
esta mantém a espessura ao longo de toda a sua extensão, de tal forma que se produz uma dobra do
tipo paralela ou concêntrica (classe 1 B de Ramsay). A deformação que se desenvolve no interior da
camada corresponde a extensão produzida no arco externo e compressão no arco interno, separados
por uma superfície, sem deformação, aproximadamente no centro da camada, e que se designa por
superffcie neutra ou fibra neutra (Fig. 10.2).

A geometria das dobras produzidas por flexão é, contudo, um pouco mais complexa e será
discutida adiante.

Deslizamento flexural

Este processo envolve um deslizamento entre camadas numa sequência estratificada


dobrada por flexão (Fig. 10.2B). Este tipo de dobramento caracteriza a deformação de camadas
relativamente resistentes (competentes) intercaladas com outras de menor espessura e menos
resistentes à deformação (incompetentes). Diz-se neste caso que a estratificação é cinematicamente
activa durante o dobramento.

10 - 1
Fig. 10.2 - Mecanismos de dobramento. (A) Flexão, mostrando a distribuição da deformação no interior
da bancada; (B) Deslizamento flexural - estratificação cinematicamente activa, sem
deformação interna dos leitos; (C) Cisalhamento flexural, deformando os flancos da dobra
(perfil a aproximar-se da classe 1C); (D) Cisalhamento simples heterogéneo a produzir uma
dobra similar; (E) “Modelo do baralho de cartas” para exemplificar a formação de uma dobra
similar; (F) “Kinking” (variante do deslizamento flexural) (Park, 1983).

Cisalhamento flexural

Neste processo uma dobra flexural (concêntrica) modifica o seu perfil devido a cisalhamento
simples actuando paralelamente aos seus flancos, o que produz uma distribuição interna da
deformação de forma a que os eixos maiores das elipses de deformação finita são divergentes a
partir do núcleo da dobra (Fig. 10.2C).

Frequentemente este processo acompanha o deslizamento flexural e é, em parte, sua


consequência. Na grande maioria das dobras naturais produzidas por flexão é possível identificar a
intervenção conjunta dos processos acima descritos e aos quais correspondem dobras com perfil das
classes 1 B e 1 C, segundo a classiticação de Ramsay (ver Capitulo 3 - Dobras).

10 - 2
Cisalhamento oblíquo
Se os planos de cisalhamento simples forem oblíquos à estratificaçãs e a quantidade e a
direcção dos deslocamentos variar ao longo da sua extensão, a dobra produzida corresponde
geometricamente a uma rotação passiva da estratificação (Fig.10.2D).
Este processo designa-se habitualmente por cisalhamento simples heterogdneo e a
distribuição da deformação no interior das camadas é idêntica à produzida pelo cisalhamento flexural.
0 cisalhamento simples heterogéneo produz dobras similares (classe 2 de Ramsay), e pode ser
ilustrado utilizando um baralho de cartas e produzindo deslocamentos diferenciais entre as cartas, ao
longo das suas superfícies de contacto, de forma a produzir o perfil de uma dobra (Fig. 10.2E).

"Kinking"
Este processo produz um tipo muito particular de dobras, as dobras do tipo "kink-band" e as
dobras em chevron, cujas características principais estão no facto de apresentarem flancos rectos e
charneiras aguçadas.
A sua geometria é controlada pela rotação de segmentos de camadas que permanecem
planares entre os planos de kink onde se verificam rápidas variações na sua orientação (Fig. 10.2F).
Os flancos destas dobras sofrem deslizamento flexural e este processo é controlado pela
fluência dúctil do material que separa as camadas mais competentes e cinematicamente activas.
ldealmente o mecanismo de kinking produz dobras cujo perfil é sempre igual, embora quando
consideradas individualmente algumas camadas exibam geometria diferente (nas dobras em
chevron).
0 mecanismo de kinking produz-se sobretudo quando o material que está a ser dobrado exibe
elevada anisotropia, quer devido à presença de clivagem xistenta muito penetrativa (e nesse caso
produzem-se kinks do plano da foliação), quer devido à presença de uma sequência multiestratificada
muito regular, com planos de estratificação muito penetrativos separando leitos competentes de
espessura idêntica (e nesse caso formam-se dobras em chevron).

Modificações produzidas por achatamento homogéneo


Se aplicarmos um achatamento homogéneo a camadas dobradas, a sua geometria modifica-
se consideravelmente, mas se produzirmos dobras flexurais sobre camadas previamente afectadas
por achatamento homogéneo, o seu perfif final também difere bastante do das dobras flexurais
simples. Na Fig. 10.3 podemos observar a distribuição da deformação finita numa camada achatada
afectada posteriormente por dobramento flexural (A), e numa camada que sofreu dobramento flexural
e foi depois afectada por achatamento homogéneo (B).
O padrão global final resulta pois da sobreposição, pela ordem de aplicação, dos efeitos
produzidos pelo achatamento homogéneo e pelo dobramento flexural. Como se pode observar, a
ordem por que se aplicam as deformações não é comutativa; os resultados finais diferem bastante
entre si.

