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ESTILOS ESTRUTURAIS EM BACIAS SEDIMENTARES

- REVISÃO CONCEITUAL

Edison José MILANI

Geólogo pela UFRGS (1977)


Mestre em Geologia pela UFOP (1985)
DEPEX/NEXPARISEINT - Curitiba/PR

ABSTRACT

This article is an overview of applicable concepts concerning to the geometric characterization of


structural assemblages commonly observed in sedimentary basins, also considering their genetic aspects
in relation to plate tectonics.
The structural style of a specific geologic province is defined by the association of existing ele-
ments and their spatial arrangement. Its characterization affects the predictability of locating preferred
areas for the occurrence of structures, which is highly desirable in expIoratory activity.
Based on key diagnostic characteristics, one can describe the predominant structural style of an
area during a particular tectonic phase. As a criterion for classification in this case, use has been made
of the spatial orientation of the stress field responsiblefordeforrnation, thereby recognizing:
a) compressional structural style, typical of the convergent boundaries of lithospheric plates; it
is characteristic of foId beIts dominated by thrust faults;
b) transcurrent structuraI style, originating at conservative plate boundaries and characterized by
a rich association of elements containing lateral displacement faults, thrust faults and normal faults,
as well as folds, in a well-defined geometric arrangement;
c) extensional structural style, characteristic of divergent plate boundaries, the domain of normal
faults that appear along grabens in areas where the continental crust is submited to rifting.

I - INTRODUÇÃO

Os elementos estruturais de uma determinada região organizam-se segundo normas ditadas pelos
campos de tensões atuantes quando de sua formação, estejam eles arranjados segundo um padrão
geométrico bem definido ou em uma distribuição espacial aparentemente caótica.
Estes campos tensoriais são originados, numa visão ampla, pela interação das placas litosféricas
deslocando-se na superfície do planeta.
Desta forma, os estilos estruturais básicos estão fortemente condicionados à cinemática das pla-
cas, cada tipo de limite entre elas estando caracterizado por uma determinada assembléia de elementos
geneticamente relacionados (Figura 1).
Os movimentos das placas litosféricas conduzem a três tipos básicos de limites entre elas: ao
romperem- e e se afastar, originam os limites divergentes; ao aproximarem-se e colidir, geram os limites
convergentes; deslocando-se lado a lado, as placas deslizam ao longo dos limites conservativos
(transformantes).

De RAlA GABAGLlA, G.P. e MlLANl, E.l. (Coords.). 1990. Origem e Evolução de Bacias Sedimentares. PETROBRÁS.
- .' .

75
ZONA DE FRATURA
---..:-==
~ALHA TRANSFORMANTE
CONTINENTE

Fig. 1 - Limites entre as placas litosféricas: A - convergente


(compressional); B - divergente (distensional); C - transformante
(conservativo) (Anderson, 1971).
Boundaries between lithospheric plstes: A - convergent
(compressionaJ); B - divergent (extensionsl); C - transform (con-
setvstive) (Anderson, 1971).

Cada estilo estrutural tem seu hábitat preferencial: as falhas normais caracterizam os limites diver-
gentes (ambiente distensivo), enquanto as falhas de empurrão e as dobras originam-se nas zonas de
colisão (ambiente compressivo). Falhas transcorrentes ocorrem, de preferência, nos limites transformantes
de placas.
Pode-se dizer, então, que o estilo estrutural" de uma determinada província geológica é definido
pela assembléia de elementos presentes (geneticamente relacionados numa mesma fase tectônica) e pelo
seu arranjo espacial característico; um determinado estilo repete-se em regiões de história tectônica se-
melhante. Numa última análise, o estilo de uma região descreve sua geometria estrutural predominante
(Lowell, 1985).
A caracterização do estilo estrutural de um~ área tem implicação quanto à previsibilidade de loca-
lização de estruturas; trendes de armadilhas petrolíferas são mais facilmente identificados e mapeados
ao se conhecer a gênese das estruturas que os constituem e, conseqüentemente, seu arranjo espacial,
que é resposta dos esforços responsáveis por seu aparecimento.
Embora os estilos básicos possam ser modificados em suas características por contingências lo-
cais, inerentes a uma determinada área, os parâmetros fundamentais de cada um deles são, em geral,
identificáveis. Tais modificações locais são freqüentemente promovidas por heterogeneidades litológi-
cas (contrastes de ductilidade) e zonas de fraqueza preexistentes, bem como pelas características do
evento tectônico considerado, tanto em intensidade quanto em duração e orientação espacial.
A moderna Geologia Estrutural tem na Mecânica das Rochas uma aliada muito importante; a re-
produção de um determinado. arranjo de elementos estruturais em escala de laboratório conduz a uma
compreensão dos processos atuantes, deixando claras as condições sob as quais tais estruturas foram
originadas.
Com todas as limitações envolvidas nos exercícios de modelagem, tais como as características físi-
cas dos materiais utilizados, velocidade de deformação e condições de contorno dos experimentos, a
essência da formação de estruturas está presente: para um determinado campo de tensões, origina-se
um determinado estilo de deformação. Neste sentido, torna-se clara, no desenrolar dos experimentos,
a relação de causa-e-efeito nas estruturas modeladas.

