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Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

Departamento de Geologia
Mestrado em Geologia do Ambiente, Riscos Geológicos e Ordenamento do Território
Disciplina de Projecto de Campo e Experimental
Professor Dr. Fernando M. S. F. Marques

AVALIAÇÃO DA SUSCEPTIBILIDADE À OCORRÊNCIA DE


MOVIMENTOS DE VERTENTES ATRAVÉS DE MODELOS DE BASE
FÍSICA EM SUB-BACIAS HIDROGRÁFICAS DA ZONA DE ARRUDA
DOS VINHOS, PORTUGAL

Rita Pimenta

Setembro, 2010
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Departamento de Geologia
Mestrado em Geologia do Ambiente, Riscos Geológicos e Ordenamento do Território
Disciplina de Projecto de Campo e Experimental
Professor Dr. Fernando M. S. F. Marques

AVALIAÇÃO DA SUSCEPTIBILIDADE À OCORRÊNCIA DE


MOVIMENTOS DE VERTENTES ATRAVÉS DE MODELOS DE BASE
FÍSICA EM SUB-BACIAS HIDROGRÁFICAS DA ZONA DE ARRUDA
DOS VINHOS, PORTUGAL

Rita Pimenta 1

Setembro, 2010

1 Rita Pimenta. Nº de Aluna: 30505


ÍNDICE GERAL

Página

Resumo i

Abstract i

1. Introdução 1

2. Enquadramento Geral da Área em Estudo 4

3. Avaliação da Susceptibilidade à Ocorrência de Movimentos de Vertente 11

3.1. Trabalho Prévio de Pré-processamento de Variáveis 15

3.2. Avaliação da Susceptibilidade à Ocorrência de Movimentos de Vertente Através


18
da Utilização de Modelos de Base Física.

3.2.1. Método do Talude Infinito para Solos Coesivos e com Fluxo Paralelo à 20
Superfície

3.2.2. Controle Topográfico de Movimentos de Vertente Superficiais 22

3.2.3. Modelo Hidrogeológico de Difusão Transiente 25

3.2.4. Modelo de Indexação Geomorfológica de Espessura de Solo 27

4. Método de Validação dos Modelos 30

5. Resultados Prévios 32

5.1. Análise de Variáveis 32


Página

5.2. Cartografia de Susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente 39

5.3. Validação de Resultados 43

5. Considerações Finais 45

6. Referências Bibliográficas 49

Anexos 53

Anexo I. Resumo dos resultados dos parâmetros geotécnicos dos solos ensaiados em
54
laboratório.
Anexo II. Mapas de susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente em três
Sub-bacias Hidrográficas da região de Arruda dos Vinhos utilizando o modelo do
55
Talude Infinito (Abramson et.al., 2002) com a variação da espessura total de solo e
proporção de espessura de solo saturado.
ÍNDICE DE FIGURAS

Página

Figura 1. Esquema de desenvolvimento de um mapa de susceptibilidade de ocorrência de


3
movimentos de vertente através de métodos de base física.

Figura 2. Enquadramento geográfico da área em estudo. 4

Figura 3. Coluna lito-estratigráfica das formações em estudo proposta por Coelho (1979a). 5

Figura 4. Litologia da área em estudo, produzida com base na Carta Geológica de Portugal
6
na escala 1:25.000 em formato vectorial.

Figura 5. Aspecto geral do Complexo da Abadia. 7

Figura 6. Afloramentos do Complexo Corálico de Amaral. 8

Figura 7. Afloramentos do Complexo Pteroceriano. 9

Figura 8. Exsurgência de água numa vertente na região de Arruda dos Vinhos com
formação de ravinamento onde é possível verificar deslizamentos translaccionais a meio da 10
vertente.

Figura 9. Esquemas de movimentos de vertente do tipo deslizamento. 11

Figura 10. Exemplos de movimentos de vertente na região de Arruda dos Vinhos. 12

Figura 11. Exemplos de factores condicionantes para a diminuição do Factor de Segurança


13
de uma vertente ao longo do tempo.

Figura 12. Factores preparatórios e desencadeantes de movimentos de vertente. 14

Figura 13. Exemplo de ravinamentos observados nas fotografias aéreas do voo de 1983. 15

Figura 14. MDT e respectiva hidrografia (A) e Declive (B) da área de estudo. 16

Figura 15. Representação esquemática de uma vertente natural para o cálculo do Factor de
20
Segurança pelo método do Talude Infinito.
Página

Figura 16. Esquema de uma superfície de talude infinito para solos coesivos e com o fluxo
21
de água paralelo à superfície.
Figura 17. Elementos topográficos utilizados no programa TOPOG (Montgomery e
Dietrich, 1994) que são definidos pela intersecção das curvas de nível e os limites dos 23
canais de escoamento.

Figura 18. Definição das classes de estabilidade. 25

Figura 19. Gráfico que relaciona o factor de segurança de uma vertente (FS) e a
29
profundidade de solo (D.T.B.).
Figura 20. Variação do Factor de Segurança com o Declive para cada Formação da área em
35
estudo.
Figura 21. Variação do Factor de Segurança de uma vertente em função da variação da
36
carga hidráulica.
Figura 22. Mapas de Susceptibilidade da área em estudo e representação do inventário de
40
movimentos.
Figura 23. Mapa de Susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente sobreposto no
41
TIN de uma zona da Sub-bacia hidrográfica de Salema.

Figura 24. Curvas de validação e respectivas Áreas Abaixo da Curva (AAC). 44


ÍNDICE DE TABELAS

Página
Tabela 1. Resumo dos ensaios realizados para a determinação dos parâmetros geotécnicos
17
dos solos.
Tabela 2. Resumo dos coeficientes de correlação entre os dados de precipitação da estação
18
de São Julião do Tojal e dados de estações próximas à área de estudo.
Tabela 3. Estabilidade relativa de uma vertente face o Factor de Segurança. 19
Tabela 4. Escala de cor aplicada às classes de estabilidade em função do Factor de
33
Segurança.
Tabela 5. Análise sensitiva das variáveis utilizadas no modelo do Talude Infinito 33
Tabela 6. Parâmetros utilizados no cálculo do Factor de Segurança pelo método do Talude
35
Infinito
Tabela 7. Espessura de solo atribuída em função do perfil transversal da vertente. 36
Tabela 8. Valores utilizados para a análise da variação do Factor de Segurança de uma
37
vertente em função da variação da carga hidráulica.
Tabela 9. Parâmetros geotécnicos dos solos utilizados na realização dos modelos de análise
37
de estabilidade de vertentes.
Tabela 10. Variáveis e respectivos mapas temáticos (formato raster) e respectivas fontes de
38
informação utilizadas na avaliação da susceptibilidade de movimentos de vertente.
Tabela 11. Classes de Susceptibilidade admitidas e respectivas classes de Factor de
13
Segurança e estados de estabilidade das vertentes.
Tabela 12. Dados estatísticos por classe de susceptibilidade para os modelos do Talude
Infinito (Abramson et. al., 2002) e de Difusão Transiente (Iverson, 2000) para espessuras 42
de solo constante e variável.
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Resumo

O presente trabalho tem como objectivo a realização de cartografia de susceptibilidade à ocorrência de


movimentos de vertente recorrendo a modelos de base física, que permitem a quantificação da instabilidade
através de modelos de equilíbrio limite que constituem aproximação aos mecanismos físicos e factores
influentes que conduzem à ocorrência de movimentos de vertente. Estes modelos possibilitam ainda a
integração de modelos hidrogeológicos e geotécnicos, cujo objectivo principal é aproximação matemática da
realidade de modo a melhorar a capacidade de previsão de onde e quando se irão desencadear novos eventos
de instabilidade geomorfológica.

A crescente visibilidade da ocorrência de eventos de movimentos de vertente tem tido, quer no nosso país quer
no mundo, motivou um incremento da preocupação e necessidade de aprofundamento do estudo destes
fenómenos e o estabelecimento de novas metodologias capazes de prever a ocorrência dos mesmos. A área de
estudo corresponde a três sub-bacias hidrográficas (Salema, Laje e Galinhatos) tributárias do Rio Grande da
Pipa, situadas na região de Arruda dos Vinhos, cerca de 30km a norte de Lisboa, em que a morfologia da
paisagem se encontra marcada pela ocorrência de movimentos de massa de vertente.

Serão descritos alguns dos modelos de base física mais utilizados na literatura (Montgomery e Dietrich, 1994;
Iverson, 2000; Catani et. al., 2010), as metodologias utilizadas no trabalho prévio realizado para a obtenção
das variáveis requeridas para aplicação dos modelos referidos e os métodos de validação dos resultados para a
avaliação da capacidade preditiva de cada modelo (Bi e Bennett, 2003; Chung e Fabbri, 2003).

Palavras-chave: cartografia de susceptibilidade, movimentos de vertente, modelos hidrogeológicos e geotécnicos,


validação.

Abstract

This work aims to carry out landslide susceptibility mapping using physically based models which enable the
quantification of instability through the application of limit equilibrium approximations of the physical
mechanisms and influential factors that lead to the occurrence of landslides. These models allow the
integration of hydrogeological and geotechnical models, whose main objective is a mathematical
approximation of reality in order to improve the ability to forecast where and when new events of
geomorphologic instability will be triggered.

The increasing visibility and occurrence of those events, in our country and in the world, translates into a
growing concern and need for further study of these phenomena and the establishment of new methodologies
capable of predicting the occurrence of landslide events. The study area corresponds to three sub-basins
(Salema, Laje and Galinhatos) tributaries of Grande da Pipa River in Arruda dos Vinhos region, 30km north
of Lisbon, and has had an intense morphological landscape change due to the occurrence of landslides.

Some of the most used physically-based models in the literature are described (Montgomery e Dietrich, 1994;
Iverson, 2000; Catani et. al., 2010), the methodologies of the preliminary work used to obtain the required
variables for the application of the models listed and of the methods for validation of results, which is
fundamental for assessing the predictive ability of each model (Bi e Bennett, 2003; Chung e Fabbri, 2003).

Key-words: susceptibility mapping, landslides, hydrogeological and geotechnical models, validation.

i
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

1. Introdução

Dos perigos geológicos existentes, os movimentos de vertente são o que maiores alterações provocam na
morfologia da paisagem em todo o mundo, representando maior número de óbitos e perdas económicas do que
qualquer outro perigo natural, incluindo sismos, erupções vulcânicas e cheias (Guzzetti, 2005).

Os impactes socioeconómicos dos movimentos de vertente provocaram aumento dos estudos destes
fenómenos nas últimas décadas por diversas áreas como a Geologia, Geomorfologia, Geotecnia e Geologia de
Engenharia. A interacção destas diferentes áreas contribuiu para um conhecimento mais aprofundado dos
processos físicos, mecanismos, frequência e causas responsáveis pela evolução geomorfológica das vertentes e
para a criação de modelos capazes de prever a ocorrência dos movimentos.

O facto do fenómeno dos movimentos vertentes ocorrer nas mais variadas formas, extensões e ambientes
dificulta a criação de uma única metodologia capaz de prever a ocorrência dos mesmos, dificultando a
realização de cartografia de movimentos de vertente, quer seja para a avaliação de susceptibilidade, quer para
a análise da perigosidade e riscos associados. As metodologias aplicadas deverão ter em conta o número e
tipologia de movimentos, a extensão e complexidade da área abrangida e recursos de informação disponíveis
(Guzzetti, 2005).

O aumento da população generalizado no mundo levou, nos últimos anos, à proliferação desenfreada da
construção em muitas zonas potencialmente perigosas e ao desordenamento territorial, que, consequentemente
levou ao notório aumento dos impactos em infra-estruturas e perdas socioeconómicos (Guzzetti, 2005; Zêzere,
2001).

A região a norte de Lisboa tem sido alvo de numerosos eventos de instabilidade em vertentes devido a um
conjunto de condições propícias à ocorrência deste fenómeno, sejam elas de natureza geológica, geotécnica,
geomorfológicas, climáticas ou hidrogeológicas, que na sua maioria são desencadeados por episódios de
precipitação intensa e/ou prolongada, responsáveis por significativos dados materiais e humanos (Zêzere,
2001). Assim, e com o objectivo de identificar zonas potencialmente instáveis têm sido realizados diversos
estudos na região a norte de Lisboa em áreas com condições favoráveis semelhantes à ocorrência de
movimentos de vertente (Coelho, 1979ab; Zêzere et. al., 1999, 2004, 2007, 2008; Jeremias, 2000; Zêzere,
2001; Garcia, 2002; Piedade, 2009).

A avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente será realizada por métodos de


cartografia indirecta através da utilização de modelos com uma base física que se baseiam na compreensão
dos princípios físicos que controlam a estabilidade da vertente.

Um estudo realizado recentemente refere que no período de 1900 a 2006 foram inventariados 77 movimentos
de vertente com efeitos sociais importantes que resultaram na morte de 142 pessoas, em que a maioria dos
eventos ocorreu na região a norte de Lisboa e o maior número de vítimas mortais (36) ocorreu na zona da
Grande Lisboa (Quaresma, 2008 em Piedade, 2009)

Assim, dada a importância que cartografia de susceptibilidade de ocorrência de movimentos de vertente tem
para a prevenção, Planos de Ordenamento do Território e outros decisores políticos é de todo conveniente o
desenvolvimento deste estudo que permitirá identificar áreas susceptíveis à ocorrência de movimentos através
de modelos que se baseiam no mecanismo dos movimentos, nas propriedades físicas dos materiais envolvidos,
características hidrogeológicas da área e morfologia das vertentes.

1
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

De acordo com o esquema da Figura 1 os principais objectivos para este trabalho serão:

- Execução de cartografia geológica de detalhe com base em cartografia pré-existente, interpretação de


fotografia aérea, informação recolhida em reconhecimentos de campo e da bibliografia (relatórios geotécnicos,
monografias, artigos científicos, etc.), de modo a aperfeiçoar a cartografia geológica já existente e
consequentemente melhorar os modelos a realizar.

