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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE MATEMÁTICA E ESTATÍSTICA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA APLICADA

EXAME DE CONHECIMENTOS DE DOUTORADO 2020/2

NOME:
Instruções básicas:
(1) A prova consiste em seis (6) questões classificadas em duas áreas, Análise Real e
Álgebra Linear.
(2) Cada candidato(a) pode apresentar soluções de até duas questões de cada área, à sua
escolha. Questões adicionais não serão consideradas.
(3) Cada questão vale 5 pontos. Em questões com vários itens, a pontuação de cada item
está especificada.
(4) Para lograr aprovação, o(a) candidato(a) deve totalizar pelo menos 5 pontos em cada
uma das duas áreas.
(5) A prova é realizada de forma individual e sem consulta a qualquer material.
(6) Cada candidato(a) receberá folhas para a resolução das questões. Questões diferentes
devem ser resolvidas em folhas distintas. Identifique cada folha, especificando também
a área e a questão resolvida.
2

ÁLGEBRA LINEAR

Questão 1. Seja V um espaço vetorial sobre o conjunto R de números reais, munido de um


produto escalar h·, ·i.
(a) (1,5 ponto) Sendo T : V → V uma aplicação linear, defina o operador adjunto de T
e demonstre a sua existência.
(b) (1,5 ponto) Fixados u, v ∈ V, para x ∈ V , e considerando T : x → hx, uiv, encontre
o operador adjunto de T .
(c) (2,0 pontos) Agora considere V o espaço vetorial sobre R composto pelas funções
reais u(·) duas vezes diferenciáveis no intervalo [0, 1], satisfazendo u(0) = u(1) = 0,
R1
munido do produto interno usual hu, vi = 0 u(ξ)v(ξ)dξ. Nesse contexto, mostre que
2
a aplicação linear derivada segunda D2 : u(·) 7→ ddt2u (·) é autoadjunta, isto é, ela é sua
própria adjunta.

Questão 2. Um operador linear P : V → V é chamado de projeção se P 2 = P


(a) (1,5 ponto) Defina autovalor de P. Quais escalares λ podem ser autovalores de algum
operador de projeção? Justifique sua resposta.
(b) (1,5 ponto) Encontre uma matriz P que represente o operador P : R3 → R3 que
opera a projeção ortogonal sobre a reta definida pelas equações y = 0 e x + z = 0.
Apresente um autovetor dessa matriz, associado ao autovalor unitário, ou justifique
que tal vetor não existe.
(c) (2,0 pontos) Encontre uma matriz P que represente o operador P : R3 → R3 que
opera a projeção ortogonal sobre o plano x + y + z = 0.

Questão 3.
(a) (1,5 ponto) Seja A uma matriz de m linhas e n colunas que tem posto n. Mostre
que existem matrizes Q e R, onde Q é ortogonal (explique o que é) e R é quadrada e
triangular superior, tais que A = QR.
(b) (1,5 ponto) No contexto de espaços de matrizes quadradas com elementos no corpo
dos números complexos, defina matriz diagonalizável. Fixada uma dimensão n, seja
Dn o espaço de matrizes diagonalizáveis de n linhas e n colunas. Mostre que, para
toda matriz A ∈ Dn , existe uma 2
 matriz B ∈ D
n tal que B = A.
−3 0 0
(c) (2,0 pontos) Considere A =  0 −1 −1  . Encontre matrizes X (não-singular)
0 4 −5
e J tais que AX = XJ, onde J está na forma canônica de Jordan.
3

ÁNÁLISE REAL
Nota: Para resolver questões nessa parte da prova, se assim desejar, você poderá utilizar
qualquer um dos resultados abaixo sem demonstração, desde que devidamente enunciados:
• Fórmula de Taylor com resto integral
• Fórmula de Taylor com resto de Lagrange
• Teorema de Heine-Borel
• Teorema de Bolzano-Weierstrass
• Teorema do Valor Intermediário
• Teorema do Valor Médio
• Teorema do Valor Médio para Integrais
• Teorema dos Intervalos Encaixantes
• Teorema Fundamental do Cálculo

Questão 4. Seja K ⊂ Rm um conjunto compacto não-vazio e seja f : K → Rn uma função


contínua.
(a) (3,0 pontos) Prove que o conjunto f (K) = {f (x) : x ∈ K} é um conjunto compacto
em Rn .
(b) (2,0 pontos) No caso em que n = 1, prove que existe x0 ∈ K tal que
f (x0 ) = sup{f (x) : x ∈ K}.

