Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ESTADO DE TENSÃO
1.1. INTRODUÇÃO
Sobre qualquer corpo situado no seio da crusta terrestre actuam forças que tenderão a
deslocá-lo, a deformá-lo ou a fracturá-lo: o corpo está sujeito a um estado de tensão.
i. Forças distribuídas, i.e., forças que actuam em todos os pontos de um corpo e que
resultam da situação desse corpo num campo de forças tal como um campo gravitacional ou um
campo electromagnético;
ii. Forças externas, i.e., forças que pressupõem uma superfície externa em que se
aplicam, no corpo onde actuam.
A estas últimas forças associa-se a noção de tensão, grandeza que melhor exprime a
importância das forças exercidas sobre o corpo actuado. Efectivamente, observando a Fig.1.1,
intuitivamente, se tem a noção de que a força exercida sobre o corpo A terá um efeito menor
sobre esse corpo que o produzido por igual força no corpo B. A disparidade dos
comportamentos resulta das diferentes áreas das superfícies de aplicação da força actuante.
8
Uma tensão define-se como sendo a força exercida por unidade de área. No Anexo I,
dá-se uma tabela de conversão das unidades de tensão correntemente encontradas na literatura
geológica. Actualmente, as unidades mais frequentemente usadas são, em tectonofísica, o
megapascal (1MPa =106 Pa) ou o gigapascal (1GPa =109 Pa) e, em textos mais gerais, o
quilobar (1kbar =103 bar). Como se depreende daquele quadro, 1kbar = 102 MPa.
Seja δF a resultante das forças actuantes num ponto O de um dado corpo (Fig.1.2.).
Sendo δA a área de um elemento de superfície plano (faceta) centrado em O, a tensão nesse
ponto, através da faceta considerada, é definida como sendo:
δF
pON = lim (1.1)
δA=0
δA
δFn
δF = δFn + δFt ⇒ σ = lim (1.2)
δA=0 δA
δFt
⇒ τ = lim (1.3)
δA=0 δA
N N
9
δF δF
δFn
δA O δA O
δFt
a. b.
Fig.1.2- a) Força δF actuante numa faceta normal a ON e de área δA
b) Decomposição de δF segundo a normal à faceta (δFn) e tangencialmente à faceta (δFt)
será designada por δFzx e a que actua segundo OY, por δFzy. Como se vê, nesta notação, o
primeiro subíndice numa componente de corte indica a direcção da normal à faceta e o segundo
subíndice especifica a direcção de actuação da força tangencial.
TO = δFt Z
UO = δFzx
VO = δFzy δF δFzy
O V
Y
δA V Y
δFz
O δFt δFzx δFt
U T
U
T
X
X
a. b.
Fig.1.3- a) Decomposição de δF em δFZ e δFt e desta, por sua vez, em δFzx e δFzy.
b) Pormenor de a), ilustrando a decomposição de δFt no plano da faceta
OZ é a normal à faceta e [XYZ] é o referencial cartesiano adoptado.
10
Dada esta decomposição da força actuante na faceta considerada, a definição das
correspondentes componentes do estado de tensão em O, através dessa faceta, far-se-á de
acordo com as seguintes equações (v. Fig.1.3):
δFz
σ z = δA=0
lim (1.5)
δA
σy τyx τyz
σx τxy τxz
τzx τzy σz
Z
σz σx
11
τxy
τzy
τzx
τyz τyx
τxz O Y
σY σY σY
τxy τyx τyx
σx Y
τxy
X X σx
a. b.
Fig.1.4- a) Cubo de aresta infinitesimal, orientado segundo o referencial cartesiano adoptado, [XYZ]. As tensões
actuantes
nas suas faces correspondem às nove componentes do estado de tensão em O (centro do cubo)
b) Representação da faceta normal a Z, indicando-se as tensões exercidas nas quatro facetas paralelas a Z.
Se se admitir que o corpo (e, portanto, o elemento cúbico representado na Fig.1.4.) não
se move, os momentos criados pelas forças actuantes (as quais ocasionariam rotações em torno
de OX, OY e OZ) deverão anular-se, ou seja,
Forçaij x braço − Forçaji x braço = 0
Para que não haja, por exemplo, uma rotação do cubo em torno de Z (v. Fig. 1.4-b), ter-se-á:
1
Note-se que, sendo o cubo infinitesimal, o seu centro e os seus vértices confundem-se num ponto único (o ponto O,
cujo estado de tensão se pretende descrever).
