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Sequência 1 • Poesia trovadoresca

Grupo I

Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

Parte A
Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.

Como morreu quem nunca bem


houve1 da rem2 que mais amou,
e que[m] viu quanto receou
dela, e foi morto por en3:
ai, mia senhor, assi moir’eu!

Como morreu quem foi amar


quem lhe nunca quis bem fazer,
e de que lhe fez Deus veer
de que foi morto com pesar4:
ai, mia senhor, assi moir’eu!

Com’home que ensandeceu5,


senhor, con gram pesar que viu,
e nom foi ledo6 nem dormiu
depois, mia senhor, e morreu:
ai, mia senhor, assi moir’eu!

Como morreu quem amou tal


dona que lhe nunca fez bem,
e quen’a viu levar a quem
a nom valia, nen’a val7:
ai, mia senhor, assi moir’ eu!

Paio Soares de Taveirós, in LOPES, Graca Videira (ed. coord.), 2016. Cantigas medievais
galego-portuguesas. Corpus integral profano – Vol. 2. Lisboa: Biblioteca Nacional, Instituto de
Estudos Medievais e Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (p. 236)

1. bem / houve: foi correspondido;


2. rem: coisa (amada);
3. por en: por isso;
4. com pesar: desgosto, tristeza;
5. ensandeceu: enlouqueceu;
6. nom foi ledo: nunca mais ficou alegre;
7. a quem / a nom valia, nen’a val: por quem não a merecia, nem merece.

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1. Relaciona a caracterização da «senhor» com a situação emocional do sujeito poético.

2. Explica dois dos sentidos das comparações presentes no texto.

3. Explicita a relevância do refrão para o desenvolvimento do assunto da cantiga.

Parte B
Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.

Eu, louçana1, enquant’eu viva for,


nunca jamais creerei per amor,
pois [que] mi mentiu o que namorei,
nunca jamais per amor creerei,
pois que mi mentiu o que namorei.

E, pois m’el foi a seu grado2 mentir,


Des oimais3 me quer’eu d’amor partir4,
pois [que] mi mentiu o que namorei,
nunca jamais per amor creerei,
pois que mi mentiu o que namorei.

E direi-vos que lhi farei por en5:


d’amor nom quero seu mal nem seu bem;
pois [que] mi mentiu o que namorei,
nunca jamais per amor creerei,
pois que mi mentiu o que namorei.
Martim Padrozelos, in LOPES, Graca Videira (ed. coord.), 2016. Cantigas medievais galego-
-portuguesas. Corpus integral profano – Vol. 2. Lisboa: Biblioteca Nacional, Instituto de Estudos
Medievais e Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (p. 107)

1. louçana: bonita, formosa;


2. grado: vontade, gosto;
3. Des oimais: De hoje em diante;
4. partir: afastar;
5. por en: por isso.

4. Interpreta a repetição de «nunca jamais» ao longo do texto, tendo em conta o estado de espírito do
sujeito poético.

5. A questão da fidelidade do «amigo» percorre a cantiga.


Explicita o modo como é tratada.

6. Identifica, no poema, três características do género das cantigas de amigo.

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Parte C

7. Redige a síntese do excerto que se segue (com 187 palavras), num texto bem estruturado, de 45 a
60 palavras.

A palavra «amor», nos nossos dias, é uma das palavras mais comuns que cada um,
independentemente do seu círculo social, compreende nas suas diferentes interpretações.
Podemos falar de amor conjugal, físico, platónico, parental, filial, fraternal… Todos
constituem formas de amor. […]
No apaixonante mundo da História das Mentalidades, o que seria para o Homem da
Idade Média o amor? Que significado teria para ele o casamento? Envolveriam os
casamentos medievais algum sentimento afetivo entre os cônjuges? Estas são questões
difíceis de responder […]. Se hoje é difícil definir o amor, dada a subjetividade que isso
implica, esta dificuldade aumenta à medida que recuamos no tempo. Os registos históricos
centram-se nos feitos considerados dignos de registo e de memória e não em factos de
«menor» importância. O importante era enaltecer as grandes realizações e os grandes
feitos e aí o amor raramente entra. Nada se sabe dos sentimentos, ambições, desejos dos
protagonistas destes registos históricos. Os sentimentos não são, de um modo geral,
dignos de registo neste tipo de documentação. Havia mesmo temas dos quais não se
falava, fosse por ignorância, indiferença, intimidade ou pudor; o amor era um deles.