Questão 5. Seja f : Ω → Rn uma função definida em um aberto Ω ⊂ Rm .


(a) (1,0 ponto) Dê a definição de diferenciabilidade de f em a ∈ Ω. Se f é de classe
C 1 em uma vizinhança de a ∈ Ω, escreva a sua derivada total em termos das suas
derivadas parciais.
(b) (1,0 ponto) Enuncie o Teorema da Função Inversa e o Teorema da Função Implícita.
(c) (3,0 pontos) Utilize um dos teoremas do item (b) para provar a validade do outro.

Questão 6. Dados números reais a < b, sejam C 0 [a, b] o conjunto de funções reais contínuas
com domínio [a, b] e F[a, b] o conjunto de funções reais com domínio [a, b]. Defina a aplicação
Ψ : C 0 [a, b] → F[a, b] dada por Z x
Ψ(f ) = f (y) dy.
a
(a) (1,5 ponto) Prove que Ψ(C 0 [a, b]) ⊆ C 1 [a, b], onde C 1 [a, b] é o conjunto de funções
com derivada contínua em [a, b].
(b) (1,5 ponto) Seja φ : [a, b] → R tal que φ0 (x) = f (x) para todo x ∈ [a, b]. Prove que
φ(x) − φ(a) = Ψ(f )(x) para todo x ∈ [a, b].
(c) (2,0 pontos) Prove que, se f (x) ≥ 0 para todo x ∈ [a, b] e limx→b− Ψ(f )(x) = 0,
então f (x) = 0 para todo x ∈ [a, b].
4

Solução 1(a): Seja T : V → V um operador linear. Seja w ∈ V. Considere a aplicação


L(v) = hT v, wi. Esse é um operador linear de V em R, logo é um elemento do espaço dual
V ∗ . Pelo Teorema do isomorfismo entre V e seu dual, existe w0 ∈ V tal que L(v) = hv, w0 i, ou
seja, hT v, wi = hv, Bwi.
A associação w 7→ w0 , acima, define w0 = B(w). Mostraremos agora que B é linear.
(i) Sejam w1 , w2 ∈ V, L1 (v) = hT v, w1 i, L2 (v) = hT v, w2 i. Então, pela linearidade do
produto escalar em uso, hT v, w1 + w2 i = hv, w10 i + hv, w20 i = hv, w10 + w20 i e assim
B(w1 + w2 ) = B(w1 ) + B(w2 ).
(ii) Sejam α ∈ R, w1 ∈ V, L1 (v) = hT v, w1 i Então, pela linearidade do produto escalar em
uso, hT v, αw1 i = αhT v, wi = αhv, w10 i = hv, αw10 i e assim B(αw1 ) = αB(w1 ).
Tal operador B é chamado de operador adjunto de T , e portanto satisfaz hT x, yi = hx, Byi
para todos x, y ∈ V.
Solução 1(b): Sejam u, v ∈ V. Para T (x) = hx, uiv temos
hT x, yi = hhx, uiv, yi = hx, uihv, yi = hx, hv, yiui
e assim B(y) = By = hv, yiu.
Solução 1(c): Seja V o espaço das funções u(·) duas vezes deriváveis no intervalo [0, 1],
satisfazendo u(0) = u(1) = 0, munido do produto interno usual, e sejam u(·), v(·) ∈ V,
Z 1 Z 1 Z 1
du du du du dv du dv
hD2 u, vi = v(t)dt = (1)v(1) − (0)v(0) − (t) (t)dt = − (t) (t)dt
0 dt dt dt 0 dt dt 0 dt dt
após integração por partes, observando que v(0) = v(1) = 0. Aplicando tal estratégia mais
uma vez
Z 1 Z 1
2 dv dv d2 v d2 v
hD u, vi = −u(1) (1) + u(0) (0) + u(t) 2 (t)dt = u(t) 2 (t)dt = hu, D2 vi
dt dt 0 dt 0 dt
observando que u(1) = u(0) = 0. Assim o resultado segue.
Solução 2(a): Seja um operador de projeção P : V → V. Um autovetor é um escalar λ para
o qual existe um elemento não nulo x ∈ V tal que P(x) = λx. Além disso, x é chamado de
autovetor de P associado a λ.
Seja λ um autovalor de um operador de projeção P, e x o autovetor associado. Implica
P 2 (x) = P(x) = λx. Por outro lado,
P 2 (x) = P(P(x)) = P(λx) = λP(x) = λ2 x
e então λ2 x = λx ⇒ λ(λ − 1)x = ~0. Lembrando que x é não nulo por definição, segue λ = 0
ou λ = 1. Essas são as duas possibilidades.
Solução 2(b): As equações de reta y = 0; x = −z definem o vetor diretor unitário da reta
do enunciado  
1
1
~v = √  0 
2 −1
e então dado um vetor coluna ~x ∈ R3 temos P(~x) = ~x − ~u = α~v , com ~u ortogonal a v, isto é
~v T ~u = 0.
Sempre que ~v for unitário, temos ~v T ~x − ~v T ~u = α~v T ~v ⇒ α = ~v T ~x
P(x) = (~v T ~x)~v = ~v (~v T ~x) = P ~v~v T ~x = P x
onde a matriz P é dada pelo produto externo P = ~v~v T .
Aplicando a expressão de ~v apresentada acima:
   
