Você está na página 1de 30

Literatura

Portuguesa
(pressupostos
teóricos)

Ano Letivo de 2023


Divisão dos estilos literários

Conceitos
Estilo de época: são concepções de mundo e o tipo de linguagem utilizada
pelos poetas representativos de um modo de pensar de uma geração de
artistas;
Estilos literários: costuma-se dividir a literatura em
Trovadorismo, Humanismo, Classicismo, Barroco, Arcadismo,
Romantismo, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo Simbolismo, Pré-
modernismo e Modernismo.
Essa divisão aplica-se mais precisamente à literatura portuguesa, pois a
divisão regular acontece mais precisamente no Romantismo.
Divisão dos estilos literários

Quanto ao Trovadorismo, Humanismo e Classicismo, não tivemos pelo


simples fato de não existirmos ainda como nação, pois eles ocorreram
durante os séculos XII a XIV.
Trovadorismo (século XII ao XIV)

Cantigas de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer.


Os Cancioneiros...

Trovadorismo é o nome dado à uma época do florescimento das cantigas,


isto é, poemas feitos para serem cantados ao de instrumentos musicais
como a flauta, a viola, o alaúde e outros. Trovador era o nome que se
dava ao autor das cantigas; jogral era o cantor.
Nessa época, a língua portuguesa ainda não estava totalmente
caracterizada. Espelhando a unidade linguística que havia entre Portugal e
Galiza (uma região ao norte de Portugal), o idioma era o galego-português.
Trovadorismo (século XII ao XIV)
Galego-Português
O processo de passagem do dialeto galeziano, que deu origem ao galaico-
português, língua oral românica, até chegar ao português normatizado,
teria ocorrido em período bem posterior ao que se deu com o idioma
provençal.
Dialetos que da genérica lengua d’oc, que deu origem ao idioma
provençal, são citados em documentos romanos do século IV. Mas no
século I a vasta região ocupada pelo povo ocitano já era conhecida como
Lenguadoc, em referência ao dialeto em comum. Por volta do século VIII
apareceram os primeiros textos religiosos em provençal normatizado e, a
partir do século XI, as sofisticadas obras trovadorescas no idioma.
Trovadorismo (século XII ao XIV)
Galego-Português
Em documentos de latim bárbaro do século IX são encontrados as
primeiras formas de palavras na língua galego-portuguesa arcaica e
somente no início do século XII aparecem os primeiros textos nela
redigidos. Em meados do mesmo século aparecem as primeiras canções
trovadorescas no idioma, registradas em pergaminhos.
Trovadorismo (século XII ao XIV)

A poesia trovadoresca galego-portuguesa desenvolveu-se na área


correspondente aos reinos de Leão e Castela (incluindo a Galiza) e o
reino de Portugal.

Mapa da Península
Ibérica em 1096.
Trovadorismo (século XII ao XIV)

Certamente ele supõe


que comigo está perdido,
do contrário, voltaria,
porém, sente-se ofendido,
pois que me zanguei com ele
quando daqui se partia:
por Deus, se agira voltasse,
muito alegre eu ficaria.
Juan Lopes d’Ulhoa. Apud
C. Berardinelli. Cantigas de
Trovadores medievais em
português moderno. p. 63.
Trovadorismo (século XII ao XIV)

Chegaram aos nossos dias apenas três cancioneiros: o Cancioneiro da


Ajuda, o Cancioneiro da Vaticana e o Cancioneiro da Biblioteca
Nacional (ou Colocci-Brancuti). Os quais reúnem aproximadamente
1.680 cantigas de 153 trovadores.
Para ter acesso livre à vida na corte o trovador galego-português também
precisava ser nobre. Em geral, um nobre de baixa linhagem, filho
bastardo, vassalo empobrecido ou desertor de lutas e batalhas. Com o
transcorrer da Idade Média foram surgindo trovadores de altas linhagens
da nobreza, como os reis D. Sancho (século XII), D. Afonso X (século
XIII) e o já citado D. Dinis (séculos XIII-XIV).
Trovadorismo (século XII ao XIV)

A influência dos trovadores provençais


É um movimento de inspiração provençal
Fruto de um ambiente de corte, as cantigas expressam amor do trovador a
sua dama, que aparece sempre em posição superior, aristocrática e
distante.
O trovador é aquele que implora seus favores e sua atenção, apresenta
sutilezas de erotismo do desejo amoroso.
Relação de submissão, com um comportamento comedido do trovador,
de muita obediência a sua senhora, desejoso por servi-la: amor cortês,
lírica trovadoresca.
Trovadorismo (século XII ao XIV)

