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NOME:
Instruções básicas:
(1) A prova consiste em seis (6) questões classificadas em duas áreas, Análise Real e
Álgebra Linear.
(2) Cada candidato(a) pode apresentar soluções de até duas questões de cada área, à sua
escolha. Questões adicionais não serão consideradas.
(3) Cada questão vale 5 pontos. Em questões com vários itens, a pontuação de cada item
está especificada.
(4) Para lograr aprovação, o(a) candidato(a) deve totalizar pelo menos 5 pontos em cada
uma das duas áreas.
(5) A prova é realizada de forma individual e sem consulta a qualquer material.
(6) Cada candidato(a) receberá folhas para a resolução das questões. Questões diferentes
devem ser resolvidas em folhas distintas. Identifique cada folha, especificando também
a área e a questão resolvida.
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ÁLGEBRA LINEAR
Questão 3.
(a) (1,5 ponto) Seja A uma matriz de m linhas e n colunas que tem posto n. Mostre
que existem matrizes Q e R, onde Q é ortogonal (explique o que é) e R é quadrada e
triangular superior, tais que A = QR.
(b) (1,5 ponto) No contexto de espaços de matrizes quadradas com elementos no corpo
dos números complexos, defina matriz diagonalizável. Fixada uma dimensão n, seja
Dn o espaço de matrizes diagonalizáveis de n linhas e n colunas. Mostre que, para
toda matriz A ∈ Dn , existe uma 2
matriz B ∈ D
n tal que B = A.
−3 0 0
(c) (2,0 pontos) Considere A = 0 −1 −1 . Encontre matrizes X (não-singular)
0 4 −5
e J tais que AX = XJ, onde J está na forma canônica de Jordan.
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ÁNÁLISE REAL
Nota: Para resolver questões nessa parte da prova, se assim desejar, você poderá utilizar
qualquer um dos resultados abaixo sem demonstração, desde que devidamente enunciados:
• Fórmula de Taylor com resto integral
• Fórmula de Taylor com resto de Lagrange
• Teorema de Heine-Borel
• Teorema de Bolzano-Weierstrass
• Teorema do Valor Intermediário
• Teorema do Valor Médio
• Teorema do Valor Médio para Integrais
• Teorema dos Intervalos Encaixantes
• Teorema Fundamental do Cálculo
Questão 6. Dados números reais a < b, sejam C 0 [a, b] o conjunto de funções reais contínuas
com domínio [a, b] e F[a, b] o conjunto de funções reais com domínio [a, b]. Defina a aplicação
Ψ : C 0 [a, b] → F[a, b] dada por Z x
Ψ(f ) = f (y) dy.
a
(a) (1,5 ponto) Prove que Ψ(C 0 [a, b]) ⊆ C 1 [a, b], onde C 1 [a, b] é o conjunto de funções
com derivada contínua em [a, b].
(b) (1,5 ponto) Seja φ : [a, b] → R tal que φ0 (x) = f (x) para todo x ∈ [a, b]. Prove que
φ(x) − φ(a) = Ψ(f )(x) para todo x ∈ [a, b].
(c) (2,0 pontos) Prove que, se f (x) ≥ 0 para todo x ∈ [a, b] e limx→b− Ψ(f )(x) = 0,
então f (x) = 0 para todo x ∈ [a, b].
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isto é, y ∈ f (K). Isso demonstra que f (K) ⊆ f (K), logo f (K) é fechado.
Solução 4(b): O conjunto f (K) = {f (x) : x ∈ K} é não-vazio e, pelo item (a), é fechado e
limitado. Pelo fato de que f (K) ser não vazio e limitado, existe S = sup{f (x) : x ∈ K}. Pela
definição de supremo, para todo ε > 0, existe y ∈ f (K) tal que S − ε < y ≤ S. Para todo
n ∈ N, fixe yn = f (xn ) tal que
1
S − < f (xn ) ≤ S,
n
isto é, limn→∞ f (xn ) = S. Portanto, S ∈ f (K) = f (K) pelo item (a). Logo, existe x0 ∈ K
tal que f (x0 ) = S, como querímos demonstrar.
