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TROVADORISMO

LITERATURA MEDIEVAL

Prof. Mazziotti
O TROVADORISMO
(1189-1434)
O TROVADORISMO corresponde à primeira fase da história
portuguesa – séculos XII a XIV – período de formação de Portugal
como reino independente.

MARCO INICIAL:
CANÇÃO DA RIBEIRINHA, 1189/1198
Autor: Paio Soares de Taveirós
Gênero: Cantigas (poesia) e novelas de cavalaria.
Contexto
Histórico
- Feudalismo em declínio.
- Teocentrismo.
- Poder na mão da Igreja.
Cantiga da Ribeirinha Cantiga da Ribeirinha
(atualizada)

"No mundo nom me sei parelha, No mundo ninguém se assemelha a mim


mentre me for' como me vai, enquanto a minha vida continuar como vai
ca ja moiro por vos – e ai porque morro por ti e ai
mia senhor branca e vermelha, minha senhora de pele alva e faces rosadas,
queredes que vos retraia quereis que eu vos descreva (retrate)
quando vos eu vi em saia! quanto eu vos vi sem manto (saia: roupa íntima)
Mao dia que me levantei, Maldito dia que me levantei
que vos enton nom vi fea! “ que não vos vi feia (ou seja, viu-a mais bela).

E, mia senhor, dês aquel di’, ai! E, minha senhora, desde aquele dia, ai
Me foi a mim mui mal, tudo me foi muito mal
E vós, filha de don Paai e vós, filha de don Pai
Moniz, e bem vos semelha Moniz, e bem vos parece
D’haver eu por vós guarvaia, De ter eu por vós guarvaia (guarvaia: roupas luxuosas)
Pois, eu, mia senhor, d’alfaia pois eu, minha senhora, como mimo (ou prova de amor)
Nunca de vós houve nen hei de vós nunca recebi
Valia d’ua Correa. algo, mesmo que sem valor.
(Paio Soares de Taveirós)
(Paio Soares de Taveirós)
A poesia no período trovadoresco
A poesia não era escrita para ser lida por um leitor solitário. Era
poesia cantada, geralmente acompanhada por um coro e por
instrumentos musicais.

Características das cantigas:


• Língua: galego-português.
• Tradição oral e coletiva.
• Poesia cantada e acompanhada por instrumentos
musicais, colecionada em cancioneiros.
A poesia no período trovadoresco
• Autores: trovadores.
• Gêneros: lírico (cantigas de amor e cantigas de amigo ) e satírico
(cantigas de escárnio e cantigas de maldizer).
Características das CANTIGAS DE AMOR
• Voz lírica masculina (geralmente de boa condição social)
Cantiga de amor
• Poesia mais “palaciana”
• Quanto à temática, o amor é a fonte eterna, devendo ser Senhora minha, desde que vos vi,
leal, embora inatingível e sem recompensa lutei para ocultar esta paixão
• Tratamento dado a mulher: “mia senhor”.
que me tomou inteiro o coração;
• Expressão da vida da corte.
mas não o posso mais e decidi
Convenções do amor cortês: que saibam todos o meu grande amor,
a) a idealização da mulher;
b) vassalagem amorosa; a tristeza que tenho, a imensa dor
c) amor impossível (coita amorosa). que sofro desde o dia em que vos vi.
Já que assim é, eu venho-vos rogar
A beleza da dama enlouquece o trovador e a falta de
correspondência gera a perda do apetite, a insônia e o que queirais pelo menos consentir
tormento de amor. Além disso, a coita amorosa (dor de
amor) pode fazer enlouquecer e mesmo matar o que passe a minha vida a vos servir (...)
enamorado. Afonso Fernandes.
Disponível em: <www.caestamosnos.org>
(adaptado).
Características das CANTIGAS DE AMIGO
• VOZ LÍRICA FEMININA (Procuram mostrar a mulher dialogando com uma
amiga ou com a natureza, sempre preocupada com seu amigo - namorado).
• Tratamento dado ao namorado: amigo.
• Expressão da vida campesina e urbana.
• Realismo: fatos comuns da vida cotidiana.
• Amor realizado ou possível – sofrimento amoroso.
• Simplicidade: pequenos quadros sentimentais.
• Origem popular.
A cantiga de amigo trovadoresca
Com’ousará parecer ante mi
o meu amigo, ai amiga, por Deus,
e com’ousará catar estes meus
olhos se o Deus trouxer per aqui,
pois tam muit’há que nom veo veer
mi e meus olhos e meu parecer?
Com’ousará parecer ante mi, Dom Dinis.
Disponível em: <pt.wikisource.org>. Acesso em: 5 dez. 2012.
CARACTERÍSTICAS DAS CANTIGAS SATÍRICAS

Cantigas de escárnio:
• Indiretas.
• Uso de ironia e do equívoco.
• linguagem de sentido ambíguo

Cantigas de maldizer:
• Diretas, sem equívocos.
• Intenção difamatória.
• Palavrões e xingamentos.
CANTIGA de escárnio
Ai dona fea! Foste-vos queixar Dona fea, nunca vos eu loei
porque vos nunca louv'en meu trobar en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora quero fazer un cantar mais ora já un bom cantar farei
en que vos loarei toda via; en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar: e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha, sandia! dona feo, velha e sandia!

