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CONFORTO APLICADO À

ENGENHARIA CIVIL
PROF. ME. BRUNO EDUARDO MAZETTO DOMINGOS
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR

Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica:
Maria Albertina Ferreira do
Nascimento
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Diretoria EAD:
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Prof.a Dra. Gisele Caroline
Novakowski
Primeiramente, deixo uma frase de Só-
crates para reflexão: “a vida sem desafios não PRODUÇÃO DE MATERIAIS
vale a pena ser vivida.”
Diagramação:
Cada um de nós tem uma grande res- Alan Michel Bariani
ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, Thiago Bruno Peraro
e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica
e profissional, refletindo diretamente em nossa Revisão Textual:
vida pessoal e em nossas relações com a socie- Fernando Sachetti Bomfim
dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente Marta Yumi Ando
e busca por tecnologia, informação e conheci- Simone Barbosa
mento advindos de profissionais que possuam
novas habilidades para liderança e sobrevivên- Produção Audiovisual:
cia no mercado de trabalho. Adriano Vieira Marques
Márcio Alexandre Júnior Lara
De fato, a tecnologia e a comunicação Osmar da Conceição Calisto
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas,
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e Gestão de Produção:
nos proporcionando momentos inesquecíveis. Cristiane Alves
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino
a Distância, a proporcionar um ensino de quali-
dade, capaz de formar cidadãos integrantes de
uma sociedade justa, preparados para o mer-
cado de trabalho, como planejadores e líderes
atuantes.

Que esta nova caminhada lhes traga


muita experiência, conhecimento e sucesso.

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

01
DISCIPLINA:
CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL

CONFORTO TÉRMICO E O COMPORTAMENTO


TÉRMICO DAS EDIFICAÇÕES
PROF. ME. BRUNO EDUARDO MAZETTO DOMINGOS

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO...............................................................................................................................................................5
1. VARIÁVEIS HUMANAS PARA O CONFORTO TÉRMICO.......................................................................................6
1.1 O ORGANISMO HUMANO E O METABOLISMO...................................................................................................6
1.2 TERMORREGULAÇÃO ...........................................................................................................................................7
2. VARIÁVEIS AMBIENTAIS PARA O CONFORTO TÉRMICO...................................................................................9
3. O PAPEL DA VESTIMENTA....................................................................................................................................10
4. ÍNDICES DE CONFORTO TÉRMICO......................................................................................................................12
4.1 O VOTO MÉDIO PREDITO (PMV E PPD) ............................................................................................................12
5. PROGRAMAS DE ANÁLISE E SIMULAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO .............................................................13
6. PROPRIEDADES TÉRMICAS DOS ELEMENTOS CONSTRUTIVOS....................................................................16
6.1 TROCAS TÉRMICAS ÚMIDAS E SECAS..............................................................................................................16

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6.2 FECHAMENTOS OPACOS E TRANSPARENTES.................................................................................................17
7. ABSORTIVIDADE, REFLETIVIDADE, TRANSMISSIVIDADE E EMISSIVIDADE..................................................19
8. CONDUTIVIDADE TÉRMICA................................................................................................................................. 20
9. RESISTÊNCIA TÉRMICA........................................................................................................................................21
9.1 RESISTÊNCIA TÉRMICA SUPERFICIAL.............................................................................................................21
9.2 RESISTÊNCIA TÉRMICA DE CÂMARAS DE AR.................................................................................................23
9.3 TRANSMITÂNCIA TÉRMICA...............................................................................................................................23
9.4 DENSIDADE DE FLUXO DE CALOR.....................................................................................................................24
9.5 TEMPERATURA SOL-AR......................................................................................................................................24
9.6 FLUXO DE CALOR................................................................................................................................................ 25
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................................................... 26

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INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, serão abordados os conceitos, definições e aplicações


que estruturam o tema do conforto térmico. Segundo a American Society of Heating Refrigeration
and Air Conditioning Engineers (ASHRAE), podemos definir conforto térmico como a satisfação
do estado da mente do homem em relação ao ambiente térmico que o circunda.
Estamos em estado de conforto térmico quando não há necessidade de esforço para nos
aquecer ou nos resfriar. A insatisfação do homem com o ambiente térmico pode ser ocasionada
pela sensação de calor ou frio, ou seja, quando nosso corpo está em desequilíbrio entre o calor
produzido pelo corpo e o calor perdido para o ambiente.
A chamada neutralidade térmica é uma condição fundamental e necessária para se atingir
o conforto térmico, porém, por si só, não é suficiente. Por definição, a neutralidade térmica tem
como base o conceito de que todo o calor gerado pelo nosso organismo é trocado, na mesma
intensidade e proporção, com o ambiente ao nosso redor, sem acréscimo ou perda de calor
excessivo.

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Para atingirmos o conforto térmico, apenas a temperatura do ar não é suficiente. A
umidade relativa do ar, ventilação, metabolismo e idade são todos fatores que podem influenciar
para atingirmos esse estado.
De acordo com Frota e Schiffer (2003) e Lamberts et al. (2014), os principais fatores que
justificam a importância do estudo do conforto térmico são:

• A satisfação – estado físico e mental em que estamos termicamente confortáveis.


• A performance – as atividades físicas, intelectuais e visuais, quando exercidas em
um conforto térmico condizente com o metabolismo do usuário, apresentam maior
rendimento.
• A conservação de energia – quando o ambiente possui condições e parâmetros relativos ao
conforto térmico em harmonia com o metabolismo e com a atividade exercida pelos seus
ocupantes, podem-se evitar gastos desnecessários com o aquecimento ou refrigeração.
Com o objetivo de compreendermos os princípios do conforto térmico, podemos dividir
suas variáveis em três tipos: variáveis humanas, variáveis ambientais e a vestimenta.

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1. VARIÁVEIS HUMANAS PARA O CONFORTO TÉRMICO

Devido ao fato de nós, seres humanos, sermos objeto de estudo fundamental desta
unidade, veremos a seguir algumas exigências e conceitos que nos definem quanto ao conforto
térmico.

1.1 O Organismo Humano e o Metabolismo


O homem é um animal homeotérmico. Frota e Schiffer (2003) explicam que possuímos
um organismo no qual a temperatura interna pode ser considerada constante. A média da nossa
temperatura interna é 37º C uma vez que apresentamos pequenas variações de temperatura,
normalmente entre 36,1º C e 37,2º C, sendo que o limite para o aquecimento interno é de 42º
C e o limite inferior para a sobrevivência é de apenas 32º C. Isso significa que apenas 5º C de
aquecimento ou resfriamento faz a diferença entre o estado de saúde e o de enfermidade, valores
considerados como limites extremamente baixos de variação.
Nosso organismo assemelha-se a uma máquina térmica, em que nossa energia é obtida

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por meio de fenômenos térmicos e reações químicas, sendo a mais importante delas a combinação
do carbono (advindo da introdução de alimentos no organismo) com o oxigênio extraído do ar
pela respiração.
A produção de energia interna em nosso organismo, gerada a partir da combustão dos
elementos orgânicos, é denominada metabolismo. Contudo, de todo o potencial de energia
gerado pelo nosso metabolismo, apenas cerca de 20% são utilizados como potencial de trabalho.
Os 80% restantes são transformados em calor e devem ser esvaecidos do nosso organismo para
que ele não superaqueça, permanecendo em equilíbrio. Sendo assim, ao analisarmos a “máquina
humana” com base na termodinâmica, constatamos que ela possui um rendimento extremamente
baixo.
Nesse contexto, o calor produzido e dissipado pelo nosso organismo está diretamente
vinculado ao tipo de atividade desenvolvida pelo indivíduo. Quando estamos em repouso
absoluto, o chamado metabolismo basal, nosso metabolismo gera cerca de 75 W de calor, que
devem ser dissipados para o ambiente (FROTA; SCHIFFER, 2003).
A Tabela 1 apresenta, de acordo com a norma internacional ISO 7730:2005 (ABNT,
2005a), valores de energia produzida por unidade de pessoa em repouso. Para isso, utiliza-se a
unidade de medida MET, que equivale a 58 W/m².

Tabela 1 - Energia gerada por unidade de área de uma pessoa de acordo com a atividade exercida (1 MET = 58 W/
m²). Fonte: ABNT (2005a).

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1.2 Termorregulação
De acordo com Frota e Schiffer (2003) e Lamberts et al. (2014), o mecanismo interno do
nosso organismo, responsável pela manutenção da temperatura interna constante, recebe o nome
de mecanismo de termorregulação ou aparelho termorregulador. É por meio dele que impedimos
que as condições termohigrométricas do ambiente influenciem em perdas ou ganhos de calor em
nosso organismo.
Apesar de os mecanismos de termorregulação presentes em nosso organismo serem
ativados de maneira involuntária, eles geram, por consequência, uma perda de potencialidade de
trabalho devido ao esforço extra, necessário para o seu funcionamento. Podemos constatar que
estamos em um estado de conforto térmico quando nosso organismo perde calor para o ambiente
de maneira natural, sem a necessidade de ativação de nenhum mecanismo de termorregulação.
Quando sentimos frio, nossos mecanismos termorreguladores são ativados de maneira
a evitar a perda de calor do corpo de forma demasiada. Além de manter a temperatura interna
constante, o organismo reage de forma a aumentar a produção interna de calor. Para reduzir as
perdas de calor para o ambiente, o primeiro mecanismo a ser ativado é a vasoconstrição periférica
(Figura 1), que contrai os vasos capilares próximos à pele, o que faz com que os vasos próximos

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aos órgãos dilatem. Evitam-se, assim, as perdas de calor por meio da radiação e convecção uma
vez que a pele se resfria e aproxima sua temperatura à do meio.

Figura 1 - Vasoconstrição periférica. Fonte: Lamberts et al. (2014).

Outros dois mecanismos ativados na presença do frio são o arrepio e o tremor dos
músculos. O arrepio tem como objetivo aumentar a espessura da camada de isolamento de nosso
corpo por meio do eriçamento dos pelos, deixando a pele mais rugosa e evitando a perda de
calor por convecção. Caso o frio seja mais intenso, é necessário que o aumento da nossa taxa
metabólica seja ativado, causando de maneira involuntária o tremor muscular. Por intermédio do
tremor, atividade física involuntária, produz-se de maneira mais eficaz o calor interno em nosso
organismo (Figura 2).

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Figura 2 - Tremor e arrepio. Fonte: Lamberts et al. (2014).

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Quando estamos expostos a uma situação em que o calor seja demasiado, isto é, quando
as perdas de calor para o ambiente são inferiores às necessárias para a manutenção de nossa
temperatura interna, nosso organismo propicia mecanismos de trocas térmicas mais intensas,
com o objetivo de resfriar nosso sistema.
Nesse caso, o primeiro mecanismo termorregulador a ser ativado é a vasodilatação
periférica, que, a partir da dilatação dos vasos sanguíneos, diminui o atrito e aumenta o
relaxamento dos músculos lisos, o que contribui para o aumento das perdas de calor para o meio
por meio da convecção e radiação, aumentando a temperatura da pele (Figura 3).

Figura 3 - Vasodilatação periférica. Fonte: Lamberts et al. (2014).

Caso somente a vasodilatação periférica não seja suficiente, ativa-se o segundo mecanismo
que auxiliará no incremento das perdas de calor de nosso organismo para o meio: o suor (Figura
4). Quando a temperatura da pele aumenta ou quando há muita umidade no ar, o suor presente
em nossos poros não consegue evaporar totalmente, o que faz com que ele transite do interior dos
poros para a superfície da pele (LAMBERTS et al., 2014).

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Figura 4 – Suor. Fonte: Lamberts et al. (2014).

Como controlamos a temperatura do nosso corpo?

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A temperatura corporal de nosso organismo tende a não ser alterada
independentemente do clima em que se situa, isto é, relacionada ao nosso
aparelho termorregulador.

Entretanto, é essencial compreender alguns princípios acerca


desse tema. No texto disponível em <https://www.infoescola.com/
fisiologia/temperatura-corporal/>, são expostos, de uma maneira
clara e objetiva, os conceitos e princípios que envolvem o tema.

2. VARIÁVEIS AMBIENTAIS PARA O CONFORTO TÉRMICO

Além da percepção do usuário, o conforto térmico pode ser influenciado pelas seguintes
variáveis climáticas: temperatura do ar (TAR = ºC), temperatura média radiante (TRM = ºC),
umidade relativa do ar (UR - %) e velocidade do ar (V = m/s) conforme ilustra a Figura 5.

Figura 5 - Variáveis climáticas. Fonte: Lamberts et al. (2014).

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A diferença de temperatura entre a pele e o ar gera a perda de calor no corpo, princípio


básico em que se baseia a sensação de conforto. O ar mais frio, ao entrar em contato com a nossa
pele, “rouba” o calor produzido pelo nosso organismo. Ao se aquecer, o ar torna-se mais leve e
sobe enquanto o ar frio desce. Esse princípio de movimentação das massas de ar proporciona a
sensação de resfriamento do ambiente, chamada de convecção natural.
A temperatura média radiante, por sua vez, tem como base a temperatura média da
superfície dos elementos que compõem um determinado espaço. Essa temperatura realiza trocas
térmicas por radiação (Figura 6).

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Figura 6 – Trocas térmicas entre corpos. Fonte: Lamberts et al. (2014).

Outro fator importante de influência para o conforto térmico, além das temperaturas, é a
umidade relativa do ar, isto é, a quantidade de vapor de água presente no ar em relação à máxima
que pode conter em uma situação de determinada temperatura e pressão.
Quanto maior for a quantidade de umidade relativa do ar, mais saturado de vapor de
água esse ar estará. Com isso, aumenta-se a dificuldade de perdas por convecção e radiação,
diminuindo-se a eficiência da evaporação para o resfriamento.
A velocidade do ar funciona como um parâmetro modificador das trocas térmicas por
evaporação e convecção. Quanto maior for a velocidade do ar, mais eficiente será a retirada de
ar quente e água em contato com um corpo, reduzindo, assim, a sensação de calor. Um exemplo
prático é quando aplicamos álcool sobre a pele: a velocidade de evaporação do álcool, por ser
elevada, aumenta a sensação de resfriamento do corpo. Sendo assim, quanto mais rápida for a
evaporação, maior será a sensação de perda de calor.
Além das variáveis apresentadas, outros fatores acabam influenciando na sensação
térmica dos seres humanos, tais como: idade, raça, hábitos alimentares, altura e sexo.

3. O PAPEL DA VESTIMENTA

Além de conhecermos as variáveis humanas e ambientais que podem influenciar a


sensação de conforto térmico, devemos lembrar que os seres humanos possuem o hábito de
utilizar uma resistência térmica de grande importância na sensação do conforto térmico: as
roupas.

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A resistência térmica da roupa, de acordo com Frota e Schiffer (2003) e Lamberts et


al. (2014), é determinada pela unidade de medida clo, do inglês clothing (1 clo = resistência
térmica de 0,155 m² C/W). Nosso corpo pode realizar trocas térmicas com a roupa por meio de
condução, convecção e radiação, que, por sua vez, realiza trocas com o ar por convecção. Quando
em contato com outras superfícies, a roupa troca calor por radiação.
Dessa maneira, a vestimenta funciona como uma barreira para as trocas de calor por
convecção. Sua eficiência acontece devido a uma camada de ar parado, por mínima que seja,
entre nossa pele e o material da roupa. Esse fator gera dificuldade para as trocas por convecção e
radiação. Quanto maior for a camada de ar que isola o corpo da barreira térmica, melhor será sua
capacidade de isolar a temperatura interna.
Em climas secos, por exemplo, além de protegerem contra a radiação direta do Sol, as
roupas dificultam a perda de umidade do corpo para o meio (Figura 7). O suor produzido pelo
corpo, nessa situação, evapora e fica preso entre a roupa e a pele, o que diminui as perdas de
líquido do organismo por evaporação e acaba criando um microclima mais agradável. Quanto
maior for a resistência térmica da vestimenta, menores serão suas trocas de calor com o meio que
a circunda. Em climas frios, a camada de ar presente entre a pele e a vestimenta mantém o ar mais
aquecido junto ao corpo.

