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Análise Real I (M1011) 2021/22

Teste 1 – 3/12/21 - Resolução

(−1)n/2 se n é par

1. Seja (an )n a sucessão definida por an = .
n2 − 8n se n é ímpar
a) (0, 5 val.) Determine os primeiros 6 termos da sucessão.
b) (0, 7 val.) Diga, justificando, se existe alguma ordem a partir da qual a sucessão é monótona.
c) (0, 5 val.) Indique sem justificar uma subsucessão estritamente crescente de (an )n .
d) (0, 8 val.)Diga, justificando, se (an )n é convergente.

a) a1 = −7, a2 = −1, a3 = −15, a4 = 1, a5 = −15, a6 = −1


b) Não. Para qualquer n0 ∈ N, existe p > n0 tal que p é múltiplo de 4. Então ap = 1, ap+2 = −1 (portanto
(an )n∈N não é crescente a partir de n0 ) e ap+4 = 1 (portanto (an )n∈N não é decrescente a partir de n0 ).
c) (a2n+3 )n∈N
d) Se (an )n convergisse, sendo l o seu limite, então qualquer sua subsucessão convergiria também para l. Mas
o limite da subsucessão dos termos de ordem ímpar é +∞. Conclui-se que (an )n não converge.

2. Seja f : [ 2, +∞[ −→ [−1, +∞[
x 7→ (x2 − 1)(x2 − 3)
a) (0, 7 val.) Mostre que f é bijectiva.
b) (0, 7 val.) Determine uma equação da recta tangente ao gráfico de f −1 no ponto de abcissa 0.


a) Tem-se f (x) = x4 − 4x2 + 3, portanto√f 0 (x) = 4x3 − 8x = 4x(x2 − 2). Para x > 2 tem-se x2 > 2, logo
4x(x2 − 2) > 0, ou seja, para qualquer x ∈ [ 2, +∞[ tem-se f 0 (x) > 0, portanto f é estritamente crescente, logo
injectiva. √
Tem-se f ( 2) = −1 e lim f = +∞. Uma vez que f é contínua, conclui-se pelo teorema dos valores
x→+∞
intermédios que f atinge todos os valores em [−1, +∞[, √ logo f é sobrejectiva.
b) Tem-se (x 2 − 1)(x2 − 3) = 0 sse x = ±1 ou x = ± 3.
√ √ √ √
Como − 3, −1, 1 6∈ [ 2, +∞[, conclui-se que f (x) = 0 sse x = 3, logo f −1 (0) = 3.
Tem-se (f −1 )0 (0) = f 0 (f −1
1
(0))
1
= f 01(3) = 4√ 3
.
1

Então a recta pretendida é a recta de declive 4√ 3
que passa pelo ponto (0, 3), ou seja, a recta de equação
√ 1
y = 3 + 4√ 3
x.

arcsen x
3. (0, 8 val.) Calcule lim
x→0+ arctg x2

Tem-se lim arcsen x = 0 e lim arctg x2 = 0.


x→0+ x→0+
√ 1
arcsen x 1−x2 1 + x2
Aplicando a regra de l’Hôpital, tem-se lim = lim 2x = lim √ = +∞.
x→0 arctg x2
+ x→0+ x→0+ 2x 1 − x2
1+x2

4. (1, 5 val) Pretende-se vedar um terreno na forma de triângulo rectângulo aproveitando dois muros perpen-
diculares existentes (pelo que só é necessário construir o terceiro lado da vedação, correspondente à hipotenusa do
triânngulo). Qual é a área máxima que se pode vedar usando 100m de vedação?
(Deve justificar que o valor obtido corresponde de facto à área máxima.)

O comprimento da hipotenusa do√ triângulo é 100. Seja x o comprimento de um dos √catetos do triângulo. Então
o comprimento do outro cateto será 1002 − x2 , pelo que a área do triângulo será 21 x 1002 − x2 .
O valor de x que leva à área máxima também leva a que o dobro da área seja máxima, e ainda leva a que o
quadrado do dobro da área seja máximo.
Seja então f : [0, 100] −→ R ; a área pretendida é máxima para o mesmo valor de x para o
x 2 2
7→ x (100 − x ) 2

qual f é máxima.
Como f é contínua, f tem um máximo em [0, 100], e esse máximo não é atingido em 0 nem em 100 (porque
f (0) = f (100) = 0 e f (1) > 0). Como f é derivável, conclui-se que o máximo de f é atingido num ponto crítico de
f , em ]0, 100[.
Tem-se f 0 (x) = 2 × 1002 x − 4x3 , portanto o único ponto crítico de f em ]0, 100[ é 100
√ . Então a área máxima
2
q
100 1 100 2 1002
corresponde a x = 2 , ou seja, é 2 2 100 − 2 = 2500.
√ √

5. (1, 5 val.) Seja f : R \ {−1, 1} −→ R uma função tal que


- na figura estão representados os gráficos de f 0 (a cheio) e de f 00 (a tracejado)
- as rectas verticais tracejadas e os eixos são assímptotas de f 0 e f 00
- f (0) = 0
- lim f (x) = lim f (x) = 1
x→−∞ x→+∞
Esboce no mesmo sistema de eixos o gráfico de uma função f que seja compatível com a informação dada.