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De modo bastante simplificado, pode-se atribuir os elementos estruturais ocorrentes numa deter-
minada associação a um triedro de esforços compressivos principais (SIGMA 1, SIGMA 2, SIGMA 3),
que mantém relações angulares bem definidas com respeito às estruturas por ele originadas.
Na Figura 2, nota-se a relação entre o campo de esforços aplicado a uma amostra de rocha, levada
à ruptura num ensaio triaxial, e o padrão de fraturamento resultante. O que se observa é uma regra
básica para o falhamento: os planos de cisalhamento aparecem a cerca de 30° do eixo de máximo esfor-
ço compressivo (SIGMA 1) e contém o eixo do esforço compressivo intermediário (SIGMA 2); o eixo
do mínimo esforço compressivo (SIGMA 3) completa o triedro de confinamento do corpo de prova,
constituindo o campo de tensões, cuja posição espacial definirá o aparecimento de falhas normais, de
empurrão/reversas ou transcorrentes.

II - ESTILOS ESTRUTURAIS

1. IDENTIFICAÇÃO DOS ESTILOS

Caracterizar o estilo estrutural de uma determinada regiao consiste na definição de certas


características-chave, diagnósticas, tomadas como referências a partir de áreas bem conhecidas, onde
as mesmas estão seguramente descritas e interpretadas. Estes elementos serão os guias na identificação
do estilo estrutural, num exercício de tectônica comparativa.
A identificação do estilo estrutural predominante numa região, altamente desejável na atividade
exploratória, é uma tarefa freqüentemente dificultada devido à não-exclusividade de um determinado
elemento a uma única assembléia estrutural. Assim, por exemplo, falhas normais ocorrem, praticamente,
em todos os ambientes geotectônicos, sua simples presença não se constituindo em critério definitivo
para a caracterização do estilo regional.
Então, uma única característica não é suficiente para o diagnóstico do estilo estrutural com que
se está trabalhando. A-identifüõação depende fundamentalmente de: 1) reconhecimento dos elementos-
chave; 2) caracterização de peculiaridades locais; e 3) definição do padrão regional das estruturas (Lo-
weU, 1985).

Fig. 2 - Fraturas de cisalhamento desenvolvidas sob ensaio


de compressão uniaxial, e relacionamento entre os planos de
fratura e o campo de tensões responsável por seu desenvolvi-
mento (modificado de Loczy e Ladeira, 1976).

Shear fractures resulting irotn unisxisl compression testing,


und ttie relation between Irecture planes and the stress tield res-
ponsible for ptoducing [hem (modified fram Loczy & Ladeira,
1976).

77
Dentre os elementos-chave para o diagnóstico do estilo estrutural, o arranjo espacial das estrutu-
ras é de particular importância. Assim, uma distribuição en échelon consiste numa organização de ele-
mentos paralelos uns aos outros, mas posicionados obliquamente em relação à zona de deformação
em que ocorrem, existindo, também, uma superposição lateral consistente entre as estruturas da zona
(Figura 3); no padrão relay, os elementos estão paralelos entre si e ao trende regional de deformação,
sendo a superposição lateral entre as estruturas eventual (Figura 3).

2. CLASSIFICAÇÃO DOS ESTILOS

Existem classificações de estilos estruturais bastante abrangentes e bem elaboradas, tais como a
de Harding e Lowell (1979), cujo critério principal de organização é o envolvimento ou não do embasa-
mento na estrutura observada.
Neste trabalho, os elementos estruturais foram agrupados em função da orientação do campo de
tensões responsável por seu aparecimento.
Com base no triedro de esforços compressivos principais (Mecânica das Rochas), visualizam-se
três situações distintas:
a) SIGMA 1 em posição vertical, SIGMA 2 e SIGMA 3 no plano horizontal - condição de forma-
ção de falhas normais (Figura 4A), caracterizando o estilo distensional;

Fig. 3 - Características distintivas entre os padrões estruturais:


A - en échelon; B - reJay.

Distinctive characteristics between structural arrangements:


A - en échelon; B - relay.

78
(C) Ú3
S(MINl
62
snNTl
--- (8 )
-c
(Íl Ú,
s(MAXl 62 S(MAXl
-;> sUNTl
,. -- ,.1

_-I - - -
;-
,. I
--- ,
;-
,.? ,- ,
,- I
,-
/.,~
FALHA DE EMPURRÃO
Ú3
S(MINl

VI
(A) S(MAXl

.. FALHA TRANSCORRENTE

ESFORÇOS COMPRESSIVOS PRINCIPAIS:

S(MAXl e MAXIMO

S(INT) :: INTERMEDIÁRIO

S(MINl :: MINIMO

FALHA NORMAL

Fig. 4 - Relacionamento geométrico entre os planos conjuga-


dos de cisalhamento e os eixos de tensões compressivas princi-
pais (Anderson, 1951).
Geometric relation between conjugate shear planesand
main compressive stress axes (Anderson, 1951).

b) SIGMA 2 em posição vertical, SIGMA 1 e SIGMA 3 no plano horizontal- originam-se falhas


de rejeito direcional sob este campo de tensões (Figura 4B) (estilo transcorrente);
c) SIGMA 3 em posição vertical, SIGMA 1 e SIGMA 2 no plano horizontal - arranjo tensorial
que gera falhas de empurrão/reversas (Figura 4C), num estilo compressional.
Estas três situações coincidem com a classificação de falhas de Anderson (1951).A ocorrência pre-
dominante de um destes elementos-chave (falhas normais, empurrão/reversa ou transcorrente) numa
certa área definirá o estilo desta.

