Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DIACLASES
7.1. INTRODUÇÃO
Diaclases (ou juntas) são superfícies de rotura de uma rocha, ao longo das quais não se
regista um apreciável movimento relativo dos blocos que separam. Distinguem-se, portanto, das
falhas por não darem lugar a qualquer rejeito (Fig.7.1).
Tipicamente, são planas (ou aproximadamente planas).
211
Se, por vezes, se observam diaclases em rochas que não patenteiam qualquer
deformação, mais frequentemente associam-se a outras estruturas, quer típicas de um
comportamento frágil (falhas), quer típicas de um comportamento dúctil (dobras).
Se bem que as diaclases não se relacionem, directamente, com os estados de tensão que
deformaram ductilmente as rochas onde ocorrem, elas exibem, frequentemente, uma incidência e
uma atitude relacionável com as estruturas resultantes daquela deformação dúctil. Provavelmente,
formar-se-ão nas fases terminais dos episódios tectónicos, ou mais tarde.
Na descrição das diaclases ocorrentes numa dada área, atende-se, habitualmente, aos
seguintes aspectos: forma de ocorrência, dimensão, orientação, frequência, abertura,
preenchimento e rugosidade. Vejamos cada um deles.
212
7.2.2. Dimensão
A dimensão das superfícies de diaclasamento (ou, como é habitual, dos seus traços
medidos no terreno ou em fotografia aérea) pode variar desde as menores dimensões observáveis
até uma extensão da ordem da centena ou, mesmo, do milhar de metros.1
A classificação das diaclases, quanto à sua dimensão, é muito subjectiva: varia de autor
para autor e de área para área, dependendo muito do objectivo em vista. Os autores de língua
inglesa usam, frequentemente, os seguintes termos para hierarquizar, relativamente à sua
dimensão, as diaclases de uma dada área: master- (mestras), major- (maiores ou principais) e
minor-joints (menores).
7.2.3. Orientação
No caso de uma projecção estereográfica (Fig.7.2), em vez da rede de Wulff, usa-se uma
rede de igual-área (rede de Schmidt) por ser a mais adequada à análise estatística das
distribuições dos pólos dos planos e, consequentemente, será a adoptada quando se pretende
definir linhas de igual densidade de pólos.2 Essas linhas correspondem a diferentes classes de
frequência, a estabelecer caso a caso, sendo as frequências determinadas através da contagem
do número de pólos de diaclases observados em torno de cada direcção do espaço.
1
Habitualmente, contudo, fracturas análogas às diaclases e outras, quando microscópicas designam-se, genericamente,
por microfracturas.
2
A rede de Schmidt é uma modificação da rede de Wulff, tal que áreas iguais, definidas na esfera de prejecção, se
projectam segundo áreas iguais.
213
Fig.7.2- Projecção estereográfica dos pólos de planos estruturais e correspondentes linhas de igual densidade.
2
a) Projecção polar de 300 planos e contagem dos pólos junto de cada nó da rede de quadrados com 1cm de área.
b) Linhas de igual densidade de pólos : traçaram-se as correspondentes a 13% (39 pólos), 10% (30 pólos),
7% (21 pólos), 4% (12 pólos), 1% (10 pólos) e 0,33%(1 pólo)
Nos histogramas circulares, as diaclases são repartidas em classes definidas pelas suas
direcções, enquanto que as correspondentes inclinações poderão ser assinaladas à margem.
Nesses histogramas, além de diaclases, poderão incluir-se outros elementos direccionais,
em particular, outros planos estruturais (falhas, xistosidade e outras foliações). Na Fig.7.3
exemplificam-se alguns diagramas deste tipo.
214
As diaclases apresentam, frequentemente, atitudes relacionáveis com outras estruturas.
No caso de dobras, as atitudes típicas das fracturas que se lhes associam estão ilustradas na
Fig.7.4.
215
tensões efectivas, durante o afundamento e subsequente levantamento de uma bacia sedimentar.
(Ibidem)
7.2.4. Frequência
As diaclases são mais frequentes nas zonas mais intensamente deformadas. Estudos
comparativos da frequência do diaclasamento em diferentes áreas de uma mesma estrutura
dobrada indicam que os seus valores mais elevados se encontram nos pontos de máxima
curvatura dessas estruturas. Igualmente, verifica-se que a frequência do diaclasamento aumenta
na proximidade das grandes falhas. Uma outra ocorrência comum é a diminuição da incidência do
diaclasamento observado num maciço rochoso, à medida que a profundidade aumenta.
Quanto à litologia, verifica-se que as diaclases são mais frequentes nas rochas mais
competentes. Por outro lado, nas rochas estratificadas de um mesmo tipo litológico, o
espaçamento das diaclases tende a ser proporcional à possança dessas camadas (Fig.7.6).
Fig.7.6- Variação do espaçamento das diaclases com a possança das bancadas, observada em três regiões
diferentes (In. N.J. Price, 1966).
216
217
7.2.5. Abertura, preenchimento e rugosidade
Por abertura de uma diaclase entende-se a separação entre os blocos divididos pela
fractura, medida perpendicularmente ao plano de diaclasamento.
Em rochas pouco meteorizadas, a abertura das diaclases é praticamente nula. Assim, num
maciço rochoso, a abertura de uma diaclase tende a diminuir com a profundidade, acabando por
se tornar perfeitamente fechada e a desaparecer.
