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GEOLOGIA BÁSICA

E PEDOLOGIA
PROF.A DRA. FLÁVIA CARVALHO SILVA
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR

Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de
Oliveira
Pró-reitor:
Prof. Me. Ney Stival
Diretor de Ensino a Distância:
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Prof. Me. Fábio Oliveira Vaz
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Primeiramente, deixo uma frase de Só-
crates para reflexão: “a vida sem desafios não Diagramação:
vale a pena ser vivida.” Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Cada um de nós tem uma grande res-
ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, Revisão Textual:
e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica
Gabriela de Castro Pereira
e profissional, refletindo diretamente em nossa
Letícia Toniete Izeppe Bisconcim
vida pessoal e em nossas relações com a socie-
Mariana Tait Romancini
dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente
e busca por tecnologia, informação e conheci-
Produção Audiovisual:
Heber Acuña Berger
mento advindos de profissionais que possuam Leonardo Mateus Gusmão Lopes
novas habilidades para liderança e sobrevivên- Márcio Alexandre Júnior Lara
cia no mercado de trabalho.
Gestão da Produção:
De fato, a tecnologia e a comunicação Kamila Ayumi Costa Yoshimura
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas,
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e Fotos:
nos proporcionando momentos inesquecíveis. Shutterstock
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino
a Distância, a proporcionar um ensino de quali-
dade, capaz de formar cidadãos integrantes de
uma sociedade justa, preparados para o mer-
cado de trabalho, como planejadores e líderes
atuantes.

Que esta nova caminhada lhes traga


muita experiência, conhecimento e sucesso.

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

01
DISCIPLINA:
GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA

GEOLOGIA BÁSICA
PROF.A DRA. FLÁVIA CARVALHO SILVA

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 4
1 - HISTÓRICO DA GEOLOGIA ................................................................................................................................... 5
1.1 - ORIGEM E ESTRUTURA DA TERRA .................................................................................................................. 6
1.2 - TEMPO GEOLÓGICO .......................................................................................................................................... 7
2 - ESTRUTURA DA TERRA ..................................................................................................................................... 10
2.1 - FORMAÇÃO DO RELEVO .................................................................................................................................. 12
2.2 - PROCESSOS GEOLÓGICOS OU DINÂMICA DA TERRA ............................................................................... 12

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INTRODUÇÃO
Geologia vem do grego Geo = Terra; logos = ciência, ou seja, é a ciência da Terra. De
acordo com o Popp (2017) a Geociência, ou Ciência da Terra, inclui todos os estudos científicos
dedicados a entender e explicar os processos geológicos inter-relacionados de nosso planeta. A
Geologia é uma dessas ciências da Terra que se ocupa do estudo da composição, das propriedades
físicas, forças, estrutura geral e história. O estudo não inclui apenas as estruturas rochosas e os
minerais, mas sim todas as esferas de influências que envolvem o planeta Terra, denominadas
atmosfera, biosfera, hidrosfera e própria geosfera. Essas esferas constituem, na verdade, um
sistema único e inseparável, pois resultam da ação combinada da energia do Sol e do calor, da
radiação e das forças que emanam do interior da Terra.
A Geociências, por sua vez, requer o conhecimento de inúmeras disciplinas de caráter
científico que auxiliam na formulação e na explicação dos complexos processos geológicos que
atuaram e continuam atuando na natureza. É também uma ciência histórica que reconstitui,
através de evidências, a origem e a evolução da Terra, desde que se individualizou como um
planeta do Sistema Solar, há 4,5 bilhões de anos.

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A compreensão desse sistema como um todo é fundamental na formulação e na
aplicação de conceitos utilizados nas mais diferentes áreas de atuação profissional, uma vez que
a Geologia se caracteriza por sua natureza investigativa. Nesse sentido, a Geologia Geral destina-
se a estudantes das áreas de Geologia, Geografia, Biologia, Química e algumas modalidades de
Engenharia (Civil, Agronômica, de Minas e Energia, entre outras), bem como de cursos técnicos
na área de Geociências. Entender a origem, a história e os processos que mantêm o equilíbrio
natural da Terra é saber utilizar com sustentabilidade os recursos naturais de que dispomos e os
que poderemos acrescentar para o bem-estar de todos.

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1 - HISTÓRICO DA GEOLOGIA
Antigamente, não havia interesse nos estudos geológicos, provavelmente, devido à crença
em testamentos bíblicos de que a terra não ultrapassava de poucos milhares de anos. Segundo
essas ideias, as rochas sedimentares tiveram origem na ação do dilúvio bíblico, e os fósseis eram
interpretados como uma evidência de seres de invenções diabólicas afogados pelo dilúvio.

Até meados do século XVIII persistiu um “obscurantismo” com relação ao


interesse pelos fenômenos geológicos naturais. É provável que esse desinteresse
tenha sido influenciado pelas ideias dominantes na época, provenientes de uma
observância do livro do Gênesis, que considerava que todo o tempo geológico
não ultrapassava alguns poucos milhares de anos. Segundo tais ideias, as rochas
sedimentares tiveram origem na ação do dilúvio bíblico, e os fósseis eram
interpretados como uma evidência de seres de invenções diabólicas afogados
pelo dilúvio. (POPP, 2017, p. 02).

O interesse era somente pela exploração de minerais, os quais poderiam ser retirados
da terra. Houve muitas controvérsias entre pesquisadores no decorrer do tempo. Até que
William Smith (1769-1839), modesto engenheiro inglês, trabalhando com movimentação de

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terras, escavações de canais e construção de estradas, descobriu que, entre diversas formações já
conhecidas, à primeira vista muitas eram semelhantes, porém tinham uma característica que as
diferenciava: os fósseis que continham não eram os mesmos. Descobriu, então, que os sedimentos
de cada época tinham seus fósseis específicos. Smith divulga, nessa ocasião, o primeiro mapa
geológico, com divisões estratigráficas baseadas nos fósseis.
Posteriormente a isso, outras investigações científicas realizadas na Europa por Cuvier e
Lamark deram origem a publicação da obra Princípios de Geologia, de Charles Lyell. Em sua obra,
Lyell expôs com clareza os conhecimentos científicos da época com apoio na doutrina de que o
presente é a chave do passado. As unidades geológicas foram dispostas em ordem cronológica
por “grupos”, e estes foram subdivididos em “períodos”.
No Brasil, Popp (2017) afirmou que o primeiro trabalho científico realizado (publicado
em 1792) foi da autoria de José Bonifácio de Andrada e Silva e seu irmão, Martim Francisco
Ribeiro de Andrada, sobre os diamantes, no Brasil.

José Bonifácio devotou-se à mineralogia brasileira e, na Alemanha, assistiu a


aulas proferidas por Werner, chegando a lecionar na Universidade de Coimbra.
Em 1833, o alemão Wilhelm L. von Eschwege, engenheiro de minas, publica
Pluto Brasiliensis, reeditado posteriormente, sobre geologia e mineralogia
brasileiras. Von Martius publica, em 1854, um mapa geológico da América do
Sul. As primeiras pesquisas no campo da Paleontologia foram realizadas pelo
dinamarquês Peter Wilhelm Lund, descrevendo as ossadas de vertebrados
pleistocênicos encontradas nas cavernas de Minas Gerais. Em seguida, Agassiz
estuda peixes fósseis do Ceará enviados por Gardner, botânico inglês que visitara
o Brasil. (POPP, 2017, p. 02).

De acordo com esse autor em 1875, foi organizada a primeira Comissão Geológica do
Império do Brasil, objetivando o estudo da estrutura geológica, da Paleontologia e das minas
do Império, cuja direção coube ao geólogo canadense Charles Frederick Hartt, que já vinha
trabalhando no Brasil desde 1865, sendo que em 1870 foi publicado a obra Geology and Physical
Geography of Brazil.

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Por fim, em 1876, na cidade de Ouro Preto, deu-se iniciada a formação de geólogos
que viriam a trazer grande impulso à pesquisa e ao ensino de Geologia no País e hoje, com
auxílio dessas pesquisas desenvolvidas e informações geradas, é possível relacionar a composição
litológica do Brasil com as eras geológicas na sua formação (Figura 1).

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Figura 1 - Mapa geológico do Brasil. Fonte: IBGE (1990).

1.1 - Origem e estrutura da Terra


No intuito de conhecer e desvendar os ‘mistérios’ da origem do universo, diversas teorias
desenvolvidas por teólogos, filósofos, pesquisadores e cientistas têm sido feitas ao longo dos anos.
Entretanto a teoria mais aceitável entre os cientistas é que a Terra se formou a partir do Big Bang,
que foi uma grande explosão de energia. Essa teoria sugere que o início da formação do planeta
Terra teria ocorrido logo após o início da formação do Sistema Solar. A data provável desse início
é de cerca de 5 bilhões de anos atrás. Existem suposições de que o Sistema Solar tenha se formado
a partir da agregação de poeira cósmica, aquecendo-se pela liberação de energia proveniente dos
impactos causados pelo choque dos materiais em fusão. A Terra era uma bola incandescente que
foi se resfriando com o passar do tempo (SILVA,2013).

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Durante o processo de fusão dos materiais que formaram a Terra, os elementos


mais densos e pesados (sobretudo o ferro e o níquel) deslocaram-se para
as camadas mais profundas, enquanto os mais leves e menos densos ficaram
próximos à superfície. (SILVA, 2013, p. 95).

Durante o processo de resfriamento da Terra houve a liberação de gases e vapores, os


quais originaram uma camada de ar envolvendo o planeta, chamada de atmosfera. Os gases
contidos na atmosfera foram se modificando com o tempo, por isso é importante lembrar que
na origem do planeta, havia a presença de metano, amônia, nitritos, vapores de água e dióxido
de carbono, enquanto atualmente o oxigênio e o nitrogênio são predominantes, representando
quase a totalidade dos gases presentes na atmosfera. Os pesquisadores supõem que, por volta
dos 4,6 bilhões de anos atrás, a Terra estava nesse processo de resfriamento, ocasionando um
extenso período de chuvas, causadas pela condensação do vapor de água que havia na atmosfera
(LUCCI, 2012). Esta chuva acumulou-se nas partes mais baixas da superfície terrestre, formando
o que conhecemos por oceanos, assim formou-se a hidrosfera, que consiste em todas as águas
existentes na superfície da Terra. Longo período depois do surgimento da Terra, estima-se que
cerca de 3,5 bilhões de anos atrás, surgiram os primeiros sinais de vida no planeta Terra, as quais
se constituíam enquanto vida vegetal e animal nos oceanos. O conjunto de toda vida existente na
Terra é chamado de biosfera.

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Em todo o processo de formação da Terra, houve um inter-relacionamento entre
as ‘esferas’. Isso determina um equilíbrio no planeta: se ocorre alguma alteração
em uma das ‘esferas’, as outras também podem ser afetadas. (LUCCI, 2012, p.
85).

Contudo, podemos afirmar que o equilíbrio entre as esferas apresentadas (atmosfera,


hidrosfera e biosfera) é imprescindível para que a vida na Terra seja possível.

1.2 - Tempo geológico


Para compreender a formação do planeta, temos que ter duas dimensões: de espaço
e tempo, simultaneamente. O fator tempo ou tempo geológico, é central para a geologia e
conhecê-lo é importante para entender os processos que acontecem na Terra, pois ele propicia
a compreensão das transformações do planeta de modo lento, uma vez que permite visualizar
processos da Terra que se desenvolvem numa multiplicidade de diferentes durações de tempo
(NUNES; NÓBREGA JÚNIOR, 2012).
As rochas expostas à superfície são os registros visíveis dos processos geológicos passados.
Das relações de tempo e espaço reveladas pelas rochas, os geólogos construíram a escala de tempo
geológico (Figura 2), que é usada para ordenar os eventos geológicos da história da Terra, ou
seja, é uma ‘linha do tempo’ que se baseia nos grandes eventos geológicos da história do planeta
nosso planeta, desde o início até o presente. Ela é dividida, basicamente, em: éons, eras, períodos,
épocas e idades.
As maiores divisões são os Éons, que são divididos em: Arcaico (Arqueano + Hadeano),
Proterozoico, Fanerozoico (este apresenta-se em três eras- paleozoico, mesozoico e cenozoico),
O Éon Arcaico, durou da origem da Terra (4.560 milhões de anos = Ma) até 2.500 Ma. É um
período de resfriamento da Terra e consolidação dos núcleos continentais, praticamente sem
registros de vida. O Éon Proterozoico durou de 2.500 à 545 milhões de anos, e é caracterizado
pelo crescimento dos continentes, com a evolução de vastas plataformas continentais em torno
dos núcleos arqueanos estáveis, com alguns registros localizados de vida.

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O Éon Fanerozoico dura de 545 milhões de anos até os dias de hoje, e é caracterizado pela
diversificação da vida. É justamente essa diversificação da vida que nos permite subdividir esse éon
com base em marcadores bioestratigráficos. Já no caso caso dos éons Arqueano e Proterozoico,
os registros de vida são escassos e pouco significativos, e as subdivisões são definidas por eventos
geológicos representativos, tais como orogenias, eventos magmáticos, etc.

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Figura 2 - Escala geológica da história da Terra. Fonte: Sobre Geologia (2018).

Conhecendo as eras geológicas, para exemplificar, mostramos, na Figura 3, o mapa das


eras geológicas do Brasil, que foi feito segundo os tipos de rochas encontrados pelos pesquisadores
em cada região brasileira.

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Figura 3 - Mapa das eras geológicas no Brasil. Fonte: Sigep (2018).

Tempo histórico x tempo geológico


O primeiro compreende a estrutura, conjuntura e os acontecimentos que contri-
buem para sua formação, o segundo é a escala de tempo que representa a linha
do tempo desde o presente até o início da formação da Terra, com base nos gran-
des acontecimentos geológicos da história do planeta.

Curiosidade: se transformássemos os aproximados 4,6 mil milhões de anos da


História da Terra em um ano apenas, verificaríamos que o período Fanerozóico só
teria começado em meados de novembro, e o ser humano só teria aparecido nos
últimos segundos do último dia de dezembro.

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A temperatura também é um fator importante nos processos de formação que envolvem


e acontecem na Terra. É relevante saber que a temperatura aumenta com a profundidade e que o
Grau Geotérmico (a profundidade em metros, necessária para aumentar a temperatura em 1ºC)
é variável de região para região, sendo que o valor de 30 m é tomado como valor médio mundial

2 - ESTRUTURA DA TERRA
A Terra tem forma quase esférica, sendo na verdade um elipsóide de revolução (mais
achatada nos polos). O seu raio médio é de 6370 km. O relevo da superfície terrestre mostra um
desnível máximo da ordem de 20 km (maior altitude: Monte Everest - 8850 m, e maior depressão:
fossa das Filipinas - 11510 m). Considerando-se que os continentes têm uma altitude média de
800 m e os mares uma profundidade média de 3800 m, o desnível médio na crosta terrestre é de
apenas 4,6 km, o que é insignificante em termos do raio terrestre (TEIXEIRA et al., 2000).
A densidade média do nosso planeta é de 5.53, sendo que as rochas que ocorrem com
maior frequência, próximo à sua superfície apresentam densidades em torno de 2.7, o que indica
que a sua densidade varia em profundidade. Isso mostra que a composição química do globo
terrestre não é homogênea, concentrando-se os elementos mais pesados no seu interior. Os

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elementos mais abundantes no globo terrestre são (% em peso): Fe - 36.9; 0 - 29.3; Si - 14.9; Mg
- 6.7; Al - 3.0; Ca - 3.0; Ni - 2.9.
As camadas do globo terrestre são denominadas crosta, manto e núcleo (Figura 4).
Núcleo é a porção mais interna do globo terrestre, sendo composto por uma parte interna sólida
e uma parte externa líquida. A sua densidade inferida é de 10.7, sendo composto de Fe (90.5%),
Ni (8.5%) e Co (0.6%), sendo denominada de NIFE. Manto é a mais espessa das zonas internas
do planeta, sendo provavelmente constituído de silicatos magnesianos ou sulfetos e óxidos e
apresenta densidade média de 4.5. Crosta é a zona mais externa do globo, apresentando uma
espessura média de 35 km e apresenta três camadas denominadas de crosta superior, oceânica e
inferior. A sua densidade média é 2.76 e sua composição química básica é (% em peso): O - 45.2;
Si - 27.2; Al - 8.0; Fe - 5.8; Ca - 5.1; Mg - 2.8; Na - 2.3; K - 1.7.

Figura 4 - Estrutura Geológica da Terra. Fonte: Sopas de Pedras (2017).

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Atualmente, essas camadas da estrutura geológica têm sido conhecidas pelos termos
litosfera, astenosfera e mesosfera onde a primeira é rígida e consiste da crosta e uma porção do
manto superior variando de 50 a 150 km, a segunda é plástica e compreende a parte superior
abaixo da litosfera, se situando entre 50 e 250 km de profundidade, e a última é rígida (pela
maior pressão a despeito da temperatura) e compreende o manto inferior. A crosta terrestre é
diferenciada em crosta continental e crosta oceânica (Figura 5).

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Figura 5 - Diferenciação e espessuras das camadas da Terra. Fonte: Geo-Conceição (2018).

A crosta continental é a capa superior do planeta, coincidindo com os continentes e é


constituída principalmente por granodioritos, rochas ricas em Si e Al. A crosta oceânica é a parte
da capa superior do planeta presente sob os oceanos, essa é composta essencialmente por gabros e
basaltos, rochas ricas em Si, Mg e Fe. Devido a estas diferenças de composição as partes da crosta
são também conhecidas como Sial (crosta continental superior) e Sima (crosta oceânica e crosta
continental inferior). As características das camadas constituintes da terra são apresentadas na
Tabela 1.

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Tabela 1 - Profundidade, denominação, constituição litológica, densidade e temperatura


das camadas da terra.

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2.1 - Formação do Relevo
O relevo consiste nas formas das superfícies do planeta, ou seja, é o conjunto das formas
da crosta terrestre, e suas diferentes formas são influenciadas por agentes internos e externos que
se manifestam na natureza e constituem os processos geológicos para sua formação.