IH - TECTÔNICA COMPRESSIONAL

1. AMBIÊNCIA GEOTECTôNICA

o estilo compressional é característico dos limites convergentes de placas; no passado geológico,


encontra-se registrado nos orógenos.

79
,

.Secundariamente, o estilo compressivo é encontrado associado a instrusões ígneas ou sedimenta-


res, em escorregamentos de larga escala e em condições de transpressão (Suppe, 1985).

2. MECÂNICA DO ESTILO COMPRESSIONAL

Os elementos estruturais característicos destes ambientes são os empurrões e as dobras, estruturas


estas geradas coaxialmente pelo campo de tensões mostrado na Figura 5. Estando o máximo esforço
compressivo no plano horizontal, o material a ele submetido tende a "fugir" segundo uma direção
de alívio, e esta coincide com a vertical, na qual se posiciona o mínimo esforço compressivo; daí
originarem-se os empurrões e as dobras nestes ambientes.
Duas características deforrnacionais dentro deste estilo são o encurtamento e o soerguimento (uplift)
crustais em função da compressão no plano horizontal dissipada segundo o eixo vertical (Figura 6).
No contexto de bacias sedimentares, inversões estratigráficas são bastante comuns sob condições
compressionais, podendo ocorrer inclusive cavalgamentos do embasamento sobre a seção sedimentar,
em condições bastante peculiares (Figura 7).
Falhas transcorrentes são comuns em faixas dobradas, em resposta ao mesmo esforço compressivo
que origina os empurrões e dobras; aparecem devido a uma permutação entre os esforços intermediário

I~
FALHA QE ;MPUR.RÃO CAMPO DE TENSÕES BACIA COMPRESSIONAl (CONVERGENTE)

Fig. 5 - Relação entre o ambiente geotectônico, a estrutura ca-


racterística e o campo de tensões de regiões com pressionais (He-
fu, 1986).

Relation among geotectonic environment, cherecteristic


structure, and the stress field of compressiona/ regions (Hetu,
/986).

CINTURÃODE DOBRAS
/ FALHASREVERSAS ANTE- PAís
rCAMADA SEDIMENTAR-jl I------SEDIMENTOS + EMBASAMENTO-----j

LO---------------l
Fig. 6 - Encurtamento e uplitt em zonas de empurrão (Lowell,
1983). Lo = comprimento original da seção considerada;
LI = comprimento pós-deformação; 21070 = encurtamento
crustal.
Shortening and up/ift in thrust zones (Lowell, 1983).
Lo =. original /enght of section; L1 = post-deformation
/enght;21% = crusta/ shortening.

80
Fig. 7 - Seção sísmica da Bacia de Green River, Wyoming,
EUA, mostrando um cavalgamento do embasamento cristalino
sobre a seção sedimentar fanerozóica (Lowell, 1985).
Seismic section of Green River bssin, Wyoming (USA), sho-
wing thrusting of the crystalline basement above the Phanero-
zoic sedimentary section (Lowell, 1985).

- -
e mínimo, quando o SIGMA 3 assume a posição horizontal. Estabelecem-se, dessa forma, condições
de cisalhamento puro (irrotacional) (Figura 8).
Outros elementos que podem aparecer são as falhas transferentes (Dahlstrom, 1969); estas, tam-
bém conhecidas como tearfaults, conectam segmentos deslocados da frente de empurrão. Caracterizam-se
por rejeito direcional, mas sua mecânica é substancialmente distinta daquela apresentada pelas falhas
transcorrentes descritas no parágrafo anterior. Por serem planos que contêm dois dos eixos de esforços
compressivos principais do triedro, as falhas transferentes são superfícies de cisalhamento nulo, servin-
do de elementos de acomodação de movimentações diferenciais ao longo do strike da zona de colisão
(Figura 9).

IV - TECTÔNICA TRANSCORRENTE

1. AMBIÊNCIA GEOTECTÔNICA

Os limites conservativos de placas, tais como Santo André (Califórnia) e o lineamento do Mar
Morto (Oriente Médio) (Figura 10), são a própria expressão da tectônica do tipo transcorrente. Nessas
áreas, as placas litosféricas, deslocando-se lado a lado, originam uma assembléia de elementos estrutu-
rais intimamente relacionados entre si e distribuídos num padrão geométrico bem definido.

