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RESUMO DE
PORTUGUÊS
(EDUCAÇÃO
LITERÁRIA)
QUEM FALA?
A voz poética ou o “eu” lírico (não confundir com autoria)
Uma donzela expõe os seus sentimentos amorosos
PALAVRA CHAVE
amigo (“amado”)
(“amado”)
TEMA(S)
Destaca a evocação do amigo, que costuma estar ausente, que se pode concretizar
em subtemas como o amor entre a donzela e o amigo, a oposição da mãe e das irmãs, a
ajuda das amigas para que intercedam, a coita ou a tristeza da ausência, a alegria pelo
retorno e o encontro com o amigo, o desejo de avistá-lo,
avistá- lo, etc.
VOZES
Monologadas Dialogadas
- Digades, filha, mia filha velida,
Ai, eu coitada, como vivo engran cuidado porque tardastes na fontana fría.
por meu amigo que ei alongado! Os amores ei...
Muito
o meume tarda
amigo na Guarda! -cervos
Tardei,
domia madre,
monte na fontana fría,
á auguavolvían.
Os amores ei.
Afonso X Pero Meogo
PERSONAGENS
A donzela, o amigo, a mãe, a irmã, a(s) amiga(s) e a natureza.
AMBIENTES
Rural e populares, domésticos ou cortesão
SÍMBOLOS
São imagens próprias da lírica popular e nelas os elementos da natureza jogam
umpapel fundamental como confidentes do amor ou como símbolos deste mesmoamor: a
água como símbolo de fertilidade; o mar como símbolo de separação entreos amados; o
vento eSão
os cervos
assim são símbolosduas
possíveis viris;leituras:
a fonte, apor
aguaum
e oslado
cabelossímbolos femininos;
são descrições etc.
de cenas
quotidianas,por outro, são expressão da sensualidade e erotismo.
CARACTERÍSTICAS
Feminismo - Os sentimentos que se exprimem são sempre de mulher, isto é,
quemexterioriza as intimidades é uma donzela.
Simplicidade - Possuem uma estrutura muito simples. Tanto as personagens
como osambientes surgem impregnados de odor a campo, montanha ou mar.
Ruralismo - Os ambientes de trabalho e de diversão referidos nas cantigas
evidenciam também o seu ruralismo: o campo, a fonte, o baile, a romaria, etc.
Ligação com o canto e a dança - O trovador era frequentemente acompanhado
porum
tambémjogral que tocava
otrovador o que
a jogralesa queele recitava. Para além do jogral acompanhava
dançava.
Paralelismo - O paralelismo é uma das características mais típicas da
poesiatrovadoresca e denuncia o carácter popular destas poesias.
Refrão - É a repetição do mesmo ou mesmos versos geralmente no fim de
cadaestrofe.
SÍMBOLOS RECORRENTES
SÍMBOLOS
Os símbolos são uma constante na poesia trovadoresca. Os que ocorrem com mais
frequência nas cantigas de amigo são:
a fonte
fonte é
é origem da vida, da maternidade e da graça; as suas águas límpidas
podem indicar também a pureza da donzela;
aosalva
alva (alvorecer)
(alvorecer) é símbolo
cervos simbolizam
cervos simbolizam da inocência,
a fecundidade, da pureza
do ritmo e da virgindade;
do crescimento
c rescimento ou da virilidade (do
SUBGÉNEROS DAS
SUBGÉNEROS DAS CANTIGAS
CANTIGAS DE
DE AMIGO
ALBAS, ALVAS OU
ALVORADAS
A alva ou alba, terminologia tirada à lírica provençal, é a designação que
osestudiosos, à falta de outra melhor, dão às cantigas de amigo em que aparece o tema
da alvorada.
Focaliza o amanhecer depois de uma noite de amor. Devemos salientar, noentanto,
que há apreciável diferença entre a alba galego-portuguesa e aoccitânica, o que tem
levado alguns a negar a existência do género no Ocidente Peninsular. Parece-nos
apressado esse modo de ver radical, pois, no caso,poderia ter havido a confluência de um
motivo autóctone relacionado com aalvorada com o da alba
a lba provençal.
Se esta, durante certo tempo, se restringiuao motivo da separação, ao romper do
dia, de dois amantes, acordados pelogrito do vigia dos castelos, não faltam exemplos
posteriores em que ainoportuna intervenção da gaita é substituída pelo canto dos
pássaros.
BAILIA OU BAILADA
Subgénero das cantigas de amigo, composta para ser cantada e
dançada,caracterizada pelo grande investimento formal no seu carácter musical,para o
qual concorrem sobretudo o paralelismo e o refrão.
Tipo de cantiga de amigo, de origem provençal, próprio para a dança. Abailia
segue, em regra, uma estrutura paralelística, adequada àdramatização da cantiga
interpretada por um grupo de donzelas: aprotagonista ou cantadeira executa as principais
estrofes; as restantescantoras, formando um coro, entoam o refrão. Em alternativa, cada
umadas estrofes da bailia pode ser executada por uma cantadeira diferente.
O tema é geralmente jovial e festivo. Distingue-se da balada por incluir oconvite
à dança e por possuir uma estrutura
es trutura formal mais regular eautónoma. Dentro do contexto
BARCAROLAS OU
MARINHAS
É uma variedade de cantiga de amigo em que o mar, e por extensão um rio
(frequente sinónimo combinatório de mar ), ), constituem o elemento essencial, pois são a
causa da separação e o meio para o reencontro
reencontro dos apaixonados:
apaixonados: a presença de ondas,
ou de barcos que chegam, é só mais uma achega ao conjunto. A fúria do mar ou a maré
inesperada funcionam em certas ocasiões como símbolos de isolamento da mulher.
Todas as cantigas de amigo que se podem adscrever a este género apresentam
estribilho e têm carácter paralelístico: em geral são de temática simples: a mulher
lamenta-se, diante das suas irmãs ou da mãe, da ausência do amado. O carácter
arcaizante ou popular deste tipo de cantigas não deixa lugar a dúvidas.
O simbolismo oculto sob o motivo da água (seja ela fonte, rio, mar ou lago) não é
senão o da fecundidade, ligado portanto de forma inseparável à figura da mulher. A
frequente presença de ermidas, ou as alusões a romarias, neste tipo de cantigas, serve
para reforçar esta mesma ideia, em que o mar se transforma em paixão amorosa e as
margens não são mais do que o lugar do encontro.
Do mesmo modo, é frequente que o motivo deslize para outras variedades, em que
se recorre a símbolos não menos claros, como o cervo e a lavagem das roupas.
CANTIGAS DE ROMARIA
Subgénero das cantigas de amigo que se distingue pela referência a romarias ou
santuários . Não se trata, contudo, de composições de temática religiosa, já que,
frequentemente, a peregrinação ou a capela são pretexto ou cenário do desenvolvimento
da temática amorosa e profana.
PASTORELAS
VARIEDADES DAS
VARIEDADES DAS CANTIGAS
CANTIGAS DE
DE AMIGO
QUANTO À FORMA
A. Refrão - É a repetição do mesmo ou mesmos versos geralmente no fim de cada
estrofe de estrutura popular (repetição do mesmo ou dos mesmos versos no fim de
cada estrofe), o refrão vem geralmente no final da estrofe, mas também pode
surgir no meio.
B. Paralelismo - O paralelismo é uma das características mais típicas da poesia
trovadoresca e denuncia o carácter popular destas poesias.
TEMAS VERSADOS
TEMAS VERSADOS NAS
NAS CANTIGAS
Os sentimentos que predominam nas Cantigas de Amigo são sobretudo os seguintes:
O sofrimento de amor
Cuidados e ansiedade - o amigo está ausente, demora-se e isso preocupa a
amada. São frequentes as perguntas da donzela : será vivo? será morto?
Tristeza e saudade - a donzela sente-se triste pelo facto de o amigo estar
ausente, o que lhe provoca muita saudade.
Alegria na volta
volta. Voltou doeamigo
o amigo voltou também
- Terminada
uma aenorme
guerra,alegria.
o amigo da donzela está de
ALGUMAS FORÇAS
ALGUMAS FORÇAS TEMÁTICAS
Estado psicológico (Feminismo) - os sentimentos que se exprimem nas
cantigas de amigo, são sempre
s empre de mulher que exterioriza os seus sentimentos mais
íntimos. Tratando-se de diálogo, é ela que fala em primeiro lugar.
Romance Sentimental - a ausência do amigo na guerra do fossado. Nestas
cantigas detectamos o próprio sistema de relações na vida doméstica da jovem, as
diferenças psicológicas entre o cavaleiro e a donzela que o espera, a situação social
depende da ocorrência de guerras (guerra do fossado), o contacto com a natureza
cujos elementos são seus confidentes.
ORIGEM
A origem provençal da cantiga d’amor foi declarada pelos próprios
trovadores (ver cantiga: “Quer’eu em maneira de proençal”) e, nas suas formas e temas
mais elaborados, bem pode reconhecer-se a influência dos modelos.
O AMOR CORTÊS
CORTÊS E AS SUAS
SUAS REGRAS
«Festa e jogo, o amor cortês realiza a evasão para fora da ordem estabelecida e a
inversão das relações naturais.
[…] No real da vida, o senhor domina inteiramente a esposa. No jogo
jogo amoroso,
serve a dama, inclina-se perante os seus caprichos, submete-se às provas que ela
decide impor-lhe.» (Georges Duby)
Amor vassalagem:
vassalagem: o trovador serve a dama; submete-se à sua vontade e seus
caprichos; ela é a suserana que domina o coração do homem que a ama;
A dama
dama,, muitas vezes mulher casada, é cortejada, e definida como o ser mais
perfeito;
A RELAÇÃO
RELAÇÃO AMOROSA
Nas cantigas de amor a beleza e a sensualidade da mulher são sublimadas, mas a
amorosa não se apresenta como experiência, mas um estado de tensão e
relação amorosa não
contemplação;;
contemplação
A «senhor» é cheia de formosura, tipo ideal de mulher, com bondade, lealdade e
perfeição; possuidora de honra («prez»), tem sabedoria, grande valor e boas
maneiras; é capaz de «falar mui bem» e rir melhor…
melhor…
O amor cortês apresenta-se como ideal
ideal,, como aspiração que não tende à relação
sexual, mas surge como estado de espírito que deve ser alimentado...; pode-se
definir, de acordo com a teoria platónica, como ideia pura; aspiração e estado de
tensão por um ideal de mulher ou ideal de amor;
Amor fingimento; enquanto o amor provençal se apresenta mais fingido, de
convenção e produto da imaginação e inteligência, nos trovadores portugueses,
aparece, supostamente, mais sincero, como súplica apaixonada e triste.
A alusão mais ou menos directa ao destinatário do ataque constitui, pois, o elemento que
diferencia os dois tipos de cantiga. A intenção destas cantigas é satirizar certos aspectos
da vida da corte, visando com frequência certas personagens como jograis, soldadeiras,
clérigos, fidalgos, plebeus nobilitados.
Ao mesmo etempo,
picarescas as cantigas
apresentam de escárnio edomaldizer
uma ridicularização recriam
amor cortês. situações linguístico
O repertório anedóticasda
e
sátira pessoal, social, moral, religiosa e política, surpreende pela sua amplitude e
recorrente obscenidade, transmitindo involuntariamente informações ímpares sobre a
mentalidade e cultura laica medievais.
São mais antigas do que a própria nacionalidade e ter-se-iam desenvolvido
paralelamente com as cantigas de amigo.
Mais tarde foram influenciadas pela literatura provençal.
As composições satíricas da Provença tinham o nome de sirventês - sirventês
moral; sirventês político; sirventês pessoal. (imitação servil do tema ou da forma
ou ainda por terem o propósito de servir um senhor)
Assim, na sátira do primeiro período medieval podemos ver duas espécies de crítica:
A
A social (religiosa,
individual política– de
(jogralesca) e moral)
muito mais largas proporções
SEGUNDA PARTE
1385 eA outubro
segundadeparte
1411,compreende o reinado
e inclui a narração dode D. João
conflito I, decorrendo
bélico entre
entre Portugal abril de
e Castela,
incluindo a Batalha de Aljubarrota, até à assinatura
as sinatura do tratado de paz.