1  1 0 −1
1  1
P =  0  1 0 −1 =  0 0 0 .
2 −1 2 −1 0 1
5

Naturalmente, pela natureza da operação de projeção, o espaço gerado por ~v é o autoespaço


associado a λ = 1. Assim ~v é autovetor associado ao autovalor unitário de P .
Solução 2(c): Equação do plano x + y + z = 0 implica z = −x − y e
     
x 1 0
 y  = x 0  + y 1 
−x − y −1 −1
e então os vetores    
1 0
v1 =  0  , v2 =  1 
−1 −1
são geradores do plano em questão. Uma base ortonormal {u1 , u2 } pode ser definida por
 
1
v1 1
u1 = =√  0 
|v1 | 2 −1
     
0 1 −1
z2 = v2 − hu1 , v2 iu1 =  1  − √12 √12  0  = 12  2 
−1 −1 −1
 
−1
z2 1
u2 = =√  2 
|z2 | 6 −1
Sendo U = u1 u2 temos P = U U T e assim
 
   
1  −1 
1 1
P = u1 uT1 + u2 uT2 =  0  1 0 −1 +  2  −1 2 −1
 
2 −1 6 −1
 
2 −1 −1
1
=  −1 2 −1 
3 −1 −1 2
 
Solução 3(a): Considere A = a1 a2 . . . an . Faremos indução em n, o número de
colunas da matriz A, observando que o número de linhas m deve ser maior ou igual a n para
que o posto seja n.
O resultado vale para n = 1, quando A é um vetor não nulo. Definimos r = kAk e q = Ar ,
que implica A = q · r.
Suponha que o resultado vale para n = k, ou seja
 
a1 a2 . . . ak = QR
onde Q é uma matriz ortogonal (satisfaz QT Q = I ou seja, suas colunas são duas a duas
ortogonais) e R é uma matriz triangular superior.
Seja w = ak+1 , define zk = w − QQT w e µk = |zk |.
Se µk = 0 então ak+1 = QQT w = Qb onde b = QT w, o que implica que o ak+1 pertence
ao espaço gerado por {a1 , a2 , . . . , ak }, o que contradiz a hipótese sobre o posto máximo de
{a1 , a2 , . . . , ak+1 }.
Então µk não pode ser nulo. Seja qk+1 = µzkk . Sabemos que zk é ortogonal a {a1 , a2 , . . . , ak },
pois
QT zk = QT w − QT QQT w = QT w − QT w = ~0.
Temos portanto a decomposição ortogonal ak+1 = QQT ak+1 + µk qk+1 , que implica
 R QT ak+1
 
T
    
a1 a2 . . . ak ak+1 = QR QQ ak+1 + µk qk+1 = Q qk+1
0 µk
6
 
e assim a1 a2 . . . ak ak+1 = Q̄R̄ onde as colunas de Q̄ são ortogonais e R̄ é uma
matriz triangular superior. Então o resultado vale para n = k + 1.
Assim, a demonstração segue por indução no número de colunas n.
Solução 3(b): Uma matriz quadrada é diagonalizável se existem uma matriz não singular X
tal que AX = XΛ, onde Λ é uma matriz diagonal. Dessa forma A = XΛX −1 .
Seguindo a notação Λ = diag{λ1 , λ2 , . . . , λn }, para cada k = 1, 2, . . . , n, temos λk = rk eiθk
, onde rk é real e θk ∈ [0, 2π], onde i2 = −1.

