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AULA
A língua vista de perto
Silvia Maria de Sousa
Vanise Medeiros
Meta da aula
Compreender princípios e conceitos da Linguística
saussuriana.
objetivos
Pré-requisito
Para aproveitar melhor esta aula, é recomendado
que você releia o capítulo “Objeto da Linguísti-
ca”, de Ferdinand de Saussure (SAUSSURE, 1995,
p. 15-23).
Linguística I | A língua vista de perto
INTRODUÇÃO Ao pensar na palavra “sistema”, uma imagem de fios e conexões pode vir
a nossa mente, não é mesmo? Imagine, por exemplo, o sistema de uma
máquina ou os sistemas do corpo humano. Sabemos que suas partes são
solidárias, e, para que tudo corra bem, é preciso que cada uma delas exerça
corretamente as suas funções. Saussure definiu a língua como um sistema,
mais exatamente, como sistema de signos. O que isso quer dizer, a que se
deve tal definição e quais as suas implicações são algumas das questões que
atravessam esta aula.
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Antes de prosseguir, uma pergunta: você já jogou xadrez alguma vez na vida?
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Já reparou que alguns jornais trazem na seção de jogos a foto de um certo
momento de uma partida de xadrez? É interessante pensar sobre esta foto:
ela prescinde de sabermos que jogada houve antes. Tudo o que um jogador
precisa saber é sobre a disposição das peças no tabuleiro e o que fará diante
dela. Você deve estar se perguntando: “Qual a relação disto com a aula?”
Se não adivinhou, vai descobrir em breve.
Pode-se, então, conceber uma ciência que estude a vida dos signos
no seio da vida social; ela constituiria uma parte da Psicologia
social e, por conseguinte, da Psicologia geral; chama-la-emos de
Semiologia (do grego semeîon, “signo”). Ela nos ensinará em
que consistem os signos, que leis os regem. (...) A Linguística não
é senão uma parte dessa ciência geral; as leis que a Semiologia
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A atividade linguística é uma ati-
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Horton Group
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Linguística I | A língua vista de perto
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
RESPOSTA COMENTADA
No Curso de Linguística Geral, Saussure lança as bases de uma
semiologia, qual seja, a ciência geral dos signos. Segundo o mestre
genebrino, dela faria parte a Linguística. O projeto semiológico
saussuriano remete à questão do signo, pois segundo esse autor:
“o signo escapa sempre, em certa medida, à vontade individual ou
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social” (SAUSSURE, 1995, p. 25). Com isso, Saussure ressalta a
qualidade arbitrária dos signos, que são fruto de um acordo social
implícito. Tal qualidade não é exclusiva do signos verbais, na medida
em que se estende para todo e qualquer signo. Sendo a Semiologia a
ciência dos signos, a problemática do signo linguístico dela faz parte.
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espécie. Assim, em cada caso, a questão da natureza do fenômeno,
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e para resolvê-la, observar-se-á esta regra: é interno tudo quanto
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provoca mudanças no sistema em qualquer grau (SAUSSURE,
1989, p. 31-32).
Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/c/cl/clix/1009690___gear__.jpg
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Sistema
Em Linguística, a língua é considerada um sistema no sentido de que, num
nível dado (fonema, morfema, sintagma) ou numa classe dada, existe,
entre os termos, um conjunto de relações que os liga uns aos outros,
se bem que, se um dos termos se modificar, o equilíbrio do sistema fica
afetado (DUBOIS, 1976, p. 560).
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Ilker
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Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/i/il/ilco/1078183_
successful.jpg
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ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
a) As teses saussurrianas deram à Linguística status de ciência.