2.2 - Processos geológicos ou dinâmica da Terra


Ao observarmos a Terra, no nosso cotidiano, somos induzidos a pensar que a Terra é
um sistema estático, exceto quando ocorrem alguns eventos catastróficos, como terremotos e
deslizamentos de encostas, por exemplo. Mas a Terra é bastante dinâmica e a observação desse
dinamismo não está ao alcance da percepção humana, pois sua escala tanto espacial, quanto
temporal, está além da nossa capacidade perceptiva. No entanto, ao longo dos anos, pesquisadores
vêm aplicando e aperfeiçoando métodos científicos na descoberta dessa dinâmica, acumulando
informações e teorias que permitem hoje criar modelos que explicam fatos observados, e auxiliam
a predizer acontecimentos futuros.
Os processos geológicos ou dinâmica da terra é o conjunto de ações que promovem
modificações da crosta terrestre, seja em sua forma, estrutura ou composição. A energia necessária
a tais ações provém do sol ou do interior da Terra. Os processos geológicos (ou dinâmica da
terra) são divididos em processos endógenos (dinâmica interna) e processos exógenos (dinâmica
externa).

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Alfred Wegener, em seu livro “A origem dos Continentes e dos Oceanos” propôs
pela primeira vez que os continentes se moviam, numa ideia que ficou conhecida como
“Deriva Continental”. Sua teoria propunha a existência de uma única massa continental (um
supercontinente) denominado por ele “Pangea” (do grego “toda terra”). Este autor retratou, em
suas obras, mapas que mostram o rompimento deste supercontinente que começou a se dividir
há 200 milhões de anos, até a configuração dos seis continentes, como vemos hoje.
Nessa trajetória de pesquisas e descobertas, novos métodos de estudo de como as forças
internas e externas moldam a Terra, têm gerado abundantes novas informações e excitantes
questões. Nas três últimas décadas do século XX, geólogos desenvolveram uma nova teoria
unificadora que relaciona os processos dinâmicos da Terra aos movimentos de grandes placas
que constituem a capa externa do planeta, teoria esta chamada de Tectônica de Placas.
Com o aperfeiçoamento dos métodos radiométricos, ao final dos anos 60, pôde-
se constatar que o fundo oceânico é tanto mais velho quanto mais afastado estiver da cadeia
meso-oceânica, confirmando dessa forma a ideia da Expansão do Assoalho Oceânico. Estas
observações e as teorias a elas associadas, da Deriva Continental (baseada em evidências
estruturais e paleontológicas similares em locais distantes) e da Expansão do Assoalho Oceânico,
forneceram a base para a elaboração da Teoria da Tectônica de Placas. Esta teoria oferece um
modelo abrangente para explicar como a Terra funciona.
A Teoria de Placas Tectônicas considera a crosta terrestre fragmentada como um grande

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quebra-cabeça, sendo composta por vários pedaços ou fragmentos, que se encontram em
movimento (Figura 6). Estes fragmentos são denominados de Placas Tectônicas. Atualmente,
existem 7 grandes placas e outras tantas menores. Elas se comportam como blocos rígidos que
se movem muito lentamente por correntes de convecção existentes na astenosfera. As placas
se movimentam de 3 a 11 cm por ano em diferentes direções e apresentam tipos de contatos
distintos.

Figura 6 - Distribuição das placas tectônicas à superfície da Terra. Fonte: Ineg (2018).

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Os contatos entre placas tectônicas são áreas extremamente instáveis da litosfera, onde
se concentram episódios vulcânicos e terremotos. As placas tectônicas movem-se devido à ação
das conhecidas correntes de convecção, que são os movimentos circulares exercidos pelo magma
e que funcionam como uma espécie de “esteira” que, ao girar, provoca o deslocamento dessas
placas (Figura 7).

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Figura 7 - Modelo esquemático da representação dos limites das placas tectônicas. Fonte: Ebah (2018).

As placas tectônicas movimentam-se e interagem-se a partir de dois movimentos


principais: a orogênese e a epirogênese. A orogênese refere-se a movimentos horizontais
realizados pelas placas tectônicas, os quais são responsáveis pela aproximação ou afastamento
entre elas. Eles costumam ocorrer em regiões instáveis e geologicamente recentes, provocando
a ocorrência de terremotos e vulcanismo, além da formação de cadeias de montanhas. Já a
epirogênese refere-se aos movimentos verticais realizados pelas placas tectônicas, geralmente
associados à emigração ou imigração de magma do subsolo, provocando o soerguimento ou a
declinação do relevo. Ocorre, geralmente, em zonas continentais, longe das placas tectônicas,
regiões estáveis e de formação geológica recente. Esses diferentes tipos de contatos entre placas
tectônicas são resultantes de esforços distintos da natureza e são descritos a seguir:

- Zonas de subducção: zonas onde uma placa mergulha sob outra, resultando em esforços
compressivos, formando assim tanto fossas oceânicas, como a fossa das Filipinas, como cadeias
de montanhas, tais como a Cordilheira dos Andes;

- Zonas de expansão: zonas onde há formação e expansão da litosfera, caracterizadas


por esforços de tensão, formando as cadeias meso-oceânicas, como a cadeia meso-Atlântica, e
mesmo em áreas continentais como a área do Golfo da Califórnia;

- Zonas de falhas transformantes: zonas onde forças atuando em planos distintos, e em


sentidos contrários, causam deslocamento relativo entre os blocos adjacentes. Este é o caso da
Falha de Santo André, na costa oeste da América do Norte.

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Você já imaginou como as placas tectônicas se movimentam?


Sugerimos que assista a esse vídeo e veja que, segundo o narrador “o movimento
das placas é comparável ao de blocos de gelo sobre o mar. Porém, as placas,
em vez de flutuarem na água, “nadam” sobre rochas derretidas abaixo da crosta
terrestre”.

Vídeo: Entenda como as placas tectônicas se movimentam


Disponível em: http.//www.dw.com/pt-br/entenda-como-as-placas-tect%C3%B-
4nicas-se-movem/av-19527459

Os processos geológicos endógenos ou dinâmica interna da Terra consiste nos processos


relacionados às forças e energia provenientes do interior do planeta. Esta energia está relacionada
ao calor residual ainda existente no interior do planeta, advindo das altas temperaturas da
nebulosa solar, quando o sistema solar estava se formando. Este calor residual é associado ao
calor oriundo do decaimento radioativo de elementos no núcleo da Terra.
Provavelmente, o fenômeno mais espetacular produzido por este calor seja a movimentação

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das placas tectônicas na crosta terrestre. Os processos geológicos endógenos são diversos, sendo os
mais relevantes: magmatismo, metamorfismo, vulcanismo, plutanismo, terremotos e orogêneses
(formação de montanhas).
Os processos geológicos não ocorrem isoladamente, eles estão interligados: Os
sedimentos (areias, cascalhos, etc.) quando depositados podem se consolidar formando as rochas
sedimentares. O metamorfismo acontece quando há um aumento de pressão e temperatura
sobre as rochas sedimentares e estas se transformam em rochas metamórficas. Aumentando-
se ainda mais a pressão e a temperatura estas rochas podem fundir-se originando um magma,
iniciando o magmatismo. Quando esse magma entra em movimento no interior da crosta, ele
pode atingir a superfície rapidamente, dando origem às rochas vulcânicas, processo denominado
de vulcanismo. Mas, se o magma resfria em profundidade, dá-se origem às rochas plutônicas,
esse processo consiste no plutonismo. As rochas existentes podem ainda sofrer perturbações
devido a esforços que ocorrem no interior da crosta, podendo assim deformar-se, ocorrendo
dobramentos ou “quebrar-se”, surgindo as falhas (falhamentos). Esforços do mesmo tipo, ao
provocarem reacomodações de partes da crosta terrestre, produzem vibrações que se propagam
em forma de ondas, o que conhecemos por terremotos.
A orogênese é responsável pela formação de montanhas. Várias são as causas que levam
à formação de montanhas, entre elas a erosão, falhas, etc., mas as grandes cadeias têm sua gênese
associadas aos geossinclinais. Geossinclinais são locais de intensa sedimentação, que associada
ao magmatismo, provocam sua subsidência com posterior arqueamento e soerguimento. O
levantamento das cadeias de montanhas, após o entulhamento dos geossinclinais, parece estar
ligado a movimentos tectônicos (esforços provenientes do interior da Terra).
Já os processos geológicos exógenos ou dinâmica externa, são processos impulsionados
pela energia proveniente do exterior da Terra, consistindo basicamente da energia solar que
atua direta ou indiretamente sobre a superfície da Terra. São processos geológicos exógenos: o
intemperismo, a erosão/transporte, a deposição (sedimentação) e a diagênese (consolidação). Os
processos de desagregação e decomposição de rochas por ação da água, vento, gelo e organismos
constituem o intemperismo.

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A água é o elemento mais importante, pois atua tanto na superfície como na subsuperfície,
tendo ação intempérica (é o principal agente de intemperismo químico) e transportadora. Ao
percolar, a água transporta solutos (lixiviação) para o lençol freático; estes solutos ao atingir
o mar ou outro ambiente de sedimentação, podem se precipitar e formar rochas sedimentares
químicas. Ao escoar pela superfície, a água transporta sedimentos (erosão), depositando-os com
a diminuição de sua energia (sedimentação), formando depósitos que originarão solos ou rochas
sedimentares clásticas. Os mecanismos que levam à solidificação são conhecidos em conjunto
como diagênese. O vento e o gelo são agentes intempéricos e transportadores. O intemperismo
se dá pela ação abrasiva de partículas por eles transportadas. Os organismos atuam amplamente
sobre a crosta terrestre desde o microorganismo que se fixa na rocha até o homem que a fragmenta
para comercializá-la.
As duas fontes de energia principais envolvidas nos processos geológicos são
independentes entre si, apresentando, entretanto, efeitos recíprocos. Por exemplo, a formação
de montanhas em uma determinada área é independente dos processos exógenos que estejam
porventura ocorrendo, no entanto, ela vai gerar uma nova condição de atuação da erosão sobre
as montanhas surgidas, o que é um processo exógeno. As forças exógenas tendem a destruir a
superfície dos continentes, transportando os materiais que vão se depositando. Por este processo,
a tendência é o aplainamento total da superfície terrestre. No entanto, embora estes processos
ocorram desde o início da existência da Terra, o aplainamento jamais se completou. Isto se deve às

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forças endógenas que agem, em parte, em sentido contrário ao da erosão. A matéria proveniente
do interior da Terra é continuamente impulsionada rumo à superfície, formando novas rochas,
acentuando as diferenças do relevo e evitando que seja atingido o aplainamento, o equilíbrio da
superfície.
Contudo, em função de suas características e dos processos geológicos que estiveram
envolvidos em sua formação podemos agora, compreender melhor o relevo e também a sua
classificação, que consiste em quatro tipos (Figura 8):

Figura 8 - Formas diferentes de relevo. Fonte: Cristianemattar (2018).

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- Montanhas: é a parte da superfície que apresenta as maiores altitudes e as mais intensas


declividades. Existem diferentes processos responsáveis pela formação das montanhas. Por isso,
há quatro tipos diferentes, classificados conforme a sua gênese: as vulcânicas, formadas pela ação
e composição dos vulcões; as dobradas (mais comuns), sendo formadas pela constituição dos
dobramentos terrestres resultantes do tectonismo; as erodidas, formadas a partir da erosão de
suas áreas de entorno durante um lento processo de desgaste da superfície; e as falhadas, aquelas
que surgem a partir dos falhamentos dos blocos rochosos.

- Planaltos: são áreas com uma relativa altitude e uma superfície mais ou menos plana,
com limites bem nítidos, estes geralmente constituídos por escarpas ou serras. Os planaltos, por
serem geralmente mais altos dos que as planícies, apresentam o predomínio de processos erosivos.
Isso quer dizer que o desgaste do solo é maior do que o acúmulo de sedimentos, que costuma
deslocar-se para áreas mais baixas. Quase sempre os planaltos estão cercados por depressões
relativas, tal como costuma ocorrer no território brasileiro.
Existem três tipos de planaltos: aqueles formados por rochas de origem vulcânica, os
basálticos; aqueles constituídos por rochas metamórficas e magmáticas intrusivas, os cristalinos;
e aqueles formados por rochas do tipo sedimentar, os sedimentares.

- Planícies: são áreas com uma paisagem menos acidentada, que, por possuírem altitudes

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menores em relação aos planaltos e montanhas, recebem uma grande quantidade de sedimentos
dos mesmos. As planícies são provenientes do desgaste de outras formas de relevo. Geralmente,
esse tipo de relevo aparece nas regiões litorâneas, embora nem toda área de litoral constitua uma
planície, e podem ser também fluviais, ou seja, próximas a leitos de rios. Uma planície fluvial
muito conhecida no Brasil e no mundo é a do Rio Amazonas, que, por ser quase que totalmente
plana, possui um baixo potencial hidroelétrico, uma vez que a declividade e a velocidade da água
são baixas.

- Depressões: são regiões que apresentam, no geral, pequenas altitudes e que são mais
baixas do que o nível do mar ou a região em seu entorno. Possuem uma superfície plana ou côncava
geralmente, uma vez que passaram por um longo período de erosão e que agora se caracterizam
pela predominância do acúmulo de sedimentos provenientes das regiões circundantes. Existem
dois tipos de depressões: as absolutas, que são aquelas que se encontram abaixo do nível do mar,
a exemplo da região do Mar Morto, a maior depressão absoluta do mundo; e as relativas, aquelas
que são mais baixas do que o relevo ao seu redor.
Há também outros tipos de relevo, são eles (Figura 9):

a) Chapadas: forma de relevo mais elevadas em relação às áreas adjacentes. Ex: Chapada
diamantina;

b) Cuestas: relevo assimétrico inclinado, apresentando um declive suave de um lado e


um corte abrupto do outro;

c) Mares de morros: em formato de meia laranja, esse tipo é resultado do processo de


erosão pluvial em terrenos cristalinos;

d) Relevo cárstico: são as grutas e cavernas.

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Figura 9 - Outros tipos de relevo. Fonte: Cristianemattar (2018).

Legenda da Figura 9: a) chapadas; b) cuestas; c) mares de morros; d) relevo cárstico. Um


processo endógeno que pode influenciar diretamente na formação do relevo, como já sabemos,
é a orogênese (movimento horizontal das placas tectônicas). Para exemplificar esse fenômeno,
mostramos a Figura 10, na qual contém uma representação esquemática de três acontecimentos:

1- Colisão da placa oceânica x continente: Cinturão Magmático que forma montanhas


no continente;

2- Colisão entre 2 placas oceânicas: cadeias de ilhas vulcânicas (Arcos de Ilhas Oceânicas;

3- Colisão entre 2 placas continentais: Grande espessamento da crosta, com grandes


dobramentos e falhamentos.

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Figura 10 - Movimento horizontal das placas tectônicas. Fonte: Cristianemattar (2018).

Coleção Abril. Planeta Terra. São Paulo: Time Life/Abril Livros, 1996. esta é uma
coleção que mostra todas as características físicas da Terra, como as rochas, rios,
solos, vegetação, relevos e o clima.

Documentário: A origem do Planeta Terra.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=k3jXLTTMPrs

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02
DISCIPLINA:
GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA

PETROLOGIA
PROF.A DRA. FLÁVIA CARVALHO SILVA

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................21
1 - MINERALOGIA .................................................................................................................................................... 22
1.1 - PROPRIEDADES FÍSICAS DOS MINERAIS .................................................................................................... 23
1.2 - CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA DOS MINERAIS ................................................................................................ 24
1.3 - POLIMORFISMO E ISOMORFISMO DOS MINERAIS ................................................................................... 25
2 - ROCHAS ÍGNEAS, SEDIMENTARES E METAMÓRFICAS ................................................................................ 27
2.1 - ROCHAS ÍGNEAS OU MAGMÁTICAS .............................................................................................................. 27
2.1.1 - CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS ÍGNEAS ..................................................................................................... 29
2.2 - ROCHAS SEDIMENTARES .............................................................................................................................. 32
2.2.1 - CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS SEDIMENTARES ..................................................................................... 33
2.3 - ROCHAS METAMÓRFICAS ............................................................................................................................ 34
2.3.1 - PERTURBAÇÕES NAS ROCHAS .................................................................................................................. 35
2.3.2 - CLASSIFICAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DAS ROCHAS METAMÓRFICAS .................................................... 35

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INTRODUÇÃO
A petrologia é o ramo da geologia que estuda as rochas e os minerais, ou seja, a origem,
ocorrência, estrutura e história dos mesmos. Com base nas descobertas e avaliações feitas nos
materiais (rochas e minerais) encontrados pelos pesquisadores, geólogos, geógrafos, dentre
outros, ao longo de anos de estudos (e até hoje), a petrologia foi dividida em três campos de
estudo: ígnea, sedimentar e metamórfica (CARNEIRO, 2009).
A petrologia ígnea abrange estudos relacionados a composição e textura de minerais e
rochas ígneas (como o granito e o basalto, que cristalizam a partir de rocha fundida ou magma),
a sedimentar envolve a composição e textura de rochas sedimentares (como o calcário e o arenito,
compostas por partículas sedimentares cimentadas por uma matriz de material mais fino) e a
metamórfica é direcionada ao estudo da composição e textura de rochas metamórficas (como
o gnaisse e o xisto, que começaram por ser rochas ígneas ou sedimentares mas que sofreram
alterações químicas, mineralógicas ou texturais devido a temperaturas e/ou pressões extremas).
Para investigar, estudar e entender a formação das rochas é necessário envolver a
mineralogia (principalmente), processos geológicos envolvidos na sua formação, o uso de

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recursos tecnológicos, como a petrografia microscópica e das análises químicas para descrever
a composição e textura das mesmas. Modernamente, são aplicados os princípios de geoquímica
e geofísica através do estudo de tendências e ciclos geoquímicos e da utilização de dados
termodinâmicos em experiências com o objetivo de melhor compreender as origens das rochas.
Portanto, nessa unidade vamos estudar os minerais que compõem as rochas e a formação
das mesmas, suas características principais e as similaridades que permite à ciência, agrupá-las
em ígneas, sedimentares e metamórficas.