ATORES INDIVIDUAIS
As personagens
devassadas individuais
individuais criadas
na sua intimidade por criadas
um olharpelo cronista são variadas e complexas, sendo
incisivo.
João I, três personagens se destacam pelo seu protagonismo: D.
Na Crónica de D. João
Leonor Teles, o Mestre de Avis e Nuno Álvares Pereira.
ATORES COLETIVOS
As personagens coletivas (como, por exemplo, a população de Lisboa) têm um
papel ativo e decisivos, determinando o curso dos acontecimentos.
Com efeito, sempre que é narrado um evento importantes, o cronista faz questão
de expor o que pensava dele a opinião pública, como sucede aquando do cerco de
Lisboa, momento em que a população da cidade oscila entre a esperança de que a
frota castelhana fosse derrotada e o receio de que os castelhanos saíssem
vitoriosos, exercendo uma vingança cruel sobre os sitiados.
Esta expressão de sentimentos da coletividade é, por vezes, resumida através de
um dito que sai de uma multidão – como sucede com as cantigas entoadas durante
TÍTULO DO CAPÍTULO
O etítulo
mestre, comodo
alócapítulo (“Do
foi Alvoro alvoroço
Paez que
e muitas foi nacom
gentes cidade
ele”) cuidando
apresentaque matavom
as linhas o
gerais
do texto.
ESTRUTURA INTERNA
povo, tranquilizando-o
DESENV Linhas 44 (pois está vivo e o conde À janela
OLVIMEN Aclamação
a 59 morto) e sendo por ele do paço
TO aclamado.
O Mestre sai do Paço e
convence o povo a Paço
CONCLUS Dispersão Linhas 59 Povo dispersar. Pelas ruas
ÃO a 80 Mestre O Mestre atravessa a
cidade e dirige-se ao Paço da cidade
do Almirante.
Por seu turno, Célia Cameira, Fernanda Palma e Rui Palma (in Mensagens 10)
10) apresentam
outra proposta.
1.ª parte – O Pajem do Mestre sai dos Paços da Rainha, em direção à casa de
c onforme combinado.
Álvaro Pais, e lança o boato de que o estão a matar, conforme
2.ª parte – O povo sai à rua juntamente com Álvaro Pais para acorrer ao Mestre.
3.ª parte – A fúria do povo, agora em multidão, cresce e ele quer saber notícias
do Mestre.
4.ª parte – O Mestre acede aos apelos dos seus partidários e surge a uma janela
do Paço, acalmando o povo.
5.ª parte – O Mestre desce, junta-se ao povo e despede-se da multidão.
DESENVOLVIMENTO DO CAPÍTULO
1ª PARTE – APELO / CONVOCAÇÃO
O Pajem do Mestre grita repetidamente pela cidade que querem matar D. João,
informando e incitando o povo (com o boato que lança), dando, assim, início a um
plano político previamente definido, cujo objetivo é a criação de uma atmosfera
favorável à aclamação daquele como rei de Portugal.
O plano / a estratégia foi delineado pelo Mestre e por Álvaro Pais, com a
colaboração do Pajem, no sentido de intensificar a oposição popular à Rainha e ao
conde Andeiro e convertê-la em revolta a favor dos intuitos de D. João e dos seus
aliados.
Por outro lado, não restam dúvidas de que o plano foi previamente combinado,
como se comprova pela expressão “segundo já era percebido” . De facto, o Pajem
estava à porta aguardando que o instruíssem a iniciar o plano e, quando recebe a
ordem, parte a cavalo, percorrendo as ruas a galope, gritando que acudam ao
Mestre, pois querem assassina-lo.
O referido plano estava sujeito a um secretismo total. Dele têm conhecimento
somente o Pajem, Álvaro Pais, o Mestre e os seus partidários. O objetivo é claro:
anunciar o perigo que D. João corre, para levar a população de Lisboa a apoiá-lo.
3ª PARTE – MANIFESTAÇÃO
O povo, unido em defesa do Mestre e com o sentimento de vingança, inquieta-se e
enfurece-se diante das portas cerradas do Paço.
Perante afirmações de que o Mestre tinha sido morto, são sugeridas diversas ações
tendentes a forçar a entrada no Paço: arrombar as portas cerradas, lançar fogo ao
edifício para queimar o conde e a Rainha, escalar os muros com escadas.
Gera-se uma grande confusão e o povo não se entende acerca da atitude a adotar,
enquanto várias mulheres transportam feixes de lenha e carqueja para queimar os
muros dos Paços e a Rainha, a quem dirigem muitos insultos.
Dos Paços, vários bradam que o Mestre está vivo e o conde Andeiro morto, mas a
“arraia miúda” não acredita e quer provas concretas, isto é, vê-lo,
vê-lo, de que é assim.
Receando que o povo, devido à sua fúria e ao desejo de vingança, invada o palácio,
se torne incontrolável e o destrua, aconselham D. João a mostrar-se-lhe.
4ª PARTE – ACLAMAÇÃO
O Mestre mostra-se a uma grande janela e fala ao povo, que fica extremamente
emocionado / perturbado ao constatar que está efetivamente vivo e o conde
morto, quando muitos criam já no contrário. Essa fala tem como finalidade
5ª PARTE – DISPERSÃO
O Mestre, consciente da sua segurança e, no fundo, de que o plano arquitetado
tinha resultado na perfeição, desce e cavalga com os seus, acompanhado pelos
populares, que lhe perguntam o que quer que façam. D. João responde que não
precisa mais deles e dirige-se para o Rossio ao encontro do conde D. João Afonso,
irmão da Rainha, enquanto
enquanto é saudado pelas “donas ca çidade”.
çidade”.
Quando se prepara para comer com o conde, vêm dizer-lhe que tencionam matar o
Bispo de Lisboa, por isso faria bem em lhe acudir. No entanto, aconselhado pelo
Conde, acaba por não o fazer.
D. João, Mestre de
Avis
Con
onfi
firm
rma,
a, de no
noit
ite,
e, Manda construir
Atribui as tarefas
de defesa aos se as muralhas e estacas para
responsáveis as portas estão defender a zona da
seguras Ribeira
5ª Parte
Conclusão emotiva do cronista sobre o sofrimento da cidade:
Interpelação ao leitor;
Lamento pelos que sofreram.
C.3.3. Farsa
Na sua forma mais simples, reduz-se a um
pequeno episódio cómico colhido em flagrante na vida da
personagem típica. É o caso de Quem Tem Farelos? ,
onde se conta o percalço sucedido a um triste escudeiro
namorador, corrido pela mão da requestada, sob uma
chuva de troças e maldições. Por vezes estes quadros
sucedem-se, sem haver qualquer relação entre a cabeça e
o cabo da peça. É o caso da Farsa dos Almocreves, ou o
de O Clérigo da Beira. Nesta última aparecem-nos
sucessivamente um padre rezando distraidamente as
matinas, um rústico roubado na corte, e um escravo
negro que rouba: as personagens dão lugar umas às
outras, sem qualquer unidade de acção.
Por vezes, também, os episódios e as personagens
desfilam em torno de um motivo central, embora
faltando-lhe um processo de desenvolvimento, como no
caso de O juiz da Beir a, perante cujo tribunal
comparecem várias causas. Há a considerar ainda farsas mais desenvolvidas que são
histórias completas, com princípio, meio e fim.
f im.
É o caso do Auto
do Auto da Índia,
Índia, onde se apresenta o caso de uma mulher que engana o
marido, alistado no ultramar; ou o do Auto de Inês Pereira, que ilustra com uma
história picante o dito popular «antes quero burro que me leve que cavalo que me
derrube»; ou ainda o do Velho da Horta, que nos exibe a paixão de um velho por uma
moça. Nestes autos, a história corre em diálogos e acções que se sucedem sem transição;
são como contos dialogados no palco, sem qualquer preocupação de unidade de tempo, e
sem qualquer compartimentação de quadros ou actos a marcar a descontinuidade dos
tempos. Poderíamos talvez classificá-los como autos de enredo. Trata-se da forma mais
desenvolvida, mas excepcional, da farsa vicentina.
Normalmente, Gil Vicente fica nos pequenos quadros ou flagrantes, e estes
aparecem frequentemente enquadrados em esquemas que lhes são exteriores,
nomeadamente em alegorias. Por exemplo, alegorias religiosas, como o Auto da Feira, e
a Barca do Inferno e do Purgatório , encerram várias pequenas farsas. Certas alegorias
profanas parecem ter sido especialmente concebidas para enquadrar séries de farsas,
como a Romagem de Agravados, na qual, a caminho de uma romaria, passam.
Evidenciando os seus vícios típicos em monólogos e diálogos, camponeses, fidalgos,
freiras, clérigos; ou como a Floresta de Enganos, que insere uma comédia sentimental
numa cadeia de variadas vigarices. Grande parte dos autos pode conceber-se como
simples desfile de tipos ou casos a pretexto de uma alegoria central (as Barcas,
a Romagem, a Frágua ou Nau de Amores, etc.), o que constitui o último vestígio da
sua origem medieval.
CONJUNTOS
CONJUNTOS REPRESENTANTES
REPRESENTANTES VÍCIOS SATIRIZADOS
SATIRIZADOS AUTOS
AUTOS
O Fidalgo Presunção; Exploração ABI(1)
Suborno; Injustiça; Confissão
O Corregedor Pecaminosa ABI(1)
Suborno; Ausência de
O Procurador Confissão; Cumplicidade com o ABI(1)
Os poderosos corregedor
O Onzeneiro ExploraçãoMaterialismo
Ambição; a alto juro; ABI(1)
Poder terreno, venda de
“Roma” indulgências, ausência de AF(2)
virtudes
A “Corte” Luxo; Exploração; Ociosidade VA(6)
Roubo; Prática Religiosa
O Sapateiro ABI(1)
Negativa
Prática do judaísmo, suborno,
Os materialistas O Judeu desprezo das normas cristãs, ABI(1)
profanação dos lugares
sagrados
O Enforcado Roubo; Prática de Assassínio ABI(1)
O Taful Prática de Jogo Ilícito, ABP (3)
Blasfémia
Devassidão; Desvio dos votos
O Frade professados, ociosidade, vida à ABI(1)
moda da corte (luxo)
Prostituição; Hipocrisia;
A Alcoviteira Feitiçaria ABI(1)
O Corregedor e o
Procurador Defeitos já Indicados ABI(1)
Os corruptos Os Clérigos Sensualidade; Luxúria ABI(1) / FIP(4)
O Marido Emigrante Roubo; Enriquecimento Fácil; AI(5)
Abandono da Família
As raparigas Ociosidade; Pretensão de se
casadoiras: Isabel e FIP(4)
Inês Pereira afidalgar pelo casamento
O escudeiro (Brás da Pelintrice; Ociosidade; FIP (4)
Mata e Aires Rosado) Hipocrisia; Fanfarronice; Fome
A Alcoviteira Prostituição ABI(1)
Os imorais A Ama Adultério; Hipocrisia AI(5)
Inês Pereira Adultério FIP(4)
Pequenos defeitos, absolvidos
As personagens Os Lavradores devido à exploração de que ABP (3)
rústicas eram vítimas
Pequenos defeitos, também
Os Pastores eles absolvidos AF(2)
Incapacidade de pecar, elogio
Os inocentes O Parvo da sua simplicidade ABI (1)
Diferentemente do que sucede com o teatro clássico, o teatro vicentino não tem como
propósito apresentar conflitos psicológicos. Não é um teatro de caracteres e de
contradições entre (ou dentro de) eles, mas um teatro de sátira social ou um teatro de
ideias. No teatro vicentino não perpassam caracteres individualizados, mas tipos sociais
agindo segundo a lógica da sua condição, fixada de uma vez para sempre; e outros entes
personificados. Especificando, poderíamos distinguir:
Casamento
Projeto de vida de Inês:
ter um marido «discreto»
ascender na escala social
libertar-se da condição em que vivia
tornar-se independente
Primeiro casamento: ilusão e desilusão com a violência a que
é sujeita
Segundo casamento: pragmatismo, liberdade e adultério
Relação mãe-filha
Relação condicionada pelas regras sociais da época
Inês vive na dependência e sob autoridade da Mãe
Relação com momentos de tensão e conflito: Inês não
cumpre as suas tarefas
Relação com momentos de afeto e proteção: conselhos
que a Mãe dá à filha sobre o pretendente a escolher
C.5.3. Provérbio "Mais quero asno que me leve que cavalo que me
derrube"
derrube"
“Mais quero asno” → Pêro Marques, marido estúpido e ingénuo;
“que me leve” → que leve Inês a cavalo, ou seja, que lhe faça todas as vontades;
“que cavalo” → Escudeiro, marido “avisado” e “discreto”;
“discreto”;
“que me derrube” → que a derrube, ou seja, que lhe faça a “vida negra”, lhe tire a
liberdade e a ameace e maltrate.