Para k = 1, . . . , n definimos uk = rk eiθk /2 , e segue u2k = λk . Então, sendo U =
diag{u1 , u2 , . . . , un } por construção temos U 2 = Λ.
Finalmente, definimos B = XU X −1 , segue B 2 = XU X −1 XU X −1 = XU 2 X −1 = XΛX −1 =
A.
 
−3 0 0
Solução 3(c): Considere A =  0 −1 −1  .
0 4 −5
Equação característica: (−3−λ)((−1−λ)(−5−λ)+4) = (−3−λ)(λ2 +6λ+9) = −(3+λ)2 = 0
Autovalor λ = −3 tem multiplicidade 3.
     
0 0 0 c1 0 
c1 livre
B = A + 3I = 0 2 −1 ⇒ B c2 = 0 ⇔
     
2c2 − c3 = 0 ⇒ c3 = 2c2
0 4 −2 c3 0
Portanto, sendo N (B) e col(B) núcleo e espaço coluna de B = A + 3I, respectivamente, temos
     
1 0 0
N (B) = ger  0  ,  1  e além disso col(B) = ger  1 .
0 2 2
Assim podemos definir
 
1
v1 =  0 , que portanto satisfaz Av1 = −3v1
0
 
0
v2 =  1 , que portanto satisfaz Av2 = −3v2
2
v3 tal que Bv3 = v2 , que portanto satisfaz Av3 = −3v3 + v2
 
0
v3 existe pois v2 ∈ col(B). Mais do que isso, claramente v3 =  0  atende pois a terceira
−1
 
coluna da matriz B é igual a −v2 . Para X = v1 v2 v3 , não singular, temos então
AX = XJ, onde
   
1 0 0 −3 0 0
X= 0 1 0  , J =  0 −3 1 
0 2 −1 0 0 −3
matriz J está na forma canônica de Jordan.

Solução 4(a): O Teorema de Heine-Borel afirma que um conjunto K ⊂ Rn é compacto se, e


somente se, K é fechado e limitado. Provaremos que o conjunto f (K) é fechado e limitado.
Também utilizaremos o Teorema de Bolzano-Weierestrass, que implica que toda sequência
(xn ) em um conjunto compacto possui um ponto de acumulação no conjunto.
Primeiramente, provaremos que f (K) é limitado. Suponha, por absurdo, que esse não seja
o caso, isto é, para todo L > 0, existe y ∈ f (K) tal que ||y|| > L. Fixe, para todo n ∈ N, um
elemento yn = f (xn ) tal que ||yn || > n.
7

Como (xn ) ⊆ K e K é compacto, o Teorema de Bolzano-Weierstrass garante que (xn )


contém uma subsequência convergente (xnj ) que converge para um ponto x∗ ∈ K. Por um
lado, como f é contínua, temos que limj→∞ f (xnj ) = f (x∗ ), isto é, f (xnj ) é convergente. Por
outro lado, ||f (xnj )|| > nj para todo j, de forma que a sequência (f (xnj )) é ilimitada. Isso é
absurdo, pois toda sequência convergente é limitada.
Provemos que f (K) é fechado. Seja y ∈ f (K) e seja (yn ) uma sequência em f (K) tal que
yn → y. Para todo n ∈ N, seja xn ∈ K tal que yn = f (xn ). Como K é compacto, (xn ) contém
uma subsequência convergente (xnj ) que converge para um ponto x∗ ∈ K. A continuidade de
f garante que limj→∞ f (xnj ) = f (x∗ ). Por outro lado, (f (xnj )) = (ynj ) é uma subsequência
da sequência convergente (yn ), logo
f (x∗ ) = lim f (xnj ) = lim ynj = lim yn = y,
j→∞ j→∞ n→∞

