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TROVADORISMO
TROVADORISMO
Conjunto de produções literárias
da Baixa Idade Média, em
Portugal. Corresponde à primeira
fase da história de Portugal e está
intimamente ligado à formação
do país como reino independente.
O CONTEXTO DE PRODUCÃO E RECEPÇÃO DO
TROVODORISMO
Cantigas de
Cantigas escárnio
satíricas
Cantigas de
maldizer
Cantigas líricas
Cantigas de amor
Como as cantigas provençais, das quais se originam, as cantigas de amor galego-
portuguesas exprimem a paixão infeliz, o amor não correspondido que um trovador dedica a
sua senhora
Aspectos formais e de conteúdo
O eu lírico é sempre masculino e representa o trovador que dirige elogios a uma dama.
O trovador, que sofre com frequência, se autodenomina coitado, cativo, aflito,
enlouquecido, sofredor.
A dama é identificada por termos que destacam suas qualidades físicas (fremosa, delgada,
de bem parecer), morais (bondade, lealdade, comprida de bem) e sociais (falar mui bem).
Ao comparar sua dama às outras da mesma corte, o eu lírico a apresenta como superior.
Os trovadores galego-portugueses utilizavam versos com sete sílabas métricas
(redondilha maior). O refrão é uma inovação em relação aos provençais.
Os trovadores e o amor cortês
Baseado nas relações feudais de suserania e vassalagem, o amor cortês nasceu com a produção lírica dos
trovadores, no século XII, no sul da França. Essa concepção de amor instaurou um tipo de relação na
qual a dama, geralmente casada e de uma categoria social superior, torna-se a senhora, a suserana,
daquele que lhe devota amor; por isso, o cavaleiro, ou o trovador, na posição de vassalo, é seu servidor e
deve prestar-lhe a mesma fidelidade e devoção que presta ao seu senhor feudal. A dama, nesse contexto,
é uma figura altiva, distante, praticamente inacessível.
O amor cortês é uma convenção amorosa que, nas cantigas de amor galego-portuguesas, se expressa pela
presença de determinados elementos, entre os quais se observam:
a absoluta submissão à dama;
a vassalagem humilde e paciente, que se verifica, inclusive, pela presença da expressão mia senhor
(minha senhora);
o resguardo da dama, a fim de sua reputação não ser abalada; assim, era vedado ao trovador revelar
quem era o objeto de seus lamentos e suspiros;
o elogio à dama, feito por meio de termos abstratos e indeterminados quanto aos traços físicos
(“fremosa, de bon parecer”), que podem aparecer combinados com qualidades não físicas (“bem
falar”, “siso”, “doçura”).
Cantiga de amor
Trecho de uma cantiga de amor de João Garcia de
Guilhade
A bõa dona por que eu trobava,
e que nom dava mulha rem por mi,
pero s’ela de mi rem nom pagava,
sofrendo coita sempre a servi;
e ora já por ela ‘nsandeci,
e dá por mi bem quanto x’ante dava.
[...]
A boa dona por quem eu trovava,
e que não dava nada por mim,
embora ela não gostasse nada de mim,
com sofrimento sempre a servi;
e agora já por ela enlouqueci,
e dá por mim tanto quanto antes dava.
[...]
Cantigas de amigo
De modo geral, as cantigas de amigo falam de uma relação amorosa concreta que
acontece entre pessoas simples, que vivem no campo. O tema central dessas cantigas é a
saudade.
Aspectos formais e de conteúdo
Nas cantigas de amor, todas as referências dizem respeito aos membros da corte, à
vida nos palácios, às damas sofisticadas e ricas; em contrapartida, nas cantigas de
amigo, elas dizem respeito aos sentimentos e à vida campesina, às mocas simples que
vivem nas aldeia e nos campos.
O eu lírico é sempre feminino e representa a voz de uma mulher (amiga) que
manifesta a saudade pela ausência do amigo( namorado ou amante).
Como o trovador que compõe essas cantigas é um homem, o eu lírico feminino
apresenta aquilo que os compositores consideram a visão da saudade e do amor.