Quando abertas, são preenchidas por ar, água, por material lítico (siltes, arenitos) ou por
minerais (quartzo, carbonatos). A espessura do preenchimento mineral pode atingir dimensões tais
que a diaclase passa a ser descrita como um filonete, ou um veio ou filão (Fig.7.7). Não há uma
fronteira perfeitamente estabelecida para distinguir diaclases de veios, mas N. J. Price sugere que,
quando tal espessura exceder uma pequena fracção de polegada (seja 1/10, embora isto seja um
limite completamente arbitrário) a estrutura seja, antes, descrita como um veio, filão ou dique.
Fig.7.7- Veios de quartzo resultantes do preenchimento de diaclases. Note a orientação das diaclases
e como elas afectam, predominantemente, as rochas mais competentes. (Crackington Haven,
N. Cornualha, Inglaterra)
3
Cf. probl.10, p.30.
218
Se a diaclase não estiver preenchida, é importante, ainda do ponto de vista geotécnico,
caracterizar a sua rugosidade: verificar se as suas paredes são lisas, estriadas ou polidas; se são
planas, onduladas, ou denteadas. Destas características dependerá o comportamento mecânico
das descontinuidades.
Na Fig.7.8 ilustram-se dois tipos de estruturas típicas das superfícies de diaclasamento: as
estruturas plumosas (plumose ou hackle-marks) e as rib-marks , cuja génese tem sido objecto de
muita discussão, mas que não está ainda perfeitamente esclarecida, podendo diferentes
mecanismos dar-lhes origem.
Fig.7.8- a) Estruturas plumosas b) Rib-marks (In J.N. Price & J.W. Cosgrove, 1990)
219
7.3. GÉNESE DAS DIACLASES
Diversos mecanismos têm sido avançados para explicar a formação de diaclases:
actuação de esforços de torção, mecanismos de fadiga das rochas (por exemplo, em resultado das
marés terrestres). Prevalece, contudo, a convicção de que as diaclases se repartem por dois tipos
principais, quanto à sua origem: diaclases de tracção (ou de extensão) e diaclases de corte (ou de
cisalhamento).
Também, não se deduz um critério morfológico que permita distinguir umas de outras. As
diaclases de corte, no entanto, tendem a ser notavelmente planares, sem serem desviadas por
descontinuidades mecânicas; no caso, por exemplo, de um conglomerado ou de uma brecha,
cortam a direito, indiferentemente, através da matriz e elementos clásticos (Fig.7.9). Na mesma
situação, uma diaclase por tracção não cortaria a direito os elementos clásticos mais rígidos:
contorná-los-ia ou seria deflectida, ao atravessá-los.
220
Fig.7.9- Superfície de diaclasamento num conglomerado. O corte, a direito, através dos elementos sugere que se
trate de uma diaclase por corte (Velké Meziricí, Rep. Checa)
Todas as questões levantadas poderão ser respondidas, se se admitir que as rochas têm a
capacidade de reter energia de deformação e, portanto, de reter tensões, ditas residuais. Ensaios
laboratoriais têm comprovado este tipo de comportamento reológico (v. Fig.3.25). Essas tensões
residuais − que constituem como que uma memória, por parte das rochas, do estado de tensão
que as deformou ductilmente − serão posteriormente modificadas em intensidade relativa (mas não
tanto em orientação), durante o levantamento regional das rochas para níveis superiores da crusta,
onde dão lugar ao diaclasamento (e formação de veios).
221
modos. Então, poderá observar-se uma típica fractura (veio) de tracção prolongar-se sob a forma
de tension gashes dispostas em degrau, como é típico das zonas de cisalhamento frágil-dúctil.
222
7.4. DIACLASAMENTO DE ROCHAS MAGMÁTICAS
Fig.7.10- Diaclasamento num granito, sendo visíveis três famílias dominantes de diaclasamento,
segundo as quais se verifica o desmantelamento do maciço (N. Portugal).
223
Fig.7.11- Disjunção esferoidal em dolerito (Transval, África do Sul)
4
O aspecto das colunas basálticas, ocorrentes, por exemplo, na Calçada dos Gigantes (em Antrim, Irlanda do Norte) levou,
inicialmente, geólogos (wernerianos) a interpretá-las como cristais enormes ou bambus gigantescos petrificados.
224
As fracturas observadas numa rocha magmática são, na sua maioria, primárias: resultam
da fracturação da crosta, mais ou menos rígida, do corpo ígneo, em resultado do movimento da
massa central ainda fluida e, ainda, da sua expansão ou da sua retracção. Tais fracturas são,
frequentemente, preenchidas por aplitos ou por minerais de origem hidrotermal, relacionados com
o episódio eruptivo. Sendo primárias, não são, verdadeiramente, diaclases e deveriam, antes, ser
descritas como veios. No entanto, não é de excluir a ocorrência de verdadeiras diaclases num
maciço magmático: elas serão fracturas tardias (relativamente ao episódio magmático), pelo que
serão, muito provavelmente, estéreis (ou o seu preenchimento não derivou, directamente, do
mesmo episódio magmático), mas terão uma orientação estreitamente relacionada com a
fracturação primária. Na Fig.7.13, ilustram-se as “diaclases” dos tipos mais frequentemente
observados num maciço magmático, ordenadas segundo a sua idade provável, da mais antiga
para a mais recente. No Quadro 7.1, sumariam-se as características dessas mesmas fracturas,
segundo a mesma ordenação.
225
QUADRO 7.1- Descrição dos principais tipos de diaclases em rochas magmáticas.
226