- Caracterização geotécnica dos materiais através de ensaios laboratoriais de amostragem representativa das
formações presentes na área de estudo com a finalidade de obter os parâmetros físicos dos solos de cobertura
necessários nos modelos de base física. As propriedades geotécnicas obtidas em laboratório serão
confrontadas com valores obtidos por retroanálise de roturas características levantadas no terreno, de forma a
obter estimativas fundamentadas das características de resistência operativas nas condições do terreno.

- Construção de um inventário de poços com informação altimétrica do nível piezométrico na região para
posterior estruturação de um modelo hidrogeológico.

- Construção de um Modelo Digital de Elevação (dimensão de pixel de 5m) a partir de dados altimétricos na
escala 1:10.000, e a partir deste modelo, um ficheiro raster com a variação espacial do declive, variável
imprescindível num estudo deste tipo.

- Avaliação do Factor de Segurança através de modelos de base física que permitam a articulação de um
modelo hidrogeológico, modelos geotécnicos e cálculos de espessura de solo, melhorando assim a informação
dos mecanismos físicos e identificação das zonas instáveis. Qualquer um dos modelos deverá ser
implementado em ambiente SIG (Sistemas de Informação Geográfica). O modelo que melhor se ajuste aos
dados e inventário de movimentos deverá ser o modelo escolhido para realizar o mapa de susceptibilidade.

- Posteriormente à identificação das zonas instáveis será necessário classificar as zonas susceptíveis à
ocorrência de movimentos de vertente, construindo assim um mapa de Susceptibilidade à ocorrência de
movimentos.

- Utilizando um inventário de movimentos independente validar o mapa construído anteriormente através do


cálculo das Taxas de Sucesso e Predição (Chung e Fabbri, 2003) e o cálculo da Área Abaixo da Curva (AAC)
(Bi e Bennett, 2003). Caso o valor não for aceitável (>0,75), como Guzzetti (2005) sugere, será necessária a
calibração dos dados e/ou das variáveis e/ou dos modelos de base física.

2
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Figura 1. Esquema de desenvolvimento de um mapa de susceptibilidade de ocorrência de movimentos de vertente


através de métodos de base física.

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

2. Enquadramento Geral da Área em Estudo

A área em estudo corresponde ao limite das três sub-bacias hidrográficas da Laje, Salema e dos Galinhatos,
localizando-se na região de Arruda dos Vinhos, a cerca de 10 km a noroeste da cidade de Vila Franca de Xira
e a cerca de 30 km a norte da cidade de Lisboa (Figura 2).

Estas sub-bacias hidrográficas integram-se na Sub-bacia hidrográfica do Rio Grande da Pipa que por sua vez é
parte integrante da Bacia Hidrográfica do Tejo. A área enquadra-se nos concelhos de Arruda dos Vinhos e de
Vila Franca de Xira, perfazendo uma área total de aproximadamente 12,5 km2.

Figura 2. Enquadramento geográfico da área em estudo.

A região de Arruda dos Vinhos situa-se na Orla Mesocenozóica Ocidental, enquadrando-se na bacia
sedimentar Lusitânica (Kullberg et. al., 2006), caracterizando-se por formações sedimentares que alternam na
sua maioria entre os calcários, margas e arenitos. A área está cartografada na Carta Geológica de Portugal
folha 30-D Alenquer na escala 1:50.000 (Zbyszewski e Assunção, 1965).

Segundo Zbyszewski e Assunção (1965) as formações presentes na região estão datadas do Jurássico Superior
( ) de idade Kimeridgianiana, correspondendo, da mais recente para a mais antiga, ao Complexo
Pterociano ( ), ao Complexo Corálico de Amaral ( ) e ao Complexo Camadas da Abadia ( ) onde se
destaca a última formação que abrange mais de 70% da área das sub-bacias. Verifica-se também a existência
de filões de diversa composição. Na parte norte da área encontram-se também uma unidade de Aluviões ( ),
datada do Plio-Plistocénico.

Coelho (1979a) sugere um log esquemático para as formações jurássicas da região onde se verificam
intercalações entre calcários, margas e grés (Figura 3). Na Figura 3 é possível verificar que o Complexo da
Abadia está atribuído ao Lusitaniano que terá sido englobado no andar Kimeridgianiano.

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Figura 3. Coluna lito-estratigráfica das formações em estudo proposta por Coelho (1979a).

Recentemente foi elaborada pelo LNEG a Carta Geológica de Portugal na escala 1:25.000 em formato
vectorial (Figura 4), que será utilizado como base para a melhoria da cartografia geológica neste trabalho,
onde as formações existentes foram datadas do Kimeridgianiano ao Titoniano, separando a geologia da área
em 4 formações – Formação de Abadia ( ), Formação de Amaral ( ), Formação de Sobral ( ) e
Formação de Arranhó ( ), em que as duas últimas correspondem ao Complexo Pterociano ( ).

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Figura 4. Litologia da área em estudo, produzida com base na Carta Geológica de Portugal na escala 1:25.000 em
formato vectorial.

Na região em estudo o Complexo da Abadia ( ) caracteriza-se por uma alternância de margas acinzentadas,
argilas e níveis de arenito fino amarelo, ambos com presença de moscovite (Jeremias, 2000), em maior
quantidade nas formações areníticas (Figura 5) podendo ser classificado como um grés micáceo (Coelho,
1979a). Nos níveis superiores é possível encontrar margas e argilas com intercalações de massas de calcário
recifal.

As margas são na sua maioria acinzentadas e segundo Zbyszewski e Assunção (1965) esta formação apresenta
cerca de 800m de espessura. Em alguns afloramentos é possível verificar que o alinhamento das palhetas de
micas nas formações margosas aparenta estar concordante com a superfície estratigráfica favorecendo a
diminuição do atrito entre camadas e a superfície estratigráfica das camadas apresenta baixa rugosidade. Estas
características poderão ser favoráveis à ocorrência de deslizamentos.

As camadas areniticas variam de espessura ao longo da área, aumentando de espessura no sector Este da sub-
bacia da Laje, podendo atingir até 1,5m de espessura, controlando assim estruturalmente as vertentes neste
sector.

O Complexo Corálico de Amaral ( ), formam escarpados na parte superior das vertentes, com espessuras
aproximadas de 50m, podendo ser observada principalmente na parte SW da área de estudo. Caracteriza-se
por um calcário recifal maciço a apinhoado, alternando com níveis mais margosos de cores entre o amarelo

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

(cor de alteração) e o cinzento (Figura 6). Zbyszewski e Assunção (1965) indicam que o complexo é formado
por massas calcárias, arredondadas, soldadas entre elas, estando por vezes separadas por níveis margosos ou
margo-calcários, onde no meio do complexo existe com frequência bancadas compactas de óolitos miliares
(em forma de grão de milho) e de grés. É descrito também que o contacto entre este complexo e o complexo
da Abadia apresenta um aspecto lenticular, muito irregular, devido à formação dos recifes ter ocorrido em
diferentes épocas, sendo possível em alguns locais verificar a presença de um recobrimento dos recifes por
uma fácies margosa.

Figura 5. Aspecto geral do Complexo da Abadia. A e B – Afloramentos na sub-bacia hidrográfica de Salema onde é
visível a alternância entre margas e arenitos (escala vertical 1m); C – Afloramento de margas na sub-bacia hidrográfica
da Laje (escala vertical 1m); D – Afloramento de arenitos na sub-bacia hidrográfica da Laje (escala vertical 1m); E –
Aspecto dos materiais margosos com intercalações micáceas; F – Aspecto dos materiais areníticos com a presença de
micas.

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Figura 6. Afloramentos do Complexo Corálico de Amaral. A, B e C – Afloramentos na sub-bacia hidrográfica de


Salema; D e E – Exemplos de fósseis, gastrópode e coral respectivamente; F, G e H – Aspecto geral de uma das pedreiras
situada na sub-bacia hidrográfica da laje.

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Na área em estudo, o Complexo Pteroceriano ( ) aflora apenas na sub-bacia hidrográfica de Salema e


caracteriza-se por calcários e margas com intercalações de níveis greso-margosos (Zbyszewski e Assunção,
1965) de cor amarela clara, havendo uma patente heterogeneidade nas formações (Figura 7).

Os níveis inferiores apresentam um calcário oolítico semelhante ao presente no Complexo Corálico do


Amaral, que, por ter forma lenticular não está representado em alguns locais, pelo que nesses, o Complexo
Pteroceriano assenta directamente sobre o Complexo de Abadia.

Figura 7. Afloramentos do Complexo Pteroceriano. A – Intercalações de calcários apinhoados e calcários margosos; B –


Intercalações de calcários margosos, calcários apinhoados e grés.

Estruturalmente a região constitui um grande empolamento anticlinal de orientação NE-SW das formações
com a formação da Abadia no núcleo – anticlinal da Abadia – onde a espessura total dos sedimentos
Jurássicos pode atingir cerca de 2,5km (Zbyszewski e Assunção, 1965; Jeremias, 2000). As unidades são
cortadas por acidentes tectónicos NE-SW e NW-SE (Zbyszewski e Assunção, 1965). As camadas tendem para
uma inclinação geral de 5º a 10º para S-SE, havendo no entanto diversas variações locais resultantes de
variados acidentes tectónicos.

Segundo Zbyszewski e Assunção (1965) na região em estudo foram observadas intensidades de grau VIII-VII
no sismo de 1755 e de grau IX-VIII no sismo de Benavente de 1909, estando enquadrada na zona de máxima
sismicidade em Portugal Continental.

As formações Jurássicas presentes na área em estudo apresentam diferente comportamento hidrogeológico


consoante a sua litologia (Baptista, 2004; Zbyszewski e Assunção, 1965), podendo se fazer a distinção em
dois grupos:

Nas formações mais recentes – Complexos Peteroceriano e Corálico do Amaral – verifica-se que a percolação
da água realiza-se através de fracturas existentes nas formações, podendo eventualmente ficar retida nos solos
de cobertura silto-argilosos de baixa permeabilidade.

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Nas formações do Complexo da Abadia de natureza mais margo-argilosa a percolação tende a ser muito
reduzida devido à baixa permeabilidade quer das formações quer dos solos de cobertura silto-argilosos, com
excepção dos níveis areníticos. Em eventos de maior pluviosidade a baixa permeabilidade dos materiais irá
favorecer o aumento do nível freático levando à saturação dos terrenos e consequentemente à escorrência
superficial (Montgomery e Dietrich, 2004; Iverson, 2000). As exsurgências de água nas vertentes provocam o
aumento de processos de erosão e ravinamento podendo originar a instabilização das vertentes. Este tipo de
fenómeno é recorrente nesta região como se pode verificar na Figura 8.

Figura 8. Exsurgência de água numa vertente na região de Arruda dos Vinhos com formação de ravinamento onde é
possível verificar deslizamentos translaccionais a meio da vertente. Este evento ocorreu após um episódio de precipitação
intensa e prolongada em Janeiro de 2010.

A região de Arruda dos Vinhos caracteriza-se geomorfologicamente ao longo de uma área com vales extensos
e profundos separando vertentes íngremes, cuja altimetria máxima é 395m (vértice geodésico da Carvalha).

As diferenças de resistência das litologias influenciam severamente a morfologia das vertentes, onde as
cornijas calcárias de maior resistência ocupam a parte superior das vertentes, com declives íngremes, que se
destacam das formações argilosas subjacentes, que apresentam menor resistência formando vertentes concavas
de declives variáveis (10 a 20%) (Coelho, 1979a).

Trata-se de uma zona com uma morfologia acidentada, de elevados declives (máximo de 60º,
aproximadamente), alternado entre um longo período chuvoso e um longo período seco, típico de um clima
Mediterrâneo, com condições propícias à ocorrência de movimentos de massa de vertente como os exemplos
que se encontram na Figura 10 no Capítulo 3 – Avaliação da Susceptibilidade à ocorrência de Movimentos de
Vertente.

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

3. Avaliação da Susceptibilidade à Ocorrência de Movimentos de Vertente

Movimento de vertente (“landslide”) define-se como o movimento de uma massa de rocha, detritos ou terra ao
longo de uma vertente, sob a influência da gravidade (Varnes, 1978, Cruden, 1991, Cruden e Varnes, 1996).

Com o objectivo de normalizar as terminologias e metodologias de avaliação e identificação de movimentos


de vertente foi criado um grupo de trabalho composto por três sociedades geotécnicas internacionais e
financiado pela UNESCO designado por Working Party on World Landslide Inventory (WP/WLI) que
englobam a definição referida e tipologias de movimentos.

Varnes (1978) classifica cinco tipos de movimentos – Queda, Tombamento, Deslizamento, Expansão lateral e
Escoada – e um sexto tipo Complexo que é a combinação de dois ou mais tipos de movimentos. Esta
classificação tem por base o tipo de mecanismo físico ocorrido e o material afectado, que pode ser rocha ou
solo, sendo o solo subdividido em detritos (fracção grosseira dominante) e solos argilosos (fracção fina
dominante).

Cruden e Varnes (1996) adoptam esta classificação introduzindo a definição de Grau de Actividade de um
movimento, que pode ser descrito pelo seu estado (activo, suspenso, inactivo, ou ser uma reactivação),
distribuição espacial (a avançar, regressivo, a ampliar, confinado, a diminuir e em movimento) e estilo
(complexo, composto, múltiplo, sucessivo ou individual), termos que também já teriam sido referido pelo
grupo de trabalho WP/WLI (1993), a Velocidade de um movimento que vai desde extremamente rápida (< 3
m/s) a extremamente lenta (>16mm/ano) e Quantidade de Água no material afectado (seco, húmido, molhado,
muito molhado).

Em 2005, Guzzetti refere a necessidade de introduzir na classificação o Grau de Magnitude separando os


movimentos em nove graus de magnitude desde o pequeno deslizamento de terra que afecta alguns metros
quadrados aos movimentos de vertente submarinos com extensões de vários quilómetros.

