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APLICADA AO DESIGN
AULA 1
CONTEXTUALIZANDO
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representar refere-se à nossa capacidade de substituir uma coisa pela outra.
Aquilo que primariamente não passar pelos nossos órgãos dos sentidos, ou seja,
aquilo que não conseguimos ver, ouvir, cheirar, tocar, sentir e, por consequência,
não conseguimos construir, desconstruir, comutar, separar, encaixar... não
existe! Tais saberes existem no mundo externo, mas só se realizam como
linguagem e propriedade de comunicação quando nós tivermos aprendido e
apreendido os processos de representação (substituição).
Para nos auxiliar na compreensão do mundo, ampliando a nossa
capacidade de leitura e produção de mensagens, sejam elas verbais ou não
verbais, eis que podemos lançar mão de um poderoso instrumento: a semiótica.
Assim, temos por objetivo compreender: como as linguagens constituem a
realidade da representação; como operacionalizamos com as linguagens e qual
a importância do pensamento educado. Para atingirmos tal objetivo, veremos o
que é a semiótica, suas correntes e a questão dos fenômenos, e abordaremos a
relação entre semiótica e design.
A semiótica não é uma ótica pela metade, brincadeiras à parte. Seu nome
vem da raiz grega semeion, que significa signo. Signo é alguma coisa que
representa algo a alguém em determinado contexto, tal como uma frase, um
desenho, um som etc. O homem, para conhecer e se conhecer, se faz signo e
só interpreta esses signos traduzindo-os em outros signos. Eis o processo da
representação. A semiótica é, então, a ciência de todas as linguagens possíveis
e tem por objetivo se debruçar sobre os modos de constituição de todo e
qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido
(Santaella, 2003).
A semiótica nos fornece um percurso metodológico-analítico que intenta
dar conta das questões relativas às diferentes naturezas que as mensagens
podem ter: verbal, imagética, sonora, audiovisual etc. Sendo assim, é
indispensável que, para empreendermos uma análise afinada sobre um
determinado fenômeno, dialoguemos com teorias mais específicas dos
processos de signos que estão sendo examinados. Por exemplo, para
analisarmos um filme, temos de ter conhecimento sobre cinema. Para
analisarmos adequadamente uma fotografia, é importante que detenhamos
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conhecimento sobre fotografia. Ora, a semiótica por si só não é capaz de nos
ajudar a produzir uma análise mais aprofundada sobre determinada linguagem,
pois cada linguagem tem as suas especificidades.
Crédito: Jee_baraluka/Shutterstock.
Com base na Figura 1, a imagem de uma rosa vermelha significa que uma
fotografia foi tirada. Podemos inferir que a rosa vermelha está representando o
amor. As letras organizadas — R-O-S-A — estão no lugar do som da palavra
que está no lugar da rosa vermelha em questão. Se a imagem anterior fosse de
uma rosa branca, a leitura seria um pouco diferente.
Imaginemos uma situação comunicativa que está presente na Figura 2.
Alguém pergunta ao seu interlocutor o que poderia ser usado para tapar um
buraco e ele responde: “uma pedra!”.
Uma pedra!
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seja compreendida. Note que outros signos poderiam ser usados nessa
situação, como um desenho de uma pedra, uma fotografia de uma pedra, um
vídeo mostrando uma pedra, o som de pedras rolando etc.
O exemplo acima pode até parecer banal, mas foquemos na grandeza do
signo. Esse poder que o signo tem de substituir uma coisa torna a vida do homem
extremamente fácil e prática (ou não, dependendo do propósito).
A manifestação de realidade da linguagem está naquilo que chamamos
de repertório, que é o banco de dados onde armazenamos nosso conjunto de
saberes e realizações. Em outras palavras, o repertório guarda o conjunto das
linguagens que um indivíduo tem a capacidade de operacionalizar e ele constitui
nosso patrimônio de conhecimento e nossa identidade (Turim, 2007). Nosso
repertório é o que detemos como linguagem. A linguagem é o nosso saber e é
este saber que nos permite compreender a realidade do mundo. Com isso, fica
fácil de perceber que o poder de representação de um indivíduo é proporcional
ao seu repertório, tanto em termos de qualidade quanto de quantidade.
Saber transformar o real em realidade depende da nossa capacidade de
linguagem. Saber significar, concretizar, transformar num ato, numa linguagem,
num som, numa música, num quadro, num desenho, numa palavra, num texto,
uma escolha diferenciada e produtiva (Turim, 2007). Só assim fugiremos da
reprodução automática e teremos um pensamento educado e claro, que traduz
o real em linguagem produtiva.
Nosso desafio é o de buscar estímulos para a nossa capacidade
associativa, visando descobrir e compreender as relações existentes. Nessa
busca, a experiência é importante. A vivência atenta a tudo o que está ocorrendo
ao redor, a observação dos detalhes visando o todo e a desconstrução do todo,
visando os detalhes (Turim, 2007).