Diferenças na geometria

Cada um dos mecanismos descritos anteriormente produz dobras com caracterlsticas


geométricas bem distintas, como se viu (Fig. 10.2).
Essas diferenças conduzem a alguns testes geométricos de simples aplicação e que podem
ser feitos às estruturas dobradas que encontramos no campo, a fim de verificarmos a qual dos tipos
ideais mais se aproxima a sua geometria.
1º) A flexão pura produz dobras paralelas: há deformação plana com o eixo Y de deformação
paralelo ao eixo da dobra e com uma combinação de deformação distensiva e compressiva na zona
de charneira (conforme se trata do arco externo ou do arco interno de uma camada,
respectivamente). Uma lineação recta anterior ao dobramento existente na camada, torna-se curva
durante o dobramento e mantém um ângulo constante com o eixo da dobra se não houver
deformação sobre os flancos (Fig. 10.4A).

10 - 3
Fig. 10.3 - Elipses de deformação finita no interior de camadas dobradas produzidas por: (A)
dobramento de uma camada que sofreu previamente encurtamento; (B) sobreposição de
achatamento homogéneo após o dobramento flexural (Park, 1983).

2º) O cisalhamento flexural produz igualmente dobras paralelas com deformação plana, com
Y paraleio ao eixo das dobras. A distribuição das elipses de deformação finita define um leque
divergente dos planos XY, a partir do núcleo da dobra. No seu conjunto a geometria destas dobras
não se distingue da das anteriores: uma lineação anterior, depois de dobrada, faz ângulos constantes
com o eixo da dobra o que, depois de projectado estereograficamente, resulta num círculo menor
centrado em torno da projecção do eixo da dobra (Fig. 10.4A).

Fig. 10.4 – Reorientação de uma lineação após dobramento: (A) dobramento flexural, sem deformação
interna da camada; (B) dobramento similar produzido por cisalhamento simples heterogéneo
(Park, 1983).

3º) O cisalhamento simples heterogéneo produz dobras similares onde a espessura das
camadas medida paralelarnente ao plano de cisalharnento (coincidentes com o plano axial da dobra)
é constante. A espessura ortogonal das camadas varia sisternaticarnente, diminuindo nos flancos.
Este mecanismo produz do mesmo modo deformação plana mas, neste caso, a direcção de
cisalhamento pode não ser perpendicular ao eixo da dobra. Y é perpendicular à direcção de
cisalhamento e pode ser, ou não, paralelo ao eixo da dobra (Fig. 10.5). Uma lineação recta anterior é
distorcida de forma sistemática, rodando em direcção à direcção de cisalhamento. Após o
dobramento, a lineação fica contida num plano definido pela sua direcção original e pela direcção de
cisalhamento, ou seja, corresponde a uma distribuição em círculo máximo numa projecção
estereográfica (Fig. 10.4B).

10 - 4
10.2. Flexão
O termo flexão utiliza-se para descrever o mecanismo que produz dobras com forma
aproximadamente sinusóidal ou, pelo menos, com variações suaves de curvatura, a partir de uma
compressão aplicada paralelamente à superfície de estratificação de uma camada. As dobras que se
formam por este processo têm formas da classe 1 de Ramsay e, normalmente, aproximam-se
bastante da classe 1 B (dobras isopacas). Tanto os estudos teóricos como os experimentais mostram
que as dobras flexurais se formam em camadas relativamente competentes, imersas numa matriz
mais dúctil (incompetente), e que há um certo valor limite para o contraste de viscosidade entre a
camada e a matriz, abaixo do qual não se pode produzir flexão (todo o encurtamento se produz por
achatamento homogéneo).

Fig. 10. 5 - Dobra produzida por cisalhamento


simples oblíquo, mostrando o plano de
cisalhamento e a direcção de cisalhamento. O
eixo da dobra neste caso é oblíquo a Y (eixo
cinemático) (Park, 1983).

Controlo no comprimento de onda das camadas

A maioria das sequências sedimentares dobradas por flexão exibem um comprimento de


onda dominante que parece ser característico de uma camada em particular e pode ser diferente do
de outras camadas na mesma rocha. Dois factores controlam o comprimento de onda das dobras: a
espessura da camada e o contraste de viscosidade entre a camada e a “matriz” (camadas
envolventes). A relação entre a espessura das camadas e o seu comprimento de onda pode ser
facilmente demonstrada pelo estudo de dobras em camadas da mesma composição mas com
espessuras diferentes, imersas numa matriz de composição constante (Fig. 10.6 A,B).

As camadas têm que estar suficientemente afastadas para que não haja interferência entre as
dobras produzidas. Se as camadas estiverem mais próximas, verifica-se que pode produzir-se um
comprimento de onda mais largo sobrepondo-se a outras dobras de menor comprimento de onda,
como se observa na Fig. 10.6C. Se a flexão afectar camadas de diferentes viscosidades, produzem-
se formas mais complexas (Fig. 10.6D) e de interpretação mais difícil. A flexão de camadas de
diferentes espessuras ou propriedades reológicas é uma das causas mais comuns de dobramento
desarmónico.

Flexão de uma interface

O dobramento flexural pode igualmente afectar a interface planar entre materiais de


viscosidades muito contrastantes. Quando isto acontece, as dobras que se produzem têm uma forma
muito característica - os antiformas são suavemente arredondados enquanto os sinformas são
bastante estreitos e apertados; trata-se das dobras em cúspide (Fig. 10.6E). As charneiras
pontiagudas apontam sempre para o material de viscosidade mais elevada. Frequentemente, as
estruturas em “mullion" de que falámos no Capítulo 3 têm origem nesta situação.