2. MECÂNICA DO ESTILO TRANSCORRENTE

Em termos de campos de tensões, a tectônica transcorrente é produto de um arranjo em que os


componentes máximo e mínimo (SIGMA 1 e SIGMA 3) do triedro principal estão no plano horizontal,

81
Fig. 8 - Características geométricas do cisalhamento puro
. (irrotacional) ..
Geometrical cherectetistice of pure shesr (irrotational).

Falha transcorrente.

Falha de empurrão.

Falha normal, gróben, fratura Fig. 9 - Diagrama esquemático mostrando o inter-


dlstensiva, dique. relacionamento entre as falhas transferentes e a frente de em-
purrão descontínua. Neste exemplo, o movimento ao longo da
Eixo de dobra falha transferente é responsável pela implantação da Bacia de
Viena (Royden, 1985).
Schematic diagram showing interrelationship between trens-
terfaults and the discontinuous thrust front. In this example,
movement along the trsnsier fault is responsible for creating lhe
Vienna basin (Royden, 1985).

PLATAFORMA
EUROPÉIA

-------,.--
;"
-- EMPURRÃO
ATIVO
,"

I "FIXO"
I

----.'1
I
1
------:,
EMPURRÃO
•I
I INATIVO
I
-----1
!
,
I
..•

82
A B

principal

.. ---
:.:.: .
o 300km

Placa norte-americana
MAR MEDITERRÂNEO

,
~, ,
"' -,
li1l-'-- -,
,"
Placa pncrf ico '" " N

PLACA
ARÁBICA
t IOOkm
O ,
I

t;I = Movimenlo relativo


Fig. 10 - A - a falha de Santo André, EUA (Suppe, 1985); B • = ois lensõo regional
- o lineamento do Mar Morto, Oriente Médio (modificado de
/ = Falhas
Garfunkel, 1981).
;<' = Dobras
A - The San Andreas fau/t (USA) (Suppe, 1985); B - Lince-
ment ofthe Dead sea, MiddJe East (modified from GarfunkeJ,
o= Vu Icõnicas

00 . 1981).
W
enquanto o SIGMA 2, o componente intermediário, está contido no plano da falha, que é, portanto,
vertical (Figura 11). - - - - - - - --
Em termos de movimentação relativa entre os blocos, a falha transcorrente é dita direita, dextrogi-
ra, dextral, right slip ou right lateral quando o observador, posicionado num dos blocos, caracteri-
zar o deslocamento do bloco oposto para a direita; caso contrário, a falha será esquerda, levogira, si-
nistral, left lateral ou left slip (Figura 12).
A mecânica do falhamento transcorrente baseia-se na atuação de um binário cisalhante (shear couple)
numa determinada região (Figura 13). O binário representa, em última essência, o movimento entre
os dois blocos adjacentes ao longo da falha transcorrente fundamental. Este deslocamento, profunda-

FALHA TRANSCORRENTE GRÁBEN RÔMBICO

CAMPO DE TENSÕES

Fig. 11 - Relação entre o ambiente geotectônico, a estrutura


característica e o campo da tensões em áreas de wrench (Hefu,
1986).
Relation between the geotectonic environment, cherecte-
ristic structure and stress field in wrench erees (Hetu, 1986).

Fig. 12 - Caracterização do movimento ao longo de falhas


transcorrentes: A - dextrogira; B - sinistrogira.
Characterization oi' movement along transcurrent faults:
A - dextral; B - sinistral. A B

~ 8'"6r10 d. cl.olho"'.nto (-,h.or toupl.-).

s
fOlho tr e n s c c r r e n t e sint.tica.

_-----:::=--_A=. Fo lho tro ".corr. nh ontlt'tieo.

*--------------,
\ ---''-----'----'-_ Folha fto,",ol, V'Óbe", froturo di'te".iYo, dique.

\
I
~ Falho eM .mpurr~o, eixo d. dobro.

,
J
I
*-----....;....-------- __ :-- - ...•. Sentido d. rotaçao do. elemento. no ~fonl'toç.c1o
progr.s,ivo.

*
Fig. 13 - Características geométricas do cisalhamento simples-
(rotacional).
Geometric characteristics oi simple shear (rotational).

84
mente enraizado no embasamento, origina uma deformação com características peculiares nos níveis
próximos à superfície, à qual se associa uma série de elementos num padrão geométrico bem definido
(Figura 13).
A deformação produzida por este binário caracteriza condições de cisalhamento simples (rotacio-
nal), uma vez que, com o movimento progressivo, os elementos previamente formados vão sendo rota-
cionados e têm sua posição original alterada (Figura 14).
A deformação produzida pelo binário pode ser visualizada, geometricamente, como a transforma-
ção de um círculo (estado não deformado) numa elipse por um mecanismo de cisalhamento; a esta
relacionam-se todos os elementos estruturais envolvidos no estilo (Figura 15). A fratura "P" é o último
elemento a aparecer no sistema, representando a emergência do movimento profundo e caracterizando
estágios avançados do processo de formativo.
Embora esse padrão geométrico seja bastante característico de deformação por transcorrência, al-
guns aspectos exercem influência decisiva no produto final: 1) a magnitude do deslocamento; 2) as pro-
priedades intrínsecas dos materiais submetidos à deformação; e 3) a configuração estrutural preexis-
tente na região.

