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Geologia estrutural

e tectônica
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever geologia estrutural e tectônica.


„„ Definir conjuntos, fontes e organização de dados estruturais.
„„ Reconhecer a importância das análises estruturais geométricas, ci-
nemáticas e dinâmicas.

Introdução
A Primeira Lei de Newton — “todo corpo persiste em seu estado de
repouso ou de movimento uniforme, a menos que seja compelido a
mudar seu estado por uma força aplicada a ele” — tem tudo a ver com a
ciência geológica, pois a existência de falhas e dobras na crosta terrestre
comprova a incidência de forças sobre as rochas que acabaram por
modificar seus estados originais.
Neste capítulo, você vai ler sobre a evolução do conhecimento ge-
ológico a respeito da teoria tectônica de placas, as principais hipóteses
que auxiliaram na formulação da teoria e como elas se relacionaram. Você
vai conhecer os principais tipos de placas litosféricas, seus ambientes
de formação e a relação com a geração das estruturas deformacionais.
Ainda, serão apresentadas as principais fontes de dados estruturais e suas
características, bem como os tipos de análises que são realizadas após a
coleta e organização dos dados estruturais.
14 Geologia estrutural e tectônica

1 Tectônica de placas e estruturas associadas


As primeiras ideias sobre a configuração geográfica dos continentes sur-
giram no século XV, por volta de 1570, quando Abraham Orteliusem
confeccionou o primeiro atlas do mundo, a partir dos primeiros mapas da
costa africana e da América provenientes da expansão ultramarina europeia
(MARTINELLI, 2009). Orteliusem, assim, indicou a possibilidade de
deriva continental, considerando o contorno dos continentes — hipótese
corroborada por Francis Bacon, em 1620, que sugeriu o movimento das
massas continentais, ao perceber o “encaixe perfeito entre América do
Sul e África”. Em 1858, Snider-Pellegrini propôs a possibilidade da deriva
continental, apresentando os mapas de antes e depois da separação dos
continentes (CORREIA, 2013; GERALDINO, 2014). Entretanto, essas
abordagens não foram consideradas pela comunidade científica da época
por falta de suporte científico.
Mais tarde, Wegener, em seu livro A origem dos continentes e oceanos, de
1924, propôs que todos os continentes estavam juntos, formando a Pangeia,
e, baseando-se numa grande variedade de dados geológicos, indicou que a
sua partição começou há cerca de 200 milhões de anos, dando início à ideia
da deriva continental. Posteriormente, Alexander du Toit refinou a teoria de
Wegener, propondo separação da Pangeia em dois grandes continentes —
Laurásia (Hemisfério Norte) e Gondwana (Hemisfério Sul).
A teoria da deriva continental reconhecia a diferença entre crosta con-
tinental e oceânica, e se fundamentou por meio de algumas evidências
principais: a forma e o encaixe dos continentes; a continuidade dos tipos
e das idades das rochas e direções de feições geológicas, como cadeias
de montanhas e escudos de mesma idade entre continentes diferentes; a
distribuição de ecossistemas antigos, como regiões tropicais (como os
pântanos de carvão), desertos e geleiras; a presença de geleiras paleo-
zoicas na América do Sul, Austrália, África e Índia; e a similaridade dos
fósseis do Permiano que, após a fragmentação dos continentes, tomaram
caminhos evolutivos distintos devido às mudanças ambientais. A Figura
1 ilustra essas evidências.
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Figura 1. Evidências que sustentaram a teoria da deriva continental. (a) Encaixe dos con-
tinentes e continuidade das litologias e estruturas geológicas. (b) Geleiras paleozoicas.
(c) Distribuição dos ecossistemas antigos (glacial, desértico e tropical). (d) Fósseis de animais
do Permiano, em lugares atualmente distantes.
Fonte: Adaptada de The Geological Society ([20––?]).
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A teoria de Wegener derivou da corrente filosófica do mobilismo, que