Tempo histórico
Brás da Mata.
C.5.6.6. Clérigo
Padre que atacou sexualmente Lianor Vaz. Simboliza o rebaixamento e a devassidão do
comportamento clerical.
C.5.6.7. Moço de Escudeiro
Pajem de Brás da Mata. Pobre coitado, explorado
por um amo infame. Humilde, deixa-se explorar
e acredita ingenuamente nas promessas do
Escudeiro.
C.5.6.8. Ermidão
Constitui uma caricatura da figura clerical:
chegou ao clérigo, não por opção ou vocação,
mas por decepção com a vida pessoal, sobretudo
no quesito amoroso.
Na Farsa de da
quotidiano Inêssociedade
Pereira, encontramos
Pereira, diversos
da época (final daaspectos que espelham
Idade Média, o modo para
na transição de vida
o
Renascimento).
Dentre eles, destacam-se os seguintes:
a prática religiosa (ida à missa – a peça inicia-se com o regresso da missa por
parte da Mãe);
o hábito de recorrer a casamenteiros (Lianor Vaz e os Judeus);
a falta de liberdade da rapariga solteira, confinada à casa da mãe e a viver sob o
jugo desta (é o ccaso
aso de IInês,
nês, que, no início da farsa
farsa,, demonstra toda a ssua
ua revolta
por estar confinada à casa materna, subjugada à autoridade da mãe e às tarefas
domésticas que lhe são atribuídas – bordar, por exemplo);
a ocupação da mulher solteira em tarefas domésticas
d omésticas (bordar, coser);
o conflito de gerações (Inês e a Mãe), de interesses e conceções de vida (Inês
versus a Mãe e Lianor Vaz);
o casamento como meio de sobrevivência e de fuga à submissão da mãe;
a tradição da cerimónia do casamento, seguida
s eguida de banquete;
a submissão ao marido da mulher casada e o seu «aprisionamento» em casa (o
primeiro casamento de Inês, com o Escudeiro);
a inércia da nova burguesia que nada fazia para adquirir mais cultura (o
Escudeiro);
a decadência da nobreza que procurava enriquecer através do casamento e
buscava o prestígio perdido na luta contra os mouros (o Escudeiro);
a devassidão do clero (o ataque de que a Mãe e Lianor Vaz foram vítimas por parte
de clérigos; o Ermitão apaixonado e que seduz Inês); a corrupção moral de
mulheres que se deixavam seduzir por elementos do clero (as cenas finais entre
Inês e o Ermitão);
o adultério (a traição de Inês com
c om o Ermitão).
2ª Parte
A primeira
mas sim trocar. personagem
Dará a todosa entrar emem
virtudes cena é o de
troca tempo, que vem
quaisquer à feira
bens. não também
Possui vender,
remédios contra fortunas ou adversidades e "conselhos de qualidade". Entre os seus
produtos podemos encontrar Justiça, temor a Deus, Verdade e Paz (o "império cristão"
andava em contendas doutrinárias). Entra então Serafim, enviado por Deus, chamando à
3ª Parte
Com a entrada em cena de dois lavradores inicia-se a parte profana, onde Gil Vicente põe
em evidência o desajuste matrimonial. Dois casais, duas mulheres e dois homens,
conversam. Os homens
"destemperada", (Amâncio Vaz e Diniz Lourenço)
"assanhanda...demoninhada" e dizem
muito que"mole
as mulheres são muito
e desatada",
respectivamente. Chegam mesmo a pensar em trocá-las. No entanto, as esposas (Branca
Anes, a brava, e Marta Dias, a mansa) não se ficam atrás criticando-os também. São
duas cenas simétricas. Dá-se então a chegada das duas à feira. Marta pergunta ao Diabo
se tem anéis para vender, mas este não lhe liga muita importância. O que Branca
gostaria é que ele lhe levasse o marido. Segue-se a intervenção de Serafim tentando
vender consciência, mas elas pretendem bens materiais "uns sombreros de palma",
"pucarinha pera mel". Serafim ainda lhe explica que se trata de uma feira de virtudes.
Mas, elas não percebem.
Na cena que se segue Gil Vicente põe-nos perante a simplicidade e pureza das pessoas
humildes do campo (através de um grupo de camponeses) que embora deconhecendo a
linguagem espiritual acreditam em Deus. Este grupo alegre e bem disposto mantêm a boa
disposição durante toda a cena. Serafim ainda tenta vender alguma virtude às moças, ao
queauto
O elas termina
respondem
com"a uma
Virgem as dá paralelística
cantiga de graça/ aosem
bôs,que
como sabéis". se mistura com o
o pastoril
religioso.
objetivo, porém, mantém-se: criticar o valor atribuído à astrologia, mostrando que nada
se pode obter a partir das estrelas.
Por fim, Mercúrio afirma: -“quero
-“quero-vos
-vos dizer mi, /e o que venho buscar” . Concretiza-
se, pois, a sua autocaracterização : “Eu sam Mercúrio senhor /de muitas sabedorias, / e
das moedas reitor /e deus das mercadorias: nestas tenho meu vigor.”.
vigor.”.
Esta caracterização feita pelo próprio Deus será reforçada por uma
heterocaracterização feita pelo Tempo, mal este entra em cena: “Em nome daquele
que rege nas praças /d’Anvers e Medina as feiras têm” .
Num segundo momento, o deus do comércio ordena a realização de uma feira e
estabelece que o Tempo será o mercador-mor. Por essa razão, este monólogo inicial
pode ser considerado um prólogo do texto, já que nele se apresenta o assunto da peça
e os espectadores / ouvintes são preparados para o desenrolar da intriga.
Nova intervenção de Mercúrio tem lugar quando ele adverte o Tempo da chegada a
Roma à feira e será também ele a determinar o que se lhe pode dar e ainda a deixar
alguns conselhos que, no fundo, denotam uma crítica à igreja, representada
alegoricamente por esta personagem (vv.484-499) .
D.2.3. Tempo
O Tempo é também uma personagem do Bem. A pedido de Mercúrio, “arma” a sua
tenda com muitas “cousas” e dá início à “feira chamada das Graças”,
Graças”, uma feira em “honra
da Virgem”
Virgem” e na qual não se vendem produtos.
O Tempo disponibilizará, então, virtudes, a saber: “remédios [...] contra fortunas
ou adversidades”; “conselhos
“conselhos maduros de sãs qualidades”; “ Amor
Amor e rezão, / justiça e
verdade, a paz desejada”;
desejada”; “o temor de Deus”
Deus” . Estas virtudes são necessárias porque a
Cristandade tem perdido em discussões doutrinárias (alusão clara ao contexto de lutas no
seio da Igreja e à Reforma): “o temor de Deus, /[...] é perdido em todos os Estados” ; “se
foram perdendo de dias em dias” . Desta primeira intervenção do Tempo percebemos que
é um negociante de virtudes que critica ferozmente a Cristandade, os Estados e os
homens em geral, os quais preferem fazer “compras na feira do Demo” .
Para ajudar nesta feira, o Tempo solicita a presença e a proteção de um Anjo, pois
afirma “ser esta feira de maus compradores, / porque agora os mais sabedores / fazem
as compras na feira da Demo, / e os mesmos Diabos são seus corretores.”.
corretores.”.
D.2.4. Serafim
bem” Nas
; naspalavras do Diabo,
de Gilberto (um doso Serafim
moços doé omonte),
“Anjo doo
“anjo de Deus” (heterocaracterização). De facto, foi
“enviado por Deus” , a pedido do Tempo, para o
auxiliar, e é precisamente na qualidade de “mercador”
que, mal entra em cena, começa a chamar todos os
que devem vir à feira, deixando-lhes também
conselhos: “À feira, à feira, igrejas, mosteiros, /
pastores das almas, Papas adormecidos; / comprai
aqui panos, mudai os vestidos, / buscai as samarras
dos outros primeiros, / os antecessores.”.
antecessores.”.
Neste discurso inicial, podemos, pois, identificar o
uso da apóstrofe – “pastores das almas” -, -, bem como
das formas verbais no imperativo – “comprai” ,
“mudai” .
Serafim, faz então, um convite a todos os
elementos da Igreja (“igrejas,
(“igrejas, mosteiros, / pastores
dass almas, Papas adormidos” ; de notar que as igrejas
da
e os mosteiros representam os padres, os monges): para mudarem de vida e
D.2.5. Diabo
O Diabo entra na feira como “bufarinheiro” , isto é, como
um vendedor ambulante de bugigangas, de objetos de pouco
valor, pretendendo ser “o maior dela” (autocaracterização).
Pelo seu discurso inicial, percebemos que se trata de uma figura
confiante, segura de si e das suas capacidades: “Quero
“Quero-me
-me fazer
à vela / nesta santa feira nova. / Verei os que vêm a ela / e mais
verei que m’estorva / de ser eu o maior dela.”
Há um confronto entre este e o Tempo, o que permite a
autocaracterização e a heterocaracterização das personagens.
ARGUMENTOS UTILIZADOS
Argumentos de Acusação Argumentos de Defesa
“Senhor, em toda a maneira
maneira “eu, como cousa perdida(1)
Acudi a este ladrão Nunca me tolhe ninguém
Que há de danar a feira.” (Tempo) Que não gane minha vida,” (1)Ser insignifcante
“I há de homens ruins (2)Tecido
Mais mil que bôs” de seda
“Muito bem sabemos nós
nós adornado com fios
Que vendes tu cousas vis” (Serafim) de ouro ou de
“porque a
“porque a ruim comprador prata
Lervar-lhe ruim borcado(2)”
A argumentação
boas não do Diabo
trazem proveito não de que só Serafim,
convence vende o que
que lhe pedem de
o proíbe e de que asoscoisas
vender seus
produtos na feira dos Céus. O Diabo protesta, dizendo que não força ninguém e dá
exemplos concretos do que algumas pessoas – os clérigos, os leigos, os frades (que
querem ser bispos), as freiras – lhe pedem: “Se me vem comprar qualquer / clérigo, ou
leigo, ou frade / falsas manhas de viver / muito por sua vontade; / senhor, que lh’ hei de
fazer?” .
As falas do Diabo denunciam, assim, os comportamentos viciosos das pessoas, em
especial das que pertençam à Igreja.
Roma revela que vem comprar ”paz, verdade e fé” . Ao ouvir isto, o Diabo começa
por desprezar a verdade e por pedir uma recompensa para quem dá a maldade, ou seja,
para si próprio. Apesar de oferecer os seus proveitos, Roma recusa-os.
D.2.6. Roma
É a primeira cliente da feira e simboliza a corte pontifícia, a Cristandade envolta em
conflitos e corrompida pelos bens materiais. Na verdade, quando chega à feira, Roma
vem a cantar – “Sobre mim armavam guerra; / ver quero eu quem a mi leva. / Três
amigoss que eu havia, / sobre mim armam porfia; / ver quero eu quem a mi leva” – sobre
amigo
os seus países nos quais se manifestaram reações violentas contra o Papa e o Vaticano –
Alemanha, Inglaterra e França. A Igreja estava em guerra e Roma procura por isso a paz
na feira, já que não possuía esses atributos (autocaracterização negativa).