Na área de estudo os modelos aplicados no intuito de avaliar a susceptibilidade de ocorrência de movimentos


irão centrar-se nos movimentos típicos existentes que são do tipo deslizamentos de solos argilosos, embora
ocorram também em materiais rochosos desabamentos ou quedas de blocos (Figura 9 e 10).

Figura 9. Esquemas de movimentos de vertente do tipo deslizamento. A – deslizamento rotacional; B – deslizamento


translaccional. (Fonte: Highland e Bobrowsky, 2008).

11
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Figura 10. Exemplos de movimentos de vertente na região de Arruda dos Vinhos. A – Deslizamento rotacional; B e C –
Deslizamentos translaccionais; D – Cicatriz de um desabamento.

Varnes (1978) indica que “os processos envolvidos na ocorrência de movimentos de vertente reúnem uma
série contínua de eventos desde a causa até ao efeito”, ou seja, até ao momento em que ocorre ruptura existe
um conjunto de causas e factores condicionantes que levam à instabilização da vertente, sejam elas
geológicas, morfológicas, físicas e/ou antrópicas (Varnes, 1978; Popescu, 1994; Cruden e Varnes, 1996).

A estabilidade de uma vertente pode descrever-se em termos de Factor de Segurança (FS) que, segundo
Popescu (1994), resulta da razão entre a tensão de corte (τf) e a resistência ao corte (τ) do solo ao longo de uma
superfície de ruptura conhecida ou assumida, pelo que FS = τf/τ.

Terzaghi (1950 em Popescu, 1994) dividiu as causas para a ocorrência de movimentos de vertente em causas
externas, que resultam do aumento da tensão de corte (por exemplo alterações na morfologia da vertente,
erosão na base da vertente, sobrecarga da vertente, vibrações do terreno (por exemplo pela construção de
estruturas ou sismos), aumento súbito do nível piezométrico, alteração da rede de drenagem), e em causas
internas, que resultam da diminuição da resistência ao corte (por exemplo ruptura progressiva, aumento da
saturação dos materiais, meteorização, erosão por infiltração e escoamento de água).

Varnes (1978) faz referência a um conjunto de causas que podem contribuir igualmente para o aumento da
tensão de corte como para a diminuição da resistência ao corte, assim como afectar simultaneamente ambos,

12
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

subdividindo as causas em geológicas (por exemplo baixa resistência dos materiais, materiais fracturados,
contrastes de permeabilidade), morfológicas (por exemplo elevação tectónica ou vulcânica, erosão fluvial na
base de vertentes, remoção de vegetação por fogos ou secas), físicas (por exemplo precipitação intensa e/ou
prolongada, fusão rápida de neve e gelo, aumento súbito do nível piezométrico devido a cheias ou marés) e
antrópicas (escavação da base de taludes, desflorestação, irrigação de culturas) (Popescu, 1994; Cruden e
Varnes, 1996).

Os factores condicionantes para a ocorrência de movimentos de vertente podem ser subdivididos em


preparatórios ou desencadeantes dependendo do estado de estabilidade de uma vertente – estável,
marginalmente estável, ou instável (Popescu, 1994). (Figura 11 e 12).

Figura 11. Exemplos de factores condicionantes para a diminuição do Factor de Segurança de uma vertente ao longo do
tempo. (Adaptado de Popescu, 1994).

Assim, todos os factores preparatórios são aqueles que levem determinada vertente a estar susceptível à
ocorrência de movimentos mas sem o inicio dos mesmos, ficando num estado marginalmente estável
(Popescu, 1994), ou seja condicionam o grau de instabilidade da vertente, e determinam a variação espacial do
grau de susceptibilidade de uma zona à ocorrência de movimentos de vertente (Zêzere, 2003).

Os factores desencadeantes são aqueles que, numa vertente potencialmente instável, iniciam (desencadeiam) o
movimento, passando o estado de estabilidade de uma vertente de marginalmente estável a instável (Popescu,
1994), ou seja são a causa imediata da instabilidade, e determinam a variação temporal dos movimentos de
vertente (Zêzere, 2003).

13
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Figura 12. Factores preparatórios e desencadeantes de movimentos de vertente. (Adaptado de Popescu, 1994).

Na avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos é importante ter em conta os conceitos que se


incluem num modelo conceptual de avaliação do risco – susceptibilidade, perigosidade, vulnerabilidade e
risco.

Susceptibilidade é a possibilidade de um fenómeno natural ocorrer numa determinada área com base nas
condições locais de terreno (Brabb, 1984 em: Guzzetti, 2005). Será portanto o grau no qual uma determinada
área é susceptível de ser afectada por movimentos de vertente, permitindo estimar o local de ocorrência dos
movimentos de vertente, não tendo em consideração a probabilidade temporal de ruptura nem a magnitude dos
eventos expectáveis. Assim podemos definir matematicamente que a susceptibilidade é a probabilidade
espacial de ocorrência de movimentos de vertente, dado um conjunto de condições e factores geo-ambientais
(Guzzetti, 2005).

Um dos modelos mais utilizados pela comunidade científica foi descrito por Varnes (1984) que indica que o
Risco total (Rt – total risk) define-se como o número de mortos e feridos expectáveis e os danos materiais
directos (por exemplo danos causados em edificados) ou indirectos (por exemplo quebra nas actividades
económicas) devidos a um fenómeno natural particular, podendo ser calculado por:

[1]

onde, E são os Elementos em risco (Elements at risk) que podem ser a população, propriedades, actividades
económicas, etc., em risco num determinado território, Rs (Specific risk) é o grau de perda expectável devido a
um fenómeno natural particular e calcula-se pelo produto de H e V, onde H é a Perigosidade Natural (Natural
Hazard) é a probabilidade de ocorrência de um fenómeno potencialmente destruidor, num determinado
período de tempo, numa dada área e com uma dada magnitude (Guzzetti et al., 2005), e V é a Vulnerabilidade
(Vulnerability) é o grau de perda expectável de um ou mais elementos em risco resultante da ocorrência de um
fenómeno natural de determinada magnitude, sendo expressa numa escala entre 0 (sem perda) e 1 (perda total)
(Varnes, 1984).

Neste trabalho não serão referidas metodologias para a realização de inventários de movimentos de vertente
porque a validação dos modelos teve um inventário independente realizado pelo Dr. Sérgio Oliveira do
Projecto MapRisk 1.

1
Projecto da FCT: MapRisk – Metodologias de avaliação da perigosidade e risco de movimentos de vertente dos Planos Municipais
de Ordenamento do Território (PTDC/GEO/68227/2006).

14
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

3.1. Trabalho Prévio de Pré-processamento de Variáveis

A avaliação da susceptibilidade necessita de dados de base e variáveis indispensáveis à construção dos


modelos de base física. A distribuição e variação das propriedades físicas do solo, do declive e condições
hidrogeológicas são de extrema importância para uma precisão dos resultados dos modelos e consequente
melhoria nas suas capacidades preditivas.

Assim um dos objectivos deste trabalho será, com base na cartografia geológica pré-existente, realizar
levantamento de detalhe centrado no carácter litológico e estrutural de cada formação bem como dos depósitos
de cobertura.

Varnes (1984) refere que um mapa litológico num estudo deste tipo deverá agrupar as formações por unidades
litológicas não tendo propriamente de corresponder às unidades estratigráficas mas de modo a mostrar as
diferenças de litologia que possam influenciar a estabilidade de uma vertente.

Para aperfeiçoar a cartografia litológica da área em estudo deverão ser realizadas campanhas de campo para
descrição de afloramentos, recolha de amostragem para posterior análise em laboratório, e análise de
fotografia aérea.

A análise de fotografia aérea das sub-bacias hidrográficas será realizada com base o voo de 1983 (Força
Aérea), no voo SPAL (IGeoE) possivelmente de 1944 (Redweik et. al., 2010) e nos Ortofotomapas de 2004.
Deverão ser identificados e corrigidos os limites geológicos das formações e dentro de cada formação deverão
ser identificadas camadas de maior resistência que possam influenciar a estabilidade da vertente e alterar as
condições hidrogeológicas, bem assim como o início dos ravinamentos provocados por escorrência superficial
(Figura 13).

Figura 13. Exemplo de ravinamentos observados nas fotografias aéreas do voo de 1983. A linha amarela representa o
limite de uma camada de maior resistência e os pontos azuis representam o início aproximado do ravinamento e
consequentemente a exsurgência de água.

15
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Outra variável importante para a avaliação da estabilidade das vertentes é o declive. O declive das vertentes
deverá ser construído a partir de um Modelo Digital de Terreno (MDT) cujo pixel será de 5m, tendo por base
dados altimétricos na escala 1:10.000 cujo espaçamento das curvas de nível será de 5m. Na Figura 14
encontra-se um exemplo de um DEM corrigido e de um raster do declive das sub-bacias hidrográficas
agrupado por classes, onde se verifica que as zonas de maior declive se encontram onde afloram os calcários
do Complexo Corálico de Amaral.

Figura 14. MDT e respectiva hidrografia (A) e Declive (B) da área de estudo.

Da observação de campo e a partir do inventário independente podemos constatar que a maioria dos
movimentos ocorre no limite entre os Complexos do Corálico de Amaral e o de Abadia, naturalmente
promovidos pelo declive, alteração litológica (passagem para material com reduzida permeabilidade) e
alterações significativas das condicionantes hidrogeológicas. No entanto, é de realçar a presença de
deslizamentos de grandes dimensões e profundos e em zonas de declives suaves no Complexo de Abadia o
que leva a questionar as propriedades físicas das formações geológicas e as condicionantes hidrogeológicas
locais.

Não havendo informação de campanhas e relatórios de sondagens suficientes será necessário recolher
amostras para as analisar em laboratório. A localização dos locais de amostragem deverá ter em conta a
cartografia geológica de pormenor realizada e as amostras deverão ser indeformadas de modo a preservar as
características de resistência e saturação naturais do solo e em quantidade suficiente para a realização dos
ensaios (Tabela 1).

16
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Tabela 1. Resumo dos ensaios realizados para a determinação dos parâmetros geotécnicos dos solos.
(O significado da simbologia encontra-se na Tabela A.1. em Anexos)

Ensaio Realizado Metodologia utilizada Parâmetros


Ensaio de corte directo em solos em condições
D6528 – 00 (ASTM, 2004) c, cres, φ, φres
consolidadas não drenadas.

Determinação do teor em água NP – 84 (LNEC, 1965) γ, γd, e, n

Determinação da densidade das partículas NP – 83 (LNEC, 1965) Gs

Ensaio de expansibilidade E – 200 (LNEC, 1967) E

Determinação dos limites de consistência NP – 143 (LNEC, 1969) WL, WP, WR, IP, IC, IL

Análise Granulométrica da fracção grosseira * * E – 196 (LNEC, 1967) Argilas (%), Siltes (%), D10, D30,
e da fracção fina ** das amostras ** Difracção de raios laser D60, CC, CU

Foi realizada uma análise inicial dos parâmetros geotécnicos dos solos que se encontram na Tabela A.1. do
Anexo I.

Para o cálculo de limiares de precipitação e cargas hidráulicas aplicadas ao maciço, bem como para a
construção de um modelo hidrogeológico serão necessários dados de precipitação de vários anos e dados que
permitam ver a oscilação sazonal do nível piezométrico.

Por falta de informação de precipitação em Arruda dos Vinhos será essencial a realização de correlações com
estações próximas. A estação que compreende a série de dados mais completa na região de Lisboa é a de São
Julião do Tojal. Os dados das precipitações disponíveis devem recolhidos no SNIRH (Sistema Nacional de
Informação de Recursos Hídricos). De modo a verificar se os valores de precipitação recolhidos em São Julião
do Tojal se ajustam aos de Arruda dos Vinhos devem também ser recolhidos dados de precipitação
disponíveis em estações próximas da área de estudo (Santana de Carnota, Arranhó, Calhandriz e Sobral de
Monte Agraço) incluindo os valores de precipitação mensais registados na estação de Arruda dos Vinhos
aquando do seu funcionamento.

Cada série temporal de precipitações de cada estação será relacionada com a estação de São Julião do Tojal
através de métodos estatísticos de média aritmética e média móvel a dois dias, bem como os valores médios
mensais para as estações que não possuíam outros dados, de modo a obter um coeficiente de correlação (R2) o
mais elevado possível.

Numa análise prévia foi possível verificar que os resultados das correlações (Tabela 2) indicam que quanto
mais perto de Arruda dos Vinhos melhor os dados de São Julião do Tojal se ajustam. Assim será correcta a
utilização dos dados de precipitação diários da estação de São Julião do Tojal para a construção dos modelos
hidrogeológicos e cálculo de limiares de precipitação.

17
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Tabela 2. Resumo dos coeficientes de correlação entre os dados de precipitação da estação de São Julião do Tojal e
dados de estações próximas à área de estudo. * – Sem informação disponível.

Arruda dos Santana de Sobral de Monte


Estações vs. Parâmetros Arranhó Calhandriz
Vinhos Carnota Agraço
Distância rectilínea a Arruda dos
15 0 5.6 6 7 8
Vinhos (km)

São Julião do Tojal


Diária * * 0.7 0.48 0.48
Correlação (R2)
Coeficiente de

Média móvel a dois dias * * 0.81 0.65 0.64

Mensal 0.94 0.94 0.91 0.87 0.86

De modo a completar a informação e modelo hidrogeológico será realizado um estudo sobre a oscilação
sazonal do nível piezométrico com vista à construção de um modelo que indique o nível piezométrico na
região em estudo.

Será essencial a construção de uma base de dados com informação de poços e captações que possam ter
indicação das cotas do nível piezométrico de modo a analisar a distribuição espacial do mesmo e possibilitar
essa informação nos modelos. Essa informação deverá ser complementada com observação e identificação de
poços em fotografia aérea e mapas topográficos, caso não haja informação disponível em relatórios e outras
bases de dados.