defendia que os continentes podiam se movimentar tanto verticalmente quanto
horizontalmente. Nesse período, ainda existia, em contraposição ao mobilismo,
cujas ideias predominaram no cenário científico a partir do século XX, outra
grande corrente filosófica, o fixismo, que afirmava que os continentes teriam
se mantido estáveis e fixos por toda a história geológica.
Segundo a teoria de Wegener, os diversos continentes que conhecemos hoje
teriam se separado ao longo da história evolutiva do planeta, no entanto, essa
teoria não conseguiu explicar como esses continentes puderam se movimentar
milhares de quilômetros. Essa era a fragilidade da teoria, já que não explicava
o mecanismo responsável pelo afastamento dos continentes.
Por conta disso, a teoria da deriva continental ficou no esquecimento por
quase 50 anos e somente na década de 1960, com a utilização de submari-
nos durante a Segunda Guerra Mundial, a teoria de Wegener foi retomada
e rediscutida, devido ao desenvolvimento de sonares para mapeamento do
assoalho oceânico. A partir do uso de sonares, foram descobertas antigas ilhas
vulcânicas, desgastadas por erosão eólica e ação das ondas, estando, agora,
submersas, além de placas oceânicas sobre a astenosfera, de espessura fina e
cobertas por sedimentos. Em 1947, Ewing e Press mapearam o assoalho oceâ-
nico, coletaram basalto no fundo oceânico, descobriram a dorsal mesoatlântica
e, mais tarde, as dorsais dos oceanos Índico e Pacífico. Em 1952, Marie Trarp
e Heezen descobriram que os rifts ao longo das dorsais são tectonicamente
ativos. Essas informações serviram para elaboração da teoria da expansão do
assoalho oceânico, formulada por Dietz, em 1961.

Rift é um ambiente geológico formado por tectônica extensional, resultando no afasta-


mento das porções vizinhas da crosta terrestre e litosfera associada, em direções opostas.

O aperfeiçoamento da datação das rochas, que auxiliou na determinação


da idade absoluta das rochas do assoalho oceânico, que é de cerca de 200
milhões de anos, juntamente com o reconhecimento das variações magnéticas
no fundo do oceano, confirmou a expansão do assoalho oceânico.
A continuidade do mapeamento do fundo oceânico permitiu aos cientistas
perceber que as variações magnéticas não ocorriam de forma isolada ou aleatória,
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ao contrário, havia um padrão. Esse mapeamento demonstrou que as rochas se


organizavam em listras paralelas às linhas de formação da crosta, com componentes
magnéticos dispostos alternadamente, uma faixa com polaridade normal e a faixa
adjacente com polaridade invertida, conforme a inversão no campo magnético
terrestre ao longo dos anos. As anomalias magnéticas oceânicas tiveram um papel
central no estabelecimento da teoria tectônica de placas. A Figura 2 apresenta
o modelo esquemático de formação de bandas magnéticas no fundo oceânico.

Figura 2. Modelo esquemático de formação de bandas magnéticas no fundo oceânico.


Fonte: Adaptada de Kirus e Tilling (1996).

Se o processo de formação e expansão de placas é contínuo, a área da


superfície terrestre aumenta com o tempo? Caso contrário, para onde vai a
litosfera que está sendo empurrada?
Em 1966, Wilson descreveu a tectônica em termos de placas rígidas que se
movem sobre a superfície terrestre e que são compostas por crosta oceânica
e/ou continental, compartimentadas por falhas e fraturas profundas. A crosta
continental possui espessura média variando entre 25 a 50 km, enquanto a
crosta oceânica possui espessura média variando entre 5 a 10 km. Ambas
formam a litosfera, cujo limite inferior é marcado pela astenosfera, que per-
mite que a litosfera deslize e torne possível o deslocamento lateral das placas.
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As composições litológicas e químicas, especialmente, dos dois tipos de