OLIVEIRA, Ana Rodrigues, 2020. O Amor em Portugal na Idade Média.


Lisboa: Editorial Presença (pp. 15-18)

Grupo II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.

Lê o texto.

Uma bela história da língua


Pensar sobre a língua é difícil – mas não parece. É fácil encontrar quem jure saber que
os adolescentes já só usam X palavras; que garanta a pés juntos que a expressão Y é um
«erro que todos dão»; que saiba sem ninguém lhe dizer que a palavra Z entrou na nossa
língua nos últimos cinco anos… Sabemos estas coisas todas e, no entanto, se tentarmos
reproduzir, palavra por palavra, uma conversa que tenhamos tido há poucos minutos, já só
nos lembraremos de uma ou outra expressão solta, umas quantas ideias, a impressão
geral do sentido da conversa. A língua é matéria mais fugidia do que parece e, por isso,
com a nossa fome de explicações, é terreno propício para impressões alçadas a certezas
e para mitos que enganam a mais informada das pessoas.
Os linguistas lá tentam perceber, com dados, aquilo que de facto se passa com a
língua – e, como acontece com outros cientistas, quanto mais trabalham, mais percebem a
dimensão do que falta saber. Cá fora, continuamos convencidos de que sabemos muito –
e é verdade que sabemos: temos uma gramática inteira na cabeça, que usamos para criar
frases sem fim. Mas sabemos muito menos do que julgamos sobre o funcionamento e a

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variação dessa mesma gramática.
Se isto é assim com a gramática, o que dizer da História da língua? Aí não serão os
mitos que nos bloqueiam a mente, mas antes o simplismo distraído. Sabemos que o
português vem do latim – e pronto. Quando ocorreu tal transição? Quando surge Portugal,
certamente. E onde? Em Portugal, obviamente. […]
Em Assim Nasceu Uma Língua – Sobre as origens do português, Fernando Venâncio
esborrata esta bela pintura infantil. Mostra como as coisas foram muito menos simples do
que pensamos. Como tudo já vinha de trás, da língua desenvolvida na Galécia Magna, um
território que abrange grande parte da Galiza e um pouco do nosso Norte. Ficamos a
saber que o processo foi lento, muito lento – e que não chamámos português à língua do
reino até muito, muito tarde. […]
Como é que se transmite este conhecimento para lá do círculo íntimo dos já
interessados, dos colegas, dos outros linguistas? Aí está um problema do uso da língua.
Ora, este livro sobre a língua usa a língua com mestria. É um livro muito bem escrito sobre
o próprio material em que está escrito. […]
Em Assim Nasceu Uma Língua, temos a rara junção dos dois conhecimentos: o
conhecimento descritivo da língua – neste caso, da História da língua com base nos seus
materiais – e o conhecimento prático do uso dessa mesma língua para atrair, provocar e
deliciar o leitor. É uma obra de linguística que usa sem pedir licença boas estratégias
literárias. É um ensaio linguístico rigoroso – e uma história que apetece ler. No fim, ficamos
a conhecer melhor o percurso deste estranho mecanismo que levamos dentro da cabeça e
que se veio transformando pelos séculos fora, desde os tempos em que ainda não havia
Portugal.
NEVES, Marco, 2020. «Uma bela história da língua».
Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.° 1286, 15 de janeiro de 2020 (p. 17)

1. Relativamente ao conteúdo da primeira frase do texto, o primeiro parágrafo


(A) confirma o ponto de vista apresentado, por meio de dados científicos.
(B) invalida a perspetiva exposta, com recurso a factos linguísticos.
(C) confirma o ponto de vista apresentado, através de exemplos.
(D) infirma a perspetiva exposta, através da desconstrução de mitos linguísticos.

