Você está na página 1de 21

ENERGIA, POTÊNCIA E CORRELAÇÃO DE SINAIS

SINAIS DE ENERGIA E SINAIS DE POTÊNCIA

A energia total E de um sinal x(t) pode ser dada por


E= ∫ x 2 (t)dt (1)
−∞

Sinais cuja energia E é finita são ditos sinais de energia (→ transientes).


Porém, há sinais cuja energia é infinita. Para eles, usa-se o conceito de potência.

A potência média P de um sinal y(t) pode ser dada por

1 T 2 
P = lim  ∫ y (t)dt 
2
(2)
T→ ∞  T 
 −T 2
Sinais de potência média P finita são ditos sinais de potência (→ harmônicos).
DENSIDADE ESPECTRAL DE ENERGIA

Seja um sinal de energia f(t), cuja transformada de Fourier é F( ω) . Portanto,



F(ω) = ∫ f (t)e − iωt dt = F( ω)eiφ( ω) (3)
−∞

em que F( ω) é o módulo (que corresponde ao espectro de amplitude) e φ (ω) é o


argumento (que corresponde ao espectro de fase).

A densidade espectral de energia E ff ( ω) do sinal f(t) é definida por


2
Eff (ω) = F(ω) = F(ω)F∗ (ω) (4)

Ocorre que

F∗ ( ω) = ∫ f (t)eiωt dt = F( −ω) = F( −ω)eiφ( −ω) = F(ω)e − iφ( ω) (5)
−∞
DENSIDADE ESPECTRAL DE ENERGIA (cont.)

Portanto, tem-se que

Eff ( ω) = F( ω) = F( ω)F∗ ( ω) = F( ω)eiφ( ω) F( ω)e − iφ( ω) = [ F( ω)] e [


2 2 i φ( ω) −φ( ω)]

ou seja,

E ff ( ω) = [ F( ω) ]
2
(6)

onde [ F(ω)] , doravante representado apenas por F2 (ω) , é o espectro de


2

amplitude do sinal f(t) ao quadrado.

→ A expressão acima mostra que a densidade espectral de energia de um sinal


de energia é igual ao espectro de amplitude desse sinal ao quadrado.

Portanto, a densidade espectral de energia é uma função real da frequência.


AUTOCORRELAÇÃO

A autocorrelação R ff (t) de um sinal de energia f(t) é definida por


R ff (t) = ∫ f (τ)f (t + τ)dτ (7)
−∞

Mostra-se que a autocorrelação de um sinal de energia é igual à transformada


inversa de Fourier de sua densidade espectral de energia. Ou seja,


1 iωt
R ff (t) = ∫
2π −∞
E ff ( ω)e dω (8)

Isso decorre do fato de que, a princípio, tem-se


∞ ∞
1 iωt 1 ∗ iωt
R ff (t) = ∫ E ( ω)e dω = ∫  F( ω)F ( ω)  e dω
2π −∞
ff
2π −∞  
AUTOCORRELAÇÃO (cont.)

Ocorre que, pela propriedade de inversão da transformada de Fourier,



1 ∗ iωt
∫  F( ω)F ( ω)  e dω = f (t) ∗ f ( − t)
2π −∞  

Assim,

R ff (t) = f (t) ∗ f ( − t) = ∫ f (t − σ)f (−σ)dσ
−∞
Por τ = −σ , vem dτ = −dσ . Levando na expressão acima, chega-se na Eq. (7), pois
−∞ ∞
R ff (t) = ∫ f (t + τ)f (τ)(−dτ) = ∫ f ( τ)f (t + τ)dτ .
∞ −∞

→ A autocorrelação é uma medida da autossimilaridade de um sinal (ou seja,


ele com ele próprio) após um certo deslocamento temporal, dado acima por t.
EXEMPLO – AUTOCORRELAÇÃO DE PULSO RETANGULAR

Seja f(t) um pulso retangular, mostrado ao lado.