3.2. Avaliação da Susceptibilidade à Ocorrência de Movimentos de Vertente Através da


Utilização de Modelos de Base Física

A avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente pode ser realizada através de duas
abordagens distintas. A primeira abordagem realiza-se por métodos de cartografia directa com base na análise
dos efeitos da instabilidade nas vertentes. É considerado um método cujos resultados são subjectivos
dependendo da experiencia da pessoa que realizou o inventário de instabilidade e zonamento da
susceptibilidade, tornando a validação dos resultados uma tarefa difícil e demorada, dado que será necessária a
ocorrência de novos movimentos. A sua abordagem realiza-se por métodos de cartografia indirecta que se
baseiam nos factores, mecanismos e causas que desencadeiam a instabilidade geomorfológica através da
construção de métodos matemáticos de base física (determinísticos) ou de base estatística, que levam a uma
normalização das metodologias tornando mais objectivos os resultados, havendo possibilidade de uma
correcta validação de resultados (Montgomery e Dietrich, 1994; Guzzetti, 2005; Piedade, 2009).

A abordagem da cartografia indirecta com base em modelos de base física será a escolhida para a realização
deste trabalho. Os modelos de base física permitem a quantificação da instabilidade através da explicação dos
mecanismos físicos e respostas aos factores influentes que levam à ocorrência à instabilidade e ruptura de uma
vertente, podendo integrar numericamente outros modelos de índole hidrogeológica e geotécnica, cujo
objectivo principal é aproximação matemática da realidade de modo a melhorar a capacidade de previsão de
onde e quando se irão desencadear novos eventos de instabilidade.

18
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Os princípios físicos, ou factores, que condicionam a estabilidade relacionam-se directamente com as


características geotécnicas dos materiais e físicas da vertente podendo o estado de estabilidade ou
instabilidade ser calculado por modelos que relacionam parâmetros como o declive de uma vertente, o ângulo
de atrito interno, a coesão, peso específico do material, posição do nível piezométrico, espessura de solo total
e saturado, etc.

Na construção deste modelo e combinando estes parâmetros é obtido um valor de Factor de Segurança (FS)
que relaciona as forças resistentes com as forças instabilizadoras, ou de cisalhamento (equação 2).

[2]

Quando as forças instabilizadoras são superiores às forças resistentes o FS é inferior a 1 e assume-se que a
vertente está numa condição instável (Tabela 3).

Tabela 3. Estabilidade relativa de uma vertente face o Factor de Segurança.

Factor de Segurança (FS) Estabilidade da Vertente

FS ≤ 1 Instável (ruptura certa)

1 < FS < 1,25 Instável (ruptura provável)

1,25 < FS < 1,5 Marginalmente Instável

FS > 1,5 Estável

Um dos métodos mais utilizados para o cálculo do Factor de Segurança de uma é o método do Talude Infinito,
que se baseia na hipótese de uma potencial superfície de ruptura ser paralela à superfície da vertente e infinita
(IGME, 1987; Vallejo et. al., 2002) como mostra a Figura 13. Existem muitas variações deste método, sendo
que as formulações mais recorrentes prevêem o fluxo do nível freático paralelo à superfície e introduzindo o
factor da espessura de solo saturado.

19
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Figura 15. Representação esquemática de uma vertente natural para o cálculo do Factor de Segurança pelo método do
Talude Infinito. (*) Representa a fatia de solo saturado e ß representa o declive da vertente.

Uma das vantagens deste método é a possibilidade de reproduzir espacialmente (pixel a pixel) as condições de
estabilidade de uma vertente, sendo possível a representação cartográfica de uma área, podendo calcular o FS
para cada unidade de terreno (pixel), ou seja, método permite a obtenção de um FS para cada unidade de
terreno que irá identificar espacialmente zonas potencialmente instáveis a partir de uma expressão matemática
que relaciona as variáveis. Após esta modelação será possível a reclassificação dessas zonas em Classes de
Susceptibilidade.

Os modelos determinísticos descritos em seguida permitem a articulação entre modelos de hidrogeológicos e


modelos geotécnicos com vista à obtenção de uma explicação dos mecanismos físicos e respostas aos factores
influentes que levam à ocorrência à instabilidade e ruptura de uma vertente. O objectivo geral será um modelo
cujas formulações sejam uma aproximação matemática da realidade de modo a melhorar as capacidades de
previsão de onde e quando irão ocorrer os movimentos de vertente.

Todos estes modelos têm a possibilidade de serem integrados em ambientes de Sistemas de Informação
Geográfica de modo a produzir cartografia de susceptibilidade. Existem variados exemplos na literatura de
modelos determinísticos com a introdução de modelos geotécnicos e hidrogeológicos (Montgomery e
Dietrich, 1994; Dietrich et. al., 1995; Iverson, 2000; Casadei et. al., 2003; Harp et. al., 2006; Dietrich et. al.,
2007; Segoni et. al., 2009; Amaral et. al., 2009; Catani et. al., 2010) descrevendo-se quatro exemplos dos
mais importantes na literatura e relevantes para o caso em estudo.

3.2.1. Método do Talude Infinito para Solos Coesivos e com Fluxo Paralelo à Superfície

O método descrito em seguida enquadra-se na análise de estabilidade de taludes por métodos do equilíbrio
limite que permitem o cálculo do Factor de Segurança, como referido anteriormente, onde ao longo de uma
superfície potencial de ruptura é calculada uma resistência ao corte necessária para manter a estabilidade
(estabilidade mínima) e comparada em seguida com as resistências ao corte dos materiais existentes. Assim,
para as mesmas condições de terreno iremos obter um Factor de Segurança constante para toda a superfície de
ruptura (Abramson et. al., 2002).

20
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

O método do Talude Infinito pressupõe que um determinado talude, ou vertente, que se estenda por uma
distância relativamente longa e tenha um perfil de solo suficientemente constante possa ser analisado como
um talude infinito. Neste caso a superfície de ruptura será paralela à superfície da vertente, permitindo que o
método do equilíbrio limite seja aplicado (Abramson et. al., 2002).

Existem muitas variações deste método, sendo que uma das formulações mais completas prevê o fluxo de
água paralelo à superfície permitindo a sua utilização em materiais coesivos, como é o caso dos materiais
existentes na região em estudo (Figura 16).

Figura 16. Esquema de uma superfície de talude infinito para solos coesivos e com o fluxo de água paralelo à superfície.
(Adaptado de Abramson et. al., 2002)

Admite-se então que para um perfil de solo coesivo saturado cujo fluxo de água é paralelo à superfície seja
possível de calcular o Factor de Segurança, que irá depender da força normal (N’). Com base na Figura 16
podemos a Força da Pressão de Poro (U) actuante numa fatia de solo instável será

[3]

onde, γw é o peso específico da água, h e b são a altura e largura da fatia de solo instável, respectivamente e ß é
o declive.

Introduzindo os valores de ângulo de atrito das partículas efectivo ( ’) e coesão efectiva do material (c’)
existente ao longo da superfície de ruptura, a força de atrito (S) irá depender de ’ e da força normal efectiva
(N’) e é obtida por:
[4]

Assim o Factor de Segurança (FS) será para este caso

[5]

21
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Substituído a força W por W = γsatbh na equação 5 e desenvolvendo a mesma iremos obter a expressão de FS
indicada na equação 6:

[6]

onde, γsat é o peso específico do solo saturado.

A análise anterior poderá ser generalizada se admitirmos que a linha de água está localizada a uma altura (dw)
de (m x h) acima da superfície de ruptura, sendo m a proporção de espessura de solo saturado. Conforme estes
dados a expressão geral do Factor de Segurança para este método será:

[7]

[8]

onde, γs é o peso volúmico do solo e γsub é o peso volúmico submerso do solo.

Com esta generalização será possível resolver a fórmula de modo a determinar a espessura de solo crítica para
qualquer altura de água, admitindo que para FS = 1 existe ruptura (Abramson et. al., 2002).

Assim, para FS = 1, a espessura de solo crítica (hcrítica) será:

[9]

3.2.2. Controle Topográfico de Movimentos de Vertente Superficiais

Montgomery e Dietrich (1994) desenvolveram um modelo para avaliação quantitativa da influência da


topografia nos movimentos de vertente superficiais. Os autores conjugaram um modelo hidrogeológico capaz
de gerar o grau de saturação do solo, um modelo para a avaliação da instabilidade de vertentes e dados digitais
de terreno para avaliar a resposta das vertentes a um limiar de precipitação constante necessário para ocorrer
ruptura.

Os deslizamentos ou escoadas ocorrem recorrentemente durante episódios de precipitação intensa e/ou


prolongada, reflectindo-se o efeito da saturação do solo na perda de coesão do mesmo (Montgomery e
Dietrich, 1994).

A concentração do escoamento superficial e o declive da encosta são os factores topográficos com maior
influência na estabilidade da vertente segundo os autores referidos, que indicam que a distribuição espacial
dos movimentos superficiais é influenciada por outros factores como a espessura de solo, condutividade e

22
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

propriedades de resistência dos materiais envolvidos, a duração e intensidade das precipitações, a orientação
do escoamento subterrâneo, a percolação de água em maciços rochosos fracturados e a resistência das raízes
de plantas e árvores. Os autores consideram que os factores descritos são importantes na estabilidade da
vertente embora a sua representação espacial seja difícil de determinar.

É assumido que, enquanto as propriedades locais afectam a actividade, dimensão e comportamento de um


movimento superficial, o controlo predominante de onde ocorrerão os movimentos é a própria topografia
local, uma vez que define o local da ruptura e a convergência do fluxo subterrâneo superficial. O modelo
permite a identificação de áreas de controlo topográfico semelhante onde se poderão desencadear os
movimentos de vertente superficiais (Montgomery e Dietrich, 1994).

O modelo tem por base a utilização de um modelo hidrogeológico TOPOG, desenvolvido por O’Loughlin
(1986), que utiliza valores de precipitação constante e mapas da distribuição da saturação de solo em
equilíbrio com base na análise das áreas de contribuição a montante, transmissividade do solo e declive local
da vertente (Figura 17). Este modelo divide a bacia em elementos topográficos (Unidades de Terreno)
definidos pela intersecção das curvas de nível e os limites dos canais de escoamento, ortogonais às curvas de
nível. Quando o escoamento superficial passa a escoamento superficial passa a escoamento subterrâneo perto
da superfície percorre os canais preferenciais de fluxo, permitindo o cálculo do fluxo local em cada elemento
topográfico.

Figura 17. Elementos topográficos utilizados no programa TOPOG (Montgomery e Dietrich, 1994) que são definidos
pela intersecção das curvas de nível e os limites dos canais de escoamento. A área de contribuição a montante, a
(sombreado mais escuro), é a área cumulativa de drenagem para onde todos os elementos topográficos drenam para um
determinado elemento. Os outros parâmetros utilizados no modelo estão definidos no esquema inferior. (Fonte:
Montgomery e Dietrich, 1994).

O modelo hidrológico leva ao cálculo do teor em água (W) (equação 10), que é a taxa do escoamento local
para uma dada precipitação constante para um dado perfil de solo saturado (Montgomery e Dietrich, 1994):

23
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

[10]

onde, q é a taxa de precipitação local, a é a área de contribuição a montante que drena através de b que é o
comprimento do limite inferior de cada elemento topográfico, T é a transmissividade do solo saturado e θ o
declive local da vertente em graus (Figura 17).

Quando o teor em água excede 1, o solo satura na totalidade e o escoamento passa a superficial. Assumindo
que a condutividade do solo não varia com a profundidade podemos dizer que e a equação 10
pode ser simplificada para o caso em que W ≤ 1 para:

[11]

onde, K é a condutividade do solo saturado, h é a espessura de solo saturado e z é a espessura total do solo
(Montgomery e Dietrich, 1994). Esta simplificação (equação 11) permitiu aos autores a formulação de um
modelo de estabilidade de talude infinito para solos de coesão reduzida e com o fluxo do escoamento paralelo
à superfície:

[12a]
ou
[12b]

onde, ρw,s é o peso específico da água e solo, respectivamente e é o ângulo interno das partículas. Na
equação 5a os autores referem que o teor em água do solo (W) deverá ser calculado a partir da equação 3 e
apenas para valores de W > 1, uma vez que se for igual a 1 o escoamento não é superficial e o solo não está
totalmente saturado. A substituição da equação 10 pela 12b permite que o critério de ruptura seja expresso em
termos da área de drenagem pela unidade de comprimento da curva de nível para cada elemento topográfico:

[13]

Assim é possível predizer para cada elemento topográfico o seu grau de estabilidade. Os autores construíram
quatro classes de estabilidade, conforme a Figura 18.

24
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Figura 18. Definição das classes de estabilidade. a – teor em água vs o declive (tan θ); b – área de contribuição por
unidade do comprimento da curva de nível de cada elemento topográfico. A linha a tracejado representa o limiar de
saturação do solo. (Fonte: Montgomery e Dietrich, 1994)

Segundo Montgomery e Dietrich (1994) diferentes razões de transmissividade e precipitação (T/q) irão alterar
o teor em água de cada elemento. Para elementos potencialmente instáveis o teor em água do solo irá
aumentar à medida que a taxa de precipitação aumentar até um limiar de precipitação crítico (qcr), a partir do
qual o elemento permanece instável.

O limiar crítico de precipitação é calculado através da equação 14 pela reformulação da equação 13:

[14]

Elementos com iguais limiares críticos de precipitação são interpretados como tendo a mesma influência
topográfica para desencadear movimentos de vertente superficiais (Montgomery e Dietrich, 1994).

O modelo não especifica se a da espessura de solo varia espacialmente, apenas que as constantes de
transmissividade e condutividade do solo saturado não variam com a espessura do solo. O modelo mantém as
propriedades físicas do solo constantes no espaço (Montgomery e Dietrich, 1994).

3.2.3. Modelo Hidrogeológico de Difusão Transiente

Para avaliar o efeito de diferentes taxas de precipitação no desencadeamento de movimentos de vertente,


tendo em consideração uma componente temporal e outra espacial, Iverson (2000) propôs um modelo que, ao
contrário do modelo de Difusão Transiente descrito anteriormente, permite calcular a variação das
propriedades hidráulicas do solo em profundidade, correlacionando, para um determinado valor de
precipitação, a variação das cargas hidráulicas impostas às vertentes e a resposta das mesmas a estes eventos.

