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Relações semânticas

Cançado (2018)
Implicações ou inferências
• Remete a várias noções, em uma gradação de seu sentido do mais restrito ao
mais amplo.
+ específico + geral
Acarretamento < pressuposição < implicatura conversacional

• Acarretamento: noção estritamente semântica, apenas o que está contido na


sentença (relação entre sentenças), independente do uso.

• Pressuposição: noção semântico-pragmática, sentido de expressões lexicais


contidas na sentença, dependente de um conhecimento prévio, extralinguístico.

• Implicatura ou implicatura conversacional: noção estritamente pragmática,


dependente exclusivamente de um conhecimento extralinguístico, relacionada o
uso da língua.
Hiponímia, hiperonímia e acarretamento
• Hiponímia: membro. Ex: - lápis, borracha, caderno, apontador, etc.
- pastor alemão, Shih-tzu, poodle, etc.
• Hiperonímia: classe. Ex: - material escolar.
- cachorro.
• Todo lápis é um tipo de material escolar, mas nem todo material escolar é um lápis; todo poodle é um
cachorro, mas nem todo cachorro é um poodle. Assim, todo hipônimo contém os traços semânticos de seu
hiperônimo, mas não o contrário (relação entre palavras).
• Estendendo a noção de hiperonímia para as sentenças, temos o acarretamento: relação entre sentenças,
quando o sentido de uma sentença está incluído no de outra com que se relaciona. Conhecimento do que
as sentenças significam.

Ex: (a) Isso é uma cadeira e é de madeira. (b) Isso é uma cadeira de madeira.
• (a) acarreta (b), ou seja, b é uma conclusão necessária a que se chega, partindo de (a). A informação de (b)
está contida na informação de (a). Leva em consideração apenas o que está explícito nas relações
expressas pelos itens lexicais, ou seja, o sentido exclusivamente literal.

Ex: (c) Hoje o sol está brilhando. (d) Hoje está quente.
• Nesse caso, (c) não acarreta (d), porque o fato de o sol estar brilhando não necessariamente quer dizer que
está quente.
Pressuposição lógica ou semântica

O João conseguiu abrir a porta.


O João não consegui abrir a porta.
O João conseguiu abrir a porta?
Se o João conseguiu abrir a porta, ele deve estar aliviado.
Todas as sentenças acima pressupõem a sentença “O João tentou abrir a porta”.
• A pressuposição leva em consideração suposições derivadas a partir da estrutura
linguística das sentenças. São construções linguísticas que desencadeiam as
pressuposições.
ACARRETAMENTO ≠ PRESSUPOSIÇÃO
- Relação entre 2 sentenças (verdade da 2ª decorre da verdade da 1ª). - Relação entre família de implicações (afirmação, negação, interrogação e condição).
- Conhecimento estritamente semântico (significado literal das palavras). - Envolve conhecimentos semântico-pragmáticos.
- Conhecimento linguístico, ligado apenas ao que está explícito na sentença. - Conhecimento compartilhado por falante/ouvinte.
Sinonímia e paráfrase
• Sinonímia lexical: ocorre entre pares de palavras e expressões. É uma relação complexa
de ser definida. Corresponde a uma identidade de significados. Palavras com mesmo
sentido e referência.
(a) Toda menina sonha em se tornar mulher um dia.
(b) Toda garota sonha em se tornar mulher um dia.
(c) Maria não se irrita quando a chamam de garota, mas não suporta ser chamada de
menina.
Em (c) são sinônimas essas palavras?

SINONÍMIA DEPENDE DO CONTEXTO (mas existe uma sinonímia baseada apenas no


significado conceitual da palavra).
Não existem sinônimos perfeitos.

• Sinonímia entre sentenças: paráfrase.