Ai dona fea! Se Deus mi perdon! João Garcia de Guilhade. In: Massaud


Moisés. A literatura portuguesa
E pois havedes tan gran coraçon através dos textos. 29 ed. São Paulo:
que vos loe en esta razon, Cultrix, 2004. p. 35.
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
AS NOVELAS DE CAVALARIA
Nem só de poesia viveu o Trovadorismo. Também floresceu um tipo de
prosa ficcional, as novelas de cavalaria, originárias das canções de
gesta francesa (narrativas de assuntos guerreiros), em que geralmente
havia a presença de heróis cavaleiros que passavam por situações
perigosíssimas para defender o Bem e vencer o Mal.
Sobressai nas novelas a presença do cavaleiro medieval, concebido segundo os padrões da Igreja
Católica (por quem luta): ele é casto, fiel, dedicado, disposto a qualquer sacrifício para
defender a honra cristã.
A origem do cavaleiro-herói das novelas é feudal e nos remete às Cruzadas: ele está diretamente
envolvido na luta em defesa da Europa Ocidental contra sarracenos, eslavos, magiares e
dinamarqueses, inimigos da cristandade.
Geralmente, as novelas de cavalaria não apresentam uma autoria. Elas circulavam pela
Europa como verdadeira propaganda das Cruzadas, para estimular a fé cristã e angariar o
apoio das populações ao movimento.
As novelas eram tidas em alto apreço e foi muito grande a sua influência sobre os hábitos e os
costumes da população da época. As novelas Amadis de Gaula e A Demanda do Santo Graal
foram as histórias mais populares que circulavam entre os portugueses.
EXERCÍCIOS
Questão 1
Assinale a alternativa correta no que se refere às cantigas de amor trovadorescas:

(A) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino lamenta a ausência da mulher amada, que lhe é
indiferente e que, por mais que seja vista por ele como superior, pertence às classes populares.
(B) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino manifesta insistentemente a coita, isto é, o sofrimento de
amor, repleto de impulsos eróticos que lhe laceram o corpo e que conferem aos poemas uma aura
sardônica.
(C) Nas cantigas de amor, o eu lírico feminino manifesta a falta que sente do amigo – isto é, do homem
amado – invocando-o por meio de composições de matriz popular que se caracterizam por
construções paralelísticas.
(D) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino confessa a coita, isto é, o sofrimento amoroso por uma
dama que lhe é inacessível devido à diferença social que existe entre ele e ela.
(E) Nas cantigas de amor, a distância social existente entre o eu lírico masculino e a mulher amada a quem
ele se dirige permite entrever que já grassava na sociedade portuguesa a ascensão social pelo
trabalho.
Questão 2
É correto afirmar sobre o Trovadorismo que:
(A) os poemas são produzidos para serem encenados.
(B) as cantigas de escárnio e maldizer têm temáticas amorosas.
(C) nas cantigas de amigo, o eu lírico é sempre feminino.
(D) as cantigas de amigo têm estrutura poética complicada.
(E) as cantigas de amor são de origem nitidamente popular.
Leia atentamente o texto abaixo:
Com’ousará parecer ante mi
Questão 3
o meu amigo, ai amiga, por Deus,
e com’ousará catar estes meus Sobre o fragmento anterior, pode-se afirmar que pertence a uma
cantiga de:
olhos se o Deus trouxer per aqui,
(A) amor, pois o eu lírico masculino declara a uma amiga o
pois tam muit’há que nom veo veer
sentimento de amor que tem por ela.
mi e meus olhos e meu parecer? (B) amigo, pois o eu lírico feminino expressa a uma amiga a falta
de seu amigo por quem sente amor.
Com’ousará parecer ante mi, Dom
(C) amor, pois o eu lírico é feminino e acha que seu amor não deve
Dinis. voltar para os seus braços.
Disponível em: <pt.wikisource.org>. (D) amigo, pois o eu lírico masculino entende que só Deus pode
Acesso em: 5 dez. 2012. trazer de volta sua amiga, a quem não vê há muito tempo.
(E) amor, pois o eu lírico feminino não consegue enxergar o amor
Vocabulário: que sente por seu amigo.
per: por;
tam: tão;
nom: não;
veer: ver;
mi: mim, me;
parecer: semblante.
Questão 4 Uma característica desse fragmento, também presente em
outras cantigas de amor do Trovadorismo, é:
Texto para as questões 04 e 05.
(A) a certeza de concretização da relação amorosa.
Cantiga de amor (B) a situação de sofrimento do eu lírico.
Senhora minha, desde que vos vi, (C) a coita de amor sentida pela senhora amada.
lutei para ocultar esta paixão (D) a situação de felicidade expressa pelo eu lírico.
que me tomou inteiro o coração; (E) o bem-sucedido intercâmbio amoroso entre pessoas de
mas não o posso mais e decidi camadas distintas da sociedade.
que saibam todos o meu grande amor,
a tristeza que tenho, a imensa dor
que sofro desde o dia em que vos vi.
Já que assim é, eu venho-vos rogar
que queirais pelo menos consentir
que passe a minha vida a vos servir (...)

Afonso Fernandes.
Disponível em: <www.caestamosnos.org> (adaptado).
Questão 5 Observando-se a última estrofe, é possível afirmar que o
Texto para as questões 04 e 05. apaixonado:

Cantiga de amor (A) se sente inseguro quanto aos próprios sentimentos.


(B) se sente confiante em conquistar a mulher amada.
Senhora minha, desde que vos vi, (C) se declara surpreso com o amor que lhe dedica a mulher
lutei para ocultar esta paixão amada.
que me tomou inteiro o coração; (D) possui o claro objetivo de servir sua amada.
mas não o posso mais e decidi (E) conclui que a mulher amada não é tão poderosa quanto
que saibam todos o meu grande amor, parecia a princípio.
a tristeza que tenho, a imensa dor
que sofro desde o dia em que vos vi.
Já que assim é, eu venho-vos rogar
que queirais pelo menos consentir
que passe a minha vida a vos servir (...)
Afonso Fernandes.
Disponível em: <www.caestamosnos.org>
(adaptado).
FIM

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