Trata-se de um sinal de energia, cuja


autocorrelação pode ser dada por
Pulso retangular (© D.Rowell, 2008)
T
R ff (t) = ∫ f ( τ)f (t + τ)dτ
0

Ocorre que a autocorrelação é uma função par


(vide Apêndice). Resulta, então, que
T−t a 2 (T − | t |), |t| ≤ T
R ff (t) = ∫ a 2dτ = 
0 0, caso contrário

Essa autocorrelação é ilustrada ao lado. Autocorrelação (© D.Rowell, 2008)


DENSIDADE ESPECTRAL DE ENERGIA CRUZADA
E CORRELAÇÃO CRUZADA

Sejam agora f(t) e g(t) dois sinais de energia, cujas transformadas de Fourier são
denotadas, respectivamente, por F( ω) e G( ω) .

A densidade espectral de energia cruzada E fg ( ω) de f(t) e g(t) é definida por

Efg (ω) = F∗ (ω)G(ω) (9)

Em geral, a densidade espectral de energia cruzada é uma função complexa da


frequência.

Já a correlação cruzada R fg (t) entre os sinais f(t) e g(t) é definida por


R fg (t) = ∫ f (τ)g(t + τ)dτ (10)
−∞
DENSIDADE ESPECTRAL DE ENERGIA CRUZADA

E CORRELAÇÃO CRUZADA (cont.)

Mostra-se que a correlação cruzada é igual à transformada inversa de Fourier


da densidade espectral de energia cruzada.

Ou seja,


1 iωt
R fg (t) = ∫
2π −∞
E fg ( ω)e dω (11)

Isso decorre do fato de que

∞ ∞
1 iωt 1  ∗  iωt
R fg (t) = ∫
2π −∞
E fg ( ω)e dω = ∫
2π −∞  F ( ω)G( ω)  e dω = f (− t) ∗ g(t)
DENSIDADE ESPECTRAL DE ENERGIA CRUZADA

E CORRELAÇÃO CRUZADA (cont.)


Portanto,

R fg (t) = f ( − t) ∗ g(t) = ∫ f ( −σ) g(t − σ)dσ
−∞
De τ = −σ e dτ = −dσ na expressão acima, chega-se na Eq. (10), pois
−∞ ∞
R fg (t) = ∫ f ( τ) g(t + τ)( −dτ) = ∫ f ( τ) g(t + τ)dτ .
∞ −∞
→ A correlação cruzada mede a similaridade entre dois sinais distintos com
um certo deslocamento temporal entre eles, indicado acima por t.

Conceitos análogos de autocorrelação, correlação cruzada e densidades espectrais


de potência e potência cruzada também são formulados para sinais de potência.
Nesses casos, introduz-se nas definições o divisor T, como exposto a seguir.
SINAIS DE POTÊNCIA – CORRELAÇÕES E DENSIDADES ESPECTRAIS

Para sinais de potência u(t) e v(t), são empregadas as seguintes definições:

T2
1
autocorrelação R uu (t) = lim
T →∞ T ∫ u( τ) u(t + τ)dτ (12)
−T 2


densidade espectral de potência Suu ( ω) = ∫ R uu (t) e − iωt dt (13)
−∞

T2
1
correlação cruzada R uv (t) = lim
T→∞ T ∫ u( τ) v(t + τ)dτ (14)
−T 2


densidade espectral de potência R uv (t) e − iωt dt
cruzada
Suv ( ω) = ∫ (15)
−∞
EXEMPLO – CORRELAÇÃO CRUZADA DE PULSOS RETANGULARES

De início, considere-se o caso de dois pulsos


retangulares, f(t) e g(t), mostrados ao lado,
em que g(t) é uma versão deslocada de f(t).
São sinais de energia, cuja correlação
cruzada pode ser dada por
T1 +T
R fg (t) = ∫ f ( τ) g(t + τ)dτ Pulsos retangulares (© D.Rowell, 2008)
T1

A correlação cruzada passa a ser diferente


de 0 quando t = T2 − (T1 + T) , alcança valor
máximo quando t = T2 − T1 e volta a ser 0 a
partir de t = T2 + T − T1, como visto ao lado. Correlação cruzada (© D.Rowell, 2008)
EXEMPLO – AUTOCORRELAÇÃO DE SINAL HARMÔNICO

Seja um sinal harmônico x(t) = Xsen( ωt + φ) . Tem-se, agora, um sinal de potência


finita, cuja autocorrelação pode ser calculada ao longo de um período T por
T
1
R xx (t) = ∫ x( τ) x(t + τ)dτ
T0
Decorre, então, que
2π ω
ω 2
R xx (t) = .X ∫ sen(ωτ + φ)sen [ ω(t + τ) + φ] dτ
2π 0

