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AULA
Língua: uma questão de valor
Silvia Maria de Sousa
Vanise Medeiros
Meta da aula
Apresentar a noção de valor linguístico.
objetivos
Pré-requisito
Para aproveitar melhor esta aula, é recomendado
que você leia (SAUSSURE, 1970, p. 130-141).
Linguística I | Língua: uma questão de valor
INTRODUÇÃO A instigante afirmativa de Saussure, tomada como epígrafe desta aula, nos
remete a uma anedota. Imagine duas pessoas conversando. Um pergunta
"Vamos para o bar?", o outro se espanta e diz "Para o lar?". Essa interlocução
pode ter sido interrompida pelo riso, já que "bar" e "lar" são coisas bem
diferentes, não é? O que provoca a confusão entre os falantes? Certamente,
como você deve estar pensando, a despeito da diferença de significado, as
semelhanças e as diferenças entre as palavras "bar" e "lar" são responsáveis
pelo não entendimento entre os interlocutores. O mesmo poderá ocorrer
entre: bar /par/ mar, ou ainda, mato/moto, lê/li, luva/lava. Por um lado, a
semelhança fônica entre lar e bar permitiu o equívoco da anedota; por outro
lado, a troca do fonema /b/ por /l/ alterou o significado da palavra. Podemos
perceber com a anedota que na língua há semelhanças e diferenças. A que
se deve, então, a afirmativa do mestre genebrino de que na língua só existem
diferenças?
Fonte: http://drwerton.site.med.br/index.
asp?PageName=Pagina-2005
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se estabelece uma gradação da beleza, que vai, digamos, de uma beleza na
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justa medida (bonito) à exacerbação da beleza (lindo). Entretanto, seguindo
Saussure, se na língua não existisse uma dessas palavras, o valor de uma
iria para outra, ou seja, caso a palavra "lindo" não existisse em português,
a palavra “bonito” teria de contemplar os dois diferentes graus de beleza.
Achou interessante a questão do valor? Semelhanças, diferenças, identidades,
relações são questões importantes para compreendermos a noção de valor
linguístico, e sobre algumas delas pensaremos ao longo desta aula!
Metáfora
"A metáfora consiste no emprego de uma palavra concreta para exprimir
uma noção abstrata (...) a metáfora é o emprego de todo termo que lhe é
assimilado após a supressão das palavras que introduzem a comparação"
(DUBOIS et al. 1978, p. 411).
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consiste o pensamento; ou, ainda, de relação entre dois planos: ideias
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(pensamento) e fônico (som). Daí a língua ser comparada à folha de
papel: não se corta o verso da folha sem se cortar o anverso; ora, a língua
integra de forma indissociável esses dois planos: dá-lhes forma. Mais
adiante retomaremos o fato de a língua ser forma; o que nos interessa
reter a partir da metáfora do papel é que ela remete para a arbitrariedade
do signo e nos expõe a noção de valor. Leia Saussure:
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[...] a ideia de valor [...] nos mostra que é uma grande ilusão
considerar um termo simplesmente como união de certo som com
certo conceito. Defini-lo assim seria isolá-lo do sistema do qual
faz parte; seria acreditar que é possível começar pelos termos e
construir o sistema fazendo a soma deles, quando, pelo contrário,
cumpre partir da totalidade solidária para obter, por análise, os
elementos que encerra (SAUSSURRE, 1970, p. 132).
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Metáfora
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Gilberto Gil
Fonte: http://www.gilbertogil.com.br/sec_musica.php?page=3
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ATIVIDADES
2. Com base no trecho a seguir, explique por que se pode dizer que as
palavras não possuem de língua para língua correspondentes exatos.
A ideia de "mar" não está ligada por relação alguma interior à sequência de
sons m-a-r que lhe serve de significante; poderia ser representada igualmente
bem por outra sequência, não importa qual; como prova temos as diferenças
entre as línguas e a própria existência de línguas diferentes: o significado da
palavra francesa boeuf ["boi"] tem por significante b-ö-f de um lado da fron-
teira franco-germânica, e o-k-s (Ochs) do outro (MARCONDES, 2010, p. 94).
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RESPOSTA COMENTADA
1.
