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Conteúdos essenciais
Poesia trovadoresca* 1
expulsar os muçulmanos e, assim, definir o território de Portugal tal como hoje o
conhecemos (a última conquista foi a de Faro e data de 1249).
A sociedade medieval era também fortemente estratificada. Cada classe social
tinha um papel bem definido e o nascimento numa determinada classe implicava
assumir um estatuto que raramente seria alterado. O clero tinha a função de rezar,
transmitir valores, a nobreza de defender as terras pelas armas e o povo de lavrar
a terra ou de integrar o exército.
A sociedade estava organizada segundo o feudalismo, sistema político,
económico e social caracterizado pela divisão da propriedade (feudo), conjugada
com a divisão, a fragmentação da soberania, e pelas obrigações recíprocas entre
vassalos e suseranos, o que assegurava não só a manutenção da hierarquia
social, como também a transmissão e a permanência de valores importantes como
a lealdade, a fidelidade, a coragem, a honra.
Destes três grupos sociais, o clero era aquele que mais contacto tinha com as
Letras, nomeadamente os monges, que, nos conventos, estudavam, compilavam e
produziam os livros manuscritos. O clero tinha, portanto, acesso a uma literatura e
a uma cultura escritas - cultura monástica. Já a nobreza e, sobretudo, o povo
usufruíam apenas da literatura e da cultura orais - cultura profana.
É do património oral que nasce a literatura portuguesa e, em especial, a poesia
trovadoresca, cujos textos são coligidos em Cancioneiros de fins do século XIII e
do século XIV e que reúnem textos desde finais do século XII.
É ainda referida a língua em que essas composições foram escritas: o galego-
português. Com efeito, no século XII, quer o português quer o galego estavam em
formação e não eram línguas distintas. No Norte de Portugal, na região de Entre
Douro e Minho, e na Galiza falava-se galego-português, e é nestas regiões que a
poesia trovadoresca vai florescer, através de diferentes intérpretes.
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cantigas de amigo - poesia autóctone, resultante da tradição lírica que existia
no norte de Portugal, entre Douro e Minho e Galiza;
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Para além destes dois géneros, a poesia trovadoresca comporta ainda uma
dimensão satírica, expressa nas chamadas cantigas de escárnio e maldizer. Na
verdade, os trovadores e os jograis sentiram também necessidade de apontar o
dedo a algumas figuras da sociedade, a algumas situações ou comportamentos, e
fizeram-no ora de forma direta, nomeando os visados e usando uma linguagem
clara, satírica, por vezes até violenta e grosseira - cantigas de maldizer -, ora de
forma indireta, não especificando concretamente quem era ou qual era o alvo e
recorrendo a uma linguagem mais camuflada, irónica - cantigas de escárnio.
Numas e noutras, verifica-se uma intenção crítica, moralizadora, e, por vezes,
cómica.
Cantigas de amigo
confidência amorosa;
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Caracterização temática:
A anáfora inicial em cada uma das estrofes (”Ai eu, coitada”), reforçada
pela interjeição “Ai”, confere um tom de confidência e acentua a dor da
ausência.
Caracterização formal:
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Marcas das cantigas de amigo:
Voz feminina;
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Caracterização temática:
Este convite é alargado a outras donzelas, desde que sejam formosas (”e
quen for velida, como nós velidas” - comparação) e belas (” e quen for
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louçana, como nós, louçanas”) e desde que estejam enamoradas (”se
amigo amar”).
Todas bailam, envolvidas com a Natureza, que com elas partilha a alegria
do despertar para o amor ( as “avelaneiras frolidas” e o “ramo frolido”
simbolizam a primavera).
Caracterização formal:
Cantiga de refrão, composta por três estrofes, de quatro versos, com refrão
dístico intercalado (”se amigo amar,/verrá bailar”).
Cantigas de amor
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do refrão e, apesar do respeito pelo código de amor cortês, há uma sinceridade
superior à dos provençais.
Caracterização temática:
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O trovador compara o seu amor com o dos provençais. Embora lhes
reconheça capacidade de trovar (”Proençaes soen mui ben trobar/e dizen
eles que é con amor”), considera que os sentimentos que exprimem
resultam mais de um artificialismo, de um fingimento, pois só trovam na
primavera (”no tempo da flor”) e fora desse tempo não (”a frol consigu’, e,
tanto que se for/aquel tempo, logu’ en trobar razon/non an, non viven en
qual perdiçon”).
Por isso mesmo, esta cantiga pode também funcionar como uma espécie
de arte poética da arte de trovar: uma poesia convencional e artificial (a
dos provençais) e uma poética autêntica, assente na coita de amor
profunda (a do trovador). Ainda assim, o poema termina com um lugar-
comum característico da poesia provençal - a morte de amor.
Cantigas de escárnio
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Caracterização temática:
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Por essa razão, esta cantiga é também considerada uma paródia do amor
cortês, pois é uma imitação de uma cantiga de amor com um propósito irónico
e cómico.
O refrão assinala, assim, o efeito cómico que se cria ao elogiar-se não uma
dona bela, jovem e com bom senso, habitualmente retratada nas cantigas de
amor, mas antes uma mulher cuja imagem é extremamente negativa.
Cantigas de maldizer
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Poesia trovadoresca* 13
Caracterização temática:
Recurso à ironia para satirizar o poder que Roi Queimado parece ter - morrer e
depois viver: “mais ressurgiu ao tercer dia” (alusão à ressurreição de Jesus
Cristo). Aliás, na última estrofe, remate da cantiga (finda), o próprio sujeito
poético revela o desejo de também ele possuir esse poder.
Por fim, podemos ainda considerar que os dotes poéticos de Roi Queimado
são igualmente alvo de crítica, já que se diz dele “por se meter por mais
trobador” e “porque cuida que faz i mestria”.
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