Como sen( α)sen(β) = 0,5[ cos( α − β) − cos( α + β) ] , resulta que

X2
R xx (t) = cos(ωt) .
2
→ Esta autocorrelação possui frequência ω e é independente da fase ϕ !
EXEMPLO – CORRELAÇÃO CRUZADA DE SINAIS HARMÔNICOS

Sejam agora os sinais harmônicos x(t) = Xsen( ωt + φx ) e y(t) = Ysen(ωt + φy ) .

Para tais sinais de potência finita, a correlação cruzada pode ser calculada por
T
1
R xy (t) = ∫ x( τ) y(t + τ)dτ
T0
Tem-se, então, que
2π ω
ω
R xy (t) = .XY
2π ∫ sen(ωτ + φx )sen  ω(t + τ) + φy  dτ
0

Como sen( α)sen(β) = 0,5[ cos( α − β) − cos( α + β) ] , resulta que

XY
R xy (t) = cos  ωt − ( φx − φy )  .
2
→ Esta correlação cruzada possui frequência ω e ‘indica’ a fase relativa φx − φy !
IDENTIFICAÇÃO DE SISTEMA LTI

Seja um sistema LTI, cuja função resposta ao impulso é h(t). Esse sistema é
submetido a uma entrada f(t), com saída correspondente igual a g(t), como
mostrado abaixo. Considera-se que tanto f(t) quanto g(t) são sinais de energia.

Entrada e saída em um sistema LTI

Sabe-se que, para sistemas LTI,


g(t) = f (t) ∗ h(t) = ∫ f (τ)h(t − τ)dτ (16) e G(ω) = F(ω)H(ω) (17)
−∞
IDENTIFICAÇÃO DE SISTEMA LTI (cont.)

Da Eq. (17), em que G(ω) = F(ω)H(ω) , tem-se que

G( ω)G ∗ ( ω) = F( ω)H( ω)F∗ ( ω)H ∗ ( ω) = F( ω)F∗ ( ω)H( ω)H ∗ ( ω)

Decorre, portanto, que


2
E gg ( ω) = Eff ( ω) H( ω) (18) e R gg (t) = R ff (t) ∗ h(t) ∗ h( − t) (19)

Também da Eq. (17), tem-se que

F∗ ( ω)G( ω) = F∗ ( ω)F( ω)H( ω)


Portanto,

E fg ( ω) = E ff ( ω)H( ω) (20) e R fg (t) = R ff (t) ∗ h(t) (21)

→ De (20): FRF do sistema H(ω) = E fg (ω) E ff (ω) (22) (alternativa 1)


IDENTIFICAÇÃO DE SISTEMA LTI (cont.)

Alternativamente, ainda da Eq. (17), em que G(ω) = F(ω)H(ω) , constata-se que

G ∗ ( ω)G( ω) = G ∗ ( ω)F( ω)H( ω)

Resulta, pois, que

E gg ( ω) = E gf ( ω)H( ω) (23) e R gg (t) = R gf (t) ∗ h(t) (24)

→ De (23): FRF do sistema H(ω) = E gg (ω) E gf (ω) (25) (alternativa 2)

Embora válidas para sinais determinísticos, as Eqs. (22) e (25) realmente


desempenham papel proeminente na análise de sinais aleatórios, quando são
empregadas em associação com a teoria da probabilidade.

A exposição acima firma bases e lança conexões para desenvolvimentos futuros.


TEOREMA DE PARSEVAL E DENSIDADE ESPECTRAL DE ENERGIA

Seja agora um sinal de energia f(t). Sua energia total, cf. Eq. (1), é dada por

E= ∫ f 2 (t)dt (26)
−∞

Sua densidade espectral de energia, denotada por E ff (ω) , é, cf. Eq. (4), dada por

2
Eff ( ω) = F( ω) = F( ω)F∗ ( ω) (27)

Prova-se, das Eqs. (26) e (27), que

∞ ∞
1
∫ ∫
2
f (t)dt = Eff (ω)dω (28) → E ff (ω) é densidade!
−∞
2π −∞

Esse resultado, demonstrado a seguir, é conhecido como teorema de Parseval.


