Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Poesia trovadoresca
✓ Contextualização histórico-literária
1249 -1250 – conquista definitiva do Algarve aos Mouros, por D. Afonso III;
Idade Média – Alta Idade Média – desde as invasões Bárbaras até ao século XI;
1
Manuel Alegre (Texto inédito, 2014), «Trovadores» in Célia Cameira, Fernanda Palma, Rui Palma,
Português 12º ano-Mensagens, Texto Editores, Texto, 2015.
1
Sebenta Português 12º ano
2
Sebenta Português 12º ano
✓ Cantigas de amigo
a) Variedade do sentimento amoroso
b) confidência amorosa
c) relação com a natureza
d) linguagem, estilo e estrutura
✓ Características:
o donzela apaixonada, saudosa, inocente, ingénua;
o a donzela dirige-se às amigas ou à natureza como confidentes,
exprimindo os seus sentimentos face à ausência do seu amado;
o denominam-se de cantigas de amigo, pois em quase todas as
composições surge a palavra «amigo», com o sentido de
pretendente, namorado ou amante;
o confidentes: a mãe, a irmã, a vizinha, a amiga e a natureza;
o Linguagem, estilo e estrutura:
▪ O refrão é uma forma de paralelismo: repetição de palavras,
versos inteiros conceitos ou construções. Para evitar a
monotonia, utilizavam 3 processos: sinónimos, transposição
de palavras, repetição do conceito mediante a negação do
conceito oposto: nota: há paralelismo perfeito se o número
de estrofes/coblas for par;
▪ Leixa-prem: é a repetição dos segundos versos de um par de
estrofes com os primeiros versos do par seguinte.
▪ Versos de redondilha menor (5) e de redondilha maior (7);
▪ Tenções: cantigas dialogadas;
▪ Cenário: o campo (a fonte, o rio, a montanha, a ermida, as
árvores floridas), o mar e a casa; (a Natureza confidente e
amiga);
▪ Relação entre o homem e a mulher: sentimento amoroso
espontâneo;
▪ Classificação formal: paralelísticas perfeitas ou imperfeitas;
cantigas de refrão e de tensão;
3
Sebenta Português 12º ano
▪ Classificação temática:
• Bailias ou baiadas: no poema alude-se à dança;
• Cantigas de romaria: menciona-se romagem a
santuários;
• Marinhas ou barcarolas: predominam os motivos
marítimos;
• Alvas ou alvoradas: há alusão ao amanhecer;
• Pastorelas: a amiga é uma pastora (são cantigas
mistas de amigo e de amor);
• Outras: conjunto de cantigas que não se enquadram
em nenhuma classificação específica, como as que
narram ofertas de noivado, encontros na fonte, etc.
✓ Cantigas de amor
a) Coita de amor e elogio cortês
✓ Características:
o O trovador apaixonado presta vassalagem amorosa à mulher como
ser superior, a quem chama a sua senhor. Produto da inteligência e
da imaginação, o amor é geralmente fingido, o que caracteriza estas
cantigas como aristocráticas, convencionais e cultas, de ambiente
palaciano.
o A coita de amor consiste num amor não correspondido que causa
sofrimento. A dama era servida numa atitude submissa de vassalo.
A identidade da dama não é revelada. O apaixonado devia passar
provações e fases comparáveis aos ritos de iniciação nos graus de
cavalaria.
o A este tipo de amor corresponde um ideal de mulher: cabelos
loiros, de oiro: sereno e luminoso olhar, a mansidão e a dignidade
do gesto, o riso subtil e discreto.
o Cenário: a corte e o ambiente cortesão; as flores de maio, a brisa da
Primavera e o cantar o rouxinol (a Natureza convencionada);
4
Sebenta Português 12º ano
2
Suspirante, aquele que é tímido, olhando a dama de longe, suspirando e ansiando.
3
Suplicante que já se dirige à donzela, solicitando-lhe atenção para a sua humilde pessoa e para a
correspondência ao seu amor.
4
Namorado, que é ouvido pela amada e a correspondência é quase completa.
5
Amante, que é correspondido espiritual e fisicamente. Nota: na cantiga de amor Lusa, era quase
impossível este nível de amor, pois predominava o amor platónico.
6
Cortesia exagerada para agradar alguém.
7
Respeita o seu valor.
8
Caracteriza-se pela ausência de refrão.
9
Repetição de um vocábulo em dois ou mais lugares da estrofe, incluindo a fiinda. Elucida, ainda, que,
regra geral, o dobre aparecia no primeiro e último verso de cada estrofe, mas podia ocorrer noutros
passos: o importante é que a disposição adotada na primeira cobra/copla se reproduzia, simetricamente,
nas demais.
