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Exercícios - Cálculo IV - Aula 12 - Semana

09/11 - 13/11
Séries de Fourier

1 Introdução às Séries de Fourier


Uma série de Fourier é uma série do tipo
+∞ +∞
a0 X X
s(x) = + an cos(nx) + bn sin(nx)
2 n=1 n=1

em que {an } e {bn } são sequências numéricas reais. As sequências {an } e


{bn } são chamadas de coecientes de Fourier da série.
De forma geral, vamos inicialmente estudar os seguintes problemas e suas
consequências:
1) Qual tipo de função pode ser escrita como uma série de Fourier?
2) Dada uma função f : I → R como encontrar seus coecientes de
Fourier?
3) Quais propriedades (contínua, derivável, integrável, etc) tem uma série
de Fourier?
Para iniciar esse estudo vamos lembrar alguns resultados do cálculo e da
álgebra linear.
Deste ponto em diante vamos estar considerando que as funções estarão
denidas em intervalos simétricos pela origem do tipo I = [−L, L] ou (−L, L) ou R,
para algum L > 0. Em outras palavras, isso signica que I tem a propriedade
de simetria:
x ∈ I ⇒ −x ∈ I.
Por exemplo, os conjuntos [−1, 1], (−π, π), ou R têm essa propriedade. Para
vericar isso no intervalo [−1, 1] lembre que [−1, 1] = {x ∈ R : |x| ≤ 1}. Logo,

1
por denição, x ∈ [−1, 1] se e somente se |x| ≤ 1. Portanto, se x ∈ [−1, 1]
temos que | − x| = |x| ≤ 1 e segue que −x ∈ [−1, 1].
Denição. Seja I um intervalo simétrico pela origem e f : I → R uma
função. Diremos que:
(i) f é par se, para todo x ∈ I temos que f (−x) = f (x);
(i) f é ímpar se, para todo x ∈ I temos que f (−x) = −f (x). Em partic-
ular, f (0) = 0.
Exercício. Para cada função abaixo considere que seu domínio seja al-
gum intervalo simétrico pela origem I . Mostre que:
i) as funções g0 (x) = c-constante, g1 (x) = |x|, g2 = x2 e g(x) = cos(x) são
funções pares.
ii) as funções h1 (x) = x, h2 (x) = x3 , h3 (x) = sin(x) são funções ímpares.
iii) se f e g forem funções pares, então f.g e f + g são também funções
pares.
iv) se f e g forem funções ímpares, então f.g é uma função par e f + g é
uma função ímpar.
v) se f for par e g for ímpar, então f.g é função ímpar.
Observação. Considerado o sistema de coordenadas retangulares xOy
no plano cartesiano, obtemos geometricamente que o gráco de uma função
par é simétrico com respeito ao eixo Oy, e da função ímpar é simétrico com
relação a origem (0, 0).
Exercício. Dada f : [−L, L] → R uma função contínua.
Z L Z L
a) Se f for par, então f (x)dx = 2 f (x)dx;
−L 0
Z L
b) Se f for ímpar, então f (x)dx = 0.
−L
Vamos lembrar também as seguintes fórmulas trigonométricas que vão
ser importantes:
Exercício. Mostre que:
c) 2 cos(α). cos(β) = cos(α + β) + cos(α − β). Em particular, 2 cos2 (α) =
1 + cos(2α);

2
d) 2 sin(α). sin(β) = cos(α − β) − cos(α + β). Em particular, 2 sin2 (α) =
1 − cos(2α);
Utilize essas fórmulas trigonométricas para resolver o seguinte exercício.
Exercício. Nos problemas abaixo considere que p e q são inteiros posi-
tivos:
Z 2π Z 2π
a) cos(px)dx = 0, b) sin(px)dx = 0,
0 0

0, se p 6= q
Z 
c) cos(px) cos(qx)dx =
0 π, se p = q

0, se p 6= q
Z 
d) sin(px) sin(qx)dx =
0 π, se p = q

***** Lembrete da Álgebra Linear *****


Considere o intervalo J = [−L, L], para algum 0 < L ≤ ∞. Vamos lem-
brar da álgebra linear que o espaço vetorial de todas as funções F(J) = {f :
J → R} pode ser decomposto como soma direta de dois subespaços ve-
toriais F(J) = FP (J) ⊕ FI (J) em que FP (J) = {g : J → R, g é função par}
e FI (J) = {h : J → R, h é função ímpar}. Consequentemente, dada qual-
quer função f ∈ F(J) existem únicas funções g ∈ FP (J) e h ∈ FI (J)
tal que para cada x ∈ J segue que f (x) = g(x) + h(x). Ou seja, a função
pode ser escrita de forma única como soma de uma função par e
uma função ímpar.
***********************
a
Suponha que uma série de Fourier s(x) = 0 + +∞ +∞
P P
n=1 an cos(nx)+ n=1 bn sin(nx)
2
seja convergente em todo ponto de um intervalo simétrico pela origem I, logo
podemos denir a função s : I → R, x 7→ s(x). Além disso, vamos assumir
a
que no mesmo intervalo I as séries 0 + +∞ n=1 an cos(nx) e
P P+∞
n=1 bn sin(nx)
2
também sejam convergentes.
Então, a série s(x) pode ser decomposta como soma de duas séries: uma
a
série de funções pares 0 + +∞ n=1 an cos(nx), e uma série de funções ímpares
P
P+∞ 2
n=1 bn sin(nx).