Solução 5(a): Uma função f : Ω → Rn definida em um aberto Ω ⊂ Rm é diferenciável em a
se existe uma transformação linear T : Rm → Rn tal que
||f (a + h) − f (a) − T (h)||
lim = 0.
h→0 ||h||
Escrevendo f (x1 , . . . , xm ) = (f1 (x1 , . . . , xm ), . . . , fn (x1 , . . . , xm )), a derivada total D(f ) de f
no ponto a é dada por ∂f1 ∂f1
∂x1 (a) · · · ∂xm (a)
D(f ) =
.. .. .
. ··· .
∂fn ∂fn
∂x1 (a) ··· ∂xm (a)
Solução 5(b): Nota: Esses teoremas podem ser enunciados de outras maneiras equivalentes
que também serão consideradas.
Teorema 1 (Teorema da Função Inversa). Seja f : Ω → Rn uma função de classe C 1 em um
aberto Ω ⊂ Rn cuja derivada total (Df )(x0 ) é inversível em um ponto x0 ∈ Ω. Então existem
vizinhanças V de x0 e W de f (x0 ) tais que f |V : V → W é inversível em V . Além disso, a
sua inversa h : W → V é de classe C 1 em seu domínio.
No próximo enunciado, considere Rn+m = {(x, y) : x ∈ Rn , y ∈ Rm }, onde escrevemos
x = (x1 , . . . , xn ) e y = (y1 , . . . , ym ). Para um função f : Rn+m → Rn , escrevemos f (x, y) =
(f1 (x, y), . . . , fn (x, y)).
Teorema 2 (Teorema da Função Implícita). Seja f : Ω → Rn uma função de classe C 1 em um
aberto Ω = Ω1 × Ω2 ⊂ Rn+m . Seja x0 = (a, b) ∈ Ω, onde a ∈ Rn e b ∈ Rm tal que f (a, b) = 0
e suponha que a matriz ∂f1 ∂f1
∂x1 (a, b) · · · ∂xn (a, b)
.. .. (1)
. ··· .
∂fn ∂fn
∂x1 (a, b) ··· ∂xn (a, b)
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Solução 5(c): Provaremos que o Teorema da Função Implícita implica o Teorema da Função
Inversa. Com as hipóteses do Teorema da Função Inversa, defina a função φ : Ω × Rn → Rn
tal que φ(x, y) = f (x) − y e considere o ponto (a, b) = (x0 , f (x0 )) ∈ Ω × Rn . Por definição,
φ(a, b) = f (x0 ) − f (x0 ) = 0. Além disso, escrevendo φ(x, y) = (φ1 (x, y), . . . , φn (x, y)) =
(f1 (x) − y1 , . . . , fn (x) − yn ) e denotando as primeiras n variáveis por x1 , . . . , xn e as demais
por y1 . . . , yn , temos
∂φ1 ∂φ1 ∂f1 ∂f1
∂x1 (a, b) · · · ∂xn (a, b) ∂x1 (a) · · · ∂xn (a)
.. .. = .. .. ,
. ··· . . ··· .
∂φn ∂φn ∂fn ∂fn
∂x1 (a, b) ··· ∂xn (a, b) ∂x1 (a) ··· ∂xn (a)
que é inversível por hipótese. Pelo Teorema da Função Implícita, existe uma vizinhança W
de b e uma única função h : W → Ω de classe C 1 tal que h(b) = a e φ(h(y), y) = 0 para todo
y ∈ W.