Figura 7 – Vestimenta adequada a climas quentes e secos. Fonte: Madzwamuse (2008). CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 1

A vestimenta deve ser adequada em função do clima, temperatura média do ambiente,


atividade que será praticada, calor do organismo e, em alguns casos, da umidade do ar em que é
utilizada.
A Tabela 2 mostra valores dos índices de resistência térmica de determinados tipos de
vestimentas, obtidos da norma internacional ISO 7730 (ABNT, 2005a).

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Tabela 2 – Valores de Iclo para algumas vestimentas. Fonte: Lamberts et al. (2014).

4. ÍNDICES DE CONFORTO TÉRMICO

Por se tratar de um conceito tido como subjetivo (devido ao fato de possuir diversos
fatores e variáveis de influência ao homem e ao ambiente em que se encontra), inúmeros métodos
e pesquisadores buscaram desenvolver uma maneira simplificada e clara para a constatação do
conforto ou desconforto térmico de acordo com uma determinada situação. A seguir, serão
apresentados os mais atuais índices e métodos de análise do conforto térmico.

4.1 O Voto Médio Predito (Pmv e Ppd)


Em 1972, no livro Thermal comfort: analysis and applications in environmenal engineering,
de autoria do professor Povl Ole Fanger, apresentava-se a derivação de uma equação experimental
geral de conforto, utilizada para calcular a combinação das variáveis ambientais – temperatura
radiante média, velocidade do ar, umidade relativa do ar, temperatura do ar, atividade física e
vestimenta - somadas a fatores humanos – nacionalidades, idades e sexo – e a condições ambientais.
Dessa equação, originou-se o Voto Médio Predito (em inglês, predicted mean vote – PMV). Esse
método é elaborado a partir de um valor numérico que consiste na sensibilidade humana à
variação de temperatura, calor ou frio. Considera-se o PMV de valor zero como o estado de
conforto térmico. Para estados de desconforto por calor, o valor é positivo e, para o frio, obtém-
se um valor negativo (Figura 8). Posteriormente, os valores obtidos no PMV são relacionados
ao conceito de porcentagem de pessoas insatisfeitas (Predicted Percentage of Dissatisfied – PPD).

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Figura 8 - Relação entre valores PMV e PPD. Fonte: Lamberts et al. (2014).

Esse método de medição para constatação do desconforto térmico é adotado pela norma
internacional ISO 7730:2005 (ABNT, 2005a). Recomenda-se que os valores do PPD, em espaço
onde haja ocupação humana, sejam menores que 10%, correspondendo a uma faixa moderada

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de valores de PMV entre -0,5 e +0,5.
Com vistas a facilitar os cálculos das equações desenvolvidas por Fanger, adotaremos o
software Analysis-CST como método de cálculo para valores PMV e PPD.
Para tanto, como base de cálculo, é aceitável um ambiente que esteja dentro das seguintes
faixas de PMV:

-0,5 < PMV > +0,5

De acordo com a norma ISO 7730 (ABNT, 2005a), os limites do conforto térmico, de
maneira que atenda às necessidades solicitadas, devem levar em consideração a vestimenta e a
atividade desenvolvida.

5. PROGRAMAS DE ANÁLISE E SIMULAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO

Por meio do software Analysis-CST, desenvolvido pela Universidade Federal de Santa


Catarina (UFSC), no Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE, Figura 9), é
possível conhecer e aplicar os conceitos de PMV e PPD de acordo com a norma ISO 7730:2005
(ABNT, 2005a) a partir da relação das variáveis ambientais de temperatura, umidade relativa do
ar, temperatura radiante média, vestimenta e metabolismo. Dessa maneira, é possível constatar
a condição de conforto térmico submetida ao usuário em um ambiente interno de acordo com
as variáveis aplicadas pelo software. Por fim, o programa torna-se um forte aliado nos processos
de análises iniciais para diretrizes de projetos uma vez que, por meio dele, é possível predizer o
comportamento prévio de como o ser humano reagirá às alterações térmicas em um ambiente
(LAMBERTS et al., 2014).

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Figura 9 - Relação entre valores PMV e PPD. Fonte: Lamberts et al. (2014).

O segundo software apresentado para base de análises de conforto térmico é o programa


desenvolvido pela Macquarie Univeristy: Dear 2007 (Figura 10). O programa é gratuito e está
disponível para download através do link http://atmos.es.mq.edu.au/~rdedear/pmv/. Sua
principal função é calcular os índices de PMV e PPD conforme os dados das seguintes variáveis:
temperatura do ambiente, temperatura radiante, pressão do ar, pressão do vapor de água, umidade
relativa, velocidade do ar e características físicas do usuário.

Figura 10 – Dear 2007: software para cálculo de PMV e PPD. Fonte: Lamberts et al. (2014).

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Similar ao software anterior, o programa Comfort Calculator, desenvolvido pelo Square


One Group e disponibilizado de maneira gratuita no endereço http://squ1.com (Figura 11), em
uma linguagem prática e dinâmica fornece ao pesquisador os índices de PMV e PPD conforme
os valores das variáveis adotadas.

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Figura 11 – Comfort calculator. Fonte: Lamberts et al. (2014).

Por fim, temos o software PMV Tools (Figura 12), desenvolvido também pelo Square One
Group, que fornece ao pesquisador os valores para os índices de PMV e PPD. Entretanto, nesse
programa é possível visualizar os dados de influência de cada variável fornecida em um gráfico. A
vantagem do PMV Tools em relação aos outros softwares é que ele possui características de dados
parametrizados, isto é, ao determinar uma variável, é possível visualizar os demais parâmetros
e buscar valores de maneira com que seja possível atingir um índice de PMV próximo de zero,
propiciando o estado de conforto térmico (LAMBERTS et al., 2014).

Figura 12 – Software PMV Tools. Fonte: Lamberts et al. (2014).

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Ao abordarmos o conceito de conforto térmico nos ambientes


de trabalhos, o bem-estar experimentado por um usuário é
resultado de uma somatória de fatores de influência, que,
quando combinados corretamente, produzem satisfação
térmica ao usuário.

Nesta apostila, serão apresentados e concentrados os


estudos que promovem a sensação de conforto térmico em
ambiente interno. Abordaremos os principais conceitos e
definições em busca do equilíbrio das trocas de calor geradas
no espaço.
Fonte: Slide Share (2016).

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6. PROPRIEDADES TÉRMICAS DOS ELEMENTOS CONSTRUTIVOS

Cada material e elemento construtivo se comportam termicamente de maneira diferente


de acordo com suas propriedades térmicas. Para que seja possível analisarmos e compararmos um
determinado material, utilizaremos tabelas e equações obtidas na norma pertinente ao assunto,
a NBR 15220-3:2005 – Desempenho Térmico em Edificações (ABNT, 2005c). Nessa norma,
são demonstrados os cálculos de resistência térmica de materiais homogêneos e heterogêneos,
capacidade térmica, transmitância térmica, fator solar e atraso térmico.

6.1 Trocas Térmicas Úmidas e Secas


O conforto ambiental nas edificações é matéria cada vez mais presente e discutida nos
congressos que estudam o ambiente construído e suas relações com o homem, procurando
aprimorar a qualidade de vida das pessoas.
Sabe-se que, quando dois materiais ou corpos possuem diferença de temperatura, aquele
que possuir a temperatura mais baixa tenderá a absorver a temperatura mais alta até que ambos
estejam à mesma temperatura. A esse processo, dá-se o nome de trocas térmicas. As trocas
térmicas entre materiais ou corpos acontecem devido a dois fatores físicos:

• Existência de temperaturas diferentes entre dois corpos.


• Mudança de estado de agregação do material.
Para entendermos melhor cada processo que possa envolver essa ação, iremos dividir as
trocas térmicas em dois tipos: trocas térmicas secas e trocas térmicas úmidas.
As trocas térmicas úmidas envolvem mudanças de estado de agregação, dentre elas:
evaporação e condensação. A evaporação pode ser definida pela troca térmica que envolve
mudança de fase, do estado líquido para o estado gasoso. Durante a evaporação do líquido, é
“roubado” calor do corpo. Exemplo é o suor do corpo, que se transforma em vapor d’água. Por
sua vez, a condensação é a troca térmica decorrente da mudança do estado gasoso do vapor
d’água contido no ar para o estado líquido (é o chamado “ponto de orvalho”).

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Exemplo é a umidade excessiva no ar, que se precipita em forma de gotas de chuva.


As trocas secas envolvem materiais ou elementos que possuem diferença de temperaturas.
As propriedades físicas que possibilitam esse tipo de troca térmica são a radiação, a condução e
a convecção.
A radiação pode ser definida como um mecanismo de troca térmica entre dois corpos
que guardam entre si uma distância qualquer, o que se dá por meio de sua capacidade de emitir
ou absorver energia térmica.
Na condução, a radiação solar que entra pelas aberturas é absorvida em parte pelas
superfícies do chão e das paredes, convertendo-se em energia térmica. Dessa forma, a radiação
incidente sempre terá uma parcela refletida e outra absorvida de acordo com o tipo de material e
elemento (EQ7). Sendo: α = absortividade e ρ = refletividade, teremos a seguinte equação:
EQ7 – Absorção e refletividade

α+ρ=1

A condução térmica pode ser definida como a troca de calor entre dois corpos sólidos
que se tocam ou mesmo entre partes de um corpo que estão a temperaturas diferentes. Exemplo:

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o calor que flui através de uma parede, com superfícies de temperaturas diferentes. A velocidade
da troca de calor por condução dependerá:

• Da diferença de temperatura entre as superfícies que trocam calor.


• Das áreas e da distância entre essas superfícies (espessura do componente).
• Da densidade do material.
• Da condutividade térmica do material através do qual se conduz o calor.
Por fim, a convecção é a troca de calor entre dois corpos quando o calor é transferido por
um corpo fluido (líquido ou gasoso). Exemplo: ar frio (mais denso), que desce do aparelho de
ar-condicionado e resfria o ar do ambiente (menos denso), gerando movimento de massas de ar.
O sentido do fluxo de calor sempre ocorrerá a partir da troca térmica entre a superfície
mais quente para a superfície mais fria.

6.2 Fechamentos Opacos e Transparentes


Uma das principais formas de ganho térmico em um ambiente acontece por meio de uma
parcela da radiação transmitida para seu interior. Tendo entendido os conceitos de transmissão
de calor e comportamento térmico dos fechamentos, será possível dimensionar e especificar
corretamente os materiais e aberturas em nossos projetos.
Os elementos construtivos podem ser divididos em fechamentos opacos e fechamentos
transparentes. A seguir, compreenderemos o funcionamento de cada um deles.
Em um sistema de fechamento opaco, segundo Lamberts et al. (2014), a transmissão do
calor ocorre sempre que houver alteração de temperatura entre as superfícies externa e interna.
Em uma situação na qual a temperatura do ar externo esteja maior que a interna, o sentido do
fluxo do calor penetra por meio do fechamento de maneira que a temperatura da superfície
interna aumente até que se atinja o equilíbrio térmico entre elas.

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Como forma de prevenir a transferência de calor entre as duas superfícies, materiais como
a cortiça, isopor, lã de vidro e concreto celular atuam como isolantes térmicos. Tais materiais
possuem uma baixa densidade, isto é, possuem grandes quantidades de ar em seus poros. O ar,
por sua vez, possui uma baixa condutividade térmica, que pode ser entendida como a capacidade/
velocidade de se transmitir calor.
Entretanto, outra característica importante que deverá ser considerada nos fechamentos
opacos é a sua inércia térmica, isto é, a capacidade de um material ou elemento de armazenar
calor. Quanto maior for sua inércia térmica, maior será o calor retido, que, por consequência,
poderá ser transmitido para a superfície mais fria (Figura 13).

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Figura 13 - Inércia térmica. Fonte: Lamberts et al. (2014).

Em um sistema de fechamento transparente, podem ocorrer os três tipos básicos de


trocas térmicas: radiação, condução e convecção.
Os fechamentos transparentes são responsáveis pelas principais trocas térmicas em uma
edificação, as quais são possibilitadas por meio de janelas, claraboias, aberturas ou qualquer outro
elemento transparente em um projeto.
Nos materiais transparentes, a radiação é o principal fator que contribui para a transmissão
do calor para o interior da construção uma vez que a transparência é o que permite a incidência
direta dos raios do Sol. O material absorve parte do calor e, posteriormente, irradia o calor
armazenado para o interior (Figura 14).

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Figura 14 - Radiação transmitida, absorvida e refletida pelo vidro. Fonte: Lamberts et al. (2014).

7. ABSORTIVIDADE, REFLETIVIDADE, TRANSMISSIVIDADE E


EMISSIVIDADE

De acordo com o material ou elemento construtivo, o desempenho em relação à radiação


térmica incidente pode ser diferente uma vez que essa radiação poderá ser transmitida, refletida
ou, até mesmo, absorvida e posteriormente reemitida para o interior. Conforme vimos, a equação
da absortividade e refletividade é uma característica dos materiais opacos. Para os materiais
transparentes, devem-se acrescentar à equação os valores acerca da transmissividade (τ), o que
dará origem à equação EQ8.
EQ8 – Absorção e refletividade para materiais transparentes:

α+ρ+τ=1

Segundo Lamberts et al. (2014), ao analisarmos a absortividade, percebemos que os


materiais de construção são seletivos à radiação de onda curta (radiação solar), e a principal
característica responsável por isso é a cor superficial desse material. Um material escuro tende a
absorver uma maior parcela de radiação incidente se comparado a um material mais claro, e essa
radiação absorvida, posteriormente, será reemitida. A propriedade térmica que rege a emissão
da radiação para o ambiente interno é a emissividade (ε). Na Tabela 3, obtida com os dados da
NBR 15220-3:2005 (ABNT, 2005c), são apresentados os valores de absortividade e emissividade
de alguns materiais e cores.

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Tabela 3 – Absortividade (α) e emissividade (ε) de algumas matérias e cores. Fonte: ABNT (2005c).

A emissividade de cada material é responsável por determinar a quantidade de energia


térmica emitida por unidade de tempo. Tal característica ocorre na camada superficial do material
emissor. Ao interpretarmos a Tabela 3, é possível observar, por exemplo, que o tijolo aparente
possui uma absortividade de 80% da energia incidente sobre ele, refletindo os 20% restantes.
Sua emissividade, entretanto, é de 95%, o que compreende um material com grande potencial de
transmissão de calor por radiação.

8. CONDUTIVIDADE TÉRMICA
A capacidade de um material conduzir com maior ou menor facilidade o calor por
unidade de tempo é chamada de condutividade térmica (λ) e está relacionada à densidade do
material em questão. A Tabela 4 apresenta alguns valores de condutividade térmica para alguns
materiais.

Tabela 4 - Condutividade térmica de alguns materiais. Fonte: ABNT (2005c).

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Observe que, quanto menor for a densidade de um material, menor será sua condutividade
térmica. Tal característica é responsável por determinar materiais com a função de isolante
térmico.

9. RESISTÊNCIA TÉRMICA

A resistência térmica (R) pode ser definida como a característica de um material em


resistir à passagem do calor. Essa característica também está relacionada à espessura do material
uma vez que, quanto maior ela for, melhor será a resistência oferecida à passagem do calor.
Quanto maior for a condutividade térmica (λ) do material, maior será a quantidade de calor
transmitida entre a superfície, o que impactaria negativamente em um sistema com função de
isolante térmico. Em situações nas quais o material for homogêneo, podemos utilizar a equação
EQ9, que irá determinar a sua resistência térmica.
EQ9 - Resistência térmica - materiais homogêneos

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Em que:
R = Resistência térmica do material (m²K/W)
L = Espessura do material (m)
λ = Condutividade térmica do material (W/mK)

Entretanto, em materiais heterogêneos, aqueles que são compostos por mais de um tipo
de material, a resistência térmica total é calculada por meio da soma das resistências térmicas
de cada um dos elementos que os compõem. Essa somatória é representada pela equação EQ10:
EQ10 – Resistência térmica – materiais heterogêneos

Em que:
Rt = Resistência térmica do material (m²K/W)
Lx = Espessura do material “x” (m)
λx = Condutividade térmica do material “x” (W/mK)

9.1 Resistência Térmica Superficial


A resistência térmica superficial está relacionada às trocas térmicas por radiação e
convecção entre a superfície do material em questão e as características térmicas do meio que
o circunda. Essa resistência poderá ser subdividida em resistência superficial externa (Rse) e
resistência superficial interna (Rsi), e a tipologia a ser adotada será de acordo com a limitação do
material em relação ao meio interno ou externo.

