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Professor: Adriano Carlos de Moura

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O TROVADORISMO
É chamado de trovadorismo o primeiro movimento artístico que se deu na poesia europeia, sobretudo a
partir dos séculos XI e XII. Composto por cantigas líricas e satíricas, escritas pelos trovadores, que dão nome
ao movimento, era um híbrido entre a linguagem poética e a música.
Acompanhados de instrumentos musicais e de dança, os trovadores viajavam entoando suas cantigas. Foi
um dos gêneros literários mais populares da Idade Média, ao lado das novelas de cavalaria, expressão
da prosa no período.
Os trovadores recitavam as cantigas com o acompanhamento de instrumentos musicais.O trovadorismo
desenvolveu-se durante o período medieval, principalmente a partir do século XII. À época, não existiam ainda
os Estados nacionais — a Europa encontrava-se dividida em feudos, grandes propriedades controladas pelos
suseranos. O valor, na Idade Média, não era fundamentado no dinheiro, mas na posse territorial. Por esse motivo,
o cotidiano medieval era marcado por muitas guerras, batalhas e invasões com o intuito da conquista de
território.
Estabeleceu-se, então, uma relação de suserania e vassalagem: o suserano, senhor do feudo, precursor
da nobreza europeia, oferecia proteção aos seus vassalos que, em troca, produziam os bens de consumo:
cultivavam, fiavam, forjavam as armas etc.
Com o declínio do Império Romano, a partir dos séculos IV e V, o latim vulgar, língua oficial de
Roma, passou a sofrer modificações entre os povos dominados. Foi nesse longo período da Idade Média
que começaram a surgir as línguas neolatinas, como o português, o espanhol, o francês, o italiano, o romeno
e o catalão. No entanto, foi apenas no século XIV que o português surgiu como língua oficial; as cantigas dos
trovadores foram, portanto, escritas em um outro dialeto: o provençal.

Características do trovadorismo

As obras do trovadorismo são chamadas cantigas, pois eram escritas para serem declamadas (não havia
cultura do livro na Idade Média, a população era em grande parte analfabeta e ainda não havia sido inventado o
livro impresso), e frequentemente eram acompanhadas de instrumentos musicais, como a lira, a flauta, a
viola.
Enquanto o compositor (de origem) era chamado de trovador, o músico era chamado de menestrel.
Chamava-se segrel o trovador profissional, cavaleiro que ia de corte em corte divulgando suas cantigas em troca
de dinheiro. Havia ainda o jogral, cantor de origem popular que interpretava cantigas de outrem e compunha as
suas próprias. As baladeiras ou soldadeiras eram as dançarinas e cantoras que também os acompanhavam nas
apresentações e dramatizações das cantigas.
O trovadorismo foi um movimento itinerante, isto é, os grupos de trovadores e menestréis viajavam pelas
cortes, burgos e feudos, divulgando em suas composições acontecimentos políticos e propagando ideias, como
a do comportamento amoroso esperado de um cavaleiro apaixonado.
O amor é um dos temas centrais do trovadorismo. É o eixo condutor das cantigas de amor e
das cantigas de amigo. É comum o tema da coita, palavra que designa a dor do amor, do trovador apaixonado
que sente no corpo a não realização amorosa. Daí a origem da palavra “coitado”: aquele que foi desgraçado, vítima
de dor ou mazela.
Os trovadores escreveram ainda outros dois tipos de cantiga: as de escárnio e as de maldizer, dedicadas
a satirizar e ridicularizar.
É comum que haja paralelismo nas cantigas: cada ideia desenvolve-se a cada duas estrofes — ou, na
verdade, cobras. A nomenclatura da época era diferente: a estrofe chamava-se cobra, o verso chamava-se palavra.

Trovadorismo em Portugal

O trovadorismo galego-português desenvolveu-se, em termos gerais, em finais do século XII. Os