Por essa razão, Roma não quer comprar o que o Diabo lhe oferece e dirige-se ao
Tempo e a Mercúrio, procurando, mediante palavras lisonjeiras e um tom mais
respeitoso, convencê-lo a darem-lhe a paz desejada. Porém, Roma esperava obtê-la a
troco de estações (visitas a igrejas), de perdões ou de jubileus (indulgências plenárias),
tal como fizera até então, o que mostra a sua corrupção moral e o seu apego aos bens
terrenos. Roma denuncia, assim, que continua subordinada ao poder do dinheiro, o que
está bem patente na exclamação que profere: “Oh! Vendei -me -me a paz dos céus, / pois
tenho o poder na terra” .
Roma não está, portanto, preparada para conseguir a paz a “troco da santa vida” ,
como lhe propõe o Serafim. Daí que Mercúrio ordene ao Tempo que lhe dê um cofre, no
qual encontrará um espelho da Virgem Sagrada.
Por fim, os camponeses acabam por decidir ir embora e voltar mais tarde. Já as
mulheres encontram o primeiro mercador da feira, o Diabo. A breve troca de palavras
com esta figura é suficiente
sufic iente para se perceber:
O que as duas mulheres procuravam na feira – bens fúteis (anéis, por exemplo)
A perspicácia de Marta Dias, que reconhece imediatamente o Diabo – “Branc’Anes
mana(9) , cré tu /que como Jesu é Jesu, era este o Diabo inteiro.” – e que se mostra
surpresa por esta estar naquela feira – “Pasmada estou eu de Deus / fazer o damo
marchante! (10)”; aliás, é ela quem afasta o Diabo da feira, quando, a uma pergunta
sua, exclama: “Jesu, nome de Jesu”
O desejo ardente de Branca Anes de se livrar do marido, não se importando de
negociar com o Diabo – “S’eu soubera quem ele era / fizera-lhe
fizera-lhe bom partido(11): /
que me levara o marido, / e quando tenho lhe dera”.
dera”.
Por seu turno, a conversa com o Serafim, segundo negociante com quem contactam,
reforça:
O que realmente, as duas mulheres procuravam – “sombreiros de palma” ,
“burel (12) / do pardo de lã meirinha(13)”
O carácter vincado de Branca Anes que não tem receio de dizer que nunca venderá
as suas mercadorias.
(1) paciente (4) encontre
(2) (5)
agressiva
(3) incompetente procura
(6) mate
(7) para não enxotar (9) amiga
(8) gascão
(10) mercador
(11) tinha-lhe apresentado condições vantajosas
(12) tecido grosseiro de lã
(13) gado lanígero
E. RIMAS
E.1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
E.1.1. Contextualização Histórica na Europa
E.1.1.1. Aspetos Sociais
(Encontramos uma explicação mais detalhada no anexo 2 de Português)
Do final do século XV a meados do século XVI, a
indústria desenvolve-se para além dos quadros
corporativos das cidades e há um surto de invenções e
melhoramentos técnicos, favorecidos pela procura
crescente de mercadorias. Os senhores feudais
apropriam-se tanto quanto podem de terras comunais,
reduzindo muitos servos ou colonos a assalariados e
produzindo para o mercado. O aumento do volume de
trocas, implicando o da circulação monetária, traz
como resultado a procura de ouro, prata e outras
mercadorias preciosas. Intensifica-se o trabalho
mineiro e buscam-se minas, quer dentro quer fora da
Europa. O descobrimento da prata na América e do
caminho marítimo para a Índia vêm ao encontro desta
necessidade de acréscimo dos meios de troca, e
provocam uma alta de preços, ruinosa para os que
apenas vivem de foros e serviços feudais.
Tornam-se possíveis grandes acumulações de
capital e operações bancárias à escala de toda a
Europa e respetivos interesses ultramarinos. Formam-se grandes casas financeiras, como
os Fugger e os Welser. Descobrem-se meios de drenagem de capitais, como o
empréstimo público.
se comOodesenvolvimento
grande movimentodo que
comércio, das atividades
se designa industriais
pela palavra e das cidades
Renascimento relaciona-
em sentido lato.
A velha cultura clerical não consegue satisfazer as novas necessidades e aspirações
culturais. E alguns grandes acontecimentos, aparentemente súbitos, mas na realidade
preparados por um longo processo, transformam rapidamente o horizonte mental dos
grupos sociais mais dinâmico.
A descoberta da tipografia e a invenção da imprensa em meados do século XV,
atribuída a Gutenberg, é estimulada pela existência de um público em crescimento, para
o qual já não bastava a reprodução manuscrita do livro. Essa invenção acelerou
prodigiosamente a difusão dos livros, das ideias e das notícias, e constituiu-se em
poderoso fator de transformação ideológica.
O descobrimento do caminho marítimo para a Índia e o da América - ambos
rapidamente divulgados pela imprensa -, assim como o encontro de civilizações
desconhecidas, como a chinesa, modificam as concepções multisseculares do europeu
acerca do planeta, dos costumes e das crenças.
disciplinas existentes;
existentes;
a introdução, nos estudos, das obras de autores científicos da
Antiguidade.
Antiguidade.
Sociedade - defendiam:
defendiam:
a escolha dos dirigentes segundo o saber e a capacidade;
a condenação da guerra;
Literatura:
adotaram como modelos os géneros literários, as formas poéticas, os
Por outro lado, foram vários os fatores que contribuíram para a difusão deste novo
espírito:
O desenvolvimento do comércio, das atividades industriais e das cidades e,
portanto, de uma sociedade mercantil;
A descoberta da tipografia, graças a Gutenberg, que se constituiu como um
meio prodigioso para a difusão das ideias e da informação, associada ao
crescimento de um público a quem já não satisfazia a reprodução manuscrita do
livro, com todos os constrangimentos que acarretava;
aca rretava;
A descoberta do caminho marítimo para a Índia e para a América;
O encontro de civilizações desconhecidas, como a chinesa, facto que levou à
modificação das conceções acerca do planeta, dos costumes e das crenças;
As invenções e aperfeiçoamentos técnicos, como a artilharia ou os novos
processos de navegação ou de exploração das minas.
Verifica-se, por isso,
o alargamento da curiosidade a vários aspetos do património cultural antigo (o
saber prático ou especulativo, o lucro e a operosidade mercantil, a inteligência e
o corpo humano, a vida terrena);
a difusão da cultura clássica pelas novas técnicas de produção do livro, por meio
da edição dos clássicos greco-latinos e das obras de análise e interpretação dos
humanistas.
E.1.2. Contextualização
E.1.2.1. Histórica em Portugal
Contexto Português
Acentua-se, após a descoberta do caminho
marítimo para a Índia, o processo de concentração
do poder político e económico sob a chefia do rei,
iniciado com as campanhas do Norte de África e a
exploração do ouro da Mina. A exploração
económica do ultramar faz-se grandemente em
regime de monopólio da Coroa. Apesar dos
progressos da burguesia rural e comercial desde o
século XIV, ela não conseguiu evitar que as novas
expansões económicas fossem na maior parte
absorvidas como renda feudal, sob formas
variadas (rendas da colonização insular e
brasileira, monopólios dos "resgates" e "tratos"
ultramarinos, monopólios de produção interna sujeita a direitos "banais", e, finalmente,
administração da Coroa a favor duma oligarquia), o que dificultou a acumulação do
capital propriamente dito e seu posterior investimento na agricultura e, em geral, na
produção interna.
Esta espécie de monopólio comercial ultramarino a favor da nobreza palaciana
encontra dificuldades: vícios internos do seu funcionamento, ataques vindos de
Holandeses, Franceses, Ingleses, aliados por vezes no Oriente a populações locais, que
dificultam cada vez mais o domínio militar das estradas e feitorias. O sistema entra em
crise por meados do século XVI. D. João III é obrigado a evacuar algumas praças
marroquinas. Realizam-se tentativas para descobrir novas minas de ouro ou prata na
América e na África, mas volta-se depois ao projecto da guerra africana, tendo em mira a
ocupação do reino de Fez. O desastre de Alcácer Quibir vem agravar a bancarrota
económica com o colapso militar e político. A união com Castela apareceu finalmente à
maior parte da camada dirigente como uma saída. E, assim, a Coroa portuguesa integra-
se, desde 1580, no sistema de hegemonia espanhola, que se mantém até finais da
Guerra dos Trinta Anos, cerca de meados do século XVII, como uma extensa coligação de
coroas, distintas mas acumuladas sobre a mesma cabeça imperial ou ligadas entre si pela
consanguinidade dos monarcas Habsburgos.
No entanto, mesmo dentro de Portugal e Espanha, a burguesia mercantil não
deixava de progredir, desafiando o monopólio do Estado e o poder da nobreza. Pouco a
pouco domina a praça de Lisboa e o comércio entre o ultramar e a Europa. Grande parte
destes homens de negócios descende dos judeus convertidos à força em 1496 e
efetivamente assimilados. Daqui tiram pretexto os círculos dirigentes para instituir a
Inquisição (1536), em teoria dirigida sobretudo contra a prática clandestina do judaísmo.
Graças ao Santo Ofício, estabeleceu-se a discriminação contra os «Cristãos-Novos»,
verdadeiros ou supostos descendentes dos Judeus, que eram grande parte dos "homens
de negócios", e tentou-se impedir o acesso deles a postos de direção no Estado, na Igreja
e até na Universidade; ao mesmo tempo que, através do fisco inquisitorial, se
expropriava uma parte dos seus bens. Esta perseguição foi contraproducente, pois teve,
entre outros resultados, o de que muitos cristãos-novos emigraram e constituíram uma
rede internacional com núcleos na Holanda, na França, na Inglaterra, no Brasil, no Peru,
na África e na Índia, pelas malhas da qual passava uma grande parte do comércio
mundial. Através destas relações, a burguesia mercantil portuguesa tende a ganhar um
carácter cosmopolita.
E.1.2.2. A Contra-Reforma e a união com a Espanha
Cerca de 1550 ocorreram alguns acontecimentos decisivos, que coincidem com a
crise geral então vivida. Em 1547, é definitivamente estabelecida a Inquisição em
Portugal, após esforços que datavam de 1531. Naquele mesmo, ano sai o primeiro rol de
livros proibidos, sucessivamente acrescentado em 1551, 1561, 1564, 1581, 1624. Em
1550, o grupo de professores trazido a Portugal por André de Gouveia (já falecido em
1548) é posto à margem após um processo movido por inimigos do Colégio. Em 1555, o
rei entrega este colégio, rebatizado como Colégio das Artes, à Companhia de Jesus, que
domina os Estudos Menores (hoje diríamos secundários
secundários)) em Lisboa e Évora, e que no
mesmo ano funda uma universidade sua nesta última cidade. A partir de 1557, ano da
morte de D. João III, a principal personagem do reino é o cardeal-infante D. Henrique,
inquisidor-geral, que alterna a regência com a rainha-viúva. Em 1564, as decisões do
Concílio de Trento são promulgadas em Portugal sem restrições, caso único entre os
reinos da Europa Ocidental. Desde cerca de 1550, foram silenciados mesmo os mais
estrénuos erasmistas, como André de Resende, Damião de Góis e Diogo de Teive, e por
1580 está extinta a geração dos letrados e gramáticos
gramáticos antiescolásticos que tinham
campeado por altura das grandes reformas escolares
es colares do início do reinado de D. João III.
III .
Entre os autores proibidos ou amputados pela Censura contam-se Gil Vicente,
Bernardim Ribeiro, Sá de Miranda, João de Barros, Jorge Ferreira de Vasconcelos, Jorge
de Montemor, António Ferreira. Nenhum livro podia sair, na segunda metade do século
XVI, sem três licenças: a do Santo Ofício, a do Ordinário eclesiástico na diocese respetiva
e a do Paço. O relator do Santo Ofício examinava o livro em manuscrito e obrigava o
autor a alterá-lo, amputá-lo ou
acrescentá-lo, antes de lhe
conceder a fórmula «nada
contém contra a nossa Santa Fé
e bons costumes». E, assim,
desde a segunda metade do
século XVI até à reforma
pombalina da censura, não
podemos afirmar que
conhecemos o texto original de
uma obra impressa, mas
somente um texto ao qual os
censores anuíram. A impressão,
a venda, a herança e a entrada
E.1.2.3.1. Renascimento
O Renascimento pode definir-se como a "adoção das formas artísticas greco-
latinas e a assimilação do espírito que as anima" . O Renascimento é, portanto, uma
aceitação e não uma ressurreição das formas greco-latinas, pois a ressurreição supõe a
morte e as formas greco-latinas nunca morreram.