12
Analogamente, para obstar rotações do cubo em torno de X e de Y, concluiremos que
τzy = τyz e τxz = τzx (1.9b,c)
σx τxy τxz
τxz τyz σz
σ3 ≤ σ2 ≤ σ1
Poderemos, então, definir tensão principal como sendo uma tensão normal exercida
sobre uma faceta onde a componente de corte é nula.2
Portanto, se o referencial adoptado for tal que os eixos tenham as direcções das tensões
principais (que são, sempre, três direcções perpendiculares entre si), a matriz que descreve o
estado de tensão será da forma:
σ1 0 0
0 σ2 0 (1.11)
0 0 σ3
2
A recíproca também é verdadeira.
13
Naturalmente, o estado de tensão num ponto pode ser definido recorrendo a qualquer
referencial cartesiano. Contudo, a forma mais simples de o fazer é através das tensões
principais, como decorre da comparação das matrizes 1.10 e 1.11.
J1 = σ1 + σ2 + σ3 = σx + σy + σz (1.12a)
Portanto, diferentes matrizes da forma 1.10 e uma matriz da forma 1.11 descreverão o
mesmo estado de tensão num ponto se (e só se) os elementos dessas matrizes satisfizerem as
três equações, 1.12a, b, c.
Uma tensão normal pode ser compressiva ou pode ser tractiva. A distinção deste
carácter faz-se mediante a atribuição de um sinal convencional, de mais (valor positivo) ou de
menos (valor negativo). A convenção adoptada varia de autor para autor e, frequentemente,
consoante a natureza do problema em causa.
14
tensões normais compressivas são negativas;
tensões normais tractivas são positivas.
Ao ler qualquer trabalho, deve-se, pois, ter em conta a convenção de sinais adoptada.
Em Geologia Estrutural, encontram-se exemplos de ambas as notações, mas, em
trabalhos de índole geral e em Tectónica, a convenção mais frequente é a adoptada em
Mecânica das Rochas.
Para se passar de uma convenção para outra, e tratando-se de tensões principais, todas
as tensões mudarão de sinal e σ1 e σ3 trocarão entre si.
As tensões de corte subordinam-se, também, a uma convenção de sinal, consoante o
sentido da sua actuação. Em Mecânica das Rochas, uma tensão de corte é considerada positiva
quando dirigida para a esquerda da normal (vista da faceta para fora) à faceta em que actua
(Fig.1.5).
σ + va σ − va
τ + va τ − va
a. b.
Fig.1.5- Convenção de sinais mais comum em Mecânica das Rochas: em a) as componentes normal e de corte
são positivas; em b) as mesmas componentes são negativas.
15
do ponto de vista analítico, em usar os chamados co-senos directores da normal ao plano. Eles
designam-se pelas letras l, m e n, definindo-se assim:
l2+m2+n2=1 (1.14)
Z (σ3)
σ
φ3
φ1
τ
φ2
O
Y
(σ2)
X (σ1)
Fig.1.6- Tensão normal (σ) e tensão de corte (τ) actuantes numa faceta que passa pelo ponto O.
A orientação da faceta relativamente aos eixos coordenados é definida pelos ângulos φ1, φ2 e φ3
Antes de abordarmos a situação geral de um estado de tensão triaxial (como tem vindo
a ser feito), comecemos por considerar uma situação a duas dimensões. Na verdade, o estado
de tensão num ponto, frequentemente, é independente de uma das três direcções principais.
Nesse caso, os problemas tornam-se bidimensionais e, portanto, mais simples. Além da sua
possível aplicabilidade na prática, a consideração de estados de tensão bidimensionais tem
interesse didáctico, pois permite, por generalização dos conceitos, compreender mais facilmente
a situação geral de estados de tensão triaxiais.
16
1.5.1. Estado de tensão bidimensional
Neste caso, em vez do cubo descrito na Fig.1.4, bastará considerar um elemento
infinitesimal quadrangular, centrado em torno do ponto considerado (Fig.1.7).
Y Y
65
26
26 σ2 = 20
O O
35 X X
σ1 = 80
a. b.
Agora, também surgem invariantes do estado de tensão, mas que se reduzem a duas:
J 1 = σ1 + σ2 = σ x + σy (1.16a)
J2 = σ1 σ2 = σx σy − τxy2 (1.16b)
Y (σ2 )
N
σ
τ
O X (σ1 )
Fig.1.8- Considerada uma faceta que passa por O, de orientação conhecida relativamente às direcções das tensões
principais, é possível determinar a componente normal (σ) e a componente de corte (τ ) actuantes nessa faceta.
17
Como ficou dito, vamos adoptar uma resolução geométrica, a qual passa pela definição
do chamado diagrama (ou círculo) de Mohr.