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1 - MINERALOGIA
Por definição, um “mineral é uma substância de massa inorgânica natural, geralmente
sólida e cristalina, de composição química definida, com um ou vários tipos de cristalização”
(TEIXEIRA et al, 2000).
Os minerais são os elementos principais constituintes das rochas e consistem em sólidos
homogêneos, que ocorrem naturalmente, geralmente inorgânicos, que apresentam arranjo
atômico ordenado e composição química única. Cada espécie mineral se caracteriza por apresentar
quantidades definidas e proporcionais de determinados elementos químicos, elementos que, por
sua vez, se arranjam no espaço de uma maneira organizada e regular, formando o que chamamos
de arranjo cristalino. O arranjo atômico ordenado e a composição química definida conferem a
um mineral a sua homogeneidade, ou seja, física e quimicamente ele se constitui em uma única
fase, possuindo um conjunto diagnóstico de propriedades físicas e químicas que permitem sua
classificação. A forma, a clivagem e a absorção seletiva da luz, entre outras, são as propriedades
físicas dos minerais e refletem a sua estrutura interna regular, enquanto a dissolução em ácidos
reflete a composição química dos minerais. A maioria dos minerais podem ser identificadas
macroscopicamente através de seus atributos como: brilho, dureza, clivagem, fratura, entre outros

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(CARNEIRO et al, 2009).
É importante saber que há substâncias inorgânicas que também constituem as rochas,
mas não possuem um arranjo ordenado de seus átomos, estes materiais são denominados de
mineralóides ou substâncias amorfas.
Quando um mineral caracteriza um tipo de rocha, ele é denominado de “mineral
essencial”; há ainda os “minerais acessórios” que revelam condições especiais de cristalização,
como também os “minerais secundários” que aparecem nas rochas depois de sua formação.
Existe ainda uma categoria de minerais indispensáveis para as operações industriais de alguns
países, os quais são chamados de “minerais estratégicos” e, geralmente, são recursos explorados
em outros países, causando vários tipos de dependências (NUNES e NÓBREGA JÚNIOR, 2012).

A Bingham Canyon Mine, em Utah, é a maior mina de ouro ao ar livre escavada


pelo homem. O filme sugerido revela os avanços estruturais e nas áreas de explo-
são, escavação e transporte que permitiram que tamanha mineração a céu aberto
fosse viável. Esta mega cratera tem quatro quilômetros de comprimento e quase
1,6 km de profundidade. Além da Grande Muralha da China, ela é única estrutura
feita pelo homem que pode ser vista do espaço.

Vídeo: Mina de Ouro Sul africana - Mega Construções Discovery Channel

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5zJ486Yv1Ws&list=PLQAy-


7q8UwZ74hBrUuAAdtMP08p6ERvY1Q

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1.1 - Propriedades físicas dos minerais


- Densidade (d): é a relação entre o peso do mineral e o peso de um mesmo volume de
água destilada à 4°C. A densidade depende principalmente da composição química do mineral
em questão.

- Dureza (D): é a resistência que a superfície lisa do mineral oferece ao risco feito com
uma ponta aguda. A dureza é uma propriedade física muito útil na identificação de minerais e
a sua determinação é feita qualitativamente através de instrumentos simples como um canivete
ou usando-se a Escala de Mohs (Figura 11). A Escala de Mohs é uma coleção de dez minerais de
referência, comuns, que constituem uma escala numérica arbitrária para a comparação da dureza
relativa entre os minerais.

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Figura 11 - Escala de Mohs. Fonte: Geojiram (2018).

Na prática é possível fazer a determinação qualitativa da dureza usando a unha e


o prego (ou qualquer ponta de aço), caracterizando assim intervalos de dureza. A
lâmina de aço de um canivete e o vidro riscam minerais com dureza até 5. A unha
risca minerais de dureza ≤ 2.

- Hábito e agregado: é a configuração externa do mineral (hábito) ou do conjunto de


indivíduos da mesma espécie mineral (agregado). A forma (hábito) de um mineral é dada em
função de sua estrutura cristalina. Dentre vários tipos de hábito, tem-se: hábito tabular, hábito
prismático, lamelar ou placóide, cúbico e escamoso. Esses são os mais comuns, ou seja, de maior
ocorrência entre os minerais.

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- Clivagem: é a propriedade que alguns minerais apresentam de se partir segundo


superfícies planas e paralelas, relacionadas à sua estrutura cristalina (normalmente planos de
fraqueza na estrutura). Pode ocorrer segundo uma ou várias direções e gerar superfícies de
qualidade variável (mais, ou menos lisas) como por exemplos, a clivagem excelente em uma
direção da muscovita (mica branca), a clivagem perfeita em três direções não ortogonais da
calcita, a clivagem boa em duas direções e má em uma direção dos feldspatos.

- Fraturas: denominação dada à maneira irregular de um mineral se quebrar. Alguns


minerais têm fraturas muito características, como é o caso da fratura conchoidal do quartzo.

- Cor: Esta propriedade está relacionada à absorção e/ou reflexão da luz pelos minerais.
A cor resulta da absorção seletiva de comprimentos de onda da luz branca pelos minerais.
Normalmente a cor é variável para uma mesma espécie mineral, sendo, entretanto, uniforme
e diagnóstica para alguns minerais. A cor variável, em alguns casos, dá origem a variedades do
mineral, tais como as variedades azul (safira) e vermelha (rubi) do coríndon.

- Brilho: é determinado de forma descritiva, caracterizando-se dois grupos principais:


os minerais que apresentam brilho de metal (brilho metálico), e aqueles que não o apresentam
(brilho não metálico). Neste segundo grupo, que engloba a maior parte dos minerais, o brilho

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é descrito por analogia a substâncias comuns: vítreo (do vidro), adamantino (do diamante),
resinoso, sedoso, gorduroso ou graxo, nacarado (da pérola), ceroso, terroso, etc.

- Traço: é a cor do mineral reduzido a pó. É muito característico em algumas espécies


minerais, como é o caso dos óxidos hematita (avermelhado), goethita (amarelado) e magnetita
(preto). O traço é determinado utilizando-se a parte fosca de uma placa de porcelana branca,
sobre a qual fricciona-se o mineral e observa-se a cor do pó (o traço). Considerando-se que a
porcelana tem dureza 6, não se determinam os traços de minerais com dureza ≥ 6.

1.2 - Classificação química dos minerais


Os minerais de acordo com a composição química são subdivididos em classes químicas
caracterizadas pela presença de um determinado elemento ou grupo iônico em particular Essas
classes químicas de minerais estão descritas a seguir:

- Elementos nativos: minerais onde os elementos ocorrem sob forma não combinada.
São elementos nativos, dentre outros, ouro (Au), diamante (C), grafita (C) e enxofre (S).

- Sulfetos: minerais que resultam da combinação de elementos metálicos com o enxofre.


Ex.: galena (PbS), pirita (FeS2).

- Óxidos: minerais que contém um ou mais elementos metálicos em combinação com o


oxigênio.

- Hidróxidos: são aqueles óxidos que contém água ou hidroxila (OH) em sua composição.
Ex.: hematita, pirolusita, magnetita, cassiterita, goethita, gibbsita.

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- Carbonatos: minerais cujas fórmulas incluem o grupo iônico CO3 (carbonato). Ex.:
calcita, dolomita, magnesita.

- Fosfatos: minerais cujas fórmulas contém o grupo iônico PO4 (fosfato). Ex.: apatita
(Ca5(PO4)4(OH,F,Cl)).

- Silicatos: São minerais cuja composição química inclui obrigatoriamente Si e O, em


combinação com outros elementos químicos. Esta classe contém cerca de 95% dos minerais
petrográficos (formadores de rochas). A estrutura de todos os silicatos consiste de uma unidade
fundamental constituída de quatro (4) átomos de oxigênio coordenados por um átomo de silício,
resultando em uma configuração tetraédrica (“tetraedro de sílica”).

1.3 - Polimorfismo e isomorfismo dos minerais


Existem também os minerais amorfos, os quais se caracterizam pela ausência de formas
geométricas regulares, uma vez que não há neles uma estrutura molecular que dê aparecimento
de faces planas como nos minerais cristalizados. As substâncias amorfas, também chamadas de
mineraloides, são representadas pelo vidro vulcânico, o carvão ou outros compostos de origem
orgânica. Esse tipo de mineral pode ser polimorfo ou isomorfo.

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Os minerais polimorfos são aqueles que têm essencialmente a mesma composição
química, mas estruturas cristalinas diferentes, o que se reflete nas suas propriedades físicas
distintas. Por exemplo, grafita e diamante são polimorfos de carbono (C).
Os minerais isomorfos são aqueles que possuem estrutura cristalina semelhante, mas
composição química diferente ou variável dentro de determinados limites. O isomorfismo
tem como causa principal a substituição isomórfica, ou seja, a substituição de átomos ou
íons na estrutura cristalina do mineral. Este é um fenômeno que ocorre em muitos minerais,
principalmente naqueles que formam as séries isomórficas ou séries de soluções sólidas como a
série das olivinas, dos plagioclásios cálcio-sódicos, etc.

• Minerais petrográficos: Atualmente, são conhecidos pela ciência cerca de 2000


espécies diferentes de minerais, entretanto, apenas algumas dezenas contribuem efetivamente
na formação das rochas Esses minerais considerados ‘formadores das rochas’ são denominados
minerais petrográfico, por exemplo, a hematita e a calcita.

Toda rocha apresenta uma associação de minerais diagnóstica. Ao notar a pre-


sença de quartzo em uma rocha, podemos inferir que os minerais escuros que o
acompanham são provavelmente hornblenda e/ou biotita. Para distinguir entre
hornblenda (anfibólio) e biotita, a observação é feita, principalmente, pela forma e
dureza desse mineral. A biotita apresenta forma laminar, ou seja, contém lâminas
que podem ser facilmente destacadas e/ou riscada com a ponta de um canivete
e a hornblenda não pode, pois tem dureza maior, como apresentado na Escala de
Mohr).

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Curiosidade: Por sua extensão e, principalmente, devido aos inúmeros ambientes


geológicos favoráveis à formação de depósitos minerais, o Brasil dispõe de um vasto potencial de
ocorrência desses recursos (Figura 12). Os recursos minerais podem ser classificados tecnicamente
como minerais metálicos, não-metálicos e energéticos. Com base na sua presença, podem ser
divididos em abundantes, como o ferro; suficientes, como o urânio; e insuficientes, como o cobre.

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Figura 12 - Mapa de localização dos minerais encontrados no Brasil. Fonte: Coladaweb (2018).

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2 - ROCHAS ÍGNEAS, SEDIMENTARES E


METAMÓRFICAS

2.1 - Rochas ígneas ou magmáticas


Para a formação das rochas ígneas ou magmáticas há três processos geológicos muito
importantes: magmatismo, plutonismo e vulcanismo.
O magmatismo consiste no início da formação das rochas ígneas, as quais se formam pela
consolidação do magma. O magma consiste de uma fusão predominantemente silicatada, móvel,
de alta temperatura, proveniente do interior do globo terrestre. Sua composição é dominada
pelos silicatos, por óxidos e por substâncias voláteis (Figura 13).

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Figura 13 - Composição química do magma. Fonte: Netxplica (2018).

A partir da determinação da composição do conjunto das rochas ígneas existentes na


porção superficial da crosta terrestre ficou evidenciada a existência de dois grupos composicionais
principais indicando a existência de dois tipos fundamentais de magmas: ácidos (graníticos) e
básicos (basálticos). Os magmas graníticos são produzidos por fusão de rochas pré-existentes
em profundidades que variam de 7 a 15 km. Os magmas básicos se originam na parte superior
do manto, em profundidades de 40 a 100 km, por fusão de rochas básicas e ultrabásicas. A
temperatura dos magmas varia de 600 a 1200º C, podendo chegar a 1700º C. Os magmas ácidos
têm temperaturas médias de 700º C, enquanto os básicos variam de 900 a 1200º C. A viscosidade
(resistência ao escoamento) determina a maior ou menor fluidez do magma, sendo função de sua
composição, temperatura e pressão a que está submetido. O magma ao se resfriar, possibilita a
cristalização de diferentes minerais, cujo conjunto constitui a rocha ígnea.

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O conjunto de fenômenos magmáticos que ocorrem em regiões profundas da crosta


terrestre é denominado de plutonismo. Os corpos rochosos assim formados são chamados
plútons ou plutonitos, ou ainda rochas ígneas intrusivas ou plutônicas. As rochas pré-existentes
que envolvem o corpo plutônico são conhecidas por rochas encaixantes. Geralmente as rochas
ígneas intrusivas são ácidas (granitos e granodioritos), porque os magmas ácidos apresentam
características físicas e químicas que fazem com que estes tenham maiores possibilidades de se
cristalizar em profundidade do que à superfície. Devido ao fato de serem resultantes de massas
magmáticas que se consolidam no interior da Terra, as rochas ígneas intrusivas apresentam
uma grande variabilidade de formas e dimensões, assim como distintas relações com as rochas
encaixantes.
Em conformidade com as relações com as rochas encaixantes, as intrusivas são divididas
em concordantes e discordantes. Corpos intrusivos concordantes são aqueles que concordam,
que acompanham a estrutura das rochas encaixantes, adquirindo então uma forma determinada
pela disposição destas rochas. As formas concordantes mais comuns são as Soleiras ou sills,
os quais são corpos extensos, pouco espessos de forma tabular quando vistos em corte. Estes
corpos foram formados a partir de um magma de baixa viscosidade, o qual pode se intrometer
entre planos da rocha encaixante. São muito comuns as soleiras de diabásio (rocha básica)
nas bacias sedimentares paleozóicas do Brasil (Paraná, Maranhão e Amazonas). Já os corpos
intrusivos discordantes são aqueles que cortam, que truncam a estrutura das rochas encaixantes.

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Estes corpos geralmente obedecem a outros elementos estruturais desenvolvidos nas rochas,
tais como diáclases, falhas, fendas ou aberturas produzidas por explosões vulcânicas. As formas
discordantes mais comuns são os diques.
Diques são corpos magmáticos de forma tabular que preenchem fendas nas rochas pré-
existentes. Têm largura e comprimento muito variável, o que significa que pode haver desde
“microdiques” até diques com vários metros de largura e quilômetros de extensão. Os diques
podem formar conjuntos (sistemas) nos quais se dispõem em direções paralelas ou cruzadas, ou
podem ser radiais, orientando-se radialmente a partir de uma região central. Os diques podem
também se formar em consequência de esforços de tensão provocados pela ascensão de um corpo
magmático, chamados de anelares, ou ainda de fendas produzidas ao redor de um foco vulcânico,
quando do abatimento (colapso) do edifício vulcânico. Batólitos são corpos magmáticos de
grandes dimensões (área de afloramento superior a 100 km2) que não têm, aparentemente,
delimitação em profundidade (Figura 14).
O vulcanismo envolve todos os processos que permitem e provocam a ascensão de material
magmático do interior para a superfície terrestre. O magma pode extravasar à superfície através
de dois tipos de aberturas: fissuras, que são extensas fendas que colocam a câmara magmática
(cavidade onde se aloja o magma) em contato com a superfície, ou orifícios. O vulcanismo de
fissura atualmente é observado ao longo das cadeias meso-oceânicas. O vulcanismo de orifícios
é o tipo mais comum de vulcões atuais, sendo o magma ejetado por uma abertura circular em
torno da qual se acumulam os materiais produzidos pela atividade vulcânica, constituindo assim
o edifício ou cone vulcânico. O orifício é chamado de cratera, e o canal por onde ascende o
magma se denomina conduto ou chaminé vulcânica. Devido a remoção intensa de material
subjacente ao cone vulcânico é comum que ocorra o abatimento (destruição) total ou parcial do
foco vulcânico. O conjunto de montanhas com disposição circular que comumente envolvem um
foco vulcânico abatido é conhecido como caldeira.
Geralmente, os vulcões são encontrados agrupados em zonas, principalmente ao longo
de costas oceânicas, destacando-se a costa do oceano Pacífico, formando o chamado círculo do
fogo. Tal distribuição de vulcões está estreitamente relacionada com os contatos entre placas
tectônicas. No interior dos continentes as atividades vulcânicas são mais raras. Na Figura 14,
constam as formas de ocorrência das rochas magmáticas.

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Figura 14 - Formas de ocorrência das rochas magmáticas. Fonte: Sobre Geologia (2018).

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2.1.1 - Classificação das rochas ígneas
Com base nas características do seu processo de formação, existe uma grande variedade
de tipos de rochas ígneas. A classificação destas rochas é, então, feita de acordo com diferentes
critérios:

Profundidade de formação da rocha: O magma, no seu movimento no interior do globo


terrestre, pode atingir ou não a superfície e tem-se, desse modo, os seguintes tipos de rochas
ígneas:

- Magmáticas, oriundas da solidificação do magma à pequenas profundidades.


Sendo intermediárias entre as anteriores, apresentam características medianas entre um e outro
tipo. Ex.: diabásio, microgranito.

- Extrusivas ou vulcânicas: onde a consolidação do magma se deu à superfície.


Neste caso o resfriamento do magma é rápido, uma vez que está em contato direto com a
atmosfera. Ex.: basalto, riolito.

- Intrusivas ou plutônicas: são formadas em grandes profundidades, sendo o


resfriamento do magma lento, já que as perdas de calor são menores e mais lentas. Ex.: gabro,
granito.

Granulometria: Em função do tamanho dos grãos minerais nelas presentes, as rochas


ígneas podem ser divididas em:

- Faneríticas ou grosseiras, cujos minerais são facilmente perceptíveis a olho nu.


Ex.: granito, gabro.

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- Médias, cujos minerais são moderadamente visíveis a olho nu. Ex.: microgranito,
diabásio.

- Afaníticas, ou finas nas quais é impossível a distinção dos minerais, a olho nu.
Ex: basalto, riolito.

Teor de SiO2: É um critério químico relacionado com a quantidade de sílica total na


rocha. Por este critério as rochas ígneas são classificadas em:

- Ácidas: SiO2 > 65%. Tais rochas sempre contêm uma proporção expressiva do
mineral quartzo, de forma que ele pode ser facilmente identificado na rocha. Ex: granito.

- Intermediárias: 54% < SiO2 < 65%. São rochas ricas em silicatos, há, porém,
pouco ou nenhum quartzo. Ex: sienito.

- Básicas: 45% < SiO2 < 54%;

- Ultrabásicas: SiO2 < 45%. São rochas que não contém quartzo. Ex: basalto
(básica); peridotito (ultrabásica).

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A Tabela 2 contém análises químicas de rochas ígneas ácidas, intermediárias, básicas
e ultrabásicas. Entre as diferenças de composição ressaltam-se o comportamento da sílica,
alumínio, ferro ferroso, magnésio, cálcio, sódio e potássio.
Tabela 2 - Composição química das rochas ígneas

Fonte: a autora.

Cor ou percentagem de silicatos ferromagnesianos: A presença de Fe e Mg na


composição dos silicatos faz com que eles tenham colorações escuras. A maior ou menor presença
destes silicatos faz com que a rocha seja mais escura ou mais clara. Assim, temos:

- Rochas leucocráticas: rochas de cores claras. Ex.: granito, riolito;


- Rochas melanocráticas: rochas de cores escuras. Ex.: basalto, gabro;
- Rochas mesocráticas: rochas de cores intermediárias. Ex.: sodalita-sienito.

