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- Ai flores, ai flores do verde pino (pinheiro), - Vós me preguntades polo voss'amigo

se sabedes (sabeis) novas (notícias) do meu e eu bem vos digo que é san’ (são) e vivo.
amigo? Ai Deus, e u é?
Ai Deus, e u é (onde está)?
Vós me preguntades polo voss'amado
Ai flores, ai flores do verde ramo, e eu bem vos digo que é viv'e sano.
se sabedes novas do meu amado? Ai Deus, e u é?
Ai Deus, e u é?
E eu bem vos digo que é san'e vivo
Se sabedes novas do meu amigo, e seera vosc’ant'o prazo saído (terminado).
aquel que mentiu do que pôs (combinou) comigo? Ai Deus, e u é?
Ai Deus, e u é?
- E eu bem vos digo que é viv'e sano
Se sabedes novas do meu amado, e seera vosc’ant'o prazo passado.
aquel que mentiu do que mi há jurado? Ai Deus, e u é?
Ai Deus, e u é?
D. Dinis

Cantigas de amigo 1
Nesta composição poética de D. Dinis encontramos várias características que nos permitem
enquadrá-la no âmbito das cantigas de amigo. Uma delas é o facto de o sujeito poético ser
uma voz feminina, a donzela, que expressa a sua preocupação e angústia motivadas pela
ausência do amigo.

Cantigas de amigo 2
O sujeito poético é uma voz feminina que se dirige, de forma angustiada, às “flores do
verde pino”, perguntando-lhes por notícias do amigo que tarda em chegar ao encontro
marcado.

«se sabedes novas do meu amigo?


Ai Deus, e u é?»

A Natureza surge como confidente da relação amorosa, tranquilizando-a.

- Vós me preguntades polo voss'amigo


e eu bem vos digo que é san'e vivo.

Cantigas de amigo 3
Nesta cantiga, está presente o tema da angústia perante a ausência do amigo.

Quanto ao assunto, a donzela mostra-se preocupada, pois não sabe se o amigo vai
comparecer ao encontro marcado. Mostra-se insegura quanto às intenções do amigo e
interpela a Natureza para que lhe dê notícias dele. As “flores do verde pino”
respondem-lhe que o amigo se encontra vivo e bem de saúde e que, em breve, estará
perto dela.

Cantigas de amigo 4
Esta cantiga pode ser dividida em duas partes.

A primeira corresponde às quatro estrofes (coblas) iniciais, em que o emissor é a donzela,


que revela a sua preocupação, questionando desesperadamente a Natureza (“flores do
verde pino”) sobre a demora do amigo/amado. Além da preocupação de não saber notícias
do amigo, nesta cantiga está patente a desilusão e a angústia/desespero da donzela
perante a possibilidade de o amigo não cumprir o que lhe prometeu e faltar ao encontro
marcado.

A segunda parte integra as coblas restantes (5 a 8) e nelas é dada a resposta da Natureza


que tranquiliza a donzela, garantindo-lhe que o seu amado se encontra bem e que em
breve o poderá ver.

Cantigas de amigo 5
Esta cantiga de amigo dialogada apresenta recursos expressivos que realçam a
caracterização da donzela e dos seus sentimentos bem como o papel do interlocutor.

Destaca-se no diálogo a personificação da Natureza (“flores do verde pino”) que responde


às interpelações da donzela.

«- Vós me preguntades polo voss'amigo


e eu bem vos digo que é san'e vivo.»

Cantigas de amigo 6
O sentimento de angústia e preocupação é visível na repetição paralelística dos versos e
no uso das interjeições.

A apóstrofe à entidade divina e a interrogação presentes no refrão acentuam o seu


desespero por não saber onde se encontra o amigo.

«Ai Deus, e u é?»

A musicalidade desta composição é conseguida ainda pelo recurso à aliteração (repetição de


sons consonânticos).

«se sabedes novas do meu amado?


e será vosc[o] ant'o prazo passado.»

Cantigas de amigo 7
Análise formal dístico

- Ai flores, ai flores do verde pino, - Vós me preguntades polo voss'amigo


1.º par de se sabedes novas do meu amigo? e eu bem vos digo que é san’ e vivo.
3.º par de
estrofes Ai Deus, e u é? Ai Deus, e u é?
refrão estrofes
ou coblas
ou coblas
Ai flores, ai flores do verde ramo, Vós me preguntades polo voss'amado
se sabedes novas do meu amado? e eu bem vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é? Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo, E eu bem vos digo que é san'e vivo
aquel que mentiu do que pôs comigo? e seera vosc’ant'o prazo saído.
2.º par de Ai Deus, e u é? Ai Deus, e u é? 4.º par de
estrofes estrofes
ou coblas Se sabedes novas do meu amado, - E eu bem vos digo que é viv'e sano ou coblas
aquel que mentiu do que mi há jurado? e seera vosc’ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é? Ai Deus, e u é?

D. Dinis

Cantigas de amigo 8
Análise formal

- Ai flores, ai flores do verde pino,


1.º par de se sabedes novas do meu amigo?
estrofes Ai Deus, e u é?
ou coblas
Ai flores, ai flores do verde ramo, Paralelismo: repetição da ideia
se sabedes novas do meu amado? expressa numa estrofe na estrofe
Ai Deus, e u é? seguinte, substituindo-se apenas
nos versos paralelos as palavras
Se sabedes novas do meu amigo, em posição de rima por outras que
aquel que mentiu do que pôs
2.º par de sejam sinónimas.
comigo?
estrofes
Ai Deus, e u é?
ou coblas
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há
jurado?
Ai Deus, e u é?

28/09/2022 Cantigas de amigo 9


Análise formal

- Ai flores, ai flores do verde pino, A


se sabedes novas do meu amigo? B
Ai Deus, e u é? R
o 2.º verso da 1.ª estrofe
é retomado no 1.º verso
Ai flores, ai flores do verde ramo, A’
da 3.ª estrofe
se sabedes novas do meu amado? B’
Ai Deus, e u é? R

Se sabedes novas do meu amigo, B


o 2.º verso da 2.ª estrofe é aquel que mentiu do que pôs comigo? C
retomado no 1.º verso da Ai Deus, e u é? R
4.ª estrofe
Se sabedes novas do meu amado, B’
aquel que mentiu do que mi há jurado? C’
Ai Deus, e u é? R

Cantigas de amigo 10
Paralelismo perfeito: o número de estrofes é par e as mesmas estão
interligadas pelo processo de leixa-pren.

Paralelismo imperfeito: o paralelismo está isolado em cada par de estrofes, não


havendo ligação com as restantes coblas.

Cantigas de amigo 11
Retire da cantiga um exemplo de paralelismo.

A nível estrutural surge, por exemplo, a repetição de “ Ai flores, ai flores do verde pino”/“Ai flores, ai
flores do verde ramo” (em que se substitui “pino” por “ramo”) ou a repetição dos versos 2 e 5, com a
substituição de “amigo” por “amado”.

Há ainda a repetição integral do 2.º verso da primeira estrofe que é o 1.º verso da terceira ou
repetição integral do 2.º verso da segunda estrofe que é o 1.º verso da quarta (exemplo de leixa-pren).

O refrão também é um exemplo de paralelismo.

Cantigas de amigo 12

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