10 - 5
Fig. 10.6 - lnfluência da espessura das camadas e do contraste de viscosidade no comprimento de
onda das dobras flexurais. (A e B) existe uma relação linear entre o logarítmo da espessura e o
logarítmo do comprimento de anda de dobras flexurais para camadas bem separadas e de
viscosidade constante; (C) comprimentos de onda diferentes devido a interferência por
proximidade das camadas; (D) dobramentos desarmónicos em níveis de diferentes espessuras
e diferentes viscosidades (µ6 - matriz - é a viscosidade mais baixa; µ1 a µ5 são viscosidades
crescentes) (Park, 1983).

Encurtamento paralelo à estratificação nas camadas dobradas por flexão

A comparação entre os comprimentos de camadas dobradas com diferentes comprimentos


de onda permite-nos estimar o encurtamento homogéneo paralelamente à estratificação sofrido por
essas camadas antes do seu dobramento. A figura 10.7 mostra um exemplo de três camadas onde
os comprimentos actuais (depois de desdobrados) são significativamente diferentes. A camada 1,
devido à sua maior espessura e muito menor viscosidade, não chegou a dobrar. A quantidade mínima
de encurtamento paralelo à estratificação é dada pela diferença entre os comprimentos das camadas
1 e 3, assumindo que esta última, mais viscosa e menos espessa, não sofreu qualquer encurtamento
homogéneo anterior ao dobramento. Assim, a comparação entre os comprimentos máximo e mínimo
depois de desdobradas as camadas pertencentes a uma sequência sedimentar afectada por
dobramento flexural, dá-nos uma estimativa do encurtamento verificado paralelamente à
estratificação.

10 - 6
Fig. 10.7 - Encurtamento paralelo à estratificação em dobras com diferentes comprimentos de onda. (A)
Desdobrando as camadas 1, 2 e 3, elas exibem comprimentos originais aparentes diferentes
devido a encurtamento homogéneo anterior à flexão; (B) diagramas mostrando os efeitos de
diferentes contrastes de viscosidade na percentagem relativa de encurtamento paralelo à
estratificação e flexão num encurtamento total de 63,2%. Razões de viscosidade: 1 (42,1); 2
(17,5), 3 (5,2) (Park, 1983).

De notar quo esta estimativa.é subestimada, uma vez que a camada cujo comprimento
denote menor encurtamento pode ela própria ter sido afectada numa quantidade indeterminável pois
não há outros elementos de referência.

De qualquer forma, este procedimento auxilia a interpretação da distribuição da deformação


finita no interior das bancadas dobradas (ver Fig. 10.3A).

Voltando ao exemplo da Fig. 10.7A, verifica-se que a camada 2 poderá ter sofrido
deformação homogénea anterior ao dobramento, enquanto a camada 3 pode não ter sido afectada
por essa deformação homogénea. A camada 1 poderá parecer não deformada, uma vez que não está
dobrada; no entanto, na ausência de marcadores internos, não é possivel avaliar o seu estado de
deformação finita.

Estudos teóricos têm sugerido que a quantidade de encurtamento sofrido por estas bancadas
está relacionada com contrastes de viscosidade, de tal modo que a relação encurtamento das
camadas por achatamento homogéneo / encurtamento por dobramento flexural, aumenta com a
diminuição do contraste de viscosidades (Fig. 10.7B). Se o contraste de viscosidades for baixo, não
ocorre dobramento e a camada deformar-se-á apenas por encurtamento homogéneo paralelo à
estratificação.

Porque o achatamento das camadas tem reflexos na sua espessura (tende a aumentá-la), a
relação já analisada entre o comprimento de onda dominate nas sequências dobradas e a espessura
das respectivas camadas deve ser modificada. À medida que a deformação decorre haverá uma
tendência para que se desenvolvam preferencialmente as dobras cuja razão espessura/comprimento
de onda seja mais elevada.

10 - 7
Achatamento produzido nas dobras paralelas

A deformação produzida pelo dobramento flexural pode ser calculada comparando os


comprimentos de uma bancada antes, e depois, de ser dobrada (assumindo que a deformação foi
conservativa da área e volume). O achatamento máximo atinge-se quando as dobras são
concêntricas (Fig. 10.8) e, neste caso, para uma camada com espessura t, o comprimento inicial da
camada é πt e o comprimento após dobramento é 2t. Assim sendo, o encurtamento é dado por:

e = (l0 – l1)/l0 = (πt – 2t)/ πt = (π - 2)/π = 0,36 (36%) (10.1)

Acima dos 36% o encurtamento pela deformação só pode ser obtido modificando o perfil da
dobra. Essa modificação consiste no achatamento dos flancos com consequente redução da sua
espessura e em extensão paralela ao plano axial, que produz espessamento na zona de charneira.
Assim se passa das dobras da classe 1 B (isopacas) para as dobras da classe 1 C, conhecidas como
dobras flexurais achatadas.

Fig. 10.8 - Encurtamento máximo numa dobra concêntrica (Ramsay, 1967).

Analisando em pormenor o modo como se sobrepõe o achatamento a uma dobra concêntrica,


pode ser bastante complexo mas, na maioria dos casos, o perfil produzido aproxima-se muito do
resultado obtido por acção de um achatamento homogéneo sobreposto a uma dobra flexural ideal
(Fig. 10.9). A continuação da deformação pode produzir, por ultra-achatamento, dobras similares, da
classe 2.

Fig. 10.9 - Sobreposigdo de achatamento homogéneo sobre uma dobra concêntrica (Park, 1983).

