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Semântica dos sintagmas

• Podemos tratar na semântica dos sintagmas ou fraseados ou das


sentenças (que depende da estrutura), falando de como cada parte
contribui para a compreensão do todo. Podemos tratar da contribuição
dada por um fraseado escolhido pelo falante, entre as opções
disponibilizas pela língua...
• Por exemplo:
“João não estuda.”
e
“João parou de estudar”

É a mesma coisa?

• Só a segunda opção faz a gente assumir que João estudou em algum


momento anterior. Esse significado é contribuição de parar. (Tanto que a
versão sem o verbo parar pode ser empregada para falar de alguém que
nunca estudou na vida, mas a que tem parar não pode!) Podemos também
tratar das relações entre sentenças, como homonímia, hiperonímia,
acarretamento, contrariedade...
Semântica sem sintaxe?

• Chomsky tentou desfazer o nó que amarra a sintaxe à semântica,


argumentando a favor de sua independência ao apresentar a versão em
inglês da seguinte sentença:

(1) Ideias verdes incolores dormem furiosamente.

Ø Analise sintaticamente essa frase.


“Ideias verdes incolores dormem furiosamente.”

• O verbo ‘dormir’ pede um único argumento, realizado por ‘ideais verdes incolores’. E
recebe um advérbio de maneira, ‘furiosamente’ numa posição possível na língua para
ele. O sujeito é formado de um nome (substantivo), ‘ideias’, seguido de dois
modificadores (adjetivos), o que também é uma boa formação na língua. A
concordância de gênero e número foi realizada entre o núcleo nominal e os
modificadores, assim como a concordância de pessoa e número entre o sujeito e o
verbo. A formação morfológica dos vocábulos seguiu todas as regras. A flexão foi
afixada ao verbo após a raiz, por exemplo.
Por que “Ideias verdes incolores dormem
furiosamente.” é “estranha”?
Ela desrespeita a seleção semântica!

Ø Semanticamente, explique esta “estranheza”.

• Um famoso exemplo de anomalia semântica: ela é bem formada


sintaticamente, mas não semanticamente
O que Chomsky defendia?
• Que sentenças desse tipo podem ser interpretadas (ainda que poética ou
fantasiosamente) mais facilmente do que sentenças com má formação
sintática, que não poderiam sequer ser processadas, como:

(2) De cama mentetranquila na dorme bruços Maria.

• (2) faz menos sentido que (1): é improcessável, por não seguir as regras
sintáticas, embora a seleção semântica não tenha sido desrespeitada em
nenhum ponto.
• É mais fácil compreender sentenças sintaticamente bem formadas, mas
semanticamente falhas (as tais anomalias semânticas)?

• A sintaxe tem primazia sobre a semântica?


Essa versão embaralhada de Maria dorme de bruços tranquilamente na cama faz menos sentido que (1)
improcessável, por não seguir as regras sintáticas, embora a seleção semântica não tenha sido desrespeitada
nenhum ponto. Para percebermos como é mais fácil compreender sentenças sintaticamente bem formadas, m
semanticamente falhas (as tais anomalias semânticas), basta lermos Manoel de Barros:
Vamos
Leitura ler Manoel de Barros e refletir sobre aquelas perguntas...

Os deslimites da palavra Uma didática da invenção - I

Ando muito completo de vazios. Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
Meu órgão de morrer me predomina. a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
Estou sem eternidades. b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
Não posso mais saber quando amanheço ontem. c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm
Está rengo de mim o amanhecer. devoção por túmulos
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha. d) Se o homem que toca de tarde sua existência num
Atrás do ocaso fervem os insetos. fagote, tem salvação
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais
destino. ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
Essas coisas me mudam para cisco. f) Como pegar na voz de um peixe
A minha independência tem algemas g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.

Então a sintaxe tem primazia sobre a semântica? Na medida em que a compreensão de um objeto depende de qual s
o objeto que se quer compreender, sim, já que o tal objeto foi construído com as regras da língua a que chamamos
gramática ou sintaxe. Mas existem significados que não dependem da sintaxe? Sim. Quando examinamos obje
Existem significados que não dependem da
sintaxe?
• Sim.

• Quando examinamos objetos maiores ou distintos de sentenças e de


suas partes, tais como enunciados, textos ou discursos, chegamos a
sentidos que não vieram (inteiramente) do material linguístico
presente.
Analise a frase:
“A porta está aberta”

Dita pela mulher ao marido, durante uma discussão, após ele ter dito que não
sabe como consegue conviver com ela.

