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Aula 2 – Trovadorismo

CONTEXTO HISTÓRIO
Sua primeira manifestação foi em 1189 foi a Cantiga da Ribeirinha ou Cantiga
da Garvaia, de Paio Soares de Taveirós. Nessa época, vale ressaltar alguns fatores
determinantes na sociedade:

 Sistema Feudal;
 Sociedade agrícola;
 Domínio da Igreja Católica;
 Inicio da consolidação de Portugal como reino independente;
 Inicio do fim da idade média(XII a XV);

Os Trovadores
Os trovadores eram, em geral, artistas de origem nobre, que escreviam e
cantavam as cantigas com o acompanhamento de instrumentos musicais. A reunião
em livro dos manuscritos ficou conhecida como “Cancioneiro”. Ao todo, são três:
Cancioneiro da Biblioteca, Cancioneiro da Ajuda e Cancioneiro da Vaticana.

Os artistas mais famosos são: Dom Duarte, Dom Dinis, Paio Soares de
Taveirós, João Garcia de Guilhade e Aires Nunes.

As produções literárias são chamadas de cantigas trovadorescas, cuja


característica se finda em composições poéticas cantadas e acompanhadas por
instrumentos musicais, dentre eles, viola, lira, harpa, flauta, alaúde e pandeiro.

Entre as cantigas que se destacaram no presente período figuram-se dois


importantes grupos: a cantiga lírica e a cantiga satírica, cujo idioma predominante era
o galego-português.

Cantigas Líricas:

A cantiga lírica, oriunda de Provença, região Sul da França, refletia a estrutura


da sociedade feudal, na qual a vassalagem voltava-se para as relações amorosas, ora
materializadas pelas cantigas de amor em que o falante declara seu amor por uma
dama da corte, expresso pela coita de amor, uma espécie de sofrimento em razão da
impossibilidade da realização amorosa, haja vista a divergência entre as classes
sociais: ela é esposa ou filha de um nobre e ele, um servo. Em virtude dessa não
realização, o sentimento corrobora-se em sofrimento por parte do enunciador,
tornando-se prisioneiro de uma paixão inatingível.

Quanto aos aspectos formais, as cantigas de amor são constituídas de versos


rimados, agrupados geralmente em duas ou três estrofes, dividindo-se em dois tipos:
cantigas de amor de refrão e cantigas de amor de mestria (sem refrão).

Outra modalidade da qual se compõe a cantiga lírica é a de amigo, originária


da Península Ibérica, retratava a vida nos arredores dos palácios, no campo e nas
vilas em formação. Nela o trovador assume o ponto de vista da mulher, apresentando-
se como enunciador feminino, havendo uma igualdade social preconizada pelos pares
envolvidos.

Apesar de ser cantada por uma figura masculina, a voz que prevalece é a
feminina, na qual a figura da mulher não é mais vista sob o plano idealizado, e sim, no
concreto. A palavra ‘amigo’ nestas cantigas tem o significado de namorado. A
temática gira em torno da saudade ligada à vida cotidiana, relacionada a um amigo
que partiu para a guerra, ao ciúme, à indignação, à vaidade, aos encontros fortuitos,
biles e festas.

No que se refere aos aspectos formais, apresentam uma linguagem e estrutura


mais simples quando comparada às cantigas de amor. Muitas apresentam diálogos,
tendo Deus e os elementos da natureza como receptores da enunciação. Troca-se a
refinada corte por ambientes campesinos, nos quais a mulher ocupa uma posição de
camponesa.

Cantigas Satíricas:

As cantigas satíricas revelam o mundo boêmio e marginal vivido pelos jograis,


fidalgos, bailarinas e artistas da corte, o qual era representado por um código de ética
próprio, dispondo-se de hábitos e costumes de modo não convencional perante à
sociedade vigente.

Entre elas destacam-se dois tipos: a de escárnio e a de maldizer, cuja


temática pauta-se pela crítica mordaz a seres sociais, como homens sovinas, padres e
bispos devassos, pobretões que viviam de aparência, mulheres feias, adúlteros,
bêbados e maus jograis.

As cantigas de escárnio constituíam-se de uma crítica indireta, sutil,


retratadas por uma linguagem mais velada, revestidas por um toque de conotação.
Neste caso, não era revelado o nome da pessoa criticada.

As cantigas de maldizer eram aquelas em que a crítica se dava de forma


direta, mencionando o nome da pessoa; eram compostas por uma linguagem
mesquinha, repleta de palavrões que se tendiam para a obscenidade.