Deformação no interior e no exterior duma camada dobrada

A distribuição da deformação numa camada afectada por dobramento flexural depende do


mecanismo envolvido na sua geração (ver Fig. 10.2). A flexão, produzindo uma superfície neutra,
mostra uma concentração da deformação na zona de charneira, embora os flancos fiquem
praticamente indeformados. Este tipo de deformação, que mostra um arco externo que sofreu

10 - 8
extensão ao qual se contrapõe um arco interno quo sofreu encurtamento, designa-se por deformação
tangencial longitudinal uma vez que os eixos de deformacao são paralelos à estratificação (Fig.
10.10).

Fig. 10.10 - Distribuição da deformação numa dobra produzida por deformação tangencial longitudinal
(Park, 1983).

Devido a este tipo de deformação, produzem-se fendas de tracção paralelas ao eixo, no arco
externo, e cisalhamentos conjugados no arco interno da dobra.

Quando há algum deslizamento flexural (Fig. 10.2C) as elipses de deformação finita (e


qualquer fabric planar associado) têm uma disposição em leque divergente a partir do núcleo da
dobra.

Muitas sequências sedimentares são constituídas por alternâncias de bancadas com


contrastes de viscosidade, como por exemplo níveis areníticos intercalados em argilitos ou as
sequências de facies do tipo flysch (ex: Carbónico marinho da Zona Sul Portuguesa) (Fig. 10.11).
Quando deformados por compressão paralela à estratificação, os leitos mais competentes sofrem
flexão a produzem uma distribuição dos eixos principais de deformação em leque convergente para o
núcleo da dobra, uma vez que predominam, na fase inicial, os mecanismos de deformação tangencial
longitudinal. Contudo, os argilitos, mais dúcteis, deformam-se de modo bastante diverso. Se houver
uma banda estreita de argilito constrangida pelos movimentos das camadas competentes adjacentes,
ela exibirá cisalhamento flexural que produzirá, por sua vez, uma distribuição em leque divergente
(para o núcleo da dobra) dos eixos principais de deformação. Se os leitos de argilito forem mais
espessos, nas zonas onde não se faz já sentir a influência das camadas competentes a deformarem-
se por flexão, aqueles tenderão a deformar-se por achatamento homogéneo, produzindo elipses de
deforrnação finita com os eixos paralelos entre si e ao plano axial da dobra. Quando a rocha contém
um fabric planar penetrativo, como por exemplo uma clivagem xistenta paralela ao plano XY de
deformação, estas diferenças no padrão da distribuição das elipses de deformação finita são muito
fáceis de detectar.

A figura 10.11A/E mostra a variariação naatitude de uma clivagem xistenta nestas condições.
Tal alternância de leques de clivagem convergentes e divergentes representa a refracção da
clivagem, fenómeno a que corresponde uma variação na sua atitude e é produzido pela passagem da
clivagem de uns níveis para outros de composição diferente. Dentro dos níveis competentes, os
planos de clivagem são encurvados, desviando-se da sua atitude subparalela ao plano axial da dobra
para se tomarem subperpendiculares à superficie de estratificação. Normalmente este facto está
associado a variações nas propriedades físicas e é comum nos leitos onde há gradação (graded
bedding), nos quais se verifica que o grau de convergência diminui para o topo da camada, com a
diminuição da dimensao do grão. Esta característica pode ser utilizada como critério de polaridade
sedimentar, para distinguir no campo, os flancos normais dos flancos invertidos.

Em parte, o padrão de distribuição da clivagem xistenta em leques convergentes e


divergentes é reproduzido pela geometria das isógonas. Os leitos a, c, e e da figura 10.11 têm a
geometria da classe 1C e o leito b e as zonas periféricas da camada d têm a geometda da classe 3.
A região interna da camada d exibe geometria característica da classe 2. É interessante notar que,

10 - 9
apesar destas variações, no seu conjunto esta sequência multiestratificada pode ter uma geometria
global idêntica à da classe 2, o que permitiria que, nestas condições, o dobramento se prolongasse
por uma espessura indefinida de camadas.

Fig. 10.11 - Refracção da clivagem. Leques de clivagem xistenta convergentes e divergentes


alternantes, produzidos pelo dobramento de uma sequência estratificada alternada de
leitos competentes e incompetentes (Park, 1983).

10.3. Cisalhamento oblíquo ou dobramento por fluência


O mecanismo pelo qual se produzem dobras pela rotação passiva de uma camada sob o
efeito de cisalhamento simples oblíquo à estratificação é frequentemente designado por dobramento
por fluência, devido às analogias com o dobramento de níveis marcadores num líquido com fluência.
Se a direcção do cisalhamento for constante através da dobra, produz-se um perfil ideal de dobra
similar (classe 2). Para que se produza uma dobra, contudo, a quantidade de deslocamento
produzido pelo cisalhamento na camada tem que ser diferente ao longo desta; caso contrário, a
camada permanecerá plana. É por este motivo que a este mecanismo se chama cisalhamento
simples heterogéneo.

Para que se produzam dobras com o perfil típico da classe 2 é necessário que a estratificação
tenha um comportamento passivo durante o processo; se houver alguma componente de flexão, ou
seja, se as camadas encurvarem sob o efeito de compressões laterais, a geometria das dobras
produzidas corresponderá à da classe 1C, eventualmente aproximar-se-á bastante da
correspondente à classe 2, mas não será nunca, verdadeiramente, idêntica a esta.