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Como vimos, o sentido do fluxo sempre será da superfície mais quente para a mais fria;
dessa forma, supondo que a temperatura do meio exterior seja maior que a do meio interior, a
superfície externa, por meio da convecção e radiação, irá transmitir calor para o meio interno.
A Figura 15 apresenta os valores da resistência superficial de acordo com o sentido do fluxo de
calor.

Figura 15 - Resistência térmica superficial. Fonte: ABNT (2005c).

Ao analisarmos a Figura 15, podemos considerar o sentido do fluxo de calor na direção

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horizontal quando ele for aplicado para paredes e, quando o fluxo de calor for na direção vertical
(geralmente em coberturas), seu sentido irá depender do meio com a maior temperatura.
Com o objetivo de ilustrar as equações e fatores apresentados até agora, a Figura 16
apresenta a resolução de um sistema heterogêneo em que se deseja conhecer a resistência térmica
total de uma parede de tijolos maciços rebocada.

Figura 16 - Resistência térmica de uma parede de tijolos maciços. Fonte: Lamberts et al. (2014).

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Dessa maneira, a equação da resistência térmica total poderá ser compreendida como a
EQ11:

EQ11 - Resistência térmica total

Em que:
RT = Resistência térmica total (m²K/W)
Rse = Resistência superficial externa
Rsi = Resistência superficial interna
Lx = Espessura do material “x” (m)
λx = Condutividade térmica do material “x” (W/mK)

9.2 Resistência Térmica de Câmaras de Ar


Com o objetivo de reduzir as trocas térmicas em um fechamento opaco, devem-se

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empregar materiais de baixa condutividade térmica ou elaborar um sistema de fechamento
composto por múltiplas camadas, podendo uma delas ser composta somente por ar, material
esse com um baixo índice de condutividade térmica. A Tabela 5 apresenta a resistência térmica de
câmaras de ar não ventiladas. Sua leitura deverá ser feita da esquerda para a direita. O primeiro
passo é descobrir qual a emissividade da superfície da câmara de ar; posteriormente, deverá ser
estipulada a espessura da câmara de ar existente e, por fim, descobre-se o sentido do fluxo de
calor que transpassa o elemento.

Tabela 5 - Resistência térmica para câmaras de ar não ventiladas. Fonte: ABNT (2005c).

9.3 Transmitância Térmica


A transmitância térmica pode ser compreendida como o inverso da resistência térmica.
Ela é a variável mais importante para a avaliação do desempenho de um sistema de fechamento.
É por meio dela que podemos avaliar o comportamento térmico de um fechamento em relação à
transmissão de calor, observando a quantidade de calor que atravessa o fechamento. A equação
EQ12 define a transmitância térmica.

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EQ12 - Transmitância térmica

Em que:
U = Transmitância térmica
Rt = Resistência térmica total (m²K/W)

9.4 Densidade de Fluxo de Calor


Um dos principais objetivos ao se determinar um tipo de fechamento é prevenir as perdas
de calor em demasia no inverno e também evitar os ganhos excessivos de calor no verão. No
inverno, quando a temperatura interna é maior que a externa, podemos dizer que o fluxo de calor
é obtido pela equação EQ13.
EQ13 – Densidade do fluxo de calor

q = U x Δt

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Em que:
q = densidade de fluxo de calor (W/m²)
U = transmitância térmica (W/m²K)
Δt = diferença de temperaturas interna e externa (K)

9.5 Temperatura Sol-Ar


Em um momento em que haja incidência solar direta no fechamento, pode haver o
crescimento da temperatura da superfície externa. Nesse caso, para compensar tal acréscimo,
acrescenta-se à equação de fluxo de calor a temperatura sol-ar (τ sol-ar), que está relacionada à
quantidade de radiação solar que a superfície recebe de acordo com sua cor conforme demostra
a equação EQ14.
EQ14 – Densidade do fluxo de calor

Em que:
α = absortividade da superfície externa do fechamento
I = radiação solar (W/m²)
Rse = Resistência superficial externa (m²K/W)
A radiação solar é função da orientação do fechamento, da latitude do local, do dia do
ano e da hora do dia. Ela é obtida a partir do ano climático de referência (TRY), disponível no
site do INMET.

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9.6 Fluxo de Calor


Por fim, após obtida a densidade do fluxo de calor (q) de um material ou fechamento,
podemos calcular a quantidade e intensidade do fluxo de calor (Q) que penetra o ambiente
interno, em watts, de acordo com a área desse mesmo material ou fechamento. Essa relação é
demonstrada por meio da equação EQ15:
EQ15 – Fluxo de calor

Q=qxA

Em que:
q = densidade do fluxo de calor (W/m²)
A = área do fechamento em questão (m²).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conhecemos, nesta unidade, os conceitos, variáveis, parâmetros e métodos de análise


para a realização de ensaios que comprovam o estado de conforto térmico para o usuário. Por
meio de softwares e instrumentos de análise, pudemos atestar a qualidade de conforto de um
determinado espaço. A conciliação de instrumentos, softwares e métodos de análise assegura
a confiabilidade de constatação de um processo tido como incerto uma vez que ele apresenta
inúmeras variáveis.
Com base nesta unidade, compreendemos os princípios básicos acerca da questão
do conforto térmico. A partir das definições dos fatores e variáveis, é possível avaliarmos e
quantificarmos de maneira qualitativa a sensação do conforto térmico. É fundamental ressaltarmos
que, para a elaboração correta de uma proposta de projeto, a análise do clima e das solicitações do
usuário é de extrema importância.
Com base nas normas e equações pertinentes ao assunto, foi possível compreendermos
a relação entre as propriedades físicas dos materiais e as diretrizes básicas do conforto térmico.
Cabe agora a você, graduando(a), o papel de conscientizar o usuário e qualificar o espaço de

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maneira que ele atenda às necessidades físicas e técnicas de acordo com a função do espaço.

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02
DISCIPLINA:
CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL

ILUMINAÇÃO NATURAL E ARTIFICIAL


PROF. ME. BRUNO EDUARDO MAZETTO DOMINGOS

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO..............................................................................................................................................................28
1. CONCEITOS BÁSICOS DE ILUMINAÇÃO E EXIGÊNCIAS HUMANAS DA VISÃO...............................................29
1.1 CARACTERÍSTICAS DAS LÂMPADAS..................................................................................................................32
2. A LUZ NATURAL ....................................................................................................................................................34
2.1 FUNDAMENTOS DO PROJETO DE ILUMINAÇÃO ..............................................................................................35
2.2 ESTRATÉGIAS DE ILUMINAÇÃO NATURAL.......................................................................................................37
3. ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL.....................................................................................................................................42
3.1 SISTEMAS DE ILUMINAÇÃO................................................................................................................................42
3.2 TIPOS DE LÂMPADAS..........................................................................................................................................43
4. CÁLCULO LUMINOTÉCNICO................................................................................................................................ 48
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................................................................53

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INTRODUÇÃO

Conforto luminotécnico é o resultado em termos de quantidade, qualidade da luz e sua


distribuição em determinados ambientes. Um ambiente provido de luz natural e/ou artificial
produz estímulos ambientais. Ou seja, dependendo da iluminação, é possível alcançar certos
resultados em termos de quantidade, qualidade da luz e sua distribuição, contrastes etc.
Para estudar conforto luminotécnico e elaborar projetos adequados, temos de ter em
mente que, quanto menor for o esforço de adaptação do indivíduo, maior será sua sensação de
conforto. Para a iluminação, tanto natural quanto artificial, a função do ambiente é o primeiro e
mais importante parâmetro para a definição de um projeto. Ela irá determinar o tipo de luz de
que o ambiente precisa.
O primeiro objetivo da iluminação é a obtenção de boas condições de visão, associadas
à visibilidade, segurança e orientação dentro de um determinado ambiente. Esse objetivo está
intimamente associado às atividades laborativas e produtivas que variam conforme o cômodo:
para escritório, escolas, bibliotecas, bancos, indústrias etc.

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O segundo objetivo da iluminação é a utilização da luz como principal instrumento de
ambientação do espaço. Com a iluminação, temos a criação de efeitos especiais com a própria
luz ou podemos dar destaque para objetos, superfícies ou para o próprio espaço. Esse objetivo
está intimamente associado às atividades não laborativas, não produtivas, de lazer, de bem-estar
e religiosas, o que ocorre em residências, restaurantes, museus e galerias, igrejas etc.
Para um projeto de construção civil, a iluminação é um aspecto muito importante a ser
considerado. É relativamente fácil adaptar um edifício para atender às necessidades de conforto
visual com a iluminação artificial. Todavia, as soluções fazem aumentar os gastos com energia
elétrica, manutenção e, muitas vezes, são mais um adendo ao projeto do que uma solução
integrada com outras características e conceitos de conforto.
Em suma: é importante considerar e planejar a iluminação artificial sim, mas o grande
diferencial está no bom uso da iluminação natural, nos elementos, tais como a forma do edifício,
as cores, a orientação, a distribuição espacial e outras características que ficam com o projeto
desde o início.

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1. CONCEITOS BÁSICOS DE ILUMINAÇÃO E EXIGÊNCIAS HUMANAS DA


VISÃO

Para começo de conversa, temos de tratar das exigências básicas da visão humana. Do
ponto de vista fisiológico, para desenvolvermos determinadas atividades visuais, nosso olho
necessita de condições específicas, que dependem muito das atividades que o usuário realiza. Por
exemplo:

• Para ler e escrever, é necessária uma certa quantidade de luz no plano de trabalho.
• Para desenhar ou desenvolver atividades visuais de maior precisão visual (atividades mais
“finas” e com maior quantidade de detalhes), necessita-se de mais luz.
Mas quantidade de luz não é o único requisito necessário. Para essas atividades, a boa
distribuição de luz no ambiente e a ausência de contrastes excessivos (como a incidência direta
do Sol no plano de trabalho e reflexos indesejáveis) também são fatores essenciais.

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As grandezas e os conceitos a seguir relacionados são fundamentais para o entendimento
dos elementos da luminotécnica e foram retirados do manual básico de luminotécnica - indicação
de leitura já a seguir, que vale muito a pena para você! As definições do manual apresentadas aqui
foram extraídas do dicionário brasileiro de eletricidade e reproduzidas das normas técnicas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

É interessante a leitura do Manual Luminotécnico Prático para


aprimorar seus conhecimentos acerca do tema. Acesse-o pelo link
<https://www.iar.unicamp.br/lab/luz/ld/Livros/ManualOsram.pdf>.

Primeiro, vale a pena vermos algo sobre as grandezas.


Uma fonte de radiação emite ondas eletromagnéticas com diferentes comprimentos,
sendo que o olho humano é sensível a somente alguns. Luz é, portanto, a radiação eletromagnética
capaz de produzir uma sensação visual. A sensibilidade visual para a luz varia de acordo com o
comprimento de onda da radiação e também com a luminosidade. A curva de sensibilidade do
olho humano demonstra que radiações de menor comprimento de onda (violeta e azul) geram
maior intensidade de sensação luminosa quando há pouca luz (por exemplo, crepúsculo, noite
etc.) enquanto que as radiações de maior comprimento de onda (alaranjado e vermelho) se
comportam de forma contrária. Esse fenômeno se denomina efeito Purkinje. Fluxo luminoso é a
radiação total da fonte luminosa entre os limites de comprimento de onda mencionados (380 e
780 nanômetros – nm).
Se a fonte luminosa irradiasse a luz uniformemente em todas as direções, o fluxo luminoso
se distribuiria na forma de uma esfera. Tal fato, porém, é quase impossível de acontecer, razão
pela qual é necessário medir o valor dos lúmens - unidade de medida do fluxo luminoso (lm) -
emitidos em cada direção.

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Essa direção é representada por vetores, cujo comprimento indica a intensidade


luminosa. Portanto, é o fluxo luminoso irradiado na direção de um determinado ponto. Se, num
plano transversal à lâmpada, todos os vetores que dela se originam tiverem suas extremidades
ligadas por um traço, obtém-se a Curva de Distribuição Luminosa (CDL). Em outras palavras: é a
representação da intensidade luminosa em todos os ângulos em que ela é direcionada num plano.
Para a uniformização dos valores das curvas, geralmente elas são referidas a 1000 lm.
Nesse caso, é necessário multiplicar-se o valor encontrado na CDL pelo fluxo luminoso
da lâmpada em questão e dividir o resultado por 1000 lm. A luz que uma lâmpada irradia,
relacionada à superfície sobre a qual incide, define uma nova grandeza luminotécnica, denominada
iluminamento ou iluminância.
Como o fluxo luminoso não é distribuído uniformemente, a iluminância não será a
mesma em todos os pontos da área em questão. Considera-se, por isso, a Iluminância Média
(Em). Existem normas que especificam o valor mínimo de “Em” para ambientes diferenciados
pela atividade exercida.

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Figura 1 – Intensidade luminosa (1), iluminância (2) e curva de distribuição de intensidades luminosas no plano
transversal e longitudinal para uma lâmpada fluorescente isolada (A) ou associada a um refletor (B) (3). Fonte:
OSRAM (2000).

Intensidade luminosa (cd) expressa em candelas é a intensidade do fluxo luminoso de


uma fonte de luz com refletor ou de uma luminária, projetado em uma determinada direção.
Uma candela é a intensidade luminosa de uma fonte pontual, que emite um fluxo luminoso de
um lúmen em um ângulo sólido de um esferoradiano.
Iluminância (E) expressa em lux (lx) indica o fluxo luminoso de uma fonte de luz,
que incide sobre uma superfície situada a uma certa distância dessa fonte. É a relação entre
intensidade luminosa e o quadrado da distância(l/d²). Na prática, é a quantidade de luz dentro
de um ambiente e pode ser medida com o auxílio de um luxímetro. Para obter conforto visual,
considerando a atividade que se realiza, são necessários certos níveis médios de iluminância, os
quais são recomendados por normas técnicas (ABNT – NBR 5523).
Curva de distribuição luminosa pode ser compreendida como um gráfico que expressa a
intensidade luminosa de um ponto de luz, em um determinado plano, para todas as direções. Ou
seja, é como a distribuição espacial da intensidade luminosa de uma lâmpada refletora ou de uma
luminária é distribuída em uma superfície conforme a Figura 2.

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Figura 2 – Curva de distribuição de intensidades luminosas no plano transversal de uma lâmpada incandescente.
Fonte: OSRAM (2000).

É conhecida como curva de distribuição luminosa, apresentada em coordenadas polares


(cd/1000 lm) para diferentes planos. São essas curvas que indicam se a lâmpada ou luminária tem
uma distribuição de luz concentrada, difusa, simétrica, assimétrica etc. de luz com refletor ou de
uma luminária, projetado em uma determinada direção.
Das grandezas mencionadas, nenhuma é visível, isto é, os raios de luz não são vistos,
a menos que sejam refletidos em uma superfície e aí transmitam a sensação de claridade aos
olhos. Essa sensação de claridade é chamada de luminância (Figura 3). Em outras palavras, é a
intensidade luminosa que emana de uma superfície pela sua superfície aparente. A equação que
permite sua determinação é:

Como é difícil medir-se a intensidade luminosa que provém de um corpo não radiante
(através de reflexão), pode-se recorrer à outra fórmula, a saber:

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Como os objetos refletem a luz diferentemente uns dos outros, fica explicado por que a
mesma iluminância pode dar origem a luminâncias diferentes. Vale lembrar que o coeficiente
de reflexão é a relação entre o fluxo luminoso refletido e o fluxo luminoso incidente em uma
superfície. Esse coeficiente é geralmente dado em tabelas, cujos valores são função das cores e
dos materiais utilizados.

