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Ambiguidade e

Vagueza

CANÇADO, M. Manual de semântica: noções básicas e


exercícios. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2018.
As propriedades semânticas aqui estudadas seguirão a
perspectiva referencial.
perspectiva referencial.
Ambiguidade perspectiva cognitiva.
perspectiva situacional (atos de fala).

Importante: “Efeitos contextuais podem direcionar os


significados das palavras para diferentes caminhos.

Vejamos: Qual o sentido de “quebrar”?


a.O Paulo quebrou o vaso com um martelo.
b.O Paulo quebrou o vaso com o empurrão que levou.
c.O Paulo quebrou sua promessa.
d.O Paulo quebrou a cabeça no acidente.
e.Paulo quebrou a cabeça com aquele problema.
1. Ambiguidade X Vagueza

❖ Se cada ocorrência de “quebrar” tiver um sentido


diferente, então “quebrar” é ambíguo;

❖ Mas, se “quebrar” compartilhar um mesmo sentido mais


geral, então “quebrar” será apenas vago.

Em exemplos de vagueza, o contexto pode acrescentar


informações que não estão especificadas no sentido;

E, em exemplos de ambiguidade, o contexto


especificará qual o sentido a ser selecionado.
Kempson (1977) propõe um teste como estratégia para
fazer a distinção entre as duas noções (ambiguidade e
vagueza)
O primeiro teste consiste no uso da palavra também.

Ex: a. O Carlos adora sorvete, a Maria também.


b. O João corria todos os dias; a Maria também.
(existe uma convenção de identidade entre a primeira
sentença e a sentença inferida a partir da palavra
também).

c. O João adora aquele canto; a Maria também.


(nesse caso, a palavra “canto” tem dois significados. É
possível ter uma interpretação em que a 1ª refere-se à
música e a 2ª ao lugar.
Outro exemplo:
d. O João beijou a Maria; o Paulo também.
(no rosto, na mão,...)

❖ Quando a sentença é vaga, a interpretação da


mesma especificidade da 2ª (com também) não fica
restrita à especificidade da primeira, diferentemente
das sentenças ambíguas.

Outro teste: é verificar se, a cada uma das possíveis


interpretações de uma ambiguidade, estará associada
uma rede de sentidos específica. Essa relação
semântica específica não pode ser transferida de um
sentido para o outro.
Ex: “quebrar” pode estar associado a 2 sentidos
distintos.
Retomando a noção de vagueza

A vagueza é uma propriedade da língua muito útil.


Trata-se de uma maneira econômica e,
contraditoriamente, exata de nos expressarmos, sem
que sejamos obrigados a determinadas escolhas, às
vezes, muito complicadas no uso da língua. [...] Em
geral, o contexto acrescenta a informação adequada
para especificar o tipo de vagueza em jogo.

Outro elemento importante é a indicialidade!


A indicialidade está em expressões cujas referências
variam de contexto para contexto, mas seus sentidos
permanecem constantes. A indicialidade está associada
às palavras dêiticas.
Ex: Nós adoramos estudar semântica.
Resumindo

Ambiguidade e Vagueza são fenômenos semânticos


que só podem ser resolvidos no contexto.

A diferença entre as duas é que, para a ambiguidade, o


contexto tem a função de selecionar qual dos possíveis
sentidos será utilizado;

Para a vagueza, o contexto pode apenas acrescentar


alguma especificidade que não está contida na própria
expressão.
2. Tipos de ambiguidade

2.1. ambiguidade lexical;


2.2. ambiguidade sintática;
2.3. ambiguidade de escopo;
2.4. ambiguidade por correferência;
2.5. atribuição de papéis temáticos;
2.6. construções com gerúndios;
2.7. ambiguidades múltiplas.

Vejamos como funciona cada uma delas:


2.1. Ambiguidade lexical
A dupla interpretação incide somente sobre o item lexical.
A ambiguidade lexical pode ser gerada por dois tipos de
fenômenos distintos: a homonímia e a polissemia.

