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Introdução

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Capı́tulo 1

Preliminares

Neste capı́tulo, veremos alguns fatos básicos sobre as singularidades de Thom-


Boardman.

1.1 Variedades e Transversalidade


1.2 Germes, Jatos e o anel On
No conjunto das aplicações diferenciáveis introduzimos a seguinte relação:
Definição 1.2.1. Considere f1 , f2 : Cn → Cp aplicações holomorfas. Dizemos que
f1 e f2 são equivalentes quando existir um aberto U ⊂ Cn tal que as restrições
f1 |U e f2 |U coincidem.
Notação: f1 ∼ f2 .

Proposição 1.2.2. Esta relação é uma relação de equivalência no conjunto X das


aplicações diferenciáveis Cn → Cp , ou seja, valem as seguintes propriedades:
1. f1 ∼ f1 , ∀ f1 ∈ X
2. f1 ∼ f2 ⇒ f2 ∼ f1 , ∀ f1 , f2 ∈ X
3. f1 ∼ f2 e f2 ∼ f3 ⇒ f1 ∼ f3 , ∀ f1 , f2 , f3 ∈ X
Demonstração:

1. Para qualquer aberto U ⊂ Cn temos f1 |U = f1 |U . Assim, f1 ∼ f1 .


2. Se f1 ∼ f2 , então existe um aberto U ⊂ Cn tal que f1 |U = f2 |U . Assim,
f2 |U = f1 |U e, portanto, f2 ∼ f1 .
3. Por hipótese f1 ∼ f2 e f2 ∼ f3 , então existe um aberto U ⊂ Cn tal que
f1 |U = f2 |U e existe também um aberto V ⊂ Cn tal que f2 |V = f3 |V . Seja
W = U ∩ V , que é um aberto pois é a interseção de dois abertos. Assim,
f1 |W = f2 |W e f2 |W = f3 |W . Portanto, existe o aberto W ⊂ Cn tal que
f1 |W = f3 |W , ou seja, f1 ∼ f3 .

Definição 1.2.3. As classes de equivalência desta relação são chamadas de germes


de aplicações e um elemento da classe de equivalência é chamado de represen-
tante do germe.

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Notação: Para x ∈ U , denotaremos por f : (Cn , x) → (Cp , f (x)) ou f : (Cn , x) →
Cp o germe de uma aplicação f : Cn → Cp numa vizinhança de x. A partir daqui,
sempre que for necessário falar de um germe, denotaremos apenas por um de seus
representantes.
Definição 1.2.4. Definimos por On,p o conjunto dos germes de aplicações analı́ticas
de Cn em Cp . Quando p = 1 denotamos apenas On .
Observação: Seja f ∈ On e g, h ∈ On,p , então g = (g1 , . . . , gp ) e h = (h1 , . . . , hp ),
onde gi , hj ∈ On , ∀i, j = 1, . . . , p. Definindo a multiplicação de um elemento de On
por um de On,p como

f.g := (f.g1 , . . . , f.gp ),


temos que o On,p é um On -módulo.

Definição 1.2.5. Para cada germe f : (Cn , x) → (Cp , y) associamos a derivada


dx f : Tx Cn → Ty Cp que é definida como sendo a derivada em x de qualquer repre-
sentante.
Definição 1.2.6. Se f : (Cn , 0) → (Cm , 0) é um germe de aplicação analı́tica,
It (Df ) é o ideal gerado pelos menores de ordem t, definimos sua matriz jacobiana,
 
∂f1 ∂f1 ∂f1
 ∂x1 ∂x2 . . . ∂xn 
 ∂f2 ∂f2 ∂f2 
 
 ... 
Df =   .∂x 1 ∂x 2 ∂x n 
 .. .
.. . .. .
.. 

 
 ∂fm ∂fm ∂fm 
...
∂x1 ∂x2 ∂xn m×n
.
Definição 1.2.7. O posto de um germe é definido como o posto de sua derivada
em x. Um germe é invertı́vel se, e somente se, sua derivada é invertı́vel.

Notação: Denotamos o posto de um germe f como posto(f ).

Proposição 1.2.8. Seja f : Cn → Cm um germe. Se o posto(f ) é igual a dimensão


do domı́nio, então sua derivada é injetora. Se o posto(f ) é igual a dimensão do
contra-domı́nio, então sua derivada é sobrejetora.
Demonstração: Primeiramente, observe que o posto de uma transformação linear é
definido sendo o número máximo de colunas linearmente independentes (ou linhas),
mas a imagem de uma transformação linear é gerada pelos vetores colunas da matriz
associada, excluindo os que podem ser gerados pelos demais, restando apenas um
conjunto L.I. dos vetores colunas. Por outro lado, o posto é o número máximo de
colunas L.I. Logo, temos que a dimensão da imagem de uma transformação linear é
justamente o posto dessa transformação (esta é uma definição utilizada por muitos
livros).

1. Suponha que posto(f ) = posto(dx f ) = dim (Domı́nio) = n. Então do que


vimos, segue que dim(Im(dx f )) = n. Pelo teorema do Núcleo e da Imagem,
temos que dim(N (dx f )) = 0, assim dx f é injetora

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2. Suponha que posto(f ) = posto(dx f ) = dim (Contra-domı́nio) = m. Então
dim(Im(dx f )) = m, logo, dx f é sobrejetora.

Definição 1.2.9. Quando o posto é igual a dimensão do domı́nio, o germe é imersı́vel


e quando o posto é igual a dimensão do contra-domı́nio, o germe é submersı́vel.

Observação: Logo, um germe será invertı́vel se e somente se for imersı́vel e sub-


mersı́vel.

Definição 1.2.10. Quando um germe é imersı́vel ou submersı́vel em x, dizemos que


x é um ponto regular. Caso contrário, x é um ponto singular.

Definição 1.2.11. Dois germes f1 e f2 são A−equivalentes quando existem ger-


mes invertı́veis h e k para os quais o seguinte diagrama comuta
f1
(Cn , x1 ) −→ (Cp , y1 )
h↓ ↓k
f2
(Cn , x2 ) −→ (Cp , y2 )

Definição 1.2.12. O espaço dos jatos J k (n, p) é o espaço vetorial complexo de


todas as aplicações f : Cn → Cp onde cada componente fi de f é um polinômio
de grau ≤ k nas coordenadas canônicas x1 , x2 , . . . , xn em Cn com termo constante
zero. Os elementos de J k (n, p) são chamados de k− jatos. Além disso, o espaço
fibrado de k-jatos é definido como J k (Cn , Cp ) = Cn × Cp × J k (n, p).