2. A expressão «Cá fora» (l. 12) está associada ao universo dos


(A) linguistas. (C) cientistas.
(B) falantes. (D) historiadores.

3. No terceiro parágrafo, para sugerir, de forma irónica, a certeza dos portugueses face à História da
sua língua, o autor recorre
(A) à interrogação retórica, na linha 16.
(B) à comparação entre a gramática e a História da língua.
(C) aos advérbios com valor de modo, nas linhas 18-19.
(D) à hipérbole, na linha 19.

4. Na passagem «Fernando Venâncio esborrata esta bela pintura infantil» (ll. 20-21), o autor utiliza
(A) a metáfora, para sugerir a vertente criativa do livro de Fernando Venâncio.
(B) a ironia, para destacar o pendor satírico da obra Assim Nasceu uma Língua.
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(C) o eufemismo, para sugerir a complexidade do livro de Fernando Venâncio.
(D) a metáfora, para evidenciar o poder inovador da obra Assim Nasceu uma Língua.

5. A apreciação da obra Assim Nasceu uma Língua desenvolvida nos dois últimos parágrafos é
(A) positiva, destacando-se o facto de constituir o mais recente ensaio sobre a língua portuguesa.
(B) positiva, destacando-se a divulgação de conhecimentos científicos por meio de um registo
linguístico apelativo.
(C) negativa, salientando-se a tendência para provocar os leitores.
(D) positiva, valorizando-se a abordagem dos problemas do uso da língua.

6. Identifica a função sintática desempenhada por:


a) «na nossa língua» (l. 3);
b) «que o processo foi lento, muito lento» (l. 24).

7. Refere os dois processos fonológicos que ocorreram na evolução do étimo latino REGNUM para a
palavra «reino».

Grupo III
Num texto bem estruturado, com um mínimo de cento e oitenta e um máximo de duzentas e e
quarenta cinquenta palavras, faz a apreciação crítica do cartoon abaixo, da autoria de Mordillo.
O teu texto deve incluir:
– a descrição da imagem apresentada, destacando elementos significativos da sua composição;
– um comentário crítico, fundamentando devidamente a tua apreciação e utilizando um discurso
valorativo;
– uma conclusão adequada aos pontos de vista desenvolvidos.

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MORDILLO, 2012. Guia dos Apaixonados. Lisboa: Booktree (p. 39)

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2021/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

Cotações

Item
Grupo
Cotação (em pontos)
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
I 104
16 16 16 16 16 8 16
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II 56
8 8 8 8 8 8 8
III Item único 40
TOTAL 200

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Matriz do Teste 1 • Poesia trovadoresca

Estrutura e cotação Domínios Aprendizagens Essenciais

Parte A ● Interpretar textos literários


portugueses produzidos entre
1. 16 pontos os séculos XII e XVI:
Poesia trovadoresca.
2. 16 pontos

3. 16 pontos
Educação
Literária
Parte B
Grupo I
104 pontos 4. 16 pontos

5. 16 pontos

6. 8 pontos

Parte C ● Escrever uma síntese,


Escrita respeitando as marcas de
7. 16 pontos género.

1. 8 pontos ● Ler em suportes variados


textos de diferentes graus de
2. 8 pontos complexidade do género:
apreciação crítica.
3. 8 pontos
● Analisar com segurança
Leitura
Grupo II frases simples e complexas:
4. 8 pontos
56 pontos identificar funções sintáticas.
Gramática
5. 8 pontos ● Reconhecer processos
fonológicos que ocorrem no
6. 8 pontos português.

7. 8 pontos

● Escrever uma apreciação


Grupo III
Item único 40 pontos Escrita crítica, respeitando as marcas
40 pontos
de género.