Para tal, foi necessário recortar seu objeto de estudo. A linguagem
abrange diferentes faces, relacionadas ao social e ao individual,
aos fenômenos físicos, psíquicos e fisiológicos. Esta abrangência e
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multiplicidade impedia que a linguagem fosse vista como um objeto
científico. Cabe, portanto, à língua (homogênea e sistemática) ocupar
o lugar de objeto de estudo da Linguística.
b) A língua se encaixa numa lista de fenômenos que não possuem
existência a priori; assim sendo, em função do ponto de vista adotado
é que ela passa a ser objeto de estudo. O objeto não tem existência
prévia e está na dependência do ponto de vista adotado.
c) Em consonância com a afirmação saussuriana de que é “o ponto
de vista que cria o objeto”, conceber a langue como um sistema de
signos trata-se de uma construção teórica. Além disso, sabemos que
a língua não possui existência concreta, caráter reservado à fala.
d) A língua é um sistema, pois é formada por um conjunto de regras
reguladoras de seu funcionamento. Essas regras fazem parte do
conhecimento implícito que possuem os falantes sobre a língua.
Considerar a língua sistema implica, entre outros fatores, assumir
que ela tem uma organização, interna, que segue determinados
princípios. Caberia ao linguista descobri-los e descrevê-los. A língua
como sistema se opõe à fala – ato individual, portanto, fisiológico,
heterogêneo, variável.
CONCLUSÃO
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ATIVIDADE FINAL
Atende aos Objetivos 1, 2 e 3
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2. Explique o trecho de Lopes:
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As línguas naturais são o único código capaz de traduzir com a máxima
eficiência e adequação qualquer outro sistema semiótico; mas o inverso não
é verdadeiro: não se vê bem, por exemplo, como um ballet poderia traduzir
um Sermão do Padre Vieira, nem como a pintura traduziria todos os valores
significativos do Quincas Borba, de Machado de Assis (LOPES, 1995, p. 20).
RESPOSTA COMENTADA
1. Para a Linguística, a língua é definida como um sistema. Isso significa que as
partes que a compõem são interligadas e interdependentes. Além disso, esse sistema
é regido por um conjunto de regras, partilhadas socialmente. Tais regras em nada
se assemelham às regras da Gramática Normativa, visto que não apresentam um
caráter prescritivo, embora regulem o uso da língua. No exemplo, a forma “brindado”,
variante de “blindado”, é aceitável na língua portuguesa, ou seja, é gramatical. Já
as formas “bpindado” e “bfindado” são agramaticais, pois são vetadas pelo sistema
da língua. O comportamento do interlocutor do diálogo, ao dizer “Não sabe falar,
fala ‘caverão’”, é um comportamento prescritivo e até preconceituoso, que se afasta
totalmente da noção de língua como sistema.
2. O trecho de Lopes busca destacar a importância da Linguística – ciência que
estuda os signos das línguas naturais – no interior da Semiologia. Esta é a ciência
geral do signo, surgida a partir das postulações saussurianas. Segundo Lopes, as
línguas naturais fazem a mediação entre o homem e o mundo que o cerca, sendo
a primeira realidade cultural que o ser humano aprende a utilizar. Pelos argumentos
expostos, vê-se a importância do sistema de signos linguísticos dentro do conjunto
de signos e da própria Linguística no quadro das Ciências Humanas.
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RESUMO
Começamos esta aula vendo o lugar que a Linguística ocupa no projeto semiológico
de Saussure. Segundo esse autor, a Semiologia surgiria da necessidade de estudar o
signo dentro da vida social. Assim, a Semiologia seria a ciência dos signos em geral,
e a Linguística – que dela faria parte –, a ciência do signos verbais (linguísticos).
Além disso, nesta aula, aprofundamos a noção de língua como sistema. Para
Saussure, a língua é um sistema de signos, ou seja, é composta por um conjunto
de regras interdependentes que regulam o emprego dos sons e das relações mor-
fossintáticas que incidem sobre eles. Já vimos em outras aulas que as sequências
sonoras “flor” e “fror” são possíveis na língua portuguesa e também vimos que
as sequências “fpor” e “fmor” não o são. Tais fenômenos não dependem da livre
escolha do falante, pois o sistema tem um fator decisivo nas ocorrências linguís-
ticas, permitindo-as ou vetando-as. A Linguística saussuriana busca investigar e
explicar o funcionamento desse sistema. Para isso, elege a língua como seu objeto.
LEITURAS RECOMENDADAS
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