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Figura 3 – Iluminância: luz incidente não é visível. Fonte: OSRAM (2000).

1.1 Características das Lâmpadas


As lâmpadas se diferenciam entre si não só pelos diferentes fluxos luminosos que elas
irradiam, mas também pelas diferentes potências que consomem. Para poder compará-las, é
necessário que se saibam quantos lúmens são gerados por Watt absorvido. A essa grandeza, dá-se
o nome de eficiência energética (antigo “rendimento luminoso”). Em aspecto visual, admite-se
que é bastante difícil a avaliação comparativa entre a sensação de tonalidade de cor de diversas
lâmpadas. Para estipular um parâmetro, foi definido o critério temperatura de cor (Kelvin)
para classificar a luz. Assim como um corpo metálico que, em seu aquecimento, passa desde o
vermelho até o branco, quanto mais claro o branco (semelhante à luz diurna ao meio-dia), maior
é a temperatura de cor (aproximadamente, 6500 K). A luz amarelada, como de uma lâmpada
incandescente, está em torno de 2700 K. É importante destacar que a cor da luz em nada interfere
na eficiência energética da lâmpada, não sendo válida a impressão de que quanto mais clara, mais
potente é a lâmpada.

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Objetos iluminados podem parecer diferentes a nós mesmo se as fontes de luz tiverem
idêntica tonalidade. As variações de cor dos objetos iluminados sob fontes de luz diferentes
podem ser identificadas a partir de um outro conceito – reprodução de cores – e de sua escala
qualitativa Índice de Reprodução de Cores (Ra ou IRC). O mesmo metal sólido, quando aquecido
até irradiar luz, foi utilizado como referência para se estabelecerem níveis de reprodução de cor.
Define-se que o IRC nesse caso seria um número ideal = 100. Sua função é como dar uma nota
(de 1 a 100) para o desempenho de outras fontes de luz em relação a esse padrão. Portanto, quanto
maior a diferença na aparência de cor do objeto iluminado em relação ao padrão (sob a radiação
do metal sólido), menor é seu IRC. Isso explica o fato de lâmpadas de mesma temperatura de cor
possuírem diferentes Índices de Reprodução de Cores.
Temperatura de cor (K), ou aparência de cor da luz, é a grandeza que expressa a aparência
de cor da luz, sendo Kelvin (K) a sua unidade. Quanto mais alta a temperatura de cor, mais
branca é a cor da luz.
Eficiência energética (lm/W) é a relação entre o fluxo luminoso e a potência consumida,
ou seja, quantos lúmens são gerados para cada Watt de energia consumido. Em regra, quanto
maior for a quantidade de lúmens produzidos pela menor quantidade de Watts consumidos, mais
econômica a lâmpada será. Sendo assim, com 1 Watt de consumo: uma lâmpada incandescente
standard clara produz de 10 a 15 lm/W; uma fluorescente compacta DULUX, de 50 a 80 lm/W; e

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 2


uma vapor de sódio NAV, de 80 a 140 lm/W.
Índice de reprodução de cor (Ra / IRC) é a medida de correspondência entre a cor das
superfícies e sua aparência sob uma fonte de referência. Para determinar os valores do RA/IRC
das fontes de luz, são definidas oito cores de teste, que predominam no meio ambiente. Elas são
iluminadas com a fonte de luz de referência (com IRC de 100%) e a fonte de luz a ser testada.
Quanto menor ou maior for o desvio de rendimento da cor iluminada e testada, melhores ou
piores serão as propriedades de rendimento de cor da fonte de luz. Uma fonte de luz com Ra
de 100% faz com que todas as cores sejam apresentadas perfeitamente, como se estivessem sob
a fonte de luz de referência. Quanto menor for o valor do Ra, pior será o rendimento de cores
da superfície iluminada. Exemplos: lâmpadas halógenas têm um índice de reprodução de cor
RA>99, portanto, oferecem as propriedades ideais de rendimento de cor.

Figura 4 - Espectro luminoso de diferentes fontes de luz. Fonte: Lumicenter Lighting (2020).

O LED possui uma reprodução de cores muito melhor do que lâmpadas fluorescentes,
mesmo com um IRC igual. Isso porque ele possui um espectro de cores contínuo com bons índices
de reprodução, mais parecido com a luz do Sol, e outras vantagens em termos de qualidade de
luz.

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2. A LUZ NATURAL

A luz natural está disponível na maior parte das horas do dia. Contudo, não é explorada
pela maioria dos projetos, geralmente por falta de conteúdo em relação a essas estratégias e
conceitos necessários ao bom projeto de iluminação e conforto visual (LAMBERTS et al., 2014).
Em um projeto de iluminação, é importante que haja integração com as necessidades
térmicas e acústicas do edifício visto que a luz natural penetra nos ambientes internos pelas
aberturas, as quais também permitem a entrada de calor, vento, cheiros, sons e ruídos indesejáveis.
Os autores citam o exemplo da janela, que,

[...] além da luz natural, do calor solar (radiação), da ventilação natural e de


ruídos indesejáveis externos, também faz o contato visual e olfativo do usuário
com o exterior, tornando-se um elemento essencial no desempenho combinado
de todos estes aspectos (LAMBERTS et al., 2014, p. 151).

Assim, a iluminação natural deve ser planejada de acordo com as respostas desejadas
para cada ambiente.

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 2


As fontes de luz natural são o Sol, o céu e as superfícies edificadas ou não, que fornecem
luz direta, luz difusa e luz refletida ou indireta, respectivamente. É necessário que se conheçam
os três tipos básicos de céu: claro, parcialmente encoberto e encoberto. Esses três tipos traduzem
as possíveis variações de luz diurna para se poder avaliar a iluminação natural em um ambiente.
O céu encoberto ou nublado é usado, na maioria das vezes, para o cálculo de iluminação
natural, pois representa a pior condição em termos de quantidade de luz. A aplicação mais
prática do céu encoberto é chamada de Fator de Luz Diurna (FLD), conceito que deu origem
à Contribuição da Iluminação Natural (CIN) conforme a norma brasileira NBR 15.215-3:2005.

Figura 5 – Os três principais tipos de céu: claro, parcialmente encoberto e encoberto. Fonte: Lamberts et al. (2014).

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Agora que sabemos os conceitos básicos sobre iluminação, vejamos como aplicar isso em
nossos projetos.

2.1 Fundamentos do Projeto de Iluminação


Para o planejamento de um sistema de iluminação, podemos seguir os passos:

• Escolha da lâmpada e da luminária mais adequadas.


• Cálculo da quantidade de luminárias.
• Disposição das luminárias no cômodo.
• Cálculo de viabilidade econômica.
Para desenvolver um projeto, é necessário que se siga uma metodologia, e a OSRAM
(2000) recomenda as seguintes etapas:

1) Determinação dos objetivos da iluminação e dos efeitos que se pretende alcançar.

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 2


2) Levantamento das dimensões físicas do local, layout, materiais utilizados e características
da rede elétrica do local.

3) Análise dos fatores de influência na qualidade da iluminação.

4) Cálculo da iluminação geral (método das eficiências).

5) Adequação dos resultados ao projeto.

6) Cálculo de controle.

7) Definição dos pontos de iluminação.

8) Cálculo de iluminação dirigida.

9) Avaliação do consumo energético.

10) Avaliação de custos.

11) Cálculo de rentabilidade.

Para esse trabalho, é importante conhecermos sobre a tonalidade de cor da luz e a


reprodução de cores.
Um dos requisitos para o conforto visual é a utilização da iluminação para dar o aspecto
desejado ao ambiente. Sensações de aconchego ou estímulo podem ser provocadas quando se
combinam a correta tonalidade de cor da fonte de luz ao nível de iluminância pretendido. Veja
na Figura 6.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 2


Figura 6 – Relação de conforto ambiental entre nível de iluminância e tonalidade de cor da lâmpada. Fonte: OSRAM
(2000).

Estudos subjetivos afirmam que para Iluminâncias mais elevadas são requeridas
lâmpadas de Temperatura de Cor mais elevada também. Chegou-se a esta
conclusão baseando-se na própria natureza, que ao reduzir a luminosidade
(crepúsculo), reduz também sua Temperatura de Cor. A ilusão de que a
Tonalidade de Cor mais clara ilumina mais, leva ao equívoco de que com as
‘lâmpadas frias’ precisa-se de menos luz (OSRAM, 2000, p. 8).

Sobre a reprodução das cores, sabe-se que a cor de um objeto é determinada pela reflexão
de parte do espectro de luz que incide sobre ele. Isso significa que uma boa reprodução de
cores está diretamente ligada à qualidade da luz incidente, ou seja, à equilibrada distribuição
das ondas constituintes do seu espectro. É importante notar que, assim como para iluminância
média, existem normas que regulamentam o uso de fontes de luz com determinados índices,
dependendo da atividade a ser desempenhada no local.

Figura 7 - Índice de reprodução de cores e exemplos de aplicação. Fonte: OSRAM (2000).

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2.2 Estratégias de Iluminação Natural


Dentro do projeto de iluminação, vale muito a pena trabalhar com a iluminação natural.
Por isso, vamos aprender algumas estratégias de iluminação natural: pátios e átrios, prateleiras
de luz, cores, distribuição e posicionamento de janelas, orientação de iluminação lateral e zenital.
A forma do edifício é o que determina as combinações de janelas e aberturas, além do
quanto da área de piso terá acesso à luz natural. O comum é que, em edifícios com diversos
pavimentos, a luz natural ilumine uma distância de 5 metros, e o que estiver além desse limite
será parcialmente iluminado. Na Figura 8, todas as plantas têm a mesma área construída, mas
veja como há diferentes possibilidades de iluminação (total, parcial e sem iluminação natural)
(LAMBERTS et al., 2014).

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Figura 8 - Iluminação natural em função da geometria em planta. Fonte: Lamberts et al. (2014).

A quantidade de luz disponível na base do átrio depende de uma série de fatores, como a
cobertura e sua transparência, as paredes internas e a refletância e geometria do espaço, ou seja,
largura e profundidade. O átrio pode ser conceituado como “[...] o espaço luminoso interno
envolvido lateralmente pelas paredes da edificação e coberto com materiais transparentes ou
translúcidos que admitem luz a ambientes internos da edificação ligados ao átrio por componentes
de passagem” (LAMBERTS et al., 2014, p. 155).
É por meio de maquetes ou simulação que se sabe a quantidade de luz que pode entrar
num átrio.
Um átrio muito pequeno para ser um espaço útil chama-se poço de luz, e os autores o
conceituam como “[...] o espaço luminoso interno que conduz a luz natural para porções internas
da edificação” (LAMBERTS et al., 2014). As superfícies internas de um poço de luz apresentam
acabamento com cores claras, que permitem uma alta refletância.

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As prateleiras de luz são outra estratégia apresentada por Lamberts et al. (2014). Elas
previnem contra o ofuscamento quando colocadas acima do nível dos olhos, e a janela posicionada
abaixo da prateleira de luz fica usada para contato visual com o exterior. Uma prateleira de luz age
da mesma maneira que os brises horizontais para essa janela, e podem-se usar persianas ou outra
prateleira de luz no interior para o ofuscamento das janelas acima da prateleira de luz por onde
a luz penetra no ambiente. As prateleiras de luz são interessantes por melhorarem a qualidade
da luz natural, além de facilitarem a entrada da luz de forma mais profunda no ambiente. “Um
“macete” para fins de pré-dimensionamento da penetração da luz natural no interior é considerar
que ela será de 1,5 vezes a altura de uma janela padrão e de 2 vezes a altura de uma janela com
uma prateleira de luz” (LAMBERTS et al., 2014, p. 156).

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Figura 9 – Exemplos de prateleiras de luz e suas várias formas de aplicação para a reflexão da luz difusa. Fonte: Baker
e Steemers (2002).

Veja a aplicação das prateleiras de luz em uma casa acessando o


link <https://www.archdaily.com.br/br/771557/casa-contraponto-
paul-raff-studio-architects>.

Sobre as cores, os autores afirmam que as cores claras refletem melhor a luz para dentro
das construções. Telhados claros, da mesma forma, podem aumentar a luz que as claraboias
transmitem e, ainda, paredes exteriores e fachadas claras irão refletir melhor a luz para o interior.
Para exemplificar, veja a Figura 10.

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Figura 10 – Refletâncias ideais para superfícies interiores em função de seu posicionamento em relação à janela.
Fonte: Lamberts et al. (2014).

Agora que abordamos janelas, vamos discutir sobre sua distribuição e posicionamento.
Vamos continuar baseando-nos no trabalho de Lamberts et al. (2014), os quais afirmam que a
entrada da luz natural aumenta com a altura da janela e com a presença de prateleiras de luz.
A entrada útil de luz natural é limitada a uma distância de 1,5 vezes a altura da parte superior
da janela aproximadamente. Por isso, o teto deve ser posicionado mais alto para que as janelas
também possam ficar mais altas.
Também é interessante citar que janelas horizontais são capazes de distribuir a luz de
maneira mais uniforme do que janelas verticais. Ademais, janelas espalhadas são mais eficientes
para distribuir a luz do que janelas concentradas em uma pequena área de parede. O tamanho
da janela em relação ao piso, em porcentagem, deve ser de 20% no máximo devido à entrada do
calor do verão e às perdas de calor no inverno.

Figura 11 – Área da janela em função da área de piso. Fonte: Lamberts et al. (2014).

É muito válido posicionar as janelas de um ambiente em mais de uma parede para


favorecer a iluminação bilateral, que é muito melhor que a unilateral visto que a bilateral tem
uma distribuição melhor de luz, além de reduzir o ofuscamento. As janelas posicionadas em
paredes adjacentes são capazes de reduzir o ofuscamento, porque iluminam a parede em que a
outra janela está, e isso faz com que se reduza o contraste entre essa janela e sua própria parede.

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Para um projeto ter uma boa iluminação natural, além das janelas, a orientação conta
muito. A mais indicada é a norte devido à incidência mais frequente da luz solar. Apesar de essa
luz vir com o calor, é muito fácil sombrear as aberturas nesse caso.
A outra orientação é a sul, também devido à alta qualidade da luz, branca e fria, apesar
da quantidade de luz ser baixa. Essa orientação recebe menos luz solar direta, e isso traz menos
problemas de ofuscamento, além de ser fácil projetar proteções solares para o sul.
As orientações menos indicadas são, portanto, a leste e a oeste, porque elas recebem a luz
solar direta com maior intensidade no verão e com menor intensidade no inverno, o que dificulta
o projeto de proteção solar, pois se devem considerar ângulos muito baixos de altura solar.

Leia sobre a residência Cantareira acessando <https://www.


archdaily.com.br/br/01-10571/residencia-cantareira-coletivo-de-
arquitetos>.

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Segundo a norma NBR 15215-1 (ABNT, 2005b), a iluminação zenital é a porção de luz
natural produzida pela luz que penetra nos espaços internos por meio dos fechamentos superiores.
As duas principais vantagens da iluminação zenital são: a) iluminação mais uniforme do que a
obtida com janelas; e b) mais luz natural é recebida ao longo do dia pelo ambiente. A principal
desvantagem é o desafio de proteger essas aberturas contra radiação solar indesejável; por isso,
recomenda-se o uso da iluminação zenital por intermédio de vidros posicionados verticalmente.

Figura 12 – Tipos de iluminação zenital. Fonte: Lamberts et al. (2014).