pesquisadores apontam sua gênese em uma cantiga de Paio Soares de Taveirós dedicada a Maria Pais Ribeiro,
a favorita do rei Sancho I, que viveu entre os anos de 1154 e 1211.
É importante salientar que a literatura portuguesa do século XII não possuía ainda uma noção de
identidade nacional plenamente instituída. O território fazia parte do Condado Portucalense e do Condado da
Galícia, terras dadas como presente de casamento a soldados cruzados que desposaram duas moças nobres.
D. Afonso I Henriques transformou os dois condados em um reinado, mas ele mesmo só foi reconhecido
como monarca ao reconquistar essas terras resguardado pelo poder e força da cristandade. A identidade dos
trovadores, portanto, não era portuguesa, mas ibérica e hispânica. A origem desses compositores era Leão,
Galícia, o reino português, Castela etc.
Foi Dom Dinis I, no final do século XIII, quem estabeleceu a língua galego-portuguesa como oficial do
reino, junto às primeiras universidades. E ele mesmo era um rei-trovador. O monarca poeta queria que Portugal
se constituísse como nação de fato, incentivando a identidade cultural e o trovadorismo. O movimento foi, portanto,
muito importante para o desenvolvimento do idioma e da cultura portuguesa.
Autores e obras do trovadorismo
Houve grande número de autores das cantigas galego-portuguesas, parte deles de origem
desconhecida, anônima. Sabe-se, contudo, que a arte trovadoresca é, em sua grande maioria, de autoria dos
grandes senhores medievais ibéricos. Além dos trovadores, havia também os jograis, autores que provinham das
classes populares, que não apenas interpretavam as cantigas mas também as compunham.
Dos autores mais conhecidos, destacam-se João Soares de Paiva, autor mais antigo presente nos
manuscritos, João Zorro, Martin Codax, Paio Soares de Taveirós, João Garcia de Guilhade, Vasco Martins de
Resende e os reis D. Dinis I e Afonso X.
As obras do trovadorismo constituem de pergaminhos e manuscritos. O que chegou até nossos dias
está compilado nos Cancioneiros. São mais conhecidos os pergaminhos Vindel e Sharrer, por possuírem notação
musical. Com base neles, foram feitas gravações contemporâneas de algumas cantigas, como “Ondas do mar de
Vigo”, do jogral Martin Codax, permitindo que possamos ouvir as cantigas conforme foram idealizadas por seus
autores.

Cantigas
As cantigas dividem-se em dois tipos: lírico e satírico.
 Cantigas líricas
Cantigas líricas são as de temática amorosa, e possuem dois tipos: cantigas de amor e cantigas de amigo.
o Cantigas de amor
Gênese da poesia amorosa que surgiria nos séculos seguintes, a cantiga de amor é cantada em 1ª pessoa. Nela,
o trovador declara seu amor por uma dama, geralmente acometido pela coita, a dor amorosa diante da
indiferença da amada.
A confissão amorosa é direta, e o trovador comumente dirige-se à dama como “mia senhor” ou “mia senhor
fremosa” (“minha senhora” ou “minha formosa senhora”), em analogia às relações de senhorio e vassalagem
medievais. O apaixonado é, portanto, servo e vassalo da amada e enuncia seu amor com insistência e intensidade.

Mesura1 seria, senhor2,


de vos amercear3 de mi,
que vós em grave4 dia vi,
e em mui grave voss’amor,
tam grave que nom hei poder
d’aquesta coita mais sofrer
de que muit’há fui sofredor.
Pero sabe Nostro Senhor
que nunca vo-l’eu mereci,
mais sabe bem que vós servi,
des que vos vi, sempr’o melhor
que nunca pudi fazer;
por em querede-vos doer
de mim, coitado pecador.
[...]
(D. Dinis, em Cantigas de D. Dinis, B 521b, V 124)
[1] mesura: “cortesia”
[2] senhor: “senhora”. Os sufixos terminados em “or” não possuíam flexão feminina.
[3] amercear: “compadecer-se, sentir compaixão”
[4] grave: “difícil, infeliz”

Nessa cantiga, o trovador espera que a dama tenha a cortesia de sentir compaixão por ele. Sofrendo, diz que foi
infeliz o dia em que a conheceu e mais infeliz ainda o amor que por ela sentiu, tão difícil que não pode mais sofrer
da coita, pois que há muito é sofredor. Sabe Deus que ele nunca mereceu esse sofrimento, sabe Deus que ele
sempre ofereceu à dama o seu melhor e diz que ela é que quer vê-lo padecer, coitado pecador.

o Cantigas de amigo
Embora compostas por trovadores homens, representam sempre uma voz feminina. É a dama quem vai expor
seus sentimentos, sempre de maneira discreta, pois, para o contexto provençal, o valor mais importante de uma
mulher é a discrição. A donzela dirige-se por vezes à sua mãe, a uma irmã ou amiga, ou ainda a um pastor ou
alguém que encontre pelo caminho. Existem sete categorias de cantigas de amigo:

- as albas, que cantam o nascer do Sol;


- as bailias, que cantam a arte da dança;
- as barcarolas, de temática marítima;
- as pastoreias, de temática bucólica;
- as romarias, de celebração religiosa;
- as serenas, que cantam o pôr do Sol;
- as de pura soledade, que não se enquadram em nenhum dos temas anteriores.

Oy eu, coytada, como vivo em gran cuydado


por meu amigo que ey alongado!
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda
Oy eu, coytada, como vivo em gran desejo
por meu amigo que tarda e non vejo!
Muyto me tarda
o meu amigo na Guarda
(D. Sancho I ou Alfonso X [autoria duvidosa], Cancioneiro da Biblioteca Nacional, B 456)

Nessa cantiga, verifica-se que a donzela também sofre as penosas dores do amor, da distância entre ela e o
amado, oficial da guarda, que há muito não vê. Percebemos, entretanto, que o discurso amoroso é mais sutil,
não é dirigido diretamente ao rapaz; trata-se de um lamento de saudade.