PRINCIPAIS CARACTERISTICAS:

Cantigas de amor Cantigas de amigo


Eu lírico masculino Eu lírico feminino
Origem Provençal Origem galego-portuguesa e provençal
Ambiente palaciano Ambiente rural
Homem vassalo da mulher Mulher sofre pela ausência do amado
Mulher é idealizada A mulher e seu amado são reais

Cantigas de escánio Cantigas de maldizer


Sátira indireta Sátira agressiva e direta
Sarcasmo e Zombaria Termos grosseiros e chulos
Sátira social ou ao individuo Sátira ao índividuo
LEITURA E APROFUNDAMENTO:

CANTIGA DA RIBEIRINHA
Versão original em Galego-Português Adaptada para o Português atual.
No mundo non me sei parelha, No mundo ninguém se assemelha a mim
mentre me for' como me vai, Enquanto a vida continuar como vai,
ca ja moiro por vós - e ai! Porque morro por vós e - ai! –
mia senhor branca e vermelha, Minha senhora alva e de pele rosadas,
Queredes que vos retraia Quereis que vos retrate
quando vos eu vi em saia! Quando eu vos vi sem manto.
Mao dia me levantei, Maldito seja o dia em que me levantei
que vos enton non vi fea! E então não vos vi feia!

E, mia senhor, des aquelha E minha senhora, desde aquele dia, ai!
me foi a mí mui mal di'ai!, Tudo me ocorreu muito mal!
E vós, filha de don Paai E a vós, filha de Dom Paio
Moniz, e ben vos semelha Moniz, parece-vos bem
d'haver eu por vós guarvaia, Que me presenteeis com uma guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia Pois eu, minha senhora, como presente,
nunca de vós houve nen hei Nunca de vós recebera algo,
valía dũa correa. Mesmo que de ínfimo valor.

Exemplo de Cantiga de Amigo Exemplo de Cantiga de maldizer:


Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
Maria Mateu, daqui vou desertar.
De cona não achar o mal me vem.
E ai, Deus!, se verrá cedo! Aquela que a tem não ma quer dar
Ondas do mar levado, e alguém que ma daria não a tem.
se vistes meu amado! Maria Mateu, Maria Mateu,
tão desejosa sois de cona como eu!
E ai Deus!, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo, Quantas conas foi Deus desperdiçar
o por que eu sospiro! quando aqui abundou quem as não
E ai Deus!, se verrá cedo! quer!
E a outros, fê-las muito desejar:
Se vistes meu amado,
a mim e a ti, ainda que mulher.
por que hei gran cuidado! Maria Mateu, Maria Mateu
E ai Deus!, se verrá cedo! tão desejosa sois de cona como eu!
Ondas do mar de Vigo,
(Afonso Eanes de Coton)
se vistes meu amigo! Explicação:
E ai, Deus!, se verrá cedo! Cantiga de maldizer dedicada por Afonso
Ondas do mar levado, Eanes de Coton, poeta do século XIII, a
Maria Mateu de quem corriam boatos de
se vistes meu amado! ser homossexual. Além de nomear a
E ai Deus!, se verrá cedo! pessoa de quem se diz mal, a cantiga usa
um termo de baixo calão considerado
Se vistes meu amigo, muito grosseiro à época: "cona", que se
o por que eu sospiro! refere ao genital feminino. (In: Antologia
da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.
E ai Deus!, se verrá cedo! Seleção, prefácio e notas de Natalia
Correia. 3a. Edição. Lisboa:
Se vistes meu amado,
Antígona/Frenesi, 1999.)
por que hei gran cuidado!
E ai Deus!, se verrá cedo!
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
E ai, Deus!, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
E ai Deus!, se verrá cedo!

Novelas de Cavalaria
Durante os séculos XIII e XV, também houveram produções em prosa narrativa
chamadas Novelas de cavalaria que eram redigidas em Latim e, em alguns casos,
foram traduzidas para o Galego-Português. Boa parte dessa produção tinha como
meta divulgar de valores cristãos e tratar dos grandes representantes da cultura
medieval, os cavaleiros e os santos.

Essas novelas foram divididas em três grandes temáticas:

 Ciclo Clássico: Retomando histórias da Greco-Romanas.


 Ciclo Carolíngio: Contando sobre o Rei Carlos Magno e sua dinastia.
 Ciclo Arturiano: Sobre as aventuras do Rei Arthur da Bretanha.

Essas histórias tinham muito de paganismo e, por isso, foram traduzidas com
adaptações para o universo cristão e usadas como um meio de defender as cruzadas.

Sem autoria claramente definida, pois reuniam histórias de tradições de


culturas diferentes, exerceram grande influência sobre os hábitos e os costumes da
região.

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