Conotação (em sentido amplo)
• Diferentes atitudes em relação à situação e aos envolvidos nela. Diferentes
perspectivas.
A minha senhora está chamando. O meu senhor está chamando.
A minha dona está chamando. O meu dono está chamando.
A minha madame está chamando. O meu monsieur está chamando.
A minha dama está chamando. O meu cavalheiro está chamando.
A minha esposa está chamando. O meu esposo está chamando.
A minha mulher está chamando. O meu homem está chamando.
A minha bênção está chamando. A minha bênção está chamando.
A minha cremosa está chamando. O meu cremoso está chamando.
A dona encrenca está chamando. O seu encrenca está chamando.
O meu pequeno prejuízo está chamando.
Obs.: Uma mesma palavra ou expressão pode ter diferentes conotações, a
Antonímia e contradição
• Antonímia: palavras com sentidos opostos = definição insuficiente.
• Os sentidos das palavras podem se opor de várias formas e há palavras que nem têm
um oposto verdadeiro.
• Há diferentes tipos de oposição de sentidos.
Antônimo (1) binário ou complementar: pares de palavras em que a negação de uma implica a afirmação da outra. Ex.: morto/vivo; móvel/imóvel
(quem está morto necessariamente não está vivo; o que está móvel necessariamente não está imóvel, e vice versa).
(2) inverso ou converso: quando uma palavra descreve a relação entre duas coisas ou pessoas e uma outra palavra descreve essa mesma relação, em
ordem inversa. Ex.: pai/ filho; menor que/ maior que; patrão/ funcionário (se x é pai de y, então y é filho de x; se x é maior que y, então y é menor que
x; se x é patrão de y, então y é funcionário de x).
(3) gradativo: quando duas palavras estão em lados extremos de uma escala; a negação de uma não implica a afirmação da outra. Uma escala varia de
acordo com o contexto usado (uma temperatura quente no Alasca pode ser considerada fria em Belém). Ex.: quente/frio; alto/baixo (se algo não é
quente, não implica que seja frio; se alguém não é alto, não implica que seja baixo). Esse tipo de antônimo pode ocorrer com quantificadores como
“um pouco”, “meio”, “muito”.

• Contradição: sentenças com sentidos opostos. Ex.: #A Ana beijou o Júlio, mas o Júlio
não foi beijado pela Ana (os 2 fatos não podem ser realizados simultaneamente, são
contraditórios). Pode ser utilizada discursivamente e também é um rico instrumento em
textos poéticos, literários. Ex.: Ele é chato e não é.
Anomalias

• São sentenças gramaticalmente bem formadas, mas incoerentes, sem


sentido.

• Do ponto de vista pragmático, talvez seja possível construir algum


sentido metafórico para essas sentenças, mas são, no mínimo, estranhas.
Dêixis e anáfora
• Dêixis: identificação de pessoas, coisas, momentos, lugares, a partir
da situação de fala, do contexto. É um tipo de apontamento
extralinguístico. Dêiticos são elementos que dependem de
informação contextual. Ex.: aqui, hoje, eu, tu, tempos verbais, certos
advérbios de lugar e de tempo, entre outros.

• Anáfora: também permite identificar pessoas, coisas, momentos,


lugares, mas retomando/ se referindo a elementos anteriormente
mencionados no discurso ou na sentença. Ex.: Cláudia já saiu. Ela
estava com pressa.
Significação e contexto
• Não é fácil dizer o significado das palavras. O significado, na maioria das vezes,
se estabelece a partir de um contexto.
Ela quebrou o vaso.
Ela quebrou a cabeça com aquele problema.
Ela quebrou a empresa.
Ela quebrou tudo na festa, dançou bem que só!
Ela quebrou sua promessa.

• São 5 sentidos diferentes ou todos compartilham um sentido mais geral?


• Se forem 5 sentidos diferentes há ambiguidade.
• Se as 5 ocorrências compartilharem um sentido mais geral, então é vagueza.
Não é tão simples diferenciar!
Ambiguidade (lexical) vs. vagueza
• Fenômenos semânticos que só podem ser resolvidos no contexto.
• A diferença entre as duas é que, para a ambiguidade, o contexto tem a
função de selecionar qual dos possíveis sentidos será utilizado; para a
vagueza, o contexto pode apenas acrescentar alguma especificidade que não
está contida na própria expressão.
• Tipos de ambiguidade:
• Ambiguidade lexical: pode ser gerada por homonímia (diferentes entradas lexicais.
Ex.: Eu gosto desse canto) ou polissemia (mesma entrada lexical. Ex.: Eu consertei
aquela rede).
• Ambiguidade sintática: Ex.: Eu vi [o rapaz com o binóculo] ou [o rapaz] [com o
binóculo] .
• Ambiguidade de escopo: Ex.: Todos os alunos comeram 7 sanduíches (o total foram 7
ou cada um comeu 7?).
• Ambiguidade por correferência: Ex.: O ladrão roubou a casa de Paulo com sua própria
arma.
Referência
CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica: noções básicas e exercícios.
2ª Ed. – São Paulo: Contexto, 2018.

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