TEOREMA DE PARSEVAL E DENS. ESPECTRAL DE ENERGIA (cont.)

A Eq. (28) decorre de que


∞ ∞ ∞ ∞   ∞ 
∗ 1 iωt 1 − iΩt
∫ f (t)dt = ∫ f(t)f (t)dt = ∫  2π ∫ F(ω)e dω  2π ∫ F (Ω)e dΩ dt
2 *

−∞ −∞ −∞  −∞   −∞ 

Manipulando a expressão acima, obtém-se que


∞ ∞  ∞  ∞  
1
∫ f (t)dt = (2π)2
2
(
− iΩt iωt
)
∫ F(ω)  ∫ F (Ω)  ∫ e e dt  dΩ  dω
*

−∞ −∞  −∞  −∞  

Aplicando acima tanto a descrição alternativa quanto a propriedade de


deslocamento da função delta de Dirac, resulta que

∞ ∞  ∞ *  ∞
1 1
∫ f (t)dt = (2π)2
2
∫ F( ω) ∫ F ( Ω ) [ 2 πδ ( Ω − ω) ] d Ω  dω = ∫ F( ω)F*
( ω)dω
−∞ −∞  −∞  2π −∞
TEOREMA DE PARSEVAL E DENS. ESPECTRAL DE ENERGIA (cont.)

Portanto, do desenvolvimento anterior, tem-se que


∞ ∞ ∞ ∞
1 1 2 1
∫ ∫ ∫ ∫
2 *
f (t)dt = F( ω)F ( ω)dω = F( ω) dω = Eff (ω)dω
−∞
2π −∞ 2π −∞ 2π −∞

como se havia antecipado.

Do teorema de Parseval, observa-se que a grandeza E ff (ω) é mesmo uma


densidade espectral de energia, posto que ela deve ser integrada ao longo da
frequência (variável independente) para fornecer a energia total.
A densidade espectral de energia é, dessa forma, uma medida da decomposição
da energia do sinal ao longo da frequência.

Tal como exposto antes, os desenvolvimentos análogos podem ser formulados


para sinais de potência com a introdução do divisor T.
APÊNDICE – AUTOCORRELAÇÃO E CORRELAÇÃO CRUZADA

CARACTERÍSTICAS DA AUTOCORRELAÇÃO

A autocorrelação é uma função par, tal que R ff (t) = R ff ( − t) . Por definição,


∞ ∞
R ff (t) = ∫ f (σ)f (t + σ)dσ ∴ R ff (− t) = ∫ f (σ)f (σ − t)dσ
−∞ −∞
Fazendo τ = σ − t , obtém-se dτ = dσ e σ = τ + t . Substituindo acima, tem-se que
∞ ∞ ∞
R ff (− t) = ∫ f (σ)f (σ − t)dσ = ∫ f (τ + t)f (τ)dτ = ∫ f (τ)f (τ + t)dτ = R ff (t) .
−∞ −∞ −∞
Observa-se que, para t = 0, tem-se que

R ff (0) = ∫ f 2 (σ)dσ
−∞
ou seja, o valor da autocorrelação em t = 0 é igual à energia do sinal associado.
CARACTERÍSTICAS DA CORRELAÇÃO CRUZADA

Já a correlação cruzada é tal que R fg ( − t) = R gf (t) . Isso decorre de que, se

∞ ∞
R fg (t) = ∫ f (σ)g(t + σ)dσ , R fg (− t) = ∫ f (σ)g(σ − t)dσ
−∞ −∞

Fazendo τ = σ − t , obtém-se dτ = dσ e σ = τ + t . Substituindo acima, tem-se que


∞ ∞ ∞
R fg (− t) = ∫ f (σ)g(σ − t)dσ = ∫ f (τ + t)g(τ)dσ = ∫ g(τ)f (τ + t)dσ = R gf (t) .
−∞ −∞ −∞

Se a correlação cruzada R fg (t) é nula para todo t, diz-se, então, que os sinais

f(t) e g(t) são não correlacionados.

A correlação cruzada é frequentemente utilizada na estimação de tempos de


atraso, como, por exemplo, em sistemas de radar e sonar.

Você também pode gostar