25
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Recentemente Amaral et. al. (2009) desenvolveram um método matemático incorporando um modelo
hidrogeológico e geotécnico simplificando o modelo proposto por Iverson (2000).

Segundo os autores este modelo incorpora o efeito da precipitação de um modo dinâmico com o objectivo: de
criar uma explicação para a relação física entre a precipitação ocorrida e os processos físicos da instabilidade;
reconstituir, a partir de datas e limiares críticos de precipitação conhecidos, os mecanismos desencadeantes da
instabilidade; e determinar a hora provável da ocorrência das rupturas através de simulações.

Este método permite a determinação do efeito da precipitação num processo de infiltração transiente com a
capacidade de produzir cargas hidráulicas que originam o desencadeamento de movimentos de vertente, em
função do tempo e da profundidade da cicatriz do movimento (Amaral et. al., 2009).

Tal como Iverson (2000) os autores utilizam a Equação de Richards (1931) para determinar a posição do fluxo
vertical da água na zona não saturada representada na equação 15:

[15]

onde, z é a direcção normal ao declive, ψ é a pressão de água, θ é o teor de água volumétrico, Kz é a


condutividade hidráulica na direcção normal.

As condições iniciais e de fronteira, apresentadas nas equações 16a e 16b, permitem relacionar a pressão da
água em função da profundidade e o pulso (i.e. intensidade) da precipitação e foram constituídas a partir de
uma função de resposta (R), em função do tempo (t), do declive (ß), da profundidade (Z) e da difusividade
(D0) (Amaral et. al., 2009; Iverson, 2000).

[16a]

[16b]

em que:

[17]

[18]

[19]

onde t é o tempo decorrido, T é a duração da precipitação, ζ é uma constante que expressa o estado inicial da
distribuição da pressão da água no solo, sendo ζ = cos2(ß) - (iz/Ksat) e dz é a profundidade do lençol freático (na
direcção vertical, Z). R(t*) é a função de resposta, iz/Ksat é a razão entre a precipitação normalizada e a

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

condutividade hidráulica saturada, erfc é o erro da função complementar, t* e T* são tempos e durações de
precipitação normalizados, respectivamente (Amaral et. al., 2009).

Os autores incorporam esta simplificação do método de Iverson (2000) com um modelo de talude infinito
proposto pelo mesmo autor de modo a calcular a estabilidade das vertentes a partir de um factor de segurança
(equação 20), onde se assume que para valores de FS = 1 a uma determinada profundidade as forças
instabilizadoras (cisalhantes) igualam as forças de resistência ocorrendo ruptura. Com base neste princípio
poderemos saber como varia o FS com a profundidade e a variação da carga hidráulica para determinados
valores de precipitação, conseguindo obter uma resposta temporal e espacial da ocorrência dos movimentos
(Amaral et. al., 2009).

[20]

onde FS é o factor de segurança de uma vertente, ß é o declive, é o ângulo de atrito interno, c’ é a coesão
efectiva, γw,s são os pesos específicos da água (w) e material (s), respectivamente, e ψ é a carga hidráulica em
função de uma determinada profundidade (Z) e tempo (t).

Este modelo, ao contrário do modelo proposto por Montgomery e Dietrich (1994), permite o cálculo da
variação da carga hidráulica em profundidade imposta às vertentes para determinados valores de precipitação,
permitindo estimar, de uma forma mais rigorosa, os limiares críticos de precipitação a partir dos quais ocorre
instabilidade geomorfológica.

Assim será possível a criação de cenários de perigosidade, para integração em sistemas de alerta e planos de
prevenção, utilizados por exemplo por organismos como a Protecção Civil, Bombeiros e outros decisores
políticos, assim como utilizado conjuntamente com outros modelos (Amaral et. al., 2009).

3.2.4. Modelo de Indexação Geomorfológica de Espessura de Solo

Catani et. al. (2010) desenvolveram um modelo, ao qual denominaram de GIST (Geomorphological Indexed
Soil Thickness), que permite calcular a espessura de solo instantânea (h) de uma determinada área com uma
determinada resolução, descartando a hipótese da variação e evolução da espessura do solo através do tempo.
Os autores definem a espessura de solo como a profundidade até ao substrato rochoso ou até à primeira
alteração hidrogeológica.

A espessura de solo controla diversos processos superficiais e subterrâneos como por exemplo a evolução da
paisagem, balanço sedimentar e movimentos de vertente. Os mapas de solo tradicionais não contêm a
informação da distribuição espacial da espessura e das propriedades geotécnicas dos solos e a medições
directas e interpolação por métodos estatísticos apenas resultam para pequenos locais de teste (Catani et. al.,
2010).

Liang (1997) realizou um estudo para a determinação da espessura do solo por meios de detecção remota, no
entanto apenas conseguiu avaliar espessura até cerca de 12cm. Os solos de cobertura, constituídos por argilas,
siltes e areias, da área desse estudo eram semelhantes aos existentes em Arruda dos Vinhos. Estas

27
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

metodologias serão ineficazes uma vez que na área de Arruda os solos podem ter espessuras superiores tendo
sido identificados deslizamentos com cicatrizes superiores a 1m de altura.

Segundo Catani et. al. (2010) a espessura de solo varia com a litologia do substrato, clima, declive, curvatura
da vertente, área de contribuição a montante e coberto vegetal, tornando a sua determinação incerta. Foi
desenvolvida uma metodologia alternativa que associa a espessura de solo com o declive, o perfil longitudinal
e transversal da curvatura da vertente e a sua posição relativa dentro do perfil da vertente.

Enquanto a relação e o declive deverá reflectir a estabilidade cinemática do rególito de cobertura,


possibilitando a acumulação e formação de maiores espessuras de solo sobre área planas e convexas, a
distância da base do vale à crista da vertente representa a posição da topossequência do solo, sendo esta última
relação um parâmetro fundamental (Catani et. al., 2010).

A partir da lei de conservação de massa, parâmetros físicos de solo e parâmetros topográficos os autores
desenvolveram uma fórmula que permite calcular a espessura de solo (h):

[21]

onde, Kc é um parâmetro de calibração, C é um índice de curvatura da vertente, η é a espessura relativa


relacionada com uma sequencia de solos derivados de uma mesma litologia (catena) e ψ é um limiar da carga
hidráulica que contribui para a ocorrência de movimentos de vertente.

O parâmetro de calibração (Kc) foi determinado com base na litologia e em medições directas em campo da
espessura de solo. Essas medidas forma divididas em dois grupos em que o primeiro foi utilizado para a
calibração e o segundo para a validação. Após esta avaliação o modelo apenas produziu erros médios de 11cm
e máximos de 60cm em que os autores os atribuem à falta de informação litológica na área, o que no entanto
são resultados satisfatórios.

Em seguida à determinação da espessura de solo os autores introduziram este parâmetro num modelo de
estabilidade de taludes e com uma componente hidrogeológica de modo a calcular o factor de segurança da
vertente através de uma fórmula modificada de Iverson (2000):

[22]

onde, FS é o factor de segurança de uma vertente, θ é o declive, é o ângulo de atrito interno, c é a coesão, c’
são a coesão e coesão efectiva em função da carga hidráulica, respectivamente, γw,s são os pesos específicos da
água (w) e material (s) (em N/m3), respectivamente, e ψ é a carga hidráulica em função de uma determinada
espessura de solo (h) e tempo (t).

Através dos resultados os autores conseguiram estabelecer uma relação (Figura 19) em que quanto maior for o
valor de profundidade de solo menor será o factor de segurança, sendo considerado um dos parâmetros que
influencia mais a estabilidade de uma vertente (Catani et. al., 2010).

O modelo GIST permite de uma forma relativamente simples calcular a espessura de solo à escala da bacia
hidrográfica com a possibilidade de ser integrado em ambiente de Sistemas de Informação Geográfica e
introduzido em modelos hidrogeológicos e geotécnicos com vista à análise de estabilidade de vertentes.

28
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Figura 19. Gráfico que relaciona o factor de segurança de uma vertente (FS) e a profundidade de solo (D.T.B.). (Fonte:
Catani et. al., 2010)

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

4. Método de Validação dos Modelos

O método mais utilizado para validar os mapas de susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente é
o método estatístico de validação cruzada. A validação dos resultados é apoiada pela comparação dos mapas
de susceptibilidade com a distribuição dos movimentos de vertente, sendo determinados os graus de ajuste
entre os dados e os modelos (ocorrência de deslizamentos validados) – taxa de sucesso – e a respectiva
capacidade preditiva (onde ocorrerão futuros deslizamentos) – taxa de predição (Piedade, 2009).

No caso das taxas de sucesso, o mapa de susceptibilidade é cruzado e validado com os movimentos de
vertente que são utilizados para construir o modelo preditivo. No caso das taxas de predição, o mapa de
susceptibilidade é cruzado e validado com uma amostra de movimentos de vertente independente, não
considerada na construção do modelo preditivo (Zêzere et. al., 2004).

No caso dos modelos de base física uma vez que é apenas deduzido o Factor de Segurança das vertentes não
entrará para o cálculo a posição espacial da ocorrência dos movimentos, podendo ser utilizado um inventário
de movimentos independente para o cálculo da capacidade preditiva do(s) modelo(s). O objectivo é verificar
se as zonas com elevada susceptibilidade à ocorrência de movimentos obtidas através de cada modelo (ou
mapa de susceptibilidade) ocorreram de facto movimentos validados.

Para a construção das curvas é necessário calcular duas razões, através das seguintes fórmulas (Garcia et al.,
2007):

[23]

[24]

onde, Us são as unidades de terreno seleccionadas, Ut é o número de unidades da área em estudo, Ums é o
número de unidades seleccionadas com movimentos e Um é o número total de unidades instabilizadas na área
estudada.

A Razão1 ao relacionar o número de unidades de terreno seleccionadas com o número total de unidades da
área de estudo permite avaliar a percentagem da área de estudo por ordem decrescente de susceptibilidade,
representado em abcissas, e a Razão2 permite avaliar a percentagem de movimentos validados ao relacionar o
número de unidades seleccionadas com movimentos e o número total de unidades instabilizadas na área
estudada (Garcia et. al., 2007).

Assim, através da análise do gráfico que representa as respectivas curvas pode constatar-se a que percentagem
de área de estudo se consegue justificar determinada percentagem dos movimentos.

Segundo Piedade (2009) será possível predizer onde provavelmente irão ocorrer os futuros movimentos
através da determinação das taxas de sucesso e de predição, tendo por base probabilidades empíricas para as
diferentes classes de susceptibilidade, assumindo que o comportamento dos movimentos e o comportamento
geotécnico dos materiais será similar ao verificado anteriormente.

30
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Após a construção das respectivas curvas de sucesso e predição é calculada a Área Abaixo da Curva (AAC),
de acordo com (Bi e Bennett, 2003; Garcia et al., 2007) (equação 25), que demonstra a qualidade preditiva
global do modelo gerado.

[25]

onde, (Lsi – Li) é a amplitude da classe, ai é o valor da ordenada correspondente a Li e bi é o valor da


ordenada correspondente a Lsi. Os valores de AAC variam entre 0 (mínima capacidade preditiva) e 1 (máxima
capacidade preditiva).

Guzzetti (2005) sugere que o modelo deverá ter pelo menos 0,75 de AAC para ser considerado bom ou
aceitável, 0,80 a 0,90 para ser considerado muito bom, e superior 0,90 para ser considerado excelente, sendo
esta classe uma aproximação muito estreita à realidade.

Importa salientar que a divisão das classes de susceptibilidade tem por objectivo a facilidade de comparação
dos mapas de susceptibilidade entre si,

Segundo Chung e Fabbri (2003) para que a comparação de mapas de susceptibilidade seja possível, é
necessário que o número de pixels em classes equivalentes seja igual. Assim, as classes de susceptibilidade
são sempre definidas correspondendo a uma determinada fracção da área total em estudo.

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

5. Resultados Prévios

Neste capítulo serão apresentados os resultados prévios da execução de cartografia de susceptibilidade


aplicando a metodologia, apresentada no Capítulo 3, descrita por Abramson et. al. (2002) e Iverson (2000).

Dada a falta de informação para construir correctamente a cartografia de susceptibilidade com o modelo
proposto por Iverson (2000) foi realizada uma análise sensitiva das variáveis para o modelo do Talude Infinito
descrito por Abramson et.al. (2002) de modo a avaliar qualitativamente a influência de cada variável com
valor final do Factor de Segurança.

Os mapas de susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente resultantes dos modelos indicados serão
validados com base num inventário de movimentos independente e comparados entre si.

5.1. Análise de Variáveis

De modo a melhor entender a variação e influência das diferentes variáveis no cálculo do Factor de Segurança
de uma vertente foi realizada uma análise sensitiva das variáveis para o modelo do Talude Infinito descrito por
Abramson et. al. (2002) com base nas equações 7 e 8.

Tendo por base uma variação da proporção da espessura de solo saturado (m) entre 0 e 1, foi analisado a
variação do Factor de Segurança fazendo variar apenas uma das variáveis de entrada da fórmula do método
indicado (Tabela 4, 5 e 6). Este processo foi repetido para todas as variáveis e os resultados encontram-se em
seguida:

As diferentes situações analisadas foram:

Situação A: Variação da posição no nível piezométrico vs. Variação da razão de espessura de solo saturada
(c' = 10 kPa; φ' = 15º; γs = 16 kN/m3; ß =15º)

Situação B: Variação da posição no nivel piezométrico vs. Variação da razão de espessura de solo
saturada, com aumento da coesão (c' = 20 kPa; φ' = 15º; γs = 16 kN/m3; ß =15º)

Situação C: Variação da posição no nivel piezométrico vs. Variação da razão de espessura de solo
saturada, com aumento do ângulo de atrito interno (c' = 10 kPa; φ' = 30º; γs = 16 kN/m3; ß =15º)

Situação D: Variação da posição no nivel piezométrico vs. Variação da razão de espessura de solo
saturada, com aumento do peso específico do solo (c' = 10 kPa; φ' = 15º; γs = 20 kN/m3; ß =15º)

Situação E: Variação da posição no nivel piezométrico vs. Variação da razão de espessura de solo
saturada, com aumento do declive (c' = 10 kPa; φ' = 15º; γs = 16 kN/m3; ß =30º)

32
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Foi aplicada uma escala de cor às classes de estabilidade de uma vertente face ao Factor de Segurança (Tabela
5) que foi estabelecida conforme a Tabela 4 para uma melhor visualização dos resultados.