10
A repetição de uma palavra no interior da mesma estrofe, mas em formas diversas, empregando
«geralmente verbos, em diversos tempos
11
Remate de uma cantiga, constituído por um, dois ou três versos finais (em casos raros, quatro). As
cantigas podem ainda ter duas ou mais findas.
5
Sebenta Português 12º ano
6
Sebenta Português 12º ano
Exercícios
Martim de Ginzo
A do mui bom parecer
mandou lo adufe tanger:
"Louçana, d'amores moir'eu".
Nota: uma moça formosa mandou tocar o adufe (espécie de pandeiro), e não lhe davam descanso:
os que o tocavam e os seus amores. A cantiga seria certamente uma bailia (embora o termo não
seja usado), e concluiria talvez a série das sete composições de Martim de Ginzo (a Santa Cecília,
e de romaria, quase todas) que os cancioneiros transcrevem antes dela e que, no seu conjunto,
parecem funcionar como um único ciclo (de oito cantigas)
7
Sebenta Português 12º ano
A. Lê o seguinte comentário.
12
luz.
13
rosto.
14
Ai Deus que fizeste com que eu a amasse mais do que a mim próprio.
8
Sebenta Português 12º ano
Martim Codax
Translate
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
e ai Deus, se verrá cedo?
9
Sebenta Português 12º ano
Airas Nunes
Bailemos nós já todas três, ai amigas,
sô aquestas avelaneiras frolidas,
e quem for velida, como nós, velidas,
se amigo amar,
5 sô aquestas avelaneiras frolidas
verrá bailar.
NOTAS
aquestas (verso 2) – estas.
avelanas (verso 8) – avelãs. avelaneiras
(verso 2) – árvores cujo fruto é a avelã.
louçana (verso 9) – bonita.
mentr’al nom fazemos (verso 13) –
enquanto não fazemos outra coisa.
so (verso 2) – sob.
so’l que (verso 17) – sob o qual.
velida (verso 3) – formosa.
verrá (verso 6) – virá.
Esta é a "bailia das avelaneiras", uma das mais célebres cantigas de amigo que os Cancioneiros nos
transmitiram. Neste breve comentário chamamos a atenção para o facto de as avelaneiras serem árvores
associadas, em muitas culturas antigas, a ritos nupciais (ou seja, com um valor simbólico semelhante ao das
flores de laranjeira atuais). Chamamos igualmente a atenção do leitor para a (maliciosa) expressão mentr´al
nom fazemos (v. 13).
10
Sebenta Português 12º ano
Nuno Rodrigues de
Candarei
Bem devíades, mia senhor,
de mim cousimento prender;
e pois vo-lo Deus faz haver,
e quantas outras cousas som,
5 em que teedes por razom
de me leixar morrer d'amor
e me nom queredes valer?
E d'al estou de vós peior:
que mi nom queredes creer;
10 e veedes meu sem perder
por vós; e há mui gram sazom,
mia senhor fremosa, que nom
houve de mim nem d'al sabor,
quando vos nom pudi veer.
15 E pois me vos Deus quis mostrar
aqui, direi-vos ũa rem:
se mi vós nom fazedes bem,
por quanto mal por vós levei,
já eu viver nom poderei;
20 que me querrá cedo matar
a coita que mi por vós vem.
Mais venho-vos por Deus rogar
que vos prenda doo por en
de mi, que faç'este mal sem,
25 onde me nunca partirei.
Pero d'al vos preguntarei:
como podedes desamar
quem s'assi por voss'home tem?
11
Sebenta Português 12º ano
Pero da Ponte
Se eu podesse desamar
a quem me sempre desamou
e podess'algum mal buscar
a quem me sempre mal buscou!
5 Assi me vingaria eu,
se eu pudesse coita dar
a quem me sempre coita deu.
Mais sol nom poss'eu enganar
meu coraçom que m'enganou,
10 per quanto mi fez desejar
a quem me nunca desejou.
E por esto nom dórmio eu,
porque nom poss'eu coita dar
a quem me sempre coita deu.
15 Mais rog'a Deus que desampar
a quem m'assi desamparou,
ou que podess'eu destorvar
a quem me sempre destorvou.
E logo dormiria eu,
20 se eu podesse coita dar
a quem me sempre coita deu.
Vel que ousass'en preguntar
a quem me nunca preguntou,
por que me fez em si cuidar,
25 pois ela nunca em mi cuidou;
e por esto lazeiro eu:
porque nom posso coita dar
a quem me sempre coita deu.
12
Sebenta Português 12º ano
13
Sebenta Português 12º ano
Bibliografia
Célia Cameira, Fernanda Palma, Rui Palma, Mensagens, Português 12º ano,
Texto Editores, Texto, 2015.
João Guerra e José Vieira, Aula Viva, Português B- 12º ano, Porto Editora, Porto,
1997.
14