 Cantigas satíricas
Destinam-se a ironizar ou difamar determinada pessoa. Existem dois tipos de cantigas satíricas: as
de escárnio e as de maldizer.

o Cantigas de escárnio
São mais irônicas e trabalham sobretudo com trocadilhos e palavras de duplo sentido, sem mencionar
diretamente nomes. São críticas indiretas: é um “mal dizer” de maneira encoberta, insinuada.

Ai dona fea, fostes-vos queixar


que vos nunca louv'en[o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei todavia;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus mi perdom,
pois havedes [a]tam gram coraçom
que vos eu loe, em esta razom
vos quero já loar todavia;
e vedes qual será a loaçom:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já um bom cantar farei
em que vos loarei todavia;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
(João Garcia de Gilhade, Cancioneiro da Biblioteca Nacional, B 1485 V 1097)

Nessa cantiga de escárnio, o trovador responde a uma dama que se teria queixado de nunca ter recebido dele
nenhuma trova. Irônico, ele diz que fará, então, uma cantiga para louvá-la, chamando-a “dona feia, velha e louca
[sandia]”.

o Cantigas de maldizer
São aquelas em que os trovadores apontam direta e nominalmente o alvo de suas sátiras, de forma
propositalmente ofensiva e fazendo uso de vocabulário grosseiro.

Da mulher vossa, ó meu Pero Rodrigues


Jamais creiais no mal que falam dela.
Pois bem sei eu que ela por vós mui zela,
Quem não vos quer vos traz somente intrigas!
Pois quando deitou ela em minha cama,
A mim mui bem de ti ela falava,
Se a mim deu o corpo, é a vós quem ela ama.
(Martim Soares, versão de Rodrigues Lapa, em Crestomatia arcaica)
Professor: Adriano Carlos de Moura

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NOVELAS DE CAVALARIA
As novelas de cavalaria, também chamadas de “romances de cavalaria” correspondem a um gênero
literário que vigorou durante o período da Idade Média, durante os movimentos literários chamados de
Trovadorismo e Humanismo.
Foram desenvolvidas durante os séculos X e XV, surgindo provavelmente na França e na Inglaterra, as
quais estão reunidas no conjunto da prosa medieval. Além da prosa, a poesia palaciana foi também produzida
durante o medievo. As novelas de cavalaria são narrativas derivadas de poemas épicos e das canções de gesta,
ou seja, surgem da poesia medieval, e por serem longas, foram sendo escritas em prosa. Além de Inglaterra e
França elas tiveram forte presença e foram popularizadas em Portugal, Espanha e Itália.
São, portanto, narrativas típicas do período medieval divididas em capítulos e sua principal característica
são os relatos das aventuras fantásticas dos destemidos, leais e honrados cavaleiros errantes medievais, os quais
enfrentavam diversas batalhas sem deixar de lado o amor por suas belas donzelas. Assim, a principal missão
desses cavaleiros era estabelecer a justiça no mundo e adquirir a glória. Enfrentavam diversos monstros, lutavam
em batalhas, prendiam reis injustos durante o percurso que faziam, no entanto, a história geralmente terminava
de forma trágica.

Classificação das Novelas de Cavalaria


As novelas de cavalaria são classificadas em três momentos:

Ciclo Bretão (ou Arturiano), desenvolvido na Inglaterra donde o Rei Artur e seus cavaleiros da Távola Redonda
são as figuras centrais da narrativa;
Ciclo Carolíngio, donde Carlos Magno e seus cavaleiros (doze pares de França) são as figuras centrais da
narrativa;
Ciclo Clássico (ou Greco-Latino), que apresenta narrativas em torno de personagens da Antiguidade Clássica.

Características das Novelas de Cavalaria


Segue abaixo as principais características das novelas de cavalaria:

1. Narrativa extensa e dividida em capítulos


2. Marcadas pela tradição oral
3. Temas heroicos e mitológicos
4. Relato de acontecimentos históricos
5. Caráter místico e simbólico
6. Aventuras fantásticas e situações dramáticas
7. Visão teocêntrica (Deus no centro do mundo)
8. Personagens: cavaleiros, heróis e donzelas
9. Sublimação do amor profundo
10. Amor cortês e idealização da mulher

Exemplos de Novelas de Cavalaria


As principais novelas de cavalaria são:

 Rei Arthur
 Demanda de Santo Graal
 Amadis de Gaula
 O Palmerim de Oliva
 O Palmerim de Inglaterra
 Olivante de Laura
 A Crônica do Imperador Clarimundo
 Espelho de príncipes e cavaleiros
 Alcassino e Nicoleta
 O Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda
 Tablante de Ricamonte
 Tirante o branco

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