Nos finais do século XV e princípios do século XVI, a literatura portuguesa começou
a registar algumas ténues influências da literatura italiana, nomeadamente ao nível da
poesia produzida em contexto palaciano, nas cortes de D. João II e depois, mais
acentuadamente, de D. Manuel. Esses poemas, da autoria de muitos nobres para quem a
arte de versejar era um atributo muito importante, eram portadores, com assinalável
frequência, de uma atitude amorosa e poética que revelava a influência do poeta italiano
Petrarca, o precursor do Renascimento.
Em 1516, Garcia de Resende publicou a compilação desses poemas palacianos
numa obra intitulada Cancioneiro Geral , dedicada ao príncipe e futuro rei de Portugal D.
João III, afirmando no Prólogo que o objetivo do seu trabalho era contrariar a natural
tendência de os portugueses não registarem, para o futuro, as suas obras. Publicado no
ano de inauguração do Mosteiro
Mos teiro dos Jerónimos e no período de florescimento do teatro de
Gil Vicente, o Cancioneiro
Cancioneiro revela
revela a valorização já renascentista que a cultura começara a
merecer.
Em 1521, Sá de Miranda, um dos poetas presentes no CancioneiroCancioneiro de
de Resende,
empreende uma demorada viagem a Itália, durante a qual contactou com a cultura e a
arte da Renascença. Cinco anos mais tarde, de regresso a Portugal, trouxe consigo o
gosto pelo novo estilo – o dolce stil nuovo – e introduziu na nossa literatura, entre
outras composições poéticas, o soneto, com os seus versos decassilábicos.
Por outro lado, a literatura renascentista redescobrira os clássicos e a Poética Poética de
de
Aristóteles, uma obra que regulamenta e hierarquiza os géneros literários, considerando a
epopeia e a tragédia os géneros mais nobres. Não é, pois, de estranhar que a o desejo de
elaboração de uma epopeia se tenha disseminado, vindo a ser concretizado por Luís de
Camões, e António Ferreira tenha escrito a tragédia Castro
Castro,, inspirada nos amores trágicos
de D. Pedro I e D. Inês de Castro.
E.1.2.3.2. Humanismo
O Humanismo parte do estudo da cultura antiga e, com base nela, valoriza tudo o
que é humano e exalta os valores do Homem como centro do Universo
(antropocentrismo). O Homem é a "medida de todas as coisas", ou seja, passa a ser
E.1.2.3.3. Classicismo
O Classicismo é uma estética que estabelece um rigoroso sistema de regras
próprias dos vários géneros literários: o épico (representado entre nós pel' Os Lusíadas);
o lírico (com as suas formas fixas, como o soneto e o seu verso decassílabo, a canção, a
écloga, a elegia, a epístola, o epigrama, a ode, a sextilha, o epitalâmico e o ditirambo);
dramático, representado pela tragédia e pela comédia.
As suas principais características são as seguintes:
Exaltação do Homem (antropocentrismo), em contraste com o teocentrismo
medieval.
A verdadeira Arte tem por base a imitação, ou seja, deve haver a imitação da
Natureza pela Arte, sendo a paisagem sempre amena ("locus amoenus"),
idealizada, convencional e artificial, excluindo o insólito ou acidental, a fim de
poder refletir o intemporal, o eterno, o essencial.
SONETO DO SONETO
catorze versos tem este soneto teria, isabelino, uma terceira
de dez sílabas cada, na contagem quadra cddc ee ee
ee final,
final,
métrica portuguesa; de passagem, em vez de dois tercetos, com quilate
o esquema abba
abba dá
dá esqueleto
sempre de ouro no fim. de tal maneira
aos versos do começo: a engrenagem porém o engendrei continental,
podia ser abab
abab,, mas meto que em duplo cde
cde tem
tem seu remate.
aqui baab
baab:: destarte, preto
no branco, instabilizo a sua imagem. Vasco Graça Moura, Poesia 2001/2005
(1) Facetas do Petrarquismo
Petrarquismo::
o elogio hiperbólico da mulher amada no aspecto físico, psicológico, moral e
social - ideal, perfeita, inigualável, divinizada;
as contradições íntimas do sujeito poético feliz-infeliz;
os efeitos contraditórios do amor;
o lamento e a saudade na ausência da mulher;
a inexistência de palavras que a possam retratar;
a apresentação de uma natureza sombria ou amena/alegre segundo o estado de
espírito do “amador”;
“amador”;
a luta entre o amor e a razão.
dá-lhe novos traços datados e combina-o com uma crítica social que lembra alguns dos
utopistas do século XVI, num fundo de austeridade estóica ou senequista
Está talvez na origem desta crítica um certo sentimento cioso da liberdade pessoal.
O homem da corte, e de modo geral todo o que vive no seio da civilização urbana, teria
alienado a liberdade. Sá de Miranda parece considerar essa alienação, por um lado, sob a
forma da pressão social que se manifesta nas convenções e intrigas da vida da corte; por
outro lado, sob a forma de sujeições resultantes da estrutura produtiva. O homem apapenas
enas
seria livreà conformando-se
bastaria com anecessidades;
satisfação das nossas «boa razão» esegundo
a «mãe onatureza», «madre
dito evangélico, asantiga»,
aves do que
céu
não fiam nem tecem e andam, todavia, mais ricamente vestidas que Salomão. Sá de
Miranda desdenha doutra actividade além da lavoura, que lhe parece a própria dos
homens; condena o tráfego marítimo, a busca de ouro debaixo do solo, que os obriga, de
costas para o dia, a entrar pela noite dentro. A ambição do ouro origina, segundo ele, as
guerras, que desviam para a destruição o fogo, antes dado para proveito dos homens, e
formas reais ou metafóricas de escravatura, que levam a pôr aos lanços na praça
«espíritos vindos do céu». A invenção, então recente, da artilharia é para Sá de Miranda
mais um exemplo dos malefícios resultantes do afastamento da natureza.
Dentro desta lógica, até mesmo a propriedade individual da terra aparece ao
mesmo tempo como efeito e causa da violência: a sangue e fogo foi a terra
desigualmente repartida; o meu e teu está
teu está na origem das guerras.
Estes tópicos são frequentes na poesia clássica, em que a Idade de Ouro, tida
como anterior
idealização à propriedade
poética agrária individual,
do comunitarismo à moeda,
primitivo ou do ao
clãEstado, à guerra,
patriarcal. É bemconstituía a
possível,
todavia, que Sá de Miranda tenha em vista qualquer fenómeno social que então se
processasse entre nós, do género das vedações («cercas») e apropriações, pela
aristocracia inglesa, de terrenos comunais dos aldeãos. A sua indignação pelo que então
se passa neste sentido e que ele testemunha como fidalgo à antiga, patriarcalmente
próximo do trabalhador rural, atinge uma vibração ainda hoje bem comunicativa, ao
afirmar, por exemplo, que certos «salteadores com nome e rosto de honrados» andam
quentes, «forrados de peles de lavradores». A idealização clássica do comunitarismo
primitivo pelo mito da Idade de Ouro, no qual a própria agricultura e a pastorícia eram
ainda sentidas como sacrílegas e antinaturais, transfere-se assim para as relações
agrárias então existentes, pintadas com as cores idílicas da «áurea mediania» rural de
Horácio.
Por outro lado, Sá de Miranda percebe claramente a ligação existente entre este
exacerbamento e crise da
expansão ultramarina, queexploração
despovoa feudal,
o Reinoo «ao
absentismo da nova
cheiro desta nobreza
canela». Nãocortesão
escondee aa
sua antipatia pelo modo de vida que então contribuía para a alteração da estrutura
medieva do País:
Os marinheiros vadios
que vilmente a vida apreçam
pelas cordas
cordas dos na
navios
vios
volteiam como bugios,
inda que vos al pareçam.
Outro tema grato a Sá de Miranda é a crítica da corte como centro do governo: a
astúcia dos privados, o seu engrandecimento à custa dos pequenos; a corrupção da
justiça, o exibicionismo devoto; todo um sistema de exploração em proveito de um grupo
dirigente, que consegue perverter as boas leis tornando-as «fracas teias de aranha», de
que sãoavítimas
sequer as mulheres,
falar diante os órfãos,
dos poderes, essesapoderes
«pobrezaque
dosdeviam
mesteres». Eles não mas
ser «nossos» se atrevem
que os
envolvedores «buscaram para si». Contra estes males, Sá de Miranda vê o remédio num
poder régio justamente exercido, ao serviço do Povo, idealização típica do Renascimento.
E.4.
(TodosTEMAS DAapresentados
os exemplos LÍRICA CAMONIANA
são títulos de temas das líricas camonianas)
TEMA
TEMAS
S E EXEMPL
EXEMPLOS OS DA
DA L RICA CAMO
CAMONIANA
NIANA
Temas Exemplos / Explicação
1. Mulher inacessível, misteriosa, quase divina, de beleza
inefável, a quem o sujeito poético presta vassalagem e
adoração e que se relaciona com o amor espiritual (cf.
ideal de beleza petrarquista).
Representação da Amada Ex.: “Ondados
“Ondados fios de ouro reluzente”, “Um mover
d’olhos brando e piadoso”
2. Mulher terrena, por quem o sujeito poético se sente
atraído e fascinado.
Ex.: “Aquela
“Aquela cativa”, “Minina dos olhos verdes”.
verdes”.
1. Amor espiritualizado, sereno, racionalmente
intelectualizado, de influência petrarquista.
Ex.: “Ondados
“Ondados fios de ouro reluzente”
F. OS LUSÍADAS
F.1. DEFINIÇÃO DE EPOPEIA
Definição: do grego epos
epos,, palavra que
significava canto
canto ou
ou narrativa
narrativa,, o texto épico diz respeito à
narração, em verso ou em prosa, em estilo elevado /
grandioso, de feitos heróicos passados. Desde a
Antiguidade, o texto épico recebe o nome
de epopeia quando constitui uma narrativa, em forma de
verso, que retrata as façanhas de um povo com interesse
nacional e projeção universal.
Interesse nacional: em Os Lusíadas,Lusíadas, encontramos a
sublimação dos heróis nacionais que culmina na deificação
e imortalização ("Ilha dos Amores"), com o objetivo de
incentivar a geração do seu tempo no sentido de restaurar
uma velha grandeza decadente. Ao longo da obra,
perpassam as características da alma nacional:
a fidelidade (em Egas Moniz),o heroísmo guerreiro (em
Nuno Álvares Pereira), o espírito de aventura (no
Magriço), a tenacidade e a persistência (em Vasco da Gama e seus
companheiros...).
Projeção universal: ela encontra-se na revelação ao mundo da grandeza de um
povo que "deu novos mundos ao mundo" , ao ligar continentes, cristianizar partes
do mundo, abrir novas vias comerciais, etc.
lusitano” ),
), com incidência no seu período de maior
fulgor – a época dos Descobrimentos, representada
pela viagem de Vasco da Gama de 1498 – descoberta
do caminho marítimo para a Índia.
Sendo a epopeia considerada a expressão mais
alta da literatura, a necessidade do surgimento de uma
epopeia portuguesa que glorificasse a gesta heroica do
povo
muito.lusitano
A partirvinha a ser XV,
do século sentida e reclamada
tinham começadodesde há
a surgir
alguns poemas de conteúdo histórico, mas sem
relevância literária. No século XVI, autores como Garcia
de Resende, no prólogo do Cancioneiro Geral , João de
Barros, Diogo de Teive, Angelo Poliziano e, sobretudo,
António Ferreira. Começaram a alertar para a necessidade de se cultivar o género épico,
estimulando outros poetas à criação da epopeia portuguesa.