Composição Mineralógica: Este é o critério fundamental para a denominação da


rocha. Os minerais mais importantes para a classificação são: feldspatos potássicos, plagioclásios
(feldspatos cálcico-sódicos), quartzo, biotita, anfibólios (hornblenda, por exemplo), piroxênios,
olivinas e os feldspatóides.

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A identificação e denominação da rocha são feitas através da avaliação das proporções


médias dos minerais petrográficos contidos na rocha. Isto é normalmente feito com o auxílio
de esquemas (quadros, tabelas) de composição mineralógica das principais rochas ígneas. Tais
esquemas têm a vantagem adicional de conter e sintetizar os demais critérios de classificação das
rochas ígneas.
Estrutura: A estrutura refere-se ao arranjo dos minerais na massa da rocha. Estas podem
ser divididas em:

- Vítrea: rochas apresentam a superfície lisa, homogênea e sem evidências de conter


material cristalizado.São oriundas geralmente de matérias de resfriamento rápido, provenientes
da atividade vulcânica.

- Maciça: é a estrutura produzida quando os minerais contidos na rocha são muito


pequenos, não possibilitando sua identificação a olho nú. Essa ocorre tipicamente nas rochas
afaníticas.

- Granular: as rochas podem apresentar estrutura granular fina, quando os


minerais são de tamanho muito pequeno para serem diferenciados individualmente, mas
percebidos até mesmo pelo tato. É comum nas rochas que têm cor escura, como o diabásio.

GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA | UNIDADE 2


E podem apresentar estrutura granular grossa, quando os minerais possuem tamanho maior e
podem ser percebidos a olho nú, mas não têm orientação preferencial.

- Porfirítica: esse tipo de estrutura apresenta característica diferenciada, onde é


determinada pela presença de cristais grandes, bem desenvolvidos e imersos na massa da rocha.

- Pegmatítica: nessa estrutura ocorre a predominância de cristais grande (podem


ter de um a vários centímetros de comprimento), mas sem orientação.

- Vesicular: as rochas apresentam pequenas cavidades vazias (conhecidas por


vesículas).

- Amigdaloide: estrutura próxima a vesicular, mas cujos ‘vazios’ estão preenchidos


por minerais, como quartzo, calcedônias, entre outros.

Mirny, a cidade-diamante de “Alrosa”


A 850 quilómetros a leste de Moscovo, cerca 50% dos 35 mil habitantes desta
“monocidade” trabalham para Alrosa, uma empresa privada que se dedica à ex-
tracção de diamantes – não só na Rússia, mas em várias partes do globo. Antes
de 1956, neste local remoto da Sibéria nada existia. A descoberta de kimberlito na
região – um tipo de rocha vulcânica que pode conter diamante – justificou o início
da escavação da que viria a tornar-se a segunda maior cratera do mundo fruto da
ação humana, com 1.2 quilómetros de diâmetro e 525 metros de profundidade.

A reportagem completa está disponível em:


http://p3.publico.pt/cultura/exposicoes/23989/mirny-cidade-quotdiamantequot-
-que-brotou-de-uma-cratera-no-solo

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2.2 - Rochas Sedimentares


As rochas sedimentares são formadas através da deposição e consolidação de sedimentos
(Figura 15). Sedimentos são materiais originados da destruição e alteração de rochas pré-
existentes.

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Figura 15 - Formação das rochas sedimentares. Fonte: Todoestudo.com (2018).

Assim, a formação de uma rocha sedimentar decorre de uma sucessão de eventos, que
constituem o chamado ciclo sedimentar. As etapas básicas do ciclo sedimentar são:

Decomposição de rochas (intemperismo): consiste da transformação das rochas


em materiais mais estáveis em condições físico-químicas diferentes daquelas em que elas se
originaram.

Remoção e transporte dos produtos do intemperismo: é a ação de processos naturais


que promovem o transporte dos produtos do intemperismo. O transporte pode se dar por solução,
suspensão e tração. Os solutos são transportados em solução, enquanto fragmentos finos são
transportados em suspensão, e fragmentos grosseiros são transportados por tração. Denomina-
se erosão quando a remoção desses produtos se dá pela superfície do solo e lixiviação quando
a remoção se dá em solução, no interior do solo. Os principais agentes transportadores são a
gravidade, gelo, água e vento. Estes agentes têm importante papel na separação de sedimentos,
avaliado pelos parâmetros de competência e poder de seleção.

Deposição dos sedimentos: ocorre tanto pela diminuição da energia do agente


transportador como pela reação química e consequente precipitação de substâncias dissolvidas.
A deposição dos sedimentos ocorre em locais favoráveis, geralmente depressões, como oceanos
e lagos, ou planícies de inundação, desertos e pântanos.

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Consolidação (endurecimento) dos sedimentos: também conhecido por litificação


ou diagênese, consiste dos processos físicos (compactação) e/ou químicos (cimentação) que
promovem o endurecimento dos sedimentos depositados, dando origem às rochas sedimentares.

2.2.1 - Classificação das rochas sedimentares


As rochas sedimentares, geralmente, apresentam uma estrutura muito característica: a
estratificação, isso ocorre por serem formadas por deposição de sedimentos. A estratificação
pode ser vista macroscopicamente pela variação de cor e/ou, pela sua granulometria em camadas
(estratos) paralelas na rocha, as quais se devem a variações mineralógicas e/ou texturais nos
sedimentos durante o ciclo sedimentar. Para identificação das rochas sedimentares, são avaliadas
principalmente a textura, a mineralogia e a estrutura.
A textura infere quanto ao tamanho dos grãos que compõem a rocha. Nas rochas
sedimentares, há, geralmente, uma variação ampla de texturas, portanto, as partículas são
classificadas de acordo com a Tabela 3 abaixo:
Tabela 3 - Limites das classes granulométricas utilizadas para rochas sedimentares

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Fonte: a autora.

Em função das características do ciclo sedimentar são reconhecidos dois grandes grupos
de sedimentos: os detríticos (fragmentos) e os químicos (solutos), que dão origem a dois grupos
principais de rochas sedimentares:

- Rochas sedimentares clásticas (fragmentárias ou detríticas): são rochas formadas por


minerais detríticos (minerais primários resistentes, que suportam transporte sem se decomporem),
e/ou minerais secundários. A partir da avaliação da textura, as rochas sedimentares podem ser:

• rudáceas: predomina a fração areia com a presença de cascalhos;

• arenosas: predomina a fração areia sem cascalhos;

• siltosas: predomina a fração silte;

• argilosa: predomina a fração argila.

Entretanto, há também as rochas sedimentares orgânicas que são formadas pela


precipitação e/ou acúmulo de materiais orgânicos animais ou vegetais, tais como carapaças silicosas
de algas diatomáceas (diatomitos), fragmentos de conchas (coquinas), carapaças (exoesqueletos)
carbonáticos de algas e celenterados (recifes de coral), e restos vegetais continentais e subaquáticos
(carvão).

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- Rochas sedimentares químicas: as rochas sedimentares químicas são formadas por


minerais quimicamente precipitados, tais como a calcita e dolomita (calcários), a sílica (cherts),
a halita e silvita (evaporitos). Este grupo de rochas apresentam geralmente textura fina, sem
granulação aparente.
Quanto a mineralogia dessas rochas sedimentares podemos observar macroscopicamente
no campo ou no laboratório, se necessário. O mineral mais comum nas rochas sedimentares
clásticas é o quartzo e nas rochas sedimentares químicas, os mais comuns são os carbonatos.
A estrutura também é importante e as principais encontradas nas rochas sedimentares são:
maciça, terrosa, granular, estratificada em camadas paralelas, estratifica em camadas cruzadas,
estratificada em folhas ou placas e brechóides.

2.3 - Rochas metamórficas


De modo geral, as rochas metamórficas são formadas pela desintegração e/ou
decomposição de rochas pré-existentes, com posterior transporte dos detritos ou fragmentos,
culminando o processo com a deposição ou sedimentação dos produtos da erosão, próximo ou
distante da área fonte que forneceu o material. Com isso, as condições de pressão e temperatura em
que se formam as rochas sedimentares aproximam-se ou são idênticas às da superfície terrestre.
As rochas sedimentares, bem como as magmáticas, quando soterradas em profundidades

GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA | UNIDADE 2


de 3 a 20 km, em ambientes geológicos onde atuam altas pressões e temperaturas (que oscilam
entre 100°C e 600°C), tornam-se instáveis. Os minerais originais tendem a se transformar,
formando novos minerais através de reações mútuas ou mudanças no sistema de cristalização,
ou modificam a sua forma e/ou tamanho por recristalização. Assim, a rocha passa a ter uma
nova composição mineral e novas texturas e estruturas se desenvolvem. A rocha metamórfica
é então, resultante da transformação de rochas pré-existentes, sob a influência de agentes de
origem interna, tais como pressão, temperatura e fluidos gasosos (CO2 e H2O, principalmente).
Esse conjunto de transformações constitui o metamorfismo. O metamorfismo se dá,
dessa forma, em um intervalo relativamente amplo de pressões e temperaturas de tal forma que
as rochas podem ser mais, ou menos metamorfizadas, ou seja, ele pode acontecer em diversos
locais da crosta terrestre, variando na extensão, profundidade e grau de modificação das rochas.
Contudo, os fatores determinantes para a ocorrência do metamorfismo são: os tipos de rochas
metamórficas a serem formadas; a localização e extensão na crosta terrestre; os parâmetros físicos
envolvidos e o mecanismo determinante para a conjunção destes parâmetros.
É importante saber que o intervalo de pressões e temperaturas, no qual se dá o
metamorfismo, é dividido em graus metamórficos denominados incipiente, fraco, médio e forte,
conforme a atuação das pressões e temperaturas sejam mais ou menos intensas. Isso facilita e
possibilita a diferenciação dessas rochas.
Geralmente, com o aumento do grau metamórfico ocorrem mudanças na mineralogia e
aumento na granulometria (tamanho dos grãos minerais) das rochas. Rochas de grau metamórfico
incipiente mostram poucas diferenças em relação às rochas originais, enquanto as rochas de alto
grau metamórfico guardam pouca ou nenhuma feição da rocha original.
Em condições de pressão e temperatura mais intensas do que aquelas correspondentes ao
grau metamórfico forte, começa a ocorrer a refusão parcial da rocha (uma vez que os minerais
têm diferentes pontos de fusão) e formam-se rochas de natureza híbrida (metamórfica /ígnea),
como é o caso dos migmatitos.

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Outra característica comum e importante na estrutura de algumas rochas metamórficas


é a xistosidade, que ocorre devido à atuação comum de pressões cizalhantes (orientadas) nos
ambientes metamórficos. A xistosidade consiste na orientação de minerais que têm formas
passíveis de orientação (planares e/ou alongadas) em direções ou planos paralelos. À medida que
cresce a proporção de minerais não orientáveis (quartzo e feldspato, por exemplo) a xistosidade
dá lugar a uma segregação de minerais em bandas, conhecida como foliação gnáissica.

2.3.1 - Perturbações nas rochas


As perturbações das rochas são estruturas impressas nas rochas após a sua formação, ou no
máximo durante a fase de diagênese dos sedimentos, no caso específico das rochas sedimentares.
Desse modo constituem perturbações de rochas, rupturas, arqueamentos e ondulações produzidas
por diversas causas, destacando-se os esforços tectônicos. Essas perturbações são predominantes
em rochas metamórficas.
Se considerarmos uma rocha qualquer submetida a esforços de grande intensidade, esta
rocha, depois de um certo tempo de aplicação dos esforços, sofrerá mudança de forma ou de
volume, ou de ambos. As características desta mudança vão depender da plasticidade da rocha.
Uma rocha mais plástica tende a se dobrar, ao passo que aquela pouco ou nada plástica tende a se
romper, ao longo da direção de reação ao esforço.

GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA | UNIDADE 2


A plasticidade, por sua vez, é função da temperatura, cujo aumento facilita a mobilidade
entre as partículas que compõem a rocha, permitindo maior deformação plástica, assim como do
tempo de aplicação do esforço.
As dobras são encurvamentos, ondulações produzidas nas rochas, quando estas apresentam
uma certa plasticidade, que impede a sua ruptura. Uma rocha pouco plástica também pode se
dobrar quando o esforço aplicado sobre ela é lento e gradual, isto é, atua de modo contínuo, aos
poucos, durante muito tempo (tempo geológico).
Sistemas de falhas são conjuntos de falhas associadas que se dispõem paralela ou
obliquamente entre si gerando conformações rebaixadas, denominadas fossas tectônicas ou
grabens, e conformações elevadas denominadas muralhas ou horsts,
Diáclases ou fraturas são rupturas que separam ou tendem a separar duas partes de um
bloco rochoso, inicialmente inteiro. As fraturas podem ocorrer isoladas ou em sistemas.

2.3.2 - Classificação e identificação das rochas metamórficas


A classificação das rochas metamórficas não obedece a critérios específicos como no caso
dos outros tipos de rochas, dada a sua grande variabilidade. Desde que os mais diversos tipos de
rochas são passíveis de se sofrerem metamorfose, não existem então parâmetros distintivos que
tenham aplicação ampla. A seguir são descritas as principais classes de rochas metamórficas:

- Ardósias: rochas de baixo grau metamórfico (incipiente), derivadas de rochas do tipo


argilito/siltito. Possuem granulação muito fina e excelente xistosidade.

- Filitos: rochas de granulação fina com boa xistosidade. Os planos de xistosidade


mostram um brilho sedoso típico, conferido pelas micas. São rochas de baixo grau metamórfico
(fraco), originadas de argilito/siltito.

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- Xistos: rochas xistosas, cujos minerais são visíveis na amostra de mão. Constituídas
essencialmente por minerais micáceos, e menor proporção de quartzo e feldspatos. São rochas
de grau metamórfico médio, originadas de argilito/siltito, basaltos, gabros e rochas ultrabásicas.

- Gnaisses: rochas constituídas por quartzo, feldspatos, micas, e anfibólios, onde os


minerais claros se alternam em bandas com os minerais escuros, constituindo a foliação gnáissica.
Têm grau metamórfico médio a forte, e derivam de rochas ígneas ou sedimentares.

- Quartzitos: rochas metamórficas derivadas de arenitos, compostas por mais de 80%


de quartzo. A xistosidade que apresentam é devida à presença de micas. Estas rochas têm uso
ornamental e como revestimento e são comercialmente conhecidas como “Pedra de São Tomé”
ou “Pedra de Minas”.

- Mármores: rochas originadas do metamorfismo de calcários, compostas basicamente


de calcita e/ou dolomita. Raramente apresentam xistosidade.

- Anfibolitos: rochas compostas de anfibólios e feldspatos (plagioclásios), originadas do


metamorfismo de rochas ígneas básicas. Apresentam orientação de minerais.

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- Itabiritos: são um tipo especial de quartzito, originadas do metamorfismo de um tipo
especial de rocha sedimentar química. Os itabiritos se caracterizam por apresentarem bandas
alternadas de quartzo e hematita. As jazidas de minério de ferro estão geralmente associadas a
estas rochas.

- Esteatitos (pedra-sabão): rochas compostas essencialmente por talco e clorita com


xistosidade pouco pronunciada, originadas do metamorfismo de rochas ígneas ultrabásicas.

As rochas metamórficas podem ser agrupadas de acordo com seu grau metamórfico. Uma
sequência metamórfica é o conjunto de rochas metamórficas de grau de metamorfismo variável,
com origem numa mesma rocha caracterizada por uma determinada composição química média.
Uma sequência típica de grau metamórfico crescente é: ardósia → filito → xisto → gnaisse na qual
são facilmente perceptíveis as modificações mineralógicas e texturais relacionadas ao aumento
do grau metamórfico.
Diante dessas premissas, apresentamos, na Tabela 4, uma síntese das características
presentes nas rochas magmáticas, sedimentares e metamórficas.

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Tabela 4 - Características dos principais tipos de rochas

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Fonte: Carneiro et al (2005).

Contudo, podemos concluir essa Unidade 2 sabendo que os processos geológicos


envolvidos na formação e destruição de rochas fazem parte de um ciclo, o Ciclo das Rochas
(Figura 16). Este ciclo pode se iniciar por qualquer rocha, seja sedimentar, ígnea ou metamórfica.
Cada uma destas rochas pode se transformar em qualquer outra dependendo exclusivamente do
processo a que for submetida.
Iniciando-se o ciclo, por exemplo, com o intemperismo, temos a destruição das rochas
expostas na superfície pela influência de agentes químicos e físicos. O material resultante
é transportado por diversos meios a um local de deposição (uma depressão marinha ou
continental), onde se acumula. No empilhamento sucessivo destes materiais, ocorre que as
porções mais profundas sofrem maior compactação, por ser maior o pacote de sedimentos
sobrepostos, consolidando-se e formando as rochas sedimentares. As rochas sedimentares
podem ser novamente expostas ao intemperismo por levantamentos parciais da crosta.

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GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA | UNIDADE 2


Figura 16 - Ciclo das rochas. Fonte: Ciências da Vida e da Terra (2018).

Outro ciclo possível pode ser iniciado nos processos de transformação de uma rocha
submetida a aumentos de temperatura e pressão no local (metamorfismo), levando a formação
de rochas metamórficas. Este material pode sofrer ascensão e ser novamente exposto ao
intemperismo, ou pode sofrer refusão (magmatismo) podendo ascender e se derramar como
produto vulcânico (vulcanismo) ou permanecer no interior e se consolidar como um produto
plutônico (plutonismo). As rochas assim formadas podem ser novamente expostas à erosão, e
assim sucessivamente.

História registrada nas rochas. Nele você vai ver que “desde a água até as rochas,
desde os vales às montanhas e dos profundos oceanos até o espaço, por onde
quer que olhamos, encontramos geologia. Esta é ciência da Terra, que acima de
tudo nos proporciona um ponto de referência para compreender o passado, pre-
sente e futuro deste maravilhoso planeta.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GaJNMvY1mLU

O ciclo das rochas na natureza. CARNEIRO, C. D. R; GONÇALVES, P. V.; LOPES, R. O.


