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- REVISÃO CONCEITUAL
ABSTRACT
I - INTRODUÇÃO
Os elementos estruturais de uma determinada região organizam-se segundo normas ditadas pelos
campos de tensões atuantes quando de sua formação, estejam eles arranjados segundo um padrão
geométrico bem definido ou em uma distribuição espacial aparentemente caótica.
Estes campos tensoriais são originados, numa visão ampla, pela interação das placas litosféricas
deslocando-se na superfície do planeta.
Desta forma, os estilos estruturais básicos estão fortemente condicionados à cinemática das pla-
cas, cada tipo de limite entre elas estando caracterizado por uma determinada assembléia de elementos
geneticamente relacionados (Figura 1).
Os movimentos das placas litosféricas conduzem a três tipos básicos de limites entre elas: ao
romperem- e e se afastar, originam os limites divergentes; ao aproximarem-se e colidir, geram os limites
convergentes; deslocando-se lado a lado, as placas deslizam ao longo dos limites conservativos
(transformantes).
De RAlA GABAGLlA, G.P. e MlLANl, E.l. (Coords.). 1990. Origem e Evolução de Bacias Sedimentares. PETROBRÁS.
- .' .
75
ZONA DE FRATURA
---..:-==
~ALHA TRANSFORMANTE
CONTINENTE
Cada estilo estrutural tem seu hábitat preferencial: as falhas normais caracterizam os limites diver-
gentes (ambiente distensivo), enquanto as falhas de empurrão e as dobras originam-se nas zonas de
colisão (ambiente compressivo). Falhas transcorrentes ocorrem, de preferência, nos limites transformantes
de placas.
Pode-se dizer, então, que o estilo estrutural" de uma determinada província geológica é definido
pela assembléia de elementos presentes (geneticamente relacionados numa mesma fase tectônica) e pelo
seu arranjo espacial característico; um determinado estilo repete-se em regiões de história tectônica se-
melhante. Numa última análise, o estilo de uma região descreve sua geometria estrutural predominante
(Lowell, 1985).
A caracterização do estilo estrutural de um~ área tem implicação quanto à previsibilidade de loca-
lização de estruturas; trendes de armadilhas petrolíferas são mais facilmente identificados e mapeados
ao se conhecer a gênese das estruturas que os constituem e, conseqüentemente, seu arranjo espacial,
que é resposta dos esforços responsáveis por seu aparecimento.
Embora os estilos básicos possam ser modificados em suas características por contingências lo-
cais, inerentes a uma determinada área, os parâmetros fundamentais de cada um deles são, em geral,
identificáveis. Tais modificações locais são freqüentemente promovidas por heterogeneidades litológi-
cas (contrastes de ductilidade) e zonas de fraqueza preexistentes, bem como pelas características do
evento tectônico considerado, tanto em intensidade quanto em duração e orientação espacial.
A moderna Geologia Estrutural tem na Mecânica das Rochas uma aliada muito importante; a re-
produção de um determinado. arranjo de elementos estruturais em escala de laboratório conduz a uma
compreensão dos processos atuantes, deixando claras as condições sob as quais tais estruturas foram
originadas.
Com todas as limitações envolvidas nos exercícios de modelagem, tais como as características físi-
cas dos materiais utilizados, velocidade de deformação e condições de contorno dos experimentos, a
essência da formação de estruturas está presente: para um determinado campo de tensões, origina-se
um determinado estilo de deformação. Neste sentido, torna-se clara, no desenrolar dos experimentos,
a relação de causa-e-efeito nas estruturas modeladas.
76
De modo bastante simplificado, pode-se atribuir os elementos estruturais ocorrentes numa deter-
minada associação a um triedro de esforços compressivos principais (SIGMA 1, SIGMA 2, SIGMA 3),
que mantém relações angulares bem definidas com respeito às estruturas por ele originadas.