A homonímia ocorre quando os sentidos da palavra


ambígua não são relacionados. Existem palavras
homógrafas (=grafia e som; e, ≠sentido) e homófonas
(=som e, ≠grafia e sentido).
A polissemia ocorre quando os possíveis sentidos
da palavra ambígua têm alguma relação entre si.
Ex: pé de cadeira, pé de mesa, pé de página...
Palavras polissêmicas serão listadas como tendo
uma mesma entrada lexical, com algumas características
diferentes; as palavras homônimas terão duas (ou mais)
entradas lexicais.
Pasta = pasta de dente, pasta de comer
polissêmica

(sentido
homônimabásico-massa)

Pasta = pasta de couro, pasta ministerial


(sentido básico-lugar específico.
- Ambiguidade ou vagueza com preposições?
Ex: O quadro da Maria é muito bonito.
“...preposições são itens lexicais “leves”, ou seja,
podem ter vários sentidos, que só serão estabelecidos
a partir da composição com seu complemento e, às
vezes, até mesmo em composição com o verbo.
- Outro caso: vagueza ou implicatura?
a. Todo número é par ou ímpar. Não tem ambiguidade

b. Você quer café ou leite? Sugere: ou um ou outro

ou os dois (vagueza)
Chierchia (2003, p. 255) assume outra possibilidade para
a ocorrência do ou: inclusivo/disjuntivo.

Do ponto de vista pragmático, podemos associar ao ou


apenas uma das leituras possíveis, deixando a segunda
por conta de uma inferência guiada pelo contexto, ou
seja, uma implicatura.
2.2. Ambiguidade sintática

O que gera a ambiguidade são as diferentes


possibilidades de reorganizar as sentenças, ou seja, a
possibilidade de ocorrência de diferentes estruturas
sintáticas na mesma sentença.

Ex: a. Eu estou com vontade [de comer chocolate de


novo].
b. Eu estou [com vontade de novo] de comer
chocolate.
2.3. Ambiguidade de escopo
A ambiguidade decorre de uma estrutura, mas não da
estrutura sintática, e, sim, da estrutura semântica da
sentença, que gera as duas interpretações.

Ex: Todos os alunos comeram seis sanduíches.


- Foram seis sanduíches para cada aluno?
- Foram apenas seis sanduíches para dividir entre todos
os alunos?
A diferença básica entre ambiguidade sintática e
ambiguidade de escopo é que, quando há a sintática,
você consegue reorganizar a mesma sentença em
diferentes estruturas lineares; quando há de escopo, não
têm duas formas lineares de organizar a sentença, mas
se têm duas estruturas subjacentes (ou formas lógicas)
distintas.
2.4. Ambiguidade por correferência

Nesse caso a ambiguidade é gerada pelo fato de


os pronomes poderem ter diversos antecedentes.
Ex: O ladrão roubou a casa de José com sua própria
arma.
José falou com seu irmão?
2.5. Atribuição de papéis temáticos
Assume-se que a partir da relação do sentido que o verbo
estabelece com o sujeito e com seu complemento,
seus argumentos, ele atribui uma função semântica,
um papel, dentro da sentença e esses argumentos.

Ex: João cortou o cabelo


O doutor João operou o nariz.
2.6. Construções com gerúndios
Apesar de não ser uma ambiguidade muito aceita pelos
falantes, alguns manuais apresentam construções
com gerúndio como sendo ambíguas.
Ex: Estando atrasado aquele dia, o João não entrou na
sala.

O João não entrou na sala , quando estava atrasado


(tempo).
O João não entrou na sala porque estava atrasado
(causa).
2.7. Ambiguidades múltiplas
Trata das sentenças que nem sempre apresentam
ambiguidades de um único tipo.

Ex: Jorge não tinha ouvido.

- Ouvido como sendo um nome que tem como sentido


habilidade musical.
Jorge [não tinha] [ouvido].
- Ouvido como particípio do verbo ouvir.
Jorge [não tinha ouvido]
ATIVIDADE SOBRE AMBIGUIDADE

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