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Aula: 08

Temática: Dicionário, “o pai dos inteligentes”

Você já deve ter ouvido dizer que o dicionário é o “pai dos


burros”. Mas, diferentemente do que dizem as más línguas,
ele é “o pai dos inteligentes”. Todos nós temos várias dúvi-
das acerca de muitos assuntos, atitudes, comportamentos. Que bom! Isso
quer dizer que estamos sempre questionando o que nos cerca. E, dentre as
“coisas” que nos cercam, está a língua materna, estão as palavras e seus
usos. Portanto, nada mais natural do que nossa necessidade de consultar
um dicionário para confirmar o sentido ou a ortografia de uma palavra, o
uso correto de uma conjunção, a regência de um verbo.

Porém, é preciso, para isso, saber “ler” um dicionário: cada dicionarista


informa, antes da relação das palavras propriamente dita, os critérios, as
abreviaturas e os símbolos utilizados ao longo da obra. Por isso, ao encon-
trarmos a palavra desejada, muitas vezes acabamos por voltar a essas
informações iniciais como garantia de uma leitura adequada do verbete
pesquisado.

O professor Pasquale Cipro Neto, em um de seus textos pu-


blicados no jornal Folha de S.Paulo, trata exatamente desse
assunto, lembrando o leitor da necessidade de conhecermos
o “código” dos dicionários. Ao fim de suas explicações, ele faz referência
ao fato de, ao pesquisarmos uma palavra, acabarmos por descobrir uma
nova que, por sua vez, nos leva a outra e assim por diante – e nisso estaria
o fascínio dos dicionários!

Já aconteceu isso com você? Creio que sim, pois é bastante comum que
as informações de um verbete nos levem a outro que nem sabíamos que
existia. Realmente é uma viagem! Em depoimento para o jornal O Estado
de S.Paulo (na seção Antologia Pessoal, publicada aos domingos no Ca-
derno 2 – Cultura), o poeta Régis Bonvicino, ao ser indagado sobre “que
livro mais o fez pensar”, respondeu, sem preâmbulos: “Os dicionários”.

O manuseio do dicionário é comumente visto como uma ati-


vidade auxiliar da leitura. Às vezes, ao lermos um texto, de-
paramo-nos com uma palavra que nunca havíamos ouvido
ou lido. Nossa primeira reação é perguntar a alguém se conhece a palavra,
se sabe seu significado; outras vezes, recorremos ao dicionário.

O Estado de S.Paulo. 4/6/2006, p.D14.
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Tais atitudes são naturais e compreensíveis, mas podem ser dispensadas
se estabelecermos relações entre a palavra que desconhecemos e outras
que já nos são familiares.

Imagine, por exemplo, que você se depare com a seguinte


frase:

“Se hoje os Estados Unidos são o centro mais importante da tecnologia


de todo o mundo /.../ é que a tendência ao concreto e a imaginação con-
vertida em inventividade aumentaram de modo considerável a herança
recebida da revolução industrial inglesa”. 

Imagine também que, ao lê-la, fique em dúvida com relação ao sentido


de “inventividade”. Certamente você conhece as palavras “invenção”, “in-
ventar”, “inventor” com as quais relacionará – de modo lógico e natural
– o vocábulo “inventividade” e concluirá que ele se refere à capacidade de
inventar, de criar.

Além disso, podemos resolver nossa dúvida com relação


ao(s) significado(s) de algumas palavras se observarmos o
contexto em que elas aparecem. Descontextualizadas, ou
em “estado de dicionário”, como diz o poeta Carlos Drummond de Andra-
de, as palavras pouco ou nada comunicam – seu significado é determina-
do pela frase, pelo texto em que aparecem.

A palavra imagem, por exemplo, tem sentidos diferentes


nas frases abaixo – é só prestarmos um pouco de atenção
e, sem consultar o dicionário, perceberemos com que inten-
ção o autor a usou.

• A imagem da televisão estava tremida e não consegui ver muito bem o


gol que tanto esperei.

• Pendurada na parede, ao lado da estante, havia uma imagem de Nossa


Senhora.

• Sorriu ao ver a própria imagem no espelho.

• A imagem que guardei dela não é nada boa.



Alceu Amoroso Lima. A realidade americana, apud Aurélio Buarque de Holanda Fer-
reira. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 1ª ed. RJ: Nova Fronteira, s.d., p. 786

Na leitura do trecho de Alceu Amoroso Lima pode aparecer outra dúvida: “revolução in-
dustrial inglesa”. Se isso acontecer, será muito proveitosa a consulta a uma enciclopédia
ou a um livro de História. Portanto, como o dicionário, há outras obras de referência que
podem nos ajudar a compreender de modo mais integral um texto que estamos lendo.
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• Seus sonhos eram povoados de imagens aterradoras.

• À imagem do pai, vestia-se elegantemente.

• Comparar a mulher a uma flor já é uma imagem gasta.

• Esta passagem de “Memórias Póstumas...” nos dá uma boa imagem da


ironia de Machado de Assis.

Agora, imagine-se escrevendo um texto. Mais ainda: escre-


vendo um texto que alguém irá ler. Será que, nele, você em-
pregou corretamente as palavras? Não há nenhum engano
com relação ao sentido ou à ortografia delas? A pessoa que for ler seu
texto conseguirá entender em que sentido você empregou determinada
palavra? O que eu gostaria de deixar claro, aqui, é que, mais do que uma
atividade auxiliar da leitura, a consulta ao dicionário é imprescindível quan-
do se produz um texto.

Nesse momento, sim, é preciso ir ao dicionário para:


• certificar-se da existência de uma palavra 
• confirmar o(s) sentido(s) da palavra procurada
• verificar sua ortografia
• buscar um sinônimo para ela
• observar seus usos mais freqüentes

Em dicionários especializados, podemos encontrar sinônimos e antônimos,


regência verbal e nominal, conjugação de verbos regulares e irregulares,
etimologia das palavras, significados de nomes e sobrenomes, de termos
técnicos, explicações de símbolos, biografias e obras de escritores, cine-
astas, músicos, pintores, fotógrafos, cientistas e muito, muito mais.

Em suma, os dicionários são obras de consulta que devem


estar sempre à mão para qualquer eventualidade. Obviamen-
te, não precisamos ter todos em casa, sobre nossa mesa de
trabalho, mas é bom saber que eles existem e que podem ser consultados
em uma biblioteca pública, por exemplo.
Há muitas outras considerações que podemos fazer acerca das palavras
(e de seus usos e sentidos). Nas próximas aulas, vamos conversar um
pouco mais sobre elas. Afinal, Leitura e Produção de Texto pressupõe certa
familiaridade com as palavras.

Para isso, é muito útil uma consulta ao site da Academia Brasileira de Letras: http://
www.academia.org.br/. Nele estão registradas todas as palavras do léxico português.
Para acessá-lo, basta clicar no link “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”.

Em alguns dicionários, como o Minidicionário Sacconi da Língua Portuguesa (Atual
Editora), pode-se confirmar, inclusive, a separação das sílabas da palavra pesquisada.
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