Definição 1.2.13. Para cada germe de aplicação f : (Cn , 0) → Cp e cada a ∈ Cn ,


é definida a aplicação j k f : Cn → J k (n, p) por j k f (a) sendo o desenvolvimento até
a ordem k da série de Taylor de f (x + a) − f (a) em uma vizinhança da origem.

Definição 1.2.14. Dado um germe f : (Cn , 0) → (Cp , 0) a extensão como k-jato


de f é o germe de aplicação

j k f : (Cn , 0) → J k (Cn , Cp )
x 7→ (x, f (x), σ)

onde σ é a expansão de Taylor de ordem k de f (x + a) − f (a) em uma vizinhança


da origem.

Exemplo 1.2.15. Seja f : C → C então

f ′′ (a) 2 f (k) (a) k


j k f (a) = f ′ (a)x + x + ··· + x .
2! k!
Exemplo 1.2.16. Sejam f : C → C, f (x) = sen(x). Vamos calcular o 3-jato de f
na origem:

f ′′ (0) 2 f ′′′ (0) 3 sen(0) 2 cos(0) 3 x3


j 3 f (0) = f ′ (0)x + x + x = cos(0)x − x − x =x− .
2! 3! 2 6 6

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1.3 Conjuntos Singulares
1.3.1 Singularidades de primeira ordem
Definição 1.3.1. Seja f : (Cn , 0) → Cp um germe de aplicação de classe C ∞ . O
conjunto singular de f, denotado por Σf , é o conjunto de todos os seus pontos
singulares. A imagem de Σf é chamada de conjunto de bifurcação.
Definição 1.3.2. Seja f ∈ On,p . Para cada i = 1, . . . , min{n, p} o conjunto de
singularidades de 1ª ordem Σi (f ) é definido como o conjunto:

Σi f = {x ∈ Cn : posto(N(D(f ))) = i}

Exemplo 1.3.3. Considere


 f :C2 → C2 definida por (x, y) 7→ (x2 , y 2 ) Para calcular
2x 0
Σi f , temos D(f ) = .
0 2y
Calculamos N (D(f )). Ou seja,
     
2x 0 u 0 (2x).u = 0
=0= ⇔
0 2y v 0 (2y).v = 0

• Se x ̸= 0 e y ̸= 0, então u = v = 0. Assim, Σ0 f = {x ̸= 0 e y ̸= 0}
• Se x ̸= 0 e y = 0, então u = 0 e v pode ser qualquer. Ainda, se x = 0 e y ̸= 0,
então v = 0 e u pode ser qualquer. Assim, Σ1 f = ({x = 0} ∪ {y = 0}) − {(0, 0)}
• Se x = 0 e y = 0, então u e v podem ser quaisquer, logo observamos que
posto(N(D(f ))) = 2 se e somente se, (x, y) = (0, 0). Portanto, Σ2 (f ) = {(0, 0)}.
Observe que neste exemplo Σi f é subvariedade de codimensão i para todo i.
Exemplo 1.3.4. Considere f : C2 → C2 definida por (x, y) 7→ (x2 + y, y 2 ). Temos
 
2x 1
D(f ) = .
0 2y

Note que Σ2 f = ∅ pois posto(N (D(f ))) ̸= 2 para qualquer (x, y) pertencente a
C2 .
Temos que posto (N D(f )) = 1 apenas se x = 0 ou y = 0, incluindo (0, 0). Logo,
Σ1 f = {x = 0} ∪ {y = 0}.
Como posto(N(D(f ))) = 0 somente para x ̸= 0 e y ̸= 0 obtemos que Σ0 f é
formado por todos os pontos fora dos eixos de coordenadas.

Observação: Neste exemplo Σ1 f não é uma subvariedade. Porém podemos fazer


uma deformação fs de tal forma que Σ1 fs passe a ser uma subvariedade para todo
s ̸= 0.
Considere a seguinte deformação fs : C2 → C2 definida por

(x, y) 7→ x2 + y, y 2 + 4sx , s ̸= 0.


 
2x 1
Então D (fs ) = . Se fixarmos s ̸= 0, então
4s 2y
   
2x 1 u (2x).u + v = 0
=0⇔
4s 2y v (4s).u + (2y).v = 0

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Assim, da primeira equação obtemos v = −2xu, substituindo na segunda equação,
temos que 4su − 2y.2xu = 0 ⇔ u(s − xy) = 0. Se u = 0, então da primeira equação,
v = 0, logo, nos pontos onde u = 0 é solução, estão em Σ0 f . Portanto, para Σ1 f ,
devemos ter que s − xy = 0. Sendo assim, os pontos de Σ1 f são dados por uma
hipérbole xy = s, que é uma subvariedade.
Logo, o conjunto de singularidade Σ1 fs mudou de um par de retas se intercep-
tando para um par de curvas disjuntas.
Definição 1.3.5. Em J 1 (n, p) definimos o seguinte conjunto:
Σi = j 1 f (x) ∈ J 1 (n, p) : posto N(j 1 f (x)) = i
 

Teorema 1.3.6. O conjunto Σi é uma subvariedade de J 1 (n, p) de codimensão


i(p − n + i)

Demonstração: Essa demonstração é feita em dois passos:


 
A B
1. Seja E = uma matriz p × n e A uma matriz k × k invertı́vel.
C D
Afirmação: E tem posto k se e somente se, D = CA−1 B. Observe que para
qualquer matriz X(n−k)×k , a matriz E tem o mesmo posto de:
    
′ Ik 0 A B A B
E = =
X Ip−k C D XA + C XB + D

Assim, podemos escolher X tal que XA+C = 0, ou seja, X = −CA−1 . Então:


 
A B
= E′
0 −CA−1 B + D

Como A tem posto k, segue imediatamente que posto E = posto E ′ = k se e


somente se, D = −CA−1 B.
2. Sejam E0 uma matriz em Σi e k tal que i + k = n. Podemos supor sem perda
de generalidade que:  
A0 B0
E0 =
C0 D0
com A0 uma matriz k × k invertı́vel. Devemos exibir uma vizinhança aberta
U de E0 em J 1 (n, p) e mostrar que U ∩ Σi é uma subvariedade de codimensão
i(p−n+i). Definimos então uma vizinhança aberta U de E0 , com a propriedade
que para cada matriz  
A B
E=
C D
nesta vizinhança a matriz Ak×k é invertı́vel. Considere, agora, a seguinte
aplicação:
f : U → J 1 (p − k, n − k)
E 7→ D − CA−1 B

Como f é uma submersão, f −1 (0) é uma subvariedade de codimensão:


(p − k)(n − k) = (p − k)i = i(p − n(n − i)) = i(p − n + 1).

