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PORTUGUÊS

10.º ANO

CANTIGAS
DE AMIGO
CANTIGAS DE AMIGO
TEMA CENTRAL: Amor (frequentemente, fonte de sofrimento e causa de lamento);

SUJEITO POÉTICO: geralmente, voz feminina (donzela), que se refere ao amigo - o poeta finge que é a
donzela a expor as suas próprias penas;

CARACTERIZAÇÃO DO SUJEITO POÉTICO (autocaracterização):


- donzela (“dona virgo”) simples, ingénua, apaixonada, vulnerável à desilusão amorosa;
- louçã, velida, talhada, bem parecer;
- relação de proximidade com o objeto da cantiga (o amigo), que pode caracterizar – direta ou indiretamente –
como apaixonado, ausente, fermoso, traidor, mentiroso, etc.

CARACTERIZAÇÃO TEMÁTICA:
Representação de afetos e emoções:
- variedade do sentimento amoroso: amor, alegria/orgulho de amar e de ser amada, ansiedade,
saudade, tristeza, raiva, ciúme, etc.;
- confidência amorosa à natureza, à mãe, às amigas;
- relação com a natureza (enquanto campo, fonte, rio, montanha, ermida, alvorada, mar…):
natureza humanizada/personificada com o papel de confidente/amiga ou com valor simbólico.

Ambiente (espaços, protagonistas e circunstâncias):


- natureza;
- ambiente doméstico e familiar, marcado pela presença feminina (ausência do chefe de família,
autoridade materna): tarefas domésticas (como a ida à fonte) e vida coletiva (como os bailes e romarias.
CANTIGAS DE AMIGO

CARACTERIZAÇÃO FORMAL:
- apresentam, com frequência, paralelismo (princípio da repetição e da simetria):
. Repetição de palavras, versos inteiros, construções ou conceitos;
. Leixa-pren: processo de encadeamento de estrofes que consiste na retoma de versos
(cf. pág. 32);
. Refrão: repetição de um ou mais versos no final das estrofes;
. Esquemas estróficos e rimáticos breves;
. Linguagem simples.

SUBGÉNEROS DAS CANTIGAS DE AMIGO:


- pastorela;
- alba;
- cantiga de romaria;
- barcarola ou marinha;
- pranto;
- bailia.
«Ondas do mar de Vigo»,
Martim Codax (p. 30)
Cantiga de amigo - a presença do mar.
Situação inicial: amigo ausente.

Características formais:
• Cantiga de refrão.
• Cantiga paralelística perfeita, com emprego da técnica de leixa-pren.

O sujeito poético e os elementos da Natureza:

Apóstrofe

EU TU

Confidentes

Donzela Ondas do Mensageiras

mar de Vigo
Estado de espírito do sujeito poético: a donzela em progressivo sofrimento.

Ansiosa «se vistes meu amigo?»


Coplas 1 e 2 Duvidosa «se vistes meu amado?» Paradeiro do amigo

Frases interrogativas

Aflita «o por que eu suspiro?»


Coplas 3 e 4 Sentimentos pelo amigo
Preocupada «por que ei gram cuidado?»

virá — futuro do modo indicativo

Inquieta Desejo de rever o amigo;


Refrão «E ai se verra cedo!»
Emotiva desejo de união
Frase exclamativa
Repetição

Angústia e receio constantes


devido à ausência do amado
«Ai flores, ai flores do
verde pino»,
D. Dinis (p. 34)
Cantiga de amigo dialogada - pedido angustiado às flores do verde pino.

Personagens Ação Estrutura

• A amiga A amiga questiona as flores Cantiga paralelística perfeita:


• A Natureza sobre o estado e o paradeiro unidade central — dístico
(flores do seu amigo. • último verso de cada estrofe
do verde pino) As flores asseguram-na é repetido no primeiro verso
de que o amigo está bem da estrofe correspondente
e que chegará no prazo no dístico seguinte
combinado • técnica de leixa-pren:
repetição parcial ou integral
de versos
Ai flores, ai flores do verde pino,
- Vós me perguntardes polo voss'amigo,
se sabedes novas do meu amigo!
e eu bem vos digo que é san'vivo.
Ai Deus, e u é?
Ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,


Vós me perguntardes polo voss'amado,
se sabedes novas do meu amado!
e eu bem vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,


E eu bem vos digo que é san'vivo
aquel que mentiu do que pôs comigo!
e seera vosc'ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,


E eu bem vos digo que é viv' e sano
aquel que mentiu do que mi á jurado!
e seera vosc'ant'o prazo passado
Ai Deus, e u é?
Ai Deus, e u é?

A donzela dirige-se às flores do verde pinho: Resposta das flores do verde pinho:
• pede-lhes notícias do seu amigo • confirmam que o amigo está bem
• acusa o amigo de lhe ter mentido e de não • asseguram-lhe que o amigo cumprirá a sua
cumprir a promessa de se encontrar com ela promessa e estará com ela como combinou
Estado de espírito do sujeito poético: a donzela sofrimento por não ter
notícias do seu amigo.