crostas, definem características diferenciadas para cada uma delas. A crosta
continental possui uma litologia variada, composta por minerais menos den-
sos, enquanto a crosta oceânica é mais homogênea e densa, portanto, mais
suscetível à subducção, ou seja, ao consumo da crosta.
Existem três tipos de limites de placas litosféricas. Os limites divergentes
são marcados pelas dorsais-mesoceânicas e caracterizados pela formação de
nova crosta e afastamento das placas. A formação da crosta oceânica ocorre
nas regiões de cristas oceânicas, como pode ser observado no centro do Oceano
Atlântico, e, à medida que a nova crosta é formada, ela vai se afastando até
alcançar as trincheiras oceânicas, regiões-limite com a crosta continental, e
sofre subducção, a exemplo da costa do Chile.
Nos limites convergentes, além da colisão entre placa oceânica e continen-
tal, podem ocorrer colisões continental-continental e oceânica-oceânica. No
primeiro caso, tem-se a formação de grandes cordilheiras de montanhas, como
a Cordilheira do Himalaia. No segundo, há a formação de arcos de ilhas, como
visto no mar de Hering, no Alasca. Nos limites transcorrentes ou conservativos,
as placas deslizam entre si lateralmente, não ocorrendo destruição ou geração
de crosta, como, por exemplo, na Falha de San Andreas, na América do Norte.
A Figura 3 apresenta a divisão das placas litológicas no globo.

Figura 3. Divisão das placas litológicas no globo.


Fonte: Mundo Ecologia (2019, documento on-line).
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Grande parte das atividades geológicas da Terra se concentra em torno


dos limites de placas (GROTZINGER; JORDAN, 2013), regiões onde ocor-
rem intensas atividades sísmicas e vulcânicas e, portanto, regiões onde há
a formação de uma série de estruturas geológicas deformacionais, objeto
de estudo da geologia estrutural. Os processos tectônicos responsáveis pela
formação dessas estruturas se limitam à região da crosta terrestre, que,
por sua vez, abrange a litosfera (porção composta pela crosta terrestre e a
parte superior do manto) e a parte superior da astenosfera (zona superior
do manto terrestre).
A geologia estrutural classifica essas estruturas de acordo com a de-
formação da qual resultaram, que é influenciada pelas condições físicas
de quando as rochas foram submetidas à ação de esforços. Dessa forma,
as deformações podem ser dúcteis, quando em profundidades que ele-
vam as condições de temperatura e pressão, ou rúpteis para rochas em
superfície. A deformação dúctil é uma deformação plástica, sem perda de
continuidade, mas com as rochas sofrendo distorções e formando dobras.
A deformação rúptil é marcada por plano de descontinuidade, formando
falhas, fendas e fraturas.
As estruturas dúcteis são geradas próximas à superfície ou em pro-
fundidade, estando associadas a ambientes compressivos ou extensionais.
Comumente, formam cadeias de montanhas, resultado das interações das
placas litosféricas durante a colisão ou subducção. As estruturas rúpteis
também são encontradas tanto em ambientes compressivos quanto extensio-
nais, porém, são desenvolvidas na parte superficial da crosta, além de serem
encontradas nas regiões de transcorrência como importantes articuladoras
das placas litosféricas.
Assim, a tectônica estuda a origem e evolução geológica da Terra, de
escala regional a global, enquanto a geologia estrutural estuda as deforma-
ções nas rochas em escalas que variam de escala microscópica a regional.
A geologia estrutural, tendo em vista o estudo das deformações, tem como
foco a análise da geometria e distribuição das estruturas geológicas e os
fatores que controlam a sua formação e ocorrência. Além disso, devido
ao objeto de estudo da geologia estrutural estar limitado às deformações,
as estruturas formadas por processos primários, como as sedimentares,
não são de interesse desse ramo da ciência. Entretanto, caso sejam alvo de
deformações, as estruturas primárias passam a fazer parte dos objetos de
análise da geologia estrutural.
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O que move as placas?