Na Figura 2, nota-se a relação entre o campo de esforços aplicado a uma amostra de rocha, levada
à ruptura num ensaio triaxial, e o padrão de fraturamento resultante. O que se observa é uma regra
básica para o falhamento: os planos de cisalhamento aparecem a cerca de 30° do eixo de máximo esfor-
ço compressivo (SIGMA 1) e contém o eixo do esforço compressivo intermediário (SIGMA 2); o eixo
do mínimo esforço compressivo (SIGMA 3) completa o triedro de confinamento do corpo de prova,
constituindo o campo de tensões, cuja posição espacial definirá o aparecimento de falhas normais, de
empurrão/reversas ou transcorrentes.
II - ESTILOS ESTRUTURAIS
77
Dentre os elementos-chave para o diagnóstico do estilo estrutural, o arranjo espacial das estrutu-
ras é de particular importância. Assim, uma distribuição en échelon consiste numa organização de ele-
mentos paralelos uns aos outros, mas posicionados obliquamente em relação à zona de deformação
em que ocorrem, existindo, também, uma superposição lateral consistente entre as estruturas da zona
(Figura 3); no padrão relay, os elementos estão paralelos entre si e ao trende regional de deformação,
sendo a superposição lateral entre as estruturas eventual (Figura 3).
Existem classificações de estilos estruturais bastante abrangentes e bem elaboradas, tais como a
de Harding e Lowell (1979), cujo critério principal de organização é o envolvimento ou não do embasa-
mento na estrutura observada.
Neste trabalho, os elementos estruturais foram agrupados em função da orientação do campo de
tensões responsável por seu aparecimento.
Com base no triedro de esforços compressivos principais (Mecânica das Rochas), visualizam-se
três situações distintas:
a) SIGMA 1 em posição vertical, SIGMA 2 e SIGMA 3 no plano horizontal - condição de forma-
ção de falhas normais (Figura 4A), caracterizando o estilo distensional;
78
(C) Ú3
S(MINl
62
snNTl
--- (8 )
-c
(Íl Ú,
s(MAXl 62 S(MAXl
-;> sUNTl
,. -- ,.1
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,- I
,-
/.,~
FALHA DE EMPURRÃO
Ú3
S(MINl
VI
(A) S(MAXl
.. FALHA TRANSCORRENTE
S(MAXl e MAXIMO
S(INT) :: INTERMEDIÁRIO
S(MINl :: MINIMO
FALHA NORMAL
IH - TECTÔNICA COMPRESSIONAL
1. AMBIÊNCIA GEOTECTôNICA
79
,
I~
FALHA QE ;MPUR.RÃO CAMPO DE TENSÕES BACIA COMPRESSIONAl (CONVERGENTE)
CINTURÃODE DOBRAS
/ FALHASREVERSAS ANTE- PAís
rCAMADA SEDIMENTAR-jl I------SEDIMENTOS + EMBASAMENTO-----j
LO---------------l
Fig. 6 - Encurtamento e uplitt em zonas de empurrão (Lowell,
1983). Lo = comprimento original da seção considerada;
LI = comprimento pós-deformação; 21070 = encurtamento
crustal.
Shortening and up/ift in thrust zones (Lowell, 1983).
Lo =. original /enght of section; L1 = post-deformation
/enght;21% = crusta/ shortening.
80
Fig. 7 - Seção sísmica da Bacia de Green River, Wyoming,
EUA, mostrando um cavalgamento do embasamento cristalino
sobre a seção sedimentar fanerozóica (Lowell, 1985).
Seismic section of Green River bssin, Wyoming (USA), sho-
wing thrusting of the crystalline basement above the Phanero-
zoic sedimentary section (Lowell, 1985).
- -
e mínimo, quando o SIGMA 3 assume a posição horizontal. Estabelecem-se, dessa forma, condições
de cisalhamento puro (irrotacional) (Figura 8).