Ansiosa/insegura Angustiada/saudosa Furiosa

Refrão Apóstrofe Frases de tipo


interrogativo à Natureza com uso exclamativo
da interjeição «Ai»
repetida ao longo
da cantiga
Papel da Natureza: confidente da donzela/tranquiliza a donzela/confirma
a lealdade do amigo junto da donzela.

• Tempo primaveril; fertilidade


Simbologia
das flores • Juventude
do verde pino
• Sentimento entre a donzela e o amigo

Refrão da cantiga «Ai Deus, e u é?» — apóstrofe interrogativa à divindade.

• Demonstra a ansiedade da donzela.

• Intensifica as emoções da donzela.


«Levad’, amigo, que dormides
as manhanas frias»,
Nuno Fernandes Torneol (p. 36)
Cantiga de amigo - a separação dos amantes.

• A donzela alerta o amigo para a chegada da manhã.


• A separação dos amantes é acompanhada por mudanças na Natureza.

Personagens Ação Espaço

• Locutor: 1. A donzela alerta o amigo para Cenário


a amiga a chegada da manhã do idílio amoroso:
• Destinatário: 2. As aves celebram o seu amor • Manhã
o amigo 3. O amigo partiu os ramos em que • Canto dos pássaros
• Testemunha: as aves celebrantes pousavam • Ramos das árvores
as aves 4. O amigo secou as fontes que • Fontes
as aves celebrantes usavam
Estrutura da cantiga:

Coplas 1-4
Ambiente idílico, afetivo: a donzela acorda o amigo / a certeza de ser amada
Tempo presente: verbos no presente e no imperfeito do modo indicativo; modo imperativo
1.ª parte
Mensageiro da manhã
Canto das aves
Harmonia Assunto do canto: amor

Coplas 5-8
Ambiente desagradável, penoso
Destruição dos símbolos da harmonia amorosa pelo amigo
2.ª parte Situação passada e que já não existe: verbos no perfeito do indicativo

O amigo corta os ramos em que as aves pousavam


Canto das aves
Rutura
termina porque O amigo seca as fontes em que as aves bebiam

Transformação na Natureza == evolução da relação amorosa


Simbologia do refrão:

• Coplas 1 a 4: alegria da donzela.


• Coplas 5 a 8: antítese entre a tristeza descrita nos versos e a alegria
apresentada no refrão.

Características formais: cantiga paralelística perfeita.

São idênticos, em intervalos de cinco, os versos 2/7, 8/13, 11/16, 14/19 e 17/22.
«Bailemos nós já todas três,
ai amigas»,
Airas Nunes (p. 40)
Cantiga de amigo - convite às amigas; desejo de ir dançar.

Personagens Ação Espaço

Três amigas A donzela incita Campestre:


as amigas a bailar • Debaixo
das avelaneiras
Relação de proximidade:
• Debaixo das avelãs
Amigas Consequência:
• Debaixo do ramo florido
Irmanas as donzelas belas
e apaixonadas
dançarão como elas Ambiente primaveril
Simbologia do número 3:
Árvores em flor
Perfeição
Harmonia
Estado de espírito do sujeito poético: a donzela tenta convencer as suas
amigas a dançarem com ela.

Alegre Segura Confiante

Discurso persuasivo

Intenção Ação Condição Consequência

Participar Convencer 1. Ser bela como Outras donzelas


no ritual as amigas as três amigas; bailarão: o ritual
da dança. a dançar. 2. Amar alguém. cumprir-se-á.
Caracterização das três amigas no discurso do sujeito poético: autoelogio.

«quem for velida como nós» Repetição


«quem for louçana como nós» das expressões valorativas:
«quem bem parecer como nós parecemos» beleza e formosura.

Características formais: estrutura paralelística com refrão intercalado.


ELEMENTOS SIMBÓLICOS
• Canto dos pássaros: É o símbolo da renovação primaveril, tendo-se
convertido num tópico presente em toda a lírica românica, desde a “cansó”
provençal até à lírica atual. Porém, pode ser, igualmente, associado ao tema
do amanhecer, como advertência da proximidade do dia.
• Árvores: Na lírica galego-portuguesa, têm várias simbologias. Podem
corresponder a um lugar de júbilo, pois é debaixo delas que as donzelas
apaixonadas bailam, por exemplo. Pode, ainda, constituir uma referência ao
espaço de encontro dos apaixonados. Contudo, a árvore também pode ser o
marco da despedida da donzela que perdeu o amor do amigo.
• Avelaneiras: Representam a fertilidade, estando, em muitas culturas antigas,
associadas aos ritos nupciais.
• Flores: São símbolo de feminilidade, de juventude, de beleza, amor e
primavera.
• Dança: Corresponde a um ritual de celebração e a uma forma de exibição da
beleza das donzelas, muito associada ao objetivo de sedução do amigo.
• Fonte: Na tradição folclórica, a fonte é portadora de um significado erótico,
sendo a representação do amor e da fecundidade. Na lírica galego-
portuguesa, a fonte, como lugar de encontro dos amantes, aparece associada
a fórmulas eufemísticas, como “lavar cabelos” ou “lavar camisas”, que
sugerem o contacto íntimo dos encontros.
BIBLIOGRAFIA
- Adaptação de documento disponibilizado pelo manual de
10.º ano, Entre Nós e as Palavras, Santillana

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