Ø Qual interpretação o marido pode ter?

“Se é assim, vá embora da minha vida.”

Ø Em quais outros contextos aquela frase pode ter diferentes significados?


Professora Ana Paula Quadros Gomes _ 2017-2 _ anpola@gmail.com

Leitura
Nos trechos
Nos trechosde Alice
de Alice no das
no país país das maravilhas,
maravilhas, de Lewis Carroll, de
comoLewis Carroll,
o que está como
fora da língua o que
interfere na está fora da
compreensão / criação
língua dos interfere
sentidos? na compreensão / criação dos sentidos?
- Veja, agora a senhora está bem melhor! Mas, francamente, acho que a senhora
devia ter uma dama de companhia!
- Aceito-a com todo prazer! — disse a Rainha. - Dois pence por semana e doce
todos os outros dias.
Alice não pôde deixar de rir, enquanto respondia:
- Não estou me candidatando... e não gosto tanto assim de doces.
- É doce de muito boa qualidade — afirmou a Rainha.
- Bom, hoje, pelo menos, não estou querendo.
- Hoje você não poderia ter, nem pelo menos nem pelo mais — disse a Rainha. - A
regra é: doce amanhã e doce ontem — e nunca doce hoje.
- Algumas vezes tem de ser “doce hoje” - objetou Alice.
- Não, não pode - disse a Rainha. Tem de ser sempre doce todos os outros dias; ora,
o dia de hoje não é outro dia qualquer, como você sabe.
Num dado momento, Alice encontrou muitos caminhos, que seguiam em
diferentes direções. Então ela perguntou a um gato, que estava sentado
numa árvore:
- Pode me dizer, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
- Isso depende muito de para onde você quer ir — respondeu o gato.
- Eu não sei.
O gato, então, respondeu sabiamente:
- Sendo assim, qualquer caminho serve.
(Carroll, Levis. As aventuras de Alice.3 ed. São Paulo, Summus, p.182. In: FIORIN.
Introdução à Linguística II. p.161).

Exercícios
_ Que dia é amanhã? Que dia é ontem? De que depende essa resposta?
_ Como definir o caminho por que Alice procura?
Para ajudar a
pensar...
• Que dia é amanhã?

• Que dia é ontem?

• De que depende essa resposta?

• Como definir o caminho por


que Alice procura?
Vai além do
que é dito...

• Significado não se restringe ao que


é dito, mas depende também de
informações não linguísticas,
ligadas à situação de uso.

•O que é responsável pela


ambiguidade numa sentença?
_ Que dia é amanhã? Que dia é ontem? De que depende essa resposta?
_ Como definir o caminho por que Alice procura?

Há contribuições para aquilo que entendemos numa comunicação com palavras que não se restringem
mas dependem também de informações não-linguísticas, ligadas à situação de uso. Há várias fontes d
ØUmaDêboaosforma
vários significados
de identificá-las dos exemplos
é procurar abaixo
o responsável e indique oDê“culpado”
pela ambiguidade. os vários significados
abaixo
pelae indique o “culpado”
diversidade de pela diversidade de sentidos:
sentidos:
(1) O irmão de Maria bateu seu carro.
(2) Os estudantes revoltados reclamaram da nota na prova.
(3) O marido pegou o amigo da mulher entrando pela janela.
(4) No programa de hoje, Jô Soares vai discutir sexo com o Dr. Dráuzio Varella.
(5) Uma mulher gosta de um homem romântico.
(6) Quando tirei a foto das crianças, elas estavam subindo a escada.
(7) O cliente prefere frango ao molho de mostarda.
(8) Os coelhos estão prontos para comer.
(9) Júnior não trabalha oito horas por dia.
(10) Maria perdeu um papel da peça.
(11) Ontem vi a cadela da sua irmã na rua.
(12) João não pode nem passar perto de um bar.
(13) A crítica do autor foi dura.
(14) Romeu não chora mais porque Julieta partiu.
(15) A vaca foi pro brejo.
(16) Todas as setas atingiram um alvo.
(17) Não comprei os livros porque custavam R$120,00.
Muitos tipos de ambiguidade
• ambiguidade lexical

• ambiguidade sintática

• ambiguidade de escopo

• ambiguidade situacional

• ambiguidade semântica

Ø Procure exemplos de cada uma e tente distinguir uma da outra.

Ø Qual elemento é o responsável por mais de uma interpretação?

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