isto é, y ∈ f (K). Isso demonstra que f (K) ⊆ f (K), logo f (K) é fechado.
Solução 4(b): O conjunto f (K) = {f (x) : x ∈ K} é não-vazio e, pelo item (a), é fechado e
limitado. Pelo fato de que f (K) ser não vazio e limitado, existe S = sup{f (x) : x ∈ K}. Pela
definição de supremo, para todo ε > 0, existe y ∈ f (K) tal que S − ε < y ≤ S. Para todo
n ∈ N, fixe yn = f (xn ) tal que
1
S − < f (xn ) ≤ S,
n
isto é, limn→∞ f (xn ) = S. Portanto, S ∈ f (K) = f (K) pelo item (a). Logo, existe x0 ∈ K
tal que f (x0 ) = S, como querímos demonstrar.
Solução 5(a): Uma função f : Ω → Rn definida em um aberto Ω ⊂ Rm é diferenciável em a
se existe uma transformação linear T : Rm → Rn tal que
||f (a + h) − f (a) − T (h)||
lim = 0.
h→0 ||h||
Escrevendo f (x1 , . . . , xm ) = (f1 (x1 , . . . , xm ), . . . , fn (x1 , . . . , xm )), a derivada total D(f ) de f
no ponto a é dada por  ∂f1 ∂f1 
∂x1 (a) · · · ∂xm (a)
D(f ) = 
 .. ..  .
. ··· . 
∂fn ∂fn
∂x1 (a) ··· ∂xm (a)

Solução 5(b): Nota: Esses teoremas podem ser enunciados de outras maneiras equivalentes
que também serão consideradas.
Teorema 1 (Teorema da Função Inversa). Seja f : Ω → Rn uma função de classe C 1 em um
aberto Ω ⊂ Rn cuja derivada total (Df )(x0 ) é inversível em um ponto x0 ∈ Ω. Então existem
vizinhanças V de x0 e W de f (x0 ) tais que f |V : V → W é inversível em V . Além disso, a
sua inversa h : W → V é de classe C 1 em seu domínio.
No próximo enunciado, considere Rn+m = {(x, y) : x ∈ Rn , y ∈ Rm }, onde escrevemos
x = (x1 , . . . , xn ) e y = (y1 , . . . , ym ). Para um função f : Rn+m → Rn , escrevemos f (x, y) =
(f1 (x, y), . . . , fn (x, y)).
Teorema 2 (Teorema da Função Implícita). Seja f : Ω → Rn uma função de classe C 1 em um
aberto Ω = Ω1 × Ω2 ⊂ Rn+m . Seja x0 = (a, b) ∈ Ω, onde a ∈ Rn e b ∈ Rm tal que f (a, b) = 0
e suponha que a matriz  ∂f1 ∂f1 
∂x1 (a, b) · · · ∂xn (a, b)
 .. ..  (1)
 . ··· . 
∂fn ∂fn
∂x1 (a, b) ··· ∂xn (a, b)
8

é inversível. Então existem uma vizinhança W de b e uma única função h : W → Ω1 de classe


C 1 tal que h(b) = a e f (h(y), y) = 0 para todo y ∈ W .

