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Trovadorismo é um estilo de época surgido na Idade Média. Nesse período histórico, predominava o
teocentrismo (a ideia de que Deus é o centro de tudo), pois a Igreja Católica, com poderio econômico e
político, exercia total domínio no Ocidente. Nesse contexto, surgiram as cantigas trovadorescas ou
provençais. São elas: cantigas de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer.
As cantigas de amor tinham como tema o sofrimento amoroso. As de amizade cantavam a saudade do
ser amado. Já as cantigas satíricas demonstravam a ousadia do trovador ao criticar a sociedade da
época, em que o livre pensamento era combatido pela Igreja. Assim, na Europa, houve muitos trovadores
cujas obras chegaram até nós, como as cantigas dos trovadores portugueses Dom Dinis e João Garcia de
Guilhade, entre outros.
Características do Trovadorismo
Nesse contexto, em que a liberdade artística e de pensamento eram restringidas pelo clero,
surgiu o Trovadorismo, movimento literário medieval caracterizado por uma “poesia
cantada”, as chamadas cantigas trovadorescas. Elas são assim classificadas: de amor, de
amigo, de escárnio e de maldizer. Tais composições eram cantadas pelo trovador
(troubadour, como era chamado o poeta provençal), daí o termo “trovadoresco”. Assim, as
cantigas trovadorescas podem ser chamadas também de cantigas provençais. Isso porque foi
na Provença, no Sul da França, que esse tipo de arte surgiu, no século XI, devido a um clima
de maior independência em relação à Igreja.
A poesia trovadoresca, portanto, possui uma vertente lírico-amorosa (as cantigas de amor e
de amigo) e outra satírica (as cantigas de escárnio e de maldizer). Na primeira, predominam
os temas do sofrimento amoroso e da saudade. Na segunda, são feitas críticas a pessoas ou
costumes, algo bastante ousado em uma época de repressão ao livre pensamento. Uma
característica da cantiga de amor trovadoresca merece uma reflexão. Nesse tipo de
composição, o eu lírico se coloca em posição inferior à sua amada, a quem ele chama de
“senhora”. Como se sabe, na Idade Média, a mulher ainda ocupava um lugar inferior na escala
social. Então, como o trovador poderia assumir essa posição de submissão diante da mulher?
Autores e obras do Trovadorismo
Na Idade Média, em meio a sangrentas batalhas, havia também espaço para a poesia
trovadoresca. São inúmeros os autores do Trovadorismo cujas obras foram resgatadas por
pesquisadores em todo o mundo. Portanto, vamos citar apenas alguns nomes mais conhecidos:
As cantigas desses trovadores vêm sendo compiladas no decorrer dos anos, um resgate
histórico, literário e artístico. Como exemplo, o trecho I (cantiga de Arnaut Daniel,
transcriação de Augusto de Campos), o trecho II (cantiga de Bernart de Ventadorn, tradução
de Cláudia Moraes, da versão em inglês) e o trecho III (cantiga de Dom Afonso X, em nossa
adaptação livre do original|3|).
Trecho I
Aura amara
branqueia os bosques, car-
come a cor
da espessa folhagem.
Os
bicos
dos passarinhos
ficam mudos,
pares
e ímpares.
E eu sofro a sorte:
dizer louvor
em verso
só por aquela
que me lançou do alto
abaixo, em dor
— má dama que me doma.
Trecho II
Trecho III
Dir-vos-ei eu de um rico homem
de como aprendi que come:
mandou cozinhar o vil homem
meio rabo de carneiro
— assim come o cavaleiro.
Trovadorismo em Portugal
Cantigas de amor
● Manifestam uma paixão infeliz, um amor não correspondido do trovador pela sua
dama;
● A mulher é tratada como superior, a partir de adjetivos tais como “dona” e “senhora”,
e seu nome jamais é revelado pelo trovador;
● O eu lírico é sempre masculino;
● A dama, a “senhora”, é membro da corte;
● O trovador se diz coitado, cativo, enlouquecido, sofredor;
● A dama é identificada por suas qualidades físicas, morais e sociais; portanto é uma
mulher idealizada;
● Normalmente, são compostas em redondilha maior (sete sílabas poéticas);
● Muitas cantigas apresentam refrão;
● Vassalagem amorosa: o trovador é o vassalo e a dama é a suserana; isto é, servo e
senhora, em consonância com a sociedade feudal.
A bõa dona por que eu trobava, A boa dona por quem eu trovava,
e que nom dava mulha rem por mi, e que não dava nada por mim,
pero s’ela de mi rem nom pagava, embora ela não gostasse nada de mim,
e dá por mi bem quanto x’ante da[...] e dá por mim tanto quanto antes dava...]
2 - Cantigas de amigo
● A temática desse tipo de cantiga é a saudade;
3 - Cantigas de escárnio
● Críticas ao comportamento social;
A seguir, um trecho de uma cantiga de escárnio de João Garcia de Guilhade. Note que o
trovador não menciona o nome da mulher que é objeto da ofensa, a qual é chamada de
“dona feia”:
que vos nunca louv’en[o] meu cantar; que vos nunca louvei em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar mas agora quero fazer um cantar
e vedes como vos quero loar: e vedes como vos quero louvar:
Note que, na cantiga de maldizer seguinte, de Afonso Anes do Cotom, a pessoa ofendida é
nomeada – Urraca López:
quand’em Toledo fiquei desta vez; quando em Toledo fiquei desta vez;
e disso-m’assi: — Por Deus que vos fez, e disse-me assim: — Por Deus que vos fez,
ca cuidarám que trobades a mim. pois acharão que trovastes para mim.