Você está na página 1de 2

A poesia trovadoresca foi cultivada no norte peninsular, a partir do século XII

por trovadores que são artistas nobres que criavam poesias e as cantavam e jograis
que são poetas e músicos profissionais.

O galego-português é a língua falada no noroeste da península ibérica a partir do


século XII e usada na poesia trovadoresca. Paralelamente, desenvolve-se a cultura
cortesã, com apoio régio, surgindo os trovadores e os jograis com as cantigas de
amor, oriundas da região da Provença. De origem autóctone (ou seja, com origem no
território onde veio a ter a expressão: neste caso em Portugal), as cantigas de amigo
coexistem com a poesia satírica.

A poesia trovadoresca pode ser dividida em dois gêneros: lírico e satírico. O


gênero lírico subdivide-se em duas categorias (cantigas de amigo e cantigas de
amor) e o satírico é caracterizado pelas cantigas de escárnio e cantigas de maldizer.

As cantigas de amigo apresentam, na voz de uma donzela (o sujeito poético é


feminino), os sentimentos por ela vividos relativamente ao seu amigo que pode estar
longe, ausente (por sua vontade ou por força das circunstâncias- guerra, defesa da
fronteira, viagem), levando-a, por isso, a manifestar saudade, tristeza, mágoa,
angustia, temor. Mas o sentimento que sente pelo amigo pode também levá-la,
noutras ocasiões, a expressar alegria, sensualidade, confiança, em festas, romarias,
peregrinações. É muito comum a donzela revelar aquilo que sente à sua mãe, às suas
amigas ou até à própria natureza, funcionando todas elas como confidentes desse
amor, umas vezes de forma silenciosa, outras vezes intervindo e respondendo aos
anseios, às dúvidas, aos medos da donzela. Esta ligação à natureza e esta vertente de
confidência emprestam à cantiga de amigo uma espontaneidade e uma naturalidade
próprias. Este tipo de cantiga apresenta várias formas de repetição com recurso ao
refrão (versos que se repetem no final da estrofe) e ao paralelismo (repetições de
versos em pares de estrofes). Este processo encadeia-se de forma a conferir unidade
rítmica e semântica.

Nas cantigas de amor, a voz é masculina e o sentimento amoroso é vivido por


um homem que se coloca ao serviço de uma mulher, regra geral, casada. A dama
mostra-se distante, fria ou até indiferente e é colocada numa posição superior ao
poeta, que lhe presta um serviço de vassalagem seguindo o código de amor cortês. O
sujeito masculino vive, assim, uma paixão infeliz: coita de amor, porque não pode
ser concretizada. Nestas composições vamos, então, encontrar, por um lado,
emoções em crescendo e que dizem respeito a esse sofrimento de amor, como a dor,
a angústia, o desespero, a loucura e a propiá morte, e, por outro, emoções que fazem
parte do elogio cortês que estas cantigas reproduzem. O amado louva a sua amada, a
sua senhor, e traça todo um retrato idealizado da mesma, realçando quer as suas
características físicas (cabelo loiro e pele clara), quer as suas características morais
(bom senso e bem falar). Estas cantigas podem ser de mestria ou de refrão, sendo
normalmente organizadas em três ou quatro estrofes de sete versos e apresentando
regularidade estrófica e métrica.
Para além destes dois géneros, a poesia trovadoresca comporta ainda uma
dimensão satírica, expressa nas chamadas cantigas de escárnio e maldizer. Na verdade,
os trovadores e jograis sentiram também necessidade de apontar o dedo a algumas
figuras da sociedade, algumas situações ou comportamentos, e fizeram-no ora de forma
direta, nomeando os visados e usando uma linguagem clara, satírica, por vezes ate
violenta e grosseira: cantiga de maldizer, ora de forma indireta, não especificando
concretamente quem era ou qual era o alvo e recorrendo a uma linguagem mais
camuflada, irónica: cantigas de escárnio. Numas e noutras, verifica-se uma intenção
critica, moralizadora e por vezes cómica, oferecendo-nos um retrato mais completo da
sociedade daquele tempo e de alguns dos seus protagonistas.

Você também pode gostar