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Resumos português: exame

Poesia trovadoresca
Cantigas de amigo: Paralelismo e refrão
Paralelismo: uso de versos numa sequência determinada (com refrão), apenas com a
substituição das palavras em posição de rima (reproduzindo o sentido), com a
transposição de palavras ou com a repetição de um conceito.
O uso do refrão completa quase invariavelmente o esquema destas cantigas.
Paralelismo perfeito:
- O número de estrofes (coblas) é par: o primeiro dístico do par emparelhado com o
segundo dístico, com a habitual substituição dos finais versos.
Uma grande parte das cantigas de amigo de tipo paralelístico é composta por dísticos
monórrimos (com uma só rima) seguidos de refrão com rima diferente obedecendo ao
esquema de construção.
Cantigas de amigo:
As Cantigas de amigo são o género de poesia trovadoresca provenientes da Galiza e ao
Norte de Portugal.
O sujeito poético desta composição é quase sempre uma donzela apaixonada e saudosa,
que expressa os seus sentimentos pelo seu amado (“o amigo”). A jovem, que pertence ao
povo, encontra-se num cenário natural ou em casa e, frequentemente dirige-se á mãe, às
amigas ou a própria natureza.
Relações com a Natureza:
- Representações dos sentimentos: a natureza representa frequentemente os sentimentos
da donzela, no sentido em que o cenário natural está em sintonia com o seu estado de
alma. Por exemplo, a alegria e a juventude estão ligadas com espaços verdes e
primaveris; a inquietação esta ligada com a agitação das ondas e a tristeza do amor
não correspondido, nas fontes secas.
Cenário:
- O cenário do encontro amoroso é a natureza. A paisagem verdejante dos prados ou das
árvores em torno de uma fonte não só saliente a beleza da jovem como cria um
ambiente que convida ao amor. Elementos naturais: o cervo (veado), pela elegância e
vigor, representa amigo; a água da fonte é a referência a donzela, enquanto lava o
cabelo, o que confere sensualidade.
Interlocutores da donzela:
- Os elementos naturais são aqui os seus interlocutores. Por exemplo, as ondas do mar
ou as flores onde expressa um lamento ou para pedir informações acerca do paradeiro
ou estado do amigo.
Confidência amorosa:
- A donzela pede conselhos ou ajuda, para exprimir a sua alegria ou, a tristeza e
ansiedade.
- Amigas: partilha com elas a sua paixão, a alegria do amor ou a tristeza.
- Mãe: sendo uma mulher experiente e próxima da filha, ouve os segredos da filha e
chega mesmo a aconselhá-la. Noutras cantigas, a mãe assume o papel de protetora, e
funciona como obstáculo ao amor.
- Natureza: entidade a quem a donzela confessa o seu amor. Os elementos naturais são
personificados, sendo que se comportam como ouvintes dos segredos da donzela, e por
vezes, entram em diálogo.
Variedade do sentimento amoroso:
O amor que a donzela exprime pelo se “amigo” pode assumir várias facetas e despertar
diferentes efeitos na personagem feminina.
-Felicidade amorosa: a donzela sente-se feliz no amor e pretende celebrar a sua alegria,
dançando sedutoramente perante o seu amigo. Noutros casos, depois de uma
“separação”, a donzela expressa a sua alegria quando o amado regressa. Ela sente o
prazer de amar e ser amada e acredita na firmeza da relação e nos sentimentos do
amigo.
-Saudade: na ausência do amigo, a jovem sente saudades, que a inquietam. O amado
pode ter partido para a guerra. Não raro, a demora do amado ou o comportamento deste
são responsáveis pelo ciúme que a atormenta.
-Ansiedade: Quando o amigo está ausente, a personagem feminina fica ansiosa e
preocupada.
-Sofrimento, ciúme e desespero: se a donzela suspeita de que o amigo já não a ama ou
que o amor foi atraiçoado, cai numa angústia que lhe provoca ciúme ou outro tipo de
sofrimento. Chega a um estado de enfurecimento e revela o intento de exercer uma
retaliação.
Cantigas de amor:
As cantigas de amor são composições poéticas, em que a voz masculina, o trovador,
canta a beleza e elogia as qualidades de uma senhora de condição superior, a quem
chama a sua “senhor” e a quem presta vassalagem amorosa. A indiferença da mulher
amada ou a incapacidade do trovador em expressar o seu amor provoca-lhe sofrimento,
a “coita de amor”.