Cantiga de escárnio
Ai, dona fea, fostes-vos queixar Ai, dona feia, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu que nunca vos louvo em meu cantar;
cantar; mas agora quero fazer um cantar Português atual
mais ora quero fazer um cantar em que vos louvares de qualquer modo;
em que vos loarei toda via; e vede como quero vos louvar
e vedes como vos quero loar: dona feia, velha e maluca!
dona fea, velha e sandia! Dona feia, que Deus me perdoe,
Dona fea, se Deus mi pardom, pois tendes tão grande desejo
pois avedes [a]tam gram coraçom de que eu vos louve, por este motivo
que vos eu loe, em esta razom quero vos louvar já de qualquer modo;
vos quero ja loar toda via; e vede qual será a louvação:
e vedes qual sera a loaçom: dona feia, velha e maluca!
dona fea, velha e sandia! Dona feia, eu nunca vos louvei
Dona fea, nunca vos eu loei em meu trovar, embora tenha trovado
em meu trobar, pero muito trobei; muito;
mais ora ja um bom cantrar farei, mas agora já farei um bom cantar;
em que vos loarei toda via; em que vos louvarei de qualquer modo; Ouça também:
e direi-vos como vos loarei: e vos direi como vos louvarei: https://www.youtube.com/
watch?v=f3FNVOAzwKA
dona fea, velha e sandia! dona feia, velha e maluca!
Joan Garcia de Guilhade
Cantigas de amigo
(Levou-s'a louçana), A bela acordara, Vai lavar cabelos Lavar seus cabelos
levou-s'a velida; formosa se erguia; na fria fontana, vai, na fonte clara,
vai lavar cabelos lavar seus cabelos passa seu amigo passa seu amigo
na fontana fria, vai, na fonte fria, que a muit'ama, que muito a amava,
leda dos amores, radiante de amores, leda dos amores, radiante de amores,
dos amores leda. de amores, radiante. dos amores leda. de amores, radiante.
(Levou-s'a velida), Formosa se erguia; Passa seu amigo, Passa seu amigo
levou-s'a louçana; a bela acordara; que lhi ben queria; que muito lhe queria;
vai lavar cabelos lavar seus cabelos o cervo do monte o cervo do monte
na fria fontana, vai, na fonte clara; a augua volvia, a água volvia,
leda dos amores, radiante de amores, leda dos amores, radiante de amores,
dos amores leda. de amores, radiante. dos amores leda. de amores, radiante.
Vai lavar cabelos Lavar seus cabelos Passa seu amigo, Passa seu amigo
na fontana fria; vai, na fonte fria; que a muit'ama; que muito a amava;
passa seu amigo passa seu amigo o cervo do monte o cervo do monte
que lhi ben queria, que muito lhe queria, volvia a augua, revolvia a água,
leda dos amores, radiante de amores, leda dos amores, radiante de amores,
dos amores leda. de amores, radiante. dos amores leda. de amores, radiante.
1. Observe o eu lírico (a voz que fala em poemas ou canções) de cada uma das cantigas.
a. Nas cantigas de amor, o eu lírico é tradicionalmente masculino. O texto 1, de João Garcia de Guilhade,
segue esse modelo? A quem o eu lírico se dirige?
b. Nas cantigas de amigo, manifesta-se geralmente um eu lírico feminino, ou seja, há uma voz feminina
que canta, em 1a pessoa, os seus sentimentos amorosos. O texto 2, de Pero Meogo, segue esse modelo?
Justifique sua resposta com elementos do texto.
2. No texto 1, o eu lírico lamenta, logo no primeiro verso, a “coita d’amor”, isto é, o sofrimento amoroso
por não ser correspondido pela amada.
a. Nas cantigas de amor, a visão é afetada pelo sofrimento do amante. Que verso dessa cantiga melhor
exemplifica tal afirmação?
b. Ao sofrer uma dor que não cessa, as vítimas do amor não correspondido normalmente desejam a morte.
Esse é o desejo do eu lírico dessa cantiga? Justifique sua resposta.
FOCO NO TEXTO
3. As cantigas de amor galego-portuguesas seguem o modelo das canções dos trovadores da Provença,
região do sul da França. As canções provençais baseiam-se no chamado amor cortês, uma concepção de
amor regida por códigos precisos e rigorosos. Leia o boxe “Os trovadores e o amor cortês” e, a seguir,
responda: Que elementos característicos do amor cortês estão presentes na cantiga de João Garcia de
Guilhade?
4. Originárias da própria península Ibérica, as cantigas de amigo apresentam um registro mais popular.
Nessas composições, a figura feminina tem mais corporalidade, diferenciando-se da aristocrática e distante
“senhora” das cantigas de amor.
a. No texto 2, quais são as características físicas da jovem?
b. Como é o ambiente em que ela está? Que elementos dele são mencionados?
c. Com quem ela se encontra?
d. Quais sentimentos tomam sua alma?
e. Nessa cantiga, a realização amorosa seria possível?