Essa observação vai nos ajudar nos cálculos dos coecientes de Fourier a

3
seguir.

2 Coecientes de Fourier da série


a
Dada uma função f (x) = 0 + +∞ sin(nx). Como
P P+∞
n=1 an cos(nx) + n=1 bn
2
podemos encontrar os coecientes de Fourier an e bn ?
Exercício. Considere que a série de Fourier
Z π f (x) acima possa ser in-
1
tegrada termo a termo. Mostre que an = f (x) cos(nx)dx para todo
π −π
Z π
1
n ≥ 0, e bn = f (x) sin(nx)dx, n ≥ 1. (Dica: se tiver dúvidas assista a
π −π
vídeo aula 3/5 da semana).
Exemplo. Encontre a série de Fourier da função f : [−π, π] → R,
f (x) = x. Vamos lembrar que f é uma função impar, logo
Z an = 0 para todo
1 π
n ≥ 0. Então, basta calcular os coecientes bn = x sin(nx)dx, para
π −π
2(−1)n+1
todo n ≥ 1. Usando integração por partes conclua que bn = e,
n
consequentemente, a série de Fourier de f (x) = x para x ∈ [−π, π] é dada
+∞
2(−1)n+1
por s(x) =
X
sin(nx).
n=1
n
Exemplo. Encontre a série de Fourier da função f : [−π, π] → R,
f (x) = x2 . Lembre que sendo f agora uma função par, então bn = 0 para
todo n ≥ 1. Resta encontrar os coecientes an , n ≥ 0. Por cálculo direto
2π 2 4(−1)n
obtemos que a0 = e an = , n ≥ 1, portanto a série de Fourier de
3 n2
+∞
π 2 X 4(−1)n
f é dado por s(x) = + 2
cos(nx).
3 n=1
n

3 Convergência da série de Fourier


Denição. Seja f : [a, b] → R uma função. Diremos que f é C 1 por partes,
se existir uma partição P = {a = x0 < x1 < · · · < xn = b} de [a, b], tal que
para cada subintervalo (xi−1 , xi ), i = 1, . . . , n as funções f, f : (xi−1 , xi ) → R
0

são contínuas.

4
O resultado abaixo mostra condições sucientes para a convergência da
série de Fourier para uma certa classe de função.
Teorema de convergência pontual de uma série de Fourier. Sejam
f : [−π, π] → R uma função e P = {−π = x0 < x1 < · · · < xn = π} uma
partição do intervalo [−π, π], no qual f é C 1 por partes e limitada. Suponha
que nos pontos xi ∈ P os limites laterais de f sejam nitos. Então, a série
de Fourier s(x) de f satisfaz:
1) f (x) = s(x) para cada x ∈]xi−1 , xi [,
2) para cada xi ∈ P = {−π = x0 < x1 < · · · < xn = π} temos que
limx→x+i f (x) + limx→x−i f (x)
s(xi ) = ,
2
3) A série de Fourier s(x) é 2π -períodica em R; ou seja, existe um p > 0
tal que s(x + p) = s(x), para todo x ∈ R.1
Vamos esclarecer abaixo alguns pontos do Teorema de convergência a
partir de alguns exemplos.
Exemplo. As funções f (x) = cos(x), g(x) = sin(x) são 2π-periódicas, e
a função h(x) = cos(2πx) é 1-periódica.
Exemplo. A função f : [−π, π] → R, f (x) = |x| é claramente C 1 por
partes, visto que nos subintervalos ] − π, 0[ a função é dada por f (x) = −x,
e em ]0, π[ a função é f (x) = x. Além disso, a função é limitada em [−π, π]
pois |f (x)| ≤ π. Faça o gráco para comprovar essas armações.
Vamos encontrar a série de Fourier de f e para isso vamos calcular os coe-
cientes de Fourier. Sendo fZ uma função par
Z segue que bn = 0, para todo n ≥
π π
1 2 π 1
1. Por outro lado, a0 = |x|dx = xdx = x2 = π. Além disso,
π
−π Z π π 0 π 0
2
para todo n ≥ 1 segue que an = x cos(nx)dx, e fazendo integração por
π Z0
1 1
partes obtemos a seguinte primitiva x cos(nx)dx = {x sin(nx) + cos(nx)}+
n n
C, para C -constante. Concluímos que
1 O menor p positivo no qual a função é períodica é chamado o período
.

5

2 1
π
2 (−1) 1n 0, n par,
an = {x sin(nx)+ cos(nx)} = { − }= 4
nπ n 0 nπ n n − , n ímpar.
πn2
Portanto, a série de Fourier de f (x) = |x| em [−π, π] é
+∞
π 4 X cos((2n − 1)x)
s(x) = − .
2 π n=1 (2n − 1)2

Aplicando o Teorema da convergência pontual temos que


limx→0+ f (x) + limx→0− f (x)
s(0) = = 0.
2
+∞
π 4X 1
Da série de Fourier temos que 0 = s(0) = − , e concluímos
2 π n=1 (2n − 1)2
que
+∞
X 1 π2
= .
n=1
(2n − 1)2 8

Exercício. Encontre a série de Fourier das funções abaixo no intervalo


[−π, π].
i) g(x) = x2 .
(
1, 0 ≤ x < π;
ii) h(x) = .
0, − π ≤ x < 0
Exercício. Determine a soma das séries:
+∞ +∞
(−1)n+1 1
iii) iv)
X X
, .
n=1
n2 n=1
n2

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