Principais autores:
Dom Afonso X (1221-1284) — Espanha.
•Dom Dinis (1261-1325) — Portugal.
•Fernão Rodrigues de Calheiros (século XIII) — Portugal.
•João Garcia de Guilhade (século XIII) — Portugal.
•Martim Codax (século XIII) — Galiza.
Trovadorismo (século XII ao XIV)

Cantigas de Amor
A temática é o amor não correspondido. Assim, o trovador sofre pelo
desinteresse da dama, uma mulher idealizada, integrante da nobreza. Ela
é vista como “dona” e “senhora” do eu lírico, e seu nome nunca é
mencionado. Já o trovador se autodenomina um “coitado” e “sofredor”.
Nesse tipo de cantiga, portanto, ocorre a vassalagem amorosa, isto é, uma
relação de poder da dama (suserana) sobre o trovador (vassalo).
Normalmente, os verbos são de sete sílabas (redondilha maior). É comum
que as cantigas de amor apresentem refrão, o que demonstra seu caráter
popular.
Trovadorismo (século XII ao XIV)
Trovadorismo (século XII ao XIV)

Cantigas de Amor
Observe este exemplo de cantiga de amor, escrita por Bernal de Bonaval:
A Bonaval quer’eu, mia senhor, ir A
e des quand’eu ora de vós partir A
os meus olhos nom dormirám. B

Ir-m’-ei, pero m’é grave de fazer; C


e des quand’eu ora de vós tolher C
os meus olhos nom dormirám. B
[...]
Trovadorismo (século XII ao XIV)

Cantigas de Amigo
A temática é a saudade. Nesse caso, ocorre a sugestão de que os amantes
já tiveram relações sexuais. O eu lírico é uma mulher do campo, que
manifesta a saudade pela ausência do “amigo”. A mulher saudosa, além
do “amigo”, pode ter outros interlocutores, como uma amiga ou irmã.
Esse tipo de cantiga apresenta refrão, e os versos costumam ser de cinco
sílabas (redondilha menor).
Trovadorismo (século XII ao XIV)

Cantigas de Amigo
Veja um exemplo de cantiga de amigo, da autoria de João de Requeixo:
A Faro um dia irei, madre, se vos prouguer,
rogar se verria meu amigo, que mi bem quer,
e direi-lh’eu entom
a coita do meu coraçom.

Muito per desej’eu que vesse meu amigo


que m’estas penas deu e que falasse comigo,
e direi-lh’eu entom
a coita do meu coraçom.
Trovadorismo (século XII ao XIV)

Cantigas de Satíricas ou Escárnio


As cantigas satíricas são cantigas que se caracterizam pelas críticas sociais e
críticas diretas a determinadas pessoas. Existem dois tipos de cantigas
satíricas: de escárnio e de maldizer.
Escárnio: Tais cantigas fazem críticas sociais, mas de forma mais sutil.
Assim, não há identificação explícita da pessoa alvo das críticas. O texto,
portanto, é irônico, utiliza trocadilhos e termos de duplo sentido.
Trovadorismo (século XII ao XIV)

Cantigas de Satíricas ou Escárnio


As cantigas satíricas são cantigas que se caracterizam pelas críticas sociais e
críticas diretas a determinadas pessoas. Existem dois tipos de cantigas
satíricas: de escárnio e de maldizer.
Escárnio: Tais cantigas fazem críticas sociais, mas de forma mais sutil.
Assim, não há identificação explícita da pessoa alvo das críticas. O texto,
portanto, é irônico, utiliza trocadilhos e termos de duplo sentido.
Trovadorismo (século XII ao XIV)

Cantigas de Satíricas ou Escárnio, por


Lopo Lias: Sabem em Morraz’e Salnês
meu preit’e seu; e nom lhis pês
A dona de Bagüin que há de mim, mais há d’um mês,
que mora no Soveral, um sold’e dous e dez e três;
dez e seis soldos há de mi; e demais dizia
e dei-lhos eu por preit’atal: que ao tercer dia
que mi os ar desse, mi os ar daria
ond’al nom fezesse, em cas Dom Corral, o burguês|3|
senom que vesse
falar mig’em cas Dom Corral.
Trovadorismo (século XII ao XIV)

Cantigas de Satíricas ou Escárnio, por Lopo Lias:


Nessa cantiga, escrita em galego-português, o eu lírico critica uma tal
“dona de Bagüin”, sendo Bagüin um lugar perto da região espanhola da
Galiza. Portanto, ele não diz o nome da mulher. Ela deve dinheiro ao eu
lírico. Na segunda estrofe, ele diz que a dívida já chega a um mês, e que a
mulher tinha prometido devolver o dinheiro em três dias, na casa de
Dom Corral, o que não aconteceu.
Trovadorismo (século XII ao XIV)

Cantigas de Maldizer
Agora, um exemplo de cantiga de maldizer, também composta por Lopo
Lias:
A Dona Maria há soidade...
a Dona Maria há soidade...
ca perdeu aquel jograr [...]
dizendo del bem; e el nom achou
que nẽum preito del fosse mover,
nem bem nem mal, e triste se tornou.|4|
Trovadorismo (século XII ao XIV)

Cantigas de Maldizer
Esse fragmento é a única coisa que sobrou dessa cantiga. Porém, é sabido
que a tal “Dona Maria” era uma mulher adúltera e amante de um tal
Franco. O trecho diz que ela perdeu certo jogral, provavelmente seu
amante Franco. Ela entendeu que não conseguiria nada dele, e ficou
triste.
Classicismo (século XV)

O Classicismo corresponde a um movimento artístico cultural que


ocorreu durante o período do Renascimento (a partir do século XV) na
Europa.
O nome do movimento que marca o fim da Idade Média e o início da
Idade Moderna, faz referência aos modelos clássicos (greco-romano).
No campo da literatura, Classicismo é o nome dado aos estilos literários
que vigoravam no século XVI, na época do Renascimento. Por isso, a
produção desse período também é chamada de Literatura Renascentista.
Classicismo (século XV)

Contexto histórico:
- as Grandes Navegações;
- a Reforma Protestante (que levou a uma crise religiosa) encabeçada por
Martinho Lutero;
- a invenção da Imprensa pelo alemão Gutenberg;
- o fim do sistema feudal (início do capitalismo);
- o cientificismo de Copérnico e Galileu.
Classicismo (século XV)

Características dos autores:


Retratam a vida como é e não com deveria ou poderia ser;
Perseguem a precisão nas descrições, principalmente pela harmonização
de detalhes que, somados, reforçam a impressão de realidade.
- Bernardim Ribeiro (1482-1552), com sua novela “Menina e Moça”
(1554);
- António Ferreira (1528-1569), com sua tragédia “A Castro” (1587).
No entanto, foi a partir de Luís de Camões, um dos maiores poetas
portugueses e da literatura mundial, que a literatura portuguesa ganha
notoriedade.
Classicismo (século XV)

Camões
Luís Vaz de Camões é considerado um dos mais
importantes autores da literatura portuguesa. Ele
nasceu no ano de 1524, na cidade de Lisboa. Muito
do que se sabe de sua vida não passa de especulação
e lenda. No entanto, estudiosos afirmam que ele foi
soldado, perdeu um olho no Marrocos, e viveu
alguns anos na Índia, em Macau e em Moçambique.
Classicismo (século XV)

Camões
Características:
Uso de metáforas, antíteses, paradoxos
A poesia camoniana é caracterizada pelo uso da medida nova, isto é,
versos decassílabos (10 sílabas). No entanto, alguns de seus poemas
dialogam com o trovadorismo (poesia medieval), portanto, apresentam
redondilhas, que são versos de cinco ou sete sílabas. Além disso, o
poeta demonstra uma visão filosófica do amor.
Classicismo (século XV)

Camões
Temática:
•o desconcerto do mundo;
•a inconstância; e
•o sofrimento amoroso.
Camões vivia em uma época em que a racionalidade era extremamente
valorizada, em oposição à fé religiosa, que marcara o período histórico
anterior, ou seja, a Idade Média. Portanto, apontar o desconcerto (o
desequilíbrio) da realidade era uma forma de tirar dela o véu das ilusões.
Assim, a constatação de que tudo na vida é transitório eliminava a
importância das coisas mundanas.
Classicismo (século XV)

Camões
Obras:
•Os Lusíadas (1572) — epopeia
•Anfitriões (1587) — teatro
•Filodemo (1587) — teatro
•Rimas (1595) — poesia lírica
•El rei Seleuco (1645)|1| — teatro
Classicismo (século XV)

Episódio Inês de Castro


Segundo a história da mitologia “portuguesa”, Inês
de Castro teria sido coroada rainha e D. Pedro I
teria forçado os seus vassalos a beijar a mão direita,
protegida por uma luva, quando a mesma já estava
morta em homenagem à sua soberana. Ele construiu
um túmulo frente a frente de modo que se vissem
um ao outro no dia do Juízo Final.

Você também pode gostar