Dobras do tipo similar (classe 2) geram-se apenas em rochas que durante a deformação
estavam em condições de elevada ductilidade, tipicarnente associadas a um grau metamórfico médio
a alto, embora rochas de muito baixa viscosidade (como o sal gema ou o gesso) se comportem do
mesmo modo, mesmo a baixas temperatures.

Outra condição essencial para que se produzam dobras similares é o contraste de


viscosidade entre camadas adjacentes ser baixo - estar abaixo do valor limite para que se possa
iniciar a flexão.

10 - 10
lnfluência do achatamento homogéneo

A imposição de uma deformação do tipo achatamento homogéneo em dobras similares


produzidas por cisalhamento simples heterogéneo, não modifica o perfil original das dobras, ao
contrário do que se verifica para as dobras flexurais. Aliás, dado o comportamento dúctil dos
materiais que exibem estes tipo de dobras, é até bastante provável que, em muitas circunstâncias, os
dois mecanismos tenham operado em conjunto. A contribuição respectiva de cada um destes
mecanismos está ilustrada na figura 10.12.

Fig. 10.12 - Sobreposição de cisalhamento simples heterogéneo e achatamento homogéneo numa


dobra similar (Park, 1963).

A deforrnação por cisalhamento simples afecta sobretudo os flancos das dobras e produz
uma distribuição em leque divergente das respectivas elipses de deformação finita (secção contendo
X e Z). A adição de uma componente de achatamento homogéneo acentua a deformação nos
flancos, diminui a divergência na disposição do eixo principal X (traço da clivagem nesta secção) e
produz uma deformação na zona de charneira equivalente à elipse de deformação finita do
achatamento homogéneo.

Origem-do cisalhamento simples heterogéneo

Não é muito clara a sua origem, mas uma das causas mais prováveis de heterogeneidade na
componente de cisalhamento simples em muitas dobras similares é a presença de dobras produzidas
por flexão. Se imaginarmos uma camada incompetente, espessa, intercalada entre duas bancadas
competentes, o dobramento flexural destas últimas transmitir-se-á para o interior da camada
incompetente como um cisalhamerito simples heterogéneo. Embora a deformação nos bordos desta
camada incompetente possa ser directamente influenciada pelo mecanismo flexural, na região
central, afastada desse efeito, a deformação tem um padrão muito mais uniforme (Fig. 10.11D). O
facto observado de uma sequência multiestratificada, com leitos exibindo dobras com perfil da classe
1C e outros com perfil da classe 3, reter, no seu conjunto, uma forma similar, sugere que este
processo é de facto importante na geração das dobras similares.

Formação de dobras em bainha

Quando a deformação é bastante intensa, por exemplo nas zonas de cisalharnento, podem
produzir-se formas de dobras muito complexas quer por cisalhamento simples heterogéneo quer por
forte achatamento sobreposto a dobras flexurais. Durante o cisalhamento simples progressivo, os
eixos das dobras podem ter um comportamento passivo e rodar para a direcção do cisalhamento até
que, quando o cisalhamento for muito intenso (≈ 15) se tornarão subparalelos a essa direcção (Fig.
10.13).

10 - 11
Deste modo é possível produzir dobras com eixos fortemente curvos que, em última analise,
desenvolverão formas de doma e bacia extremamente alongadas. Estas dobras, designadas por
dobras em bainha, são características de regiões fortemente deformadas, no interior de zonas de
cisalhamento (Ramsay, 1980).

Fig. 10.13 - Desenvolvimento de uma dobra em bainha, por cisalhamento simples progressivo de urna
dobra original não cilíndrica (Park, 1983).

10.4. Mecanismo do tipo "kinking" e formação das dobras em chevron


Como vimos no Cap. 2, a característica dominante das dobras em chevron e dos kinks é a
sua geometria, com flancos rectos articulados por charneiras bruscas e angulosas, bem definidas.

As bandas kink (Fig. 10.14A) são estruturas assimétricas onde a deformação está
praticamente confinada ao material no interior da banda kink enquanto que as dobras em chevron são
estruturas mais simétricas e contínuas (Fig. 10.14B). O mecanismo que parece ser o responsável por
estes dois tipos de dobras é a combinação de deslizamento flexural entre as camadas competentes e
fluência dúctil no material incompetente que possa existir interestratificado.

A geometria fundamental de uma banda kink, como mostra a Fig. 10.14A pode ser explicada
em termos de uma rotação relativa do flanco curto da dobra assimétrica, de tal modo que a banda
kink se comporta como uma zona de cisalhamento siniples.

Fig. 10. 14 - Geometria das bandas kink (A) e das dobras em chevron (B). A negro estão representados
os espaços produzidos durante o dobramento e que são preenchidos pelos fluidos
circundantes (W: largura da banda kink) (mod. Park, 1983).

Esta rotação pode produzir-se com muito fraca deformação no interior das camadas, uma vez
que os seus efeitos se concentram nos limites das camadas, onde ocorre desligarnento flexural.

10 - 12
A rotação do flanco curto destas dobras está expressa no ângulo α. O plano de kink faz um
ângulo β1 com o flanco curto e um ângulo β2 com o flanco longo. Se β1 > β2 e a espessura das
camadas permanecer constante, tem que haver dilatação entre as camadas no interior da banda kink.
Na natureza, isto resulta na formação de fendas de tracção frequentemente preenchidas com quartzo
ou calcite. Normalmente, a rotação das camadas na banda kink produz-se até que β1 = β2 e, nestas
circunstâncias, não há espaço para que se produzam fendas; a continuação do movimento, fazendo
β1 < β2, produzirá contracção através dos leitos rodados na banda kink.