Mas f −1 (0) = U ∩ Σi , pois se E ∈ f −1 (0) então, D = CA−1 B se e somente se,


E tem posto k se e somente se, posto(N E) = n − k = i, portanto E ∈ Σi .

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O resultado a seguir é consequência imediata dos Teoremas 1.3.6, 1.2.11 e 1.2.6
(ELIRIS).

Teorema 1.3.7. Existe um subconjunto denso de germes de aplicação f ∈ On,p para


o qual j 1 f é transversal a todos os conjuntos Σi ; além disso Σi f é uma variedade
de codimensão i(p − n + i).

Definição 1.3.8. Seja f ∈ On , definimos a matriz hessiana por

∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f
 
 ∂x1 ∂x1 ∂x1 ∂x2 . . . ∂x1 ∂xn 
 ∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f 
 
 ... 
 ∂x2.∂x1 ∂x2.∂x2 .
H(f ) =  ∂x2 ∂xn 
.. 
 .. .. .. . 
 
 ∂ f 2 2 2
∂ f ∂ f 
...
∂xn ∂x1 ∂xn ∂x2 ∂xn ∂xn
Definição 1.3.9. Um ponto crı́tico de uma aplicação f ∈ On,p tal que a matriz
hessiana é não singular é chamado não degenerado.

Exemplo 1.3.10. Seja f : C2 → C um germe de aplicação dadopor (x, y) 7→


2 −6y
x3 − 3xy 2 . Temos D(f ) = (2x − 3y 2 − 6xy) e H(f ) = . Neste caso,
−6y −6x
f tem um ponto degenerado na origem.
Porém, podemos fazer uma pequena deformação fs em f . Por exemplo, tome
fs : C2 → C dada por (x, y) 7→ (x3 − 3xy− sx) com s> 0. Então, para s fixo
6x −6y
D (fs ) = (3x2 − 3y 2 − s − 6xy) e H (fs ) =
−6y −6x
 q 
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Logo, ± 3 , 0 é um ponto crı́tico não degenerado de fs .

1.3.2 Singularidades de ordem superior


Definição Algébrica
Fixemos um sistema de coordenadas y1 , . . . , yn em On . Para um ideal I em On
gerado pelo sistema de geradores {f1 , . . . , fp }, para cada s, inteiro, com 1 ≤ s ≤
min{n, p} definimos o ideal ∆s I = I + I ′ onde I ′ é o ideal gerado por todos menores
de ordem s da matriz Jacobiana:
 ∂f1 ∂f1 
∂y1
· · · ∂y n
 .. .. .. 
 . . .  (1.1)
∂fp ∂fp
∂y1
··· ∂yn p×n

Teorema 1.3.11. O ideal ∆s I näo depende da escolha dos geradores e nem da


escolha das coordenadas, isto é, se g1 , . . . , gq é outro sistema de geradores de I em
relação a um sistema de coordenadas z1 , . . . , zn , então ∆s I coincide com o ideal
gerado por I e pelos menores de ordem s da matriz Jacobiana:
 ∂g1 ∂g1

∂z1
· · · ∂zn
 .. .. .. 
 . . .  (1.2)
∂gq ∂ggn
∂z1
··· ∂zn q×n

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Demonstração: É suficiente mostrar que, qualquer menor de ordem s de (1.2)
pertence a ∆s I.
Cada gi pode ser escrito como uma combinaçāo linear de fk , com coeficientes em
∂gi
On . Portanto, cada ∂z j
pode ser escrito como a mesma combinaçāo linear de ∂f k
∂zj
mais um elemento de I.
Usando a multilinearidade do determinante temos que qualquer menor s × s de
(1.2) pertence ao ideal gerado por I e pelos menores s × s da matriz Jacobiana:
 ∂f1 ∂f1

∂x1
· · · ∂z n
 .. .. .. 
 . . . 
∂fp ∂fp
∂x1
··· ∂zn p×n

Portanto, é suficiente mostrar que qualquer menor de ordem s pertence a ∆s I.


Para isto, observe que pela Regra da Cadeia, podemos escrever cada ∂z∂ j como com-
binaçāo linear de ∂y∂k , com coeficientes em On− O resultado segue usando novamente
a multilinearidade do determinante.
Observação: Quando s > n consideramos ∆s I = I e temos as inclusōes:

I ⊆ ∆n I ⊆ ∆n−1 I ⊆ . . . ⊆ ∆1 I

Exemplo 1.3.12. Seja I = xk em O1 , com k ≥ 1. ∆1 I é o ideal gerado por I e


pelos menores 1 × 1 da matriz Jacobiana kxk−1 , logo ∆1 I = xk−1 e ∆s I = xk ,
para s ≥ 2.
Exemplo 1.3.13. Seja I = ⟨xy, x2 + y 2 ⟩ em O2 . ∆1 I é o ideal gerado por I e pelos
menores 1 × 1 da matriz Jacobiana:
 
y x
J=
2x 2y

Logo ∆1 I = ⟨x, y⟩. O ideal ∆2 I é gerado por I e pelos menores 2 × 2 da matriz


J, assim ∆2 I = ⟨x2 , xy, y 2 ⟩ e ∆s I = ⟨xy, x2 + y 2 ⟩ para s ≥ 3.
Definição 1.3.14. Dado um ideal I ⊆ On adotamos a notação: ∆s I = ∆n−s+1 I.
Nos referimos a ∆1 I, ∆2 I, . . . , ∆n I como as sucessivas extensōes jacobianas do ideal
I.
Temos portanto as seguintes inclusōes:

I = ∆0 I ⊆ ∆1 I ⊆ ∆2 I ⊆ . . . ⊆ ∆n I (1.3)
Definição 1.3.15. Se I é um ideal próprio de On , ou seja I ̸= On , a extensão
jacobiana crı́tica de I é o último ideal ∆i1 I na seqüência (1.3) que é próprio.
Considerando I ′ = ∆i1 I a extensāo jacobiana crı́tica de I denotamos por ∆i1 i2 I
a extensão jacobiana crı́tica de I ′ .
Desta maneira, obtemos uma sequência crescente ∆i1 I, ∆i1 i2 I, . . . de sucessivas
extensões jacobianas crı́ticas de I e dizemos que I tem sı́mbolo de Boardman
(i1 , i2 , . . .).

Notação: Denotamos (1k ) para (1, . . . , 1), com k-repetiçōes do número 1.