Tabela 4. Escala de cor aplicada às classes de estabilidade em função do Factor de Segurança.

Classes de Estabilidade Factor de Segurança


Instável (rotura certa) FS ≤ 1
Instável (rotura provável) 1< FS < 1,25
Marginalmente Instável 1,25 < FS < 1,5
Estável FS > 1,5

Tabela 5. Análise sensitiva das variáveis utilizadas no modelo do Talude Infinito (Abramson et. al., 2002).

Situação A

m=dw/h
6 1
FS h=1m

Espessura de Solo Saturado (m)


0.9
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 h=2m
Factor de Segurança (FS)

5 0.8 h=3m
0.7
1 3.50 3.30 3.11 2.93 2.76 2.60 4 h=4m
0.6 h=5m

2 2.25 2.09 1.94 1.80 1.67 1.54 3 0.5 h=6m


0.4 m=dw/h
2 0.3
3 1.83 1.69 1.55 1.42 1.30 1.19 c'= 10 kPa
h (m) 0.2
1 φ'= 15º
4 1.63 1.49 1.35 1.23 1.12 1.01 0.1 γs= 16 kN/m3
0 0 ß= 15º
5 1.50 1.36 1.24 1.12 1.01 0.90 1 2 3 4 5 6
Espessura de Solo (h)
6 1.42 1.28 1.16 1.04 0.94 0.83
Situação B

m=dw/h
FS 6 1 h=1m
Espessura de Solo Saturado (m)

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0.9 h=2m


Factor de Segurança (FS)

5 0.8 h=3m
1 6.00 5.71 5.44 5.19 4.95 4.73 4 0.7 h=4m
0.6 h=5m
2 3.50 3.30 3.11 2.93 2.76 2.60 3 0.5 h=6m
0.4 m=dw/h
2
3 2.67 2.49 2.33 2.17 2.03 1.90 0.3
c'= 20 kPa
h (m) 1 0.2
φ'= 15º
4 2.25 2.09 1.94 1.80 1.67 1.54 0.1 γs= 16 kN/m3
0 0 ß= 15º
5 2.00 1.85 1.71 1.57 1.45 1.33 1 2 3 4 5 6
Espessura de Solo (h)
6 1.83 1.69 1.55 1.42 1.30 1.19

33
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

(Continuação da Tabela 5. Análise sensitiva das variáveis utilizadas no modelo do Talude Infinito (Abramson et. al.,
2002).

Situação C

m=dw/h
FS 6 1 h=1m

Espessura de Solo Saturado (m)


0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0.9 h=2m

Factor de Segurança (FS)


5 0.8 h=3m
1 4.65 4.31 4.00 3.70 3.42 3.16 4 0.7 h=4m
0.6 h=5m
2 3.40 3.11 2.83 2.57 2.32 2.09 3 0.5 h=6m
0.4 m=dw/h
2
3 2.99 2.70 2.44 2.19 1.96 1.74 0.3
c'= 10 kPa
h (m) 1 0.2
φ'= 30º
4 2.78 2.50 2.24 2.00 1.78 1.56 0.1
γs= 16 kN/m3
0 0 ß= 15º
5 2.65 2.38 2.13 1.89 1.67 1.46 1 2 3 4 5 6
Espessura de Solo (h)
6 2.57 2.30 2.05 1.81 1.59 1.39
Situação D

m=dw/h
FS 6 1 h=1m

Espessura de Solo Saturado (m)


0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0.9 h=2m
Factor de Segurança (FS)

5 0.8 h=3m
1 3.00 2.88 2.77 2.65 2.54 2.43 4 0.7 h=4m
0.6 h=5m
2 2.00 1.89 1.79 1.68 1.58 1.48 3 0.5 h=6m
0.4 m=dw/h
2
3 1.67 1.56 1.46 1.36 1.26 1.17 0.3
h (m) 0.2 c'= 10 kPa
1 φ'= 15º
4 1.50 1.40 1.30 1.20 1.10 1.01 0.1
γs= 20 kN/m3
0 0
ß= 15º
5 1.40 1.30 1.20 1.10 1.01 0.91 1 2 3 4 5 6
Espessura de Solo (h)
6 1.33 1.23 1.13 1.04 0.94 0.85
Situação E

m=dw/h
FS 6 1 h=1m
Espessura de Solo Saturado (m)

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0.9 h=2m


Factor de Segurança (FS)

5 0.8 h=3m
1 1.91 1.80 1.71 1.62 1.53 1.45 4 0.7 h=4m
0.6 h=5m
2 1.19 1.11 1.03 0.96 0.90 0.84 3 0.5 h=6m
0.4 m=dw/h
2
3 0.95 0.87 0.81 0.74 0.69 0.63 0.3
h (m) 0.2 c'= 10 kPa
1
φ'= 15º
4 0.82 0.76 0.69 0.64 0.58 0.53 0.1
γs= 16 kN/m3
0 0
ß= 30º
5 0.75 0.69 0.63 0.57 0.52 0.47 1 2 3 4 5 6
Espessura de Solo (h)
6 0.70 0.64 0.58 0.53 0.48 0.43

Após análise podemos verificar que as variáveis que, em princípio, produzirão valores de Factor de Segurança
mais baixos e logo influenciarão mais a estabilidade de uma vertente são o declive, a espessura de solo e solo
saturado e o peso volúmico. As variáveis que menos influenciarão a estabilidade de uma vertente são a coesão
e o ângulo de atrito interno das partículas.

Comparando a variação do factor de segurança com diferentes valores de declive para as características
geotécnicas das formações da área em estudo podemos verificar que os valores mais baixos de FS produzidos

34
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

e portanto a formação com maior potencial de instabilidade será a formação do Complexo Corálico de Amaral
(Tabela 6, Figura 20). Ao comparar a litologia com o inventário de movimentos podemos confirmar que a
maioria dos movimentos ocorre nos solos da base desta formação, local onde foram recolhidas as amostras
para a caracterização geotécnica dos materiais.

Tabela 6. Parâmetros utilizados no cálculo do Factor de Segurança pelo método do Talude Infinito
(Abramson et. al., 2002).

c φ h dw γs ß
Formação 3 m FS
(kPa) (º) (m) (m) (kN/m ) (º)
26.5 24 1 1 15.72 10 1.00 9.45
Complexo de 26.5 24 2 2 15.72 20 1.00 2.78
Abadia 26.5 24 3 3 15.72 30 1.00 1.45
26.5 24 4 4 15.72 40 1.00 0.97
0 31 1 1 17.2 10 1.00 1.63
Complexo 0 31 2 2 17.2 20 1.00 0.79
Corálico Amaral 0 31 3 3 17.2 30 1.00 0.50
0 31 4 4 17.2 40 1.00 0.34
10.6 32 1 1 16.58 10 1.00 4.99
Complexo Pteroceriano

Formação de 10.6 32 2 2 16.58 20 1.00 1.70


Sobral 10.6 32 3 3 16.58 30 1.00 0.95
10.6 32 4 4 16.58 40 1.00 0.64
17.3 29 1 1 15.34 10 1.00 6.88
Formação de 17.3 29 2 2 15.34 20 1.00 2.16
Arranhó 17.3 29 3 3 15.34 30 1.00 1.17
17.3 29 4 4 15.34 40 1.00 0.78

10
C. Abadia
9
8
C. Corálico
Factor de Segurança (FS)

7 Amaral
6 Form. Sobral
5
4 Form. Arranhó
3
2
1
0
10 20 30 40
Declive (º)

Figura 20. Variação do Factor de Segurança com o Declive para cada Formação da área em estudo.

Para a análise de susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente, com base nas equações 7 e 8 do
Talude Infinito de Abramson et. al. (2002) e na equação 20 do modelo de Difusão Transiente de Iverson
(2000), foi necessária a introdução de informação em ambiente SIG para produção de parâmetros necessários
aos modelos que se encontram descritos nas Tabelas 4, 5 e 6, bem como valores de constantes como a

35
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

proporção de solo saturado (m), a espessura de solo (h – Abramson et. al. (2002) ou Z – Iverson (2000)) e a
carga hidráulica em função da espessura de solo e duração da chuva (ψ(Z,t)).

O parâmetro da proporção de espessura de solo saturada (m) foi calculado de modo a analisar a
susceptibilidade à ocorrência de movimentos para 0, 20, 40, 60, 80 e 100% de saturação, sendo que, como
seria expectável, as áreas de susceptibilidade elevada aumentam com a saturação (ver subcapítulo 5.2.).

O parâmetro da espessura de solo (h, Z) foi analisado de duas formas: na primeira admitiu-se que o valor da
espessura de solo é constante e igual a 3m em toda a região, na segunda atribui-se valores de espessura
admitindo que a espessura aumenta com base no índice de curvatura da vertente que aumenta de perfis
transversais de vertente de convexo para côncavo, sendo que este último o que apresenta maiores valores de
espessura de solo (Catani et. al., 2010).

Com base num ficheiro de curvatura das vertentes na área, realizado pelo Dr. Sérgio Oliveira, e na Tabela 4
foi criado um ficheiro do tipo raster com a variação espacial da espessura de solo em função do tipo de perfil
transversal da vertente.

Tabela 7. Espessura de solo atribuída em função do perfil transversal da vertente.

Perfil Transversal da Vertente Espessura de Solo Atribuída (m)


Convexo 2
Plano 2,5
Concavo 3

Foi realizada uma análise sensitiva do parâmetro da a carga hidráulica em função de Z e t (ψ(Z,t)) utilizada no
modelo de Iverson (2000), uma vez que não existem, no momento, dados analisados para o calculo da
variação da análise espacial desse parâmetro. Assim foi atribuído um valor constante de ψ(Z,t) = -0.0001m,
como base na análise do gráfico (Figura 21) e valores tabelados em seguida (Tabela 8), que mostram que a
partir do valor referido não existem variações significativas do Factor de Segurança, tomando este valores
perto de uma situação de ruptura potencial (FS = 1).

2.50
Factor de Segurança (FS)

2.00

1.50

1.00

0.50

0.00

Carga Hidráulica em função da espessura de solo e do tempo (ψ(Z,t))

Figura 21. Variação do Factor de Segurança de uma vertente em função da variação da carga hidráulica.

36
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Tabela 8. Valores utilizados para a análise da variação do Factor de Segurança de uma vertente em função da variação da
carga hidráulica.

φ c γw γs ß ψ(Z,t) Z Tan φ Tan ß Sin ß Cos ß FS


15 10 9800 1600 15 -1E-01 2.5 0.27 0.27 0.26 0.27 1.98
15 10 9800 1600 15 -1E-02 2.5 0.27 0.27 0.26 0.27 1.13
15 10 9800 1600 15 -1E-03 2.5 0.27 0.27 0.26 0.27 1.05
15 10 9800 1600 15 -1E-04 2.5 0.27 0.27 0.26 0.27 1.04
15 10 9800 1600 15 -1E-05 2.5 0.27 0.27 0.26 0.27 1.04
15 10 9800 1600 15 -1E-06 2.5 0.27 0.27 0.26 0.27 1.04
15 10 9800 1600 15 -1E-06 2.5 0.27 0.27 0.26 0.27 1.04
15 10 9800 1600 15 -1E-07 2.5 0.27 0.27 0.26 0.27 1.04
15 10 9800 1600 15 -1E-08 2.5 0.27 0.27 0.26 0.27 1.04
15 10 9800 1600 15 -1E-09 2.5 0.27 0.27 0.26 0.27 1.04
15 10 9800 1600 15 -1E-10 2.5 0.27 0.27 0.26 0.27 1.04
15 10 9800 1600 15 -1E-11 2.5 0.27 0.27 0.26 0.27 1.04

Na Tabela 9 são representados os parâmetros geotécnicos dos solos utilizados para a análise de estabilidade
dos modelos referidos anteriormente.

Tabela 9. Parâmetros geotécnicos dos solos utilizados na realização dos modelos de análise de estabilidade de vertentes.
(* No modelo proposto por Iverson (2000) a unidade utilizada para o cálculo dos pesos específicos dos solos e água é N/m3).

γs γsub γsat γw c' φ


Formações litológicas
(kN/m3) * (kN/m3) * (kN/m3) * (kN/m3) * (kPa) (º)
Aluviões 24.6 16.5 26.31 9.81 16 21
Abadia 17.02 9.57 19.38 9.81 26.5 24
Amaral 15.72 8.84 18.65 9.81 0 31
Sobral 15.34 8.63 18.44 9.81 10.6 32
Arranhó 16.58 9.33 19.14 9.81 17.3 29
Filões de rocha alterada e ou não identificada 26.00 14.63 24.44 9.81 29430000 52
Filões e massas de basalto 26.00 14.625 24.44 9.81 29430000 52
Filões e massas de teschenito 26.00 14.625 24.44 9.81 29430000 52
Filões e massas de dolerito 26.00 14.625 24.44 9.81 29430000 52

Na Tabela 10 apresentam-se as variáveis que entram na função de FS, mapas temáticos de cada variável e
respectivas fontes de informação.