Da Figura 12, destacamos os domos, que são fontes de iluminação zenital, construídas
em aberturas envidraçadas no telhado. Porém, os domos têm o problema da maior incidência
de luz e calor no verão e dessa menor incidência no inverno devido à geometria solar. Por isso,
as claraboias, também presentes na Figura 12, devem ser utilizadas em detrimento dos domos
sempre que possível. A função de ambos é a mesma, mas as claraboias são mais facilmente
sombreadas e permitem uma distribuição mais homogênea da luz durante o ano já que podem
ser orientadas para aproveitar melhor a luz no inverno e evitar a alta incidência no verão. As
orientações para as claraboias são as mesmas que para as janelas: orientação sul e norte, evitando
leste e oeste.

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Mais uma vantagem das claraboias é a de levar luz difusa para o ambiente visto que a
luz solar ou do céu pode ser refletida em alguma superfície interna antes de entrar. A principal
desvantagem é que se enxerga menos céu do que com os domos e, consequentemente, coleta-se
menos luz.
Os poços de luz são muito eficientes para a iluminação natural em ambientes que não
possuem contato direto com o exterior, porém, a eficiência diminui conforme aumenta a razão
entre a sua profundidade e sua largura. Além disso, conforme citado, as paredes devem ser claras
ou até mesmo espelhadas, se possível.
Já que tratamos de espelhos, mais uma técnica muito inteligente é a iluminação natural
direcionada com espelhos, em que se cria um sistema de espelhos que, manual ou até mesmo
automaticamente, se posicionam melhor para capturar a luz solar e enviá-la para o interior do
edifício, onde ela pode ser espalhada.
Agora, se o projeto pretende ter máxima eficiência, vale a pena utilizar as fibras óticas,
que, ao contrário dos sistemas que usam superfícies refletoras pra conduzir a luz ao interior,
usam uma técnica de reflexão total interna muito eficiente. Uma das principais vantagens é a
flexibilidade, pois é possível transmitir a luz por meio de cantos e dobras estruturais, e as fibras
óticas podem ser utilizadas também com sistemas de iluminação artificial.

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Saiba o que é a iluminação por fibra ótica e onde usá-la. Para
tanto, assista ao vídeo disponível em <https://www.youtube.com/
watch?v=3mE5ipvdSIs>.

Os pisos transparentes são usados desde o século XIX e servem para transmitir a luz
natural para ambientes inferiores, como no subsolo ou em edifícios de vários pavimentos para
levar a luz de um piso ao outro.

Leia mais sobre a iluminação natural em <http://www.


dicadaarquiteta.com.br/2015/02/iluminacao-natural.html>.

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3. ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL

3.1 Sistemas de Iluminação


Muitos profissionais cometem um erro primário num projeto luminotécnico, partindo
inicialmente da definição de lâmpadas e/ou luminárias.
O primeiro passo de um projeto luminotécnico é definir o(s) sistema(s) de iluminação,
respondendo basicamente a três perguntas:

1ª. Como a luz deverá ser distribuída pelo ambiente?

2ª. Como a luminária irá distribuir a luz?

3ª. Qual é a ambientação que queremos dar, com a luz, a este espaço?

Para respondermos à primeira pergunta, classificamos os sistemas de acordo com a

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forma como as luminárias são distribuídas pelo ambiente e com os efeitos produzidos no plano
de trabalho.
Essa classificação também é conhecida como sistema principal. Nela, os sistemas de
iluminação proporcionam:

a) Iluminação geral: distribuição aproximadamente regular das luminárias pelo teto;


iluminação horizontal de um certo nível médio; uniformidade.

- Vantagens: uma maior flexibilidade na disposição interna do ambiente - layout.

- Desvantagens: baixo nível de iluminação, grande consumo de energia, possibilidade de


ofuscamento

Este é o sistema que se emprega mais frequentemente em grandes escritórios, oficinas,


salas de aula, fábricas, supermercados, grandes magazines etc.

Figura 13 – Iluminação geral. Fonte: Freshome (2018).

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b) Iluminação localizada: concentra-se a luminária em locais de principal interesse. Esse


tipo de iluminação é útil para áreas restritas de trabalho em fábrica.
As luminárias devem ser instaladas suficientemente altas para cobrir as superfícies
adjacentes, possibilitando altos níveis de iluminância sobre o plano de trabalho, ao mesmo tempo
em que asseguram uma iluminação geral suficiente para eliminar fortes contrastes.

- Vantagens: maior economia de energia e podem ser posicionadas de tal forma a evitar
ofuscamentos, sombras indesejáveis e reflexões.

- Desvantagens: em caso de mudança de layout, as luminárias devem ser reposicionadas.

3.2 Tipos de Lâmpadas


As lâmpadas são divididas em dois tipos básicos:

• Incandescentes – com irradiação por efeito térmico.


• Descarga em gases e valores - são as fluorescentes, vapor de mercúrio, de sódio etc.

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As lâmpadas incandescentes são as mais comuns, possuem vida útil curta, mas custo
inicial baixo. O funcionamento delas é a partir da elevação da temperatura de um filamento
submetido à corrente elétrica.

- Vantagens: tamanho reduzido, funcionamento imediato e desnecessidade de aparelhagem


auxiliar.

- Desvantagens: eficiência luminosa baixa, dissipação de calor e desperdício de energia,


ofuscamento.

Há três tipos de lâmpadas incandescentes: as comuns, as refletoras/espelhadas e as


halógenas. As comuns são as mais conhecidas e mais antigas, possuem o custo inicial bem baixo
e o custo global alto. A alta temperatura do filamento causa evaporação do tungstênio, que se
deposita no bulbo e o escurece, o que faz com que o fluxo luminoso diminua e, assim, a lâmpada
tem uma duração muito curta.
As lâmpadas espelhadas possuem refletor interno para melhorar o direcionamento da luz
e, assim, a área espelhada funciona como uma luminária, que redireciona a luz para melhorar a
eficiência da instalação.
As lâmpadas halógenas possuem, além dos gases presentes nas outras, um halogênio,
geralmente o iodo, dentro do bulbo. Por ação do halogênio, o fluxo luminoso dura mais, a
eficiência é maior, e a vida útil também. A desvantagem é que elas necessitam de transformadores
para uso da rede elétrica.

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Assista à matéria Acaba a venda de lâmpadas incandescentes, no


link <https://www.youtube.com/watch?v=AHB3jR-Ix7o>.

As lâmpadas de descarga gasosa são as fluorescentes comuns, as compactas e as lâmpadas


de vapor de mercúrio. Não existe um filamento nessas lâmpadas, pois a luz é produzida pela
excitação de um gás presente entre dois eletrodos conforme a energia elétrica atua. Esse agito
produz radiação ultravioleta, que é transformada em luz ao atingir as paredes internas do bulbo,
que estão revestidas por alguma substância fluorescente, como cristais de fósforo. Essas lâmpadas
necessitam de dispositivos auxiliares, como reatores e iniciadores (starters). A forma dessas
lâmpadas é tubular, com um eletrodo em cada ponta e vapor de mercúrio em baixa pressão. O
reator fornece alta voltagem inicial para começar a descarga e limita a corrente para manter a

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energia com segurança. O starter proporciona a tensão necessária para ocorrer a descarga inicial
do gás.

Em geral, as lâmpadas fluorescentes possuem boa eficiência luminosa e vida


média alta (6 mil a 9 mil horas). O fato de apresentarem baixa luminância é
vantajoso, pois reduz a possibilidade de ofuscamento. A fluorescente T8 é mais
eficiente por ter menor diâmetro, menor potência e fluxo luminoso equivalente
ao da fluorescente comum (tipo T12) de 40w, sendo boa alternativa para
edificações comerciais. Ainda mais eficientes, as novas lâmpadas fluorescentes
do tipo T5, cuja potência é da ordem de 28w, apresentam consumo energético
da ordem de apenas 70% da T12 para a mesma luminosidade. A vida útil da T5
é o dobro das anteriores, podendo chegar a 16.000 horas (LAMBERTS et al.,
2014, p. 236).

Atualmente, temos mais um tipo de fluorescente, que é a compacta, que substitui


muito bem as lâmpadas incandescentes. Os reatores e starters são incorporados ao invólucro
compacto junto com o pequeno bulbo fluorescente. Podemos encontrar dos quatro seguintes
tipos no mercado, sendo os três primeiros com reator e starter incorporados: a) forma circular
com diâmetro padrão; b) forma compacta com dois ou mais tubos paralelos interconectados; c)
forma compacta com invólucro adicional; e d) forma compacta com dois ou mais tubos paralelos,
interconectados sem dispositivos de partida incorporados.
As lâmpadas fluorescentes compactas com reatores eletrônicos são mais eficientes e
apresentam um fator de potência mais elevado.

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Figura 14 – Tipos de lâmpadas fluorescentes compactas. Fonte: Lamberts et al. (2014).

Para grandes áreas internas (como depósitos e armazéns) ou grandes áreas externas,
indica-se o uso de lâmpadas a vapor de mercúrio, pois apresentam boa eficiência luminosa e
luz branca-azulada. Essas lâmpadas funcionam de maneira similar à das fluorescentes e exigem
aparelhagem auxiliar. O vapor de mercúrio fica submetido à alta pressão dentro de um tubo que
fica dentro do bulbo revestido com pó fluorescente para melhorar a qualidade cromática da luz
emitida.

Um tipo especial destas lâmpadas é conhecido como luz mista e consiste da


lâmpada de bulbo fluorescente com o tubo de descarga ligado em série com um
filamento de tungstênio. A radiação das duas fontes mistura-se harmoniosamente,
produzindo uma luz branca difusa de cor agradável. O filamento age como
reator, dispensando o emprego deste e permitindo que a lâmpada seja ligada
diretamente na rede. Isso facilita a modernização de instalações de lâmpadas
incandescentes por lâmpadas de luz mista, que têm o dobro de eficiência e são
cinco a seis vezes mais duráveis (LAMBERTS et al., 2012, p. 237).

As vantagens das lâmpadas de mercúrio são a duração, luminância média, volume


pequeno, boa eficiência luminosa e alta potência. As desvantagens são a pouca qualidade na
reprodução de cores, o alto custo inicial e a demora para acender.
Também existem as lâmpadas a vapor de sódio. Podem ser de baixa ou de alta pressão,
emitem uma radiação monocromática, geralmente amarela ou alaranjada, eficiência luminosa alta
e vida média longa. São ótimas para espaços externos que não necessitam de reprodução da cor.
O reconhecimento por contrastes é predominante, como em estradas, rodovias, estacionamentos,
dentre outros. Também precisam de aparelhagem auxiliar, o que aumenta seu custo inicial. Elas
demoram para atingir o fluxo luminoso máximo e duram bastante tempo (entre 6 mil e 9 mil
horas).

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Atualmente, temos lâmpadas mais modernas: lâmpada a micro-ondas, lâmpada endura


e a de led. A primeira contém uma mistura de gás argônio e enxofre. Essa mistura vira uma
espécie de plasma quando é submetida a micro-ondas (2,45 Ghz) e, assim, emite luz. A eficiência
luminosa alcança 110 lumens/watts, e a durabilidade é de até 10 mil horas. A luz emitida é de
alta qualidade, e o espectro é semelhante ao da luz do Sol; por isso, é indicada para iluminar ruas,
armazéns, fábricas, shoppings, mercados, teatros.
As lâmpadas endura são um tipo de lâmpada fluorescente de indução, que não utiliza
filamentos elétricos, os quais foram substituídos por bobinas eletromagnéticas, que excitam as
moléculas de mercúrio que viram vapor e geram os raios ultravioletas. Esses raios acendem a
lâmpada quando atravessam a camada fluorescente no bulbo tubular. Isso faz a lâmpada ter vida
útil de até 60 mil horas.
As lâmpadas de led têm sido muito utilizadas atualmente. Os leds são diodos emissores
de luz e, quando utilizados como lâmpadas, possuem alta vida útil e grande eficiência energética,
além do tamanho reduzido, grande variedades de cores, resistência alta a choques e vibrações,
luz dirigida e pouca dissipação de calor. Uma lâmpada de led pode durar até 100 mil horas e
consome apenas 1 w de energia.
Os leds substituíram as lâmpadas e podem ser utilizados em todos os lugares: iluminação
geral, sinalização de emergência, de escadas, degraus, assentos de cinemas e teatros, letreiros,

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fachos, iluminação de destaque e inúmeras outras aplicações. Os leds são tão interessantes, que é
possível até colocar temporizadores e controladores da luminosidade e da cor.

Você conhece as lâmpadas de led? No vídeo Como escolher


lâmpadas led, o colaborador Higor Pereira explicará tudo sobre
elas, seus benefícios e vantagens, como economia de luz e vida
útil maior. Veja o vídeo e entenda qual a lâmpada certa para o seu
ambiente. Há também lâmpada de led tubular, dicroica, dentre
outros modelos. Lembre-se sempre de considerar a potência, o
número de lumens e o tipo do soquete na hora de escolher a sua.

O link para acesso ao vídeo é o <https://www.youtube.com/watch?v=2CbM-


qDFmLo>.

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Para facilitar a escolha da lâmpada, veja a Figura 15.

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Figura 15 – Orientação para comparação e escolha de lâmpadas. Fonte: Lamberts et al. (2014).

Na Figura 16, seguem os dados para comparação.

Figura 16 – Dados para comparação e escolha de lâmpadas. Fonte: Lamberts et al. (2014).

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4. CÁLCULO LUMINOTÉCNICO

Para elaborarmos o projeto luminotécnico, temos de fazer a parte do cálculo


luminotécnico. Para iniciarmos o levantamento dos dados, usamos o método dos lumens. Para a
correta elaboração de um projeto luminotécnico, é essencial coletar os seguintes dados:

1 - Definir a quantidade de lux para a tarefa de acordo com a tipologia da atividade a ser
exercida no local – NBR 5413 (ABNT, 1992a).

2 - Calcular o K (índice do local) por meio das características físicas do local.

3 - Caracterizar os materiais de revestimento do local e descobrir o fator de utilização da


luminária.

4 – Determinar o fator de depreciação.

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5 - Calcular quantas lâmpadas serão necessárias para iluminar o recinto.

6 - Caracterizar a iluminação do local por meio da especificação das lâmpadas.

7 - Cálculo luminotécnico.

EXEMPLO:
Projetar o sistema de iluminação de um escritório com 5,50 m de comprimento, 6,20 m de
largura e 2,85 m de altura (pé direito), com mesas de 0,8 m de altura. Os observadores possuem
idade inferior a 40 anos, a velocidade e a precisão das luminárias são dispensáveis, e o fundo de
refletância é superior a 70%. As luminárias serão pendentes - Marca DELTA fechadas (Guarilux),
com duas lâmpadas fluorescentes T5 de 28 W cada. As luminárias estão instaladas a 2,35 m de
altura em relação ao piso. O teto está pintado de verde claro, as paredes, de creme, e o chão está
revestido com piso na cor verde escuro. O ambiente é considerado com manutenção média.
Inicialmente, devemos observar as características da tarefa e do observador. É necessário
fazer a somatória dos pesos para determinar a quantidade de iluminância necessária para o
ambiente a ser calculado. Para valores de somatória entre -3 e -2, devemos adotar o primeiro
número à esquerda da Tabela 1. Para valores entre -1, 0 e +1, devemos adotar os valores locados
ao meio. Para valores entre +2 e +3, devemos adotar os valores posicionados à direita da Tabela 1.

Tabela 1 – Características da tarefa e do observador. Fonte: ABNT (1992a).

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EXERCÍCIO 1 – Definir a quantidade de luz da tarefa - NBR 5413, Iluminância de


interiores (ABNT, 1992a).

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Quadro 1 – Iluminância de acordo com a classe de tarefa. Fonte: ABNT (1992a).

Nesse caso, de acordo com as características do ambiente, o valor de iluminância a ser


utilizado deverá ser de 500 LUX.

EXERCÍCIO 2 – Calcular o K (índice do local) por meio das características físicas do


local conforme a equação a seguir:
Luminária escolhida: Pendente DELTA - Guarilux, instalado a 2,35 m em relação ao piso.