Exemplo 1.3.16. 1. O sı́mbolo de Boardman do ideal I = xk em O1 , é 1(k−1) , 0 .

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2. O sı́mbolo de Boardman do ideal I = ⟨xy, x2 + y 2 ⟩ em O2 , é (2, 0).

Definição 1.3.17. O sı́mbolo de Boardman de um germe f : (Cn , x) →


(Cp , y) é definido como o sı́mbolo de Boardman do ideal If gerado pelos componentes
f1 , . . . , f p .

Teorema 1.3.18. O sı́mbolo de Boardman de um germe (Cn , 0) → (Cp , 0) é um


invariante por contato, isto é, se dois germes são K-equivalentes eles têm o mesmo
sı́mbolo de Boardman.

Demonstração: Sejam f = (f1 , . . . , fp ) e f ′ = f1′ , . . . , fp′ .




1. Suponha que f e f ′ sāo C-equivalentes. Pelo Teorema 2.1, pag. 145 de


[12] os ideais If e If′ coincidem e assim, pelo Teorema 1.3.11, os sı́mbolos de
Boardman de f e f ′ coincidem.

2. Suponha que f e f ′ sāo R-equivalentes, isto é, existe um germe invertivel


h : (Cn , 0) → (Cn , 0) tal que f ◦ h, f ′ coincidem. Segue do Teorema 1.3.11 que
f e f ′ têm o mesmo sı́mbolo de Boardman, pois
   ′
∂fi ′ ∂fi
D(f ) = = D (f ) =
∂xj ∂hj

onde {h1 , . . . , hn } sāo as componentes de h.

Como f e f ′ são K-equivalentes existe um germe invertı́vel l : (Cn , 0) → (Cn , 0) tal


que f ◦ l e f ′ sāo C-equivalentes. Pelo passo 1., os sı́mbolos de Boardman de f ◦ l e f ′
coincidem e pelo passo 2., os sı́mbolos de Boardman de f e f ′ sāo iguais. Portanto,
o sı́mbolo de Boardman de um germe (Cn , 0) → (Cp , 0) é um invariante por contato.

Definição 1.3.19. Agora, podemos estender nossa definiçāo. Como qualquer germe
f : (Cn , x) → (Cp , y) é K-equivalente a um germe de aplicaçāo f0 : (Cn , 0) → (Cp , 0).
Definimos o sı́mbolo de Boardman de f como sendo o sı́mbolo de Boardman de f0 .

Teorema 1.3.20. Os primeiros k inteiros no sı́mbolo de Boardman de um germe


de aplicação f : (Cn , 0) → (Cp , 0) dependem apenas do k-jato de f .

Demonstração: Sejam I o ideal gerado pelas componentes f1 , . . . , fp de f e (i1 , i2 , . . .)


o sı́mbolo de Boardman de I. Portanto se considerarmos um ideal ∆s (∆ik−1 . . . ∆i1 I),
obtemos, por indução em k, que este ideal é gerado pelas derivadas parciais de or-
dem menor ou igual a k de f1 , . . . , fp . Sendo este ideal próprio ou nāo, ele depende
apenas dos valores das derivadas de ordem menor ou igual a k de f1 , . . . , fp em 0 .
Portanto ik depende apenas do k-jato de f .

Definição 1.3.21. Dados k inteiros i1 , i2 , . . . , ik , um germe f : (Cn , 0) → (Cp , 0) é


de tipo Σi1 ,i2 ,...,ik quando seu sı́mbolo de Boardman tem a forma (i1 , i2 , . . . , ik ; 0).

Definição 1.3.22. Definimos Σi1 ,i2 ,...,ik como o subconjunto do espaço dos jatos
composto daqueles jatos que têm um representante de germe de tipo Σi1 ,i2 ,...,ik .

Observação: Para o caso k = 1, esta definiçāo é análoga à definição 1.3.5. De


fato, seja f : (Cn , 0) → (Cp , 0) um germe e I = ⟨f1 , f2 , . . . , fp ⟩ o ideal gerado pelas
componentes de f . ∆s I é gerado por I e pelos menores de ordem (n − s + 1) da

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matriz jacobiana de f , este ideal é próprio se e somente se, todos os menores de
ordem (n − s + 1) sāo zero em zero, ou seja, se e somente se, o posto do núcleo
da matriz jacobiana é maior ou igual a s. Portanto, ∆s I é crı́tico se, e somente se,
este posto é exatamente s e concluimos que o 1-jato j 1 (f ) pertence ao conjunto de
singularidades de 1a ordem Σs .

Teorema 1.3.23. Uma condição necessária e suficiente para que o conjunto Σi1 ,i2 ,...,ik ⊆
J k (n, p) seja não vazio é que as seguintes condiçōes estejam satisfeitas:

1. n ≥ i1 ≥ i2 ≥ . . . ≥ ik ≥ 0;

2. i1 ≥ n − p;

3. se i1 = n − p então i1 = i2 = . . . = ik .

Demonstração: Necessidade: Suponhamos que o conjunto Σi1 ,i2 ,...,ik ⊆ J k (n, p)


seja nāo vazio, portanto, obtemos n ≥ i1 e il ≥ 0 para qualquer l = 1, . . . , k.
Para mostrar o item (i) basta mostrar que ij ≥ ij+1 . Para isso, seja I o ideal em
On gerado pelas componentes do representante de algum jato em Σi1 ,i2 ,...,ik . Podemos
supor que ∆it . . . ∆i1 I é gerado por gσ1 , . . . , gσt com σ1 ≤ σ2 ≤ . . .
Suponha que ∆s ∆ij . . . ∆i1 I é próprio. Isso implica que todos as menores de
ordem (n − s + 1) da matriz de jacobiana gσ1 , . . . , gσj se anulam, portanto em par-
ticular todos os menores de ordem (n − s + 1) da matriz jacobiana de gσ1 , . . . , gσj−1
se anulam e o ideal ∆s ∆ij−1 . . . ∆i1 I é próprio, assim s ≤ ij . Tomando s = ij+1
obtemos ij+1 ≤ ij .
Para mostrar o item (ii) observamos que o ı́ndice i1 é o posto do Nnel da matriz
jacobiana, que é certamente maior ou igual a n − p.
O item (iii) segue do fato que se i1 = n − p, entāo ∆i1 I = ∆p+1 I = I e portanto
i1 = i2 = . . . = ik .
Suficiência: Suponhamos que 1, 2 e 3 estejam satisfeitas.
Temos que produzir um germe f : (Cn , 0) → (Cp , 0), com componentes f1 , . . . , fp ,
que seja de tipo Σi1 ,i2 ,...,ik . Consideremos dois casos:

12 caso: i1 = n − p.