Os kinks ocorrem frequentemente em sistemas conjugados. Os kinks são dobras que afectam
sobretudo material com elevada anisotropia inicial - normalmente planos de clivagem xistenta - e cuja
dimensão varia entre a escala microscópica e a escala mesoscópica (escala do afloramento, com
flancos curtos da ordem dos centímetros). Pelo contrário, as dobras em chevron afectam sequências
multiestratificadas dominadas pela presença de níveis competentes, com a superfície de
estratificação a funcionar como plano de anisotropia e têm representação nas escala macroscópica e
mesoscópica.

10.5. Condições que controlam os mecanismos de dobramento


Embora não haja uma teoria satisfatória que nos permita prever qual dos três mecanismos
fundamentais - flexão, fluência ou kinking - afectará um determinado material rochoso, certas
generalizações podem ser utilizadas como guia.

Em primeiro lugar, é evidente que um fraco contraste de viscosidade entre camadas


adjacentes inibe o desenvolvimento de flexão e, consequentemente, de kinking e favorece a fluência.

Assim, será necessário um contraste de viscosidade elevado entre bancadas adjacentes,


para que se produza flexão e/ou kinking. Se a sequência sedimentar for espessa e composta quase
exclusivamente por leitos competentes de espessura regular, muito pouco espaçados (conferindo
elevada anisotropia ao conjunto) o mais provável é ocorrer kinking e formarem- se dobras em chevron
ou bandas kink, se se tratar de uma clivagem xistenta ou leitos de muito fraca espessura (< 5 cm).

Se, na sequência multiestratificada, embora no conjunto a sua geometria seja dominada pela
presença dos leitos competentes, estes ocorram separados por camadas mais ou menos espessas
de material incompetente, então o mais provável é ocorrer flexão.

Como comentário final, refere-se que convém não esquecer que os mecanismos de
dobramento se consideram normalmente à escala meso e macroscópica, podendo envolver
elementos de diferentes mecanismos a escalas menores.

BIBLIOGRAFIA
Davies, G. H. (1984) - Structural Geology of Rocks and Regions. John Wiley & Sons, New York, 492p.

Hobbs, B. E; Means, W. D & Williams, P. F. (1976) - An Outline of Structural Geology. John Wiley &
Sons, New York, 571 p.

Park, R. G. (1983) - Foundations of structural geology. Blackie - Chapman and Hall, London, 135 p.

Ramsay, J. G. (1967) - Folding and Fracturing of rocks. McGraw Hill Book Co, New York, 568 p.

Ramsay, J. G. (1980) - Shear geometry: a review. J. Struct. Geol., v. 2, pp. 83-99.

Ramsay, J. G. & Huber, M. I. (1987) - The Techniques of modern structural geology. Vol. 2: Folds and
Fractures. Academic Press, London, 403 p.

10 - 13
11 - MECANISMOS DE INSTALAÇÃO DE CORPOS ÍGNEOS
INTRUSIVOS

As intrusões ígneas resultam da instalação de magmas em níveis crustais elevados e essa


instalação pode envolver quatro mecanisrnos, ou processes, fundamentais.

O primeiro, é um mecanismo dilatacional, ao qual corresponde a separação ou afastamento


de dois blocos contíguos de rocha encaixante, ao longo de uma superfície que é frequentemente uma
fractura ou diaclase mas pode também ser uma superfície de estratificação. Esse afastamento
normalmente resulta da existência de tensões distensivas a afectarem a rocha encaixante e permite
que o espaço assim criado seja preenchido pelo magma (Fig. 11.1A). Normalmente, nestes casos,
encontram-se filões subtabulares a cortarem discordantemente uma determinada rocha encaixante
não deformada (pelo menos com alguma importância) por este processo.

O segundo mecanismo, designado por intrusão forçada (Fig. 11.1B) é, afinal, um processo
diapírico, onde o magma ascende na crosta para reequilibrar o sistema gravítico, indentando as
rochas encaixantes e, consequentemente, deformando-as fortemente, criando espaço para si.

Sobretudo neste processo, mas também no primeiro, a pressão do magma tem um papel
bastante importante na criação do espago necessário à sua instalação e, por isso, se consideram
estes dois mecanismos como exemplos de processes de instalação magmática activos.

Fig. 11.1 - Mecanismos de intrusão ígnea (Park, 1983).

O terceiro processo é o chamado "stopping", pelo qual o magma se desloca para níveis
crustais mais superficiais à custa da remoção de grandes blocos de rocha encaixante, os quais se
afundam depois no seu interior e, no caso de não virem a ser completamente assimilados pelo
magma darão origem aos chamados xenólitos (Fig. 11.1C). Finalmente, o quarto processo, designado
"fusão e assimilação”, resulta na criação de espaço para a intrusão ígnea a partir de fusão parcial e
consequente incorporação de rocha encaixante (Fig. 11.1D).