Em que: C = comprimento do ambiente, l = largura do ambiente; h = altura útil do


ambiente.

h = (altura útil) = 2,35 m – 0,80 m = 1,55 m (Descontar o valor da altura da mesa)


K = (C x L) / [Pu x (C + L)]
K = (6,20 x 5,50) / [1,55 x (6,20 + 5,50)]
K = 1,88

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

EXERCÍCIO 3 – Determinar os valores dos coeficientes de reflexão e o índice de reflexão


de acordo com as cores dos planos do teto, paredes e piso.

ÍNDICE DE REFLEXÃO
Coeficiente de reflexão
VERDE CLARO (do teto) = 50%

Coeficiente de reflexão
CREME (da parede) = 80%

Coeficiente de reflexão
VERDE ESCURO (do piso) = 10%

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Tabela 2 – Índice de reflexão das cores. Fonte: ABNT (1992a).

Caracterizar os materiais de revestimento do local e descobrir o fator de utilização


da luminária por meio do cruzamento entre os valores obtidos do índice K e os valores dos
coeficientes de reflexão dos planos.

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Tabela 3 – Fator de utilização de acordo com o índice K. Fonte: ABNT (1992a).

K = 1,88
Coeficiente de reflexão do teto = 50%
Coeficiente de reflexão da parede= 80%
Coeficiente de reflexão do piso= 10%
Fator de utilização da luminária = 0,56 (os valores na Tabela 3 são dispostos em função
de %. Para a aplicação na fórmula, devemos multiplicar os valores por 0,01).

EXERCÍCIO 4 - Determinar o fator de depreciação.

Quadro 2 – Fator de depreciação de acordo com o tipo de luminária. Fonte: ABNT (1992a).

De acordo com o enunciado e o tipo da luminária a ser utilizada, o fator de depreciação


é = 0,88.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

EXERCÍCIO 5 - Calcular quantas lâmpadas serão necessárias para iluminar o recinto,


observando os valores do fluxo luminoso – Lm.

Tabela 4 – Informações técnicas - lâmpadas T5 Long Life. Fonte: ABNT (1992a).

EXERCÍCIO 6 - Caracterizar a iluminação do local por meio da especificação das


lâmpadas:

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 2


T5 61994 - F28T5/840/GE/SL: 28,00 W

Fluxo luminoso: 2900 lumens

Quantidade de lâmpadas = (E x S) / (φ x FU x FM)


Quantidade de lâmpadas = (500 x 34,10) / (2900 x 0,56 x 0,88)
Quantidade de lâmpadas = 11,93 à 12 unidades
Luminárias = 6 unidades.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para finalizar nossa unidade, é bom lembrar algumas dicas para se ter um bom projeto
luminotécnico:

• Conhecer as necessidades do cliente e do local.


• Cuidado com a escolha do tipo de sistema de iluminação.
• Não devemos começar um projeto luminotécnico sem conhecer a necessidade da
atividade ou do local do projeto.
• Pensar e elaborar a sensação que se espera passar em um projeto luminotécnico.
• Elaborar os cálculos corretamente para ter a solução mais adequada para cada tipo de
cômodo/ambiente/edifício.
• Distribuir proporcionalmente e de maneira homogênea para evitar áreas de sombreamento

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 2


ou ofuscamento.
• Escolher corretamente a lâmpada ou luminária a ser utilizada.
Atualmente, existem inúmeras opções de elementos que podem ser combinados com a
iluminação natural para melhorar sua utilização e deixar o ambiente mais confortável e bonito.
Existem muitas técnicas e combinações que, com o auxílio de tecnologias (como as do led),
podem trazer projetos luminotécnicos incríveis.

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

03
DISCIPLINA:
CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL

ACÚSTICA EXTERNA
PROF. ME. BRUNO EDUARDO MAZETTO DOMINGOS

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................. 55
1. CONCEITOS BÁSICOS DA ACÚSTICA....................................................................................................................57
1.1 O SOM....................................................................................................................................................................57
1.2 ONDAS SONORAS................................................................................................................................................ 58
1.3 FREQUÊNCIA SONORA....................................................................................................................................... 60
1.4 TIMBRE..................................................................................................................................................................61
1.5 AMPLITUDE E INTENSIDADE SONORA..............................................................................................................62
2. NÍVEL DE INTENSIDADE SONORA...................................................................................................................... 65
3. NÍVEL DE PRESSÃO SONORA...............................................................................................................................67
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................................................................70

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO

Iniciamos a Unidade 3 pela acústica externa e, na última unidade da nossa apostila, veremos
sobre a acústica interna. Basicamente, os dois projetos de acústica precisam de conhecimentos
básicos sobre som, onda sonora, frequência sonora, timbre, amplitude e intensidade sonora e
decibéis.
Também é importante estudarmos os níveis de intensidade sonora e os níveis de pressão
sonora. Para isso, apresentamos exemplos práticos, e você pode complementar seu estudo com as
Indicações de Leitura, Saiba Mais e Indicações de Vídeo presentes na unidade.
A acústica é importante para projetos, pois não é possível pensar em espaços
contemporâneos sem a preocupação com o conforto acústico ou com o isolamento do ambiente.
Inclusive, em projetos residenciais, é necessário abordar questões acústicas para que haja mais
qualidade de vida aos usuários. Com o crescimento da indústria acústica no Brasil, é possível
unir materiais acústicos e arquitetônicos de maneira funcional e criativa, pensando em espaços
usáveis integralmente. Devido às novas tecnologias e elementos, a acústica tornou-se um

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 3


diferencial de mercado, pois é importante atentar-se ao que oferecemos ao nosso cliente: se o
profissional consegue fazer mais com menos, se consegue ampliar as possibilidades do projeto
com orçamentos limitados, isso é um diferencial. Ainda mais se for possível evidenciar a relevância
do conforto acústico, o que irá demonstrar a qualidade do seu trabalho.
Dessa forma, nos dias de hoje, conforto e bem-estar são imprescindíveis em um projeto
e, por isso, temos de considerar a acústica como um elemento altamente relevante em qualquer
projeto, seja ele residencial, comercial ou corporativo. Com as tecnologias existentes, os resultados
são incríveis e criativos, sem aumentar os custos nem perder o apelo estético

Qual é o papel da acústica no trabalho dos principais escritórios de arquitetura? Em


fevereiro de 2018, reSITE e MAAT, em colaboração com a Meyer Sound, realizaram
o Resonate: Thinking Sound and Space, uma conferência focada exclusivamente
na relação entre arquitetura e som.

Os fundadores do Meyer Sound e o pioneiro da arte sonora, Bernhard Leitner,


conversaram com o reSITE e o Canal 180 no Museu MAAT, em Lisboa, Portugal.
No link a seguir, estão os 4 episódios da série, em que eles discutem o papel do
som na criação de espaços culturais e salas de concerto e a mudança do papel do
arquiteto em uma era de especializações.

O link de acesso é o <https://www.archdaily.com.br/


br/892309/4-visoes-sobre-por-que-a-acustica-e-essencial-
para-a-boa-arquitetura>.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

ABNT publica versão atualizada da norma de acústica para edificações

Após longo processo de estudos, debates, revisão e consultas públicas nacionais,


que teve início na década de 1990, a norma ABNT NBR 10152 Acústica - Níveis de
Pressão Sonora em Ambientes Internos e Edificações foi publicada na versão 2017,
no dia 24 de novembro, atualizada e aperfeiçoada.
Entre as novidades, a versão traz, em sua Tabela 3, novos valores de referência
para ambientes internos de uma edificação de acordo com o uso e apresenta
valores de referência em RLAeq, RLASmax e RLNC para 48 ambientes, distribuídos
em 10 diferentes categorias.

O processo de discussão e análise dos temas previstos teve a contribuição e


participação da presidência, diretoria técnica e representantes de empresas
associadas à ProAcústica (Associação Brasileira para a Qualidade Acústica).
Entre as principais evoluções dos requisitos da norma, estão as questões de

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 3


instrumentação e calibração, cujas normas passaram por duas importantes
atualizações entre 1987 e 2017.

Para os profissionais que já atuam com instrumentação de qualidade, a ABNT


NBR 10152 será apenas a confirmação de condições e requisitos para a execução
de um bom trabalho. Para novos profissionais que venham a iniciar os trabalhos
em acústica, essa 2ª edição apresenta notas explicativas ao longo dos capítulos,
além dos anexos informativos.
Com relação às interações com a Norma de Desempenho NBR
15575, a norma Acústica - Níveis de Pressão Sonora em Ambientes
Internos e Edificações vai além da aplicação em edifícios residenciais,
abrangendo empreendimentos comerciais, aeroportos, hospitais e
outras edificações.
A ABNT NBR 10152:2017 está disponível para aquisição no Catálogo
ABNT pelo link <http://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=382777>.

Fonte: BARATTO, R. In: Arch Daily. 2017. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/


br/885226/abnt-publica-versao-atualizada-da-norma-de-acustica-para-edificacoes. Acesso em:
22 out. 2020.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1. CONCEITOS BÁSICOS DA ACÚSTICA

Uma distinção bastante importante é entre isolamento acústico e tratamento acústico,


pois são duas áreas completamente independentes da acústica arquitetônica, com princípios
muito diferentes e necessidades específicas.
Andugar (2017) aponta que o isolamento acústico serve para tratar o aspecto quantitativo
do som em relação à privacidade acústica entre cada ambiente. Isso significa que o isolamento
acústico é responsável por resolver o quanto de som de um ambiente vai para as áreas ao seu
redor. O autor ressalta que esse tipo de solução caminha ao lado do projeto de engenharia civil
por se relacionar com os materiais empregados nas estruturas da edificação, desde as densidades
até às massas e formas de interação com os outros elementos da construção.
O tratamento acústico trabalha o aspecto qualitativo do som, pois controla a forma
com que o som interno se comporta no ambiente para os ouvintes. Dessa forma, o tratamento
acústico encontra-se diretamente relacionado ao formato ou layout do projeto, aos materiais de
acabamento e superfícies aparentes. O tratamento acústico é necessário em cômodos e ambientes
além dos que precisam de extremas necessidades técnicas, como estúdio, salas de TV ou de

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 3


audição de música e, atualmente, caminha junto com a decoração.
O conforto acústico deve ter, portanto, a mesma importância e dedicação de outros
elementos do projeto arquitetônico, como o luminotécnico, a ventilação e iluminação e a própria
decoração. Por exemplo, para que uma sala-de-estar seja aconchegante, é preciso que se possa
conversar confortavelmente, sem ecos; um dormitório relaxante deve propiciar paz e intimidade;
um restaurante deve proporcionar momentos de descontração, sem cansaço auditivo e com
privacidade entre as mesas; e até mesmo um banheiro pode ter música ambiente e o mínimo de
ecos e ressonâncias. São exemplos alcançáveis com noções básicas de conforto acústico.

Para evitar transtornos e imprevistos, há formas inteligentes de otimizar a


acústica envolvida em uma empreitada sem a necessidade de se elaborar um
projeto específico para isso. É possível prever como o ambiente se comportará
acusticamente baseando-se apenas na geometria das paredes, piso e teto,
no volume e no posicionamento dos móveis e elementos decorativos; e,
principalmente, na escolha dos materiais de acabamento (ANDUGAR, 2017, p.
1).

1.1 O Som
Conceito essencial para um conforto acústico bem-sucedido é a noção de que nem
sempre o profissional precisará usar produtos acústicos para controlar o som do ambiente. Ao se
conhecerem as propriedades acústicas de cada material (o que já é bastante aplicado), é possível
que se utilizem elementos já presentes no escopo de forma a atender à especificidade acústica de
cada projeto. Mas, antes de compreender de que forma os materiais se relacionam com o som,
vamos estudar sobre a natureza sonora, suas diferentes modalidades e alguns detalhes sobre o
som.
O som é fenômeno transmitido por vibrações propagadas no espaço em um meio elástico,
que pode ser sólido, líquido ou gasoso. É um fenômeno físico de ondas – vibrações – formadas
pela rarefação e compressão das moléculas no ar.
A velocidade de propagação da onda (C) é calculada com o comprimento de onda (λ) e
sua frequência de oscilação (f) de acordo com a seguinte fórmula:

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

C = velocidade de propagação da onda, medida em metros por segundo (m/s).


f = frequência da oscilação (Hz). É o número de pulsações de uma onda acústica senoidal,
medidas em hertz (Hz), que ocorrem em um intervalo de um segundo.
λ = comprimento de onda (m). É uma das características da onda sonora, além da
frequência (Hz) e da amplitude.

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 3


Figura 1 – Transmissão sonora entre paredes. Fonte: Souza, Almeida e Bragança (2006).

1.2 Ondas Sonoras


As ondas sonoras são vibrações que penetram no ouvido e produzem sensações auditivas.
Para os seres humanos, os sons percebidos são os que surgem com frequência entre 20 Hz até
20000 Hz. Sons com frequência abaixo de 20 Hz chamam-se infrassom e acima de 20000 Hz,
ultrassom.
As ondas sonoras são ondas mecânicas, ou seja, necessitam de um meio material para
se propagar, seja ele sólido, líquido ou gasoso. Também são longitudinais, o que significa que a
direção da propagação é a mesma da direção da vibração, e são tridimensionais, pois se espalham
em todas as direções.

Figura 2 – Ondas sonoras. Fonte: DiegPL (2018).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Não deixe de assistir ao vídeo Física – ondas e som: ondas


sonoras, disponível no link <https://www.youtube.com/watch?v=_
TIjaafWpyk>.

Pelo fato de a onda sonora se propagar em diversos meios, o valor da velocidade do


som depende do meio material em que se propaga. Nos sólidos, a velocidade é maior, e nos
gasosos, menor. A velocidade do som também varia conforme a temperatura do meio de forma
que quanto maior a temperatura, maior a velocidade.

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 3


Velocidade do Som

No ar, à temperatura de 20 °C, a velocidade do som é de aproximadamente 340


m/s.

A velocidade do som no ar, ao nível do mar, em condições normais de pressão e


com temperatura de 20º C, é de 343 m/s, que corresponde a 1234,8 Km/h.

Já a velocidade do som na água, a uma temperatura de 20º C, é de 1450 m/s, o


que corresponde a cerca de quatro vezes mais que no ar.

Barreira do som

Quando um avião atinge uma velocidade muito alta, surgem ondas de pressão que
se deslocam com a velocidade do som.

Se a velocidade do avião se aproximar da velocidade de Mach 1, ou seja, apresentar


a mesma velocidade das ondas de pressão, ele passará a comprimir essas ondas.
Nesta situação, o avião se desloca junto com o seu som. Essas ondas vão se
acumulando na frente do avião e cria-se uma verdadeira barreira de ar, que recebe
o nome de barreira do som.

Ao alcançar uma velocidade supersônica, uma onda de choque é produzida devido


ao acúmulo de ar comprimido. Essa onda de choque, ao atingir a superfície, produz
um forte estrondo.

O som no vácuo

O som é uma onda, ou seja, é uma perturbação que se propaga em um determinado


meio e não transporta matéria, apenas energia.

WWW.UNINGA.BR 59
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

As ondas sonoras são ondas mecânicas, assim, necessitam de um meio material


para transportar energia. Portanto, o som não se propaga no vácuo.

Ao contrário do som, a luz se propaga no vácuo, porque não é uma onda mecânica,
mas eletromagnética. O mesmo ocorre com as ondas de rádio.

Quanto à direção de propagação, o som é classificado como uma onda longitudinal,


pois a vibração ocorre na mesma direção do movimento.

Medidas da velocidade do som

As primeiras medidas da velocidade do som foram feitas por Pierre Gassendi e


Marin Mersenne, no século XVII. No caso de Gassendi, ele mediu a diferença de
tempo entre detectar o disparo de uma arma e ouvir o seu estrondo. Contudo, o
valor encontrado foi muito alto, cerca de 478,4 m/s.

Ainda no século XVII, os físicos italianos Borelli e Viviani, usando a mesma técnica,
encontraram 350 m/s, um valor bem mais próximo do real.

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 3


O primeiro valor preciso da velocidade do som foi obtido pela Academia de Ciências
de Paris, em 1738. Nesse experimento, foi encontrado o valor de 332 m/s.