Por volta de 1960, o geólogo Harry Hess propôs que, através das células de convecção
do manto, o fluxo térmico interno do planeta ascende, dando origem a um novo fundo
oceânico, num ciclo repetitivo.
A dinâmica das células de convecção pode ser resumida como o calor gerado no
centro da Terra e transmitido até a parte superior. Posteriormente, parte do material
é resfriado, movimentando-se lateralmente e sendo reincorporado para as zonas
mais profundas.

2 Conjuntos, fontes e organização de dados


estruturais
A diversidade e complexidade de estruturas deformacionais torna necessária
uma categorização desses dados, visto que são essenciais na produção dos
modelos tectônicos de uma determinada área (LISLE; BRABHAM; BAR-
NES, 2014). Quanto maior o número de dados, maior o desafio de selecionar
e interpretar as informações. Porém, um número incompleto de dados pode
inviabilizar conclusões sólidas e estatisticamente significativas (FOSSEN,
2018).

Conjuntos e fontes de dados


Os dados estruturais podem ser classificados de acordo com a sua origem: em
estruturas primárias, formadas concomitantemente à formação das rochas, o
que ocorre em rochas sedimentares e magmática, ou em estruturas secundárias,
nas quais as estruturas são formadas posteriormente à gênese das rochas.
Apenas as estruturas secundárias, originadas por meio de deformações, serão
consideradas a seguir.
As estruturas podem ser formadas a partir de deformação dúctil (p. ex.,
dobras), quando não há perda de continuidade, ou por deformação rúptil (p.
ex., falhas e fraturas), quando há perda de continuidade. Dessa forma, as es-
truturas também podem ser classificadas quanto à sua geometria. Comumente,
as estruturas geológicas são descritas como planares ou lineares, conforme
o Quadro 1.
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Quadro 1. Tipos de estruturas deformacionais

Planares Lineares

Eixo de dobras e microdobras Estratificação

Minerais e seixos alongados Clivagem

Estrias de falha Xistosidade

Estrias glaciais Planos de falha

Interseção entre duas estruturas planares (estratificação Planos axial de dobra


e clivagem/estratificação e junta/duas clivagens, etc.)

Embora as observações de campo sejam as mais importantes fontes de dados es-


truturais, esses dados também são compostos por conjuntos de dados experimentais,
numéricos e de sensoriamento remoto, e podem ser obtidos por meio de imagens
de satélite, mapas convencionais, dados sísmicos, gravimétricos e magnéticos.
As observações de campo são o único conjunto de dados estruturais obti-
dos por um exame direto das estruturas geológicas, sendo sempre utilizadas
juntamente com os dados obtidos por outras fontes. Esse método exige do
profissional um conhecimento geológico abrangente a fim de que se tenham
observações objetivas e completas. Os instrumentos básicos para a coleta
de dados estruturais em campo são: bússola, que permite medir atitude das
estruturas; martelo geológico, que auxilia na coleta de amostras para análise
no microscópio; sistemas de posicionamento global (GPS) para localização
geográfica dos pontos de amostragem.
As imagens de satélite são uma fonte importante de dados estruturais devido
aos significados geológicos que podem ser obtidos por meio do arranjo textural
que a cor, o relevo e a drenagem conferem às imagens. Tanto estruturas dúcteis
quanto rúpteis podem ser mapeadas pelas imagens de satélite. Além disso, essas
fontes podem auxiliar na medição dos movimentos de placas (FOSSEN, 2018).
Os dados sísmicos permitem o mapeamento de estruturas em subsuperfície.
Esses dados são obtidos após a geração de uma fonte de som que gera ondas sonoras
ou por sons gerados por terremotos, que, em seguida, são coletados por receptores.
Os dados estruturais ainda podem ser obtidos por fontes de dados gravimétricos,
magnéticos e radiométricos usados no mapeamento de estruturas de larga escala.
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Os dados estruturais também podem ser obtidos de forma experimental.