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uma estrutura narrativa se manifesta em qualquer tipo de texto (Matte; Lara,
2009); a semiótica saussureana, que se volta à compreensão das leis que regem
os signos pelo viés da linguística (Barros; Café, 2009); a semiótica da cultura (ou
semiótica russa), que busca compreender o lugar da cultura na natureza como
uma das formas de se apreender as ações transformadoras (até mesmo de
padrões) em processo (Machado, 2010). O interesse dessa corrente semiótica
recai sobre a linguagem, a literatura e outros fenômenos culturais, tais como os
mitos e a religião. A semiótica de Peirce se volta para as relações de sentido
presente nas linguagens verbais e não verbais, tendo como pano de fundo a
lógica.
O ponto em comum das diferentes correntes semióticas está centrado no
modo como o signo e a linguagem representam o objeto. O que diferencia cada
uma dessas correntes é a concepção e a delimitação de seu campo de estudo.
No entanto, independentemente do ponto de partida, o resultado será sempre
muito parecido. Para atingir os objetivos elencados, tomaremos por base a
semiótica desenvolvida por Peirce, uma vez que ela se mostra mais adequada
ao estudo dos fenômenos verbais e não verbais, tão presentes no universo do
design.
Charles Sanders Peirce foi um estudioso americano, nascido em 1839.
Seus interesses abrangiam a química, a matemática, a física, a astronomia. Seu
espírito de cientista o permitiu nos legar contribuições importantes em diferentes
áreas do saber humano, tais como a geodésia, a metrologia, a espectroscopia,
a biologia, a geologia, a zoologia, a linguística, a filologia, a história e a psicologia
(Santaella, 2003). Na base de toda a sua atuação e contribuição, estava a lógica.
Para Peirce, compreender a lógica das ciências era entender seus métodos de
raciocínio.
A semiótica peirceana é um dos membros da tríade das ciências
normativas. Tais ciências são assim chamadas porque buscam compreender os
fins, as normas e as ideais que guiam o sentimento, a conduta e o pensamento
humano (Santaella, 2003). São três as ciências normativas: estética, ética e
semiótica (ou lógica). Em rápidas palavras, podemos dizer que cabe à estética
descobrir o que deve ser o ideal supremo da vida humana; à ética cabe justificar
as razões pelas quais certo e errado são concepções éticas; já a semiótica ou
lógica é a ciência das leis necessárias do pensamento e das condições
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necessárias para se atingir a verdade (Santaella, 2003). A semiótica, por ocupar-
se do estudo acerca do raciocínio correto, nos fornece os meios para agirmos
razoavelmente, especialmente através do autocontrole crítico que o pensamento
lógico nos ajuda a desenvolver. A semiótica é uma disciplina com um caráter
geral e abstrato, e aqui reside a sua beleza, pois ela pode ser utilizada no
entendimento das mais diferentes linguagens. O mesmo não pode ser dito
acerca das ciências especiais ou especializadas, uma vez que elas têm um
objeto de estudo delimitado e de cujas teorias podem ser extraídas ferramentas
empíricas para serem utilizadas em pesquisas aplicadas, como a biologia, a
física, a economia, a antropologia, a química etc. (Santaella, 2003), embora
possamos ampliar o escopo dessas ciências especializadas quando usamos a
semiótica para aprofundar os estudos e pesquisas.
A semiótica peirceana tem três ramos:
Um fenômeno (do grego, phaneron) diz respeito a tudo aquilo que apareça
à percepção e à mente. Absolutamente tudo, desde algo simples, como um
cheiro ou um som, a algo mais complexo, como uma teoria, um conceito abstrato
etc.
Em seus estudos, Peirce concluiu que há três elementos formais e
universais e que estão presentes em todos os fenômenos que se apresentam à
percepção e à mente. São eles: primeiridade, secundidade e terceiridade.
A primeiridade diz respeito a tudo que estiver relacionado com o acaso,
com a possibilidade, com a qualidade, com o sentimento, com a originalidade,
com a liberdade. A secundidade está ligada às ideias de dependência, de ação
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e reação, conflito, surpresa. Já a terceiridade circunscreve a generalidade, a
continuidade, o crescimento, a inteligência (Santaella, 2001).
Pense na cor presente na Figura 3. Não traga à mente a ideia da cor, nem
onde ela está. Atente somente para a qualidade da cor tal como ela se apresenta,
para o brilho (ou a falta dele), as variações tonais, a pura aparência da cor. Nisso,
estamos nos detendo nos aspectos de primeiridade. Essas sensações primeiras
não têm nome ainda, pois são apenas sensações primárias, qualidades que
estão presentes nos signos, mas que nos permitem constituir o significado em
conjunto com a segunda categoria. Perceber as diferenças entre as tonalidades
da cor vermelha, presente na Figura 3, nos leva a considerar as singularidades
que as diferenciam. Quando juntamos as qualidades identificadas, formamos as
singularidades e entramos no âmbito da secundidade (ação e reação). Se
pensarmos que a parede é vermelha, já estamos no âmbito da terceiridade. Eis
um exercício complexo, pois somos ensinados a interpretar imediatamente. Em
uma leitura semiótica, a interpretação é o último estágio. Veremos isso adiante.