11 - 1
Estes dois últimos processos são, obviamente, exemplos de intrusões “passivas” ou
“permitidas" (se nos é permitido usar o termo...), não produzindo qualquer deformação na rocha
encaixante. Como processo fundamental e único a presidir à instalação de corpos ígneos, a fusão e
assimilação não parece ser muito importante apesar de, muito provavelmente, estar quase sempre
presente, embora em escala muito secundária, durante a intrusão dos corpos eruptivos. O
mecanismo de stopping parece ter alguma importância na intrusão de certos plutões que atingiram
níveis crustais bastante elevados mas, de longe, os mecanismos mais importantes durante a
ascenção e instalação dos corpos ígneos são o diapirismo e a dilatação. São, também, os que
produzem deformação na rocha encaixante. O primeiro controla sobretudo a instalação dos corpos de
maiores dimensões e produz um campo de tensões local responsável pelas estruturas produzidas na
rocha encaixante. O segundo é normalmente controlado pela presença de campos de tensão
regionais e gera sobretudo a instalação de corpos subtabulares.

11.1 Instalação dilatacional de diques e soleiras


As condições de tensão que presidem à intrusão de urn dique estão representadas na figura
11.2A.

Fig. 11.2 - lntrusão de diques a soleiras. (A) O plano de intrusão do dique é subvertical. (B) Para as
solairas, σ3 está quase vertical. (C) Se existir uma permuta nos eixos de tensão, um dique pode
passar mais à superfície a uma soleira (Park, 1983).

Pode considerar-se que o dique induz a sua própria propagação em consequência de um


efeito de cunha desencadeado pela pressão do magma (que é do tipo hidrostático) ao actuar
perpendicularmente ao plano de intrusão do dique. Num corpo homogéneo este plano de intrusão
corresponde ao plano que contém σ1 e σ2 (e é normal a σ3) e a instalação do dique resulta da
condição

p ≥ | σt - σ3|

onde p é a pressão do magma e σt a resistência à tracção da rocha encaixante.

11 - 2
Assim sendo, a partir da orientação de uma rede filoniana regional, assumindo
homogeneidade estrutural da rocha encaixante, podemos deduzir a orientação da tracção principal.
Contudo, se a rocha encaixante possuir heterogeneidades de vária ordem, esta relação pode
complicar-se bastante.
Se existir na rocha uma direcção de fracturação anterior, é muito mais provável que o magma
se instale nestes planos, desdo que a sua pressão exceda a tensão compressiva através dos
mesmos, do que produza abertura de novas superfícies, para o que tem que ultrapassar a resistência
coesiva e o atrito interno do material. Existindo uma gama variada de planos de fractura, os
escolhidos para a instalação dos filões são normalmente os que fazem ângulos próximos de 90º com
a direcção de σ3 (tracção principal).

Formação dos filões camada ou soleiras (sills)

Este tipo de filões subtabulares tem planos de intrusão normalmente subhorizontais (Fig.
11.2B). Para que se processe a instalação do magma é necessário que a sua pressão exceda a
carga litostática produzida pelos estratos sobrejacentes. Por isso mesmo, só nos níveis muito
superticiais da crosta se encontram soleiras. Então, pode esperar-se que um dique passe a uma
soleira à profundidade correspondente a um mínimo no valor da tensão vertical (que, obviamente,
aumenta com a profundidade). Se a razão entre as duas tensões principais horizontais for a mesma,
a diminuição da tensão vertical vai produzir uma permuta dos eixos principais de tensão e um dique
pode rnodificar o seu modo de jazida para uma soleira (Fig. 11.2 C).

Controlo estrutural ante-intrusões

São bastante conhecidos diversos exemplos em que a presença prévia de fracturas a afectar
sequências sedimentares subhorizontais de elevada anisotropia, permitiram a instalação de densa
rede filoniana que preenche as fracturas (diques) e abriu as superfícies de estratificação entre os
níveis de maior contraste de viscosidade, formando soleiras.

Fig. 11.3 - Controlo estrutural na instalação da soleira de Stirling Castle produzida por um sistema de
falhas pré-existentes (Park, 1983).

Um desses exemplos está representado na figura 11.3 (soleira de Stirling Castle, na Escócia).
Aqui as camadas e as falhas inclinam em sentidos opostos e a soleira consegue manter
aproximadamente o mesrno nível de cota, seguindo a inclinação das camadas durante uma certa
extensão e retomando periodicamente para um nível mais elevado, ao longo de uma falha.

lntrusões em "échelon"

Estão normalmente associadas a um único episódio intrusivo, distribuído por macrofendas de


tracção em échelon, produzidas em zonas de cisalhamento semi-frágeis (Fig. 11.4).

Fig. 11.4 - Representação em planta (A) e hipótese tridimensional (B) para explicar a instalação de
filões em échelon (Park, 1983).

11 - 3
11.2. lnstalação de "cone-sheets" e diques radiais

As redes filonianas de cone-sheets e/ou diques radiais estão normalmente espacialmente


associadas à intrusão, em níveis crustais bastante elevados, de complexos eruptivos centrais
(diapiros magmáticos) como por exemplo os maciços de Ardnamurchan, Mull e Skye, na Escócia e de
Sintra, em Portugal.

Fig. 11.5 – lnstalação de cone-sheets e diques radiais explicada a partir do campo de tensões produzido
pela intrusão, a certa profundidade, de um diapiro magmitico. (A) Trajectórias de tensão
produzidas por um corpo com a forma de doma de secção circular. (B e C) Orientação do
campo de tensões para produzir cone-sheets. (D) Idem para filões radiais. (E) Orientação das
fracturas de cisalhamento produzidas por este campo de tensões (Park, 1983).