-
Deformação
progressivamente
maior.

-
-

-
Fig. 14 - Rotação de elementos no cisalhamento simples. C
- compressão; D - distensão; T - empurrões; F - eixos de do-
bras; V - fraturas distensivas; N - falhas normais; R - transcor-
rentes sintéticas; R' - transcorrentes antitéticas.
Rotations of elements in simple shear. C - compression; D -
extension; T - thrusts; F - fold axes; V - extensive trsctures; N -
normal faults; R - synthetic transcurrent faults; R' - antithetic
trsnscurrent faults.

85
A
•••••••
~~----
" .<"'0.
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I
I
1
I
I
• 1
"':.>. I
0,1
- Fratura "pu

:JRI

c - Vetor de compressão

0- Vetor de distensão .....-'


RI- Rotação interna
RI c

~ o)
Fig. 15 - A - relação entre a elipse de deformação e os elemen-
tos estruturais originados por um binário de cisalhamento dex-
trogiro (Harding, 1974); B - a elipse representa o estado defor-
mado de uma figura originalmente circular submetida ao biná-
rio cisalhante.
A - Relationship between deformation ellipsoid and struc-
rural elements resulting irom a dextrsl shear couple (Harding,
1974); B -;the ellipse represents the deformed stste of an origi-
nal/y circular figure submitted to the shesr couple.

3. TRANSPRESSÃO, TRANSTENSÃO E MOVIMENTO PARALELO

Ao longo do plano de uma falha transcorrente, a movimentação relativa entre os blocos pode se
dar de três maneiras: paralela, convergente ou divergente. Movimento paralelo, ou puramente transcor-
rente, é o menos comum, necessitando, neste caso, ser o traço da falha rigorosamente reto, e o desloca-
mento absoluto, de ambos os blocos, ocorrer segundo uma direção também paralela ao traço da falha
(Figura 16A).
Situações mais comuns são as que envolvem tendências convergentes ou divergentes entre os dois
blocos adjacentes, caracterizando condições de, respectivamente, transpressão e transtensão (Harland,
1971). Estes fenômenos geram efeitos secundários associados ao movimento transcorrente, mesmo
considerando-se o deslocamento ao longo de uma falha de traço relativamente retilíneo (Figura 16B-C).
Sob condições de transpressão, originam-se estruturas compressionais tais como pop-ups, falhas
reversas, empurrões, dobras e blocos soerguidos (Figura 17), enquanto a transtensão promove a subsi-
dência de blocos por meio de falhas normais, num ambiente localmente distensiona1.
Ocorrem efeitos semelhantes sempre que o traço da falha transcorrente mostrar deflexões, sejam
elas favoráveis ao movimento (transtensional, releasing bend) ou contrárias a ele (transpressional, res-
training bend) (Figuras 16D e 17).
Dobramentos en échelon ao longo da zona de deformação são bastante característicos da tectôni-
ca cisalhante; a Figura 18 mostra exemplos desta estrutura.

86
[A] [B] [c] P
[D]
c

-, \
P Paralelo
Paralelo Convergente Divergente
C = Convergente
D = Divergente

Fig. 16 - Características dos movimentos ao longo de falhas


transcorrentes de traço reto: A - paralelo; B - convergente; C
Placa norte-americana
- divergente, e de traço sinuoso (D).
Characteristics of movements along rectilinear transcurrent
faults; A - paralle1;B - convergent; C - divergent; and D - along
a sinuous fault.
,
Fig. 17 - Soerguimento de blocos crus tais em função de sinuo-
sidades no traço da falha de Santo André (Anderson, 1971).
Uplift of crust blocks based in deflections of the San An-
dreas fault plane (Anderson, 1971).

Placa pacífica Fig. 18 - Dobras en échelon, produtos de binários de cisalha-


mento: A - experimento em argila, binário dextrogiro (Wilcox
et al., 1973);B - Darien Basin, Panamá, binário sinistrogiro (Wil-
cox et sl., 1973).
En échelon tolâs, lhe result of shear couple: A - experi-
ment with-clay, dextral couple (Wilcox et sl., 1973); B - Darien
basin (Panama), sinistral couple (Wilcox et a1., 1973).

87
4. SEDIMENTAÇÃO ASSOCIADA A FALHAS TRANSCORRENTES

Ao longo de falhas transcorrentes, as condições transtensionais geram bacias sedimentares de ca-


racterísticas bastante peculiares. Conhecidas como bacias transtensionais, pu/l-apart basins, strike-slip
basins ou rhomb-grabens, estas áreas deprimidas têm geometria alongada ou aproximadamente losan-
guIar, mostrando uma migração bem definida de seu depocentro, que acompanha o deslocamento de
seu substrato, constituído por um dos blocos da falha (Figura 19A). Este fato está bem caracterizado
no Mar Morto (Figura 19B).
Blick e Biddle (1985) apontam alguns aspectos distintivos das bacias transtensionais com respeito
ao registro estratigráfico que as preenche: 1) evidências de episódios de rápida subsidência, registrados
por seções estratigráficas espessas; em algumas seções marinhas, caracterização de aprofundamento
muito rápido; 2) mudanças laterais de fácies muito abruptas e abundantes discordâncias locais; 3) dife-
renças marcantes na espessura sedimentar, geometria de fácies e na ocorrência de discordâncias de uma
bacia para outra na mesma região.