Revista: Terra e Didática. Campinas, V. 5; ed1; p.50-62, 2009.
Disponível em: https://www.ige.unicamp.br/terraedidatica/v5/pdf-v5/TD_V-a5.
pdf

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

03
DISCIPLINA:
GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA

PEDOLOGIA
PROF.A DRA. FLÁVIA CARVALHO SILVA

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 40
1 - INTEMPERISMO ................................................................................................................................................. 41
1.1 - INTEMPERISMO FÍSICO ................................................................................................................................. 43
1.1.1 - INTEMPERISMO FÍSICO TERMAL ............................................................................................................... 43
1.1.2 - INTEMPERISMO FÍSICO MECÂNICO ......................................................................................................... 44
1.2 - INTEMPERISMO QUÍMICO ............................................................................................................................ 45
1.3 - INTEMPERISMO BIOLÓGICO ......................................................................................................................... 48
1.4 - INTEMPERISMO E PROPRIEDADES DAS ROCHAS ..................................................................................... 48
2 - MINERAIS SECUNDÁRIOS ................................................................................................................................ 51
3 - MINERAIS ARGILOSOS SILICATADOS .............................................................................................................. 51
3.1 - GRUPO DE MINERAIS 1:1 ................................................................................................................................ 52
3.2 - GRUPO DE MINERAIS 2:1 ............................................................................................................................... 52
4 - ÓXIDOS DE FERRO E ALUMÍNIO ...................................................................................................................... 52

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ENSINO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO
O termo pedologia, do grego pedon (solo, terra), é o nome dado ao estudo dos solos
no seu ambiente natural. É um ramo da geografia física, e é um dos dois ramos das ciências do
solo, sendo o outro a edafologia. Porém, enquanto a pedologia considera o solo como um corpo
natural, um produto sintetizado pela natureza e submetido à ação de intemperismos, a edafologia
imagina o solo como um viveiro natural para os vegetais (BRADY; WEIL, 2013).
Dentre as diversas definições de solo, a que melhor se adapta ao levantamento pedológico
é a do Soil taxonomy (1975) e do Soil survey manual (1984):

Solo é a coletividade de indivíduos naturais na superfície da terra eventualmente


modificado ou mesmo construídos pelo homem, contendo matéria orgânica
viva e servindo ou sendo capaz de servir à sustentação de plantas ao ar livre. Em
sua parte superior, limita-se com o ar atmosférico ou águas rasas. Lateralmente,
limita-se gradualmente com rocha consolidada ou parcialmente desintegrada,
água profunda ou gelo. O limite inferior é talvez o mais difícil de definir. Mas,
o que é reconhecido como solo deve excluir o material que mostre pouco efeito

GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA | UNIDADE 3


das interações de clima, organismos, material originário e relevo, através do
tempo (IBGE, 2007, p. 31).

A Pedologia estuda a pedogênese (formação dos solos), a morfologia e a classificação de


solos. O estudo dos solos começou oficialmente em 1880 na Rússia, quando o geógrafo Vasily
Dokuchaev creditado por estabelecer as bases da Ciência do Solo e da Ciência da Paisagem,
observou que o solo não era um simples amontoado de materiais, mas resultado de uma complexa
interação de inúmeros fatores, como o clima, organismos e topografia, que agindo por certo
período de tempo sobre material de origem produziam o solo.
Hoje, podemos observar que os materiais que encontramos na superfície da Terra são, em
sua maior parte, produto das transformações da interação sofrida entre a litosfera, com a atmosfera,
a hidrosfera e a biosfera, ou seja, são produtos do intemperismo. Esses materiais constituem a
base de muitas atividades humanas, tais como a agricultura, a construção de cidades, entre tantas
outras. É a partir do intemperismo também que se forma o que chamamos de ‘regolito’ (nome
dado ao conjunto do material alterado das rochas) e, num estágio mais avançado, é chamado solo,
que é um material superficial em avançado estado de alteração e lixiviação, associado à matéria
orgânica, fundamental à prática agrícola, à sobrevivência do homem (TOLEDO, 2009, p. 145).
Portanto, nessa unidade, estudaremos sobre intemperismo, os processos físicos e químicos
envolvidos e alguns minerais que são formados/transformados após esse processo.

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ENSINO A DISTÂNCIA

1 - INTEMPERISMO
O intemperismo consiste da transformação das rochas em materiais mais estáveis em
condições físico-químicas diferentes daquelas em que elas se originaram. O intemperismo
pode ser causado por processos de natureza físico (desgaste e/ou desintegração) e/ou química
(decomposição), que as rochas sofrem ao aflorar na superfície da Terra, sendo que esses processos
estão estritamente relacionados com dois fatores: a natureza da rocha e a condição do ambiente. Os
processos intempéricos são, então, classificados em intemperismo físico e intemperismo químico
e quando a ação de organismos vivos ou da matéria orgânica proveniente da sua decomposição
participa do processo, o intemperismo é chamado de físico-biológico ou químico-biológico. Os
fatores que influenciam o intemperismo são clima, relevo, rocha-mãe, tempo, fauna e flora.

Clima: É o mais importante. É ele que determina a distribuição sazonal das chuvas
fundamentais porque é a água o principal agente transportador dos produtos do intemperismo
- e as variações de temperatura, que contribuem para a fragmentação das rochas, através da
alternância de períodos de dilatação com períodos de contração. Quanto maior a disponibilidade
de água e quanto mais frequente for sua renovação, mais completas serão as reações químicas do

GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA | UNIDADE 3


intemperismo. Quanto à temperatura, para cada 10ºC de elevação há um aumento de duas a três
vezes na velocidade das reações químicas. Isso explica por que o intemperismo é mais intenso
nos trópicos.

Relevo: Determina a maior ou menor velocidade do fluxo da água das chuvas, com
consequente menor ou maior infiltração no solo. Em encostas de alta declividade, a água fica
pouco tempo em contato com as rochas e assim não consegue promover adequadamente as
reações químicas. Nas baixadas, a água fica, ao contrário, bastante tempo em contato, mas não se
renova facilmente, de modo que fica saturada nos componentes solúveis e perde sua capacidade
de continuar atacando os minerais. Portanto, é nas encostas suaves que o intemperismo é mais
intenso.

Rocha-Mãe: dependendo de sua composição mineralógica, textura e estrutura, terá


maior ou menor resistência à decomposição e à desagregação. Os primeiros minerais a cristalizar
no resfriamento de um magma são os mais instáveis nas condições normais de pressão e
temperatura e, assim, são os primeiros a se alterar. Por essa razão, o quartzo é dos mais resistentes
e na alteração de um granito, por exemplo, é o último a se decompor. Os mármores, por sua vez,
por serem formados de carbonato de cálcio, mineral altamente solúvel em água, alteram-se com
muito mais facilidade que os granitos.

Tempo: Quanto maior o tempo de exposição de uma rocha, mais intensa será a ação
intempérica sobre ela. Calcula-se que em um milhão de anos o intemperismo rebaixe o relevo
de 20 a 50 metros. Na Escandinávia, onde o clima é muito frio, sobre superfícies graníticas
expostas há 10 mil anos desenvolveu-se um manto de alteração de apenas poucos milímetros.
Em compensação, no Havaí, região muito úmida, no período de apenas um ano desenvolveu-se,
sobre lavas basálticas recentes, uma camada de solo suficiente para uso agrícola.

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Fauna e Flora: São fatores de importância menor, mas que atuam fornecendo matéria
orgânica para reações químicas e remobilizando materiais. A concentração de CO2 no solo,
proveniente da decomposição da matéria orgânica morta, pode ser até 100 vezes maior que na
atmosfera. Isso facilita muito a acidificação da água, o que favorece, por exemplo, a dissolução
do alumínio. Superfícies rochosas cobertas de liquens são muito mais rapidamente atacadas
pelo intemperismo químico que aquelas sem liquens, e raízes de árvores têm grande poder
de penetração em fendas de rochas, provocando sua dilatação. Os materiais produzidos pelo
intemperismo podem ser transportados para outro local ou permanecerem na posição original.
Em qualquer um dos casos, vão gerar o chamado de solo transportado no primeiro caso e de solo
residual no segundo.

A maioria das rochas forma-se em ambientes muito distintos das condições na superfície
da Terra. Enquanto as rochas se formam em ambientes com temperaturas e pressão muito
elevadas e constantes, em ausência de luz, organismos e vento, ao serem expostas na superfície
do planeta, encontram condições bem diferentes: temperaturas e pressões menores, porém, com
grande variação ao longo do dia e noite e das estações do ano, presença de organismos, variação
de umidade e presença de luz. O conjunto destes fatores é conhecido por intempéries, e quando
agem sobre as rochas expostas, ocorre desagregação e desestruturação das mesmas.
Pelo gráfico, ilustrado na Figura 17, vemos uma comparação entre precipitação,

GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA | UNIDADE 3


temperatura e intemperismo na superfície terrestre. É possível observar que a média de
precipitação está diretamente relacionada à temperatura, criando com isso características dos
intempéries diferenciadas de acordo com determinadas regiões climáticas.

Figura 17 - Relação do intemperismo com o clima. Fonte: Educação.globo (2018).

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ENSINO A DISTÂNCIA

1.1 - Intemperismo físico


O intemperismo físico é composto pelos processos que levam a fragmentação da rocha,
sem modificação significativa em sua estrutura química ou mineralógica, ou seja, constitui o
conjunto de processos que resultam na desagregação física das rochas. Estas quebras podem ocorrer
por vários processos, como a variação de temperatura, crescimento de raízes, congelamento e
precipitação de sais, entre outros. Podemos afirmar que a maior contribuição o intemperismo
físico é o aumento da área superficial específica (figura 18) para o avanço da ação dos processos
químicos e a pedogênese (formação do solo).

GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA | UNIDADE 3


Figura 18 - Exemplo do aumento da área superficial específica do mineral após sofrer intemperismo físico.
Fonte: Brasilescola (2018).

De acordo com os fatores atuantes, o intemperismo físico pode ainda ser subdividido em
termal e mecânico.

1.1.1 - Intemperismo físico termal


É o mais comum dos processos intempéricos de natureza física. São processos de
desagregação mecânica que ocorrem devidos à variação de temperatura nos corpos rochosos.
Todos os corpos se expandem quando aquecidos e se contraem quando resfriados. Desta forma,
rochas submetidas a processo contínuo de expansão e contração, tendem a se fragmentar pelo
enfraquecimento da sua estrutura. Além disso, as rochas são formadas, em sua maioria, por
diferentes minerais que têm coeficientes de dilatação volumétrica diferentes, ampliando assim
os esforços destrutivos sobre as rochas, que ao se repetirem continuamente durante séculos e
séculos, provocam a fragmentação da rocha.

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ENSINO A DISTÂNCIA

Além da composição mineralógica, têm influência no intemperismo termal a cor e a


granulometria da rocha. Assim, as rochas mais escuras se aquecem mais, e desagregam mais
facilmente. Do mesmo modo rochas de cor uniforme são menos susceptíveis de se fragmentarem
do que rochas de coloração variada. Rochas grosseiras se desintegram mais facilmente do que
rochas de grãos pequenos. O intemperismo físico é observado em quaisquer ambientes, embora
seja favorecido em ambientes onde ocorrem fortes variações de temperatura, de clima seco e
pouca ou nenhuma vegetação, ou seja, em ambientes áridos ou semiáridos.

A área específica superficial é a somatória da área da superfície de um mineral


dividido pela sua massa ou volume. Então, para uma mesma massa, quanto mais
finamente dividido o mineral, maior a sua área superficial e maior a possibilidade
de ocorrerem fenômenos de superfície. Com isso, maior será a interação da água
com os minerais da rocha.

1.1.2 - Intemperismo físico mecânico

GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA | UNIDADE 3


Neste tipo de intemperismo, os fatores atuantes são diversos e imprimem esforços
mecânicos às rochas levando a sua fragmentação. O processo consiste na presença de um agente
qualquer em fendas das rochas, o qual se expande e contrai, pressionando a rocha até a sua
ruptura. De acordo com o agente, temos os seguintes processos:

Congelamento de água: consiste no congelamento da água inclusa em fraturas nas rochas.


Ao se congelar a água aumenta em 9% o seu volume exercendo pressões da ordem de centenas
de kg/cm2 sobre as paredes envolventes, podendo fragmentá-las, principalmente se houver uma
repetição contínua do processo. Para que este processo ocorra, devem ser satisfeitas condições
como a presença de poros e fendas na rocha, presença de água e temperaturas características de
climas frios (Figura 19).

Figura 19 - Congelamento de água em um gnaisse. Fonte: Educação.globo (2018).

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Cristalização de sais e crescimento de cristais: são processos análogos onde um


é a continuação do outro. A cristalização de sais ocorre quando os sais não são lixiviados, e
sim solubilizados na água existente. Ao se dar a evaporação da água os sais se precipitam, e
pressionam as paredes envolventes, se estiverem em fissuras rochosas. As condições favoráveis
a estes processos são a existência de pouca água e evaporação intensa, características de climas
áridos e semiáridos.

1.2 - Intemperismo químico


Quando observamos na natureza, é difícil ou até impossível separar intemperismo físico
do químico, pois ambos ocorrem ao mesmo tempo. Isso acontece devido à diferença de ambiente
na formação da rocha em relação ao ambiente na formação do solo. As reações que ocorrem
estão geralmente em equilíbrio com o ambiente.
O intemperismo químico aumenta à medida que o físico avança, porque ocorre o aumento
da área superficial específica dos minerais, assim esse tipo de intemperismo leva à modificação da
estrutura dos minerais que compõem a rocha.
O principal agente de intemperismo químico é a água, que infiltra e escorre entre as
rochas, sendo o seu efeito mais intenso na medida em que ela se acidifica devido à dissolução de
CO2 da atmosfera e à presença de ácidos orgânicos. A água da chuva dissolve o CO2 da atmosfera,

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onde uma parte desse CO2 se combina com a água formando ácido carbônico, que é facilmente
dissociado:

H2O + CO2 → H2CO3 → H+ + HCO3-; HCO3- → H+ + CO32-

Na decomposição química das rochas, observa-se que a taxa de mobilidade relativa dos
principais elementos químicos decresce a partir do cálcio e sódio para magnésio, potássio, silício,
ferro e alumínio. Por isso as rochas que estão se decompondo tendem a perder principalmente os
primeiros, e mostram um relativo enriquecimento nas proporções de óxidos de ferro, alumínio e
silício. Em termos mineralógicos isso significa que esses aspectos químicos controlam a sequência
de intemperismo dos minerais petrográficos. Essa sequência é essencialmente inversa à ordem de
cristalização de Bowen (unidade 2, mineralogia).
Assim, de modo geral, os minerais mais susceptíveis ao intemperismo são aqueles que se
situam no topo da série, enquanto os mais resistentes situam-se gradativamente mais abaixo na
série. O quartzo é extremamente resistente ao intemperismo (é o mineral comum mais resistente
que há). O intemperismo químico compreende a decomposição química dos minerais primários
das rochas, e a síntese (neoformação) de minerais secundários.
A decomposição dos minerais primários das rochas resulta da ação separada ou
simultânea de várias reações químicas: hidratação, dissolução, acidólise, hidrólise e oxi-redução.
As duas primeiras ocorrem geralmente em solos mais jovens ou ambientes que propiciam menor
transformação, a terceira ocorre na formação de horizonte Bhs e as últimas duas são reações
fundamentais em locais de alta precipitação.

Hidratação: consiste na incorporação de água à estrutura mineral, formando um novo


mineral. A hidratação dos minerais ocorre pela neutralização das superfícies das partículas dos
minerais pelas cargas elétricas das moléculas de água (dipolos).

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Fe2O3 + H2O → 2FeO(OH)


hematita goethita
(vermelha) (amarela)

Dissolução: consiste da solubilização completa de alguns minerais por ácidos. Os


carbonatos, por exemplo, são minerais muito susceptíveis a esse tipo de reação. Em se tratando
de água pura, a dissolução dos carbonatos é mínima.

CaCO3 (calcita) + H+ + HCO3- →Ca(HCO3)2 (bicarbonato de cálcio)

O bicarbonato de cálcio é cerca de 30 vezes mais solúvel em água do que o


carbonato de cálcio (calcita), intensificando dessa forma a dissolução dos
carbonatos. Esse tipo de reação ocorre mais comumente em terrenos calcários,
levando à formação de relevos cársticos.

Hidrólise (quebra pela água): é uma reação química entre íons H+, provenientes da
ionização da água, e cátions do mineral. O íon H+ entra nas estruturas minerais, deslocando
principalmente os cátions alcalinos (K+ e Na+) e alcalino-terrosos, que são liberados para a
solução. A estrutura do mineral na interface sólido/solução de alteração acaba sendo rompida,

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liberando Si e Al na fase líquida.
Esses elementos podem recombinar-se, resultando na neoformação de minerais
secundários. A hidrólise ocorre sempre na faixa de pH de 5 a 9. Se há maior ou menor percolação
de água, os componentes solúveis são eliminados completa ou parcialmente, resultando,
respectivamente, na hidrólise total ou parcial. No caso dos feldspatos potássicos, temos:

KAlSi3O8 (K feldspato) + H+ + OH- → H(AlSi3O8) + K+ + OH

Na superfície do mineral, os íons H+ substituem os íons K+. O restante do mineral não é


mais estável depois desta substituição, resultando na continuação da sua decomposição hidrolítica.
Na hidrólise parcial, em condições de drenagem menos eficientes, parte da Si permanece no
ambiente de intemperismo; o K pode ser ou parcialmente eliminado. Esses elementos reagem
com o Al formando aluminossilicatos hidratados (argilominerais) como a caulinita, no caso de
remoção total do K:

2H(AlSi3O8) + 5H+ + 5OH- →Al2Si2O5(OH)4 (caulinita) + 4H2SiO3

Na hidrólise total, 100% da Si e do K são eliminados. A Si, embora seja pouco


solúvel nesta faixa de pH, pode ser totalmente eliminada em condições de pluviosidade alta e
drenagem eficiente:

Al2Si2O5(OH)4 (caulinita) + 5H+ + 5OH- →2Al(OH)3 (gibbsita) + 2H4SiO4

Acidólise: é a reação de decomposição de minerais que ocorre em ambientes de clima


frio, onde a decomposição da matéria orgânica é incompleta, formando-se ácidos orgânicos
que diminuem muito o pH das águas (pH < 5), complexando e solubilizando o Fe e o Al. Em
condições de pH < 3, a acidólise é total, como vemos na reação:

KAlSi3O8 (K feldspato) + 4H+ + 4H2O → 3H4SiO4 + Al3+ + K+

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Nestas condições, formam-se solos constituídos praticamente apenas dos minerais


primários mais insolúveis como o quartzo. A acidólise parcial ocorre quando as soluções de
ataque apresentam pH entre 3 e 5 e, nesse caso a remoção do Al é apenas parcial.

