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Há a seguir duas cantigas, uma de amigo e uma de amor.

Os textos já estão traduzidos para o português atual:


TEXTO 1
Tenho notícias Hoje chega o meu namorado Está são e vivo
de que hoje chega o meu namorado e está são e vivo e amigo do rei
e irei, mãe, a Vigo e irei, mãe, a Vigo e irei, mãe, a Vigo

Tenho notícias Hoje chega o meu amado Está vivo e são


de que hoje chega o meu amado e está vivo e são e é da confiança do rei
e irei, mãe, a Vigo e irei, mãe, a Vigo e irei, mãe, a Vigo.

TEXTO 2

Você me proibiu, senhora, Ou a quem direi o meu amor Ou a quem direi o sofrimento
de que lhe dissesse qualquer coisa se eu não o disser a você? que me faz sofrer,
sobre o quanto sofro por sua causa. Calar-me não é o que quero se eu não for dizê-lo a você?
Mas então me diga, mas dizê-lo também não adianta. Diga-me: o que faço?
por Deus, senhora, a quem falarei Sofro tanto de amor por você... E, assim, se Deus a perdoa,
o quanto sofro e já sofri por você. Se eu não lhe falar sobre isso coita do meu coração,
senão a você mesma? como saberá o que sinto? a quem direi o meu amor?

1) O texto I é uma cantiga de amigo, e o II, uma cantiga de amor. Comparando os dois textos, responda:
a) Quem é o eu - lírico de cada um dos textos?
b) Com quem fala e de que fala o eu-lírico de cada texto?
c) Qual dos textos apresenta maior complexidade de ideias e profundidade de sentimentos? Por quê?
d) Que diferenças há entre os textos quanto à perspectiva de realização amorosa dos amantes?

2) Nas cantigas de amigo é comum a presença de uma confidente, a mãe ou uma amiga, a quem a jovem namorada
segreda os seus sofrimentos amorosos. Contudo, em razão da ausência do pai, envolvido na luta contra os mouros, por
vezes a mãe aparece não como confidente, mas como autoridade para vigiar e controlar os namoros da filha. Na fala
da jovem, algumas informações sobre o namorado podem ajuda-la a obter mais rapidamente o consentimento da mãe
para ir a Vigo. Quais são essas informações?

3) A relação amorosa observada no texto 2 pode ser associada às relações de vassalagem existente na sociedade
medieval.
a) A quem corresponde, no texto, a figura do suserano?
b) E a figura do vassalo?
c) Que regra do jogo amoroso o amante quebra?
O poema que segue é uma cantiga trovadoresca do rei D. Dinis. O texto foi mantido em galego – português a fim de
que fossem preservadas suas características fonético-sintáticas originais. Para compreendê-lo, leia quantas vezes for
necessário, consultando as notas de tradução.

- Ai flores, ai, flores do verde pio, - Veós me preguntardes polo vss’ amigo?
se sabedes novas do meu amigo? eu ben vos digo que é sã e vivo:
ai, Deus, e u é? ai, Deus e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo, Vós me perguntardes polo vss’ amado?


se sabedes novas do meu amado? e eu ben vos digo que é viv’ e são:
ai, Deus, e u é? ai, Deus e u é?

Se sabedes novas do meu amigo, E eu ben vos digo que é sã’ e vivo
aquel que mentiu do que pôs comigo? e seerá vosc’ ant’ o prazo saido:
ai, Deus, e u é? ai, Deus e u é?

Se sabedes novas do meu amado E eu ben vos digo que é viv’ e são
aquel que mentiu do que mi á jurado? e s[e] erá vosc’ ant’ o prazo passado:
ai, Deus, e u é? ai, Deus e u é?
Vocabulário:
pio – pinho sabedes – sabeis
amigo – namorado u é? – Onde está?
aquel – aquele do que pôs – do que tratou
preguntardes – perguntaste sã – são
e seerá vosc’ ant’ o prazo saido – e estará convosco antes de terminar o prazo

4) O poema está organizado em duas partes e reproduz o diálogo entre duas personagens.
a) Quem fala na 1ª parte? O que deseja saber?
b) Quem fala na 2ª parte? O que responde?
c) Na 2ª parte, que figura de linguagem se verifica ao se atribuírem atitudes humanas a seres naturais?

5) O ambiente dessa cantiga é constituído por elementos da paisagem natural ou por elementos da vida da corte?
Justifique.

6) As repetições são frequentes nas cantigas trovadorescas. Comente por que isso acontece, ou seja, qual a intenção
do trovador?

7) Seguem-se trechos, adaptados para o português atual, de cantigas medievais. Identifique se são de amor, de amigo,
de escárnio ou de maldizer.

a) A dona que eu sirvo e que muito adoro


mostrai-ma, ai Deus! Pois vos imploro,
senão daí-me a morte.

b) Trovas não fazeis como provençal


mas como Bernardo o de Bonaval.
O vosso trovar não é natural.
Ai de vós, com ele e o demo aprendestes.
Em trovardes mal vejo eu o sinal
das loucas idéias em que empreendestes.
Por isso D. Pero em Vila-Real
fatal foi a hora em que tanto bebestes.

c) Ai flores, ai flores do verde ramo,


se sabidas novas do meu amado?
Ai, Deus, onde ele está?

d) Ai, dona feia, foste-vos queixar


de que nunca vos louvei em meutrovar;
e umas trovas vos quero dedicar
em que louvada de toda maneira
sereis; tal é o meu louvar:
dona feia, velha e sandia!

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