Mar Morto

10kJ =.=. :;::.


~';:;..::;.::::::
..:::::.;:.:::. =:..:.,.:..:::::SQ~1~.~~~,
'=-::::;::" ':;::.: .~2~ ••7>:;, :;> :;s--s- §~_~p~e:2~_1s~=
••~.~-~.~~
~':'

carbonatos halita . .. [tire<! beds"


ES3 Fm.Amora [ elásticos ~ Fm. Sedom llipsita O Fm. Hazeva carbonatos
[
........-- Folha norma
.3 Poçós ~ Falha transcorrente

Fig. 19 - Migração de depocentros na fossa do Mar Morto,


em função do deslocamento ao longo da falha transcorrente em
que a bacia está alojada. A· esquema de formação da bacia
(Manspeizer, 1985);B . mapa e seção longitudinal do Mar Morto
(Garfunkel, 1981).
Depocenter migration in the Dead sea graben, based on dis-
placement along lhe transcurrent teult where lhe basin is toes-
ted. A . Diagram of basin Iormetion (Manspeizer, 1985); B .
map and longitudinal section of Dead sea (Gsrtunkel, 1981).

88
5. EXPRESSÃO SÍSMICA DE FALHAS TRANSCORRENTES

Por ser uma observação efetuada num plano vertical, o perfil sísmico se presta otimamente para
caracterizar deslocamentos também verticais ao longo de falhas; decorre daí a dificuldade em se diag-
nosticar a presença de falhas transcorrentes por meio desta ferramenta. Um estudo abrangente deste
tema foi apresentado por Zalán (1986).
Nos últimos anos, tem sido identificada uma feição estrutural que pode ser considerada a "assina-
tura" sísmica das falhas de rejeito direcional: trata-se da "estrutura em flor"; sua geometria mostra,
em profundidade, a presença de uma falha única que tende a ser vertical, representando o limite funda-
mental entre os dois blocos. Para cima, esta falha principal ramifica-se, alargando a zona de deforma-
ção (Figura 20).
Dependendo da característica do movimento - convergente ou divergente - ao longo da falha,
a estrutura em flor pode ser positiva ou negativa. A estrutura em flor positiva assemelha-se a um do-
bramento ou arqueamento positivo, podendo associar falhas reversas/empurrões em seu bojo (Figura
21). Esta feição positiva é conhecida como pop-up, sendo constituída pelo material injetado para cima
devido à transpressão (Figuras 22 e 23).

-~.--.-- - - - ---

_~o
.=-=:----
E
o---~-- o

.-. ~
- l/J

00-0 ::

I
T

Fig. 20 - Corte de um experimento de falha transcorrente, mos-


trando a ramificação para cima da estrutura principal. O rejei-
to normal associado é devido ao caráter divergente do movi-
mento (Emmons, 1969).
Section oi' a transcurrent-fault experiment showing upward
branching ot main structure. The associated normal slip is due
to the divergent nature of the movement (Emmons, 1969).

Fig. 21 - Estrutura em flor positiva (Lowell, 1985).Positive tlower structure (Lowell, 1985).

89
1

Fig. 22 - Diagrama conceitual mostrando o efeito de pop-up


ao longo de uma falha transcorrente dextrogira convergente. A
cunha central é "injetada" para cima, definindo uma zona soer-
guida associada ao movimento horizontal (Lowell, 1985).
Conceptual diagram showing pop-up effect along a con-
vetgent dextral transcurrent fault. The central wedge is injected
upward, defining an uplifted zone associated with horizontal
movement (Lowel/, 1985).

Fig. 23 - Experimento em argila, mostrando um pronuncia-


do relevo (pop-up) desenvolvido ao longo de uma falha trans-
corrente dextrogira convergente (Lowell, 1985).
Clay experiment showing pronounced relief (pop-up) pro-
duced aJong a convergent dextra/ transcurrent fault (LowelJ,
/985).