FOCO NO TEXTO
5. Formalmente, além do refrão, as cantigas de amigo podem apresentar paralelismos, uma técnica de
repetição de versos que contribui para a musicalidade e a memorização.
a. O par de estrofes é um tipo de paralelismo que consiste na repetição de duas estrofes formadas por
versos ligeiramente diferentes. Releia as duas primeiras estrofes do texto 2 e compare o 1º , o 2º e o 4º
versos de cada uma delas. Quais são as modificações de um verso para outro?
b. O refrão, isto é, versos que se repetem no final de cada estrofe, auxilia na construção de sentido do
texto, pois, pela repetição, sublinha uma ideia, um sentimento, uma emoção, uma concepção de vida do
eu lírico. O que os refrões dos textos 1 e 2 ressaltam?
6. Compare as cantigas de amor e de amigo quanto à profundidade das ideias. Qual delas apresenta maior
complexidade na abordagem do tema amoroso?
FOCO NO TEXTO
Texto 3 Na cantiga satírica a seguir, D. Pedro, Conde de Portugal, se refere a uma
freira que se chamava Mor Martins Camela e a um rabi (líder religioso de
comunidade judaica) que tinha o sobrenome Bodalho.
Luis Matuto
FOCO NO TEXTO
As que son dũa natura Os de idêntica natura
juntan-s’ a certas sazoes juntam-se em certos momentos
e fazen sas criacoes; para engendrar seus rebentos;
mais vejo ja criatura mais eis que uma criatura
ond’eu non cuidei vee-la; vejo onde não cuidei vê-la
bodalho: porco.
e poren me maravilho e com tal me maravilho:
cuidar: supor.
de bodalho fazer filho, Bodalho fazer um filho
emprenhar: engravidar.
per natura, na camela. naturalmente a camela.
Consiste em associar a freira e
o rabi aos animais que seus
As que son, per natureza, Esses a que a natureza
sobrenomes designavam.
corpos dũa parecenca deu igual conformação
Figurado.
juntan-s’ e fazen nacenca, — unem-se e nessa união
esto e sa dereiteza: fazem filhos com justeza.
mais non coidei en mia vida Mas não vi em minha vida
que camela se juntasse camela que se juntasse (D. Pedro, Conde de Portugal. In: Cantares dos
con bodalh’ (e) emprenhasse com bodalho, engravidasse trovadores galego-portugueses, cit., p. 260-1.)
(e) demais seer d’el parida. e dele fosse parida.
7. Para criticar a relação amorosa da freira com o rabi, o eu lírico faz, ironicamente, um jogo
de palavras.
a. Em que consiste esse jogo?
b. Conclua: Na cantiga, as palavras camela e bodalho são empregadas em sentido literal ou
figurado?
8. O eu lírico reitera ao longo da cantiga que a camela e o bodalho não são semelhantes por
serem de espécies diferentes.
a. Com base na leitura do texto e nas informações dadas sobre a freira e o rabi, responda: Por
que eles são considerados de espécies diferentes?
b. O eu lírico sugere que a relação da camela com o bodalho é um desvio da natureza. Que
elementos do texto dão sustentação a essa ideia?
9. As cantigas satíricas medievais criticam comportamentos e costumes de personalidades da
aristocracia ou de determinados grupos sociais e, ao fazer isso, revelam determinados valores
e preconceitos da época.
a. Que críticas são feitas na cantiga de D. Pedro?
b. Que tipo de preconceito a cantiga revela?
10. A cantiga satírica de D. Pedro, Conde de Portugal é de escárnio ou de maldizer?
Sem ter você
As questões amorosas continuam ocupando grande espaço na música.
Veja como esse tema é desenvolvido em uma canção atual
Alegria é olhar pro seu sorriso e ter você sempre ao meu lado Ouça também
Alegria é andar junto a você e poder ser o seu namorado,
O seu namorado https://www.youtube.com/watch?v=cqB5neqVrfM
Meu amor, não se vá. Eu sofro tanto sem ter você!
Eu sofro tanto sem ter você!
Alegria é olhar pra sua boca e poder ver sua pele macia
Alegria é poder olhar teus olhos e dizer que serás sempre minha,
Que serás sempre minha
Meu amor não se vá. Eu sofro tanto sem ter você!
Eu sofro tanto sem ter você!
CAMELO, Marcelo. Intérprete: Los Hermanos. In: Los Hermanos, 1999.
Rio de Janeiro: Sony Music
I – Responda ao que se pede com base na canção “Sem ter você”.