Analisando o sinal de f 0 , conclui-se que f é estritamente crescente em ] − ∞, −1[ e em ] − 1, 0] e estritamente


decrescente em [0, 1[ e em ]1, +∞[.
Analisando o sinal de f 00 , conclui-se que f é convexa em ] − ∞, −1[ e em ]1, +∞] e que f é côncava em ] − 1, 1[.
f tem um ponto crítico em 0.
6. (0, 8 val.) Mostre, a partir das definições de limite, que se lim f (x) = −∞ e lim g(x) = 2, então
x→−∞ x→−∞
lim f (x)g(x) = −∞.
x→−∞

Sejam f, g tais que lim f (x) = −∞ e lim g(x) = 2.


x→−∞ x→−∞
Queremos mostrar que lim f (x)g(x) = −∞, ou seja que ∀M ∈ R, ∃L ∈ R tal que x < L ⇒ f (x)g(x) < M .
x→−∞
Comecememos por observar que:

• como lim g(x) = 2, existe L1 ∈ R tal que x < L1 ⇒ g(x) > 1;


x→−∞

• como lim f (x) = −∞, existe L2 ∈ R tal que x < L2 ⇒ f (x) < 0;
x→−∞

• então, se x < L1 e x < L2 , tem-se f (x)g(x) < f (x).

Seja agora M um número real qualquer; como lim f (x) = −∞, existe L3 ∈ R tal que x < L3 ⇒ f (x) < M .
x→−∞
Seja L o mínimo entre L1 , L2 , L3 ; então x < L ⇒ f (x)g(x) < f (x) < M .

7. Dê um exemplo, ou mostre que não existe, de


a) (0, 5 val.) funções contínuas f e g, de R em R, tais que lim f (x)g(x)=0 mas não se tenha lim f (x) = 0
x→+∞ x→+∞
nem lim g(x) = 0.
x→+∞
b) (1 val.) uma função f : R −→ R, tal que para quaisquer x, y ∈ R se tenha f (x + y) = f (x)f (y), f seja
contínua em 0 e descontínua em algum ponto.

a) Sejam f : R −→ R e g: R −→ R .
x 7→ max{sen x, 0} x 7→ min{sen x, 0}

Para qualquer x ∈ R, tem-se f (x)g(x) = 0, logo lim f (x)g(x) = 0, mas não se tem lim f (x) = 0 nem
x→+∞ x→+∞
lim g(x) = 0.
x→+∞
(Para ver que não se tem lim f (x) = 0, basta notar que se (an )n∈N é a sucessão definida por an = 2nπ + π2 ,
x→+∞
tem-se lim an = +∞ e lim f (an ) = 1.
n→∞ n→∞
Para ver que não se tem lim g(x) = 0, basta notar que se (bn )n∈N é a sucessão definida por bn = 2nπ − π2 ,
x→+∞
tem-se lim bn = +∞ e lim g(bn ) = −1). )
n→∞ n→∞

b) Não existe.
Suponhamos que f : R −→ R é uma função tal que ∀x, y ∈ R, f (x + y) = f (x)f (y), e f é contínua em 0. Seja
x0 ∈ R e vejamos que f é contínua em x0 , ou seja, que ∀ > 0, ∃δ > 0 : |x − x0 | < δ ⇒ |f (x) − f (x0 )| < .
Comecemos por notar que

• se existe a ∈ R tal que f (a) = 0, então, para qualquer x ∈ R, f (x) = f (x − a + a) = f (x − a)f (a) = 0, logo f
é a função nula, que é contínua; basta então considerarmos o caso em que f não se anula em nenhum ponto;

• f (0) = f (0 + 0) = (f (0))2 , logo f (0) = 1.

Seja  > 0.
Tem-se
f (x) = f (x − x0 + x0 ) = f (x − x0 )f (x0 ),
logo
|f (x) − f (x0 )| = |f (x − x0 )f (x0 ) − f (x0 )| = |f (x − x0 ) − 1||f (x0 )|.

Basta então mostrar que existe δ > 0 tal que |x − x0 | < δ ⇒ |f (x − x0 ) − 1| < |f (x0 )| .

Ora, como f é contínua em 0, existe δ > 0 tal que |x| < δ ⇒ |f (x) − 1| < |f (x0 )| , e para um tal δ tem-se
|x − x0 | < δ ⇒ |f (x − x0 ) − 1| < |f (x 0 )| .

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