A velocidade do som na água foi medida pela primeira vez pelo físico suíço Daniel
Colladon, em 1826. Ao estudar a compressibilidade da água, ele encontrou o valor
de 1435 m/s.

Fonte: GOUVEIA, R. In: Toda Matéria. 2020. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/


velocidade-do-som/. Acesso em: 22 out. 2020.

1.3 Frequência Sonora


A frequência sonora é uma grandeza física ondulatória que indica a quantidade de
oscilações (ciclos) durante determinado período de tempo. Para determinar a frequência, o
cálculo é assim feito:

Número de oscilações/tempo

As unidades de medida mais usadas são Hertz (Hz), que corresponde ao número de
oscilações por segundo, e rotações por minuto (rpm), que correspondem ao número de oscilações
por minuto.
A altura do som está relacionada à sua frequência. Dessa forma, o som pode ser classificado
como grave quando apresenta baixa frequência e como agudo quando há alta frequência. A voz
dos homens, por exemplo, na maioria das vezes, apresenta uma frequência menor que a voz das
mulheres; por isso, a voz masculina é classificada como grave, e a feminina, como aguda. As notas
musicais também são caracterizadas pela frequência.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Figura 3 – Sons graves e agudos. Fonte: Souza, Almeida e Bragança (2006).

1.4 Timbre

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 3


O timbre (Figura 4) é o que permite que se faça a distinção entre dois sons de mesma
altura e intensidade, mas produzidos por fontes diferentes. No caso de instrumentos musicais,
o som é uma composição de várias ondas sonoras, e é isso que dá o timbre característico do
instrumento.

Figura 4 – Volume, altura e timbre. Fonte: Souza, Almeida e Bragança (2006).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 3


Figura 5 – Ondas sonoras: volume, altura e timbre. Fonte: Souza, Almeida e Bragança (2006).

1.5 Amplitude e Intensidade Sonora


O comportamento da onda sonora é o de propagar-se esfericamente (considerando o raio
sonoro sem influências das superfícies ou obstáculos). Por isso, a intensidade do som diminui
conforme se afasta da fonte, pois aumenta a área de distribuição da energia sonora. Essa é a
explicação para, de modo geral, a recepção do som ser melhor nos locais mais próximos da fonte
sonora.
A potência necessária para que uma fonte produza um som é muito pequena, todavia, a
faixa de pressão que provoca a sensação auditiva é bastante larga. Na prática, além de essa escala
ser difícil de manusear, a percepção que o ouvido apresenta para a pressão sonora ou para a
intensidade sonora é uma resposta não linear. Isso significa que, se o valor for dobrado, o ouvido
não percebe o som como duas vezes mais intenso.
O decibel foi nomeado em homenagem ao inventor do telefone, Alexander Grahan Bell,
e corresponde a uma escala logarítmica, que se aproxima da percepção do ouvido às flutuações
de intensidade e pressão sonora. Para trabalhar com essa escala, o valor de referência é 10-12 W/
m², que se aproxima da intensidade mínima audível a 1000 Hz e corresponde ao valor de 0 dB na
escala de decibéis.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Dessa forma, o fator de variação de 1 bilhão de W/m² é substituído por uma variação de
apenas 120 dB para a escala de intensidades entre o limite de audição e o limiar da dor. Utiliza-se
o decibel para medir o nível de intensidade sonora e de pressão sonora (NIS e NPS).
Para calcular cada um desses dois, as fórmulas são:

a)

b)

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O nível de intensidade sonora (NIS), em decibéis, corresponde a uma intensidade sonora,
I, em W/m², expressa pela fórmula a). Na fórmula b), temos o nível de pressão sonora (NPS),
medido em decibel e correspondente a uma pressão sonora, p, em Pa.
É necessário destacar que os valores em decibéis não podem ser somados em adição simples
uma vez que estão em uma escala logarítmica. Então, a combinação de duas fontes sonoras não
resulta na adição de seus NPS ou NIS. Por exemplo, quando duas fontes sonoras se sobrepõem, o
nível de pressão sonora aumenta, no máximo, o valor de 3 dB. Também uma fonte pode ter efeito
de mascaramento sobre a outra, pois a percepção de cada fonte não depende apenas dos níveis
sonoros, mas também das frequências. O limiar de audição para uma determinada fonte pode ser
maior que o valor de referência citado por causa desse mascaramento oriundo de outras fontes.
Quando as frequências das fontes são similares, o fenômeno costuma ter maior manifestação, e as
frequências mais baixas promovem mais esse efeito de mascaramento sobre as mais altas. Outro
fator de influência é o grau de atenção do ouvinte para a fonte de interesse.
Para que um som não sofra o efeito do som mascarante, o nível de intensidade sonora
deve ser de cerca de 15 dB ou mais acima do som mascarante.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

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Figura 6 – Ruídos. Fonte: Rodrigues (2020).

Confira um glossário com os termos mais importantes sobre


acústica no link <https://blog.owa.com.br/glossario-da-acustica-
termos-basicos-que-todo-arquiteto-deve-saber-2/>.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Sugerimos a leitura do texto Desempenho Acústico na Arquitetura Moderna


Brasileira. Estudo De Caso: A Pampulha, de Gianni Cornacchia e Elvira Viveiros.

A proposta do trabalho é analisar os edifícios que compõem o complexo da


Pampulha, em Belo Horizonte. Projetos ícones da arquitetura moderna brasileira,
sob uma ótica pouco explorada, o desempenho acústico. Para tanto, somaram-
se estudos teóricos e simulações computacionais, de forma a obterem-se
indicativos de conforto acústico. Como resultado desse estudo, aponta-se, em
todos os edifícios analisados, uma baixa qualidade acústica, evidenciada pelos
altos valores do tempo de reverberação obtidos.

Para ler o material, acesse <http://www.infohab.org.br/


entac2014/2008/artigos/A1934.pdf>.

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 3


2. NÍVEL DE INTENSIDADE SONORA

A intensidade do som é a qualidade que nos permite caracterizar se um som é forte ou


fraco e depende da energia que a onda sonora transfere.
A intensidade sonora (I) é definida fisicamente como a potência sonora recebida por
unidade de área de uma superfície, ou seja:

É chamada mínima intensidade física, ou limiar de audibilidade (0 dB), o menor valor


da intensidade sonora ainda audível:

É chamada máxima intensidade física, ou  limiar de dor (120 dB), o maior valor da
intensidade sonora suportável pelo ouvido:

Conforme um observador se afasta de uma fonte sonora, a intensidade sonora ou nível


sonoro (β) diminui logaritmicamente, sendo representado pela equação:

A unidade utilizada para o nível sonoro é o Bel (B), mas, como essa unidade é grande se
comparada à maioria dos valores de nível sonoro utilizados no cotidiano, seu múltiplo usual é
o decibel (dB) de maneira que 1 B = 10 dB.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A que vamos usar é a que substitui o Bel por dB:

EXEMPLOS:

EXERCÍCIO 1 - Qual o nível sonoro de uma máquina que gera um som de intensidade
igual a 10–2 W/m²? 

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 3


O nível sonoro de uma intensidade de som igual a 10–2 W/m² equivale a 100 dB.

EXERCÍCIO 2 - Qual o valor da potência dessa máquina, que é percebida por uma pessoa
localizada a 30 m de distância?
Temos os seguintes dados:
π= 3,14.
NIS = 100 dB 

A potência dessa máquina seria de 113,04 W.

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3. NÍVEL DE PRESSÃO SONORA

Pressão sonora é definida como o valor quadrático médio da pressão exercida em um


determinado ponto por intervalo de tempo, causada por uma  onda sonora. A unidade  SI  de
pressão sonora é o Pascal (Pa).
O nível de pressão sonora (SPL, em inglês  Sound Pressure Level) é uma medida para
determinar o grau de potência de uma onda sonora. É determinado pela amplitude da onda sonora
por duas razões: pela sensibilidade do ouvido às variações de pressão e por ser uma quantidade
simples de ser medida. A unidade internacional do nível de pressão sonora é o decibel (dB). 
O ouvido humano consegue perceber uma faixa muito ampla de intensidades sonoras,
cerca de 10¹². Por causa disso, tornou-se mais viável utilizar o conceito de nível de pressão sonora,
dado em escala logarítmica, do que intensidade. Sendo assim, o nível de pressão sonora (em dB)
é dado por:

P= I. 4πR²

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NPS = 20.log(P/Po)

Em que:
P é a pressão no ponto medido.
Po é a pressão de referência.

EXEMPLO:
Qual o NPS, em dB, para a pressão sonora de 1 Pa?
Aplicando a fórmula NPS = 20 log P + 94, teremos:

NPS = 20 log 1 + 94
NPS = 20 x 0 + 94
NPS = 94 dB

E se dobrarmos a potência, passando de 1 Pa para 2 Pa? Qual a relação de grandeza?

NPS = 20 log P + 94, teremos:


NPS = 20 log 2 + 94
NPS = 20 x 0,3 + 94
NPS = 100 dB

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Pressão sonora de 1 Pa = 94 dB
Pressão sonora de 2 Pa = 100 dB

Conclusão: a equação NPS = 20 log P + 94 demonstra que o aumento de 6 dB corresponde


a dobrar a pressão sonora.

Dessa maneira, observamos que tanto o NIS quanto o NPS possuem valores em relação
de decibéis. A partir desse valor, é possível encontrar os valores equivalentes em relação à
Intensidade Sonora (W/m2) ou Pressão Sonora (N/m2).
No Quadro 1, podemos observar alguns exemplos de ruídos e seus respectivos valores em
relação ao nível de intensidade sonora/pressão sonora.

SPL Som
190 dB Armas pesadas (10 m atrás da arma)
180 dB Arma de brinquedo (disparada perto do ouvido)
170 dB Tapa no ouvido
160 dB Golpe de martelo em chapa de aço ou tubo de latão (1 m de distância)
150 dB Golpe de martelo em uma forja (5 m de distância)

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 3


130 dB Explosão; bater palmas forte (1 m de distância)
120 dB Decolagem de avião (60 m de distância); apito ou assovio forte (1 m de distância)
Limiar da dor, curta exposição pode gerar danos auditivos
Boate cheia; sirene (10 m de distância); violino perto do ouvido do músico em um
110 dB
concerto
100 dB Grito (1,5 m de distância); música alta em fones de ouvido
90 dB Caminhão a diesel 80 km/h (15 m de distância);
Risco de danos auditivos se escutado por 40h/semana ou mais
Tráfego de veículos pesados (7,5 m de distância) ou de uma via expressa (25 m de
80 dB
distância)
Secador de cabelo (1 m de distância); ruído de uma rua principal (distância da
70 dB
calçada)
Conversação normal (1 m de distância); cortador de grama barulhento (10 m de
60 dB
distância)
50 dB Chilro de um pássaro (15 m de distância)
40 dB Ruído de dia comum
Ruído capaz de distrair no aprendizado e dificultar a concentração
Ventilador silencioso em velocidade baixa (1 m de distância); tique-taque de
30 dB
relógio
20 dB Interior de uma casa à noite; ruído da respiração (1 m de distância)
10 dB Sussurro
0 dB Limiar da audição

Quadro 1 - Exemplos de nível de pressão sonora. Fonte: Lopes (2005).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Desenvolver um projeto arquitetônico é uma tarefa árdua, que


exige muita atenção aos detalhes uma vez que pequenas falhas
podem arruinar completamente um projeto. Com o setor acústico
da arquitetura não é diferente. Para que exista uma boa relação
dos habitantes com o ambiente, é necessário que a acústica esteja
equilíbrio, sem causar incômodos ou dificultar a comunicação
naquele espaço (UGREEN, 2018).

Leia esse texto na íntegra em <https://www.ugreen.com.br/


acustica/>.

E, para se inteirar sobre a ecobarreira acústica, que funciona

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 3


como uma cerca viva autoportante, de montagem rápida e baixa
manutenção, leia o texto disponível em <https://ecotelhado.com/
sistema/ecobarreira-acustica/>.

Privacidade acústica parece um luxo em muitos locais de trabalho


atualmente, graças à popularidade dos projetos de planta aberta.
Enquanto fabricantes de móveis têm criado telas, divisórias,
casulos e cabines para tentar solucionar isso, ocupar espaço
pode não ser uma opção em alguns casos – então focamos em
tetos e paredes. No que diz respeito a estes dois últimos, vários
produtos não só ajudam a atenuar o barulho, mas também fazem
um bom trabalho no design.

Leia o restante do texto acessando o link <http://44arquitetura.


com.br/2017/09/solucoes-acusticas-legais-paredes/>.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A qualidade acústica externa de edificações é influenciada pelo ruído gerado por inúmeras
fontes sonoras. Principalmente no meio urbano, as edificações estão sujeitas a interferências e
efeitos dos ruídos ambientais. Para solucionar as agressões da poluição sonora, corriqueiramente
faz-se o isolamento acústico das fachadas, com janelas de alta qualidade acústica e vedação de
frestas.
No universo coletivo atual, é muito comum que as ruas tenham intenso fluxo de veículos
e que as cidades apresentem falta de planejamento urbano. Por isso, o isolamento acústico é o
artifício mais indicado para que o ruído dos ambientes não ultrapasse os limites de conforto para
os usuários dos imóveis. Esse isolamento pode ser com as janelas e vedações, mas também pode
ser feito com reforço de parede, vidros duplos e outros artifícios.
No Brasil, em geral, essas intervenções são raras e custosas, pela cultura de considerar
que o conforto acústico é um requinte presente apenas em edifícios e residências de luxo. Porém,
aos poucos, os benefícios estão aparecendo mais, e os profissionais da construção civil estão se
preocupando mais com esses estudos e novas tecnologias. Partindo do pressuposto de que é

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 3


essencial que os profissionais se atualizem cada vez mais, a acústica aplicada à construção civil é
um diferencial que pode trazer inúmeros benefícios ao usuário, mantendo a qualidade estética e
os custos relativamente baixos.

WWW.UNINGA.BR 70
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

04
DISCIPLINA:
CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL

ACÚSTICA INTERNA
PROF. ME. BRUNO EDUARDO MAZETTO DOMINGOS

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO..............................................................................................................................................................72
1. CONCEITOS BÁSICOS............................................................................................................................................73
1.1 ABSORÇÃO SONORA.............................................................................................................................................73
1.1.1 COEFICIENTE DE ABSORÇÃO α........................................................................................................................73
1.2 REFLEXÃO SONORA.............................................................................................................................................74
1.3 REVERBERAÇÃO...................................................................................................................................................75
1.3.1 TEMPO DE REVERBERAÇÃO.............................................................................................................................75
1.3.2 TEMPO ÓTIMO DE REVERBERAÇÃO...............................................................................................................75
2. ÍNDICE DE REDUÇÃO SONORA APARENTE........................................................................................................77
3. CARACTERÍSTICAS DOS MATERIAIS...................................................................................................................78
3.1 MATERIAIS DENSOS............................................................................................................................................78
3.2 MATERIAIS POROSOS.........................................................................................................................................78
4. TRATAMENTO ACÚSTICO.....................................................................................................................................79
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................................................... 86

WWW.UNINGA.BR 71
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO

Nesta unidade, iremos abordar o tratamento acústico interno. Uma vez que o som é
gerado dentro de um ambiente fechado, é essencial que esse ambiente possua um tempo ótimo de
reverberação, o que possibilitará uma maior audibilidade (ouvir bem) e uma boa inteligibilidade
(entender bem). Para tanto, é fundamental compreendermos conceitos como absorção sonora
e reflexão sonora, conceitos esses responsáveis por trazer uma melhor qualidade e distribuição
acústica ao ambiente.