Neste caso, escolhemos: f1 = x1 , . . . , fp = xp .

22 caso: i1 > n − p.

Escolhemos:
fi = xi , se 1 ≤ i ≤ n − i1
n−i
X2 n−i
X3
2
fn−i1 +1 = xj + xj 3 + . . .
n−i1 +1 n−i2 +1

fi = 0, se n − i1 + 2 ≤ i ≤ p

Exemplo 1.3.24. Os únicos conjuntos de tipo Σi não vazios no espaço dos jatos
J 2 (2, 2) são: Σ2,2 , Σ2,1 , Σ2,0 , Σ1,1 , Σ1,0 e Σ0,0 .

10
1.4 Extensões Jacobianas
A partir daqui, usaremos On para denotar o anel das funções analı́ticas de (Cn , 0)
em C. Sempre consideraremos f : (Cn , 0) → (Cp , 0) e I um ideal de On finitamente
gerado.

Definição 1.4.1. Seja I ⊂ On um ideal. Definimos por

V (I) = {p ∈ Cn | f (p) = 0, ∀f ∈ I}

o conjunto dos zeros de I.

Observação: Como I é finitamente gerado, seja I = {f1 , . . . , fn } seus geradores.


Para p pertencer a V (I) basta que p anule os geradores de I. Portanto, podemos
escrever V (I) = {p ∈ Cn | f1 (p) = . . . = fn (p) = 0}.

Notação: Dada uma matriz U = (uij ) com entradas em On e um inteiro t ≥ 0,


denotamos por It (U ) o ideal gerado pelos menores de ordem t em U . Quando a
matriz U é de ordem p × q e t > min{p, q}, convencionamos It (U ) = {0}.

Definição 1.4.2. Seja f : (Cn , 0) → (Cp , 0) um germe de aplicação e I um ideal de


On gerado pelos elementos g1 , . . . , gr ∈ I. Para cada t ∈ {1, . . . , n} definimos

∆t (f, I) = I + It (D (f1 , . . . , fp , g1 , . . . , gr )) .

Por convenção, escrevemos, ∆t (f, I) = I, quando t > n.

Exemplo 1.4.3. Sejam f : (C2 , 0) → (C2 ), dada por f (x, y) = (xy, y) e I =


⟨y 2 , xy, x2 y⟩.

1. t = 1: ∆1 (f, I) = I + I1 (D(f1 , f2 , g1 , g2 , g3 ))
 
y x
 0 1
 
D(f1 , f2 , g1 , g2 , g3 ) =  0 2y  ⇒ I1 (D(f1 , f2 , g1 , g2 , g3 )) = ⟨1, x, y, xy⟩

 y x
2xy x2
Logo, ∆1 (f, I) = I + I1 (D(f1 , f2 , g1 , g2 , g3 )) = ⟨y 2 , xy, x2 y⟩ + ⟨1, x, y, xy⟩ = C2 ,
pois 1 é um dos geradores.

2. t = 2: ∆2 (f, I) = I + I2 (D(f1 , f2 , g1 , g2 , g3 )) = ⟨y 2 , xy, x2 y⟩ + ⟨y, 2y 2 , xy −


xy, yx2 − 2x2 y, −y, −2xy, −2y 2 , −4xy 2 , x2 y − 2x2 y⟩ = ⟨y, xy, y 2 , x2 y, xy 2 ⟩

3. t > 2: Note que n = 2, portanto nesse caso ∆t (f, I) = I, ∀t > 2

Definição 1.4.4. Dados n, p ≥ 1, definimos o conjunto dos sı́mbolos de Boardman


B(n, p) sendo formado pelos vetores i = (i1 , . . . , ik ) de números inteiros tais que :

1. k ≥ 1;

2. n ≥ i1 ≥ . . . ≥ ik ≥ 0;

3. i1 ≥ n − p;

4. se i1 = n − p então i1 = i2 = . . . = ik .

11
Se i = (i1 , i2 , . . . , ik ) o comprimento de i denotado por |i| é o número k.
Segue da definição anterior que: B(n, p) ⊂ B(n + 1, p + 1) ⊂ B(n + 2, p + 2) ⊂ . . .
Observação: Note que os sı́mbolos de Boardman de B(n, p) são k-uplas, que sa-
tisfazem as 4 condições da definição anterior. Portanto, o conjunto é muito grande,
sendo impossı́vel de mapeá-lo.
Exemplo 1.4.5. 1. Seja n = p = 2.
Os vetores (1), (1, 1), (1, 1, 1), (1, 1, 1, 1), (1, 1, 1, 1, 1), . . . são sı́mbolos de Bo-
ardman. Portanto, relembremos a notação 1(k) , sendo a k-upla com todas as
entradas sendo o valor 1.
2. Seja n = 4, p = 1. Os vetores (2), (2, 1) ∈ B(n, p). Já o sı́mbolo (1, 1) ∈
/
B(n, p), pois i1 ≱ n − p.
Definição 1.4.6. Sejam f : (Cn , 0) → (Cp , 0) germe de aplicação analı́tica e i =
(i1 , . . . , ik ) ∈ B(n, p). Se define, indutivamente, a extensão jacobiana iterada
de f em relação a i, como segue:
(
∆n−i1 +1 (f, {0}) se k = 1
Ji1 ,...,ik (f ) = 
∆n−ik +1 f, Ji1 ,...,ik−1 (f ) se k > 1

Observação: Conforme definimos, temos que


Se k = 1 : Ji1 (f ) = In−i1 +1 (D(f ))
Se k > 1 : Supondo que Ji1 ,..., ik−1 (f ) = ⟨g1 , . . . , gr ⟩. Então
Ji1 ,..., ik = Ji1 ,..., ik−1 (f ) + In−ik +1 (D(f, g)), onde (f, g) = (f1 , . . . , fp , g1 , . . . , gr ).
Exemplo 1.4.7. Sejam f : (C2 , 0) → (C2 ), (n = p = 2) e i = (2, 1, 1) é um sı́mbolo
de Boardman. Vamos encontrar Ji (f )
 
y x
Ji1 = J2 (f ) = I2−2+1 (Df ) = I1 = ⟨1, x, y⟩.
0 1
Assim g = (g1 , g2 , g3 ) = (1, x, y)

 
y x

 0 1 

Ji1 ,i2 = J2,1 (f ) = J2 (f ) + I2−1+1 (D(f, g)) = ⟨1, x, y⟩ + I2 

 0 0  =

 1 0 
0 1

= ⟨1, x, y⟩ + ⟨y, −x, y, −1, 1⟩ = ⟨1, x, y⟩ + ⟨1, x, y⟩ = ⟨1, x, y⟩.