Outros elementos que podem aparecer são as falhas transferentes (Dahlstrom, 1969); estas, tam-
bém conhecidas como tearfaults, conectam segmentos deslocados da frente de empurrão. Caracterizam-se
por rejeito direcional, mas sua mecânica é substancialmente distinta daquela apresentada pelas falhas
transcorrentes descritas no parágrafo anterior. Por serem planos que contêm dois dos eixos de esforços
compressivos principais do triedro, as falhas transferentes são superfícies de cisalhamento nulo, servin-
do de elementos de acomodação de movimentações diferenciais ao longo do strike da zona de colisão
(Figura 9).
IV - TECTÔNICA TRANSCORRENTE
1. AMBIÊNCIA GEOTECTÔNICA
Os limites conservativos de placas, tais como Santo André (Califórnia) e o lineamento do Mar
Morto (Oriente Médio) (Figura 10), são a própria expressão da tectônica do tipo transcorrente. Nessas
áreas, as placas litosféricas, deslocando-se lado a lado, originam uma assembléia de elementos estrutu-
rais intimamente relacionados entre si e distribuídos num padrão geométrico bem definido.
81
Fig. 8 - Características geométricas do cisalhamento puro
. (irrotacional) ..
Geometrical cherectetistice of pure shesr (irrotational).
Falha transcorrente.
Falha de empurrão.
PLATAFORMA
EUROPÉIA
-------,.--
;"
-- EMPURRÃO
ATIVO
,"
I "FIXO"
I
----.'1
I
1
------:,
EMPURRÃO
•I
I INATIVO
I
-----1
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,
I
..•
82
A B
principal
.. ---
:.:.: .
o 300km
Placa norte-americana
MAR MEDITERRÂNEO
,
~, ,
"' -,
li1l-'-- -,
,"
Placa pncrf ico '" " N
PLACA
ARÁBICA
t IOOkm
O ,
I
00 . 1981).
W
enquanto o SIGMA 2, o componente intermediário, está contido no plano da falha, que é, portanto,
vertical (Figura 11). - - - - - - - --
Em termos de movimentação relativa entre os blocos, a falha transcorrente é dita direita, dextrogi-
ra, dextral, right slip ou right lateral quando o observador, posicionado num dos blocos, caracteri-
zar o deslocamento do bloco oposto para a direita; caso contrário, a falha será esquerda, levogira, si-
nistral, left lateral ou left slip (Figura 12).
A mecânica do falhamento transcorrente baseia-se na atuação de um binário cisalhante (shear couple)
numa determinada região (Figura 13). O binário representa, em última essência, o movimento entre
os dois blocos adjacentes ao longo da falha transcorrente fundamental. Este deslocamento, profunda-
CAMPO DE TENSÕES
s
fOlho tr e n s c c r r e n t e sint.tica.
*--------------,
\ ---''-----'----'-_ Folha fto,",ol, V'Óbe", froturo di'te".iYo, dique.
\
I
~ Falho eM .mpurr~o, eixo d. dobro.
,
J
I
*-----....;....-------- __ :-- - ...•. Sentido d. rotaçao do. elemento. no ~fonl'toç.c1o
progr.s,ivo.
*
Fig. 13 - Características geométricas do cisalhamento simples-
(rotacional).
Geometric characteristics oi simple shear (rotational).
84
mente enraizado no embasamento, origina uma deformação com características peculiares nos níveis
próximos à superfície, à qual se associa uma série de elementos num padrão geométrico bem definido
(Figura 13).
A deformação produzida por este binário caracteriza condições de cisalhamento simples (rotacio-
nal), uma vez que, com o movimento progressivo, os elementos previamente formados vão sendo rota-
cionados e têm sua posição original alterada (Figura 14).
A deformação produzida pelo binário pode ser visualizada, geometricamente, como a transforma-
ção de um círculo (estado não deformado) numa elipse por um mecanismo de cisalhamento; a esta
relacionam-se todos os elementos estruturais envolvidos no estilo (Figura 15). A fratura "P" é o último
elemento a aparecer no sistema, representando a emergência do movimento profundo e caracterizando
estágios avançados do processo de formativo.