Elogio cortês:
Idealização da mulher: é idealizada e elogiada em termos superlativos pela sua beleza e
pela sua elevação moral. Contudo, não é descrita fisicamente.
Vassalagem amorosa: o trovador exprime a sua devoção pela dama e estabelece com ela
uma ligação que relação de vassalagem do feudalismo: coloca-se numa posição
subordinada e serve-a com diligência e a fidelidade com que um vassalo serve o
suberano.
Amor cortês é feito por códigos e formas de comportamentos que determinam a relação
entre homem que ama e a mulher objeto desse sentimento. O amador sabe que esse
amor nunca será consumado.
Representação do amor: Convencionalismo. A “mesura” é o conjunto de regras de
sigilo, de discrição e de contenção que o amador tem de cumprir ao dirigir-se à dama e
na relação que com ela estabelece.
Coita de amor:
Como o sujeito poético não é correspondido no seu sentimento ou tem indiferença da
amada, as cantigas têm frequentemente a forma de um lamento ou de uma súplica
triste.
A “coita” ou sofrimento amoroso é insustentável, e o amador afirma que o seu amor o
levará à loucura “ensandecer” ou, em último grau, à morte. Temos também aqui
presente em alguns poemas a sua dor.
O sentimento é marcado pela tensão entre dois opostos e pelo contraste: o amor traz-lhe
“dor”, mas também “prazer”; e o eu poético tanta deseja “morrer” como “viver”.
Ambiente: ambiente cortesão
Cantigas de escárnio e maldizer
As cantigas de escárnio e maldizer são cantigas satíricas, nas quais os trovadores e
jograis criticam personagens, acontecimentos e situações de forma explícita ou através
de palavras com segundo significado.
O cómico associa-se à crítica social, tornando mais divertida, mordaz e incisiva.
Coabitam neste universo a caricatura e a construção de tipos representativos da
sociedade, mas também a crítica individual e subjetiva.
A paródia do amor cortês:
- Manual
A crítica de costumes:
- Os aspetos circunstanciais e anedóticos da vida da corte e da boémia jogralesca.
- As polémicas entre trovadores e jograis, a incompetência na arte de trovar.
- O problema social da nobreza empobrecida e da sua miséria envergonhada,
sobretudo a dos infanções.
- Associado a esta falta de dinheiro estão o honorário dos jograis que não são pagos,
ou são com roupas e alimentos.
- A decadência generalizada dos costumes (a vida desregrada do clero, a prostituição,
a exploração dos mais fracos, os casamentos por conveniência…)