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Sugestões de resolução do Teste 1
Grupo I – Parte A
1. A «senhor» é apresentada como uma mulher que Grupo I – Parte C
nunca retribuiu os sentimentos do sujeito poético.
7. Resposta pessoal. Proposta de síntese:
Segundo o próprio, ela «lhe nunca quis bem fazer» (v. 7)
Segundo a autora, as diversas aceções da palavra
e, portanto, o enunciador «nunca bem / houve» (vv. 1-2)
amor são, atualmente, conhecidas por todos, mas
da parte da amada. Assim, esta mulher indiferente é a
questiona-se sobre o sentido do termo na época
causa do sofrimento e do desespero do «eu» lírico, que
medieval. Efetivamente, a dificuldade que hoje sentimos
se sente morrer de amor por uma «dona que lhe nunca
na definição do sentimento, por implicar subjetividade,
fez bem» (v. 17) e a quem viu, inclusivamente, «levar»
torna-se ainda maior quando analisamos o passado,
por um concorrente que, na sua perspetiva, não a
porque, não sendo consideradas factos relevantes, as
merecia e «a nom valia, nen’a val» (v. 19).
questões amorosas não mereceram registos escritos na
2. As comparações desvendam, gradualmente, o estado documentação histórica.
de espírito do sujeito poético e contribuem para a sua
intensificação. Ao identificar-se, em cada uma das Grupo II
estrofes, com os que morreram de amor (refrão) e 1. (C)
desvendar as razões dessa morte, o «eu», que se
2. (B)
assume como alguém nas mesmas circunstâncias,
revela os motivos do seu sofrimento, que vão da 3. (C)
ausência de retribuição da mulher amada ao seu amor 4. (D)
até à dor provocada por tê-la visto envolver-se com
5. (B)
quem não a merecia.
6. a) Complemento oblíquo.
3. O refrão permite encerrar as comparações iniciadas
b) Complemento direto.
em cada estrofe, mencionando o segundo termo da
aproximação estabelecida em cada uma delas: o próprio 7. Apócope e vocalização.
sujeito poético. Contribui, assim, para reiterar o seu
sofrimento, em particular através do recurso à Grupo III
interjeição «ai» e à referência à morte por amor. Resposta pessoal.

Grupo I – Parte B
4. A expressão «nunca jamais» reforça, através do
pleonasmo, a decisão do sujeito poético de não voltar a
amar e a confiar (vv. 2, 4, 7, 9 e 14) em virtude da
intensa desilusão que sofreu com aquele por quem se
apaixonou e que lhe mentiu.
5. O «amigo» é apresentado pela donzela como sendo
o responsável pela sua descrença no amor, pois
quebrou a fidelidade que ela entende que ele lhe devia,
mentindo-
-lhe (refrão). Para agravar a deslealdade de que se
sente vítima, salienta ainda que aquele que namorou
mentiu «a seu grado» (v. 6).
6. A cantiga apresenta como traços distintivos do
género das cantigas de amigo a presença de um sujeito
poético feminino, a donzela («Eu, louçana», v. 1), que
toma como objeto do seu discurso o namorado («o que
namorei», refrão), acerca do qual fala com um
interlocutor mencionado através do pronome «vos» (v.
11) e que, embora não identificado, parece assumir o
papel de confidente das suas mágoas. A donzela
expressa o seu sentimento amoroso, confessando a sua
tristeza e desilusão face à infidelidade do amigo, que lhe
mentiu.

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Grelha de correção do Teste 1 • Poesia trovadoresca
Grupo I
Grupo II T Grupo III
Parte A Parte B Parte C
ot
6 Tot al Tot T
1. 2. 3. 4. 5. 7. 1 2 3 4 5 6 7 ET C
. al I II Des al O
. . . . . . . D L
C F T C F T C F T C F T C F T T C F T con III T
N. 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10 5 tos A
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º 0 6 0 6 0 6 0 6 0 6 6 4 8 8 8 8 8 8 8 6
1
2
3
4
5
6
7
8
9
1
0
1
1
1
2
1
3
1
4
1
5
1
6
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1
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