Embora esse padrão geométrico seja bastante característico de deformação por transcorrência, al-
guns aspectos exercem influência decisiva no produto final: 1) a magnitude do deslocamento; 2) as pro-
priedades intrínsecas dos materiais submetidos à deformação; e 3) a configuração estrutural preexis-
tente na região.
-
Deformação
progressivamente
maior.
-
-
-
Fig. 14 - Rotação de elementos no cisalhamento simples. C
- compressão; D - distensão; T - empurrões; F - eixos de do-
bras; V - fraturas distensivas; N - falhas normais; R - transcor-
rentes sintéticas; R' - transcorrentes antitéticas.
Rotations of elements in simple shear. C - compression; D -
extension; T - thrusts; F - fold axes; V - extensive trsctures; N -
normal faults; R - synthetic transcurrent faults; R' - antithetic
trsnscurrent faults.
85
A
•••••••
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I
I
1
I
I
• 1
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0,1
- Fratura "pu
:JRI
c - Vetor de compressão
~ o)
Fig. 15 - A - relação entre a elipse de deformação e os elemen-
tos estruturais originados por um binário de cisalhamento dex-
trogiro (Harding, 1974); B - a elipse representa o estado defor-
mado de uma figura originalmente circular submetida ao biná-
rio cisalhante.
A - Relationship between deformation ellipsoid and struc-
rural elements resulting irom a dextrsl shear couple (Harding,
1974); B -;the ellipse represents the deformed stste of an origi-
nal/y circular figure submitted to the shesr couple.
Ao longo do plano de uma falha transcorrente, a movimentação relativa entre os blocos pode se
dar de três maneiras: paralela, convergente ou divergente. Movimento paralelo, ou puramente transcor-
rente, é o menos comum, necessitando, neste caso, ser o traço da falha rigorosamente reto, e o desloca-
mento absoluto, de ambos os blocos, ocorrer segundo uma direção também paralela ao traço da falha
(Figura 16A).
Situações mais comuns são as que envolvem tendências convergentes ou divergentes entre os dois
blocos adjacentes, caracterizando condições de, respectivamente, transpressão e transtensão (Harland,
1971). Estes fenômenos geram efeitos secundários associados ao movimento transcorrente, mesmo
considerando-se o deslocamento ao longo de uma falha de traço relativamente retilíneo (Figura 16B-C).
Sob condições de transpressão, originam-se estruturas compressionais tais como pop-ups, falhas
reversas, empurrões, dobras e blocos soerguidos (Figura 17), enquanto a transtensão promove a subsi-
dência de blocos por meio de falhas normais, num ambiente localmente distensiona1.
Ocorrem efeitos semelhantes sempre que o traço da falha transcorrente mostrar deflexões, sejam
elas favoráveis ao movimento (transtensional, releasing bend) ou contrárias a ele (transpressional, res-
training bend) (Figuras 16D e 17).
Dobramentos en échelon ao longo da zona de deformação são bastante característicos da tectôni-
ca cisalhante; a Figura 18 mostra exemplos desta estrutura.
86
[A] [B] [c] P
[D]
c
-, \
P Paralelo
Paralelo Convergente Divergente
C = Convergente
D = Divergente
87
4. SEDIMENTAÇÃO ASSOCIADA A FALHAS TRANSCORRENTES
Mar Morto
88
5. EXPRESSÃO SÍSMICA DE FALHAS TRANSCORRENTES
Por ser uma observação efetuada num plano vertical, o perfil sísmico se presta otimamente para
caracterizar deslocamentos também verticais ao longo de falhas; decorre daí a dificuldade em se diag-
nosticar a presença de falhas transcorrentes por meio desta ferramenta. Um estudo abrangente deste
tema foi apresentado por Zalán (1986).
Nos últimos anos, tem sido identificada uma feição estrutural que pode ser considerada a "assina-
tura" sísmica das falhas de rejeito direcional: trata-se da "estrutura em flor"; sua geometria mostra,
em profundidade, a presença de uma falha única que tende a ser vertical, representando o limite funda-
mental entre os dois blocos. Para cima, esta falha principal ramifica-se, alargando a zona de deforma-
ção (Figura 20).