σ2
φ P N
τ τ φ
O σ1
τP P
2φ
0 σ2 σ1 0 σ2 σP σ1
½(σ1+σ2) ½(σ1-σ2)
Fig.1.9- a) Definição do círculo de Mohr b) Resolução da situação ilustrada: o ponto P representa a faceta normal
a ON e as suas coordenadas (τP e σP) são as componentes, normal e de corte, nela actuantes.
No diagrama, os eixos coordenados são o eixo das tensões normais (em abcissas) e o
eixo das tensões de corte (em ordenadas), perpendiculares entre si e graduados nas mesmas
unidades de tensão. A origem corresponde a valores nulos daquelas componentes. A
circunferência tem o seu centro sobre o eixo das abcissas e intersecta esse eixo em dois pontos,
correspondentes aos valores de σ1 e de σ2 .3 Portanto, o raio da circunferência de Mohr é igual
a ½(σ1 − σ2).
Para determinar as componentes do estado de tensão numa faceta, cuja normal defina
um ângulo igual a Φ com σ1 , marca-se um ângulo igual a 2 Φ , a partir do ponto (σ1,o). O ponto
da circunferência de Mohr obtido (P, na Fig.1.9) representará a faceta considerada e as suas
coordenadas (τP e σP ) são as componentes pretendidas.
Dada a simetria do diagrama de Mohr, habitualmente, só se traça uma
semicircunferência, pelo que o eixo das ordenadas dá, apenas, os valores absolutos das
3
Note-se que, por convenção, σ2 ≤ σ 1
18
tensões de corte. O sentido de uma tensão de corte, então calculada, obter-se-á, atendendo ao
critério descrito na Fig.1.10.
σ1 σ2
Fig.1.10- Na faceta F, o sentido das componentes de corte é o da convergência para O, nos sectores
bissectados por σ1 , e o da divergência a partir de O, nos sectores bissectados por σ2. (N.B.:
pressupõe-
se a convenção de que as tensões normais positivas são compressivas)
σ2
τ F1
F1’ F1 σ=½(σ1+σ2)
½(σ1−σ2)
τ=½(σ1−σ2)
0 σ1
τ=−½(σ1−σ2)
F2
σ=½(σ1+σ2)
σ2 0 σ2 σ1 σ1 σ
−½(σ1−σ2) F2’ F2
Fig.1.11- Diagramas de Mohr que descrevem dois estados de tensão distintos. Em qualquer dos casos, a tensão de
corte máxima ocorre através das facetas (F1 e F2) orientadas a 45º das direcções das tensões principais.
O seu valor também é o mesmo, pois, neste caso, (σ1 − σ2) é constante.
19
1.5.2. Diagrama de Mohr (estado de tensão triaxial)
O diagrama de Mohr definido para estados de tensão bidimensionais pode ser estendido
a situações triaxiais.
As componentes do estado de tensão observadas numa faceta que contenha uma das
direcções principais podem ser determinadas, recorrendo a um diagrama de Mohr bidimensional
(Fig.1.12). Por exemplo, se uma faceta contém σi , as componentes de tensão nela actuantes
podem ser determinadas sobre a circunferência de Mohr σj − σk (i, j, k =1, 2, 3).
τ
Cada ponto P da circunferência
representa uma faceta que contém
σ1 e cuja normal define um ângulo
P φ1 com σ2 (ou seja, 90º− φ1 com σ3).
2φ1
0 σ3 σ2 σ
τ Q
Cada ponto Q da circunferência
representa uma faceta que contém
σ2 e cuja normal define um ângulo
φ2 com σ1 (ou seja, 90º− φ2 com σ3).
2φ2
0 σ3 σ1 σ
τ
Cada ponto R da circunferência
representa uma faceta que contém
σ3 e cuja normal define um ângulo
R φ3 com σ1 (ou seja, 90º− φ3 com σ2).
2φ3
0 σ2 σ1 σ
Fig.1.12- Diagramas de Mohr que descrevem os estados de tensão bidimensionais, ocorrentes em cada um dos
planos principais (σ1−σ2, σ2−σ3 e σ1−σ3) de um estado de tensão triaxial
20
Demonstra-se que diferentes facetas com uma inclinação constante relativamente, por
exemplo, à direcção de σ3 (ou seja, a cujas normais corresponde um valor fixo do co-seno
director n), corresponderão, no diagrama de Mohr, a circunferências concêntricas com a
circunferência σ1 − σ2 (a qual corresponde ao lugar geométrico dos pontos representativos de
facetas, cujas normais tenham um co-seno director n = 0).