Solução 5(c): Provaremos que o Teorema da Função Implícita implica o Teorema da Função
Inversa. Com as hipóteses do Teorema da Função Inversa, defina a função φ : Ω × Rn → Rn
tal que φ(x, y) = f (x) − y e considere o ponto (a, b) = (x0 , f (x0 )) ∈ Ω × Rn . Por definição,
φ(a, b) = f (x0 ) − f (x0 ) = 0. Além disso, escrevendo φ(x, y) = (φ1 (x, y), . . . , φn (x, y)) =
(f1 (x) − y1 , . . . , fn (x) − yn ) e denotando as primeiras n variáveis por x1 , . . . , xn e as demais
por y1 . . . , yn , temos
 ∂φ1 ∂φ1   ∂f1 ∂f1 
∂x1 (a, b) · · · ∂xn (a, b) ∂x1 (a) · · · ∂xn (a)
 .. ..  =  .. ..  ,
 . ··· .   . ··· . 
∂φn ∂φn ∂fn ∂fn
∂x1 (a, b) ··· ∂xn (a, b) ∂x1 (a) ··· ∂xn (a)
que é inversível por hipótese. Pelo Teorema da Função Implícita, existe uma vizinhança W
de b e uma única função h : W → Ω de classe C 1 tal que h(b) = a e φ(h(y), y) = 0 para todo
y ∈ W.
Portanto, x ∈ h(W ) se, e somente se, x = h(y) para algum y ∈ W e φ(x, y) = f (x) − y =
f (h(y)) − y = 0. Segue que (f ◦ h)(y) = y para todo y ∈ W . Portanto, f : h(W ) → W é
sobrejetora e h é inversa à direita de f . Para provar que f é inversível e h é a sua inversa,
basta mostrar que f é injetora em h(W ). Sejam x1 , x2 ∈ h(W ) tais que f (x1 ) = f (x2 ). Sejam
y1 , y2 ∈ W tais que x1 = h(y1 ), x2 = h(y2 ). Sabemos que φ(x1 , y1 ) = 0 e φ(x2 , y2 ) = 0,
de onde segue que y1 = f (x1 ) = f (x2 ) = y2 , e x1 = h(y1 ) = h(y2 ) = x2 , como queríamos
demonstrar.
Solução 6(a): Utilizaremos o Teorema Fundamental do Cálculo.
Teorema 3 (Teorema Fundamental do Cálculo). Seja f : [a, b] → R uma função contínua. A
função F : [a, b] → R definida por
Z x
F (x) = f (y) dy
a
é diferenciável e satisfaz F 0 (x) = f (x) para todo x ∈ [a, b].
O Teorema 3 garante que a aplicação Ψ associa cada função f a uma função Ψ(f ) cuja
derivada é f . Como as funções do domínio são contínuas, as suas imagens têm derivada
contínua, e portanto são de classe C 1 .
Solução 6(b): Utilizaremos o Teorema do Valor Médio.
Teorema 4 (Teorema do Valor Médio). Seja f : [a, b] → R uma função contínua que é dife-
renciável em (a, b). Existe c ∈ (a, b) tal que
f (b) − f (a)
f 0 (c) = .
b−a
Seja φ uma função com as propriedades do enunciado. Do item (a), sabemos que (Ψ(f ))0 =
f , de forma que a função g = φ − Ψ(f ) satisfaz g 0 (x) = (φ − Ψ(f ))0 (x) = φ0 (x) − Ψ(f )0 (x) =
f (x) − f (x) = 0 para todo x ∈ [a, b]. Isso significa que existe K ∈ R tal que g(x) = K para
todo x ∈ [a, b]. De fato, se isso não ocorresse, existiriam a0 , b0 ∈ [a, b] com a0 < b0 tais que
0 0)
g(a0 ) 6= g(b0 ), e o Teorema 4 implicaria a existência de c ∈ (a0 , b0 ) tal que g 0 (c) = g(bb)−g(a
0 −a0 6= 0,
uma contradição. Sendo assim, φ(x) − K = Ψ(f )(x) para todo x ∈ [a, b]. O resultado segue
do fato de que Ψ(f )(a) = 0, logo K = φ(a).
Solução 6(c): Suponha, por absurdo, que existe x0 ∈ [a, b] tal que f (x0 ) = K > 0. Como
f é contínua em x0 , existe δ > 0 tal que f (x) ≥ K/2 para todo x ∈ I(x0 ) = [max{a, x0 −
9

δ}, min{x0 + δ, b}]. De fato, pela definição de continuidade, para ε = K/2, existe δ > 0 tal
que |f (x) − f (x0 )| ≤ ε para todo x ∈ [x0 − δ, x0 + δ] ∩ [a, b].
Podemos supor que δ < (b − a)/2, de forma que I(x0 ) tem comprimento pelo menos δ.
Fixe um inteiro n ≥ 2(b − a)/δ. Considere a partição P de [a, b] em n intervalos J1 , . . . , Jn
de comprimento (b − a)/n ≤ δ/2. Em particular, um desses intervalos J` está inteiramente
contido em I(x0 ). Considere a soma inferior de f com relação à partição P. Essa soma vale
n
X (b − a) (b − a) (b − a) K
min{f (x) : x ∈ Ji } ≥ min{f (x) : x ∈ J` } ≥ > 0.
n n n 2
i=1
Rb
Isso é absurdo, pois, por hipótese, 0 = a f (x) dx é o supremo das somas inferiores de f .

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