Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Poesia trovadoresca
Cantigas de amigo: Paralelismo e refrão
Paralelismo: uso de versos numa sequência determinada (com refrão), apenas com a
substituição das palavras em posição de rima (reproduzindo o sentido), com a
transposição de palavras ou com a repetição de um conceito.
O uso do refrão completa quase invariavelmente o esquema destas cantigas.
Paralelismo perfeito:
- O número de estrofes (coblas) é par: o primeiro dístico do par emparelhado com o
segundo dístico, com a habitual substituição dos finais versos.
Uma grande parte das cantigas de amigo de tipo paralelístico é composta por dísticos
monórrimos (com uma só rima) seguidos de refrão com rima diferente obedecendo ao
esquema de construção.
Cantigas de amigo:
As Cantigas de amigo são o género de poesia trovadoresca provenientes da Galiza e ao
Norte de Portugal.
O sujeito poético desta composição é quase sempre uma donzela apaixonada e saudosa,
que expressa os seus sentimentos pelo seu amado (“o amigo”). A jovem, que pertence ao
povo, encontra-se num cenário natural ou em casa e, frequentemente dirige-se á mãe, às
amigas ou a própria natureza.
Relações com a Natureza:
- Representações dos sentimentos: a natureza representa frequentemente os sentimentos
da donzela, no sentido em que o cenário natural está em sintonia com o seu estado de
alma. Por exemplo, a alegria e a juventude estão ligadas com espaços verdes e
primaveris; a inquietação esta ligada com a agitação das ondas e a tristeza do amor
não correspondido, nas fontes secas.
Cenário:
- O cenário do encontro amoroso é a natureza. A paisagem verdejante dos prados ou das
árvores em torno de uma fonte não só saliente a beleza da jovem como cria um
ambiente que convida ao amor. Elementos naturais: o cervo (veado), pela elegância e
vigor, representa amigo; a água da fonte é a referência a donzela, enquanto lava o
cabelo, o que confere sensualidade.
Interlocutores da donzela:
- Os elementos naturais são aqui os seus interlocutores. Por exemplo, as ondas do mar
ou as flores onde expressa um lamento ou para pedir informações acerca do paradeiro
ou estado do amigo.
Confidência amorosa:
- A donzela pede conselhos ou ajuda, para exprimir a sua alegria ou, a tristeza e
ansiedade.
- Amigas: partilha com elas a sua paixão, a alegria do amor ou a tristeza.
- Mãe: sendo uma mulher experiente e próxima da filha, ouve os segredos da filha e
chega mesmo a aconselhá-la. Noutras cantigas, a mãe assume o papel de protetora, e
funciona como obstáculo ao amor.
- Natureza: entidade a quem a donzela confessa o seu amor. Os elementos naturais são
personificados, sendo que se comportam como ouvintes dos segredos da donzela, e por
vezes, entram em diálogo.
Variedade do sentimento amoroso:
O amor que a donzela exprime pelo se “amigo” pode assumir várias facetas e despertar
diferentes efeitos na personagem feminina.
-Felicidade amorosa: a donzela sente-se feliz no amor e pretende celebrar a sua alegria,
dançando sedutoramente perante o seu amigo. Noutros casos, depois de uma
“separação”, a donzela expressa a sua alegria quando o amado regressa. Ela sente o
prazer de amar e ser amada e acredita na firmeza da relação e nos sentimentos do
amigo.
-Saudade: na ausência do amigo, a jovem sente saudades, que a inquietam. O amado
pode ter partido para a guerra. Não raro, a demora do amado ou o comportamento deste
são responsáveis pelo ciúme que a atormenta.
-Ansiedade: Quando o amigo está ausente, a personagem feminina fica ansiosa e
preocupada.
-Sofrimento, ciúme e desespero: se a donzela suspeita de que o amigo já não a ama ou
que o amor foi atraiçoado, cai numa angústia que lhe provoca ciúme ou outro tipo de
sofrimento. Chega a um estado de enfurecimento e revela o intento de exercer uma
retaliação.
Cantigas de amor:
As cantigas de amor são composições poéticas, em que a voz masculina, o trovador,
canta a beleza e elogia as qualidades de uma senhora de condição superior, a quem
chama a sua “senhor” e a quem presta vassalagem amorosa. A indiferença da mulher
amada ou a incapacidade do trovador em expressar o seu amor provoca-lhe sofrimento,
a “coita de amor”.