Fernão Lopes, Crónica de D. João 1


Capítulo 11 resumo:
1ª parte – Apelo/Convocação
O Pajem Mestre grita pela cidade que querem matar D. João, informando e incentivando
o povo (com boato que lança), dando, início a um plano definido, cujo objetivo é a
criação de uma atmosfera favorável à aclamação daquele rei de Portugal.
O plano/estratégia foi feito pelo Mestre e por Álvaro Pais, com o Pajem, em que se
intensifica a oposição popular da Rainha e ao conde Andeiro e converter em revolta a
favor dos intuitos de D. João.
Não restam dúvidas que o plano foi combinado, com se comprova pela expressão
“segundo já era percebido”. O Pajem estava à porta aguardando que o instruíssem a
iniciar o plano e, quando recebe a ordem, parte a cavalo, percorrendo as ruas e gritando
que acudam ao Mestre.
Conclusão: anunciar o perigo que D. João corre, para levar a população de Lisboa a
apoiá-lo.
2ª parte- Movimento e concentração
Ao escutarem os gritos, o povo sai à rua, de seguida as pessoas começaram a dialogar
umas com as outras ficando revoltadas com o boato lançado, e começam a pegar em
armas, para irem acudir o Mestre.
Álvaro Pais, desempenha o seu papel: junta-se aos seus aliados e ao Pajem e cavalga
pela rua, gritando ao povo que acuda ao Mestre.
O povo concentra-se numa grande multidão não cabendo pelas ruas principais e
atravessando lugares escondidos, desejando cada um ser o primeiro a chegar ao Paço.
O povo questiona-se quem desejará matar o Mestre e várias vozes anónimas apontam
para o conde João Fernandes, por mandado da Rainha D. Leonor de Teles. O clima de
agitação e excitação do povo foi preparado cuidadosamente e estava assim atingido o
ponto pretendido.
3ª parte- Manifestação:
O povo, unido em defesa do Mestre e com sentimento de vingança, inquieta-se e
enfurece-se diante das portas cerradas do Paço.
Perante afirmações de que o Mestre tinha sido morto, são sugeridas diversas ações
tendentes a forçar a entrada no Paço: arrombar as portas cerradas, lançar fogo ao
edifício para queimar o conde e a Rainha, escalar os muros com escadas.
As mulheres transportam feixes de lenha e carqueja para queimar os muros dos Paços.
Dos Paços, vários dizem que o Mestre está vivo e conde Andeiro morto, mas o povo não
acredita e quer provas, isto é, vê-lo. Receando que o povo, devido à sua fúria e ao
desejo de vingança, invada o palácio, podem para que D. João se mostre perante o povo
descontrolado.
4ª parte- Aclamação:
O Mestre mostra-se pela janela e fala ao povo, que fica extramente
emocionado/perturbado ao constatar que está efetivamente vivo e o conde morto,
quando muitos acreditavam ao contrário. Essa fala tem como finalidade tranquilizar o
povo e dar-lhe esperança, mostrando-se aliado “Amigos”.
É apresentado uma imagem negativa de D. Leonor de Teles, vista popularmente com
infiel e traidora. Chega a ser acusada da morte de D. Fernando. Se a população tivesse
entrado no Paço, teria assassinado a Rainha.
Caracterização das personagens:
Pajem:
- Obediente e convincente, pois obedece à estratégia delineada pelo Mestre e pelas suas
palavras convictas, convence o povo de que matam o mestre.
Álvaro Pais:
- Inteligente, visto que aproveitou o ódio do povo em relação à rainha, ambicioso e
manipulador, pois foi astuto e usou uma estratégia para atingir os seus fins.
Mestre de Avis:
- Querido para o povo, que o apoia e vê como garantia da independência nacional-
- Humano, ponderado, refletivo e dialogante, não obstante a impulsividade revelada.
- Protegido pelas identidades divinas.
- Carismático e populista
D. Leonor de Teles:
- Traidora e infiel
Personagem coletiva:
O povo:
- Curioso, indignado, vingativo e agressivo
- Determinado e preocupado
- Empenhado na defesa do Mestre
- Unido: age como um todo e acorre aos Paços para acudir ao Mestre
- Agitado e desorientado, próprio de quem age sem pensar
- Desconfiado e poderoso
- Aliviado e alegre
Estilo de Fernão Lopes:
- Alternância entre o discurso direto e indireto ao longo da narração, conferindo
dramatismo/vivacidade/dinamismo e veracidade ao que é narrado, uma vez que através
do discurso direto temos acesso às “falas reiais” dos intervenientes.
Capítulo 148 resumo:
1ª parágrafo: os mantimentos existentes gastavam-se mais depressa, tornando-se
escassos, devido ao elevado número de habitantes, porque se recolheu muita gente lá.
Durante a noite, os cercados embarcavam em batéis em busca de trigo atravessado de
noite, clandestinamente para as partes do Ribatejo para abastecer a cidade.
2ª parágrafo: os da cidade, logo que ouviam os sinos tocar saíam para socorrer as galés.
Esta recolha de mantimentos obedece a um plano prévio, dado que parece existir uma
partilha de tarefas e funções distribuídas: há quem recolha mantimentos que já estão
prontos; há sinais combinados para alertar para os perigos, nomeadamente os
castelhanos.
3ª parágrafo: com o aumento da fome na cidade, as esmolas para os pobres deixaram de
existir pelo que houve a necessidade de expulsar os deficientes, os incapazes para a
defesa, as prostitutas e os judeus, pois consumiram os mantimentos aos defensores.
4ª parágrafo: Inicialmente, os castelhanos receberam bem as pessoas expulsas da cidade,
mas, quando perceberam que Lisboa beneficiava com isso, mandaram-nas regressar.
Todos que se recusassem a partir seriam açoitados a retornar para a cidade. O seu
desespero era total, já que não eram acolhidos de volta, já que preferiam ser prisioneiros
dos castelhanos do que morrer à fome.
Resistência da população: apesar de famintos e esgotados, as pessoas são solidárias
umas com as outras e corajosas contra os castelhanos, continuando a manifestar uma
identidade coletiva que as une num propósito comum.