Assim h = (h1 , h2 , h3 ) = (1, x, y)

Ji = J2,1,1 (f ) = J2,1 (f ) + I2−1+1 (D(f, h)) = J2,1 (f ) + I2−1+1 (D(f, g)) =

= ⟨1, x, y⟩ + ⟨1, x, y⟩ = ⟨1, x, y⟩.


 
Lema 1.4.8. Sejam i um sı́mbolo de Boardman e f : Ck × Cn , 0 → Ck × Cp , 0
um germe de aplicação analı́tica da forma f (u, x) = (u, g(u, x)), onde g : (Ck ×
Cn , 0) → (Cp , 0). Então Ji (f ) = Ji (g, x) para qualquer sı́mbolo de Boardman.

12
Definição 1.4.9. Uma deformação a k-parâmetros
 de f : (Cn , 0) → (Cp , 0) é
k n p
um germe de aplicação h : C × C , (0, 0) → (C , 0) com h(0, x) = f (x). Um des-

dobramento a k-parâmetros correspondente é o germe h̃ : Ck × Cn , (0, 0) →

Ck × Cp , (0, 0) dado por h̃(u, x) = (u, h(u, x))

Proposição 1.4.10. Seja F : (Cr × Cn , 0) → (Cr × Cp , 0) um germe de aplicação


analı́tica da forma F (u, x) = (u, fu (x)), onde u ∈ Cr e x ∈ Cn (fu (x) = f (u, x)).
Então Ji (F ) = Ji (fu , x), para qualquer sı́mbolo de Boardman i = (i1 , . . . , ik ) ∈
B(n, p).

Demonstração: Segue diretamente do Lema 1.4.8


PRETENDO COLOCAR UM EXEMPLO, MAS ACHO QUE O RESULTADO
NÃO É VÁLIDO!!! - CITAR ELÍRIS.
Observação: O Lema anterior nos fala que para calcular qualquer extensão Jaco-
biana de F , precisamos apenas considerar as derivadas parciais de fu em relação a
x.

Definição 1.4.11. Sejam f : (Cn , 0) → (Cp , 0) um germe de aplicação analı́tica e


i = (i1 , . . . , ik ) seja um sı́mbolo Boardman de B(n, p). Dizemos que f é um germe
do tipo Σi quando

1. O posto de f é n − i1 ;

2. Para todo s = 2, . . . , k, o posto de (f, g) é n − is , sendo g = (g1 , . . . , gr ) e


g1 , . . . , gr geradores de Ji1 ,...,is−1 (f ).

Exemplo 1.4.12. Seja f : (C3 , 0) → (C2 , 0), definida por f (x, y, z) = (xy, yz),
definida por f (x, y, z) = (xy, yz), n = 3, p = 2 e i = (1, 1)

1. Vamos determinar o posto de f :


 
y x 0
Df = ⇒ posto(f ) = posto(Df ) = 2 ⇒ posto(f ) = 3 − 1 = n − i1
0 z y

2. Vamos determinar o posto de (f, g), mas precisamos determinar Ji1 (f ) para
encontrar g.
Ji1 (f ) = J1 (f ) = ∆i1 −n+1 (f, {0}) = I3 (Df ) = ⟨0⟩, pois Df é uma matriz
2 × 3. Assim, g = (g1 ) = (0). Logo,
 
y x 0
D(f, g) =  0 z y  ⇒ posto(f, g) = posto(D(f, g)) = 2 ⇒ posto(f, g) =
0 0 0
3 − 1 = n − i2 .
Portanto, de 1 e 2 concluı́mos que f é um germe do tipo Σi .

Definição 1.4.13. Para cada sı́mbolo de Boardman i = (i1 , . . . , ik ) ∈ B(n, p) de


comprimento ≤ k, podemos definir o seguinte subconjunto de J k (Cn , Cp ) = Cn ×
Cp × J k (n, p) :

Σi = (x, y, σ) ∈ J k (Cn , Cp ) : σ tem tipo Σi .




13
Definição 1.4.14. Dado i = (i1 , . . . , ik ) ∈ B(n, p) definimos:
ν(i, n, p) = (p − n + i1 ) µ (i1 , . . . , ik ) − (i1 − i2 ) µ (i2 , . . . , ik ) . . . (ik−1 − ik ) µ (ik )
onde µ(i) é o número de vetores j = (j1 , . . . , jk ), de coordenadas inteiras, tais que
js ≤ is , ∀s; j1 ≥ . . . ≥ jk ≥ 0 e j1 > 0
Notações: Como ν(i, n, p) somente depende da diferença n − p abreviaremos esta
notação escrevendo ν(i) no lugar de ν(i, n, p), quando não houver confusão.
Teorema 1.4.15. Seja i ∈ B(n, p), então o subconjunto Σi é uma subvariedade
regular de J k (Cn , Cp ) de codimensão ν(i).
Demonstração: Este teorema foi provado por Boardman [[4], pag. 408] e Morin
[[18], pag.15]. Iremos descrever numa subseção adiante os resultados que levam à
demonstração de Morin.
Observação: Levando em conta que J k (Cn , Cp ) = Cn × Cp × J k (n, p), então a
codimensão de Σi em J k (Cn , Cp ) é a mesma em J k (n, p)
Exemplo 1.4.16. Caso k = 1. Neste caso, µ(i) = i e, portanto, ν(i) = i(p − n + i).
Exemplo 1.4.17. Suponha i1 = i2 = . . . = ik = 1. Temos µ(1, . . . , 1) = k, logo, a
codimensão de Σ1k em J k (n, p) será (p − n + 1)k. Note que, no caso n = p ⇒ ν(i) =
k.
j(j−1)
Exemplo 1.4.18. Caso k = 2. Para k = 2, temos que µ(i, j) = i(j + 1) − 2
e
portanto, a codimensão de Σi,j em J 2 (n, p) é dada pela fórmula:
j
(p − n + i)i + [(p − n + i)(2i − j + 1) − 2i + 2j]
2
Definição 1.4.19. As subvariedades Σi1 ,...,ik de J k (n, p) são chamadas de conjun-
tos de singularidade de Thom-Boardman.
O próximo resultado é uma consequência imediata do Teorema 1.2.11 (ELÍRIS).
Teorema 1.4.20. O conjunto de todas as aplicações f ∈ On,p tais que j k f é trans-
versal a todas as subvariedades de Thom-Boardman Σi1 ,...,ik é denso em On,p .
Definição 1.4.21. Para cada germe de mapa f : (Cn , 0) → (Cp , 0) e sı́mbolo de
Boardman i ∈ B(n, p), definimos a multiplicidade algébrica de f em relação a i,
denotada por ei (f ), como a multiplicidade, no sentido Hilbert-Samuel, do anel local
On /Ji (f ). Pode ser expresso usando a fórmula limite para a multiplicidade (ver [3])
como
d! On
ei (f ) = lim d dimC k ,
k→∞ k mn + Ji (f )
onde mn é o ideal máximo de On e d é a dimensão de On /Ji (f ) .