Elogio cortês:
Idealização da mulher: é idealizada e elogiada em termos superlativos pela sua beleza e
pela sua elevação moral. Contudo, não é descrita fisicamente.
Vassalagem amorosa: o trovador exprime a sua devoção pela dama e estabelece com ela
uma ligação que relação de vassalagem do feudalismo: coloca-se numa posição
subordinada e serve-a com diligência e a fidelidade com que um vassalo serve o
suberano.
Amor cortês é feito por códigos e formas de comportamentos que determinam a relação
entre homem que ama e a mulher objeto desse sentimento. O amador sabe que esse
amor nunca será consumado.
Representação do amor: Convencionalismo. A “mesura” é o conjunto de regras de
sigilo, de discrição e de contenção que o amador tem de cumprir ao dirigir-se à dama e
na relação que com ela estabelece.
Coita de amor:
Como o sujeito poético não é correspondido no seu sentimento ou tem indiferença da
amada, as cantigas têm frequentemente a forma de um lamento ou de uma súplica
triste.
A “coita” ou sofrimento amoroso é insustentável, e o amador afirma que o seu amor o
levará à loucura “ensandecer” ou, em último grau, à morte. Temos também aqui
presente em alguns poemas a sua dor.
O sentimento é marcado pela tensão entre dois opostos e pelo contraste: o amor traz-lhe
“dor”, mas também “prazer”; e o eu poético tanta deseja “morrer” como “viver”.
Ambiente: ambiente cortesão
Cantigas de escárnio e maldizer
As cantigas de escárnio e maldizer são cantigas satíricas, nas quais os trovadores e
jograis criticam personagens, acontecimentos e situações de forma explícita ou através
de palavras com segundo significado.
O cómico associa-se à crítica social, tornando mais divertida, mordaz e incisiva.
Coabitam neste universo a caricatura e a construção de tipos representativos da
sociedade, mas também a crítica individual e subjetiva.
A paródia do amor cortês:
- Manual
A crítica de costumes:
- Os aspetos circunstanciais e anedóticos da vida da corte e da boémia jogralesca.
- As polémicas entre trovadores e jograis, a incompetência na arte de trovar.
- O problema social da nobreza empobrecida e da sua miséria envergonhada,
sobretudo a dos infanções.
- Associado a esta falta de dinheiro estão o honorário dos jograis que não são pagos,
ou são com roupas e alimentos.
- A decadência generalizada dos costumes (a vida desregrada do clero, a prostituição,
a exploração dos mais fracos, os casamentos por conveniência…)
Traços comuns:
- Poder transformador: na natureza, nos homens e no sujeito poético (toda gente admira
a sua beleza)
- Construção plástica da mulher amada: recursos expressivos, jogo de palavras.
- Branco (pureza, virgindade), Vermelho (sensualidade e alegria), Dourado (valor e
perfeição), sobressai o verde.
Página 199- Inovação do cânone literário
A representação da Natureza
Descrição de uma paisagem amena, verdejante, colorida, aprazável, bucólica, idílica
(locus amoenus), conducente ao amor e à harmonia.
Natureza dependente das qualidades femininas exaltadas (poder transformador da
mulher e da beleza) - idealização da mulher amada, que aparece intrinsecamente
relacionada com locus amoenus
A mulher é o que há de mais belo e perfeito na Natureza. A natureza perde a beleza sem
a amada, causando ao sujeito poético tristeza e sofrimento, nada na Natureza tem
significado.
Em alguns poemas, esta surge como espaço de diálogo (personificada) e de projeção
subjetiva do poeta (reflexo do seu estado de alma).
Confronto entre a amenidade da natureza e o distúrbio provocado pela ausência
feminina: expressão de emoções, determinadas pelo sentimento amorosa, conducente á
introdução de laivos de sofrimento e nostalgia no tópico clássico de locus amoenus.
A experiência amorosa e reflexão sobre o amor
O sujeito poético segue frequentemente um percurso que se indica com a ilusão (pois
acredita no amor), é alimentado pela esperança, mas que termina em desilusão,
sofrimento e descrença.
Nestes poemas, o poeta procura compreender o sentimento amoroso e melhor modo de
viver.
Amor sensual:
- Idealização da ideia de desejo e de prazer, associado a uma pulsão de prazer terrena e à
afirmação do mundo sensível.
- O desejo e a ânsia de prazer, que colidem com os valores sociais e religiosos,
despertam no poeta um sentimento de culpa.
Amor espiritual:
- Sentimento idealizado, influenciado pela poesia de Petrarca; não é concretizado e
assenta na contemplação da mulher amada.