Capítulo 148- 2ªparte:


Fome da população- carência de pão e carne: na cidade já não havia trigo e o que havia
era caro, dada a sua escassez. As pessoas estavam a sofrer e a viver maus tempos,
trocando alimentos essenciais por alimentos prejudiciais. O povo é comparado a
galinhas, pois tal como as galinhas esgravatam a terra à procura de milho, também as
pessoas, levadas pelo desespero da fome, remexiam a terra em busca de algum, grão
perdido.
a) O drama dos que vivem:
- A morte
- Os peditórios: as crianças mendigam pela cidade, pedindo comida
- A falta de leite das mães
b) O drama dos que morrem:
- A morte provocada pela ingestão de determinados alimentos
- A morte provada pela fome
Capítulo 148- 3ª parte:
Resistência da população: o patriotismo e a solidariedade da população- apesar a
situação extrema de penúria e de desespero, do ambiente de tristeza e de conflitos
ocasionais banais, sempre que os sinos repicam, todos se aprestam para enfrentar o
inimigo castelhano; por outro lado, vemos que os povos se consolam.
A população reza, pedindo a Deus que a ajude, mas, vendo que as suas preces não são
atendidas e que a sua dor é cada vez maior, chega a pedir a morte.
Marcas do estilo de Fernão Lopes:
- O sentido coloquial
- Uso da segunda pessoa do plural: “ouvintes”
- Uso da interrogação retórica
- Uso da exclamação

Farsa de Inês Pereira, Gil Vicente


Sátira: criticam os costumes e comportamentos típicos da sociedade recorrendo à
ironia, caricatura, cómico e caracterização direta e indireta. Função: corrigir a ação da
sociedade.
Representações do quotidiano:
- O estatuto da mulher (representado por Inês Pereira):
 A ocupação da mulher solteira em tarefas domésticas.
 A falta de liberdade da rapariga solteira, confinada à casa da mãe e a viver sob o
jugo desta.
 O casamento como meio de sobrevivência e de fuga à submissão da mãe.
 A submissão da mulher casada ao marido e a sua clausura em casa: casamento
com o Escudeiro.
- A prática religiosa: ida à missa
- O hábito de recorrer a casamenteiros: Lianor Vaz e os judeus.
- A tradição da cerimónia do casamento, seguida de festa
- A desconsideração da vida popular: a simplicidade e a honestidade de Pero Marques.
- A decadência da nobreza que procurava ascender economicamente através do
casamento e buscava o prestígio perdido na luta contra os mouros: o Escudeiro.
- A devassidão do clero: o “ataque” de que Lianor Vaz foi vítima e o Ermitão que seduz
Inês; a corrupção moral de mulheres que se deixavam seduzir por elementos do clero:
Lianor Vaz e Inês
- O adultério: a traição de Inês com o Ermitão
Dimensão satírica da Farsa de Inês Pereira
Alvos da crítica da Farsa de Inês Pereira:
Jovens casadoiras: a sonhadora Inês vê o casamento como meio de ganhar
independência e de ascender socialmente.
Alcoviteiro: são materialistas e fazem do sacramento do matrimónio um negócio, sendo
que, é o dinheiro que move o que irão receber.
Figuras religiosas: as figuras religiosas destacam-se por serem devassas e por não
cumprirem as suas obrigações. Tanto o clérigo que terá tentado seduzir Lianor como o
Ermitão quebram os seus votos.
Rústicos: Pero Marques representa o rústico ingénuo, que não está preparado para as
manhas do meio urbano e fica exposto ao engano e ao ridículo.
Escudeiros: Brás da Mata, revela-se dissimulado e hipócrita, fazendo-se de homem
elegante, mas é um pelintra e um cobarde que trata com desdém os de condição social
inferior.
Estratégicas de sátiras: (pág.173 tipos de cómico)
- Personagens-tipo: representam cada uma práticas criticáveis de um grupo social.
- Caricatura: representação exagerada dos traços de uma personagem.
- Comicidade, ironia, sarcasmo e Diálogo
Caracterização das personagens:
- Páginas 165,166, 167