90
A estrutura em flor negativa possui a geometria de um gráben (Figura 24). O aspecto distintivo
em relação a um gráben distensional típico é a tendência de se juntarem em profundidade as falhas
que constituem os limites da feição. Caso o perfil sísmico não permita esta observação, ficará muito
difícil caracterizar o movimento transcorrente aí existente.
Como critérios adicionais, de caráter geral, úteis no reconhecimento das falhas transcorrentes, po-
dem ser relacionados: 1) contraste dos tipos litológicos justapostos pela falha; 2) variação abrupta de
fácies (litológica/sísmica) e de espessura dentro de um mesmo intervalo estratigráfico; 3) deslocamen-
tos normais e reversos no mesmo perfil; 4) rejeito variável em magnitude e em sentido para diferentes
horizontes separados pela mesma falha; 5) mudança na relação bloco alto-bloco baixo ao longo do
traço da falha (Figura 25).

v - TECTÔNICA DISTENSIONAL

1. OCORRÊNCIA, AMBIÊNCIA GEOTECTÔNICA


E MECÂNICA DO ESTILO DISTENSIONAL

As regiões de falhas normais e blocos distensionais são, provavelmente, o estilo estrutural mais
comum (LoweIl, 1985); ocorrem nos estágios precoces de evolução de margens divergentes, nos centros
de espraiamento da crosta oceânica e em algumas regiões intraplaca.
As falhas normais caracterizam o estilo distensivo; sua gênese está ligada a um mecanismo de es-
tiramento crustal em que o triedro de esforços mostra o componente SIGMA 1 na posição vertical. Nessas
condições, assume importante papel o componente SIGMA 3, que define a "distensão regional", per-
pendicularmente à qual se desenvolverá o trende principal de falhas normais (Figura 26).
Embora ocorram, subordinadamente, em todos os estilos estruturais, é nas áreas de rifte que as
falhas normais encontram as condições ideais para seu pleno desenvolvimento. Lá, elas assumem um
-caráter Tegional, condicionando a própria evolução do- gráben em que estão implantadas.

si:::::;g~~:5~",#~~~~~J:;~~"'I~"'~=i~',:,,~
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~ .•_I~ ..,..fn:.::<lflmCJ"·;~t.·~,, ~~r"III~.'IJ'-""f'or.rt::~I~;~~~I~~~~:1

.< .. ~ .

Fig. 24 - Estrutura em flor negativa (Bally, 1983).

Negative Ilower structure (Bal/y,1983).

91
PRINCIPAIS CARACTERISTICAS
· Embasamento envolvido.
· ZPD (Zona principal de Deformação) vertical em
profundidade.
· Folhas subsidiárias divergem para cima.

ROCHAS JUSTAPOSTAS PELA


ZONA DE FALHA
· Contraste de tipos litológicos.
Variação abrupta de fácies e de espessura numa
determinada unidade estratigráfica.

REJEITO REJEITOS EM PERFIL


N - NORMAL · Normais e reversos no mesmo corte.
R - REVERSO
· Magnitude e sentido de deslocamento vanaveis
para diferentes horizontes deslocados pela
mesma folha.

R PERFIS SUCESSIVOS

· Mergulho variável, tanto em direção quanto em


valor angular, para uma determinada falha.
· Magnitude e sentido de deslocamento variável
para um mesmo horizonte separado por uma
ZPD
falha

l..l~;,/,~I
EMBASAMENTO CRISTALINO

Fig. 25 - Características e critérios de reconhecimento de zo-


nas transcorrentes em perfis (corte idealizado, Blick e Biddle,
1985).

Characteristics and criteria for tbe reconnaissance oftrans-


current zones in profiles (ideaJizedsection, Blick & Biddle, 1985).

/1- /~ ___L-_--
I b~f_V
FALHA NORMAL CAMPO DE TENSÕES BACIA DISTENSIONAL

Fig. 26 - Relação entre o ambiente geotectônico, a estrutura


característica e o campo de tensões em áreas distensionais (He-
fu, 1986).
Re1ation between geotectonic environment, characteristic
structure and stress field in extensiona1 areas (Hetu, 1986).

92
2. ASPECTOS GEOMÉTRICOS DAS FALHAS NORMAIS

As falhas normais, num sistema distensional, podem assumir a geometria planar ou lístrica. Este
tema tem sido muito discutido, porém a tendência atual é admitir-se que a geometria lístrica é a mais
adequada no balanço geométrico da distensão crustal que acompanha o mecanismo de rifteamento.
As falhas planares, definindo blocos isolados entre cada dois planos adjacentes, criam problemas
de acomodação ao se prolongarem em profundidade, uma vez que, ao rotacionarem, os blocos criam
o "efeito dominó", deixando "vazios" em sua porção basal (Figura 27), que são preenchidos por bre-
chação, cataclase ou fluxo de material. Pode-se admitir que este arranjo geométrico sobreviva apenas
localmente dentro dos grabens, associado a falhas normais de pequena expressão.
A geometria listrica acomoda progressivamente a distensão crescente com a profundidade, deitando-se
paulatinamente até alcançar a posição horizontal; esta posição pode ser atingida em qualquer nível
crustal, seja no pacote sedimentar QU no embasamento, dependendo da importância da falha dentro
do contexto do rifte (Figura 28).
Uma característica marcante das falhas normais lístricas é a rotação que produzem nos estratos
do teto ("bloco baixo"), principalmente na região próxima ao plano do falhamento, criando a feição
conhecida como rollover (arrasto reverso).
As grandes falhas normais de geometria lístrica acabam em profundidade numa zona de cisalha-
mento horizontal, que separa as porções frágil/dúctil/da crosta. Na região de Basin and Range, este
nível encontra-se em torno de lOkm de profundidade, e constitui o basa! detachment surface (Eaton,
1980) (Figura 29).
Quanto à posição espacial, as falhas normais podem ser sintéticas ou antitéticas, com respeito a
terem seu plano mergulhando no sentido do mergulho regional da bacia ou contra ele, respectivamente
(Figura 30). Para alguns autores, porém, a classificação em sintética ou antitética é feita em função
da falha principal (borda) do gráben, sendo sintéticas as falhas de plano com mergulho no mesmo sen-
tido do mergulho daquela.