37
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Tabela 10. Variáveis e respectivos mapas temáticos (formato raster) e respectivas fontes de informação utilizadas na
avaliação da susceptibilidade de movimentos de vertente. (UT = Unidade de Terreno)

Variável Mapa Temático Fontes de Informação

Coesão

(c’)

Ângulo de
Atrito
Interno

(φ’) Recolha de material em campo e sua análise em laboratório correspondente


a cada formação referida na Tabela 9.
Peso
Os valores apresentados das formações litológicas em estudo foram
Volúmico
ensaiados em laboratório, os valores das Aluviões foram adaptados de
do Solo
Almeida (1991) e os valores dos Filões e massas ígneas foram adaptados de
Vallejo (2002)
(γs)

Peso (UT (pixel) = 5x5 m)


Volúmico
Saturado

(γsat)

Peso
Volúmico
Submerso

(γsub)

Declive Modelo Digital de Terreno realizado através de altimetria em formato


vectorial na escala 1:10.000.
(ß)
(UT (pixel) = 5x5 m)

Espessura de Espessura de solo a variar com o tipo de perfil transversal da vertente


solo instável (convexo, plano ou concavo).

(Z, h) (UT (pixel) = 5x5 m)

38
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

5.2. Cartografia de Susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente

Neste capítulo apresenta-se os resultados da aplicação dos modelos do Talude Infinito (Abramson et. al.,
2002) utilizados para a construção de uma cartografia de susceptibilidade à ocorrência de movimentos de
vertente, desenvolvidos num Sistema de Informação Geográfica na aplicação ArcGIS 9.3. Todos os mapas e
dados apresentados encontram-se no sistema de coordenadas Hayford Gauss Datum 73 IPCC.

Recorrendo ao modelo do Talude Infinito (Abramson et. al., 2002) e o modelo de Difusão Transiente proposto
por Iverson (2000) foi possível analisar a estabilidade de vertente a partir do cálculo do Factor de Segurança
para cada unidade de terreno (UT = 5x5m). A unidade de terreno utilizada foi o pixel.

Após a recolha e cálculo de todas a variáveis estar-se-á em condições de calcular o FS de toda a área
aplicando ambos os métodos pela programação das equações impostas por cada método na ferramenta raster
calculator fazendo variar os parâmetros necessários para cada cenário assumido.

Foram assumidos os seguintes cenários:

- Cenário onde é expectável uma maior susceptibilidade para a ocorrência de movimentos de vertente, onde no
caso do modelo do Talude Infinito (Abramson et. al., 2002) a proporção de fatia de solo saturado é 100% (m =
1.0) da fatia de solo instável, ou seja que o nível piezométrico se encontra à superfície. Este cenário foi
aplicado para uma situação onde a espessura de solo é constante em todas as sub-bacias hidrográficas e para
uma situação onde a espessura de solo varia em função do perfil transversal das vertentes (Figura 22 – A e B).

- Cenário onde é expectável uma maior susceptibilidade para a ocorrência de movimentos de vertente, onde no
caso do modelo de Difusão Tansiente (Iverson, 2000) o parâmetro da carga hidráulica imposta às vertentes
tende a produzir valores de Factor de Segurança mais baixos (Figura 21), pressupondo-se um incremento na
instabilidade das vertentes. Este cenário foi aplicado para uma situação onde a espessura de solo é constante
em todas as sub-bacias hidrográficas e para uma situação onde a espessura de solo varia em função do perfil
transversal das vertentes (Figura 22 – C e D).

- De modo a demonstrar a influência da proporção de solo saturado na estabilidade de uma vertente foi
aplicado o modelo do Talude Infinito (Abramson et. al., 2002) para a região em estudo, fazendo variar o
parâmetro m (proporção de espessura de solo saturado) para os valores percentuais de 0, 20, 40, 60, 80 e
100%. Cada cenário foi aplicado para uma situação onde a espessura de solo é constante em todas as sub-
bacias hidrográficas e para uma situação onde a espessura de solo varia em função do perfil transversal das
vertentes. Os mapas de susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente produzidos para cada um
destes diferentes cenários podem ser visualizados na Tabela A.2 do Anexo II.

Para os valores de Factor de Segurança calculados foram reclassificados em classes de susceptibilidade


assumindo a que para os valores baixos de FS maior potencialidade à instabilidade, logo maior é a
susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente (Tabela 11).

39
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Tabela 11. Classes de Susceptibilidade admitidas e respectivas classes de Factor de Segurança e estados de estabilidade
das vertentes.

Classes de Susceptibilidade Factor de Segurança (FS) Estabilidade da Vertente

Muito Elevada FS ≤ 1 Instável (ruptura certa)


Elevada 1 < FS < 1,25 Instável (ruptura provável)

Média 1,25 < FS < 1,5 Marginalmente Instável


Baixa ou Nula FS > 1,5 Estável

Figura 22. Mapas de Susceptibilidade da área em estudo e representação do inventário de movimentos. A e B – Mapas de
Susceptibilidade realizados com o modelo de Abramson et. al. (2002) com o fluxo de água à superfície e espessura de solo de 3m para
toda a área (A) ou variando consoante o tipo de perfil das vertentes (B); C e D – Mapas de Susceptibilidade realizados com o modelo
de Iverson (2000) com carga hidráulica constante e com a espessura de solo de 3m para toda a área (C) ou variando consoante o tipo de
perfil das vertentes (D).

40
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Após análise dos mapas de susceptibilidade produzidos por ambos os modelos podemos inferir que quanto
maior é a proporção de solo saturado, ou seja quanto mais à superfície se encontra a localização do nível
piezométrico (dw), maior é área potencialmente instável. Verifica-se também, como expectável, que para uma
espessura de solo constante área susceptível à ocorrência de movimentos de vertente aumenta em comparação
com a espessura de solo variável em função do perfil transversal das vertentes.

Como exemplo da necessidade de realização destes estudos cruzou-se a informação da cartografia de


susceptibilidade produzida anteriormente, com o inventário independente de movimentos de vertente e a
localização do edificado e rede viária na área em estudo. No exemplo indicado na Figura 23 é possível
verificar que quer o edificado quer as estradas são afectados por diversos movimentos e/ou encontram-se em
zonas de potencialmente instáveis.

Figura 23. Mapa de Susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente sobreposto no TIN de uma zona da Sub-
bacia hidrográfica de Salema. Salientam-se os vários exemplos de edificado e caminhos afectados por deslizamentos. O
modelo utilizado neste mapa foi o Iverson (2000).

41
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Foi realizado um resumo estatístico dos dados obtidos para os cenários onde seria expectável uma maior
susceptibilidade por classe de susceptibilidade cujos dados se encontram na Tabela 12.

Tabela 12. Dados estatísticos por classe de susceptibilidade para os modelos do Talude Infinito (Abramson et. al., 2002)
e de Difusão Transiente (Iverson, 2000) para espessuras de solo constante e variável.

Susceptibilidade
Área Área Susceptibilidade Área
Movimentos Movimentos por movimentos
Modelos Susceptibilidade total total por área total potencialmente
(pixel) (km2) ocorridos por
(pixel) (km2) (%) instável (%)
área total (%)
Muito Elevada 9722 156 0,25 0,00 2,0 0,0

Elevada 18874 1111 0,49 0,03 3,9 0,2 11


Talude
Média 13889 1053 0,36 0,03 2,9 0,2
Infinito
Baixa ou nula 344313 18079 8,90 0,47 71,2 3,7 89
h=3
No Data 96960 4231 2,51 0,11 20,0 0,9 ----

Total 483758 24630 12,50 0,64 100 5,1 100

Muito Elevada 6633 0 0,17 0,00 1,4 0,0

Elevada 16560 111 0,43 0,00 3,4 0,0 10


Talude
Média 14153 1639 0,37 0,04 2,9 0,3
Infinito
Baixa ou nula 337496 18527 8,72 0,48 69,8 3,8 90
h = variável
No Data 108916 4353 2,81 0,11 22,5 0,9 ----

Total 483758 24630 12,50 0,64 100 5,1 100

Muito Elevada 38047 2004 0,98 0,05 7,9 0,4

Elevada 5401 344 0,14 0,01 1,1 0,1 14


Difusão
Média 11854 988 0,31 0,03 2,5 0,2
Transiente
Baixa ou nula 347745 17080 8,99 0,44 71,9 3,5 86
Z = 3m
No Data 80711 4214 2,09 0,11 16,7 0,9 ----

Total 483758 24630 12,50 0,64 100 5,1 100

Muito Elevada 39383 2184 1,02 0,06 8,1 0,5

Elevada 5481 341 0,14 0,01 1,1 0,1 14


Difusão
Média 11897 976 0,31 0,03 2,5 0,2
Transiente
Baixa ou nula 345996 16915 8,94 0,44 71,5 3,5 86
Z = variável
No Data 81001 4214 2,09 0,11 16,7 0,9 ----

Total 483758 24630 12,50 0,64 100 5,1 100

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Com base nos dados indicados anteriormente (Tabela 12) observa-se que 5,1% da área está instável tendo sido
afectada por movimentos de vertente, correspondendo a 0,64km2 da área de estudo. Este dado corresponde à
área ocupada pelos movimentos identificados no inventário independente.

A partir dos resultados dos modelos aplicados, e desprezando os valores das unidades de terreno em que não
foi determinado o valor de factor de segurança, verifica-se que o modelo de Difusão Transiente (Iverson,
2000) produz áreas potencialmente instáveis de maiores dimensões equivalendo a 14% da área, enquanto, no
modelo do Talude Infinito (Abramson et. al., 2002) as áreas potencialmente instáveis são de menor dimensão
correspondendo a 10 a 11% da área total analisada em função do parâmetro da espessura de solo.

O modelo do Talude Infinito (Abramson et. al., 2002), determina que cerca de 2% da área apresenta
susceptibilidade muito elevada à ocorrência de movimentos de vertente, cerca de 4% apresenta
susceptibilidade elevada, cerca de 3% apresenta susceptibilidade média e cerca de 70% da área apresenta uma
susceptibilidade à ocorrência de movimentos baixa ou nula.

O modelo de Difusão Transiente (Iverson, 2000), determina que cerca de 8% da área apresenta
susceptibilidade muito elevada à ocorrência de movimentos de vertente, cerca de 1% apresenta
susceptibilidade elevada, cerca de 3% apresenta susceptibilidade média e cerca de 70% da área apresenta uma
susceptibilidade à ocorrência de movimentos baixa ou nula.

5.3. Validação de Resultados

A partir dos mapas construídos e com base num inventário independente de movimentos de vertente foram
calculadas curvas de sucesso e de predição dos modelos, representadas na Figura 24, e calculadas as Áreas
Abaixo da Curva (AAC), que quanto mais elevada for maior será a sua capacidade preditiva. Os mapas
validados foram os que apresentavam valores de FS mais baixo, ou seja, áreas de maior susceptibilidade.

43
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

100 100

80 80

Movimentos (%)

Movimentos (%)
60 60

40 40

20 20

AAC = 0.62 AAC = 0.59

0 0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100

A Área em estudo (%) B Área em estudo (%)

100 100

80 80

Movimentos (%)
Movimentos (%)

60 60

40 40

20 20
AAC = 0.76 AAC = 0.76
0 0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
C Área em estudo (%) D Área em estudo (%)

Figura 24. Curvas de validação e respectivas Áreas Abaixo da Curva (AAC). A e B – Modelo do Talude Infinito
(Abramson et. al., 2002) com a espessura de solo totalmente saturada (m = 1) e com valor de espessura do solo constante
de 3m (A) ou variável (B); C e D – Modelo de Iverson (2000) com valor da carga hidráulica em função da espessura e do
tempo constante (ψ (Z,t) = -0.0001) e com valor de espessura do solo constante de 3m (A) ou variável (B).

A análise dos resultados obtidos a partir do método estatístico de validação cruzada mostra que os melhores
resultados, mesmo sendo uma aproximação, são apresentados pelo modelo de Iverson (2000).

Este modelo tende a ajustar-se melhor aos dados podendo dizer-se que apresenta uma melhor capacidade
preditiva e pode ser classificado como aceitável (AAC > 0,75), como Guzzetti (2005) sugere. Após o
melhoramento e calibração das variáveis é expectável que estes valores de AAC (Área Abaixo da Curva)
aumentem.

Os valores de AAC calculados para o modelo do Talude Infinito (Abramson et. al., 2002) sugerem que este
modelo não se ajusta aos dados, podendo considerar que a capacidade preditiva do modelo é reduzida ou nula,
havendo necessidade de calibrar os dados e/ou o modelo.

44
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

6. Considerações Finais

A avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente possui a capacidade de explicar a


causa da abundância e dispersão dos movimentos, a variabilidade de tipologias e diferentes causas para o seu
desencadeamento, pelo que deverão ser preparadas metodologias que consigam explicar os factores
envolvidos em cada movimento, ou zona instável (Guzzetti, 2005).

Os modelos de base física permitem a quantificação da instabilidade através da explicação dos mecanismos
físicos e respostas aos factores influentes que levam à ocorrência à instabilidade e ruptura de uma vertente,
podendo integrar numericamente outros modelos de índole hidrogeológica e geotécnica, cujo objectivo
principal é aproximação matemática da realidade de modo a melhorar a capacidade de previsão de onde e
quando se irão desencadear novos eventos de instabilidade. Uma das vantagens da utilização destes modelos é
a possibilidade de serem executados em Sistemas de Informação Geográfica.

Os princípios físicos, ou factores, que condicionam a estabilidade relacionam-se directamente com as


características geotécnicas dos materiais e físicas da vertente podendo o estado de estabilidade ou
instabilidade ser calculado por modelos que relacionam parâmetros como o declive de uma vertente, o ângulo
de atrito interno, a coesão, peso específico do material ou água, espessura de solo total e saturado, etc.

A falta de informação disponível e qualidade da mesma poderá pôr em causa a exactidão dos resultados.
Assim, para um correcto zonamento das áreas susceptíveis à ocorrência de movimentos de vertente são
imprescindíveis dados de base precisos (por exemplo as propriedades físicas do solo, do declive e condições
hidrogeológicas) de modo a não comprometer capacidade preditiva dos modelos.

Para o cálculo do factor de segurança das vertentes os modelos descritos inserem modelos hidrogeológicos e
apresentam aproximações para o cálculo da espessura de solo instável.

