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Memorial do Convento

contextualização
josé saramago nasceu em 1922 e faleceu em 2010
recebeu o prémio nobel da literatura em 1998 com mem. convento

obra publicada em 1982


é um romance histórico, de intervenção social e de espaço

título e linhas de ação

- era uma vez um rei que fez a promessa de levantar um convento em mafra
1ª linha de ação, ação principal, construção do convento de mafra, d. joão V promete
erigir um convento se tiver um herdeiro num espaço de um ano
- era uma vez a gente que construiu esse convento
2ª linha de ação, os construtores do convento, o sofrimento, o sacrifício e a morte do
povo com a construção deste convento, o povo como protagonista da história
- era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes
3ª linha e ação, amor entre baltasar sete-sóis e blimunda sete-luas, amor puro e
avesso às convenções sociais
- era uma vez um padre que queria voar e morreu doido
4ª linha de ação, sonho do padre bartolomeu lourenço em construir a passarola,
através do qual se conhece a realidade socioeconómica do país

temas

- amor: baltasar/blimunda contrasta com rei/rainha


- sonho: voo da passarola, redefinir o conceito de possível
- conhecimento: ciência
- injustiças sociais: falta de liberdades, condições de vida e trabalho dos trabalhadores
do convento, contraste com o luxo da corte e clero
- religião: intolerância, inquisição

tempo

- tempo histórico: séc. XVIII, reinado de D. João V (época de grande luxo na corte e
da inquisição)
- tempo da narrativa: a ação decorre ao longo de 28 anos, desenrolando-se em
sequências cronologicamente não lineares, com frequentes analepses e prolepses
- 1711: promessa construção do convento de mafra, auto de fé em lisboa,
união de baltasar e blimunda
- 1717: bênção das 1as pedras do convento de mafra
- 1730: sagração da basílica de Mafra, aniversário de D. João V,
desaparecimento de Baltasar, início da viagem de blimunda em busca de
Baltasar
- 1739: auto de fé em Lisboa, reencontro de baltasar e blimunda, fim da
viagem de blimunda
- não ocorre linearmente, não corresponde ao tempo da história
espaço

- espaço físico: lisboa e mafra têm maior destaque


- espaço social: recriação da sociedade portuguesa da 1ª metade do século XVIII:
feitiçaria, escravatura, inquisição, epidemias, rituais da corte e da igreja,
festividades; é notório o contraste entre os afortunados e os explorados- saramago
eleva o povo ao estatuto dos verdadeiros fazedores da história
- espaço psicológico: rainha - triste, descontente e insatisfeita, com um marido que
apenas a procura para ter herdeiros; blimunda - forte, entrega-se puramente à
relação verdadeira que tem com baltasar

personagens

destacam-se dois grupos antagónicos de personagens: o grupo do poder (aristocracia, alto


clero) e o grupo do contrapoder (oprimidos, povo)

grupo do poder:
- D. João V: governa de acordo com os seus interesses, vaidoso e egocêntrico;
despreza os pobres e oprimidos; compactua com a inquisição; mantem relações
amorosas fora do casamento e tem filhos bastardos, dos quais se orgulha

- D. Maria Ana Josefa: perspetivada como um mero instrumento de criar herdeiros


para o trono; mulher frágil, devota, submissa e infeliz e frustrada com o seu
casamento

grupo do contrapoder:
- padre bartolomeu lourenço de gusmão: conhecedor da autores clássicos e de
escrituras sagradas, escrevia poesia, dedicava-se à ciência, distancia-se da
mentalidade da sua época

- baltasar sete-sóis: baltasar mateus, desempenha vários papéis na


narrativa:ex-soldado, açougueiro, construtor da passarola, operário da construção,
humilde, foi-se construindo herói através do conhecimento, da ousadia, vontade e
autonomia

- blimunda sete-luas: filha de uma mulher acusada de heresia, tem o dom de ver o
interior das pessoas, com o qual irá recolher as vontades para construirem a
passarola, mulher forte e decidida, tem apenas 19 anos, força espiritual

- domenico scarlatti: músico conceituado, ligado ao poder (dá aulas à infanta maria
bárbara), ligado ao contrapoder (convidado pelo padre bartolomeu a ajudar na
construção da passarola)
- povo: o verdadeiro responsável pela construção do convento, é o herói da obra, à
custa de muitos sacrifícios faz cumprir a promessa do rei, ignorante, analfabeto,
injustiçado
personagens históricas: d. joão v, d. maria ana, padre bartolomeu lourenço, scarlatti

amor

baltasar e blimunda: amor puro e verdadeiro:


- desafio às normas da época
- união de livre vontade
- entrega mútua, com ternura e cumplicidade
- sexualidade associada ao prazer e erotismo
- igualdade e respeito

d. joão v e d. maria ana: relação geradora de infelicidade:


- obediência às convenções da época
- casamento pela igreja e por conveniência
- conceção da mulher como um instrumento
- sexualidade associada ao fim de procriar
- desigualdade, desequilíbrio

visão crítica
apresenta-se uma caricatura da sociedade portuguesa na época de D. João V - o narrador
faz um grande uso da ironia, sarcasmo e até de comentários depreciativos

- luxo, riqueza e aparências da corte


- os poderosos: opressores e privilegiados
- poder da igreja: falsa mistificação, intolerância, materialismo, perseguição e purgas
sociais nos autos de fé
- prepotência de d. joão v: adultério, utilização do povo para seus caprichos,
megalomania
- justiça: perdoa os poderosos e castiga os humildes
- exploração do povo pelo poder real: oprimidos, sem privilégios, trabalho duro

dimensão simbólica

- convento de mafra: ostentação régia, misticismo religioso, opressão do povo


- passarola voadora: desejo de liberdade, harmonia entre sonho e realização,
materializa o sonho de voar e alcançar os céus
- nº 3: trindade terrestre (baltasar, blimunda, padre lourenço) - perfeição
- nº 7: sabedoria, ciclos da vida
- nº 9: circularidade, intemporalidade e persistência na busca de algo
- sol/lua: complementaridade entre o masculino e o feminino
- cobertor da rainha (início da obra): afastamento
- colher que baltasar e blimunda partilham: aliança
estrutura, linguagem e estilo

- tem 25 capítulos não numerados e organiza-se em 4 linhas de ação


- tom oralizante
- intertextualidade: remete para os lusíadas e textos bíblicos
- marcas do discurso: uso original da pontuação (substituição do ponto final pela
vírgula, substituição dos pontos de exclamação e interrogação pelo ponto final) - o
discurso ganha fluidez e ritmo
- frases longas
- uso do trocadilho
- criação de neologismos
- linguagem coloquial
- uso de provérbios populares e expressões idiomáticas
- grande presença de ironia e comentários do narrador
- narrador polifónico (assume várias vozes) e omnisciente

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