- A mulher é uma figura angelical, inatingível, que corresponde à convecção petrarquista
de beleza (louca, pele clara, de olhos claros) e a quem são atribuídas virtudes morais e
espirituais.
A conciliação entre os dois tipos de Amor não é possível, o que desencadeia no poeta
um novo tormento e uma nova angústia.
Ironia, mostra o sofrimento e a tentativa de consenso com a tristeza.
Perde as esperanças, encontra-se desiludido, frustrado e desmotivado
O sujeito poético consegue aprender a aceitar a saudade e a ausência, mas também a
suavizar as angústias e os tormentos amorosos.
A reflexão sobre a vida pessoal
O sujeito lírico apresenta-se como vítima do Destino implacável, ao que acresce a
desilusão amorosa e os erros por si cometidos no passado.
Pressupostos da lírica camoniana
- Destino (fado ou fortuna) é implacável e injusto.
-Predestinação da infelicidade persegue o sujeito poético.
- A sua conduta é ímpeto amorosa agudizam esse fado.
- O amor é uma fatalidade que escraviza e culpabiliza.
- O desconcerto no mundo é individual e subjetivo.
- Confronto do ideal com a experiência conduz ao desengano, conhecimento, desilusão.
Consequências para a vida do poeta
- Experiência passada condiciona a atitude presente.
- Contentamento é uma mera ilusão.
- Esperança conduz ao desconcerto e frustração pessoais.
- Saudade de um bem/paraíso perdido.
- Desengano amoroso- fonte de deceção.
- Autoculpabilização, o pessimismo, o fatalismo e a angústia existencial.
- Revolta e o desejo de vingança contra o destino, amor e o próprio poeta.
Mudança
A temática da mudança
Associada à ideia de tempo, que desencadeia transformações a que o homem está
sujeito: envelhecer, perder a saúde, a confiança e o amor.
Desconcerto está articulado com a mudança. A desordem do mundo e a desarmonia do
eu resultam frequentemente das alterações que neles se operam.
O que muda com a mudança
Traz-lhe angústia, pois a transformação dá-se sempre para um estado pior ao anterior.
Natureza também se transforma, nas estações, mostram que a sua regeneração é cíclica
e o rejuvenescimento realiza-se sempre, contrariando a situação humana, a mudança é
linear, e os tempos passados de contentamento e harmonia não regressam no presente
A vivência da mudança
Consciência da mudança torna-se angustiante- sujeito poético reconhece que um bem
passado tornar-se-á um mal presente. Dos tempos de contentamento ficam apenas as
saudades, vividas de forma desconcertante, pois o passado não se recupera.
Ansiedade, insatisfação, insegurança, descrença e pessimismo: se nada parece certo,
temos a certeza de que a mudança virá.
Estado de tumulto e de tensão interior- deixou de se enganar por uma ideia de
felicidade (ilusória).
Este tema cruza-se com o amor, o tempo encarregou-se de converter o “canto” de
satisfação em “choro” de alegrias amorosas passadas, porque o amor lhe trouxe
desilusão e/ou falhou-lhe.
Reflexões
O poeta, contrariado o entusiasmo com que o homem do Renascimento encarava a sua
capacidade de realização e de superação dos limites, revela desilusão, amargura e
revolta.
Salienta os perigos que os portugueses enfrentarão durante a viagem, provenientes de
enganos, ciladas e traições, bem como de guerras e tempestades.
Reflete sobre a insegurança e a fragilidade da vida/condição humana.
As armas e as letras (Canto 5, estrofes 92 a 100)
Acontecimento motivador
O fim da narrativa de Vasco da Gama ao rei de Melinde sobre a História de Portugal e a
sua própria viagem.
Reflexões
O poeta mostra como o canto dos heróis e dos seus feitos incita à realização de novos
feitos heroicos e exemplifica com o apreço que os antigos heróis gregos e romanos
tinham pelos seus poetas e com a importância que atribuíam à cultura e à literatura,
conciliando as armas e o saber.
Lamenta a falta de interesse dos seus contemporâneos pelas artes e pelas letras,
lembrando a necessidade de imortalização dos feitos dos portugueses pela arte.
Induz o amor à pátria, o seu propósito de dar continuidade ao canto dos feitos e dos
heróis portugueses, e tentando alertar para a necessidade de se alterar a postura do reino
relativamente à cultura e à instrução dos seus súbitos, pois só assim é que poderá haver
uma autêntica evolução.