Montgomery e Dietrich (1994) desenvolveram um modelo a avaliação quantitativa da influência da topografia


nos movimentos de vertente superficiais. Os autores conjugaram um modelo hidrogeológico capaz de gerar o
grau de saturação do solo, um modelo de para a avaliação da instabilidade de vertentes e dados digitais de
terreno para avaliar a resposta das vertentes a um limiar de precipitação constante necessário para ocorrer
ruptura. No entanto, o modelo não especifica se a da espessura de solo varia espacialmente, apenas que as
constantes de transmissividade e condutividade do solo saturado não variam com a espessura do solo. O
modelo mantém as propriedades físicas do solo constantes no espaço o que irá introduzir erros na análise de
estabilidade.

O modelo de Iverson (2000) simplificado por Amaral et. al. (2009), ao contrário do modelo de Montgomery e
Dietrich (1994), permite o cálculo da variação da carga hidráulica em profundidade imposta às vertentes para
determinados valores de precipitação, permitindo estimar, de uma forma mais rigorosa, os limiares críticos de
precipitação a partir dos quais ocorre instabilidade geomorfológica.

Com base neste modelo será possível a criação de cenários de perigosidade, para integração em sistemas de
alerta e planos de prevenção, utilizados por exemplo por organismos como a Protecção Civil, Bombeiros e
outros decisores políticos, assim como utilizado conjuntamente com outros modelos (Amaral et. al., 2009).

O modelo GIST, desenvolvido por Catani et. al. (2010), permite de uma forma relativamente simples calcular
a espessura de solo à escala da bacia hidrográfica com a possibilidade de ser integrado em ambiente de

45
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Sistemas de Informação Geográfica e introduzido em modelos hidrogeológicos e geotécnicos com vista à


análise de estabilidade de vertentes. Através dos resultados os autores conseguiram estabelecer uma relação
em que quanto maior for o valor de profundidade de solo menor será o factor de segurança, sendo considerado
um dos parâmetros que influencia mais a estabilidade de uma vertente (Catani et. al., 2010).

A análise sensitiva das variáveis utilizadas nos modelos mostra que as variáveis que, em princípio, produzirão
valores de Factor de Segurança mais baixos e logo influenciarão mais a estabilidade de uma vertente são o
declive, a espessura de solo e solo saturado e o peso volúmico. As variáveis que menos influenciarão a
estabilidade de uma vertente são a coesão e o ângulo de atrito interno das partículas.

Comparando a variação do factor de segurança com diferentes valores de declive para as características
geotécnicas das formações da área em estudo podemos verificar que os valores mais baixos de FS produzidos
e portanto a formação com maior potencial de instabilidade será a formação do Complexo Corálico de
Amaral. Ao comparar a litologia com o inventário de movimentos podemos confirmar que a maioria dos
movimentos ocorre nos solos da base desta formação, local onde foram recolhidas as amostras para a
caracterização geotécnica dos materiais.

A partir da análise dos mapas de susceptibilidade produzidos por ambos os modelos podemos inferir que
quanto maior é a proporção de solo saturado, ou seja quanto mais à superfície se encontra a localização do
nível piezométrico, maior é área potencialmente instável.

Da observação dos mapas obtidos evidencia-se, como seria expectável, que para uma espessura de solo
constante área susceptível à ocorrência de movimentos de vertente aumenta em comparação com a espessura
de solo variável em função do perfil transversal das vertentes.

A análise estatística dos modelos aplicados mostra que 5,1% da área está instável tendo sido afectada por
movimentos de vertente, correspondendo a 0,64km2 da área de estudo. Este dado corresponde à área ocupada
pelos movimentos identificados no inventário independente.

A partir dos resultados dos modelos aplicados, e desprezando os valores das unidades de terreno em que não
foi determinado o valor de factor de segurança, verifica-se que o modelo de Difusão Transiente (Iverson,
2000) produz áreas potencialmente instáveis de maiores dimensões equivalendo a 14% da área, enquanto, no
modelo do Talude Infinito (Abramson et. al., 2002) as áreas potencialmente instáveis são de menor dimensão
correspondendo a 10 a 11% da área total analisada em função do parâmetro da espessura de solo.

O modelo do Talude Infinito (Abramson et. al., 2002), determina que cerca de 2% da área apresenta
susceptibilidade muito elevada à ocorrência de movimentos de vertente, cerca de 4% apresenta
susceptibilidade elevada, cerca de 3% apresenta susceptibilidade média e cerca de 70% da área apresenta uma
susceptibilidade à ocorrência de movimentos baixa ou nula.

O modelo de Difusão Transiente (Iverson, 2000), determina que cerca de 8% da área apresenta
susceptibilidade muito elevada à ocorrência de movimentos de vertente, cerca de 1% apresenta
susceptibilidade elevada, cerca de 3% apresenta susceptibilidade média e cerca de 70% da área apresenta uma
susceptibilidade à ocorrência de movimentos baixa ou nula.

Após a validação dos resultados obtidos a partir do método estatístico de validação cruzada pode-se concluir
que os melhores resultados, mesmo sendo uma aproximação, são apresentados pelo modelo de Iverson (2000).

46
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Este modelo tende a ajustar-se melhor aos dados podendo dizer-se que apresenta uma melhor capacidade
preditiva e pode ser classificado como aceitável (AAC > 0,75), como Guzzetti (2005) sugere. Após o
melhoramento e calibração das variáveis é expectável que estes valores de AAC (Área Abaixo da Curva)
aumentem.

Os valores de AAC calculados para o modelo do Talude Infinito (Abramson et. al., 2002) sugerem que este
modelo não se ajusta aos dados, podendo considerar que a capacidade preditiva do modelo é reduzida ou nula,
havendo necessidade de calibrar os dados e/ou o modelo.

Comparando os valores obtidos de AAC, os dados estatísticos e mapas produzidos verifica-se que apenas o
modelo de Difusão Transiente (Iverson, 2000) produz áreas de susceptibilidade muito elevada em conjunto
com a presença de movimentos de vertente, mostrando uma melhor capacidade preditiva e de ajuste aos dados
maior face o modelo do Talude Infinito (Abramson et. al., 2002).

A maioria dos movimentos e as áreas com maior elevado grau de susceptibilidade à ocorrência de
deslizamentos está presente na sub-bacia hidrográfica de Salema.

Os valores assumidos para a espessura dos solos instáveis e espessura de solo saturado são superiores ao
observado em campo, o que irá diminuir o factor de segurança geral da área. Um factor que também irá
influenciar o factor de segurança é o valor único assumido para esses parâmetros. Assim será expectável, que
com um maior rigor na introdução destes dados, que a área instável da região aumente.

Os valores assumidos para a espessura de solo, posição do nível freático, carga hidráulica imposta às vertentes
não mostram a real variação espacial das variáveis, pelo que os valores de Factor de Segurança calculados
pelos modelos são apenas uma aproximação, englobando ainda muitos erros que irão influenciar a capacidade
preditiva de cada modelo.

O facto de haver uma dificuldade generalizada na marcação dos limites dos deslizamentos (inacessibilidade a
propriedades privadas, coberto vegetal intransponível, declive acentuados inacessíveis, etc.) dificulta uma
rigorosa modelação e consequente validação dos resultados. Muitos deslizamentos observados na região não
foram contabilizados para o inventário deste trabalho devido à sua dimensão ser inferior à célula de pixel de
5m.

Foram registados, como se pode ver no inventário, muitos deslizamentos em zonas passíveis de serem estáveis
ou de susceptibilidade baixa. Esse dado poderá mostrar que os dados de base e/ou modelos necessitam de
calibração, ou que não só os parâmetros físicos dos solos, as características geomorfológicas das vertentes, a
espessura de solo instável e os condicionamentos hidrogeológicos poderão influenciar a estabilidade de uma
vertente, não podendo explicar, por si só, os deslizamentos observados.

Embora o objectivo deste trabalho seja a explicação dos mecanismos fiscos de desencadeiam os movimentos
de vertente deverá ter-se em conta que existem outros factores que poderão influenciar a estabilidade de uma
vertente. Assim, para uma correcta análise poderá ser realizada uma análise estatística de diferentes variáveis,
a par da modelação física, de modo a obter uma ponderação de variáveis de pré-disposição de instabilidade
(e.g. exposição das vertentes, perfil transversal das vertentes, nível freático, unidades geomorfológicas, uso e
tipo de solo, etc.) cruzadas com os movimentos ocorridos, salientado a correlação entre as mesmas.

Foi observado em campo que os deslizamentos verificam-se quando existe, em simultâneo, uma alternância de
bancadas de diferente permeabilidade e resistência ao corte (por exemplo margas e argilas com intercalações

47
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

de calcário e calcário margoso ou arenitos) e uma concordância sensível entre o declive das vertentes e o
sentido de inclinação dos afloramentos rochosos.

Não foram considerados os potenciais eventos extremos influenciam extraordinariamente a ocorrência de


movimentos, como precipitações intensas e/ou prolongadas. A título de exemplo, na monitorização de
vertentes realizada na região foram registados, de Dezembro de 2009 a Março de 2010, mais de 300
deslizamentos nos concelhos de Arruda dos Vinhos e Alenquer.

Mesmo tendo informação de base detalhada e variáveis com elevado grau de precisão, os dados e variáveis
poderão não se ajustar ao modelo sendo necessária a calibração dos dados e/ou dos modelos ou a escolha de
outro modelo cujos dados se ajustem correctamente. Em caso de incerteza a opção correcta será a adoptar será
a comparação, se possível, de vários modelos, avaliando através de métodos de validação de resultados (Bi e
Bennett, 2003) qual o que apresenta a melhor capacidade preditiva, que no caso do exemplo apresentado foi o
modelo de Difusão Transiente proposto por Iverson (2000), tal como referido anteriormente.

A avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente com a utilização de modelos de base


física permite a produção de cartografia que terá utilidade em plataformas de apoio à decisão, programas de
protecção civil e prevenção deste tipo de catástrofe natural, sendo portanto será da máxima relevância o
desenvolvimento deste estudo.

48
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

ANEXOS

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Anexo I

Resumo dos resultados dos parâmetros geotécnicos dos solos ensaiados em


laboratório

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Tabela A.1. – Resumo dos resultados dos parâmetros geotécnicos dos solos ensaiados em laboratório.

Limites de Consistência de
Parâmetros Físicos Parâmetros Texturais
Atterberg
Complexos Cl. Cl.
c cres φ φres γ γd Gs e n E WL WP WR IP IC IL At Argilas Siltes D10 D30 D60 CC CU
USCS AASHTO

Arranhó 17,3 12,3 29 31 24,14 15,34 26,41 0,16 13,71 11 46 25 19 21 1,4 -0,4 1,24 16,64 67,50 0,001 0,003 0,012 1 20
Pteroceriano
Sobral 10,6 11,3 32 32 24,46 16,58 26,62 0,15 12,85 9 29 19 19 10 1,6 -0,6 1,34 7,42 63,03 0,002 0,007 0,035 1 24
CA A–7–6
* **
Amaral 0 0 31 30 24,67 15,72 27,02 0,16 13,69 16 44 21 19 23 1,2 -0,2 4,51 5,09 54,17 0,003 0,017 0,067 2 25

Abadia 26,5 11,5 24 27 24,70 17,02 26,85 0,14 12,65 12 39 24 19 15 1,6 -0,6 1,26 11,81 86,58 0,002 0,005 0,014 1 8

Legenda:

c – Coesão (kPa)
Argilas – Percentagem de Argilas na amostra (%)
cres – Coesão residual (kPa)
WL – Limite de Liquidez (%) Siltes – Percentagem de Siltes na amostra (%)
φ – Ângulo de atrito das partículas (º)
WP – Limite de Plasticidade (%) D10,30,60 – Diâmetro efectivo (mm)
φres – Ângulo de atrito das partículas (º)
WR – Limite de Retracção (%) CC – Coeficiente de curvatura
γ – Peso volúmico total (kN/m3)
IP – Índice de Plasticidade (%) CU – Coeficiente de Uniformidade
γd – Peso volúmico aparente seco (kN/m3)
IC – Índice de Consistência (%) Cl. USCS – Classificação Unificada de Solo (Unified Soil Classification System)
Gs – Peso específico das partículas sólidas (kN/m3)
IL – Índice de Liquidez (%) Cl. AASHTO – Classificação AASHTO
e – Índice de vazios
At – Actividade de argila (%) * Argila Magra
n – Porosidade (%)
** Solos Argilosos
E – Expansibilidade (%)

Anexo I
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Anexo II

Mapas de susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente em três


Sub-bacias Hidrográficas da região de Arruda dos Vinhos utilizando o
modelo do Talude Infinito (Abramson et.al., 2002) com a variação da
espessura total de solo e proporção de espessura de solo saturado

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Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Tabela A.2. Mapas de susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente em três Sub-bacias Hidrográficas da
região de Arruda dos Vinhos utilizando o modelo do Talude Infinito (Abramson et.al., 2002) com a variação da
espessura total de solo e proporção de espessura de solo saturado.

Proporção de
Espessura de
Solo Espessura de Solo Variável
Saturado

0%

Espessura de Solo Constante (h = 3m)

Anexo II
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Proporção de
Espessura de
Solo Espessura de Solo Variável
Saturado

20%

Espessura de Solo Constante (h = 3m)

Anexo II
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Proporção de
Espessura de
Solo
Espessura de Solo Variável
Saturado

40%

Espessura de Solo Constante (h = 3m)

Anexo II
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Proporção de
Espessura de
Solo
Espessura de Solo Variável
Saturado

60%

Espessura de Solo Constante (h = 3m)

Anexo II
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Proporção de
Espessura de
Solo
Espessura de Solo Variável
Saturado

80%

Espessura de Solo Constante (h = 3m)

Anexo II
Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes através de modelos de base física em sub-bacias hidrográficas da zona de Arruda dos Vinhos, Portugal

Proporção de
Espessura de
Solo
Saturado Espessura de Solo Variável

100%

Espessura de Solo Constante (h = 3m)

Anexo II

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