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 4

WWW.UNINGA.BR 72
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1. CONCEITOS BÁSICOS

1.1 Absorção Sonora


Os materiais apresentam a capacidade de absorver o som. Normalmente, quanto mais
poroso o material (como lã mineral, espumas, tapetes), maior a sua absorção. O material
absorvente é capaz de regular a quantidade de absorção do som dentro do próprio ambiente.
Então, a absorção acústica faz com que o som não seja refletido, o que anula a
reverberação, e deve ser feito conforme a necessidade do ambiente para que a anule ou seja no
mínimo controlada para se ter um bom conforto acústico. Em outras palavras, a absorção sonora
é utilizada para controle de ruídos e reverberação.
Para salas de cinema e restaurantes, por exemplo, é interessante que haja alta absorção do
som para deixá-lo o mais claro possível. Por outro lado, teatros e estúdios precisam de projetos
mais específicos de acústica para que o som não seja absorvido demais. As técnicas e materiais
para a absorção sonora são os itens que farão com que o ambiente tenha condições mais adequadas
de trabalho e comunicação.

CONFORTO APLICADO À ENGENHARIA CIVIL | UNIDADE 4


1.1.1 Coeficiente de absorção α

O coeficiente de absorção é o que indica a capacidade de absorção dos materiais. Por isso,
ele depende: do tipo de material, sua densidade e estrutura interna; da frequência da onda sonora
incidente; do ângulo de incidência da onda sonora; e das condições de montagem do material
(como modo de fixação e espessura).
O cálculo do coeficiente de absorção sonora é feito com a fórmula:

Em que: Ea é a energia sonora absorvida pela superfície do material.


Ei é a energia sonora incidente na superfície do material.
O coeficiente de absorção é sempre menor que 1, ou seja, varia de 0 a 1. Quando o valor
é zero, significa que 100% do som é refletido ou transmitido. Quando é 1, significa que 100% do
som é absorvido.
Veja a Tabela 1, com alguns coeficientes de absorção (aqui expressos por fração decimal,
mas também podem aparecer como porcentagem).

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Tabela 1 – Coeficientes de absorção de alguns materiais. Fonte: ABNT (1992b).

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Mais coeficientes podem ser obtidos na NBR 12179 – Tratamento acústico em recintos
fechados (ABNT, 1992b).

1.2 Reflexão Sonora


As ondas sonoras, como qualquer outro tipo de onda, são refletidas ao atingirem um
obstáculo fixo, como uma parede. A reflexão do som ocorre com inversão de fase, porém, com a
manutenção da velocidade de propagação, com a mesma frequência e comprimento de onda do
som incidente.
O exemplo mais comum da reflexão do som é o eco, e o outro fenômeno é a reverberação.
O eco se dá quando o som refletido retorna para a fonte depois da extinção total do som original.
A reverberação ocorre quando o som refletido retorna à fonte antes de o som original terminar,
ou seja, ocorre o reforço do som emitido.
A reflexão do som é similar à reflexão da luz, e qualquer som pode sofrer esse fenômeno.
Mas os seres humanos conseguem distinguir o som refletido apenas quando retorna ao ouvido
humano, em um intervalo de tempo igual ou superior a 0,1 segundo.

O eco e a reverberação são dois fenômenos causados pela reflexão do som. Na


videoaula Ondas e som: eco e reverberação, você entenderá como eles ocorrem,
como são percebidos pelo ouvido humano e qual a diferença entre eles.

O link para acesso é o <https://www.youtube.com/


watch?v=gW4ScXwmzPA>.

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1.3 Reverberação
Quando o obstáculo está um pouco mais afastado da fonte do som e do ouvinte, de modo
que o som emitido e o som refletido apresentam-se com um intervalo de tempo menor que 0,1
segundo, ocorre o fenômeno da reverberação. Nessa situação, ao receber dois estímulos de som
do mesmo tipo em menos de 0,1 segundo, o ouvinte tem a sensação de que o som ainda não
acabou. A reverberação é importante em locais como os auditórios para que o ouvinte se sinta
mais seguro quanto àquilo que ouviu.

Não deixe de assistir ao vídeo Tratamento Acústico: O que é a


Reverberação? - Acústica de Home Studio, disponível em <https://
www.youtube.com/watch?v=1trisuebyXE>.

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1.3.1 Tempo de reverberação

O tempo de reverberação pode ser definido como a quantidade de segundos de duração


a partir do momento da emissão da onda pela fonte, até que esta perca 60 dB conforme mostra a
Figura 5. A duração deste tempo pode variar de acordo com o Volume do ambiente, a Frequência
sonora, e o coeficiente de absorção dos Materiais do ambiente.

Figura 1 - Tempo de reverberação. Fonte: Muller (2013).

Dessa forma, podemos alterar esse tempo com a mudança da geometria do espaço, além
das características acústicas dos materiais empregados nele.

1.3.2 Tempo ótimo de reverberação

O tempo ótimo de reverberação tem como base a tabela contida na NBR 12179 -
Tratamento acústico em recintos fechados (ABNT, 1992b). Há algumas considerações que você
deve saber. Seguem.
Se o tempo de reverberação for muito longo, ocorre a sobreposição dos sons, e dificulta-
se a inteligibilidade.
Se o tempo de reverberação for muito curto, o som desaparece imediatamente após sua
emissão, e a percepção fica mais difícil nos pontos afastados da fonte produtora do som.

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O tempo de reverberação ideal para cada ambiente depende do volume e da finalidade


desse ambiente, ou seja, não existe um tempo de reverberação fixo universal que seja apropriado
a todos os ambientes. Por exemplo: para uma sala-de-estar e para um ginásio, esse tempo tem de
ser diferenciado.
A reverberação ideal depende do tipo de lugar, e existe uma norma sobre tratamento
acústico em recintos fechados, a NBR 12.179 (ABNT, 1992b). Em outras palavras, ao se conhecer
a finalidade do ambiente e o volume em metros cúbicos do recinto, conseguimos obter o tempo
de reverberação ideal. Para um projeto acústico, esse dado é fundamental para a escolha dos
materiais das superfícies dos locais.
Para uma palestra, o tempo de reverberação (TR) deve ser menor e, para um ambiente
para música de órgão, por exemplo, o TR deve ser maior. Então, o TR ótimo varia conforme o uso
do ambiente visto que os valores são resultado de avaliações e julgamentos subjetivos, e os valores
recomendados surgiram de preferências médias originadas de estatísticas. Na Figura 2, os valores
do tempo ótimo de reverberação podem ser encontrados por meio do cruzamento dos valores do
volume do espaço com a curva da tipologia do espaço e o tempo ótimo de reverberação a 500 Hz.

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Figura 2 – Tempo ótimo de reverberação. Fonte: ABNT (1992b).

Caso haja a necessidade de constatar os valores de tempo de reverberação ótimo para


outras frequências sonoras, os valores obtidos na tabela da NBR 12.179 (ABNT, 1992b) deverão
ser multiplicados pelos seguintes valores conforme o exemplo a seguir:

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Figura 3 - Conversão de frequências. Fonte: Muller (2013).

2. ÍNDICE DE REDUÇÃO SONORA APARENTE

O índice de redução sonora aparente pode ser definido como a capacidade de um elemento

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divisório (parede ou piso) de reduzir o nível sono interno (dB) através da absorção. Para calcular
a quantidade de redução, podemos utilizar a seguinte fórmula:

NR = 10 log A2/A1
Em que: A2 = Absorção final
A1 = Absorção inicial

A seguir, podemos observar um exemplo de exercício proposto.

Figura 4 – Exercício proposto. Fonte: Muller (2013).

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3. CARACTERÍSTICAS DOS MATERIAIS

Para um projeto de conforto acústico, é relevante que se saiba sobre as características


dos materiais. Para nosso estudo, dividimos os materiais entre densos e porosos. O isolamento
acústico ou isolamento sonoro pode ser propiciado a partir da utilização de materiais densos e
pesados, que possuem a característica de amortecer e dissipar a energia sonora. A energia sonora
é convertida em energia mecânica, ou seja, pode ser interceptada e ter sua trajetória alterada pela
intervenção de materiais sólidos.
A eficácia do isolamento acústico pode ser obtida por meio da associação de materiais
densos e porosos, como uma parede de placa cimentícia com preenchimento interno de lã de
vidro. Isso irá dificultar a propagação das ondas sonoras, o que, por sua vez, melhora o isolamento
acústico.

3.1 Materiais Densos


Eles são vantajosos para absorção de sons graves, ou seja, baixas frequências. Sua alta

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densidade de massa dificulta a propagação das ondas sonoras, ou seja, quanto maior a massa,
menor será a vibração das partículas desse tipo de material e, consequentemente, menor será
a possibilidade de transmitir o som através dele. Exemplo de materiais: vidro, concreto, tijolos
maciços, chapas de aço etc.

3.2 Materiais Porosos


Eles possuem uma maior eficiência em relação à absorção de sons agudos, ou seja, altas
frequências. A porosidade do material tem como característica a absorção das ondas acústicas.
Eles contêm, em seu interior, espaços de ar que, ao receberem a passagem do som, refletem em
ângulos diferentes, que, por sua vez, faz com que o som se “perca” lá dentro. Exemplo de materiais:
lã de rocha, lã de vidro, espumas, materiais fibrosos etc.

Figura 5 – Espumas e painéis de lã. Fonte: Mateus (2008).

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Figura 6 – Materiais de revestimento. Fonte: Mateus (2008).

Podemos observar a eficiência desses tipos de materiais de acordo com sua densidade e
porosidade em relação à faixa de frequência e eficiência de absorção conforme a Tabela 2. Nela,
fica clara a eficiência dos materiais mais porosos em absorver ondas sonoras de alta frequência e
dos materiais mais densos em absorver ondas sonoras de baixa frequência.

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Tabela 2 – Índices de absorção por frequência sonora. Fonte: Mateus (2008).

4. TRATAMENTO ACÚSTICO

Para que um ambiente seja considerado eficiente em relação ao conforto acústico, é


necessário que ele atenda às normas vigentes. Para isso, precisamos incialmente descobrir e
classificar um ambiente de acordo com a absorção média do espaço. Esse valor pode ser definido
a partir da equação a seguir:

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Figura 7 – Equação de absorção média. Fonte: ABNT (1992b).

Com base nos valores obtidos, podemos classificar o espaço conforme a Figura 8.

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Figura 8 – Índices de absorção média. Fonte: ABNT (1992b).

De acordo com o valor obtido, iremos variar a formulação utilizada para o cálculo de
absorção conforme o exemplo que apresentaremos em seguida.
Para valores α < 0,3, devemos utilizar a fórmula de Sabine para o cálculo do tempo de
reverberação.

Figura 9 – Equação de Sabine. Fonte: ABNT (1992b).

Para valores α > 0,3, devemos utilizar a fórmula de Eyring para o cálculo do tempo de
reverberação.

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Figura 10 – Equação de Eyring. Fonte: ABNT (1992b).

EXEMPLO:
Para auxiliar na compreensão do processo de cálculo do tempo de reverberação,
observemos a resolução do seguinte exemplo.
Calcule o tempo de reverberação (a 500 Hz) para a sala sem tratamento acústico, com 1/3

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da ocupação e completamente ocupada. Utilize a fórmula de Sabine.

• Teto em laje revestida com argamassa comum, lisa e caiada.


• Paredes de alvenaria de tijolos comuns, revestidas de argamassa comum, lisa e caiada.
• Janelas de vidro simples, liso e transparente, em esquadrias metálicas.
• Portas de madeira compensada pintada a óleo.
• Piso de tacos de peroba-do-campo.
• Mesa com pés de madeira e tampo de mármore.
• Quadro negro.
• 30 cadeiras de madeira lisa, envernizadas.
• Volume da sala de 350,4 m³

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Tabela 3 – Cálculo de absorção sonora. Fonte: Bistafa (2011).

Agora, para o ambiente ocupado completamente:

Tabela 4 – Cálculo de absorção sonora. Fonte: Bistafa (2011).

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Agora, se utilizarmos a instalação de um forro de gesso (α 500 Hz = 0,44) em toda a área


do teto para 1/3 de ocupação, consideremos que o rebaixamento do forro reduzirá o volume
da sala para 327 m³. Calcule novamente o tempo de reverberação da sala de aula e avalie os
resultados alcançados com o aumento da área de absorção proposta (forro de gesso). Considere
(-9 m²) de área de parede, que será encoberta pelo forro.

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Tabela 5 – Cálculo de absorção sonora. Fonte: Bistafa (2011).

Ao compararmos com a tabela da NBR 12.179 (ABNT, 1992b):

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Figura 11 - Tempo ótimo de reverberação. Fonte: Bistafa (2011).

Nessas mesmas condições citadas, considerando o tempo de reverberação ótimo para


salas de aula (conferência) de 0,65 seg., com volume de 350 m³, qual seria a área de absorção em
acréscimo necessária a ser recoberta com o mesmo material com coeficiente de absorção (α 500
Hz = 0,44)?

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Ou seja, aplicando mais 20,30 m² de sonex nas paredes posteriores (ao fundo da sala), será
possível atingir o tempo de reverberação ótimo para atividades de conferência na sala estudada.

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Recomendamos que você leia o texto Soluções inovadoras para
o conforto acústico em ambientes urbanos, disponível em <http://
www.dicyt.com/noticia/solucoes-inovadoras-para-o-conforto-
acustico-em-ambientes-urbanos>.

Além dele, também indicamos a leitura do texto Materiais


acústicos: o mercado e o desempenho acústico, disponível em
<http://portalacustica.info/materiais-acusticos-o-mercado-e-o-
desempenho-acustico/>.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, vimos os conceitos básicos da acústica para que possamos aplicá-los nos
projetos de interiores. Para os projetos, tanto de residências quanto comerciais e de escritórios,
a acústica serve para dois objetivos principais: isolamento contra o ruído e controle dos sons no
interior do ambiente.
Na primeira situação, o projetista deve preocupar-se com o isolamento dos ruídos
externos e dos que são produzidos no próprio interior, como o que pode ocorrer em teatros,
igrejas, salas de aulas, bibliotecas etc. A outra preocupação é evitar que os ruídos internos saiam e
perturbem, por exemplo, os moradores próximos, como em boates ou salões de festa. Nesse caso,
existem leis em cada cidade ou região, que devem ser sempre consultadas.
É importante lembrar que o isolamento deve prevalecer nas superfícies que compõem o
ambiente, ou seja, em paredes, lajes, portas, visores e janelas, sistemas de ventilação e todos os
outros, pois o isolamento a sons externos fica sem valor se existirem fontes de ruído internas no
ambiente. É por isso que a parte interna deve ser tratada e isolada, principalmente em relação a
ventiladores e ares-condicionados, pois são máquinas geradoras de muito ruído.

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Em relação ao controle dos sons no interior do ambiente, o projetista deve preocupar-
se com a comunicação sonora. Dessa forma, o projeto acústico deve permitir uma distribuição
homogênea do som para que haja inteligibilidade e se evitem problemas, como ressonâncias, ecos
ou reverberações excessivas.
Para isso, é fundamental que haja distribuição homogênea do som, além de boa relação
entre sinal e ruído, ou seja, o som deve chegar a todos os pontos do ambiente da maneira mais
clara possível, com o mínimo de ruídos. Além disso, a reverberação deve ser adequada, e o campo
acústico deve ser o mais uniforme possível. Isso é alcançado por meio das barreiras, revestimentos,
caixas de som e outros aparelhos, bem como os próprios usuários. Todos são elementos que
servem para mudar, melhorar ou atrapalhar a propagação do som.
Lembre-se de utilizar soluções inovadoras. Atualmente, a tecnologia pode contribuir
muito a seus projetos.

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ENSINO A DISTÂNCIA

REFERÊNCIAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. ISO 5413:1992. Iluminância de interiores.
1992a.

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. ISO 12.179:1992. Tratamento acústico em


recintos fechados - Procedimento. 1992b.

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. ISO 7730:2005. Ergonomics of the thermal
environment -- Analytical determination and interpretation of thermal comfort using calculation of
the PMV and PPD indices and local thermal comfort criteria. 2005a.

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. ISO 15215-1:2005. Iluminação Natural.


2005b.

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. ISO 15220-3:2005. Desempenho térmico de


edificações. 2005c.

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ENSINO A DISTÂNCIA

REFERÊNCIAS
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