Dependendo da característica do movimento - convergente ou divergente - ao longo da falha,
a estrutura em flor pode ser positiva ou negativa. A estrutura em flor positiva assemelha-se a um do-
bramento ou arqueamento positivo, podendo associar falhas reversas/empurrões em seu bojo (Figura
21). Esta feição positiva é conhecida como pop-up, sendo constituída pelo material injetado para cima
devido à transpressão (Figuras 22 e 23).
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I
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Fig. 21 - Estrutura em flor positiva (Lowell, 1985).Positive tlower structure (Lowell, 1985).
89
1
90
A estrutura em flor negativa possui a geometria de um gráben (Figura 24). O aspecto distintivo
em relação a um gráben distensional típico é a tendência de se juntarem em profundidade as falhas
que constituem os limites da feição. Caso o perfil sísmico não permita esta observação, ficará muito
difícil caracterizar o movimento transcorrente aí existente.
Como critérios adicionais, de caráter geral, úteis no reconhecimento das falhas transcorrentes, po-
dem ser relacionados: 1) contraste dos tipos litológicos justapostos pela falha; 2) variação abrupta de
fácies (litológica/sísmica) e de espessura dentro de um mesmo intervalo estratigráfico; 3) deslocamen-
tos normais e reversos no mesmo perfil; 4) rejeito variável em magnitude e em sentido para diferentes
horizontes separados pela mesma falha; 5) mudança na relação bloco alto-bloco baixo ao longo do
traço da falha (Figura 25).
v - TECTÔNICA DISTENSIONAL
As regiões de falhas normais e blocos distensionais são, provavelmente, o estilo estrutural mais
comum (LoweIl, 1985); ocorrem nos estágios precoces de evolução de margens divergentes, nos centros
de espraiamento da crosta oceânica e em algumas regiões intraplaca.
As falhas normais caracterizam o estilo distensivo; sua gênese está ligada a um mecanismo de es-
tiramento crustal em que o triedro de esforços mostra o componente SIGMA 1 na posição vertical. Nessas
condições, assume importante papel o componente SIGMA 3, que define a "distensão regional", per-
pendicularmente à qual se desenvolverá o trende principal de falhas normais (Figura 26).
Embora ocorram, subordinadamente, em todos os estilos estruturais, é nas áreas de rifte que as
falhas normais encontram as condições ideais para seu pleno desenvolvimento. Lá, elas assumem um
-caráter Tegional, condicionando a própria evolução do- gráben em que estão implantadas.
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91
PRINCIPAIS CARACTERISTICAS
· Embasamento envolvido.
· ZPD (Zona principal de Deformação) vertical em
profundidade.
· Folhas subsidiárias divergem para cima.
R PERFIS SUCESSIVOS
l..l~;,/,~I
EMBASAMENTO CRISTALINO
/1- /~ ___L-_--
I b~f_V
FALHA NORMAL CAMPO DE TENSÕES BACIA DISTENSIONAL
92
2. ASPECTOS GEOMÉTRICOS DAS FALHAS NORMAIS
As falhas normais, num sistema distensional, podem assumir a geometria planar ou lístrica. Este
tema tem sido muito discutido, porém a tendência atual é admitir-se que a geometria lístrica é a mais
adequada no balanço geométrico da distensão crustal que acompanha o mecanismo de rifteamento.
As falhas planares, definindo blocos isolados entre cada dois planos adjacentes, criam problemas
de acomodação ao se prolongarem em profundidade, uma vez que, ao rotacionarem, os blocos criam
o "efeito dominó", deixando "vazios" em sua porção basal (Figura 27), que são preenchidos por bre-
chação, cataclase ou fluxo de material. Pode-se admitir que este arranjo geométrico sobreviva apenas
localmente dentro dos grabens, associado a falhas normais de pequena expressão.