Vimos anteriormente que signo é algo que representa alguma coisa a
alguém. Peirce apresentou várias definições para o termo signo e para facilitar
nosso entendimento, eis uma definição mais concisa: um signo é qualquer coisa,
de qualquer espécie (tal como uma palavra, um livro, um casal dançando, uma
música, uma pintura, um edifício etc.) que representa (substitui) uma outra coisa
(chamada de objeto do signo) e que produz um efeito interpretativo na mente do
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intérprete (esse efeito é chamado de interpretante do signo). O signo só pode
funcionar como signo se carregar esse poder de representar, de substituir um
outro signo diferente dele. Assim, o signo não é a coisa representada, uma vez
que ele só está em seu lugar.
Na semiótica peirceana, o signo é formado por três elementos:
fundamento (ou representâmen), objeto e interpretante. A Figura 4 nos ajuda a
entender tal definição.
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Para facilitar nosso entendimento, pensemos em como podemos traduzir
o conceito do objeto céu. A Figura 5 apresenta uma possibilidade.
CÉU Céu!
Figura 6 – Termômetro
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decidir sobre a idade da construção onde o termômetro está fixado não é o
mesmo fundamento que foi selecionado para interpretá-lo como sendo resultante
de um determinado período industrial. O Quadro 1 aclara esses conceitos.
O signo tem uma materialidade e esta pode ser percebida por um ou mais
de nossos órgãos dos sentidos. Tal como coloca Santaella (2001), podemos ver
um signo (por exemplo, uma cor, um gesto etc.), ouvi-lo (por exemplo, uma
música, um ruído etc.) e/ou senti-lo pelo paladar, pelo tato, pelo olfato. Aquilo
que foi percebido está no lugar (está substituindo) de outra coisa. Eis a
particularidade do signo: tornar presente algo que não está ali para designar ou
significar outra coisa que está ausente.
Saiba mais
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TEMA 4 – SEMIÓTICA E DESIGN
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Figura 7 – O iPhone da Apple
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TEMA 5 – PARA QUE SERVE A SEMIÓTICA NO DESIGN?
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contato com as pessoas, seja para representá-las, seja para experimentá-las ou
um misto das duas alternativas. Atualmente, há uma nova forma de se projetar,
e ela insere as pessoas, de forma colaborativa, em todos os processos de design
(Costa, 2020). A Figura 9 ilustra o que foi dito.
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com olhos apurados, ao mesmo tempo que educa seu pensamento, tal
ferramenta permite que se produza com agilidade, visando adiantar-se às
constantes mudanças que acontecem no mundo da vida.
O designer dotado de um olhar semiótico apurado consegue
operacionalizar a dimensão cultural, aliando-a à sua competência técnica.
Ademais, cabe ao designer enriquecer a sua prática profissional e investigação
científica com os contributos advindos de outras áreas que tratam de questões
aplicáveis ao design. Sabendo operacionalizar as linguagens, tais tarefas ficam
mais fáceis.
Essa evolução do design, ampliação de seu papel e seu caráter
estratégico são pontos cada vez mais reforçados (Niemeyer, 2003). A semiótica
aplicada ao design contribui na resolução de questões decorrentes da
preocupação da comunicação dos resultados do design. Vimos que a semiótica
oferece as bases teóricas para os designers enfrentarem as questões
comunicacionais e de significação e tratar do processo de geração de sentido
referente a suas criações.
TROCANDO IDEIAS
1) Um grito de dor;
2) Um e-mail dirigido a um amigo;
3) Um vídeo sobre design e semiótica.
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NA PRÁTICA
Uma maçã:
Signo Objeto
Crédito: Robert90210/Shutterstock.
Signo Objeto
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O desenho que você está vendo nesta imagem:
Signo Objeto
FINALIZANDO
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linguagens. O designer dotado de um olhar semiótico apurado consegue
operacionalizar a dimensão cultural, aliando-a a sua competência técnica. Isso
permite que seu repertório seja ampliado, refletindo em todas as suas criações,
independentemente do âmbito a que elas se destinam. Paulatinamente, iremos
descortinar um horizonte rico que mudará para sempre a nossa maneira de ver
o mundo.
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REFERÊNCIAS
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WDO – World Design Organization. Definition of Industrial Design. 2015.
Disponível em: <https://wdo.org/about/definition/>. Acesso em: 24 set. 2019.
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