Segundo Fossen (2018), para que um modelo físico reproduza um exemplo
natural de modo realista, deve-se reduzir suas propriedades e proporções
físicas proporcionalmente em escala. Assim, é possível obter modelos de
dobramentos e falhamentos.

Você pode saber mais sobre as aplicações de imagens de sensoriamento remoto


para mapeamentos de estruturas geológicas nos artigos “Tectônica transcorrente
mesozoica/cenozoica na porção leste do Planalto do Rio Grande do Sul, Brasil”, de
Alexis Rosa Nummer, Rômulo Machado e Patrícia Duringer Jacques, e “Uso de lidar
aerotransportado para mapeamento e análise estrutural de depósitos ferríferos na
serra sul de Carajás, Amazônia”, de Francisco Ribeiro da Costa.

Organização de dados
Após a coleta, os dados devem ser organizados para posterior análise. A
base de dados formada depois da coleta deve ser sistemática e organizada.
Ainda, é preciso realizar análises estatísticas. Esses dados também poderão
ser utilizados para projetos futuros.
Os dados estruturais podem ser homogêneos ou heterogêneos. No primeiro
caso, pode-se fazer uso direto em diagramas. No segundo, porém, é necessário
dividir os dados em subpopulações (FOSSEN, 2018). A divisão dos dados
pode ser feita por sua ocorrência ou distribuição geográfica.
Os diagramas permitem a representação da altitude dos conjuntos de
dados, tanto lineares quanto planares, facilitando o processo de interpretação
da deformação. Para estruturas rúpteis, é aconselhável o uso de diagrama de
rosetas, enquanto para estruturas dúcteis se recomenda o uso de diagrama
estereográfico, também chamado de estereograma, conforme ilustra a Figura 4.
Ao usar o diagrama de rosetas, pode-se representar os dados no círculo
completo (360º) ou na metade de um círculo (180º). Caso seja escolhida a
representação em 180°, todas as medidas de direção deverão ser recalculadas
de forma que se restrinjam ao primeiro e quarto quadrantes. A análise do
diagrama de rosetas ainda permite determinar a direção do tensor (esforço)
principal. O diagrama estereográfico é representado em apenas um hemisfé-
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rio da esfera de referência. Dentre os diagramas estereográficos, a Rede de


Schmidt é o diagrama mais usual para a geologia estrutural, pois permite um
estudo estatístico apurado.

Figura 4. Diagrama de rosetas e diagrama estereográfico. (a) Roseta de círculo completo


(360°). (b) Roseta de metade de um círculo (180°). (c) Rede estereográfica de Schmidt.
Fonte: Adaptada de (a) Souza et al. (2008), (b) Miranda et al. (2012) e (c) Carneiro et al. (2018).

Esses diagramas permitem solucionar problemas geométricos tridimen-


sionais, por meio da representação das feições espaciais, ou seja, das estru-
turas geológicas em um plano (CARNEIRO et al., 2018). Assim, podem ser
representadas as direções e os sentidos de caimento de estruturas planares
e lineares (como visto no Quadro 1), que serão avaliadas estatisticamente,
permitindo interpretações mais concisas.

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3 Análises estruturais
Uma vez coletados e organizados, os dados estruturais precisam ser analisados.
Essa análise ocorre em três fases, que, juntas, visam compreender a história de
deformação de uma área. Primeiramente, é realizada a análise dos dados de
campo, pois eles apresentam uma relação direta com as estruturas geológicas.
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Posteriormente, pode ser feita a comparação dessa análise com os modelos


experimentais e numéricos (FOSSEN, 2018).