Fig. 27 - O "efeito dominó" causado por falhas normais pla-


nares (Wernicke e Burchfiel, 1982).
"Domino effect" caused by normal planar faults (Wemicke
& Burchtiel, 1982).

"gap" Fig. 28 - Aspectos geométricos das falhas normais lístricas


(Gibbs, 1983).
Geometrical aspects af normal listric faults (Gibbs, 1983).

t---------------Il----- _
----------:-d-----1o-----------

C O

ÁREAS A=B=C "'- Superflcie de


descolamento
o = profundidade do descolomento
d = distensão no superfrcie (11-lol

93
Fig. 29 - Modelo interpretativo da estrutura crustal sob um
rifte, mostrando o papel das falhas lístricas na acomodação da
distensão próximo à superfície (Eaton, 1980).
Interpretative model of crustaJ structure underneath a ritt,
showing the role of listric faults in accomodating extension dose
to lhe surface (Eaton, 1980).

Fig. 30 - Seção geológica esquemática dos grabens do Recôn-


cavo e Tucano Sul, mostrando a interveniência de falhas nor-
mais sintéticas e antitéticas (Milani, 1987).

Schematic geoJogical section of grabens in the Recôncavo


and Tucano SuJ areas, showing presence of normal synthetic and
entitlietic fauJts (Milsni, 1987).

-4

-8

-12
km o, 10
I
20
I

km

3. FALHAS TRANSCORRENTES EM AMBIENTE DISTENSIONAL

É muito difícil que a distensão crustal assuma magnitude igual ao longo de todo o strike de um
rifte, ou que as características lito-estruturais preexistentes na região não influam no evento ruptura!.
Por estes e outros motivos, a presença de falhas transcorrentes é fator de balanceamento mecânico du-
rante o rifteamento; uma vez que partes da fossa estejam sofrendo diferentes graus de extensão, as fa-
lhas transcorrentes acomodarão estas áreas de características distintas. Sob a influência de descontinui-
dades preexistentes, o rifte pode sofrer deflexões ao longo de sua direção de propagação, surgindo, as-
sim, os elementos de deslocamento horizontal (Figura 31).
Estes elementos transversais aos grabens em que se inserem correspondem, em escala regional, a
planos de cisalhamento nulo no conceito de Anderson (1951)de formação e desenvolvimento de falha-
mentos, uma vez que contém dois dos eixos do triedro principal de esforços. Por apresentarem movi-
mento transcorrente, co.m deslocamento de blocos essencialmente ao longo de planos verticais, as fa-
lhas transferentes marcam a direção de abertura das bacias distensionais. As irregularidades de seu pla-
no, manifestas por encurvamentos do traço da falha em planta, podem nuclear campos tensoriais se-
cundários em função do movimento transcorrente, com efeitos locais de características transpressionais
ou transtensionais (Figura 32).
Em termos quantitativos, o deslocamento direcional ao longo das falhas transferentes é igual ao
rejeito horizontal de mergulho das falhas normais a que se associam (Milani, 1989) (Figura 33), uma
vez que, geneticamente, há forte relacionamento entre elas.
Deve-se dar especial atenção quando da interpretação de falhas transferentes em bacias distensio-
nais, uma vez que ao longo delas podem originar-se todas as estruturas características da tectônica
transcorrente.

94
(fi - Tensõc compressive
secundória

Fig. 32 - Relacionamento das falhas transferentes com o campo


de tensões principal que dá origem à bacia distensional.

B ReJation between transfer faults and main sttess field pro-


ducing extensionaJ basin.
rh rt . cos e = (r •. sen e l. cos e
rd rh. sen O<

Fig. 31 - Falhas transferentes associadas aos riftes: A - aco-


modando regiões de taxas de distensão crustal diferentes (He-
fu, 1986); B - conectando porções deslocadas do eixo de um rifte
(Bally e Snelson, 1980).

Ttsnster faults associated with rifts: A - accomodating re-


gions with differing rales of crustal extension (Hefu, 1986); B -
connecting displaced parts of a riit axis (Bally & Snelson, 1980).

0.75

0.5 -: .""' -,
./ ,,
025 -:

0° ISO 30° 45° 60° 75° 90"


(9,0()

Rejeitos
h = horizontal de mergulho e = ãngulo de mergulho do pia no
Fig. 33 - Magnitude de deslocamento ao longo de uma falha t = tolal de falha.
transferente perpendicular a uma falha normal.
m= de mergulho cc;: = ângulo entre a falha transf!!
Amount of displacement along a trenster fault perpendicu- rente e a normal.
v = vertical
lar to a normal fau/t .. d = direcional

95
I

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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