Oxidação e redução: consiste na mudança do estado de oxidação de um elemento,


normalmente através de reação com o oxigênio. Essa reação produz a destruição da estrutura
cristalina do mineral, afetando comumente rochas cujos minerais contém ferro ferroso (Fe2+),
que se oxida em ferro férrico (Fe3+). Diz-se que tais rochas “enferrujam” na presença de
umidade, já que a reação é acompanhada por uma mudança de cor das superfícies alteradas para
avermelhado ou amarelada.

Fe2SiO4 (Fe-olivina) + 1/2O2 + 2H2O → Fe2O3 (hematita) + H4SiO4

Curiosidade: O Pão de Açúcar (Figura 20) é uma grande elevação constituída por
rochas gnáissicas (rocha metamórfica). Possui aproximadamente 300 m de altitude e está
localizado na entrada da Baía de Guanabara, na cidade do Rio de Janeiro. Esse nome é uma
denominação brasileira para designar os cumes arredondados e abruptos do relevo, por isso,
popularmente também se fala em relevo ‘pães de açúcar’. O agente de formação desse tipo de
relevo é principalmente o intemperismo químico, que atua de forma considerável em regiões

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onde predomina o clima quente e úmido.

Figura 20 - Pão de Açúcar, Rio de Janeiro-RJ. Fonte: a autora.

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1.3 - Intemperismo biológico


São chamados de intemperismo biológico, os processos de intemperismo de rochas
causados por fatores biológicos. O papel dos organismos é determinado pela sua capacidade de
assimilar vários elementos da rocha em processo de alteração e de produzir em seu metabolismo
agentes químicos, como os ácidos orgânicos. Tais processos podem ser tanto de natureza física
como química.
Os processos de natureza física são causados principalmente por organismos e a pressão
de crescimento de raízes, no caso destas estarem ocupando fendas de rochas. Assim também
animais escavadores têm papel importante ao facilitarem a remoção de materiais alterados, como
o tatu, por exemplo, ao cavar o buraco no solo facilita a penetração da água e de substâncias
químicas nela existentes. Encontrando condições favoráveis, certas plantas podem se desenvolver
nas fendas das rochas e suas raízes crescerem, exercendo uma pressão e força nas paredes das
fendas, contribuem para processo de desagregação mecânica das rochas.
Entretanto, os processos de natureza química são muito mais importantes, destacando-
se processos nos quais vegetais superiores promovem a dissolução química das rochas através
de substâncias ácidas produzidas pelas suas raízes, e assimilam elementos tais como K, Na, Ca,
Al, Fe, entre outros existentes nos minerais das rochas. Os primeiros estágios da decomposição
biológica de rochas são associados com microrganismos (fungos e bactérias) que “preparam” a

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rocha para o ataque químico seguinte promovido por líquens, algas e musgos, sendo os últimos
estágios associados com vegetais superiores.

1.4 - Intemperismo e propriedades das rochas


As características das rochas que influenciam a sua alteração devem ser avaliadas quanto
à sua importância relativa no intemperismo. Desse modo, ao se avaliar a resistência de uma rocha
ao intemperismo devem ser consideradas as seguintes características: composição mineralógica,
textura e estrutura.
Os minerais apresentam diferenças quanto à resistência ao intemperismo, e assim também
as rochas de diferentes composições apresentarão diferenças. Como regra geral, a resistência à
alteração é inversa à ordem de cristalização da série de Bowen (Unidade 2). Assim, por exemplo,
os silicatos ferromagnesianos são mais susceptíveis à alteração do que os demais silicatos.
O tamanho dos minerais na rocha (textura) também influencia a sua resistência ao
intemperismo, uma vez que quanto mais grosseira a granulometria da rocha, mais facilmente
ela se intemperizará, se os demais atributos forem similares. A presença de estruturas tais como,
xistosidade, foliação gnáissica, estratificação, vesículas, etc., tende a facilitar o intemperismo de
uma rocha em relação àquelas que tenham estrutura homogênea.
As rochas tendem a se desagregar segundo suas isotermas (linhas de igual aquecimento),
ou “isolinhas” de fraqueza. Assim se a rocha tiver inicialmente uma forma poliédrica qualquer
(situação comum, devido ao fraturamento generalizado de grande parte das rochas), ela tende a se
intemperizar primeiro nos vértices, seguidos das arestas, e então no restante das faces, assumindo
assim uma forma arredondada.

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Esse sólido arredondado por sua vez, tende a se descamar em cascas concêntricas, sendo
essa feição denominada de esfoliação esferoidal. A esfoliação esferoidal é comumente observada
em rochas de estrutura maciça e granulação uniforme. As rochas constituem o material de
origem, um dos fatores de formação do solo. A influência do material de origem nos solos é muito
importante. Assim, solos jovens mostram, entre outros atributos, minerais primários provenientes
da rocha de origem, guardando de forma inequívoca as características desta. Mesmo em solos
muito intemperizados (“velhos”), persistem heranças da rocha de origem, como demonstrado
pelos Latossolos Roxos desenvolvidos sobre rochas ígneas básicas.
O intemperismo atuando continuamente sobre os solos tende a homogeneizá-los com
o tempo. Desse modo rochas diferentes podem originar solos semelhantes, assim como podem
originar solos diferentes, mesmo em seu estágio mais avançado de intemperismo. A trajetória
dessa tendência à homogeneização depende dos fatores de formação do solo, podendo a
homogeneização nunca ser atingida.

Considerando as diferenças e similaridades entre rochas e seus produtos de in-


temperismo, alguns pesquisadores propuseram um reagrupamento dos tipos co-
muns de rochas, adaptado para a pedologia. Estes autores propõem grupos de

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rochas que guardam uma relação de causa e efeito mais direta entre os atributos
da rocha de origem e as características e comportamento do solo resultante (RE-
SENDE et al., 1993). Os grupos propostos são os seguintes:

G1- Rochas graníticas (granitos, granodioritos, gnaisses claros)


G2- Rochas máficas (basaltos, diabásios, gabros)
G3 - Rochas pelíticas e metapelíticas (argilitos, folhelhos, siltitos, ardósias, filitos,
micaxistos)
G4 - Rochas psamíticas e metapsamíticas (arenitos, quartzitos)
G5 - Rochas calcárias (calcários, mármores, dolomitos, margas)
G6 - Rochas ferruginosas (itabiritos, concreções ferruginosas)
G7 - Depósitos aluviais
G8 - Gnaisses (biotita-gnaisses, biotita-xistos)
G9 - Rochas psefíticas (conglomerados, brechas)
G10 - Depósitos orgânicos

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O Parque Estadual de Vila Velha (figura 21) é um sítio geológico situado no muni-
cípio brasileiro de Ponta Grossa, no estado do Paraná. O conjunto de formações
lembra uma cidade medieval com seus castelos e torres em ruínas, por isso foi
dado esse nome. A altura média das colunas de pedra e muralhas é de vinte m e
pode chegar a trinta m ou mais em alguns pontos, em função do terreno aciden-
tado.
A formação arenítica de Vila Velha remonta ao período Carbonífero (há aproxima-
damente 340 milhões de anos), quando o mar interior que existia no local come-
çou a ser drenado, expondo o material arenoso que acabou cimentado com óxido
de ferro (intemperismo químico). Nos milênios seguintes o terreno gradativamen-
te se elevou e foi vagarosamente erodido pela ação dos ventos e da chuva que
atuaram nas zonas mais frágeis das rochas, desgastando-as de forma diferencial
e até mesmo isolando-as em diversos blocos (intemperismo físico).
Algumas das formações parecem animais como a “Tartaruga” ou o “Camelo”, ou-
tras lembram cogumelos dos mais diversos tipos e tamanhos, ou formas como a
“Taça”, símbolo de Vila Velha; a “Bota”; a “Esfinge”; a “Cabeça de índio”; paredes de
pedra que lembram muralhas de castelos, torres de diversos formatos e alturas de

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geometria variável com formas e paisagens distintas, além de fendas cujo forma-
to interno lembram garrafas. Há duas grandes pedras pendentes no alto entre dois
paredões rochosos, sempre prestes a desabar e parecendo flutuar desafiando as
leis da gravidade. Os arenitos de Vila Velha tem a cor basicamente avermelhada
como um tijolo, cujos matizes variam conforme a hora, luz do Sol e da época do
ano, criando uma atmosfera surreal.

Figura 21 - Sítio geológico de arenitos no Parque Estadual Vila Velha, localizado em Ponta Grossa-
-PR. Fonte: Mineropar (2018).

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2 - MINERAIS SECUNDÁRIOS
Os minerais secundários são aqueles formados pela desintegração e alteração dos
minerais primários através do intemperismo. Nesse processo existe a formação de novos
minerais, normalmente de tamanho menor e mais ajustados às novas condições de equilíbrio
que são bem diferentes daquelas da formação das rochas. Os minerais secundários constituem
praticamente a totalidade da fração mais fina do solo, ou seja, a fração de tamanho denominada
de argila. A denominação “minerais argilosos” é a forma genérica de denominação dos minerais
secundários silicatados e dos minerais secundários oxídicos de Fe e Al que designam os óxidos
(O), hidróxidos (OH) e oxihidróxidos (O, OH) de Fe e Al.
Além da concisão e brevidade que esses termos permitem, procura-se também evitar o uso
de termos obsoletos como, por exemplo, sesquióxidos de Fe e Al. Os minerais argilosos silicatados
são essencialmente silicatos de alumínio hidratados com magnésio ou ferro substituindo total ou
parcialmente o alumínio e podem apresentar elementos alcalinos ou alcalinos-terrosos como
constituintes. Os principais exemplos são: caulinita, montmorilonita, vermiculita.
Os minerais argilosos oxídicos de Fe e Al ocorrem em formas cristalinas ou amorfas,
sendo as formas cristalinas representadas principalmente pela goethita (FeOOH) hematita

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(Fe2O3) e gibbsita [Al (OH)3].
A presença dos diferentes tipos de minerais secundários na fração argila do solo depende
de fatores como relação Si:Al no meio, presença ou não de alcalinos e alcalinos-terrosos, balanço
precipitação x evapotranspiração, ou seja, basicamente do grau de evolução do solo. A fração
argila dos solos apresenta grande importância por ser a fração ativa do solo e que participa de
praticamente todas as reações físico-químicas que ocorrem nos solos.
Em geral, os minerais da fração argila possuem tamanho reconhecido como da fração
coloidal (de tamanho muito pequeno) com a presença de cargas de superfície, o que possibilita
a adsorção de íons; promove a retenção de água e, além disso, esses minerais apresentam
plasticidade e são pegajosos; são suscetíveis a dispersão e floculação; exibem dureza e tenacidade
no estado seco; variam de volume conforme a umidade e desempenham papel importante na cor
e agregação dos solos minerais.

3 - MINERAIS ARGILOSOS SILICATADOS


Os argilominerais, denominação mais atual para os minerais de argila silicatados, são
formados pela justaposição ou condensação de dois tipos de lâminas: lâmina de tetraedros de
silício e lâminas de octaedros de Al e Mg.
De acordo com o arranjo dessas lâminas no sentido de formar as unidades cristalográficas
características, são distinguidos os seguintes grupos de minerais importantes em solos brasileiros:

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3.1 - Grupo de minerais 1:1


Grupo caulinita: são chamados de minerais 1:1 porque são formados pelo empilhamento
de uma lâmina de tetraedros de Si e uma lâmina de octaedros de Al, uma no topo da outra. A ligação
entre essas duas lâminas é uma ligação iônica entre o oxigênio apical da lâmina de tetraedros e o
Al da lâmina octaédrica. A fórmula ideal da caulinita é Al2Si2O5(OH)4. É um mineral argiloso
silicatado de ocorrência extremamente grande em solos brasileiros. Normalmente tem uma
morfologia hexagonal, superfície específica bastante baixa na faixa de 10 – 20 m2/g e uma CTC
que varia na faixa de 3 – 10 meg/100g.
A caulinita é, em geral, uma argila de atividade bastante baixa, em termos de atividade
coloidal. Assim ela apresenta baixa plasticidade e pegajosidade e também baixa capacidade de
expansão e contração.

3.2 - Grupo de minerais 2:1


Grupo das esmectitas (montmorilonitas): são minerais chamados 2:1 porque são
formados pelo empilhamento de duas lâminas tetraédricas, fazendo um sanduíche com a lâmina
octaédrica. As ligações dentro da unidade 2:1 que mantêm as lâminas juntas são ligações iônicas

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dos oxigênios apicais ligados aos Si dos tetraedros com o Al da lâmina dos octaedros como nas
unidades 1:1.
Devido à expansão das lâminas, a montmorilonita apresenta uma alta superfície específica
na faixa de 600-800 m2/g na maioria, devido as superfícies internas. A CTC varia na faixa de 80-
120 cmolc/Kg e é praticamente independente do pH, ou seja, a maioria das cargas é originária
da substituição isomórfica (cargapermanente). Por estas características, a montmorilonita é uma
argila de atividade alta, apresentando alta plasticidade e pegajosidade e uma capacidade muito
grande de expansão e contração, o que provoca muitas rachaduras no solo quando seco.

Grupo das vermiculitas: são também minerais do tipo 2:1 e são produtos de alteração
direta das micas. Tem sido demonstrado que a estrutura da vermiculita consiste de lâminas de mica
separadas por camadas de moléculas de água ocupando um espaço definindo de aproximadamente
0,498 nm. Na sua forma mais expandida, a vermiculita tem, então, aproximadamente 1,4 nm. A
vermiculita é também argila de alta atividade, apresentando uma CTC de 100-160 cmolc/Kg
que é maior que da montmorilonita pela densidade de cargas maior. A superfície específica é
semelhante à da montmorilonita na faixa de 600 - 800 m2/g.

4 - ÓXIDOS DE FERRO E ALUMÍNIO


Os óxidos de Fe e Al são minerais secundários de importância muito significativa nos
solos de regiões tropicais em geral, e dos solos brasileiros em particular. A presença desses na
fração argila dos solos mencionados é quase obrigatória e sua influência nas propriedades dos
solos é muito sentida. O que faz os óxidos de Fe importantes como indicadores de pedogênese
não é apenas a sua presença, mas também a forma mineral presente e as suas características.

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Assim, mesmo em concentração baixa no solo, os óxidos de ferro têm alto poder de
pigmentação e influem na coloração dos solos de maneira bem nítida. As cores vermelhas,
impressas pela hematita, as amarelas, características da goethita e as intermediárias entre as duas,
derivadas da atuação conjunta da hematita e da goethita, que são típicas da maioria dos solos
brasileiros, expressam bem essas afirmativas.
Particularmente a hematita tem o mais alto poder de pigmentação como se pode deduzir
pelas informações de campo que demonstram que solos amarelos normalmente não contêm
nenhuma hematita ao passo que solos vermelhos, ainda que de coloração intensa, geralmente
possuem alguma goethita. O Fe é um elemento muito afetado pelas condições de oxi-redução do
meio e está presente nos principais óxidos, como hematita e goethita, na forma de Fe3+.
Assim, se houver condições redutoras no meio no qual ele se encontra, ele pode ser
reduzido a Fe2+ que é uma forma bem mais solúvel de Fe. O alagamento, por exemplo, é a condição
mais comum de redução do solo causando a destruição da hematita ou goethita, retirando com
isso as colorações amareladas, alaranjadas ou avermelhadas típicas desses óxidos. Nesses locais
os solos ficarão com colorações esbranquiçadas ou acinzentadas dependendo do tipo de argila
silicatada e/ou do teor de matéria orgânica.
Os óxidos de ferro afetam a estrutura dos solos ajudando na formação de agregados
pequenos e extremamente estáveis como na estrutura latossólica, típica dos Latossolos brasileiros.
Estrutura latossólica é aquela na qual as partículas de argila, normalmente caulinita e óxidos

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de Fe e Al, se reúnem para formar agregados que por sua estabilidade se comportam como se
fossem partículas de areia. Isso gera uma massa de material muito friável que se esboroa muito
facilmente e que recebe a denominação comum de pó de café. A hematita, goethita e magnetita
são os óxidos de ferro mais comuns.
Geralmente, os óxidos de Fe têm superfície específica alta e devido à sua natureza
química, podem adsorver ânions e cátions. Ânions como o fosfato, o que os torna de importância
agrícola grande e cátions como os principais metais pesados (Cd, Cr, Cu, Ni, Pb, Zn, etc) o que
os torna importantes em estudos de proteção ao meio ambiente. Alguns óxidos de Fe podem ter
estruturalmente elementos com Cu, Zn, V, Cr, Co, Ni, etc. Alguns desses elementos são nutrientes
essenciais às plantas e podem ser lentamente liberados na solução dos solos. Assim, uma vez
que os solos tropicais têm uma tendência ao acúmulo residual de óxidos, os minerais argilosos
oxídicos influenciam sobremaneira as propriedades dos solos brasileiros.

Hematita (α–Fe2O3): Nos solos a hematita dá a cor característica vermelha e tem um


poder pigmentante bastante grande e mesmo a baixas concentrações, ela consegue imprimir a
sua cor característica. Posições mais elevadas na paisagem, solos derivados de rochas ricas em
minerais ferromagnesianos, regiões mais quentes, são algumas situações que favorecem esse
óxido de Fe.

Goethita (α–FeOOH): é a mais frequente forma de óxido de ferro nos solos brasileiros.
Ela ocorre em quase todos os tipos de solos e condições climáticas e é responsável pelas cores
amarelas e bruno-amareladas tão espalhadas em solos brasileiros. Juntamente com a hematita
ela se faz presente em quase todos os solos das regiões tropicais e subtropicais, mostrando que as
duas têm uma estabilidade termodinâmica semelhante.

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Magnetita (Fe3O4) e Maghemita (γ–Fe2O3): Magnetita normalmente aparece como


mineral acessório em algumas rochas ígneas e é presença quase obrigatória na fração areia de
alguns solos brasileiros que são, em geral, derivados de rochas básicas ou ultrabásicas. Maghemita
ocorre frequentemente em solos de regiões tropicais e subtropicais, parte das vezes associada às
rochas básicas, como nos Latossolos Roxos, onde ela é presença quase obrigatória na fração argila.
Magnetita e maghemita são óxidos de Fe com alta susceptibilidade magnética, o que permite
separar os Latossolos Roxos de outros solos semelhantes na região apenas com um pequeno ímã
de mão.
Os óxidos de alumínio (Al) são também importantes minerais secundários nos solos
brasileiros. Eles podem estar presentes em solos jovens como produto do intemperismo intenso
e rápido de minerais primários em rochas aluminosas ou o mais usual é que os óxidos de Al
predominem em solos que já perderam, por lixiviação, quase todos os seus constituintes. Nessa
segunda forma, os óxidos de Al estariam entre os últimos minerais na escala do intemperismo e,
por isso mesmo, presentes nos solos mais antigos da crosta terrestre. Apesar de existirem vários
óxidos de Al, apenas um deles é importante nos solos, que é o mineral chamado gibbsita. Esse é
constituído de alumínio e de hidroxilas e apresenta como fórmula química Al(OH)3.
Os minerais argilosos apresentam cargas elétricas que são chamadas de cargas permanentes
e cargas dependentes conforme o seu modo de origem.