Observação: Quando o anel On /Ji (f ) tem dimensão zero, este invariante é dado
por
On
ei (f ) = dimC .
Ji (f )
Neste caso, este invariante coincide com o invariante ci (f ) definido em [23] (Re-
ferência do artigo), que por sua vez generaliza os invariantes mencionados na In-
trodução.

14
1.4.1 Ideal de Morin
A demonstração do Teorema 1.4.15 é feita por indução em k, é baseada na cons-
trução de um ideal ∆i definido no anel de polinômios C [z i α ] cujas variáveis são as
coordenadas do espaço de jatos J k (n, p).
É demonstrado
∗ que para um germe genérico f o ideal Ji (f ) é obtido via o pull-
back j f deste ideal ∆i . Ou seja (j k f )∗ (∆i ) = Ji (f ), onde (j k f )∗ é o homomor-
k

fismo induzido por j k f .



Em seguida, mostra-se que Σi = V (∆i )/V (∆i ), onde i′ denota o sucessor de i
com a ordem lexicográfica.
Todas as demonstrações serão obtidas, pois o objetivo aqui é apenas a ideia
da demonstração, que pode ser vista com mais detalhes em (REFERENCIA [18]
ELIRIS).
Fixemos um sistema de coordenadas zα1 , . . . , zαp em J k (n, p) tal que um polinômio
τ ∈ J k (n, p) é escrito como:
τ (x1 , . . . , xn ) = τ 1 (x1 , . . . , xn ) , . . . , τ p (x1 , . . . , xn ) ,


i
z(α
com cada τ i (x1 , . . . , xn ) = 1 ,α2 ,...,αn )
xα1 1 . . . xαnn .
P
α!
1≤|α|≤k
Assim, identificamos J k (n, p) com CN para algum N e utilizando a notação de
ı́ndices múltiplos, podemos escrever zα = (zα1 , . . . , zαp ) com α = (α1 , . . . , αn ) , |α| =
α1 + . . . + αn e α! = (α1 + . . . + αn )! tal que
X zα
τ (x) = xα
α!
1≤|α|≤k

Definição 1.4.22. Seja Φ : CN × Cn → CN × Cp definida por Φ(τ, x) = (τ, τ (x)).


Como Φ é uma aplicação polinomial, para cada sı́mbolo de Boardman i ∈ B(n, p),
podemos considerar Ji (Φ) como um ideal no anel de polinômios C [zα i , xj ].
O ideal de Morin, denotado por ∆i em C [zα i ] é definido por ∆i = ψ (Ji (Φ)),
onde ψ : C [zα i , xj ] → C [zα i ] é o epimorfismo natural que aplica xj em 0.
Definição 1.4.23. Sejam i, j ∈ B(n, p), suponhamos que i = (i1 , . . . , ik ) e j =
(j1 , . . . , jl ). Escrevemos i ⪯ j quando i = j ou ir0 < jr0 com r0 = min {r : ir ̸= jr }.
A relação de ordem ⪯ definida em B(n, p) é conhecida como ordem lexicográfica em
B(n, p).
Definição 1.4.24. Seja i = (i1 , . . . , ik ) ∈ B(n, p) um sı́mbolo de Boardman distinto
de (n, . . . , n), definimos o sucessor de i como:
i′ = min{j ∈ B(n, p) : i ⪯ j, i ̸= j, |j| ≤ |i|}

Observação: Se n > ir > ir+1 = ik , o sucessor de i = (i1 , . . . , ik ) é i′ =


(i1 , . . . , ir , ir+1 ). Assim, quando i1 = . . . = ik > 0 temos que i′ = (i1 + 1).
Indutivamente, podemos definir i(t) como o sucessor de i(t−1) . A construção
de sucessores de i termina em uma quantidade finita de passos, obtendo assim os
denominados sucessores iterados de i.
i′
e quando, i′ não está
i i

Teorema 1.4.25. Seja i ∈ B(n, p) então Σ = V (∆ ) \V ∆

definido, V ∆i = ∅. Em particular, se i′ , . . . , i(t) são os sucessores de i, temos que:


′ (t)
V ∆i = Σi ∪ Σi ∪ . . . ∪ Σi


15
Observação: Se σ ∈ Σi , os germes de Σi e V (∆i ) em σ coincidem. Da decom-
posição de V (∆i ), dada pelo Teorema anterior, segue que  a codimensão de V (∆i ),
em cada σ ∈ J k (Cn , Cp ), é igual ao mı́nimo dos ν i(t) para os quais o germe do
conjunto de Σi(l) em σ é não vazio, l ∈ {1, . . . , t}. Por fim, mostra-se que V (∆i ) é
regular de codimensão ν(i) (ARTIGO FAZ REFERENCIA A [2], [11], [21]).

1.5 Teoria da multiplicidade


Agora, estudaremos um pouco sobre a teoria da multiplicidade e anéis de Cohen-
Macaulay para entender melhor o número que acabamos de definir. Aqui trataremos
R sendo um anel local Noetheriano (R, m, L), ou seja, queremos que R seja um anel
Noetheriano com um único ideal maximal m. Aqui L = R/m (é um corpo, pois m
é maximal). Denotaremos as vezes por (R, m) ou somente R.

Definição 1.5.1. Seja R um anel local Noetheriano qualquer, dizemos que I é um


ideal de definição de R se m é o ideal maximal de R, então existe um k ≥ 1 tal
que mk ⊆ I.

Observação: Se um anel local tem dimensão de Krull d então existem d elementos


x1 , . . . , xd em m tais que o anel R/⟨x1 , . . . , xd ⟩ tem dimensão de Krull 0. Isso
é equivalente à condição de que mt ⊆ ⟨x1 , . . . , xd ⟩ para algum t, ou seja, I =
⟨x1 , . . . , xd ⟩ é um ideal de definição de R.

̸ R e se ab ∈ q ⇒
Definição 1.5.2. Um ideal q em um anel A é primário se q =

a ∈ q ou bn ∈ q para algum n > 0. Se q é primário e p = q, então q é dito
p−primário.