Portanto, x ∈ h(W ) se, e somente se, x = h(y) para algum y ∈ W e φ(x, y) = f (x) − y =
f (h(y)) − y = 0. Segue que (f ◦ h)(y) = y para todo y ∈ W . Portanto, f : h(W ) → W é
sobrejetora e h é inversa à direita de f . Para provar que f é inversível e h é a sua inversa,
basta mostrar que f é injetora em h(W ). Sejam x1 , x2 ∈ h(W ) tais que f (x1 ) = f (x2 ). Sejam
y1 , y2 ∈ W tais que x1 = h(y1 ), x2 = h(y2 ). Sabemos que φ(x1 , y1 ) = 0 e φ(x2 , y2 ) = 0,
de onde segue que y1 = f (x1 ) = f (x2 ) = y2 , e x1 = h(y1 ) = h(y2 ) = x2 , como queríamos
demonstrar.
Solução 6(a): Utilizaremos o Teorema Fundamental do Cálculo.
Teorema 3 (Teorema Fundamental do Cálculo). Seja f : [a, b] → R uma função contínua. A
função F : [a, b] → R definida por
Z x
F (x) = f (y) dy
a
é diferenciável e satisfaz F 0 (x) = f (x) para todo x ∈ [a, b].
O Teorema 3 garante que a aplicação Ψ associa cada função f a uma função Ψ(f ) cuja
derivada é f . Como as funções do domínio são contínuas, as suas imagens têm derivada
contínua, e portanto são de classe C 1 .
Solução 6(b): Utilizaremos o Teorema do Valor Médio.
Teorema 4 (Teorema do Valor Médio). Seja f : [a, b] → R uma função contínua que é dife-
renciável em (a, b). Existe c ∈ (a, b) tal que
f (b) − f (a)
f 0 (c) = .
b−a
Seja φ uma função com as propriedades do enunciado. Do item (a), sabemos que (Ψ(f ))0 =
f , de forma que a função g = φ − Ψ(f ) satisfaz g 0 (x) = (φ − Ψ(f ))0 (x) = φ0 (x) − Ψ(f )0 (x) =
f (x) − f (x) = 0 para todo x ∈ [a, b]. Isso significa que existe K ∈ R tal que g(x) = K para
todo x ∈ [a, b]. De fato, se isso não ocorresse, existiriam a0 , b0 ∈ [a, b] com a0 < b0 tais que
0 0)
g(a0 ) 6= g(b0 ), e o Teorema 4 implicaria a existência de c ∈ (a0 , b0 ) tal que g 0 (c) = g(bb)−g(a
0 −a0 6= 0,
uma contradição. Sendo assim, φ(x) − K = Ψ(f )(x) para todo x ∈ [a, b]. O resultado segue
do fato de que Ψ(f )(a) = 0, logo K = φ(a).
Solução 6(c): Suponha, por absurdo, que existe x0 ∈ [a, b] tal que f (x0 ) = K > 0. Como
f é contínua em x0 , existe δ > 0 tal que f (x) ≥ K/2 para todo x ∈ I(x0 ) = [max{a, x0 −
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δ}, min{x0 + δ, b}]. De fato, pela definição de continuidade, para ε = K/2, existe δ > 0 tal
que |f (x) − f (x0 )| ≤ ε para todo x ∈ [x0 − δ, x0 + δ] ∩ [a, b].
Podemos supor que δ < (b − a)/2, de forma que I(x0 ) tem comprimento pelo menos δ.
Fixe um inteiro n ≥ 2(b − a)/δ. Considere a partição P de [a, b] em n intervalos J1 , . . . , Jn
de comprimento (b − a)/n ≤ δ/2. Em particular, um desses intervalos J` está inteiramente
contido em I(x0 ). Considere a soma inferior de f com relação à partição P. Essa soma vale
n
X (b − a) (b − a) (b − a) K
min{f (x) : x ∈ Ji } ≥ min{f (x) : x ∈ J` } ≥ > 0.
n n n 2
i=1
Rb
Isso é absurdo, pois, por hipótese, 0 = a f (x) dx é o supremo das somas inferiores de f .