E Portugal tinha, de facto, todas as condições para a criação de um grande poema
épico. Com efeito, as andanças pelo mundo, as descobertas e o heroísmo dos navegantes
lusos eram comparáveis às viagens marítimas descritas na Odisseia
Odisseia e na Eneida
Eneida.. Por
outro lado, a empresa dos Descobrimentos, para além do interesse nacional, revestia-se
de carácter universal. Além disso, o orgulho nacional estimulava a celebração dos feitos
portugueses e à corte interessava a apresentação da política de expansão ultramarina
como forma
verdadeira de dilatação
motivação dessa da fé cristã,
política na tentativacomercial.
fosse meramente de contrariar
a ideia de que a
‘OS LUSÍADAS’
F.4. TÍTULO ‘OS
A palavra “lusíadas” deriva
deriva de Luso, filho de Líber ou companheiro de Baco, deus
do vinho ou da alegria. Luso nasceu e povoou a zona ocidental da Península Ibérica, onde
fundou um reino a que deu um nome derivado do seu: Lusitânia
Lusitânia,, como explica Camões:
“Esta foi Lusitânia, derivada
derivada
De Luso ou Lisa, que de Baco antigo
antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros.”
Os Lusíadas,
Lusíadas, canto III, est. 21
(Vénus, Marte
respetivamente e razões
e por Júpiter ), outras
diversas, ameaçando-a
o sucesso (Baco
ou o insucesso do), herói.
desejando,
Em Os
Os
Lusíadas,, encontramos o maravilhoso pagão e o maravilhoso cristão.
Lusíadas
maravilhoso pagão: a intervenção de numerosas divindades da mitologia
pagã;
maravilhoso cristão: o recurso ao Deus dos cristãos, a “Divina Guarda”;
Guarda”;
maravilhoso misto: a intervenção próxima (no mesmo episódio) de Deus e
dos deuses pagãos;
maravilhoso céltico: a intervenção de fadas, bruxas, feiticeiras.
A forma – tal como nas epopeias clássicas, a sublimidade dos factos apoia-se numa
estrutura poética fixa, em versos heróicos.
A presença de determinadas qualidades que são fundamentais na concepção da
epopeia:
Unidade – todas as partes ou séries de acontecimentos constituem um todo
harmonioso.
Verdade – tratamento de um assunto real ou verosímil.
Integridade – estruturação da narrativa com princípio, meio e fim
(introdução, desenvolvimento e conclusão).
Variedade – inserção de episódios (pequenas ações reais ou imaginárias),
cuja função é quebrar a monotonia da narração e contribuir para a dinâmica
(CantoDedicatória
I, estâncias 6-18) continham esta parte.
acentua a feição pessoalOefacto de Camões
nacionalista a ter incluído
do poema.
Este facto reflete, também, o estatuto do artista que,
sendo intelectualmente de um mecenas, um protetor, à
semelhança do que se passava em Itália e em França-
A acção n’Os Lusíadas começa in medias res, com os
navegadores em pleno Oceano Índico, no canal de
Moçambique. Pouco depois, dá-se o primeiro consílio dos
deuses, no Olimpo, em que Camões divide os deuses
pagãos nos que apoiam os portugueses na sua viagem
dos que são contra a concretização da mesma.
Os navegadores continuam até Mombaça, onde fazem
uma paragem. Aqui, há a primeira tentativa, por parte de
Baco, de impedir que se concretize a viagem, mas, com a
ajuda de Vénus,
abandonar os portugueses
Mombaça conseguem
e prosseguir a viagem com sucesso
até Melinde,
onde os navegadores param novamente.
Nesta paragem, Vasco da Gama conta a história de
Portugal ao rei de Melinde (uma forma inteligente de Luís
de Camões enaltecer os portugueses devido a feitos
Narração anteriores à viagem). Consequentemente, Vasco da
(Canto I, estâncias 19 até
ao Canto X) Gama relata os episódios “Inês de Castro”, “Despedidas
em Belém”, “Velho do Restelo” e “Adamastor”. O episódio
“Despedidas em Belém” caracteriza os medos medos e
desesperações dos familiares e amigos dos navegadores.
O episódio “Velho do Restelo” representa os pontos
negativos dos Descobrimentos e atenta para os mesmos,
sendo quase uma antítese da epopeia. O episódio
“Adamastor” simbolizade os
navegadores tiveram medos interiores
ultrapassar durante a que
que
os
viagem
para que esta se concretizasse.
Enquanto os navegadores partem de Melinde, dá-se o
segundo consílio dos deuses, desta vez no mar, em que
Neptuno se afirma como oponente da chegada dos
portugueses à Índia e cria uma tempestade da qual os
portugueses são salvos com a ajuda de Vénus que
intervém junto dos ventos. Depois da tempestade vem a
bonança, assim, os navegadores chegaram à Índia. (...)
PROPOSIÇÃO
Proposta Assunto Efeito Desejado Razão
1. “as armas e os barões” –
feitos guerreiros e homens que
construíram um novo império.
2. “memórias
“memórias gloriosas dos reis
que ...” (D. João I – – D. Manuel
“Cantando I) “Cesse tudo o que “outro valor
espalharei por a Musa antiga mais alto se
toda a parte” Feitos do Passado canta” alevanta”
INVO
INVOCAÇ
CAÇ O (2ª
(2ª PARTE
PARTE CONS
CONSTITU
TITUINTE
INTE DE OS LUS ADAS
Localização Destinatário Objetivo
Pedir ajuda para a
Canto I consecução de um “som
Tágides (Ninfas do Tejo) alto e sublimado”, “um
(Estâncias 4 e 5)
estilo grandíloco e
corrente...”.
corrente...”.
Conseguir inspiração para
Canto III Calíope (musa da a composição do discurso
(Estâncias 1 e 2)
2) eloquência da poesia épica) do Gama ao rei de
Melinde.
Solicitar o seu favor na
tarefa de cantar um povo
Canto VII Ninfas do Tejo e do ingrato, aproveitando para
(Estâncias 78-87) Mondego
tecer considerações
pessoais.
Sentindo aproximar-se o
Canto X Outono da vida, Camões
(Estâncias 8 e 9) Calíope solicita ajuda para a
missão a que se propôs:
glorificar a sua pátria.
Dedicatória (I, 6-18): oferecimento da obra a D. Sebastião, rei que Camões via
como garantia da liberdade nacional, como representante escolhido por Deus,
como monarca poderoso. Termina com a exortação ao rei para que também ele se
torne digno de ser cantado.
VIAGEM
Narração dos acontecimentos ocorridos durante a viagem entre Lisboa e a Índia:
Índ ia:
narração do percurso até Melinde por Camões (I e II);
narração da História de Portugal até à viagem, em forma de discurso
Porém, simultaneamente, os
deuses reúnem em consílio para
decidir “sobre as cousas futuras do
Oriente” e, de vez em quando, o
poeta tece considerações pessoais.
A viagem não constitui
realmente uma ação, nem tem
intriga, nem personagens
propriamente ditas. Falta-lhe
autonomia. Para que a viagem
constituísse uma ação, seria
necessário que os seus protagonistas
se debatessem com as dificuldades e
as resolvessem graças às suas forcas
e engenho. Mas tais protagonistas não existem, uma vez que não passam de bonifrates
que desempenham um papel destinado pela Providência, sem mãos e cérebro para
enfrentar os problemas. não vemos Vasco da Gama arriscar-se e agir, molhar-se na água,
nem desenredar-se de intrigas, nem manchar-se de sangue (excepto na escaramuça com
indígenas no episódio de Veloso, por ele próprio descrita ao rei de Melinde), nem ter uma
vontade, um capricho ou uma paixão. Serve apenas para fazer discursos, para recitar os
belos discursos de Camões. O único ensejo que tem de resolver um problema pelos seus
próprios meios, isto é, sem a intervenção dos deuses, ocorre quando o Catual o
detém em Calecute. Não vemos também Vasco da Gama falar aos seus marinheiros, que,
de resto, parecem não existir, são uma abstração que povoa as naus. Não os vemos
apagar os incêndios, discutir nos conselhos de capitães em que se tomavam as decisões.
Mal entrevemos, numa tempestade, a voz anónima do Gama mandando amainar a
grande vela ou dar à bomba. Uma única personagem se nos depara, numa visão fugidia:
Fernão Veloso, numa atitude nada heroica (em fuga) e num sito típico de fanfarronice
peninsular.
Por outro lado, pode dizer-se que a viagem não tem história nem enredo. Os
marinheiros limitam-se a deixar-se transportar nas mãos dos deuses. Se estes não
existissem, nunca saberíamos como é que os nautas alcançaram a Índia, que perigos
venceram e de que forma. A unidade orgânica do relato da viagem não reside nem na
personalidade dos heróis, nem em qualquer intriga intrínseca à própria viagem. Uma
viagem marítima no tempo da navegação à vela, com abordagens, revoltas e motins da
tripulação, recontros com as populações costeiras, teria matéria riquíssima para
efabulação. Há, todavia, no que respeita à luta com o mar, quadros cheios de relevo e
precisão, como a Tromba Marítima, o Fogo de Santelmo e o Escorbuto, e todo o canto V,
um dos melhores da obra, que se poderia chamar “Trabalhos do Mar”. Mas esses
episódios, onde falta sempre a presença humana, são dados de forma descritiva,
exemplificativa, numa sequência oratória, e não narrativa, no discurso ao rei de Melinde.
E a história da viagem do Gama, que constitui a parte propriamente narrativa da obra,
fica reduzida a uma crónica rimada, mas sem as virtudes das boas crónicas.
HISTÓRIA DE PORTUGAL
MITOLOGIA / MARAVILHOSO
Formalmente, a unidade de Os
Lusíadas é estabelecida pela intriga dos
Lusíadas
deuses, visto que estes estão em cena
desde o princípio até ao fim da obra
(excepto na introdução e na conclusão):
abre com o Consílio dos Deuses e termina
com a Ilha dos Amores. As personagens
mitológicas têm uma vida que falta às
personagens históricas: são aquelas os
verdadeiros seres humanos, que sentem,
se apaixonam, intrigam. Vasco da Gama é
muito mais hirto e frio que o Adamastor,
não obstante este ser um cabo. E ninguém
tem a presença, a força, a personalidade provocante de Vénus.
A ação consiste no seguinte: Vénus, auxiliada por Marte, seu amante, pretende
ajudar os portugueses a chegarem à Índia; Baco, que entende que o Oriente é domínio
seu, opõe-se-lhe, provocando a animosidade dos povos costeiros, convencendo ainda os
deuses marítimos a desencadearem uma tempestade e, finalmente, induzindo os mouros
a atacarem Vasco da Gama. Mas Vénus, vigilante, intervém junto de Júpiter, mobiliza as
ninfas do mar, que impelem as naus para fora do perigo, e, seduzindo os deuses do mar,
Através
ada mitologia,
vitória Camõessobre
dos homens exprime algumasque
os deuses, tendências do Renascimento:
personificam os limites impostos
pela tradição à iniciativa humana;
a confiança na capacidade humana para dominar a natureza;
a concepção da natureza como ser vivo;
a afirmação (virtual) de Deus como imanência;
a crença na bondade da natureza;
a identificação da lei da razão com a lei da liberdade;
a destruição da noção de pecado.
N’ Os Lusíadas,
Lusíadas, existem vários tipos de mitologia:
pagã: os deuses pagãos greco-romanos;
: Deus;
cristã
mista: coexistência das duas anteriores;
céltica /mágica: fadas, bruxas, feiticeiras.
Este plano é aquele em que Camões tece comentários, muitas vezes satíricos,
sobre matérias diversas, normalmente no início e fim dos cantos:
a fragilidade da vida humana face aos perigos do mar e da terra (I, 105-
106);
o desprezo a que os portugueses votaram as Artes e as Letras (V, 91-100);
91- 100);
o valor da glória e das honras por mérito próprio (VI, 95-99);
crítica aos povos que não seguem o exemplo português (VII, 2-14);
a ingratidão de que se sente vítima por parte da sociedade (VII, 78-87);
lamento face à importância dada ao dinheiro, fonte de corrupção e traição
(VII, 96-99);
os modos de atingir a imortalidade, condenando a cobiça, a ambição e a
tirania (IX, 92-95);
a decadência da pátria (X, 145);
a invectiva a D. Sebastião a tomar medidas no sentido de corrigir e repor o
país na senda do êxito (X, 146-156).