A geometria listrica acomoda progressivamente a distensão crescente com a profundidade, deitando-se
paulatinamente até alcançar a posição horizontal; esta posição pode ser atingida em qualquer nível
crustal, seja no pacote sedimentar QU no embasamento, dependendo da importância da falha dentro
do contexto do rifte (Figura 28).
Uma característica marcante das falhas normais lístricas é a rotação que produzem nos estratos
do teto ("bloco baixo"), principalmente na região próxima ao plano do falhamento, criando a feição
conhecida como rollover (arrasto reverso).
As grandes falhas normais de geometria lístrica acabam em profundidade numa zona de cisalha-
mento horizontal, que separa as porções frágil/dúctil/da crosta. Na região de Basin and Range, este
nível encontra-se em torno de lOkm de profundidade, e constitui o basa! detachment surface (Eaton,
1980) (Figura 29).
Quanto à posição espacial, as falhas normais podem ser sintéticas ou antitéticas, com respeito a
terem seu plano mergulhando no sentido do mergulho regional da bacia ou contra ele, respectivamente
(Figura 30). Para alguns autores, porém, a classificação em sintética ou antitética é feita em função
da falha principal (borda) do gráben, sendo sintéticas as falhas de plano com mergulho no mesmo sen-
tido do mergulho daquela.
t---------------Il----- _
----------:-d-----1o-----------
C O
93
Fig. 29 - Modelo interpretativo da estrutura crustal sob um
rifte, mostrando o papel das falhas lístricas na acomodação da
distensão próximo à superfície (Eaton, 1980).
Interpretative model of crustaJ structure underneath a ritt,
showing the role of listric faults in accomodating extension dose
to lhe surface (Eaton, 1980).
-4
-8
-12
km o, 10
I
20
I
km
É muito difícil que a distensão crustal assuma magnitude igual ao longo de todo o strike de um
rifte, ou que as características lito-estruturais preexistentes na região não influam no evento ruptura!.
Por estes e outros motivos, a presença de falhas transcorrentes é fator de balanceamento mecânico du-
rante o rifteamento; uma vez que partes da fossa estejam sofrendo diferentes graus de extensão, as fa-
lhas transcorrentes acomodarão estas áreas de características distintas. Sob a influência de descontinui-
dades preexistentes, o rifte pode sofrer deflexões ao longo de sua direção de propagação, surgindo, as-
sim, os elementos de deslocamento horizontal (Figura 31).
Estes elementos transversais aos grabens em que se inserem correspondem, em escala regional, a
planos de cisalhamento nulo no conceito de Anderson (1951)de formação e desenvolvimento de falha-
mentos, uma vez que contém dois dos eixos do triedro principal de esforços. Por apresentarem movi-
mento transcorrente, co.m deslocamento de blocos essencialmente ao longo de planos verticais, as fa-
lhas transferentes marcam a direção de abertura das bacias distensionais. As irregularidades de seu pla-
no, manifestas por encurvamentos do traço da falha em planta, podem nuclear campos tensoriais se-
cundários em função do movimento transcorrente, com efeitos locais de características transpressionais
ou transtensionais (Figura 32).
Em termos quantitativos, o deslocamento direcional ao longo das falhas transferentes é igual ao
rejeito horizontal de mergulho das falhas normais a que se associam (Milani, 1989) (Figura 33), uma
vez que, geneticamente, há forte relacionamento entre elas.
Deve-se dar especial atenção quando da interpretação de falhas transferentes em bacias distensio-
nais, uma vez que ao longo delas podem originar-se todas as estruturas características da tectônica
transcorrente.
94
(fi - Tensõc compressive
secundória
0.75
0.5 -: .""' -,
./ ,,
025 -:
Rejeitos
h = horizontal de mergulho e = ãngulo de mergulho do pia no
Fig. 33 - Magnitude de deslocamento ao longo de uma falha t = tolal de falha.
transferente perpendicular a uma falha normal.
m= de mergulho cc;: = ângulo entre a falha transf!!
Amount of displacement along a trenster fault perpendicu- rente e a normal.
v = vertical
lar to a normal fau/t .. d = direcional
95
I
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