Rimas, Luís de Camões


Cronologia: renascimento, humanismo e classicismo
A representação da amada
A obra retrata dois tipos de mulheres. A primeira é realista e aparece em algumas
redondilhas. A segunda é petrarquista e esta presente, maioritariamente, nos sonetos.
Medida velha:
- Corporizada, sensual e luminosa
- Beleza concreta e ardente
- Sedutora e voluptuosa
- Acessível e recetiva ao amor
- Alegre, apaixonada, lutadora
-Descrita em quadros do quotidiano, como a fonte, a Natureza.
Medida nova:
- Retrato estereotipado e idealizado: pele, cabelo e olhos claros
- Equilibrada, alia a beleza exterior à interior (discreta)
- Celeste, pura e espiritual
- Inacessível ao amador
- Descrita em ausência, existe na memória do eu em sofrimento

Traços comuns:
- Poder transformador: na natureza, nos homens e no sujeito poético (toda gente admira
a sua beleza)
- Construção plástica da mulher amada: recursos expressivos, jogo de palavras.
- Branco (pureza, virgindade), Vermelho (sensualidade e alegria), Dourado (valor e
perfeição), sobressai o verde.
Página 199- Inovação do cânone literário
A representação da Natureza
Descrição de uma paisagem amena, verdejante, colorida, aprazável, bucólica, idílica
(locus amoenus), conducente ao amor e à harmonia.
Natureza dependente das qualidades femininas exaltadas (poder transformador da
mulher e da beleza) - idealização da mulher amada, que aparece intrinsecamente
relacionada com locus amoenus
A mulher é o que há de mais belo e perfeito na Natureza. A natureza perde a beleza sem
a amada, causando ao sujeito poético tristeza e sofrimento, nada na Natureza tem
significado.
Em alguns poemas, esta surge como espaço de diálogo (personificada) e de projeção
subjetiva do poeta (reflexo do seu estado de alma).
Confronto entre a amenidade da natureza e o distúrbio provocado pela ausência
feminina: expressão de emoções, determinadas pelo sentimento amorosa, conducente á
introdução de laivos de sofrimento e nostalgia no tópico clássico de locus amoenus.
A experiência amorosa e reflexão sobre o amor
O sujeito poético segue frequentemente um percurso que se indica com a ilusão (pois
acredita no amor), é alimentado pela esperança, mas que termina em desilusão,
sofrimento e descrença.
Nestes poemas, o poeta procura compreender o sentimento amoroso e melhor modo de
viver.
Amor sensual:
- Idealização da ideia de desejo e de prazer, associado a uma pulsão de prazer terrena e à
afirmação do mundo sensível.
- O desejo e a ânsia de prazer, que colidem com os valores sociais e religiosos,
despertam no poeta um sentimento de culpa.

Amor espiritual:
- Sentimento idealizado, influenciado pela poesia de Petrarca; não é concretizado e
assenta na contemplação da mulher amada.
- A mulher é uma figura angelical, inatingível, que corresponde à convecção petrarquista
de beleza (louca, pele clara, de olhos claros) e a quem são atribuídas virtudes morais e
espirituais.
A conciliação entre os dois tipos de Amor não é possível, o que desencadeia no poeta
um novo tormento e uma nova angústia.
Ironia, mostra o sofrimento e a tentativa de consenso com a tristeza.
Perde as esperanças, encontra-se desiludido, frustrado e desmotivado
O sujeito poético consegue aprender a aceitar a saudade e a ausência, mas também a
suavizar as angústias e os tormentos amorosos.
A reflexão sobre a vida pessoal
O sujeito lírico apresenta-se como vítima do Destino implacável, ao que acresce a
desilusão amorosa e os erros por si cometidos no passado.
Pressupostos da lírica camoniana
- Destino (fado ou fortuna) é implacável e injusto.
-Predestinação da infelicidade persegue o sujeito poético.
- A sua conduta é ímpeto amorosa agudizam esse fado.
- O amor é uma fatalidade que escraviza e culpabiliza.
- O desconcerto no mundo é individual e subjetivo.
- Confronto do ideal com a experiência conduz ao desengano, conhecimento, desilusão.
Consequências para a vida do poeta
- Experiência passada condiciona a atitude presente.
- Contentamento é uma mera ilusão.
- Esperança conduz ao desconcerto e frustração pessoais.
- Saudade de um bem/paraíso perdido.
- Desengano amoroso- fonte de deceção.
- Autoculpabilização, o pessimismo, o fatalismo e a angústia existencial.
- Revolta e o desejo de vingança contra o destino, amor e o próprio poeta.