Analogamente, o traçado de circunferências concêntricas à correspondente a l = 0
(circunferência σ3 − σ2 ) permite definir facetas a inclinações constantes de σ1 , enquanto que
circunferências concêntricas à correspondente a m = 0 (circunferência σ3 − σ1 ) permite definir
facetas a inclinações constantes de σ2 (Fig.1.13).
τ
τ 0>n>1
0>l>1
n=0
l=0
0 0 σ3 σ2 σ
σ2 σ1 σ
0 σ3 σ2 σ1 σ
Fig.1.14- Diagrama de Mohr aplicável a estados de tensão triaxiais. Só pontos da área sombreada representam
2 2 2
facetas, pois a todos os outros pontos do diagrama corresponderia uma soma l +m +n = 1
21
Dado que os co-senos directores (l, m e n ) de qualquer recta (referida a eixos
rectangulares) são tais que l 2+ m 2+ n 2
= 1, o ponto representativo de uma dada faceta (cuja
orientação é definida pelos ângulos que a sua normal define com as três direcções principais, ou
pelos correspondentes co-senos directores) cai sempre dentro do domínio sombreado na
Fig.1.14.
O ponto do diagrama correspondente a uma dada faceta pode ser determinado, desde
que se conheçam dois dos co-senos directores da sua normal (uma vez que sendo l2+m2+n2
igual a 1, basta conhecer dois deles para que o terceiro fique determinado, em valor absoluto).
Ou seja, basta conhecer dois dos ângulos que a normal essa faceta define com as direcções
principais.
Na prática, depois de ter traçado o diagrama de Mohr, para determinar o ponto
representativo de uma dada faceta, procede-se da seguinte maneira (Fig.1.15):
Z (σ1)
N φ1 = NÔX ; l = cos φ1
φ2 = NÔY ; m = cos φ2
σP φ3 = NÔZ ; n = cos φ3
τP ( l2 + m2 + n2 = 1 )
O Y (σ2)
P
X (σ3)
Fig.1.15- Construção de Mohr para a determinação da tensão normal (σP) e da tensão de corte (τP) ocorrentes numa
faceta
com a orientação ilustrada, para um estado de tensão, no ponto O, definido por σ1, σ2 e σ3, dados.
22
i. Define-se um arco igual ao dobro do ângulo que a normal à faceta define com σ1 ,
sobre a circunferência σ1 − σ2 (obtendo-se o ponto A), ou sobre a circunferência σ1 − σ3
(obtendo-se o ponto B), sendo esse arco medido a partir do ponto de abcissa σ1 ;
iii. Define-se, a partir do ponto de abcissa σ3, um arco igual ao dobro do ângulo que a
normal à faceta define com σ3 , sobre a circunferência σ3 − σ2 (obtendo-se o ponto C), ou sobre a
circunferência σ3 − σ1 (obtendo-se o ponto D);
O ponto de intersecção dos dois arcos traçados em ii. e iv. (ponto P, na Fig.1.15) é o
ponto representativo da faceta considerada e as suas coordenadas são as componentes (normal
e de corte) do estado de tensão em O, segundo aquela faceta.
Da construção de Mohr (Fig.1.16) é evidente que, qualquer que seja o estado de tensão
triaxial, a tensão de corte máxima ocorre segundo as duas facetas que se intersectam segundo a
direcção de σ2 e que bissectam as direcções de σ1 e σ3 .
½ (σ1 + σ3)
23
Fig.1.16- Facetas onde ocorrem máximos relativos de tensão de corte.
τ UNIAXIAIS τ
σ3=σ2=0 σ1 σ σ3 σ1=σ2=0 σ
τ BIAXIAIS τ τ
τ τ
CORTE PURO COMPRESSÃO HIDROSTÁTICA
24
Definem-se as seguintes situações de estados de tensão:
i. Uniaxiais (Fig.1.17a,b): duas das tensões principais são nulas; podem ser
compressivos (σ1>0) ou tractivos (σ3<0);
ii. Biaxiais (Fig.1.17c): uma (e só uma) das tensões principais é nula; um caso particular
− dito de corte puro − corresponde à situação em que σ2=0 e σ1=|σ3| (Fig.1.17d):
iii. Hidrostáticos (Fig.1.17e): as três tensões principais são iguais; um estado hidrostático
pode ser compressivo (situação de um corpo no seio de um líquido) ou tractivo (análogo à da
situação de enchimento de um balão).
ii. Outra, causadora de distorção - componente deviatórica - dada pela diferença entre a
componente normal total e o valor da componente hidrostática.