11 - 4
É claro que o padrão e as orientações daqueles filões estao relacionados com o campo de
tensões local produzido pela indentação forçada de urn diapiro magmático em ascenção, situado um
pouco abaixo da zona central do complexo eruptivo (Fig. 11.5).

A pressão magmática do diapiro exerce, nas rochas encaixantes, tensões compressivas


perpendicularmente ao bordo do corpo magmático, de que resulta uma distribuição curvilínea das
correspondentes trajectórias de tensão.

Considerando uma forma regular para o diapiro magmático, idêntica à de um doma com
secção circular, podemos assumir que a distribuição das trajectórias de tensão é a representada na
Fig. 11.5A.

Sendo σ1, a máxima compressão, perpendicular ao contacto do diapiro com a rocha


encaixante, o plano que contém σ2 e σ3 terá a forma de um "guarda chuva" a cobrir o diapiro
magmático. Neste plano, uma das direcções, σ1 ou σ3, tem uma distribuição radial e a outra terá uma
distribuição concêntrica subcircular.

Dependendo da posição que σ3 ocupa em cada episódio intrusivo, assim se explica a


formação ora dos cone-sheets, ora dos filões radiais.

Se σ3,a tração principal, ocupar as trajectórias subcirculares concêntricas, vai haver abertura
em fendas subverticais radiais, em cada ponto perpendiculares à tracção principal. Assim se formam
os diques radiais, por intrusão magmática nestas fendas (Fig. 11.5C).

Se σ3 ocupar as trajectórias parabólicas segundo planos radiais, então vai haver abertura
segundo planos que são superfícies cónicas com o vértice para baixo, rodeando o diapiro magmático.
O preenchimento destes planos vai originar os filões de tipo cone-sheet.

A alternância de ocorrência destes dois tipos de filões, associados a complexos eruptivos não
orogénicos, como é o caso do maciço de Sintra, prova que durante a instalação do maciço principal
há permuta periódica entre as posições ocupadas pelas tensões principais σ2 e σ3. Nos episódios a
que corresponde sobretudo um movimento ascencional do diapiro magmático, σ3 define trajectórias
parabólicas segundo planos radiais e produzem-se cone-sheets. Quando o diapiro está em fase de
dilatação (ou amplificação), σ3 define trajectórias subcirculares concêntdcas ao bordo daquele e,
nesse caso, geram-se diques radiais.

Modelos experimentais mostraram que a rede de fracturas instaladora destes tipos filonianos
é gerada na rocha encaixante por um efeito de indentação elástica produzida pelo diapiro
ascendente. Algumas das fracturas possíveis estão representadas na figura 11.5E.

11.3. Modo de instalação das intrusões maiores


Um dos problemas que a instalação de corpos ígneos cria é o do espaço que vão ocupar. Se
no caso dos filões se pode demonstrar que a maioria preenche espaços criados ao longo de
superfícies que perderam a sua força coesiva - sejam esses espaços "abertos" pela pressão do
magma com capacidade ascencional ou por regimes distensivos locais - a instalação de grandes
maciços centrais, aos quais corresponde um volume notável de material magmático, não parece ser
tão facilmente explicada.

O que a cartografia estrutural mostra é que, em torno dos maciços eruptivos não orogénicos
(que são maciços centrais na maioria dos casos com secção isótropa subcircular) a rocha encaixante
se encontra bastante deformada em consequência da intrusão magmática. Para além das estruturas
frágeis (de rotura) já referidas, que suportam a instalação da rede filoniana, em consequência da
indentação “forçada" da rocha encaixante produzida pelo diapiro ascendente, gera-se um doma na
rocha encaixante, com dupla vergência, rodeado por um sinclinal anelar. O gradiente de deformação

11 - 5
é geralmente bastante elevado junto ao contacto, onde podem ser visíveis estruturas do tipo
clivagem, e decresce rapidamente quando dele nos afastamos.

A percepção actual de que o magma ascende como um diapiro, ou seja, constitui uma
anomalia gravítica quando é produzido em profundidade e se desloca verticalmente para níveis mais
superficiais da crosta a fim de reequilibrar o sistema gravítico, diminui consideravelmente o problema
do espaço.

Fig. 11.6 - O maciço granítico de Arran, um exemplo intrusão diapírica. As camadas mais recentes (do
Devónico superior) estão representadas a ponteado. Estão ainda representadas algumas
falhas (a tracejado) e linhas de contorno estrutural a mostrar a disposição das dobras (Park,
1983).

De facto, a porção de magma que ascende como um diapiro tem a forma de uma gota
invertida que pode ficar completamente isolada da fonte alimentadora. Nestas circunstâncias, a
quantidade de material magmático envolvido numa intrusão será consideravelmente menor que a
inferida considerando o maciço com paredes subverticais a estenderem-se até à base da crosta.

BIBLIOGRAFIA
Anderson, E. M. (1951) - The Dynamics of Faulting and Dyke Formation. Oliver & Boyd, Edinburgh,
206 p.

Hobbs, B. E.; Means, W. D. & Williams P. F. (1976) - An Outline of Structural Geology. John Wiley &
Sons, New York, 571 p.

Newall, G. & Rast, N. (eds.) (1970) - Mechanism of igneous intrusion. Geological Journal Special
Issue 2, Seel House Press, Liverpool, 380 p.

Park, R. G. (1983) - Foundations of structural geology. Blackie, Chapman and Hall, New York, 135 p.

11 - 6
PARTE III

Tectónica

(em construção)

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