OS LUSÍADAS – CANTO IV
Estâncias
Estâncias Conteúdos Essenciais / Assunto
1-5 Crise Dinástica de 1383 - 1385
6 - 11 Invasão de Castela (Em Portugal)
12 -19 Discurso de D. Nuno Álvares Pereira Reinado
12 - 50 28 – 44 Batalha de Aljubarrota de D.
45 - 47 Outras lutas com Castela João I
48 - 50 Conquista de Ceuta
51 - 53 Reinado de D. Duarte
54 - 59 Reinado de D. Afonso V
60 - 65 Reinado de D. João II
67 - 75 Sonho Profético do Monarca Reinado
66 - 104 76 - 83 Preparativos
Preparativos da armada de D.
84--104
94 93 Despedidas em Belém
Velho do Restelo Manuel
I
OS LUSÍADAS – CANTO VI
Estâncias
Estâncias Conteúdos Essenciais / Assunto
1-6 Festas de despedida em Melinde e continuação da viagem
rumo à Índia
7 - 37 Consílio dos Deuses Marinhos (No Palácio de Neptuno)
A armada prossegue a sua rota e, para lutar contra o sono,
38 - 69 contam-se histórias, entre as quais os “Doze de Inglaterra”,
narrada por Fernão Veloso
70 - 91 80 - 83 Vasco da Gama invoca Deus A
85 - 91 Vénus intervém junto dos ventos Tempestade
92 - 94 Chegada a Calecut
95 - 99 Considerações do poeta sobre o verdadeiro valor da Glória
OS LUSÍADAS – CANTO IX
Estâncias
Estâncias Conteúdos Essenciais / Assunto
Os dois feitores portugueses que
tinham vindo a terra são retidos,
1 – 4 com o intuito de retardar a partida
da armada, possibilitando a sua
destruição por uma frota
proveniente de Meca.
Monçaide informa Vasco da Gama
5-7 do plano traiçoeiro.
Não conseguindo reaver os feitores
8 - 11 portugueses, o Gama retém nas
naus alguns mercadores locais
como garantia, e ordena a partida.
O Samorim ordena a libertação dos
12 feitores e dá-se a troca de réfens
13 - 17 Regresso a Portugal
18 - 29 Vénus prepara um prémio para os navegadores
30 - 50 Vénus forma juntamente com Cupido a Insula Divina
51 A armada avista a ilha
52 - 65 Descrição da ilha
66 - 67 Desembarque dos Portugueses
68 - 84 Os nautas perseguem e casam com as Ninfas
Tétis explica a Vasco da Gama a razão de tal recompensa e
85 - 87 leva-o ao seu palácio
OS LUSÍADAS – CANTO X
Estâncias
Estâncias Conteúdos Essenciais / Assunto
1-4 Tétis e as Ninfas oferecem um banquete aos marinheiros
5-7 Uma ninfa, cantando, enumera os feitos futuros dos
Portugueses
8-9 Invocação de Camões a Calíope
10 - 73 A ninfa prossegue o seu discurso fazendo profecias
74 - 90 Tétis conduz Vasco da Gama a ver a Máquina do Mundo
91 - 141 Novas
Camõesprofecias de Tétis, com referência ao naufrágio de
142 - 143 Tétis despe-se dos Portuguese
Portuguesess
144 Chegada a Lisboa
Considerações do Poeta:
145 - 146 lamentações sobre a decadência da
pátria
PREPARAÇÃO PARA
PREPARAÇÃO PARA O EXAME NACIO
NACIONALNAL DE PORTUGU
PORTUGU S – 2018
Proposição indica
A Proposição indica qual é o objeto do canto - “ “oo peito ilustre Lusitano”
Lusitano” -, uma
expressão que, na verdade, incorpora:
“ As
As armas e os barões assinalados
ass inalados”,
”, ou seja, os feitos bélicos e quem os executou,
os homens ilustres, notáveis. Esses homens, partindo de Portugal – da “Ocidental
praia lusitana” – e após “muitos
“muitos perigos e guerras”,
guerras”, conseguiram alcançar
territórios para lá da ilha de Ceilão – “Passaram
“Passaram ainda além da Taprobana”
Os “Reis que foram dilatando / A Fé, o Império,” e que andaram a devastar as
terras desconhecedoras da religião cristã – “ “as
as terras viciosas / De África e de
Ásia”
“
“aqueles
aqueles que por obras valerosas / Se vão da lei da Morte libertando”,
libertando”, isto é,
todos os que, por causa das suas ações magníficas, merecem ser louvados e
imortalizados
Nesse sentido, podemos reconhecer na expressão “ peito peito ilustre Lusitano
Lusitano”” o uso da
metonímia, já que pela parte – uma parte do corpo
c orpo humano (o peito) – se designa o todo
– o corpo humano, ou seja, o ser humano, os Portugueses.
míticas (“sábio
(“sábio Grego” (v.1) → Ulisses
(cantado por Homero);
Homero); “Troiano
“Troiano” (v.1) →
Eneias (cantado por Virgílio) e os de
figuras históricas (Alexandre Magno e o
imperador romano Trajano)
Esses feitos são tão gloriosos que até os
deuses do mar e da guerra – Neptuno e
Marte – se submeteram os Portugueses
Representam um “valor
“valor mais alto”
alto”
Se sempre em verso humilde celebrado “som alto e sublimado” (v.5) → Voz que atinja o
4 Foi de mim vosso rio alegremente, sublime
sublime
Dai-me agora um som alto e sublimado, “estilo grandíloquo” (v.6) → Grandioso
Um estilo grandíloquo e corrente,
c orrente, “corrente” (v.6) → Fluente
Porque de vossas águas, Febo ordene “Febo” (v.7) → Apolo, deus do Sol e da poesia
Que não tenham inveja às de Hipocrene. “Porque” (v.7)
(v.7) → Para que
que
“Que não tenham inveja às de Hipocrene”Hipocrene ”
(v.8) → Fonte grega nascida do monte
(v.8) monte Hélico da
patada de Pégaso, cavalo montado por Apolo; Seria
poeta quem das suas água bebesse
bebesse
“Hipocrene
Hipocrene”” (v.8)
(v.8) → É uma das nascentes mais
celebradas pelos poetas da Antiguidade Clássica
Clássica
RESUMO
RESU MOS
S CL SS
SSIC
ICOS
OS – OS LUSIADAS
O poeta invoca as ninfas do Tejo (Tágides), entidades
inspiradoras que o acompanharam nos seus textos
líricos e pede-lhes que lhe dêem um estilo elevado
sublime, grandioso, mas fluente, para que a poesia
portuguesa em nada seja inferior à Poesia da
Antiguidade Clássica.
A apóstrofe “Tágides minhas” a sugerir a solicitação de
entidades do Tejo, um rio pátrio, sendo a ideia de posse
/ patriotismo evidenciada pelo determinante possessivo
“minhas”.
“minhas”.
O discurso persuasivo e apelativo, através da repetição
anafórica do verbo dar , no modo imperativo (“Dai-
(“Dai-me”).
me”).
O poeta pede inspiração adequada à grandiosidade do canto e não o estilo bucólico
simples dos seus textos líricos.
ninfas do de
objectivo Tejo
dare ao
do poeta
Mondego. Estes apelos
inspiração têm lugar
para narrar no canto
correcta III, estrofes 1osefactos
e eloquentemente 2, coma
História de Portugal e no canto X estrofes 8 e 9, quando Camões, após anos a escrever a
sua epopeia, sente, finalmente,
finalmente, o engelho concedido pelas musas a desvanecer (‘’os
desgostos me vão levando ao rio/ Do negro esquecimento e eterno sono. “. “.
F.12.3. Análise da Dedicatória (Canto I)
A Dedicatória poder-se-á dividir em quatro partes:
Exórdio Início do Discurso (Estâncias 6 a 8)
→ 8)
Exposição Corpo do Discurso (Estâncias 9 a 11)
→ 11)
Confirmação Onde são apresentados os exemplos (Estâncias 12 a 14)
→ 14)
Peroração Espécie de Recapitulação (Estâncias 15 a 17)
→ 17)
Epílogo Conclusão (Estância 18)
→ 18)
DEDICAT RIA – CANTO I
I
Nº Estância / Estrofe
Estrofe Assunto / Conteúdos Essenciais
“E vós”
vós” ”(v.1)
”(v.1) → Apóstrofe
“E vós, ó bem nascida segurança” (v.1) (v.1) → Elogio a
D. Sebastião; D. Sebastião, que nascem para garantir
E vós, ó bem nascida segurança a independência lusa
Da Lusitânia antiga liberdade, “antiga liberdade” (v.2)
“antiga (v.2) → Independência da Pátria
Pátria
“E não menos certíssima esperança / De
E não menos certíssima esperança aumento da pequena Cristandade;”
Cristandade; ” (vv.3-4) → D.
De aumento da pequena Cristandade;
6 Sebastião surge como a esperança da continuação da
Vós, ó novo temor da Maura lança, dilatação do Império Português
Português
Maravilha fatal da nossa idade, “o novo temor de Maura lança” (v.5) (v.5) → Elogio a D.
Dada ao mundo por Deus (que todo o Sebastião /
Sebastião / Um novo projeto
projeto para o exército
exército mouro
mande, “Maura lança” (v.5)(v.5) → Sinédoque
Sinédoque
Pera do mundo a Deus dar parte “maravilha fatal da nossa idade” (v.6) → Elogio a
D. Sebastião; Milagre do nosso; mas milagre fatal,
grande); podendo ser o começo de grandes bens, mas sem
excluir a possibilidade de grandes males
“maravilha fatal” (v.6) → Prodígio fixado pelo
destino
“Dada ao mundo por Deus (que todo o mande, /
Pera do mundo a Deus dar parte grande);” grande);” (vv.7-
8) → Predestinação de Deus para um futuro de glória glória
“Vós
Vós”” ”(v.1)
”(v.1) → Apóstrofe
“tenro
tenro”” (v.1) → Juvenil
“novo ramo florecente”
florecente” (v.1)
(v.1) → Ramo Florescente;
Camões nunca escreveu de outra maneira
Vós, tenro e novo ramo florecente “De ũaũa árvore, de Cristo mais amada/ Que
De ũa árvore, de Cristo mais amada
amada nenhua nascida no Ocidente,” Ocidente,” (vv.2-3) →
Que nenhua nascida no Ocidente, Predestinação de Deus para um futuro de glória glória
Cesárea ou Cristianíssima chamada “Cesárea ou Cristianíssima chamada” chamada” (v.4) →
7 Segundo Camões, os reis de Portugal eram mais
(Vede-o no vosso escudo, que presente amados por Cristo do que os imperadores da
Vos amostra a vitória já passada, Alemanha (Cesárea) e do que os reis de França
Na qual vos deu por armas e deixou (Cristianíssima)
As que Ele pera si na Cruz tomou); “Vos amostra a vitória já passada” passada” (v.6) →
Referência à vitória de Ourique
“ As que Ele pera si na Cruz tomou tomou” ” (v.8) → As
Cinco Chagas
“Vede-o no vosso escudo” escudo” (v.5) → Título do
Capítulo XIV da Crónica de D. Afonso Henriques, de
Duarte Galvão
“Se tão sublime preço”
preço” (v.8)
(v.8) → Valor
“Vós
Vós”” ”(v.1)
”(v.1) → Apóstrofe
“Vós, poderoso Rei, cujo alto Império” Império” (v.1) →
Vós, poderoso Rei, cujo alto Império Ultraje, Ofensa
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro, “ poderoso Rei ” ” (v.1)
(v.1) → Elogio a D. Sebastião
Vê-o também no meio do Hemisfério, “Vós, que esperamos jugo e vitupério / Do torpe
8 E quando dece o deixa derradeiro; Ismaelita cavaleiro, / Do Turco Oriental e do
Vós, que esperamos jugo e vitupério Gentio”” (vv.5-7) → Perífrase – Turcos
Gentio
Do torpe Ismaelita cavaleiro, “ jugo
jugo”” (v.5)
(v.5) → Opressão
Do Turco Oriental e do Gentio “vitupério
vitupério”” (v.5)
(v.5) → Ofensa
Ofensa
Que inda bebe o licor do santo Rio: “Do torpe Ismaelita”
Ismaelita” (v.6) → Dos Árabes,
descendentes do Ismael
“Gentio
Gentio”” (v.7)
(v.7) → Os Infiéis
Infiéis
“Que inda bebe o licor do santo Rio:” Rio: ” (v.8)
(v.8) →
Licor significa água – água do rio Ganges, grande rio
da Índia
“ Inclinai ” ”(v.1)
”(v.1) → Imperativo
Inclinai por um pouco a majestade, “ Inclinai por um pouco a majestade majestade”” ”(v.1)
”(v.1) →
Que nesse tenro gesto vos contemplo, Pedido para que D. Sebastião olhe para estes versos e
compreenda o maior à pátria neles existente.