Assim, a tensão normal (σ ) actuante segundo uma faceta pode ser decomposta em
duas partes:
− tensão hidrostática, σ ;4
4
Alguns autores designam-na por tensão isotrópica.
25
Passar-se de um estado de tensão (real) para o estado de tensão deviatórico
corresponde, do ponto de vista da construção de Mohr, a uma translação das circunferências
desse diagrama, ou seja, modificam-se os valores das tensões normais actuantes nas facetas,
mas não os das tensões de corte. Este resultado é, de resto evidente, se atendermos à
inexistência de tensões de corte nos estados de tensão hidrostáticos.
Em termos gerais, a decomposição acima referida traduz-se pela seguinte
decomposição da matriz 1.8
Uma hipótese corrente em Geologia, válida como uma primeira aproximação, é a de que
um corpo no seio da crusta terrestre está sujeito a um estado de tensão hidrostático, designado
por tensão litostática.5 Ela resulta do peso das rochas sobrejacentes, equivalendo ao peso de
uma coluna cilíndrica de altura z (profundidade a que se situa o corpo considerado) e de base
com uma área unitária. O seu valor é dado por
pz = ∫ ρ(z) g dz (1.26)
5
Este estado de tensão litostático foi designado por Anderson, ao considerar a formação de falhas, por estado standard.
26
Sendo ρ(z) praticamente constante e igual a um valor médio ρ, aquela expressão toma a
forma
pz = ρ g z (1.27)
Fazendo
g = 981 cm.s-2 ≅ 1000 cm.s-2
conclui-se que
pz ≅ 10 ρ z MPa (z, km) (1.28)
O estado de tensão num ponto pode ser descrito pela quádrica de tensão de Cauchy, a
qual, referida às direcções principais do estado de tensão é expressa pela equação
σ1 x2 + σ2 y2 + σ3 z2 = ± k2
em que k é uma constante arbitrária . Sendo as tensões principais todas compressivas ou todas
tractivas, aquela superfície é um elipsóide de semieixos iguais a k/√σ1 , k/√σ2 , k/√σ3 .
Em Geologia, frequentemente, em vez do elipsóide de Cauchy usa-se o elipsóide de
tensão de Lamé, que difere daquele por os semieixos (definidos também ao longo das direcções
principais) serem iguais a σ1 , σ2 , σ3 (Fig.1.18).
σ3
σ2 σ1
27
Um elipsóide de tensão, tal como um diagrama de Mohr, descreve o estado de tensão
num ponto. A completa descrição do estado de tensão num corpo requer a especificação do
estado de tensão em todos os seus pontos. Assim, a especificação do elipsóide de tensão para
cada ponto desse corpo dá uma imagem clara da variação do estado de tensão (em grandeza e
orientação) de ponto para ponto desse corpo.
Trajectórias de tensão ou isostáticas são linhas (geralmente curvas) que em cada ponto
são tangentes às direcções das tensões principais. Como estas direcções são perpendiculares
entre si, as isostáticas, numa situação bidimensional, constituem duas famílias de curvas
ortogonais (i.e., intersectam-se, sempre, segundo ângulos rectos) e, numa situação
tridimensional, constituem três famílias de curvas ortogonais (Fig.1.19).
As situações representadas na Fig.1.19 são bidimensionais. No caso da Fig.1.19-a, tal
será válido, na medida em que a área crustal em causa puder ser considerada como
homogénea em torno da vertical de A. Em Geologia, tal hipótese simplificadora é usualmente
admitida, quando se consideram estados de tensão em blocos crustais.
a. b.
Fig.1.19- a) Isostáticas para o estado de tensão originado por uma tensão compressiva exercida em A.
Essa compressão poderia resultar de uma intrusão de magma numa câmara subvulcânica, representada
pelo ponto A.
b) Isostáticas para o estado de tensão associado a uma abertura circular.
28
Na Fig.1.19 está, também, patente uma circunstância importante: sempre que uma
isostática encontra uma superfície livre (onde a tensão de corte é nula), ou intersecta-a segundo
um ângulo recto ou orienta-se tangencialmente a essa superfície.
29
- isópacas, curvas de tensão média, ½(σ1 + σ2), constante;
Neste capítulo, abordaram-se os conceitos de força (uma grandeza vectorial) e de estado de tensão (um
tensor de 2ª ordem).
> Devem-se usar tensões em problemas tais como os da produção de estruturas ou de fracturação.
N.B.: Problemas (enunciados e resoluções) sobre a matéria deste capítulo, assim como dos capítulos
subsequentes, podem ser vistos on-line noutra secção deste mesmo site (www.fc.up.pt).
30