Análises geométricas — A análise geométrica é a base para os outros métodos


analíticos e se detém a analisar a forma, o tamanho, a orientação geográfica e as
relações geométricas entre as associações estruturais (FOSSEN, 2018). Basica-
mente, as estruturas geológicas são feições, formas ou tramas definidas em uma
rocha. Os elementos geométricos que as definem são planos (superfícies) e linhas.
Os dados para as análises geométricas podem ser obtidos pelo mapeamento de
campo, análises de laboratório ou por sondagem, ou indiretamente por meio
de dados sísmicos, gravimétricos e magnetométricos, por exemplo. O modelo
geométrico compreende a interpretação 3D da distribuição e orientação das
feições geológicas.

Análises cinemáticas — A análise cinemática se baseia na descrição e nas


análises geométricas (FOSSEN, 2018) a partir de dados quantitativos das de-
formações. As análises cinemáticas envolvem a investigação dos movimentos
ocorridos, como translação, rotação, dilatação e distorção, que avaliam o
deslocamento de corpo rígido sem variação na forma ou dimensão (transla-
ção, rotação), e as mudanças de forma ou dimensão (dilatação, contração),
considerando o tempo gasto para deformação. O modelo cinemático infere
a história e o movimento responsável pela transformação de um corpo ou
sistema de um estado indeformado para um deformado.

Análises dinâmicas — A análise dinâmica é a interpretação das forças e


tensões que movimentam os corpos rochosos, responsáveis pela geração de
estruturas. A análise dinâmica descreve a orientação e magnitude da força
e as deformações que causam mudanças na sua forma, dimensão ou posição
(orientação). As rochas experimentam a deformação de várias formas, a de-
pender das suas propriedades e da natureza das tensões aplicadas.
Na geologia estrutural, a força é definida como uma entidade física, que
altera, ou tende a alterar, o estado de repouso de um corpo ou seu movimento
retilíneo uniforme (TEIXEIRA et al., 2007). Quando atuante sobre uma
superfície, tem-se uma outra entidade, que é denominada esforço, já que a
magnitude do esforço é a relação de força e área na qual atua. O esforço pode
ser dividido em dois vetores: normal, que age perpendicularmente à superfície,
e de cisalhamento, que age de forma paralela à superfície.
Os corpos geológicos são afetados pela força de volume/corpo, que atua
sobre a massa de um corpo como um todo, e pela força de superfície/con-
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tato, que atua empurrando ou puxando determinado corpo ao longo de uma


superfície imaginária (TEIXEIRA et al., 2007). As análises dinâmicas, em
geral, são interpretativas e realizadas a partir do objeto deformado, visto que
não podem ser aferidas diretamente, porque o evento já aconteceu, portanto,
fundamentam-se em modelos dinâmicos experimentais ou numéricos. A
Figura 5 apresenta exemplos de análises estruturais.

Figura 5. Exemplos de análises estruturais. (a) Análise geométrica das estruturas geológicas
realizada sobre dados obtidos em campo, em que são identificadas a forma e a relação de
contato que os diferentes tipos de materiais apresentam entre si. (b) Análise cinemática e
dinâmica da deformação, inclusive com uso de diagramas estereográficos. As fotografias
mostram as estruturas vistas em afloramentos de rocha, porém, a foto G é uma fotografia ana-
lisada por meio de microscópio petrográfico, que possibilita maior detalhamento das análises.
Fonte: Adaptada de (a) Pereira et al. (2013) e (b) Spisila et al. (2014).

Entre os tipos de análises estruturais, a geométrica é a mais simples, pois


envolve, basicamente, observações e a obtenção de atitudes estruturais de
campo, além de estudos petrográficos do arcabouço da rocha (SALAMUNI,
2016). Entretanto, o objetivo principal das análises estruturais exige a compre-
ensão da atuação da tensão a partir do estudo das deformações que modificam
a geometria e a disposição inicial do corpo rochoso, tornando fundamentais
as análises cinemáticas e dinâmicas.
26 Geologia estrutural e tectônica

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projeção estereográfica em Geologia. Terræ Didatica, v. 14, n. 1, p. 15–26, 2018.
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Leituras recomendadas
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