Que já se mostra qual na inteira idade,
Que nesse tenro gesto vos contemplo (v.2(v.2)) →
9 Quando subindo ireis ao eterno templo; O poeta pede a D. Sebastião que deixe, embora por
““Fuas”
Egas” (v.3)
(v.3) → Egas
Dom Moniz
Um Egas e um Dom Fuas, que de (Aio de Afonso Henriques)
Fuas Roupinho (Figura Lendária
Homero do século XII)
12 A cítara par' eles só cobiço; “Doze Pares” (v.5)
(v.5) → Doze Personagens de Chanson
Pois polos Doze Pares dar-vos quero de Roland
Os Doze de Inglaterra e o seu Magriço;
M agriço; “Magriço” (v.6)
(v.6) → Doze cavaleiros portugueses, no
Dou-vos também aquele ilustre Gama, reinado de D. João I, teria ido a Inglaterra combater e
um deles se chamava Magriço
Que para si de Eneias toma a fama. “Gama” (v.7)
(v.7) → Vasco da Gama
“Eneias
Eneias”” (v.8) → Eneias
“Carlos
Carlos”” ”(v.1)
”(v.1) → Carlos Magno, imperador dos
Caronlígios
Caronlígios
Pois se a troco de Carlos, Rei de França, “César ” ”(v.2)
”(v.2) → Caio Júlio César, general e político
Ou de César, quereis igual memória, romano, conquistador de Gália
Vede o primeiro Afonso, cuja lança “ Afonso” (v.3) → D. Afonso Henriques
13 Escura faz qualquer estranha glória; “Deixou
Deixou”” (v.6) → D. João I, vencedor da Batalha de
E aquele que a seu Reino a segurança Aljubarrota
Deixou com a grande e próspera vitória; “ Joane” (v.7) → D. João II
Outro Joane, invicto cavaleiro, “O quarto e quinto Afonsos, e o terceiro.”
terceiro.” (v.6) →
O quarto e quinto Afonsos, e o terceiro. Os reis Afonso III, Afonso IV e Afonso V
Não só nesta estância, como também nas
anteriores, é contrastado cada herói da
“Templo
No templo da suprema Eternidade.”
da Fama Eternidade.” (v.8)
Mas enquanto este tempo passa lento
De regerdes os povos, que o desejam, “Dai vós favor ao novo atrevimento, / Para que
Dai vós favor ao novo atrevimento, estes meus versos vossos sejam ;
;”” (vv.3-4)
(vv.3-4) → D.
18 Para que estes meus versos vossos Sebastião deve concordar com novas conquistas, de
modo a ser possível alcançar de novo a glória e assim
RESUMO
RESU MOS S CL SS
SSIC
ICOS
OS – OS LUSIADAS
O poeta dirige-se ao rei D. Sebastião, através da
apóstrofe, “ poderoso
poderoso rei ”,
”, tecendo-lhe
tecendo-lhe elogios e
considerando-o a garantia da independência
independência nacional e
a esperança do aumento dos cristãos, explicitando,
ainda, que ele é receado pelos mouros e que foi
predestinado por Deus para difundir a fé cristã.
Na estância sete, continua a invocar D. Sebastião,
recorrendo seguidamente à metáfora e à dupla
adjetivação “tenro
“tenro e novo ramo florecente” , que
traduzem a ideia de que o rei é muito jovem, mas que
integra uma dinastia preferida por Cristo, acima de
qualquer outra do Ocidente, mesmo a dos reis de
França
(“cristianíssimos”)
(“cristianíssimos”) ou dos imperadores da Alemanha, sucessores dos Césares, como
evidencia a vitória da batalha de Ourique e a simbologia nacional das cinco chagas de
Cristo.
Prossegue o enaltecimento a D. Sebastião, designando-o de poderoso rei de um império
que é o primeiro que o Sol vê ao nascer e o último do qual se despede, quando se põe,
acrescentando que se espera que o monarca seja o vencedor do Mouro, do Turco e do
gentio que ainda se banha no Ganges.
O poeta pede ao rei que incline o jovem rosto onde já se contempla a majestade da sua
fase adulta, na qual irá subir à glória eterna, e incentiva-o a baixar os olhos da real
bondade, dizendo-lhe que verá que os seus feitos grandiosos de amor pela pátria serão
divulgados em versos harmoniosos.
Dando continuidade à exaltação dos feitos dos portugueses, diz que o rei verá amor da
pátria, não movido pelo dinheiro, mas recompensado pelo reconhecimento da terra onde
nasceu, o engrandecimento dos seus súbditos, podendo julgar se é preferível ser rei do
mundo ou dos portugueses.
Não serão louvados feitos falsos e imaginários como os das poesias estrangeiras, mas sim
façanhas verdadeiras, que excederão as de Rodamonte, Rugeiro e Orlando, mesmo que
fosse verdadeiro, o que superioriza o herói português aos que já tinham sido divulgados e
enaltecidos, colocando-se em destaque o facto de se tratar de um herói real e não
imaginário.
Assim, o poeta dar-lhe-á a narrativa de feitos de personalidades da História de Portugal,
como o valente e ilustre Nuno Álvares Pereira, Egas Moniz, Dom Fuas Roupinho,
desejando apenas a cítara de Homero para um canto condigno. Acrescenta, ainda, que
pelo menos Doze Pares de França lhe oferece os Doze de Inglaterra e Magriço, bem como
o ilustre Vasco da Gama que para si transpôs a fama de Eneias, de Virgílio, o que traduz
a ideia de que o herói português suplantou os heróis das epopeias da Antiguidade
Clássica.
Se o rei quiser igual memória, a troco de Carlos Magno ou de César Augusto terá o ímpar
guerreiro D. Afonso Henriques, D. João I, que possibilitou a independência de Portugal
com a sua vitória na batalha de Aljubarrota, aquando da crise de 1383-85, D. João II,
cavaleiro nunca vencido, e o terceiro, quarto e quinto Afonso, referência explícita, mais
uma vez, ao facto de cantar os reis de Portugal.
O poeta também cantará os heróis que se notabilizaram no Oriente, elevando a bandeira
de Portugal: Duarte Pacheco, os temidos Almeidas, pai e filho, o ilustre Afonso de
Albuquerque, o audaz D. João de Castro e outros que se imortalizaram pelos seus feitos.
Porém, enquanto canta este heróis, não se atreve a cantar o ilustre rei D. Sebastião, mas
incentiva-o a governar o reino, dizendo-lhe que ele dará matéria a um superior canto,
que assombrará o mundo pelos feitos únicos em África e na Ásia.
O mouro receia D. Sebastião e, só de o ver, deixar-se-á subjugar. A intensificar este
elogio, o poeta introduz à referência à mitologia pagã, dizendo que Tétis, deusa do mar,
esposa do Oceano, encantada e a juventude do rei, lhe reservará em dote a posse do
mar, o que sugere a invencibilidade do monarca, relativamente a quaisquer obstáculos.
RESUMO
RESU MOSS CL SS
SSIC
ICOS
OS – OS LUSIADAS
As estâncias 105 e 106 do Canto I constituem o primeiro exemplo das chamadas reflexões
do poeta. De um modo geral, consubstanciam uma reflexão sobre a fragilidade humana,
dividida em três momentos:
Esta reflexão surge a propósito da cilada praticada por Baco para destruir a armada de
Vasco da Gama quando chega a Mombaça. Esta situação particular é, depois,
generalizada, acentuando a fragilidade da condição humana, sujeita a perigos
envolventes.
Nos primeiros quatro versos da estância 106 é evidente um paralelismo de construção
frásica, no qual se destacam os perigos do mar (“tanta
(“tanta tormenta e tanto dano”)
dano ”) e os
perigos da terra (“tanta
(“tanta guerra, tanto engano”).
engano”). A interrogação retórica , que termina a
reflexão, sublinha a impossibilidade
impossibilidade do Homem encontrar porto seguro por ser “um“um bicho
da terra tão pequeno”,
pequeno”, o que mostra a tragicidade inerente à condição humana.
humana.
O sofrimento parece uma inevitabilidade lançada pelo “Céu
“Céu sereno” e
e o Homem encontra-
se à mercê de um destino cruel ao qual não pode escapar.
Não é por acaso que esta reflexão se encontra no canto I quando o herói tem de suportar
ainda o longo e penoso percurso para atingir os seus objetivos, protagonizando um
combate desigual contra os perigos e os obstáculos que o querem impedir de prosseguir.
Mas o seu ideal de heroísmo leva-o
leva-o a ir além do seu estatuto de “bicho
“bicho da terra tão
pequeno” e
e a sua coragem e ousadia afastam a fragilidade da sua condição para assumir o
protagonismo de herói. Tal só testemunharemos nos últimos cantos do poema.
93 Versos; issodesóMelcíades
louva, isso deseja. prezavaque
versos tanto os feitos(poeta
o celebram grandiosos de Aquiles como os
Homero)
Os troféus famosos “Os troféus”
troféus” (v.5)
(v.5) → Monumentos de Homenagem
Homenagem
Temístoeles despertam só de inveja, “de Melcíades”
Melcíades” (v.5)
(v.5) → General Ateniense que
E diz que nada tanto o deleitava venceu os Persas em Maratona
Como a voz que seus feitos celebrava. “Temístoeles
Temístoeles”
” (v.6)
(v.6) → General Ateniense
Às Musas agardeça o nosso Gama “Que ele, nem quem na estirpe seu se chama, /
O muito amor da pátria, que as obriga Calíope não tem por tão amiga” (vv.5-6)
(vv.5-6) →A falta
A dar aos seus, na lira, nome e fama de cultura do povo português determina a
desvalorização da criação artística.
99 De toda a ilustre e bélica fadiga; “Que ele, nem quem na estirpe seu se chama,” chama, ”
Que ele, nem quem na estirpe seu se (v.5) → Nem Vasco da Gama nem nenhum dos seus
(v.5)
chama, familiares
Calíope não tem por tão amiga “Nem as filhas do Tejo, que deixassem”
deixassem” (v.7)
(v.7) →
“ prós[s]uposto
prós[s]uposto” ” (v.3)
(v.3) Desígnio
→
Ninguém a grandes obras sempre o “Das Tágides gentis, e seu respeito.” respeito.” (v.4)
(v.4) O →
pena; Anáfora
Anáfora
“Mavórcios
Mavórcios”” (v.6)
(v.6) → Guerreiros de Marte
“Cánace
Cánace”” (v.7)
(v.7) → Suicidou-se, a conselho do próprio
pai, por ter cometido, incesto com o irmão
“Nũa mão sempre a espada e noutra a pena;”
(v.8) → Simultaneamente escreve e luta
(v.8)
Agora, com pobreza avorrecida, “ Agora, com pobreza avorrecida,/ Por hospícios
Por hospícios alheios degradado; alheios degradado;”
degradado;” (vv.1-2) →Esteve no exílio
Agora, da esperança já adquirida, (fruto também da sua pobreza)
“Por hospícios”
hospícios” (v.2)
(v.2) → Regiões
80 De novo mais que nunca derribado; “ Agora, da esperança já adquirida, / De novo
Agora às costas escapando a vida, mais que nunca derribado;
derribado ;” (vv.3-4) →Qualquer
Que dum fio pendia tão delgado esperança que possa ter tido foi seguida de momentos
Que não menos milagre foi salvar-se de maior dor e abatimento
à beira da morte