Mudança
A temática da mudança
Associada à ideia de tempo, que desencadeia transformações a que o homem está
sujeito: envelhecer, perder a saúde, a confiança e o amor.
Desconcerto está articulado com a mudança. A desordem do mundo e a desarmonia do
eu resultam frequentemente das alterações que neles se operam.
O que muda com a mudança
Traz-lhe angústia, pois a transformação dá-se sempre para um estado pior ao anterior.
Natureza também se transforma, nas estações, mostram que a sua regeneração é cíclica
e o rejuvenescimento realiza-se sempre, contrariando a situação humana, a mudança é
linear, e os tempos passados de contentamento e harmonia não regressam no presente
A vivência da mudança
Consciência da mudança torna-se angustiante- sujeito poético reconhece que um bem
passado tornar-se-á um mal presente. Dos tempos de contentamento ficam apenas as
saudades, vividas de forma desconcertante, pois o passado não se recupera.
Ansiedade, insatisfação, insegurança, descrença e pessimismo: se nada parece certo,
temos a certeza de que a mudança virá.
Estado de tumulto e de tensão interior- deixou de se enganar por uma ideia de
felicidade (ilusória).
Este tema cruza-se com o amor, o tempo encarregou-se de converter o “canto” de
satisfação em “choro” de alegrias amorosas passadas, porque o amor lhe trouxe
desilusão e/ou falhou-lhe.

Os Lusíadas, Luís de Camões


Epopeia: poema narrativo extenso e em tom elevado sobre os feitos (históricos ou
ficcionais) dos heróis de um povo. Uma nação procura ver nos poemas épicos as suas
características e traços da sua identidade. As epopeias são frequentemente povoadas por
deuses e outras figuras do domínio do maravilhoso.
Estrutura externa:
- O poema está dividido em dez cantos
- Os cantos são organizados em estâncias (estrofes) de oito versos, ou oitavas, que
apresentam o esquema rimático abababcc
- Os versos são decassílabos heroicos, acentuando a sexta e a décima sílaba.
Estrutura interna:
1. As partes de Os Lusíadas
Os Lusíadas organizam-se em quatro partes:
- Proposição: o poeta apresenta o tema que se propõe tratar- os feitos grandiosos dos
heróis portugueses.
- Invocação: o poeta pede inspiração às suas musas, as Tágides, para compor o poema.
- Dedicatória: o poeta dedica o poema a D. Sebastião e exorta-o a continuar os feitos
grandiosos dos reis portugueses que o antecedem.
- Narração: narra-se a viagem de Gama à Índia, entrecortando o relato com episódios
da História de Portugal, episódios com divindades mitológicas e com reflexões do
poeta.
2. Os planos de Os Lusíadas
- Viagem à Índia: viagem à Índia de Vasco da Gama e dos marinheiros.
- História de Portugal: Vasco da Gama apresenta ao rei de Melinde e que é
complementada pelos episódios que Paulo da Gama relata ao Catual.
- Plano dos deuses: intervenções dos deuses da mitologia romana na ação principal da
epopeia, quer ajudando ou dificultando o percurso para a Índia.
- Reflexões do poeta.
Reflexões do poeta
Surgem em momentos de pausa na narração, quase sempre no final dos cantos.
São momentos estratégicos, em que se tiram conclusões ou se formulam juízos
motivados por circunstâncias ou incidentes, da História de Portugal ou da experiência
pessoal do poeta.
Assumem a forma de um discurso assertivo, num tom marcadamente subjetivo
(exclamações, apóstrofes e interrogações retóricas), apresentando-se como discursos de
moralização e de doutrina acerca do comportamento dos homens e do destino de
Portugal.
A insegurança e a fragilidade humana (Canto 1, estrofes 105 e 106)
Acontecimento motivador
Chegada da armada a Mombaça, depois de enfrentar traições e ameaças várias
inspiradas por Baco e contrariadas pela proteção de Vénus.