( c ) é atribuído em função da relação que estabelece com o todo.
( b ) marca o laço que une significante e significado.
( a ) é composto por signos arbitrários.
( c ) é estabelecido na relação entre os signos.
( a ) organização inerente a todas as línguas.
( c ) só pode ser atribuído no seio de um sistema.
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Seu valor não estará então fixado, enquanto nos limitarmos a com-
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provar que pode ser “trocada” por este ou aquele conceito, isto é,
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que tem esta ou aquela significação; falta ainda compará-la com
os valores semelhantes, com as palavras que se lhe podem opor.
Seu conteúdo só é verdadeiramente determinado pelo concurso do
que existe fora dela. Fazendo parte de um sistema, está revestida
não só de uma significação como também, e sobretudo, de um
valor, e isso é coisa muito diferente (SAUSSURE, 1970, p. 134).
O valor do signo:
não advém de fora do sistema linguístico;
decorre da relação com os outros signos do sistema;
pode ser transferido para outro signo.
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é diferencial
Signo é relacional
é opositivo
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Como entendê-las? Como vimos, o signo não tem valor em si,
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não é em si, ou ainda, não é uma entidade positiva. Seu valor advém da
relação no sistema. Daí a afirmação saussuriana de que um signo é o
que outro não é. Em outras palavras, o verbo ser, para repetirmos com
nosso exemplo, é o que o verbo estar não é. Daí ser relacional – estar
na relação com outros –, daí ser opositivo – não ter valor imanente, mas
diferencial, como se pode ler em Saussure:
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METÁFORA DO XADREZ
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ATIVIDADES
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Atendem aos Objetivos 1, 2 e 3
RESPOSTA COMENTADA
3.
a) preexistentes;
b) dessemelhante/comparada;
c) fora;
d) relações/signos;
e) diferenças/diferenças;
f) funcionamento/relação;
g) valor;
h) outro/é.
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4.
( V ) A metáfora do papel nos faz compreender que o signo é indissociável.
( V ) A metáfora da moeda nos permite afirmar que o signo é relacional.
( F ) A metáfora do xadrez serve tão somente para entendermos a noção
de valor.
A metáfora do xadrez serve para entendermos também a diferença entre
a possibilidade de uma abordagem sincrônica e, com isso, a noção de
língua como sistema.
CONCLUSÃO
Conforme Ilari:
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ATIVIDADE FINAL
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Atende aos Objetivos 1, 2 e 3
RESPOSTA COMENTADA
Retomando a metáfora da moeda, podemos dizer que seu valor não advém do fato
de a moeda ser de ouro, cobre ou prata; seu valor não lhe é inerente, mas advém
da relação que estabelece no interior do sistema. Em outras palavras, e lançando
mão da metáfora do xadrez, seu valor advém do jogo, isto é, do sistema. Fora do
sistema, um signo não existe, não há valor. O valor do signo linguístico não está
nele mesmo; ao contrário, é relacional. Essas relações podem ser de oposição, e
isso remete à definição negativa do signo, através da qual podemos compreender
que um signo é o que os outros não são. A noção de valor está ainda intimamente
ligada ao princípio da arbitrariedade do signo. De um lado, a arbitrariedade revela
que a união entre significante e significado é arbitrária e, de outro, que a relação
entre os signos e os referentes do mundo natural também o é. Assim, os valores só
podem ser definidos dentro de um sistema, já que não há nada nos objetos que
apontem para este ou aquele signo. A arbitrariedade do signo revela também por
que os valores linguísticos mudam de língua para língua, sendo, portanto, impossível
haver uma tradução perfeita entre as diferentes línguas.
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RESUMO
LEITURAS RECOMENDADAS
Sobre valor tratam todos os livros que falam de Saussure. Sugerimos os livros já
indicados em aulas anteriores sobre Saussure:
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
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INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA
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No início da aula, trouxemos de Saussure a afirmação de que a língua é forma. Tal
assertiva se completa da seguinte maneira: “a língua é forma e não substância.”
Que tal pensar, continuando o que começamos na Aula 8, em qual relação ela
teria com o jogo de xadrez? Para isto, leia novamente “O valor linguístico”, de
Ferdinand de Saussure.
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