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Cargas permanentes: São aquelas originárias da substituição isomórfica dentro da
estrutura dos argilominerais e são preferencialmente negativas. Elas aparecem pela substituição
de certos cátions dentro da estrutura por outros de valência menor, causando um déficit de carga
positiva e consequentemente uma sobra de carga negativa na estrutura. Essas cargas negativas
se manifestam na superfície do mineral. Exemplo: a entrada de um cátion Al3+ na camada de
tetraedros no lugar de um Si4+ causa um déficit de 1 (uma) carga positiva na estrutura e por
conseguinte existirá um superávit de 1 (uma) carga negativa que se manifestará na superfície
do mineral. De modo semelhante, tem-se o Al3+ sendo substituído por um Mg2+ no octaedro,
gerando uma carga negativa. Esse tipo de carga é extremamente importante nos argilominerais
2:1 e de importância relativamente menor nos minerais tipo 1:1.

Cargas dependentes: São aquelas originárias da presença de bordas quebradas nos


argilominerais que causam o aparecimento de cargas elétricas que podem ser negativas ou positivas.
Os argilominerais apresentam bordas laterais nas quais existem agrupamentos tipo Al-OH ou Si-
OH em função da sua estrutura formada pela repetição de lâminas de tetraedros de Si e octaedros
de Al. Esses grupamentos são passíveis de sofrerem protonação ou desprotonação conforme o pH
do meio, originando assim cargas positivas ou negativas. Essas cargas são chamadas dependentes
do pH porque variam conforme a concentração hidrogeniônica do meio. À medida que se aumenta
o pH, maior número de cargas negativas são formadas pela desprotonação ao passo que com a
diminuição do pH são formadas cargas positivas pela protonação dos grupamentos funcionais
da superfície dos minerais. Essas cargas são extremamente importantes nos argilominerais tipo
1:1, como a caulinita, e, consequentemente, em fenômenos que influenciam de modo decisivo no
comportamento dos solos.

As cargas elétricas nos óxidos de Fe e Al são também cargas dependentes de pH, ou


seja, causadas pela protonação ou desprotonação dos grupamentos OH existentes em toda a
superfície desses óxidos. Um ponto importante a ser salientado é que qualquer mineral argiloso
do tipo óxido de Fe e Al, mesmo os anidros, tendem a apresentar a sua superfície hidroxilada em
condições naturais no solo.

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Isso permite haver a protonação ou desprotonação desses grupamentos conforme o pH.


Eles são chamados de colóides com carga variável caracterizada por uma interface com carga
reversível. Assim, a natureza e a densidade de cargas, medida pelo excesso ou déficit de prótons
na superfície do colóide, se modifica com o pH.
O mecanismo de formação de cargas elétricas na superfície dos óxidos de Fe e Al pode
ser vista como uma protonação ou desprotonação dos grupamentos situados na parte mais
superficial das partículas. Então, para qualquer mineral que apresente carga dependente, existe
um valor de pH onde a quantidade de prótons adsorvidos, gerando carga positiva, é igual ao
número de hidroxilas ou oxigênios, gerando cargas negativas. Esse pH onde a carga superficial do
colóide é zero recebe a denominação de PONTO DE CARGA ZERO, simbolizado por (PCZ) que
é específico para os diferentes tipos de minerais. A seguir mostramos, no Quadro 1, as tendências
gerais de formação de argilominerais e desenvolvimento de características do solo em função do
clima.
Quadro 1 - Tipo de minerais de argila e características dos solos formados sob diferentes
climas

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Fonte: a autora.

Intemperismo e pedogênese é um material bem completo para aprofundar os co-


nhecimentos sobre o assunto.

Disponível em:
https://midia.atp.usp.br/impressos/lic/modulo02/geologia_PLC0011/geologia_
top07.pdf

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Maravilhas da natureza. A história do mundo.


A Terra, 4,6 bilhões de anos atrás, era sem água, sem vida e sem futuro, no entan-
to, uma série de desastres transformou essa terra crua e sem vida em um planeta
azul.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NfcL49HClD4

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

04
DISCIPLINA:
GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA

FORMAÇÃO DO SOLO
PROF.A DRA. FLÁVIA CARVALHO SILVA

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 58
1 - FATORES DE FORMAÇÃO DOS SOLOS ............................................................................................................. 59
1.1 - MATERIAL DE ORIGEM ................................................................................................................................... 60
1.2 - TEMPO ............................................................................................................................................................. 60
1.3 - CLIMA ............................................................................................................................................................... 61
1.4 - ORGANISMOS ................................................................................................................................................. 62
1.5 - RELEVO ............................................................................................................................................................ 64
2 - PROCESSOS DE FORMAÇÃO DOS SOLOS ....................................................................................................... 65
2.1 - PROCESSOS ESPECÍFICOS DE FORMAÇÃO DO SOLO ................................................................................ 66
2.1.1 - LATOSSOLIZAÇÃO ......................................................................................................................................... 66
2.1.2 - PODZOLIZAÇÃO ............................................................................................................................................ 67
2.1.3 - HIDROMORFISMO ....................................................................................................................................... 69
2.1.4 - SALINIZAÇÃO ................................................................................................................................................. 71

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INTRODUÇÃO
Para dar a necessária importância ao solo e protegê-lo, é fundamental conhecer a maneira
como se forma e quais os elementos da natureza que participam na sua formação. O solo resulta
da ação simultânea e integrada do clima e organismos que atuam sobre um material de origem
(geralmente rocha), que ocupa determinada paisagem ou relevo, durante certo período de tempo.
Esses elementos (material de origem, clima, organismo, relevo e tempo) são chamados de fatores
de formação do solo.
Esses fatores são parte do meio ambiente e atuam de forma conjunta. A formação do
solo ou pedogênese é estudada pela Pedologia, cujas noções básicas e conceitos fundamentais
foram definidos em 1877, pelo cientista russo Dokuchaev. Até esta época, prevaleceu a visão
geológica que considerava o solo apenas como sendo um manto de fragmentos de rocha e
produtos de alteração, que reflete unicamente a composição da rocha que lhe deu origem. Com
a constatação da existência de solos diferentes desenvolvidos a partir de uma mesma rocha de
origem, a concepção sobre o que é o solo passou a ter uma conotação mais genética, onde o solo
é identificado como um material que evolui no tempo, sob a ação dos fatores naturais ativos na

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superfície terrestre (BRADY; WEIL, 2009).
Em 1898, Dokuchaev consolidou a concepção de que as propriedades do solo são
resultado dos fatores de formação do solo que nele atuaram e ainda atuam. Assim, temos que
clima e organismos, controlados pelo relevo, atuando sobre um material de origem, ao longo do
tempo, geram uma situação de desequilíbrio que resulta em intemperismo e formação de solos
(pedogênese) (Figura 21).
Durante seu desenvolvimento o solo sofre a ação de diversos processos de formação
como perdas, transformações, transportes e adições. Esses processos são responsáveis pela
transformação da rocha em solo, diferenciando-se desta por ser constituído de uma sucessão
vertical de camadas que diferem entre si na cor, espessura, granulometria, conteúdo de matéria
orgânica e nutrientes de plantas. Esses processos (adições, perdas, transformações e transportes)
são responsáveis pela formação de todos os tipos de solos existentes, mas esses processos atuam
com diferentes intensidades de acordo com a variação nos fatores de formação formando diversos
tipos de solo que encontramos na natureza (LEPSCH, 2002).

Figura 21 - Esquema explicativo da sequência de formação dos solos. Fonte: Mundo E2ducação (2018).

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1 - FATORES DE FORMAÇÃO DOS SOLOS


Os fatores de formação dos solos são elementos que estabelecem as condições ou estado
do sistema ou, utilizando os conceitos já apresentados nas unidades anteriores (unidades 1, 2 e
3) caracterizam as esferas (atmosfera, litosfera e biosfera) existentes na gênese de determinado
solo. Os principais fatores de formação de solos são o material de origem, o relevo, o clima, os
organismos e o tempo, os quais inter-relacionam entre si na natureza.
Dentre os fatores de formação dos solos, o material de origem e o tempo são considerados
fatores passivos, clima e organismos são fatores ativos, e o relevo é fator controlador. Fator passivo
de formação do solo é aquele que não adiciona e não exporta material, nem gera energia que possa
acelerar os processos de intemperismo e pedogênese. Aos fatores ativos, se atribui o provimento
de energia e compostos químicos que promovem os processos de formação do solo. Quando
um fator varia muito mais acentuadamente em relação a outros (os quais, então, apresentam-
se constantes), de modo que é possível avaliar seus efeitos, podemos ter uma climossequência
(variação do clima), topossequência (figura 22) (variação de topografia/relevo) e litossequência
(variação no material de origem) de solos.

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Figura 22 - Topossequências dos tipos de solos que ocorrem na região sul do Brasil. Fonte: Pedologia fácil
(2018).

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1.1 - Material de origem


É o material do qual o solo se forma, podendo ser de natureza mineral (solos de origem
mineral) ou orgânica (solos orgânicos). Pode ser uma rocha ou um sedimento inconsolidado,
aluvial (depósito de rio), ou coluvial (depósito de material no sopé das elevações).

Material de origem orgânica: solos orgânicos estão geralmente associados em locais


mal drenados ou muito frios. Formam-se pela adição pela superfície, resultando em material
menos transformado próximo à superfície e mais transformado em profundidade (contrário da
tendência dos solos minerais). O uso predominante desse tipo de solo é como substrato para
olericultura e floricultura.

Material de origem mineral: os materiais de origem mineral podem ser rochas, materiais
retrabalhados pela natureza ou mesmo outro solo. A rocha é fonte de minerais herdados no solo
e de solutos para fase líquida do solo e, se a concentração fpor alta sufienente, para a a formação
de minerais secundários.

1.2 - Tempo

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A rigor, o início da formação de um solo ocorre quando uma rocha sã começa a ser
alterada, ou um evento de sedimentação se encerra, e a partir daí começam a ocorrer os processos
de formação do solo. Mas como existe a erosão atuando em sentido contrário à pedogênese, é
difícil precisar o início exato da formação do solo. Embora a sucessão de eventos modeladores
da superfície do planeta, estudados pela geomorfologia, nos dê uma ideia de sequência temporal
dos materiais de solos dispostos na paisagem, não é comum se pesquisar a idade de um Latossolo
ou de um Cambissolo, até porque provavelmente esses solos já passaram por várias fases de
pedogênese, considerando a dinâmica da superfície do planeta.
Na formação do solo, a idade absoluta tem pouco significado, pois um solo velho em
idade pode ser muito ou pouco desenvolvido dependendo da intensidade do intemperismo.
Assim, o tempo como fator de formação de solos se refere ao período em que os fatores ativos
(clima e organismos) atuaram sobre o material de origem, condicionados pelo relevo.
Na pedologia os solos são comparados, usualmente, com termos como imaturo ou jovem,
maduro e velho ou senil. Um solo considerado senil é quando está bastante intemperizado,
e imaturo quando está pouco intemperizado. Com isso podemos ter solos jovens onde o
intemperismo e os processos de formação de solos ocorrem pouco, e solos velhos em locais onde
a pedogênese é mais acelerada, ainda que ambos tenham a mesma idade.
Dessa forma, temos que o uso do termo tempo/idade em pedologia normalmente está
relacionado à maturidade, ao grau de desenvolvimento de um solo, e não ao tempo cronológico.
Assim, quando se diz que um solo é jovem, significa que a pedogênese foi pouco intensa
(condições de relevo plano, clima frio ou seco), ou que a taxa de erosão foi maior que a taxa de
pedogênese (relevo acidentado), formando um solo pouco espesso, podendo apresentar minerais
ainda passíveis de intemperização (Figura 23). Ao contrário, a referência a um solo velho indica
tratar-se de um solo espesso, quimicamente pobre, com minerais profundamente intemperizados
e acúmulo de óxidos.

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Figura 23 - Evolução dos solos. Fonte: Geografia do IFPE (2018).

Solos imaturos ainda mantém muitas características e propriedades químicas, fí-


sicas e mineralógicas e às vezes até morfológicas do seu material de origem. À
medida que o solo envelhece, os processos pedogenéticos avançam e estas ca-
racterísticas iniciais vão se modificando. Mesmo assim, algumas características e
propriedades, principalmente aquelas ligadas aos minerais mais resistentes, ain-
da podem ser notadas. Como as altas temperaturas e precipitações nas regiões
intertropicais condicionam alças taxas de intemperismo e formação de solos, é
comum termos predominância de solos senis nessas regiões, conhecidos como
solos tropicais.

1.3 - Clima
O clima é um fator muito importante para o desenvolvimento do solo, é o que,
isoladamente, mais contribui para o intemperismo. Mais do que qualquer outro fator, determina
o tipo e a velocidade do intemperismo em cada região. As variáveis climáticas mais importantes
são: a precipitação, a temperatura e a evapotranspiração, regulando a natureza e a velocidade das
reações químicas.

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Para que as reações químicas de intemperismo ocorram, é necessário que exista água
no sistema. Dessa forma, a água está envolvida diretamente no processo, seja como solvente,
seja indiretamente, favorecendo a instalação de seres vivos que irão acelerar o intemperismo.
Uma vez processadas as reações, a circulação de água exerce importante papel na remoção de
partículas sólidas (erosão) e produtos solúveis (lixiviação) do intemperismo. Quanto maior a
disponibilidade de água (pluviosidade total e distribuição ao longo do ano) e mais frequente for a
sua renovação (drenagem), mais completas serão as reações químicas do intemperismo.
A temperatura desempenha um papel duplo, condicionando a ação da água: ao mesmo
tempo em que acelera as reações químicas, aumenta a evaporação, diminuindo a quantidade
de água disponível para a lixiviação dos produtos solúveis. A elevação da temperatura em
10°C aumenta de duas a três vezes a velocidade das reações químicas. As condições climáticas
condicionam a ocorrência do tipo de vegetação adaptada.
Entretanto, o solo pode alterar o clima atmosférico localmente. Um exemplo disto é a
ocorrência de floresta caducifólia (folhas caducas) em algumas partes da Serra de São Geraldo,
próximo a Viçosa (MG), mostrando que mesmo em um local com pluviosidade média de 1300
mm/ano, o solo raso não é capaz de armazenar água durante o período seco.
A combinação de alta pluviosidade e altas temperaturas caracteriza os climas tropicais.
Os solos desenvolvidos sob estes climas apresentam características de evolução muito avançadas
em relação a solos encontrados nas regiões mais frias.

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O clima do solo que deve ser considerado, pois nem sempre esse varia de acordo com o
clima atmosférico. As características térmicas e hídricas do solo variam com outros fatores de
formação do solo (como material de origem, relevo, entre outros) e não apenas com o clima.
O ciclo hidrológico do solo e seus componentes, por exemplo, variam em função do relevo
e posição na paisagem, particularmente a infiltração e o escoamento superficial, ou seja, em áreas
planas há bastante infiltração e pouco escoamento, então o solo formado é profundo; em áreas
declivosas, a erosão pode ser maior que a infiltração, havendo pouca água para o intemperismo
e bastante remoção de solo formado, sendo os solos rasos; e em baixadas planas, há acúmulo de
água e sedimento coluvial (gravidade) e aluvial (trazido pelas enchentes), por isso, os solos pouco
desenvolvidos.
No geral, podemos considerar que, quanto maior a pluviosidade, maior é a lixiviação de
bases, a atividade biológica, o conteúdo de argila, a alteração dos minerais da rocha e do solo e a
acidificação dos solos.

1.4 - Organismos
Os organismos consistem nos vegetais, animais, bactérias, fungos, liquens, os quais têm
influências dinâmicas nos processos de formação do solo. Estes organismos exercem ações físicas
e químicas sobre o material de origem e continuam a atuar no perfil do solo.
As ações podem ser classificadas como conservadoras e transformadoras. Ações
conservadoras são por exemplo, a interceptação da chuva pela parte aérea dos vegetais, o
sombreamento da superfície (diminuindo a amplitude térmica), assim como a retenção de solo
pelas raízes das plantas. Entre as ações transformadoras se destacam a ação dos organismos no
intemperismo físico e químico das rochas, a mobilização de sólidos (minerais e orgânicos) por
animais e a reciclagem de nutrientes e incorporação de matéria orgânica pelos vegetais.

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Os organismos são fundamentais para o processo de formação de solos. O solo não deve
ser considerado apenas o produto de destruição das rochas, porque a ação dos organismos cria
e destrói feições, propriedades e características destes materiais, dependendo de sua ação no
espaço e no tempo.
Os ciclos dos elementos químicos mais importantes para a continuidade da vida
na superfície terrestre (como o fósforo, o nitrogênio, o carbono, etc.) têm sempre uma parte
associada ao metabolismo de organismos em suas mais diferentes formas e são conhecidos por
ciclos biogeoquímicos.
A ação dos organismos começa tão logo a rocha é exposta à superfície. Assim,
inicialmente, colônias de microrganismos se estabelecem, à procura de substrato que lhes forneça
suporte e elementos químicos para seu desenvolvimento. Esses organismos são principalmente
bactérias litotróficas, capazes de oxidar elementos químicos (Fe, Mn) da estrutura dos minerais,
desestabilizando-os e contribuindo para sua alteração. O produto dos eu metabolismo contribui
na pedogênese, na forma de ácidos orgânicos ou de substâncias que formam complexos ou
quelatos com os elementos químicos liberados através do intemperismo.
À medida que a rocha vai se alterando e as colônias iniciais vão se expandindo, organismos
maiores e mais complexos têm condições de se instalar e se desenvolver. Isso permite que fungos,
algas, liquens, musgos, gramíneas, arbustos e árvores podem viver ali, dependendo das condições
do meio (clima e disponibilidade de nutrientes, principalmente).