Definição 1.5.3. O comprimento de um R-módulo M finitamente gerado tal que


mt M = 0 é definido como
t−1
X
dimL mi M/mi+1 M

ℓ(M ) =
i=0

Definição 1.5.4. Sejam (R, m) um anel noetheriano local de dimensão d, M um R-


módulo finitamente gerado e I um ideal m-primário. Definimos a multiplicidade
de Hilbert-Samuel de I com respeito a M como
d! n+1

lim ℓ M/I M .
n→∞ nd

Observação: A formula para a multiplicidade de Hilbert-Samuel é demonstrada


partindo do polinômio de Hilbert. Porém como não é o foco do trabalho, não
deduziremos esta fórmula, a demonstração pode ser vista em (REFERENCIA).
Notação: Se R é um anel local Noetheriano d dimensional e I é um ideal de definição
de R, denotamos a multiplicidade de I, no sentido de Hilbert-Samuel, como e(I, R).
A multiplicidade do ideal máximal de R também é denotada por e(R).

Definição 1.5.5. Seja R um anel local. Se d = dim R e x1 , . . . , xd é uma famı́lia de


elementos de R que gera um ideal I tal que dim RI = 0, então x1 , . . . , xd é chamado
um sistema de parâmetros de R.

16
Definição 1.5.6. Se I é gerado por um sistema de parâmetros de M dizemos que
I é um ideal de parâmetros de M .

Observação: Utilizando uma observação citada anteriormente, quando tomamos


I gerado por um sistema de parâmetros, ou seja, I sendo um ideal de parâmetros,
queremos dizer que I é um ideal de definição de R.

Definição 1.5.7. Seja (R, m) um anel local, M um R-módulo e I um ideal de R.


Uma sequência de elementos x1 , . . . , xn contida em I é M-regular se (x1 , . . . , xd ) M ̸=
M e para 0 ≤ i leqd − 1 e xi não é divisor de zero em

M/ ⟨x1 , . . . , xi ⟩ M, ∀i = 2, . . . , n.

Se I = m e R = M , dizemos simplesmente que x1 , . . . , xn é uma sequência regular.

Observação: O caso principal aqui é quando M = R, onde a primeira condição é


que os elementos gerem um ideal próprio de R.
Podemos então definir a multiplicidade do sistema de parâmetros x1 , . . . , xd .

Definição 1.5.8. Definimos a multiplicidade do sistema de parâmetros


x1 , . . . , xd como o inteiro µ tal que o coeficiente lı́der do polinômio de grau d em t
que é igual a ℓ (R/⟨x1 , . . . , xd ⟩t ) para todo t ≫ 0 é µ/d!.

Observação 1: Note que tomando I = ⟨x1 , . . . , xd ⟩ e R como R-módulo sobre si


mesmo, como a definição é para t muito grande, tomando o limite, essa multiplici-
dade coincide com a multiplicidade de Hilbert-Samuel definido na Definição 1.5.4.
(ACREDITO QUE CONSIGA PROVAR).
Observação 2: Se I é um ideal de um anel R, podemos formar um anel graduado
associado, grI R = ⊕∞ t
t=0 I /I
t+1
, cuja t-ésima peça graduada, t ≥ 0, é I t /I t+1 (se
u = [r] com r ∈ I s tem grau s e u′ = [r′ ] com r′ ∈ I t tem grau t então uu′ = [rr′ ] em
I s+t /I s+t+1 ). Se x1 , . . . , xd geram I, então [x1 ] , . . . , [xd ] em I/I 2 geram grI R como
uma (R/I)-álgebra.

Lema 1.5.9. Seja (R, m, L) um anel local de dimensão Krull d. As condições


seguintes são equivalentes:

1. Algum (equivalentemente, para todo) sistema de parâmetros é uma sequência


R-regular.

2. Para algum (equivalentemente, para todo) sistema de parâmetros x1 , . . . , xd , a


multiplicidade do sistema de parâmetros x1 , . . . , xd é igual a ℓ (R/⟨x1 , . . . , xd ⟩).

3. Para algum (equivalentemente, para todo) sistema de parâmetros x1 , . . . , xd ,


se Q denota (x1 , . . . , xd ) R então grQ R é um anel polinomial nas variáveis [xi ]
sobre R/Q

Demonstração: Este lema não será demonstrado, pois estamos interessados apenas
em seu uso para a definição seguinte. Porém a demonstração pode ser vista em
(REFERÊNCIA [3] DO ARTIGO).

17
Definição 1.5.10. Se R satisfaz essas condições equivalentes, é chamado de anel
Cohen-Macaulay.

Observação: Unindo tudo que vimos, quando tomamos um ideal I de parâmetros,


ou seja, um ideal gerado por um sistema de parâmetros, então pela definição de um
sistema de parâmetros e por uma observação feita, temos que esse ideal é um ideal
de definição de R.
A próxima proposição mostra que a multiplicidade de um ideal de definição ar-
bitrário pode sempre ser calculada como a multiplicidade de um ideal de parâmetro.

Proposição 1.5.11. Suponha que (R, m) é um anel local de dimensão d tal que o
campo fundamental k = R/m é infinito. Seja I um ideal de definição de R. Então,
existem elementos a1 , . . . , ad tais que

1. e (⟨a1 , . . . , ad ⟩ , R) = e(I, R);

2. ai pode ser encontrado entre k-combinações lineares de qualquer conjunto de


geradores de I.

Observação: Agora, considere um germe de aplicação f : (Cn , 0) → (Cp , 0) e um


sı́mbolo de Boardman i ∈ B(n, p) tal que o anel On /Ji (f ) tem dimensão d. Se
aplicarmos a proposição anterior ao ideal maximal de On /Ji (f ), temos que existe
uma famı́lia de formas lineares d g1 , . . . , gd tal que ei (f ) é expresso como
   
On On
ei (f ) = e = e ⟨ḡ1 , . . . , ḡd ⟩ , ,
Ji (f ) Ji (f )

onde ḡi denota a imagem de gi em On /Ji (f ).


Além disso, é bem sabido que esta expressão vale para quase todas as opções
de d formas lineares. Diremos que L = V (g1 , . . . , gd ) é um plano genérico para
On /Ji (f ), quando g1 , . . . , gd é uma famı́lia de formas lineares. O ideal em On /Ji (f )
gerado por essas formas também é chamado de redução do ideal maximal. Se além
disso, supomos que o anel On /Ji (f ) é Cohen-Macaulay,

18

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