Reflexões
O poeta, contrariado o entusiasmo com que o homem do Renascimento encarava a sua
capacidade de realização e de superação dos limites, revela desilusão, amargura e
revolta.
Salienta os perigos que os portugueses enfrentarão durante a viagem, provenientes de
enganos, ciladas e traições, bem como de guerras e tempestades.
Reflete sobre a insegurança e a fragilidade da vida/condição humana.
As armas e as letras (Canto 5, estrofes 92 a 100)
Acontecimento motivador
O fim da narrativa de Vasco da Gama ao rei de Melinde sobre a História de Portugal e a
sua própria viagem.
Reflexões
O poeta mostra como o canto dos heróis e dos seus feitos incita à realização de novos
feitos heroicos e exemplifica com o apreço que os antigos heróis gregos e romanos
tinham pelos seus poetas e com a importância que atribuíam à cultura e à literatura,
conciliando as armas e o saber.
Lamenta a falta de interesse dos seus contemporâneos pelas artes e pelas letras,
lembrando a necessidade de imortalização dos feitos dos portugueses pela arte.
Induz o amor à pátria, o seu propósito de dar continuidade ao canto dos feitos e dos
heróis portugueses, e tentando alertar para a necessidade de se alterar a postura do reino
relativamente à cultura e à instrução dos seus súbitos, pois só assim é que poderá haver
uma autêntica evolução.

Invocação e lamentação do poeta (Canto 7, estrofe 78 a 87)


Acontecimento motivador
A chegada da armada portuguesa a Calecute, onde Paulo da Gama se prepara para falar
de heróis da História da Portugal.
Reflexões
Num discurso autobiográfico, o poeta refere-se à sua vida cheia de adversidades (a
pobreza, os perigos do mar e da terra), lamentando a ingratidão daqueles que tem
cantado em verso e dos nobres portugueses por desprezarem as artes, por não
valorizarem o seu talento. Como consequências dessa ingratidão, outras poetas poderão
inibir-se de cantar os feitos futuros.

O poder corrupto do dinheiro (Canto 8, estrofe 96 a 99)


Acontecimento motivador
As traições sofridas por Vasco da Gama em Calecute (o seu sequestro, do qual é
libertado graças à entrega de valores materiais).
Reflexões
O poeta reflete sobre o poder do dinheiro e enumera os seus efeitos perniciosos: leva à
corrupção e à traição, deturpa o conhecimento e as consciências, condiciona as leis e as
justiças, ocasiona difamações e a tirania.
A ilha dos Amores e a imortalidade (Canto 9, estofes 88 a 95)
Acontecimento motivador
A explicação de Tétis a Vasco da Gama do significado alegórico da Ilha dos Amores.
Reflexões
O poeta adverte quem quer alcançar o estatuto de herói quanto à necessidade de
desprezar a ambição desmedida e a tirania.
Exorta os portugueses à ação, seguindo os seus conselhos: o despertar do estado de
dormência e da ociosidade, o abandono da cobiça e ada tirania, a apologia da justiça e a
luta pela Pátria e pelo Rei.
Lamentações e profecia de futuras glórias nacionais (Canto 10, estrofes 145 a 156)
Acontecimento motivador
A chegada da armada de Vasco da Gama a Portugal.
Reflexões
O poeta lamenta a decadência da Pátria, envolta no “gosto da cobiça” e que não preza o
seu talento artístico, o seu “honesto estudo”, a sua experiência; por isso, manifesta
desalento, cansaço e recusa-se a dar continuidade ao seu canto.
Elogia, contudo, os que são leais ao Rei (os “vassalos excelentes”), símbolos da
excelência do herói coletivo português.
Exorta o rei D. Sebastião a prosseguir no caminho da glorificação do “peito ilustre
lusitano” e a dar matéria a novo canto.
A epopeia revela caráter universal e intemporal pois apresenta-se como:
- Uma obra didática
- Um modelo de valores, um conjunto de normas morais a seguir
- Um texto que critica os vícios da sociedade da época
- Uma proposta de ideal superior de Humanidade

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