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Mesmo depois do solo formado, quando o sistema solo-vegetação adquire um equilíbrio,
a ação dos organismos continua a ser marcante, de várias maneiras: a presença de uma cobertura
vegetal protege a superfície do solo das agressões do clima, como variações de temperatura,
impacto da gotas de chuva, etc.; em locais com ventos fortes, a vegetação se destaca pelo seu papel
protetor, dificultando o transporte de partículas, dentre outros.
Os organismos, principalmente os vegetais, são também fonte de matéria orgânica para o
solo. A matéria orgânica do solo, apesar de geralmente representar uma proporção pequena nos
solos minerais, possui propriedades coloidais muito mais expressas que os colóides inorgânicos.
A matéria orgânica do solo é um indicador da fertilidade e de outras condições para o crescimento
das plantas.
Em alguns locais. a mesofauna (cupins, formigas, minhocas) desempenha um
papel fundamental no desenvolvimento de características e propriedades químicas, físicas e
morfológicas.

Os organismos vivos desempenham papel importante no solo, desde a sua forma-


ção até seu uso e conservação. Para complementar e aprofundar seus conheci-
mentos nesse fator de formação, sugerimos a seguinte leitura:
‘A Biologia do solo’.

Disponível em:
http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agropecuario/artigo_agropecuario/bio-
logia_do_solo.html

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1.5 - Relevo
O relevo afeta a formação de solos por redistribuir a energia, advinda da radiação solar, e
os materiais água (movimento na superfície e na subsuperfície) e colúvio (material transportado
por gravidade).
O relevo regula a velocidade do escoamento superficial das águas pluviais (o que também
depende da cobertura vegetal) e, portanto, controla a quantidade de água que se infiltra nos
perfis, de cuja eficiência depende o fluxo vertical de solutos e colóides, assim como o fluxo lateral
de partículas sólidas pela erosão. Dessa forma o intemperismo se acentua quanto mais a água se
infiltrar pelo perfil do solo, levando os produtos mais solúveis do intemperismo. Por outro lado,
se as partículas sólidas da superfície do solo forem arrastadas pelo escorrimento lateral (erosão),
o equilíbrio pedogênese/erosão se deslocará no sentido de manter o solo com menor espessura,
ou seja, mais próximo do material de origem.
Além do controle do fluxo de água, o relevo também exerce um importante papel no
controle da intensidade de insolação das encostas. Dessa forma, no hemisfério sul, a face de uma
encosta que estiver voltada para o norte recebe maior quantidade de energia incidente também
durante o inverno, produzindo maior aquecimento, e resultando em um intemperismo maior do
que na face voltada para o sul.

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Curiosidade: Cerca de 52% do território do Paraná encontra-se acima de 600m e 89%
acima de 300 metros; somente três por cento fica abaixo de 200 metros. O quadro morfológico é
dominado por superfícies planas dispostas a grande altitude, compondo planaltos que formam
as serras do Mar e Geral. Segundo o geógrafo Reinhard Maack, no Estado do Paraná distinguem-
se cinco grandes regiões de paisagens naturais (Figura 24): 1) O litoral; 2) A Serra do Mar; 3) O
Primeiro Planalto ou Planalto de Curitiba; 4) O Segundo Planalto ou Planalto de Ponta Grossa; 5)
O Terceiro Planalto ou Planalto de Guarapuava. O Primeiro Planalto é o mais alto com altitudes
de 850 a 1 300 m, onde encontramos a capital do estado, a cidade de Curitiba. Nessa região,
encontramos um pouco da vegetação remanescente de araucárias e Mata Atlântica, que é típica
de áreas altas e de clima ameno

Figura 24 - Relevos do estado do Paraná. Fonte: Sanderlei.com (2018).

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2 - PROCESSOS DE FORMAÇÃO DOS SOLOS


Os processos de formação dos solos são os que produzem as modificações que ocorrem
no solo devido à atuação dos fatores de formação do solo. Consistem de adição, remoção ou
perda, transformação e translocação. A ação mais ou menos pronunciada de um ou mais desses
processos gerais conduz aos chamados processos específicos de formação do solo.

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Figura 25 - Mecanismos que atuam nos processos de formação dos solos. Fonte: labogef.iesa (2018).

Os processos de formação dos solos são os que produzem as modificações que ocorrem
no solo devido à atuação dos fatores de formação do solo. Consistem de adição, remoção ou
perda, transformação e translocação. A ação mais ou menos pronunciada de um ou mais desses
processos gerais conduz aos chamados processos específicos de formação do solo.

Adição: Compreende qualquer contribuição externa ao perfil do solo. Entre estas,


consideram-se a adição de matéria orgânica (restos orgânicos de animais e vegetais), poeiras
e cinzas trazidas pelo vento, materiais depositados tanto por enchentes como por movimentos
de massa nas encostas, gases que entram por difusão nos poros do solo (CO2, O2, N2), adubos,
corretivos, agrotóxicos, adição de solutos pela chuva, etc.

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Remoção ou perda: Compreende as perdas de gases, líquidos ou sólidos sofridas por


uma determinada porção de solo, podendo ser em superfície ou em profundidade. As primeiras
compreendem a exportação de nutrientes pelas colheitas, perdas de compostos voláteis por
queimadas, perdas por erosão hídrica ou eólica, etc. As perdas em profundidade compreendem
lixiviação de solutos pelo lençol freático, perdas laterais de soluções com íons reduzidos (Fe, Mn),
etc.

Translocação: É caracterizada pelo movimento de materiais de um ponto para o outro


dentro do perfil do solo. São processos de translocação, entre outros, o movimento de argilas e/
ou solutos de um horizonte para o outro no perfil, o preenchimento de espaços deixados por
raízes decompostas, cupins, minhocas, formigas, etc., o movimento de materiais promovido pela
atividade agrícola, e o preenchimento de vazios provocados pela contração de solos ricos em
argilas expansivas, como a montmorilonita).

Transformação: São processos que consistem na transformação física, química ou


biológica dos constituintes do solo, envolvendo síntese e decomposição. Transformações físicas
incluem quebras de minerais e rochas, umedecimento e secagem do solo com quebra de agregados,
compressão provocada pelo crescimento de raízes, etc. Transformações químicas consistem dos
processos de intemperismo químico já conhecidos, assim como a neoformação de minerais da

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fração argila do solo.

2.1 - Processos específicos de formação do solo


São caracterizados como processos específicos de formação de solos, aqueles em que
ocorre atuação destacada de um ou mais dos processos gerais de adição, remoção, translocação
ou transformação, de formação do solo. Os principais processos específicos de formação do solo
são:

2.1.1 - Latossolização
É o processo específico de formação dos latossolos, no qual sobressaem os processos
gerais de remoção e transformação. Nesse processo, os fatores ativos de formação do solo (clima e
organismos) apresentam uma ação intensa por um longo tempo, em uma condição de relevo que
propicia a remoção de sais solúveis e a transformação acentuada de minerais, em busca de uma
condição de equilíbrio, resultando no acúmulo de minerais mais estáveis como argilominerais
1:1 (caulinita) e óxidos de Fe e Al.
No processo de latossolização, com a perda de sais básicos (mais solúveis), o solo vai se
tornando mais ácido, aproximando o seu pH ao pH onde ocorre a neutralidade de carga das
argilas. Esta aproximação da neutralidade de cargas no solo diminui o movimento das argilas,
provocado pela repulsão entre cargas de igual sinal, leva à floculação, e em seguida à formação
de agregados pequenos e de forma granular, que passam a ser fortemente cimentados por óxidos
de Fe e Al. Esta estrutura permite que os latossolos apresentem uma alta permeabilidade e
arejamento, semelhante a solos arenosos, mesmo que contenham elevados teores de argila.

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Os Latossolos (Figura 26) ocupam extensos chapadões planos onde a água em


abundância se infiltrou profundamente, causando intensa lixiviação e acentuado intemperismo.
Estas condições podem não mais existir atualmente, fazendo com que se encontrem latossolos
associados a relevo acidentado em condições climáticas que favorecem menos a latossolização.
Sendo estes solos muito intemperizados, as evidências do material de origem são mais difusas
do que em solos jovens. O material intemperizado foi intensamente revolvido pelos organismos
vivos (formigas, cupins, raízes mortas, etc.) e transportados a grandes distancias na paisagem por
ação dos agentes erosivos (vento, chuvas, cursos d´água, etc.). Esses agentes promovem mistura
de substratos de diferentes origens.
No Cerrado, os latossolos ocupam praticamente todas as áreas planas a suave onduladas,
sejam chapadas ou vales. Ocupam ainda as posições de topo até o terço médio das encostas suave
onduladas, típicas das áreas de derrames basálticos e de influência dos arenitos.

Figura 26 - Perfil de um Latossolo Amarelo. Fonte: Moises-de-oliveira (2018). GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA | UNIDADE 4

2.1.2 - Podzolização
Este processo específico é caracterizado pela translocação de argila e de compostos organo-
minerais dentro do perfil. Mesmo que a translocação seja um processo de destaque, os processos
de adição, perda e transformação também ocorrem. Dois grandes grupos de solos apresentam
a podzolização: os Argissolos (antigos podzólicos) e os Espodossolos (antigos Podzóis). Além
destes temos os Luvissolos (antigos Bruno não cálcicos) e Planossolos

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Nos Espodossolos (Figura 27) é notável a translocação de complexos de matéria orgânica


e óxidos de ferro e/ou alumínio de um horizonte eluvial (E) para um horizonte espódico
(Bhs) onde estes complexos se precipitam. São originários, principalmente, de materiais areno
quartzosos, sob condições de clima tropical e subtropical, em relevo plano, suave ondulado ou
ondulado. Ocorrem associados a locais de umidade elevada, em áreas de surgente, abaciamentos
e depressões, sob os mais diversos tipos de vegetação.

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Figura 27 - Perfil de um Espodossolo Ferrihulmilúvico Órtico típico. Quissamarã/RJ. Fonte: Embrapa
(2018).

Os solos Argissolos (Figura 28) apresentam translocação de argila dos horizontes mais
superficiais para um horizonte mais profundo (horizonte de acumulação de argila translocada,
Horizonte B Textural – Bt). São bem mais argilosos do que os podzóis e são formados em
condições de alternância de ciclos de umedecimento e de secagem (clima com estações seca e
úmida definidas, ou posição na paisagem que permita tal alternância, tal como sopé de encostas).
O movimento descendente da argila no perfil leva ao entupimento de macroporos no horizonte
Bt, facilitando a erosão no horizonte superficial. Ocorrem com maior destaque nos estados do
Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte e Paraíba. As áreas onde predominam estes solos perfazem
um total de 110.000 km2 e constituem 14,7% da região.

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Figura 28 - Perfil de um Argissolo Vermelho Amarelo (PVA). Fonte: Embrapa (2018).

2.1.3 - Hidromorfismo
Neste processo específico de formação de solos, alguns horizontes do solo estão sujeitos à
submersão contínua ou durante a maior parte do tempo. Os processos gerais de formação do solo
que mais se destacam são a transformação de minerais passíveis de redução, e a adição de matéria
orgânica, que se acumula devido à menor taxa de decomposição.
A menor quantidade de oxigênio do solo, causada pelo excesso de água, permite a
proliferação de organismos anaeróbicos que, neste ambiente de baixo potencial de oxi-redução,
reduzem o Fe3+ dissolvido na solução do solo, usando-o como receptor de elétrons no processo
de oxidação dos compostos de carbono. Essa forma solúvel do Fe está em equilíbrio químico com
os óxidos de ferro (Fe(OH)3 ↔ Fe3+ + 3OH-) e, uma vez consumida na solução, desloca a reação
para dissolução das formas minerais cristalizadas (hematita e goethita). Assim, as argilas oxídicas
ferruginosas vão sendo consumidas e o solo vai perdendo as cores vivas (vermelha e amarela)
dessas argilas. A cor esbranquiçada e acinzentada dos solos hidromórficos reflete a redução do
ferro férrico presente nos óxidos.

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Os solos hidromórficos são frequentemente escurecidos pela pigmentação da matéria


orgânica que se acumula, uma vez que os organismos anaeróbicos são menos eficientes na
mineralização da matéria orgânica, do que os aeróbicos. Os solos onde o hidromorfismo é
marcante são denominados Organossolos, Gleissolos e Planossolos Hidromórficos.
Os Neossolos Flúvicos (Figura 29), formados pela deposição de sedimentos ao longo das
margens dos rios, e por isso denominados sedimentos aluviais antigos, estão muito freqüentemente
associados na paisagem a esses solos hidromórficos. Entretanto, eles não são considerados
solos hidromórficos por terem melhor drenagem ao longo do perfil (geralmente arenoso), e
apresentarem horizonte A sobre uma sucessão de camadas de sedimentos que não têm relação
pedogenética entre si. No geral estes solos ocorrem nos ambientes de várzeas, planícies fluviais
e terraços Aluvionares, ao longo das linhas de drenagens das principais bacias hidrográficas,
sob vegetação natural de campos higrófilos de várzea ou floresta perenifólia de várzea. Na Zona
da Mata Sul de Pernambuco, ocorrem principalmente nas várzeas com melhores condições de
drenagem, podendo estar ou não associados com os Gleissolos e Cambissolos Flúvicos.

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Figura 29 - Neossolo Flúvico. Fonte: Embrapa (2018).

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2.1.4 - Salinização
É o processo específico de formação de solos que apresentam acumulação de sais no
perfil. É comum nesses solos o processo de adição de sais pelo lençol freático ou pela erosão das
elevações circundantes. Esses solos estão associados a planícies ou depressões onde a drenagem é
deficiente e a precipitação pluviométrica é menor do que a evapotranspiração. Os solos formados
por esse processo têm suas características diferenciadas conforme a assembleia de cátions
(principalmente Ca+2, Mg+2, Na+, H+) que satura as cargas de suas argilas e são reconhecidos
pelos atributos:

Caráter sódico: saturação das cargas por Na > 15%;


Caráter solódico: saturação das cargas por Na > 6% e < 15%;
Caráter salino: condutividade elétrica > 4 ds/m2 e < 7 ds/m2;
Caráter sálico: condutividade elétrica > 7 ds/m2.

Exemplo de classes de solos: Gleissolos Sálicos (antigos Solonchaks) e Planossolos


Nátricos (antigos Solonetz solodizado) (Figura 30). São solos encontrados no Nordeste brasileiro
e no Pantanal Mato-grossense.

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Figura 30 - Planossolo Nátrico (SN). Fonte: Embrapa (2018).

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Guia para identificação dos principais solos do estado do Paraná


Esse guia fornece importantes informações complementares para entender os
processos envolvidos na formação dos solos do estado do Paraná

Disponível em:
https://www.embrapa.br/solos/busca-de-publicacoes/-/publicacao/338410/
guia-para-identificacao-dos-principais-solos-do-estado-do-parana

Solos do Brasil
Essa reportagem fala sobre a conscientização em torno da proteção de solos pro-
dutivos. Degradação, perda de nutrientes, erosão e desertificação são problemas
que afetam os solos e podem interferir na sua capacidade de produção. Sobre as

GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA | UNIDADE 4


causas e as práticas para combater a degradação dos solos, o programa recebe
Djalma Martinhão, pesquisador da Embrapa para esclarecer dúvidas e fornecer
informações importantes à população e pesquisadores.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EJYYhuXkn8Y

Sites e blogs interessantes para pesquisa e estudo sobre geologia e pedologia:

- Portal GEOTRACK. Link: http://www.geotrack.com.br

- Agência Embrapa de informação tecnológica Link: http://www.agencia.cnptia.


embrapa.br

- O portal do geólogo - Link: http://www.geologo.com.br/

- CRPM Serviços geológicos do Brasil - Link: http://www.cprm.gov.br/

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Para concluir essa unidade 4 e também a disciplina Geologia e Pedologia básica, na Figura
31, temos a caracterização do território brasileiro com base nos tipos (classes) de solo que foram
encontrados até hoje (pois o solo está em formação constante), nas diferentes regiões do Brasil.

Figura 31 - Tipos de solos no Brasil. Fonte: IBGE (2018). GEOLOGIA BÁSICA E PEDOLOGIA | UNIDADE 4

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REFERÊNCIAS
BRADY, N.C.; WEIL R.R. Elementos da Natureza e propriedades dos solos. 3.ed. Rio de Janeiro:
Grupo A- Bookman, 2013. 716 p.

CARNEIRO C.D.R., MIZUSAKI A.M.P., ALMEIDA F.F.M.de. A determinação da idade das


rochas. Terra e Didática. Campinas v.1; ed1;p. 6-35; 2005.

CARNEIRO, C. D. R; GONÇALVES, P. V.; LOPES, R. O. O ciclo das rochas na natureza. Terra e


Didática. Campinas, V. 5; ed1; p.50-62, 2009.

EMBRAPA Sistema brasileiro de classificação de solos. 2. ed. Brasília: Embrapa Solos, 2006.
306 p.

GUERRA, Antonio José Teixeira. Dicionário geológico-geomorfológico. Rio de Janeiro:


Bertrand, 2003.

IGBE. Manual Técnico de Pedologia. 2.ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. 316 p.

LEINZ, Victor; AMARAL, Sergio Estanislau do. Geologia Geral. São Paulo: Companhia editora
Nacional, 2003.

LEPSCH, I.F. Formação e Conservação dos Solos. São Paulo: Oficina de Textos, 2002. 178p.

LUCCI, Elian Alabi (Org.). Geografia: homem e espaço. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2012

MELO, Vander de Freitas; ALLEONI, Luís Reynaldo Ferracciú. Química e mineralogia do solo.
1. ed. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2009.

NUNES, E.; NÓBREGA JUNIOR, O. B. DA. Geografia Física I. EDUFRN. 2 ed, 2012.
POPP, J. H. Geologia Geral. Campinas: LTC. 7 ed., 2017.

PRESS, F. et al. Para entender a Terra. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.

SILVA, A. C. da (Org.). Geografia: contextos e redes. São Paulo: Moderna, 2013.

TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M.C.M.; FAIRCHILD, T.R.; TAIOLI, F. Decifrando a Terra. Editora
Oficina de Textos. São Paulo, 2000, 568p.

TOLEDO, M.C.M.; OLIVEIRA, S.M.B. de; MELFI, A.J. Da rocha ao Solo – Intemperismo e
pedogênese. In: TEIXEIRA, W.; FAIRCHILD, T.R.; TOLEDO, M.C.M.; TAIOLI, F. Decifrando a
Terra. 2. ed. São Paulo: IBEP Editora Nacional-Conrad, 2009. 620p.

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